Anais Eletrônicos do VIII Encontro Internacional da ANPHLAC
Vitória – 2008
ISBN - 978-85-61621-01-8
“Olhares cruzados:
Sarmiento e o Império do Brasil”
Maria Elisa Noronha de Sá Mäder1
Resumo
Além dos registros existentes sobre as três viagens que Sarmiento fez ao Brasil
(1846, 1852 e 1868), há uma vasta e inédita documentação composta por artigos, livros,
cartas, discursos etc., publicados em suas Obras Completas, nos quais ele discorre sobre
variados assuntos e dá suas impressões sobre o Império do Brasil. A análise deste
material nos permite conhecer como as idéias e as obras de intelectuais hispanoamericanos, circulavam entre o Brasil e a Argentina, dialogavam entre si e com o
contexto mais específico de elaboração de projetos que iriam dar forma aos nascentes
Estados nacionais americanos que estes tentavam construir. Mais do que tudo, estes
escritos podem revelar significativas impressões acerca de como este intelectual
entendia o Império do Brasil – um “outro” bastante peculiar por representar uma espécie
de antítese ao projeto de nação republicano que ele pretendia para a Argentina. Nesta
comunicação me deterei especialmente nas impressões de Sarmiento sobre a questão da
educação, da imigração, da escravidão e da forma monárquica de governo adotada no
Império do Brasil.
Este trabalho resulta da confluência de pesquisas decorrentes da minha
tese de doutorado defendida em 2006, na qual empreendi um estudo comparativo sobre
a idéia de nação nos textos de Domingo Faustino Sarmiento e do Visconde do Uruguai2,
dois autores que se destacaram na construção de seus respectivos estados nacionais, a
Argentina e o Brasil, na segunda metade do século XIX. A primeira pesquisa esteve
centrada nas viagens que Sarmiento fez ao Brasil (1846, 1852 e 1868), sobre as quais
elaborei o trabalho que apresentei o ano passado na ANPUH, em São Leopoldo; a
1
Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense e Professora de História da América
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; e-mail: [email protected]
2
Maria Elisa Noronha de Sá Mäder. Civilização e Barbárie: a representação da nação nos textos de
Sarmiento e do Visconde do Uruguai. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em História
Social, Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2006.
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segunda, uma ampliação desta, buscou alargar a pesquisa ao trabalhar com todas as
entradas referentes ao Brasil, existentes no índice onomástico das Obras Completas3 de
Sarmiento, localizadas na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; e a terceira um
projeto de pesquisa que estou iniciando sobre “Intelectuais e a constituição de um novo
vocabulário político na América Ibérica no século XIX”, no qual analiso como
determinadas idéias, palavras e conceitos foram criados e/ou resignificados neste
momento de construção de novas identidades nacionais e continentais, constituindo um
novo vocabulário político no mundo ibero-americano. Neste sentido, parto da idéia que
estas identidades foram construídas a partir das experiências históricas vividas por estes
autores/atores nos contextos específicos de construção de cada uma destas nações, e
também quando olhavam para fora, para “outros”, não só representados pelos europeus
ou norte-americanos, mas, principalmente, pelos vizinhos hispano-americanos,
evidenciando a idéia dos “olhares cruzados”.
O objetivo é perceber como muitos intelectuais hispano-americanos pensavam o
Império do Brasil, e vice-versa. É sabido como o Império do Brasil, para legitimar seu
projeto de nação monárquico, centralizado e escravista, construiu uma visão de seus
vizinhos hispano-americanos identificados muitas vezes à barbárie, à anarquia, à
instabilidade e fragmentação política, em oposição ao Império estável e civilizado. Do
mesmo modo encontramos a leitura oposta feita pelas repúblicas vizinhas que, muitas
vezes, identificavam o Império brasileiro à forma monárquica, à escravidão, ao atraso e
à barbárie. Parece-me que esta visão pode ser revista, problematizada e relativizada, a
partir de uma análise mais aprofundada dos textos produzidos por um conjunto de
destacados autores ibero-americanos.
Além dos registros existentes sobre as três viagens que Sarmiento fez ao Brasil
(1846, 1852 e 1868), há uma vasta e inédita documentação composta por artigos, livros,
cartas, discursos etc., publicados em suas Obras Completas, nos quais ele discorre sobre
variados assuntos e dá suas impressões sobre o Império do Brasil. A análise deste
material nos permite conhecer como as idéias e as obras de muitos intelectuais,
circulavam entre o Brasil e a Argentina, dialogavam entre si e com o contexto mais
específico de elaboração de projetos que iriam dar forma aos nascentes Estados
3
Domingo Faustino Sarmiento. Obras Completas de D. F. Sarmiento. Publicadas bajo los auspícios del
Gobierno Argentino. Buenos Aires: Imprenta y Litografía Mariano Moreno, 1899/1900; Paris: Ed. A.
