A ATIVIDADE DO MÚSICO DE ORQUESTRA:
PRÁTICA INSTRUMENTAL E DESCONFORTO CORPORAL
Clarissa Stefani Teixeira
Departamento de Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Catarina
Bairro Trindade 88040-970 – Florianópolis, Santa Catarina
Email: [email protected]
Eugenio Andrés Díaz Merino
Departamento de Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Catarina
Bairro Trindade 88040-970 – Florianópolis, Santa Catarina
Email: [email protected]
Luis Felipe Dias Lopes
Departamento de Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Maria Faixa de Camobi, km 9 97105-900 – Santa Maria, Rio Grande do Sul
Email: [email protected]
Palavras-chave: trabalho, músico, prática instrumental, desconforto.
Este estudo objetivou verificar a o desconforto musculoesquelético nas diferentes regiões corporais de músicos
de orquestra e as associações entre o tempo e freqüência da prática instrumental. 19 músicos de cordas,
madeiras e metais foram avaliados. Por meio da correlação de Spearman foi identificada associação alta e
significativa apenas entre a parte do meio das costas e o tempo total de orquestra, demonstrando que o tempo
que se toca na orquestra pode ser agravante para os sintomas de desconforto. As queixas no pescoço, ombro e
braço esquerdo foram as mais relatadas pelos músicos.
Keywords: work, musician, instrumental practice, discomfort.
This study aimed to verify to the discomfort musculoskeletal in different corporal areas of orchestra musicians’
orchestra and the associations between the time and frequency of the instrumental practice. 19 musicians of
strings, brass and woodwind are apprised. By means of the correlation of Spearman was identified high and
significant association between the middle backs and the total time of orchestra, demonstrating that the time
that is played in the orchestra can be aggravating for the discomfort symptoms. The complaints in neck,
shoulder and left arm were the more told by the musicians.
1. INTRODUÇÃO
Durante a vida profissional, os músicos confrontam-se
com demandas que podem conduzir ao adoecimento e
mesmo à interrupção de suas carreiras. Especificamente
nos músicos de orquestra, as demandas profissionais
podem estar relacionadas ao contexto produtivo em que
o músico se encontra, tais como aspectos da
organização do trabalho, das exigências de
produtividade e de cognição (disciplina, memorização,
concentração, raciocínio, percepção criatividade,
rápidas tomadas de decisões, musicalidade, além da
expressão corporal), aos exercícios psicomotores
complexos e à discriminação auditiva apurada
(PETRUS, 2005; COSTA e ABRAHÃO, 2002).
Para Araújo e Cárdia (2005) a execução de um
instrumento musical exige do músico um grande
esforço físico e mental e estas questões também podem
estar relacionadas aos adoecimentos. De forma geral,
para Meija (1977), existe uma forte demanda em se
adaptar o instrumento às possibilidades de movimento
do homem, mas não o inverso, pois o instrumento de
trabalho foi construído para o homem e não o homem
para o instrumento. Para Frank e Mühlen (2007) a
postura em relação ao instrumento é assimétrica e não­
ergonômica. Estas e outras questões fazem com que
alguns autores cheguem à conclusão de que os músicos
constituem um dos principais grupos de risco de
adoecimento ocupacional (COSTA, 2005).
Mesmo que exista a chamada escassez de informação
em função da atividade desenvolvida pelos músicos não
ser considerada como uma profissão, há necessidade de
maiores investigações para possibilitar estratégias
preventivas e de controle (ZAZA, 1998; SIQUEIRA et
al, 2006). O que ocorre na verdade é que a atividade de
tocar um instrumento, segundo Zazá (1998) é
comparada ás atividades de trabalhadores industriais ou
de escritórios.
As problemáticas identificadas pelos estudos de
maneira geral apontam para as atividades trabalhistas
de músicos, como por exemplo, os problemas
musculoesqueléticos (com prevalência de 55% a 86%
em músicos profissionais de orquestras) (FRANK e
MÜHLEN, 2007), dor (37% a 63% de prevalência) e
desconforto (TULCHINSKY e RIOLO, 1994;
MOURA, FONTES e FUKUJIMA, 2000; TRELHA et
al., 2004; GLATZ, POFFO e PRZSIEZNY, 2006;
FRANK e MÜHLEN, 2007).
