AVALIAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DE ALIMENTOS
COMERCIALIZADOS NAS FEIRAS-LIVRES DO MUNICÍPIO
DE CHAPECÓ (SC) POR AGRICULTORES FAMILIARES
S. T. Vasques¹ e R. Lingnau²
1- Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Campus Pato Branco - CEP: 85503-390 - Pato Branco - PR, Brasil, Telefone: (46)3220-2511 – Fax: (46) 32202500 – e-mail: ([email protected])
2- Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Campus Pato Branco - CEP: 85503-390 - Pato Branco - PR, Brasil, Telefone: (46)3220-2511 – Fax: (46) 32202500 – e-mail: ([email protected])
RESUMO – As feiras-livres têm grande importância social no que se refere à diversidade de alimentos
e produtos ofertados localmente para atender as principais necessidades da população. Nesse sentido,
foi realizado um diagnóstico por meio de questionário aplicado aos agricultores feirantes do município
de Chapecó-SC, para analisar a biodiversidade de alimentos comercializados junto às feiras-livres.
Pode-se inferir, a partir da avaliação, que existe ganho ambiental atrelado a esta cadeia curta de
abastecimento.
ABSTRACT – Open street market have great social significance with respect to the diversity of food
and products offered locally to meet the primary needs of the population. In this regard, a survey was
conducted through a questionnaire to farmers fair Chapecó-SC, to analyze the biodiversity of foods
marketed at open street market. It can be inferred from the assessment that there are environmental
benefits linked to this chain of short supply chain.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura familiar sustentável, Alimentação, Biodiversidade, Feiras-livres.
KEYWORDS: Sostenible family farming, Feeding, Biodiversity, Open street market.
1. INTRODUÇÃO
Uma sociedade onde o modelo hegemônico impõe a meta da acumulação material e que
depende do uso intensivo dos recursos naturais para sua sobrevivência, não funciona em harmonia
com o planeta e perde a capacidade de cuidar de seus integrantes e da natureza. Devido à expansão
deste modelo de exploração desde a década de 50, segundo Miller (2007). O cenário de crescimento
populacional ou de consumidores que demandam alimentos e diferentes recursos naturais aumenta a
pressão sob os habitats naturais, que acabam sendo substituídos por áreas de produção agrícola.
Neste modelo de sociedade, onde o conhecimento é fragmentado, a destruição dos biomas
naturais é praticamente desconsiderada, pois os ambientes são tratados basicamente como meios
inertes e aproveitáveis. Nesta direção, a extinção das espécies provocada pela exploração ambiental e a
deterioração dos habitats naturais é acentuada pela fragmentação de habitats. Conforme Pires et al.
(2006) entende-se por fragmentação a formação dos mosaicos de vegetação que antes possuíam áreas
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contínuas e, por força da ação socioeconômica, foram transformados em remanescentes de habitats
isolados uns dos outros. Sendo esse considerado o processo que mais ameaça a biodiversidade global.
Neste sentido, os frutos dos chamados mercados de proximidade entre agricultores familiares
e consumidores convergem de maneira significante para o desenvolvimento sustentável
(WILKINSON, 2008). A conservação, a valorização dos saberes locais e a troca de saberes são
conceitos já destacados por Godoy (2005). Ademais, são valores que fortalecem elos de reciprocidade
na dinâmica de construção social do mercado de proximidade chamado feiras-livres e, em Chapecó, de
feiras de produtos coloniais e agroecológicos.
Neste breve estudo teve-se como objetivo verificar a presença de espécies nativas cultivadas e
vendidas nas feiras-livres de Chapecó e, consequentemente, analisar se há correlação desta com a
preservação da biodiversidade local por seus agentes diretamente envolvidos.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os procedimentos de coleta de dados foram realizados no decorrer do mês de novembro de
2014 junto aos agricultores, feirantes e produtores de frutas e hortaliças que integram as 10 feiras de
produtos coloniais e agroecológicos do município de Chapecó, oeste do estado de Santa Catarina, sul
do Brasil.