Belin Sarmiento; Paris: Belin Hermanos, Editores, 1909.
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nacionais americanos que estes tentavam construir. Mais do que tudo, estes escritos
revelam significativas impressões acerca de como este intelectual entendia o Império do
Brasil – um “outro” bastante peculiar por representar uma espécie de antítese ao projeto
de nação republicano que ele pretendia para a Argentina. Nesta comunicação me deterei
especialmente nas impressões de Sarmiento sobre a questão da educação, da imigração,
e da forma monárquica de governo adotada no Império do Brasil.
Da leitura das obras de Sarmiento pode-se facilmente concluir que os meios
propostos por ele para superar o seu diagnóstico da barbárie que imperaria na República
argentina de seu tempo se baseavam em três idéias fundamentais: transformar o
elemento humano mediante a imigração européia; melhorar esse elemento, tanto
autóctone quanto imigrante, pela educação pública; e construir a institucionalização do
país, formulando princípios de governo, para dar-lhe autoridades estáveis que não
caíssem nem no despotismo, nem na anarquia. Só assim se alcançaria o progresso e a
civilização, entendidos por ele não simplesmente como o resultado de um inexorável
movimento histórico, mas sim como um estado a ser alcançado pela ação e pelos
esforços conscientes dos homens.
Suas idéias sobre educação pública estão estreitamente relacionadas à sua
concepção de república, especialmente aquela mais próxima de um ideal republicano do
humanismo cívico, baseada no antigo sonho de uma república de cidadãos mais
igualitária. Seu sonho consistia em uma república capaz de instituir a virtude em seus
membros por meio da educação pública, do exercício da liberdade política e da
distribuição de pequenas propriedades agrícolas. A educação pública seria assim, o
meio para se alcançar uma consciência cívica para a democracia, o progresso, a
liberdade e a ordem, e para elevar as condições de vida moral e material dos povos.
Sarmiento estava convencido de que a barbárie sul-americana era resultado
direto de uma deficiência no nível de educação da sua gente. Várias são as passagens
em que ele faz referência e analisa esta idéia, muitas vezes fazendo-o em oposição a
uma Europa civilizada ou, principalmente, a um idealizado Estados Unidos. Em Viajes4,
propõe que a paz e a harmonia observadas neste país deviam sua existência ao alto nível
de instrução de toda a população. O fato de que todos os norte-americanos passavam
4
Domingo Faustino Sarmiento. Viajes por Europa, África y América. 1845-1847. Madrid; Paris; México;
Buenos Aires; São Paulo; Lima; Guatemala; San José de Costa Rica; Santiago de Chile: ALLCA XX,
1997.
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vários anos de sua infância estudando na escola explicava o difundido exercício da
razão. Os países da América hispânica ofereciam assim, na mente de Sarmiento, um
forte contraste com o povo norte-americano quanto ao reino da razão e, por
conseqüência, quanto ao papel da educação pública na sociedade. Segundo ele, fazia
muita falta uma formação moral que possibilitasse “la vida inteligente y activa que
como republicanos y como miembros de la família cristiana deben llevar a cabo”5. De
um lado, havia o atraso, a desordem crônica, a herança espanhola, o vazio de população,
a pobreza; de outro, ao contrário, encontrava-se uma plenitude de prodígios.
Na pesquisa documental, deparei-me com um importante discurso parlamentar
de agosto de 1858, no qual Sarmiento se refere ao estado da educação no Império do
Brasil e na República argentina, comparando os dados de Buenos Aires e do Rio de
Janeiro. Ele defende a idéia de a educação comum ser um princípio novo introduzido e
profundamente ligado ao espírito e ao governo republicano, o que seria provado pela
superioridade das condições da educação pública na cidade de Buenos Aires. Diz ele:
El Imperio del Brazil goza de paz hace treinta años, de una
prosperidad innegable, de un gobierno e instituciones acatadas,
de la civilización al parecer mas alta en América. Sus escuadras
surcan nuestros rios, y su política nos incomoda á cada rato con
pretensiones de engrandecimiento. Yo he querido interrogar cuál
es el estado de la educación en la capital del Imperio, en la culta
ciudad de Rio de Janeiro, de 360.000 almas, la ciudad más grande
de la América del Sud6.