Para Lederman (2003) os riscos musculoesqueléticos
podem gerar queda no desempenho funcional e
comprometer as horas trabalhadas. Diante destas
premissas Glatz, Poffo e Przsiezny (2006) encontraram
correlações fortes e significativas entre o tempo de
profissão e o tempo de dor. Porém, falta ainda a
identificação das relações entre tempo de estudo diário
individual, semanal e com a orquestra com as questões
de desconforto em músicos de orquestra. Logo, este
estudo objetivou identificar e relacionar os
desconfortos musculoesqueléticos que a prática musical
gera com o tempo dedicado às atividades práticas com
o instrumento musical.
2. METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se, segundo Thomas e Nelson
(2002), como um estudo descritivo-exploratório, de
corte transversal, no qual foi realizado um
levantamento de informações ainda pouco investigadas
em uma determinada população.
O estudo foi realizado com músicos de uma orquestra
da região sul do Brasil, caracterizada como sendo semi­
profissional e constituída por jovens instrumentistas.
Esta orquestra é composta por 29 músicos sendo estes
trabalhadores dos seguintes instrumentos: cordas,
sopros, metais e percursão. Como há indicação de
predomínio e não de diferenças estatisticamente
significativas de sintomas em músicos de cordas e
sopro (TRELHA et al., 2004), neste estudo foram
selecionados aqueles que realizam práticas sistemáticas
e desenvolvem seu trabalho relacionado a instrumentos
de cordas e madeiras e metais, chamados de sopros.
Do total de 29 músicos, 19 concordaram em participar
do estudo e responderam ao questionário para
identificação da dor nas partes do corpo (QD) adaptado
do instrumento desenvolvido por Corlett e Bishop
(1976), que consiste de uma folha com um mapa
corporal dividido em 27 partes. Este questionário
sugere cinco respostas possíveis ao desconforto
corporal, que neste estudo, foi relacionado às práticas
instrumentais dos músicos de orquestra: 1) sem
desconforto, 2) desconforto leve e/ou esporádico, 3)
desconforto moderado e/ou periódico, 4) desconforto
considerável e/ou freqüente e, 5) desconforto intenso
e/ou contínuo. Para questões de análise optou-se em
classificar os músicos em com ou sem presença de
desconforto.
Além do questionário, para as relações com o
desconforto musculoesquelético, foram investigadas,
por meio de perguntas, as atividades profissionais
relacionadas ao tempo de prática instrumental
individual, tempo de prática com a orquestra e
freqüência semanal em que realiza a prática
instrumental, para poder assim contemplar os objetivos
propostos. A aplicação dos instrumentos foi realizada
em sessões individuais, nos locais de trabalho dos
indivíduos, após autorização dos responsáveis pela
orquestra e com a concordância dos músicos, que foram
informados sobre os objetivos do estudo.
Para a análise dos dados foi realizada estatística
descritiva por meio da média, desvio padrão e
percentual das respostas. Foram realizadas correlações
entre as respostas ao questionário de desconforto e ao
tempo de prática individual, tempo de prática com a
orquestra e freqüência semanal de prática com o
instrumento por meio do teste de correlação de
Spearman (rho), com nível de significância de 5%.
Considerou-se, para efeito de análise, os critérios
adotados por Malina (1996), os quais descrevem
correlação baixa para um valor menor que 0,30,
moderada para valores entre 0,30 e 0,60 e alta para
valores superiores a 0,60. Para as análises foi utilizado
o programa estatístico SPSS 11.5 for Windows.
3 RESULTADOS
A idade média dos músicos foi de 27,00 ± 12,05 anos.
O tempo em que se toca o instrumento foi 8,37 ± 11,04
anos; o tempo que se toca na orquestra foi 3,11 ± 2,16
anos. Os músicos estudam em uma freqüência semanal
de 5,47 ± 1,50 dias, sendo desenvolvidos estudos
individuais de 2,21 ± 1,69 horas por dia e 3,47 ± 0,70
horas com a orquestra.
As queixas musculoesqueléticas apresentadas por todos
os músicos (19) estão ilustradas na Figura 1. As
maiores porcentagens estão indicadas em vermelho,
sendo estas as mais relatadas pelos músicos. As regiões
sem porcentagens foram aquelas que não houveram
queixas.