Como estratégia de pesquisa foi utilizada a entrevista estruturada. Escolheu-se o local de
venda para questionamento aos produtores rurais durante o transcorrer das feiras-livres, no intuito de
oportunizar um ambiente familiarizado aos entrevistados, método importante e ressaltado por Gil
(2009). Entre os diferentes feirantes e seus segmentos de venda foram selecionados para entrevista os
que produzem e comercializam frutas, legumes, verduras e tubérculos em seus boxes. Foram aplicados
19 questionários, um para cada família responsável pelo box de comercialização, permitindo a
identificação das práticas de produção e consumo de alimentos.
Obtida as respostas, compilou-se uma lista de espécies vegetais relatadas através dos nomes
populares de conhecimento dos agricultores para verificação da origem destes como alimentos
autóctones. Para isto realizou-se buscas das espécies em periódicos que tivessem aporte como
publicações científicas, assim como no documento do Ministério do Meio Ambiente denominado de
“Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro.
Região Sul”.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Mercados de proximidade e oportunidades de valorização de plantas
nativas
As cadeias curtas de comercialização são entendidas como aquelas que oportunizam relações
sem intermediários entre quem produz e quem consome. Entre as diferentes cadeias, as feiras-livres
destacam-se como mecanismos de varejo, onde o público consumidor tem a oportunidade de aferir a
qualidade aos produtos no momento do atendimento e na explicação sobre o cuidado que o produtor
teve com o que esta expondo para venda. Por conseguinte, oportunizam maior respeito entre as partes
envolvidas, tem maior potencial de incentivar a produção e o consumo de produtos com identidade
local, com apelo cultural e, deste modo, potencializam a perpetuação da biodiversidade.
Os mercados locais têm potenciais de gestão participativa, valorização ecológica, maior
equidade, maior diversidade cultural e de valores éticos que fundamentam de acordo com Leff (2009,
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p. 61) [...] “O desafio de gerar estratégias que permitam articular estas economias locais com a
economia de mercado nacional e mundial”.
Frente ao processo de erosão da diversidade, que coloca o setor agrícola em perigo, os
argumentos de Emilio Moran em prol de alimentos ambientalmente significados são fundamentais, ao
destacar que “[...] Num mundo futuro onde os combustíveis fósseis ficarão cada vez mais caros,
precisaremos redesenhar os sistemas de produção de alimentos, ligando de forma mais direta quem
produz e quem consome [...]” (MORAN, 2011, p.41). Consequentemente, as causas da crise e o
modelo de consumo baseado nas cadeias longas deverão ser repensados na busca por alternativas que
causem menor impacto ao ambiente.
3.2
Famílias de agricultores produtores de alimentos não convencionais
Pressionadas pelo modelo de produção e consumo da globalização, assim como pelo crescente
uso de alimentos industrializados, verifica-se nas mais diversas regiões do país perdas de identidade,
de conhecimentos e de características culturais ligadas ao consumo de alimentos locais e regionais,
entendidos como não convencionais.
A partir do estudo junto aos agricultores de Chapecó inseridos nas feiras-livres, verifica-se o
número de famílias que cultivam e não cultivam alimentos oriundos de plantas nativas para
comercialização (Tabela 1). Entre os diferentes feirantes e seus segmentos de venda, foram
selecionados os que produzem e comercializam frutas, legumes, verduras e tubérculos com o objetivo
de estratificar e aferir se estes cultivam ou não plantas nativas do Bioma local.
Tabela 1 - Número famílias de feirantes que cultivam e não cultivam alimentos, oriundos de plantas
nativas, para comercialização
Famílias de feirantes que:
Número de entrevistados Representatividade em %
Cultivam plantas nativas
14
74%
Não cultivam de plantas nativas
5
26%
Total de famílias entrevistadas
19
100%
Fonte: Elaboração própria.