E, depois de dizer ter consultado os documentos públicos apresentados ao
Congresso pelo ministro do governo do Império do Brasil naquele ano, afirma existirem
31 escolas públicas no Rio de Janeiro, enquanto a cidade de Buenos Aires, com um
terço daquela população, tem trinta; freqüentavam essas escolas no Rio 829 mulheres e
1.460 homens, e em Buenos Aires 1.744 mulheres e 1.700 homens; e, tomando a
educação pública e a privada juntas, em uma e outra cidade, no Rio de Janeiro, dos 360
mil habitantes, estavam em escolas 7.020 alunos, enquanto em Buenos Aires contavam
os colégios secundários e as escolas públicas com 6.900 alunos. Sarmiento conclui
dizendo que a razão para estarem em igualdade de condições numéricas em termos de
5
Domingo Faustino Sarmiento. De la Educacion Popular. In: Obras Completas. Tomo XI. Buenos
Aires: Imprenta y Litografia Mariano Moreno, Editor A. Belin, 1896, p. 39.
6
Domingo Faustino Sarmiento. “Discurso Parlamentar de 5 de agosto de 1858”. In: Obras Completas, op.
cit., tomo XVIII, p. 175.
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educação, com dois terços a menos de população na cidade Argentina, é “el principio de
gobierno; porque el Brasil tiene un emperador, y por base una esclavatura de dos
millones de hombres para producir la riqueza en beneficio de sus amos que no necesitan
la educación sino como ornato”7. Como já dito, ele relaciona suas idéias sobre educação
pública e o maior sucesso da Argentina nesta área à concepção republicana de governo,
enquanto reputa o atraso do Brasil neste setor à forma monárquica de governo e à
existência da escravidão.
Em outro texto sobre a educação pública em Buenos Aires8 ele compara a
situação da educação em três das principais cidades da América do Sul para, de novo,
ressaltar a posição de Buenos Aires. Eis os dados apresentados:
Lima sobre população de 100.000 habitantes:
400 homens em escola pública
50 mulheres em escola pública
131 homens em escola particular
515 mulheres em escola particular
total 1894 estudantes
Rio de Janeiro sobre população de 260.000 habitantes:
1824 homens em escola pública
902 mulheres em escola pública
2951 homens em escola particular
1320 mulheres em escola particular
total 7306 estudantes
Buenos Aires sobre população de120.000 habitantes:
2164 homens em escola pública
1674 mulheres em escola pública
2073 homens em escola particular
2155 mulheres em escola particular
total 8064 estudantes
Podemos dizer que certamente Sarmiento acreditava na educação popular, como
o meio mais importante para se alcançar e concretizar seu ideal de uma nação
republicana e civilizada. Apesar de muitas vezes mostrar-se incrédulo quanto à
possibilidade da população negra, índia e mestiça, considerada “bárbara”, transformarse em uma população culta e civilizada, seus inúmeros escritos, suas ações políticas e a
atenção que ele dedicou à questão da educação pública nos levam a afirmar que ele
pensava ser possível “hacer de toda la República una escuela”, justificando assim o
papel de autor e ator na construção da nação argentina que ele arrogou para si mesmo.
7
Idem, p. 176.
Domingo Faustino Sarmiento. Conflicto y armonias de las razas en América. In: Obras Completas, op.
cit., tomo XXXVIII, p. 227-228.
8
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Junto à educação, Sarmiento defendia vigorosamente a imigração como um meio
de eliminar a barbárie e transformar a Argentina em uma nação moderna e civilizada.
Sua intenção era incentivar a imigração dos povos supostamente mais civilizados da
Europa, os nórdicos, de maneira que seu sangue e sua cultura fossem introduzidos no
solo argentino e transformassem aquela nascente nação, constituída por uma população
“maldita” marcada pela tradição espanhola e pela inadequação racial, em um exemplo
de civilização ocidental. Sarmiento estava particularmente interessado em atrair
imigrantes da Alemanha, Inglaterra e Europa do norte, vistos por ele como o melhor da
Europa.
Dentre as mais importantes campanhas periodísticas de Sarmiento encontra-se a
que iniciou para justificar e estimular a imigração. Em julho de 1855, pouco depois de
chegar a Buenos Aires, Sarmiento publica no El Nacional um amplo estudo sobre os
efeitos da imigração. Considera em primeiro lugar que o número de estrangeiros que
chegam ao país é insuficiente para cumprir os planos de civilização que constituem a
base de sua constante prédica; segundo estatísticas informadas por ele neste artigo, em
lugar dos 4.500 que ingressaram no país em 1854, deveriam ser 50 mil por ano.
