Avaliação do processo de mercerização da torta de mamona 1 Maira Cunha Sanches , Nathalia Nogueira Coelho¹, Jorge de M. Futigami¹, Marisa C. G. Rocha 1* 1: Instituto Politécnico do Estado do Rio de Janeiro (IPRJ-UERJ). Nova Friburgo, Brasil * e-mail: [email protected] RESUMO: A mercerização de fibras naturais é um procedimento bastante utilizado para melhorar a adesão entre as fibras e matrizes poliméricas. Nesse processo, as fibras vegetais são submetidas a uma interação com solução aquosa de uma base forte, que produz grande intumescimento, que gera mudanças na estrutura, nas dimensões, na morfologia e nas propriedades mecânicas das fibras. Nesse trabalho a torta de mamona foi mercerizada utilizando concentraçãoes de 5 e 10% de NaOH. As fibras foram caracterizadas através de espectrometria no infravermelho com transformada de Fourier, difratograma de raios X e microscopia eletrônica de varredura. Os resultados evidenciaram que a estrutura e a morfología das fibras foram alteradas, indicando que houve remoção das ligninas, graxas e de hemiceluloses. A difração de raios x mostra que a estrutura cristalina que causa difração nas amostras tratadas com 5% de NaOH não é a mesma que causa difração nas amostras com 10% de NaOH. Palavras-chave: Mercerização, Torta de mamona , misturas poliméricas. 1 INTRODUÇÃO O impacto adverso relacionado ao descarte dos materiais sintéticos, principalmente os utilizados em embalagens, tem conduzido a uma série de estudos visando a introdução de cargas naturais, de polímeros produzidos a partir de fontes renováveis, assim como de biopolímeros na formulação de materiais poliméricos. Nesse contexto, estudos de misturas de PEBD e PHB carregadas com torta de mamona, subproduto do processo de produção de biodiesel, têm sido desenvolvidos no Instituto Politécnico. Os resultados obtidos demonstraram que a adição de uma dada concentração de PHB ou TM ao PEBD pode ser considerada como uma possibilidade de obtenção de materiais à base de PEBD com maior susceptibilidade a biodegradação. Esses estudos também demonstraram a necessidade de tratamento prévio da torta de mamona, de forma a promover adesão interfacial satisfatória entre a carga e a matriz e a obtenção de propriedades mecânicas superiores. Nesse processo, as fibras vegetais são submetidas a uma interação com solução aquosa de uma base forte, que produz grande intumescimento, que gera mudanças na estrutura, nas dimensões, na morfologia 1,2,3 e nas propriedades mecânicas das fibras . Esse trabalho apresenta a avaliação do proceso de mercerização da torta de mamona. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 – Materiais PEBD, com índice de fluídez (190ºC, 2,16 Kg) de 2,2 g/10 min foi fornecido pela BRASKEM S.A. (Triunfo, RS); O PHB foi fornecido pela PHB Industrial S.A. (Serrana, SP), a torta de mamona foi fornecida pela empresa Bom Brasil Óleo de Mamona Ltda (Salvador, BA); O NaOH foi fornecido pela Vetec Química Fina Ltda. 2.2 – Purificação e classificação granulométrica da torta de mamona Inicialmente, a torta de mamona foi triturada em moinho de facas Crompton por um período de 5 minutos e colocada em estufa com circulação de ar, 0 em uma temperatura de 60 C por 8 horas. Subsequentemente, a amostra foi peneirada e a fração com partículas de tamanho menor que 150 micrometros, ou seja, a fração que passou por uma peneira de 100 mesh foi selecionada para esse estudo. Após essa etapa, a amostra foi autoclavada 0 a 120 C e pressão de 1 atmosfera durante 20 minutos. A autoclavagem foi efetuada com o objetivo de desnaturar a ricina que é uma proteína extremamente tóxica presente na torta de mamona. BRASILTEC 2014, 24 e 25 de setembro de 2014, Rio de Janeiro, Brasil - 1 - 2.3 – Mercerização da torta de mamona A torta de mamona foi mercerizada utilizando concentrações de 5% e 10% de NaOH. As fibras foram colocadas na solução e mantidas em repouso durante 1 hora. Após esse período, as fibras foram lavadas com água destilada utilizando um sistema de filtração a vácuo e posteriormente colocadas em água destilada por 24 horas para remoção do NaOH residual. Em seguida, a solução foi novamente filtrada a vácuo e as fibras foram imersas em água novamente, por um período de 24 horas. O pH da solução foi então determinado através de um pHmetro portátil. Valores obtidos de pH igual a sete (7) indicaram que a remoção do NaOH residual foi eficaz. Figura 1: Torta de mamona sem tratamento 2.4 Caracterização das fibras por espectrometria no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) As posições das bandas no espectro de absorção das amostras de mamona pura e da mamona mercerizada com solução de NaOH a 5% e foram obtidos em um espectrômetro Varian, modelo Excalubur 3100. Os espectros foram obtidos a partir das pastilhas de KBr com varredura de 4000 a 400 cmˉ¹. 2.5. Difratograma de Raios X As amostras de torta de mamona pura e mercerizada sob a forma de pó foram caracterizadas por difração de raios-X em difratômetro Rigaku, modelo Miniflex, equipamento com uma fonte de radiação gerada a 30 KV e 15 mA. Esse equipamento opera no comprimento