Conforme se pode aferir das respostas dos agricultores, setenta e quarto por cento das famílias
que comercializam a produção nas feiras-livres são produtores de plantas nativas da região. Ou seja,
dos dezenove entrevistados 14 ressaltaram que cultivam frutas, verduras, legumes ou tubérculos que
fazem parte das plantas naturalmente encontradas na região.
Depreende-se que quando os sistemas alimentares são construídos com redes de atores locais
como as feiras-livres, onde há necessariamente relações de sociabilidade, o estabelecimento de
notoriedade se dá com relações de reciprocidade social onde existem práticas e saberes com potencial
ao ganho ambiental.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das discussões e análise de dados, obtidos junto aos feirantes agricultores familiares
de Chapecó com a aplicação de questionário para levantamento das espécies nativas que são plantadas
para comercialização de alimentos nas feiras-livres, infere-se que os chamados mercados de
proximidade podem ser uma alternativa de preservação da biodiversidade.
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As feiras-livres, por proporcionarem a conexão entre agricultores e consumidores, apresentam
uma potencialidade no que tange à conservação da biodiversidade. Inseridas em contextos locais, a
consolidação do incentivo ao cultivo, ao manejo correto de extração e a conservação de espécies
nativas através da comercialização destes em feiras pode trazer resultados positivos aos ecossistemas e
a sociedade.
Para melhor inferir sobre os resultados do potencial de perpetuação da biodiversidade atrelada
aos mecanismos de produção e comercialização, que conectem de forma direta agricultores e
consumidores, sugerem-se mais estudos relacionados ao manejo de plantas nativas in loco. Uma vez
que a comercialização em feiras e/ou mercados de proximidade nas diferentes regiões deste país pode
revelar e incentivar formas de manejado de adequada no que se refere à conservação. O conhecimento
tradicional deve ser somado ao científico para que modelos alternativos de produção, que respeitem e
valorizem a flora nativa, possam ser desenvolvidos.
Encontrar medidas de conservação que sejam dinâmicos frente à pressão hegemônica do
agronegócio é um desafio que exige, urgentemente, mobilização em diferentes dimensões como de
financiamentos, de pesquisa, de articulação entre conhecimento técnico, entre outros. Como sugestão,
uma vez verificada a importância do tema voltado às pequenas ações de cultivo e comercialização
locais, indica-se futuros trabalhos para incentivar de forma mais direta a preservação e perpetuação de
espécies nativas atreladas à conservação da biodiversidade, da cultura e da troca de saberes.
5
REFERÊNCIAS
GODOY, W. I. As feiras-livres de Pelotas, RS: Estudo sobre a dimensão sócio-econômica de um
sistema local de comercialização. 2005. 284 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de
Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2005. Disponível em:
<http://wp.ufpel.edu.br/consagro/ files/2012/03/ GODOY-Feiras-Livres-2005.pdf>. Acesso em: 10
dez. 2014.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2009.
LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 7º ed. Petrópolis:
Vozes, 2009.
MORAN, E. F. Meio ambiente e ciências sociais: interações homem-ambiente e sustentabilidade.
São Paulo: SENAC, 2011.
MILLER, G. T. Ciência ambiental. 1. Ed. São Paulo, SP: Thomson Learning, 2007.
PIRES, A. S.; FERNANDEZ, F. A. S.; BARROS, Camila dos Santos. Vivendo em um mundo em
pedaços: efeitos da fragmentação florestal sobre comunidades e populações animais. In Rocha, C.F.D.,
H.G. Bergallo, M. Van Sluys & M.A.S. Alves (Orgs.). Biologia da Conservação: Essências. São
Carlos: RiMa Editora, 2006.
WILKINSON, J. Mercados, Redes e Valores: o novo mundo da agricultura familiar. Porto Alegre:
Editora UFRGS: Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, 2008.
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