Em outro artigo do El Nacional, de dezembro de 18569, analisa as várias
políticas de incentivo à imigração intentadas pelos diversos estados americanos. E mais
uma vez nos deparamos na pesquisa documental com um precioso texto em que ele fala
dos poucos avanços conseguidos pelo Brasil para atrair imigrantes, apesar dos esforços
feitos pelo governo e por particulares. A razão principal para isto, segundo Sarmiento,
estaria na concorrência que o trabalho escravo fazia ao trabalho livre, mantendo o nível
do salário à altura dos lucros que se obtinha com o custo de um negro. Afirma ele: “Esta
sola causa bastaría para destruir todo progreso en la inmigración”. Outras razões
menores também contribuíam, segundo ele, para o pouco sucesso das políticas de
imigração no território brasileiro: “el clima no es agradable al europeo, el suelo está
cubierto de enmarañada selva, y de rocas graníticas que impiden despojarlo en muchos
años y hacerlo productivo; los cereales no se producen, y el sistema de alimentación
repugna el extranjero”; além disso, o “Rio de Janeiro está infestado por la fiebre
amarilla que diezma á los inmigrantes”10.
9
Domingo Faustino Sarmiento. “La inmigración”. El Nacional, 29 de dezembro de 1856. In: Obras
Completas, op. cit., tomo XXIII.
10
Idem, p. 364 -365.
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Em mais um artigo no El Nacional de 16 de maio de 1857, Sarmiento volta a
falar da febre amarela, comentando que os povos têm enfermidades crônicas que
provêm de seus erros, faltas e vícios.
Há um século que o Rio de Janeiro tem por coacla a baía mansa
que guarda as naves. Um limo infecto vem se acumulando no
fundo do mar e criando um foco de infecção. Desde o principio
deste século a baía não havia replicado contra este abuso. Há 20
anos que deu sua primeira manifestação, a aparição da febre
amarela. Ninguém se preocupou, e o depósito imundo continuou
como antes. De dez anos para cá a febre se tornou endêmica. As
águas, o ar, a terra estão envenenados e a população é dizimada a
cada dia. Desenvolvimento, civilização, prosperidade, imigração.
Tudo tem sido posto em problema e o antigo domiciliado está hoje
como Sodoma. Um descuido de política de um século vem hoje
deter o progresso da maior cidade americana, a exterminar os
filhos dos filhos dos que cometeram a falta.11
Já em Buenos Aires os salários eram altos, o clima era benigno e análogo ao
europeu, não havia enfermidades endêmicas e a fama de prosperidade atraía os
imigrantes, o que explicava a predileção dos imigrantes por esta cidade. Mas uma
condição era, para Sarmiento, fundamental para o sucesso desta empreitada em qualquer
nação americana: a paz e a ordem política, daí se justificarem todos os esforços
empregados para tal. Nesse sentido ressalta a necessidade da existência de uma ordem
política estável que pudesse garantir as políticas civilizatórias de imigração.
Podemos reconhecer o papel central que a imigração, a colonização e a questão
da distribuição de terras públicas tinham para Sarmiento na constituição de uma nação
civilizada e próspera, com um trecho extremamente significativo de um artigo escrito
por ele em 1856: “No es el territorio lo que nos ha de constituir nación, sino el número
de habitantes y la riqueza acumulada en torno de ellos. Con desiertos, seremos siempre
juguete de influencias extrañas, porque son los hombres y los intereses los que oponen
resistencia”12. Assim, políticas de colonização tinham por objetivo estender o territorio
povoado, tomar posse da terra e reunir homens “que se han de vincular á la tierra, la que
les ha de dar patria, nacionalidad, pues el suelo hace á los hombres13.
11
Domingo Faustino Sarmiento. “El canasto de las Islas”. El Nacional, 5 de Março de 1883. In: Obras
Completas, op. cit., tomo XXVI, p. 66-67.
12
Idem. “Emigración solicitada por Francia para deportados políticos”. El Nacional, 6 de junho de 1856.
In: Obras Completas, op. cit., tomo XXIII, p. 381.
13
Ibidem, p. 381.
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Ele critica ainda a “deplorável” política de imigração do Império do Brasil,
chamando atenção para o fracasso da vinda de franceses e para o terrível caso dos
alemães “aniquilados em poucos dias pela miséria, pelo calor, pela febre e pelo
desencanto”. Afirma não ter havido uma estrutura para receber esses imigrantes,
deixando aparecer aqui todo o seu ressentimento em relação aos colonizadores
portugueses, ao justificar tal incompetência como peculiar aos povos descendentes da
península ibérica incapazes de assimilar povos estranhos.
