5 CONCLUSÕES A pesquisa sobre acidentes de trânsito nas aglomerações urbanas brasileiras foi realizada a partir de dados de acidentes ocorridos no ano de 2001 nas Aglomerações Urbanas de Belém, Recife, São Paulo e Porto Alegre. Estas aglomerações foram selecionadas para representar a situação de acidentes de trânsito nas demais aglomerações urbanas das diferentes regiões geográficas do Brasil, na forma a seguir indicada: – Aglomeração Urbana de Belém: para representar a Região Norte e a Região Centro-Oeste; – Aglomeração Urbana de Recife: para representar a Região Nordeste; – Aglomeração Urbana de São Paulo: para representar a Região Sudeste; e – Aglomeração Urbana de Porto Alegre: para representar a Região Sul. Na ausência de um cadastro geral dos acidentes de trânsito ocorridos no Brasil, com dados completos por cidade, o plano amostral para definir os acidentes a serem analisados em cada uma das aglomerações urbanas selecionadas foi elaborado tendo como unidade amostral o veículo, e não o acidente propriamente dito. Assim, a população alvo foi definida como os veículos da frota registrada em cada cidade, integrantes do Registro Nacional de Veículos Automotores, o RENAVAM. Seguindo um plano amostral elaborado de modo a garantir uma precisão das estimativas de custo dos acidentes compatível com os objetivos do projeto, foram selecionadas amostras aleatórias de aproximadamente 1000 veículos para cada aglomeração considerada, estratificada de acordo com os seguintes grupos de veículos: automóveis, utilitários leves e motos. Para cada amostra foram coletados e analisados, dentre outros, dados relativos à caracterização das condições do veículo e do seu condutor principal; à ocorrência de acidentes associada a cada veículo, incluindo verificação da gravidade e das condições em que os mesmos ocorreram; e às vítimas dos acidentes, quando estas existiram. Um dos pontos importantes da pesquisa foi identificar as diferenças e semelhanças entre algumas das características associadas aos condutores, aos veículos e aos acidentes observadas nas diferentes amostras. Pode-se destacar, por exemplo, a verificação a partir dos resultados obtidos para todas as amostras, de que o veículo tipo moto apresenta um alto grau de envolvimento em acidentes, sobretudo com vítimas. Tome-se como exemplo a amostra da Aglomeração Urbana de São Paulo: a proporção de motos nesta amostra foi de 19,8%; já a proporção de motos no seu grupo de veículos envolvidos em acidentes foi de 28,6%; e a proporção deste tipo de veículo entre os acidentes com vítima foi de 81,8%. Situação semelhante foi obtida para as amostras das outras aglomerações urbanas estudadas. Outro aspecto importante diz respeito ao impacto da idade e do tempo de habilitação do condutor no seu envolvimento em acidentes. Foi verificado em todas as amostras que a idade média dos condutores envolvidos em acidentes é inferior a dos não envolvidos; a diferença variou de 4,9 anos, observada em Belém, a 7,4 anos, verificada em Recife. O cálculo das estimativas expandidas para o RENAVAM da idade do entrevistado revelou que, para as Aglomerações Urbanas de Belém, São Paulo e Porto Alegre, a média da idade entre os condutores de veículos que se envolveram em acidentes é significativamente menor do que a média da idade entre os que não se acidentaram, a um nível de significância de 0,01%. Para Recife a diferença não foi considerada significativa. O estudo do impacto do tempo de habilitação no envolvimento em acidentes também revelou, para todas as amostras, que os motoristas envolvidos em acidentes têm tempo de habilitação inferior ao dos não acidentados. A diferença entre estes tempos variou de 3,3 anos em Recife até 5,8 anos em Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas aglomerações urbanas brasileiras 63 São Paulo. Nas estimativas expandidas do tempo médio de habilitação para o RENAVAM, foi verificado que, para todas as aglomerações, a média do tempo de habilitação dos condutores dos veículos envolvidos em acidentes é significativamente menor do que a média do tempo de habilitação entre os não envolvidos em acidentes. O nível de significância calculado foi de 0,1%. Já outros aspectos analisados, como por exemplo o sexo e o nível de instrução do motorista envolvido em acidente, mostraram diferenças ao longo das diferentes amostras. Nos estudos feitos em Belém e São Paulo, foi identificado que os homens se envolvem mais em acidentes do que as mulheres; esta situação apresentou-se invertida nos estudos de Recife e Porto Alegre. Quanto ao nível de instrução, nas amostras de Belém e Recife o nível predominante entre os condutores envolvidos em acidentes foi o segundo grau; nas amostras de São Paulo e Porto Alegre este nível foi o superior. Um outro elemento importante que foi verificado em todas as amostras diz respeito à natureza dos acidentes. A colisão lateral e a colisão traseira responderam por 65% dos acidentes estudados em Belém; por 67% dos estudados em Recife; 69% dos observados na amostra de Porto Alegre; e 44% dos analisados em São Paulo. Além disso, a colisão lateral foi responsável pela maior proporção de acidentes com vítimas, com relação à participação dos outros tipos de acidentes, nas amostras das Aglomerações Urbanas de Belém, Recife e Porto Alegre. Os resultados acima mencionados, e os demais incluídos no corpo do presente relatório, permitiram um melhor entendimento dos principais fatores ligados à ocorrência de acidentes nas aglomerações urbanas brasileira. Embora diversos aspectos precisem ser investigados mais profundamente, é inegável o mérito do estudo, pioneiro no Brasil, em procurar identificar estes fatores e tentar avaliar a sua importância. As limitações do estudo devem-se, na sua grande parte, à própria magnitude do problema tratado: acidentes de trânsito nas aglomerações urbanas brasileira. Outras limitações foram decorrentes do processo de amostragem adotado, isto é, da substituição da unidade amostral “acidente” pela unidade amostral “veículos”. Em função da unidade adotada, em muitas cidades a quantidade de acidentes para ser investigada, como foi o caso de Porto Alegre, acabou sendo muito pequena. Isto é, dentre os 1004 veículos sorteados para integrar a amostra, somente 19 se envolveram em acidentes no ano 2001. Em São Paulo este número foi de 42 veículos envolvidos em acidentes numa amostra de 1001 veículos; em Belém de 59 em 1043; e em Recife de 134 em 1073. Em face dessa limitação e para uma melhor caracterização dos acidentes com vítimas, realizou-se, inclusive, uma outra pesquisa em paralelo em São Paulo a partir dos Boletins de Ocorrência registrados nas delegacias de polícia da cidade. 64 Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas aglomerações urbanas brasileiras