de onda de 1.542 Å, correspondente à banda CuKα. Os difratogramas foram obtidos sob velocidade de 1º(2ɵ)/min com um passo de 0,05º. A radiação foi detectada por meio de um detector proporcional. Os difratogramas foram obtidos no modo de reflexão na faixa angular de 2 a 40º (2ɵ). Figura 2: Torta de mamona mercerizada com 5% de NaOH 2.6. Caracterização das fibras através da microscopia eletrônica de varredura (MEV) As amostras de torta de mamona pura e mercerizadas foram analisadas em microscópio eletrônico de varredura de bancada, Hitachi modelo TM 3000. Figura 3: Torta de mamona mercerizada com 10% 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A Figura 1 apresenta a micrografia da torta de mamona não tratada. As Figura 2 e 3 apresentam a micrografia da torta de mamona tratada com 5% e 10% de NaOH respectivamente. de NaOH A análise das Figuras 1, 2 e 3 mostra que o processo de mercerização promove a remoçao da lignina e a hemicelulose das fibras, causando uma fibrilação da fibra que resulta em um aumento da área de contato disponível para interação com a matriz, que se torna mais evidente quando uma concentração de 10% de NaOH foi utilizada no tratamento alcalino da torta. BRASILTEC 2014, 24 e 25 de setembro de 2014, Rio de Janeiro, Brasil - 2 - A Figura 4 apresenta os espectros de infravermelho da torta de mamona sem tratamento e submetida ao tratamento alcalino. Os espectros de difração de raios X da torta de mamona sem tratamento e mercerizada com 5% e 10% são apresentados na Figura 5. Figura 4: Infravermelho da torta de mamona não tratada e da mercerizada com 5% de torta de mamona O espectro da torta de mamona sem tratamento é -1 caracterizado por uma banda em 3400 cm referente ao estiramento vibracional dos grupos OH presentes -1 1 na amostra. As bandas em 2928 cm e 2854 cmestão relacionadas ao estiramento C-H alifático dos grupos metila e metileno, respectivamente. A banda -1 em 1645 cm pode ser atribuída ao estiramento dos grupos carbonila da lignina. Bandas de absorção em -1 1730-1738 cm atribuídas ao estiramento dos grupos carbonila presentes na hemicelulose não foram -1 observados. As bandas em 1529 e 1426 cm estão relacionadas ao estiramento da ligação carbonocarbono no anel aromático, à deformação assimétrica do grupo metila e a ligação éter (C-O-C) da celulose. -1 A banda em 1645 cm também pode ser atribuída ao estiramento da ligação carbono-carbono no anel aromático que pode estar superposta com a absorção -1 referente aos grupos carbonila. A banda em 1237 cm pode ser atribuída ao estiramento do grupo acetil da hemicelulose e a deformação axial da ligação -1 carbono-oxigênio. A banda em 1050 cm pode ser atribuída a deformação angular no plano de ligação carbono-oxigênio. As fibras de torta de mamona mercerizada apresentam espectro similar, porém apresentam banda de absorção correspondente ao estiramento da ligação OH muito mais pronunciado e ausência da -1 banda de absorção em 1237 cm . A maior definição -1 da absorção em 3350 cm nas fibras submetidas ao tratamento alcalino indica que houve um aumento dos grupos OH em função da quebra de ligações de lignina e hemicelulose com a celulose. A intensidade -1 da banda em 1645 cm na torta tratada com álcali diminuiu o que pode sugerir redução da absorção referente à carbonila. Este resultado sugere que a hemicelulose, sendo solúvel até em baixas concentrações de álcalis tenha sido parcialmente removida da fibra. Figura 5: Difratogramas da torta de mamona, da torta de mamona mercerizada com 5% e 10% de NaOH A caracterização das amostras por difração de raios X possibilita avaliar a cristalinidade das fibras lignocelulósicas após tratamento químico. Os efeitos desses tratamentos variam de acordo com a composição da fibra, principalmente em relação ao teor de celulose. Em fibras lignocelulósicas, a fração cristalina corresponde à celulose, enquanto a lignina e a hemicelulose encontram se na fração amorfa presente nas amostras. Os difratogramas apresentam picos de difração atribuídos à fase cristalina da torta 0 de mamona em 26,9 e 29,7 . A intensidade desses picos na amostra de mamona mercerizada com 5 e 10% é mais pronunciada devido à redução da fase amorfa na amostra devido ao tratamento com NaOH, responsável pela remoção parcial da hemicelulose, de 0 graxas e lignina. Os picos apresentados em 23 C evidenciam o surgimento de fase cristalina. 4 CONCLUSÕES Os resultados evidenciaram que a estrutura e a morfología das fibras foram alteradas indicando que houve remoção das ligninas, graxas e de hemiceluloses. A difração de raios X mostra que a estrutura cristalina que causa difração de raios X nas amostras tratadas com 5% de NaOH não é a mesma que causa difração com 10%. 5 REFERÊNCIAS Gustavo A. D. Burlein; Marisa C. G. Rocha,LDPE/PHB blends filled with castor oil pressed cake. 2 Ichazo, M. N.; Albano, C.; González, J.; Pereira, R.; Candal, M. V.; Compos. Struct. 2001, 54, 207. 3 Marinelli, A. L.; Monteiro, M. R.; Ambrósio, J. D.; Polímeros: Ciência e Tecnologia 2008, 18,92. 1 BRASILTEC 2014, 24 e 25 de setembro de 2014, Rio de Janeiro, Brasil - 3 -