Ao compararmos as propostas para a imigração, a colonização e a questão das
terras no Império do Brasil e na República argentina, a partir das propostas do grupo de
dirigentes imperiais e de Sarmiento, encontramos algumas semelhanças e muitas
diferenças. Os dirigentes Saquaremas procuraram, desde a década de 1840, formular
seus projetos e soluções para estes problemas com uma perspectiva nacional, a partir de
uma expressiva atuação do Estado, mas sempre limitados pela questão da escravidão e
ligados aos interesses da Corte e também da grande lavoura fluminense, que
identificavam aos interesses do Império. O projeto previa que o Estado passasse a
interferir e regular a questão da propriedade das terras, da colonização e vinculá-las à
imigração. O êxito das propostas dependia assim, em boa parte, do aumento da
capacidade reguladora do Estado imperial, o que ia ao encontro da visão conservadora
que arrogava um papel centralizador ao Estado, tão cara aos dirigentes Saquaremas
naquele momento.
No caso de Sarmiento, devemos observar que, apesar da inexistência da questão
da escravidão, ele também pensou e formulou suas propostas sobre imigração,
colonização e política de terras conjuntamente e com uma clara consciência de que elas
estavam interligadas e que o sucesso de uma dependia do sucesso das outras. Parece
que, se para o Império do Brasil a questão que se destacava como pano de fundo para
todas as outras era a escravidão, para Sarmiento e suas propostas de nação argentina, a
questão que parecia permear todas as outras era a questão da terra, a imensidão do
território, visto como um deserto que, quando ocupado, o foi pela grande propriedade e
pela barbárie do pampa.
Este seu diagnóstico pode ser explicado em parte pela sua oposição política a
Rosas, a quem via como um continuador da maldita herança colonial. Se a colonização
havia deixado para a nova nação argentina as heranças do vazio, da ocupação do solo
por meio da grande propriedade e das raças bárbaras, Rosas havia perpetuado tudo isto,
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já que para governar reproduziu e aumentou o sistema de distribuição de grandes
propriedades, muitas delas improdutivas, e aliou-se às “raças bárbaras”. Assim,
apresentar e concretizar um projeto nacional que previsse a regularização, a distribuição
das terras e seu maior aproveitamento, acompanhado de uma política de colonização e
de imigração que, branqueando a população, civilizasse o povo e povoasse o deserto
argentino, permitia a Sarmiento colaborar na conformação do que ele acreditava ser
uma nação verdadeiramente republicana.
Quanto às impressões de Sarmiento sobre o Império do Brasil, podemos dizer
que, em 1846, quando partiu do Chile dando início às suas viagens, Sarmiento não
manifestava opiniões muito simpáticas em relação ao governo brasileiro. Naquele
momento o Império evitava tomar partido nos conflitos que se arrastavam na região.
Desde 1843, Manuel Oribe – presidente deposto do Uruguai devido ao seu apoio ao
regime rosista – liderava, com o apoio de Rosas, um sítio ao país, que vinha sendo
governado por José Fructuoso Rivera, principal responsável por sua deposição. Parecia
inadmissível para Sarmiento a posição de neutralidade do Brasil, pois em sua visão o
espectro de Rosas estava claramente avançando sobre outros países, e isto significava
uma expansão da própria barbárie. O que havia de civilização na região deveria se opor
a este avanço, e não era esta a postura que o governo brasileiro vinha adotando até
então. Diz ele:
Hay en el Brasil un partido que simpatiza con el actual jefe de la
Republica Argentina, por cuanto ha sido hostil a los hombres que
hicieron la guerra á aquel país el año 26, arrancándole su
provincia de Montevideo, y echando en su seno la semilla de la
republica, que en vano los ejecitos empériales han tratado de
ahogar, pisoteándola en Rió Grande. El general Rivera por otra
parte, ha sido siempre amigo de los riograndenses, y los
brasileros absolutistas ó imperialistas, quisieron sofocar en
Montevideo toda manifestación republicana, a fin de alejar de sus
inmediaciones un ejemplo que tiene en continua ebullición al
Imperio. Hay otro partido brasilero, que sea porque mire la forma
republicana con ojos tan prevenidos, sea porque cría compatible
allí la libertad con la monarquía, simpatiza fuertemente con los
enemigos de Rosas, y tiene un acrecentamiento de poder de este
caudillo, cuyo ejemplo podía reflejarse con el tiempo en el Brasil
mismo; porque es preciso notar que no obstante las formas
constitucionales del Imperio, el porvenir de la libertad no esta allí
mas asegurado que en los otros pueblos americanos; ni la paz
interior ofrece otras garantías que la fuerza publica que la
mantiene.14
14
Domingo Faustino Sarmiento. “Con el Brasil”, El Progreso, 4 de Maio de 1844. In: Obras Completas,
op. cit., tomo XIII, p. 389.
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Ao tratar da monarquia como forma de governo para o Brasil, Sarmiento avalia
que a natureza privilegiada dos trópicos era o que permitia algum sucesso. Ressalta a
centralização política existente no Império e salienta a importância da imagem do
imperador nesta estrutura, funcionando como imã que atrai para si todas as partículas do
poder e as riquezas que se desprendiam das massas. Explicita a sua descrença e o seu
repúdio quanto às formas de república tentadas em território brasileiro. Afirma que esta
forma de governo se mostrou no Brasil “encoberta pelo poncho e armada do laço,
bagagem semibárbara, que não abona, sem dúvida, seus princípios”. Justifica esta
opinião porque entende a república como “a última expressão da inteligência humana”
e, portanto, não poderia admirar as tentativas advindas do interior do país, de províncias
distantes da capital, de populações negras ou do espírito de insubordinação de alguns
caudilhos. Daí seu olhar negativo sobre as tentativas de São Paulo, Rio Grande do Sul e
Minas Gerais, que após alguns anos de revoltas acabaram não dando em nada por serem
“guerras de caudilhagem”.
Sarmiento deixa claro que para ele a monarquia praticada no Brasil constitui
nada mais que uma imitação desqualificada que vez por outra cai no ridículo e opera na
condição de paródia. Sendo assim, seu olhar sobre o Imperador não poderia ser outro
que não o de desdém. Via em D. Pedro II, “um jovem, idiota na opinião de seus
súditos”, que apesar de culto, muito dado à leitura e inteligente, carecia de juízo e de
boas idéias pela falta de experiência e por causa de sua educação desordenada. As
“fanfarronices” em suas palavras e as indecisões de seus feitos constituíam um resumo
do que era a política imperial em todas as transações relacionadas ao Rio da Prata. Aqui,
além de demonstrar certo sentimento de soberba intelectual, Sarmiento extravasa seu
descontentamento com a política externa do Império do Brasil, sobretudo no que diz
respeito à não-intervenção nos conflitos da região. Para ele era inconcebível que o
Império - pretensamente civilizado e sempre imitador dos progressos e inovações dos
europeus -, não se posicionasse decisivamente contra a barbárie em que Rosas estava
transformando a Argentina e os riscos de sua expansão aumentados pelo apoio militar
ao sítio de Montevidéu promovido por Oribe desde 1843.
De 1846 a 1852, ano da segunda visita de Sarmiento ao Brasil, muitas mudanças
ocorreram nas conturbadas relações de poder entre as repúblicas da região do Prata e o
10
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Império do Brasil. De fato, o Brasil veio finalmente a intervir nas questões conflituosas
da região. Disposto a frear a influência de Rosas no Uruguai e interessado em assegurar
a livre-navegação fluvial do Mato Grosso até o mar, alia-se ao Gal. Urquiza da
província de Entre Rios, formando a aliança que vai derrubar o governante argentino.
Sarmiento chega assim ao Brasil em março de 1852, logo após a Batalha de Caseros, na
qual Rosas foi derrotado15. Ele estava de passagem, indo para o Chile, já descontente
com o Gal. Urquiza que havia assumido o poder.
Por ocasião desta segunda visita Sarmiento escreve La Campaña en el ejercito
grande16 no qual narra a Batalha de Caseros. Esta obra, composta de três partes
publicadas em momentos diferentes, explicita os motivos de sua oposição à nova ordem
política implantada por Urquiza considerado por Sarmiento também um caudilho. O
livro possui alguns escritos específicos sobre a capital do Império, nos quais
encontramos entre outras coisas, uma ótima descrição do seu encontro com D. Pedro II
em Petrópolis.
O relato que Sarmiento faz de sua estada no Rio de Janeiro se inicia quando diz
que logo ao chegar à cidade fica sabendo das novidades que se desenrolavam em
Buenos Aires. Trata da nomeação do poeta José Mármol como Encarregado de
Negócios no Chile, como um ato do Genral Urquiza para confundi-lo e neutralizá-lo
através da nomeação de uma figura que ele tanto respeitava. Critica antigos
companheiros como Alberdi, Juan Maria Gutierrez e Guido, que aceitaram cargos no
novo governo.
15
Trazia uma carta de Honório Hermeto Carneiro Leão apresentando-o a Paulino José Soares de Sousa,
Ministro dos Negócios Estrangeiros na época. O original da carta de 16/3/1852 que Sarmiento escreveu
ao Ministro das Relações Exteriores Sr. Paulino José Soares de Sousa, pedindo-lhe que o apresentasse ao
Imperador está no Arquivo do Visconde do Uruguai, na Biblioteca Nacional. Há uma carta de 20/3/1852
de Honório Hermeto apresentando Sarmiento a Paulino José Soares de Sousa. Sarmiento foi recebido pelo
Imperador, em Petrópolis, entre 17 e 20/3/1852. Paulino escreve uma carta a Honório Hermeto Carneiro
de Leão em 20/3/1852, comentando sobre a estada de Sarmiento com o Imperador, que está na Biblioteca
Nacional, Seção de Manuscritos, na Coleção do historiador Tobias Monteiro (originariamente estes
documentos pertenciam ao arquivo do Visconde do Uruguai). Depois que voltou de Petrópolis Sarmiento
ficou hospedado na casa do Sr. Andrés Lamas, no Caminho Velho de Botafogo. Há uma carta de
Sarmiento a Paulino comentando sobre o encontro com o Imperador de 9/4/1852 que está na Biblioteca
Nacional, Seção de Manuscritos, na Coleção Tobias Monteiro. Há também a transcrição de uma carta de
Sarmiento, datada de 14/4/1852, não se sabe ao certo para quem, comentando seu encontro com o
Imperador, no mesmo arquivo do historiador Tobias Monteiro doado à Biblioteca Nacional. Sarmiento
também escreveu uma carta a Honório Hermeto agradecendo a recomendação que ele lhe fizera ao
ministro. Sarmiento foi agraciado no Brasil com o oficialato da Ordem da Rosa.
16
Domingo Faustino Sarmiento. Campaña en el ejército grande aliado. México: Fondo de Cultura, 1988.
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Diferentemente do que ocorre no Viajes, não há no texto do Campaña um
esforço maior do autor em realizar uma análise mais aprofundada do Império brasileiro.
Ele está muito mais interessado em denunciar as distorções que ele acreditava estarem
ocorrendo no seu país. Por isso, para avançar na análise das impressões que ele teve do
Império em 1852, é preciso recorrer mais especificamente à segunda parte do livro, na
qual existe uma carta enviada a Bartolomeu Mitre, datada de 13 de abril de 1852,
portanto, alguns dias após Sarmiento ter retornado do seu encontro com D. Pedro II em
Petrópolis. Ele descreve esta cidade como uma linda colônia alemã sobre a Serra dos
Órgãos. Afirma que além de ter descansado seu espírito, o período em que lá residiu
serviu como uma forma de se preservar da febre amarela que tanto o assustava, além de
estar funcionando como um estudo prático sobre os efeitos benéficos da imigração
européia, devido ao exemplo dos imigrantes alemães.
Diz ter sido muito bem recebido pelo imperador. Para ele, a desconfiança antes
demonstrada pelo governo brasileiro em relação à Argentina foi substituída pelo
respeito aos homens que combateram o regime tirânico de Rosas. O conflito teria
servido para chamar a atenção do governo do Brasil sobre a história, os costumes, os
homens, entre outros assuntos relacionados à Argentina. “O temor que o Brasil sentiria
do espírito guerreiro do povo argentino”, segundo Sarmiento, teria desaparecido após a
queda de Rosas “e de seu regime de intrigas e trapaças”. Tais sentimentos negativos já
teriam sido substituídos por um respeito estimulado pelo caráter moral dos que
combateram a tirania, e também pelo respeito às luzes e à inteligência dos escritores e
homens de Estado argentinos.
Nesta carta são ainda mais fortes que no resto da narrativa do Campaña os
indícios de que este Sarmiento refugiado no Império do Brasil em 1852 era muito
distinto daquele que visitara o país em 1846. Uma evidência disto ocorre quando, ao
descrever seu encontro com o Imperador, não hesita em elogiar a sua figura, ressaltando
o fato dele ser “muito jovem, estudioso e com muitas qualidades de espírito e coração,
que fariam dele um homem potencialmente distinto em qualquer posição que tivesse na
vida”. Mostra-se impressionado com o interesse e a aplicação do Imperador em ter
estudado com paixão diversos poetas, publicistas e escritores argentinos. Mas, tendo
como base o temperamento envaidecido de Sarmiento, seguramente o que mais o
estimulou ao longo de sua conversa com o imperador deve ter sido saber do
conhecimento prévio que este possuía de suas obras.
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A conversa entre eles estendeu-se por horas e vale à pena contar uma ótima
passagem deste encontro, que fez com que Sarmiento ressaltasse a generosidade e o
caráter de D. Pedro II. Ele conta que o imperador, ao tratar do seu livro Viajes, comenta
várias passagens, mas ignora propositadamente o capítulo sobre o Rio de Janeiro. Como
sabemos naquele capítulo Sarmiento havia feito uma análise muito negativa do Império
do Brasil, da escravidão e do próprio monarca. O imperador, sem fazer menção direta
ao trecho, discorda de algumas das conclusões de Sarmiento sobre a influência dos
negros no caráter da população e das instituições do Império. A saída que o argentino
adotou para evitar polêmica foi relativizar a posição que ele assumiu no Viajes, dizendo
que não se pode definir um povo pela raça que o serve, e que este tipo de precipitação
era típica do viajante que prioriza a primeira impressão dos sentidos. Sarmiento ressalta
ainda ao imperador a importância de tê-lo conhecido de uma maneira tão simpática e
aponta a batalha de Caseros como fundamental por duas razões: tanto para a derrubada
de Rosas, quanto para que ele passasse a estimar mais o valor do soldado brasileiro e
consequentemente o valor do Brasil.
O abrandamento na maneira como Sarmiento se refere ao Brasil, comparando
seus escritos de 1846 com os de 1852, certamente está relacionado aos distintos
contextos das relações entre os dois países naqueles momentos. Em 1846 havia certo
ressentimento pela insistência do Império do Brasil em não intervir contra o governo de
Rosas. Em 1852, quando finalmente Rosas é derrubado com a ajuda militar do Brasil no
conflito, Sarmiento já via o país vizinho com outros olhos, revelando uma atitude bem
mais cordial com o Império brasileiro. Além disso, ele queria o apoio de importantes
figuras do governo brasileiro na sua nova causa, agora contra o governo de Urquiza.
Em sua Memórias17 de 1868, Sarmiento segue esta tendência de se tornar mais
simpático e até curioso sobre as coisas do Brasil. A obra narra a viagem que fez de
Nova York até Buenos Aires, aonde viria a assumir a presidência da república, sendo
que a certeza de sua posse lhe foi garantida em território brasileiro. Passou pelos estados
do Pará, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro e escreveu um trecho de suas Memórias
para cada uma dessas regiões. Neles tratou da natureza, da história, da política e do
cotidiano dos brasileiros. Sabemos da existência nos seus apontamentos originais deste
texto, de desenhos que retratam frutas, plantas, paisagens, cenas cotidianas e até mesmo
caricaturas, feitos pelo próprio Sarmiento que acompanham seus escritos.
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Domingo Faustino Sarmiento. Memorias. In: Obras Completas, op. cit., tomo XLIX.
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Há também uma crônica de Machado de Assis, intitulada O Futuro dos
Argentinos, na qual ele faz referência a esta terceira visita de Sarmiento ao Brasil. Nesta
Machado comenta:
Quando hoje contemplo o rápido progresso da nação argentina,
recordo-me sempre da primeira e única vez que vi o Dr.
Sarmiento, presidente que sucedeu ao Genaral Mitre no governo
da república. Foi em 1868. Estávamos alguns amigos no Club
Fluminense, Praça da Constituição, casa onde é hoje a Secretaria
do Império. Eram nove horas da noite. Vimos entrar na sala do chá
um homem que ali se hospedara na véspera. Não era moço; olhos
grandes e inteligentes, barba raspada, um tanto cheio. Demorou-se
pouco tempo; de quando em quando, olhava para nós, que o
examinávamos também, sem saber quem era. Era justamente o Dr.
Sarmiento, vinha dos Estados Unidos, onde representava a
Confederação Argentina, e donde saíra porque acabava de ser
eleito presidente da república. Tinha estado com o Imperador, e
vinha de uma sessão científica. Dois ou três dias depois, seguiu
para Buenos Aires. A impressão que nos deixara esse homem foi,
em verdade, profunda. Naquela visão rápida do presidente eleito
pode-se dizer que nos aparecia o futuro da nação argentina.18
As viagens de Sarmiento e com certeza suas passagens pelo Brasil foram
fundamentais no projeto elaborado e vivido pelos membros da Geração de 1837 de
formação de uma identidade nacional argentina. As viagens a outros lugares, o contato
íntimo com realidades sociais, políticas e culturais diferentes, atuariam lentamente na
consciência deste grupo de intelectuais, até converter a “nação argentina” em sua
referência exclusiva.
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18
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de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, 1973, p. 1013.
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1 “Olhares cruzados: Sarmiento e o Império do Brasil” Maria Elisa