Instrumento
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Desconforto (%)
Esquerdo
Direito
Sim Não Sim Não
50,0 50,0 25,0 75,0
ombro
42,9 57,1 14,3 85,7
33,3 66,7 16,7 83,3
braço
28,6 71,4 14,3 85,7
8,3
91,7
8,3
91,7
cotovelo
14,3 85,7 14,3 85,7
16,7 83,3
8,3
91,7
antebraço
14,3 85,7 14,3 85,7
8,3
91,7 16,7 83,3
punho
57,1 42,9 42,9 57,1
25,0 75,0 25,0 75,0
mão
42,9 57,1 28,6 71,4
Região
do corpo
Tabela 1 – Porcentagem de desconforto na região
do ombro, braço, cotovelo, antebraço, punho e
mão no hemicorpo esquerdo e direito dos músicos
de corda e sopros.
Instrumento
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Cordas
Sopros
Região
do corpo
pescoço
costas
superior
costas
meio
costas
inferior
Desconforto (%)
Sim
Não
58,3
41,7
42,9
51,1
50,0
50,0
14,3
85,7
25,0
75,0
14,3
85,7
25,0
75,0
14,3
85,7
Tabela 2 – Porcentagem de desconforto na região
do pescoço, parte superior, meio e superior das
costas, dos músicos de cordas e sopros.
Figura 1 – Porcentagem das queixas
musculoesqueléticas relatadas pelos músicos em
cada região corporal.
A Tabela 1 ilustra a porcentagem das queixas
musculoesqueléticas relatadas pelos músicos de
cordas e de sopros nas regiões corporais do ombro,
braço, cotovelo, antebraço, punho e mão. A Tabela
2 ilustra as queixas relatadas no pescoço.
A análise de correlação feita não mostrou
associação entre a freqüência semanal de estudo e
com tempo de estudos individuais. As únicas
associações significativas encontradas foram com
o tempo de orquestra e queixas de desconfortos na
região das costas (região do meio e inferior) e
antebraço. A Tabela 3 ilustra as correlações
encontradas.
Região corporal de
desconforto
costas
meio
costas
inferior
antebraço
direito
Spearman
R
r*
R
r*
R
r*
tempo de
orquestra
0,637
0,003
0,493
0,032
0,463
0,046
* probabilidade do teste para a correlação de
Spearman. Valor menor que 0,05 indica diferença
estatisticamente significativa
Tabela 3 – Correlação entre as queixas de
desconforto e o tempo de prática instrumental com
a orquestra.
De acordo com os critérios de Malina (1996) apenas a
associação entre o desconforto na região do meio das
costas e com o tempo de orquestra pode ser considerada
alta. Neste sentido, pode-se dizer que há uma tendência
em se ter dor nas costas (região do meio) com o
aumento do tempo na orquestra.
Discussão
Os músicos sejam profissionais, professores ou
estudantes, representam um grupo ocupacional único,
no qual os problemas neuromusculares relacionados ao
tocar parecem ser comuns (LEDERMAN, 2003).
Durante o trabalho desenvolvido pelos musicistas há
exposição a fatores de risco, propiciando muitas vezes
o aparecimento de lesões (TRELHA et al., 2004).
Segundo Mazzoni et al. (2006) foi a partir de 1980 que
houve um rápido aumento do desenvolvimento da
clínica dos músicos, organização da medicina artística e
surgimento de pesquisas visando a prevalência,
tratamento e aspectos ergonômicos dos instrumentos
usados.
A falta de conhecimento e de acompanhamento do
meio científico relacionado às questões de saúde dos
músicos, aliado com as problemáticas do medo em se
perder oportunidades de um mercado restrito e até de
perder o emprego, se afastados, fazem com que haja
negligência em não se aceitar ou de se conviver com as
dores e com o desconforto gerado com a prática do
instrumento.
Para Campos et al. (2006) estas preocupações fazem
com que haja convívio com a dor, sem reclamar do
desconforto, criando a “cultura do silêncio”. Para Frank
e Mühlen (2007) é conhecida a atitude de musicistas
profissionais de não procurar auxílio médico ao
surgirem sinais de alerta, com receio de perda de
espaço profissional e diminuição de ganho financeiro.
Estas atitudes levam a agravamentos do quadro clínico,
que começa com um simples desconforto e pode se
transformar em doenças que levam a piora da saúde e
ao afastamento do emprego.
De acordo com as queixas apresentadas foi possível
observar que muitos músicos relatam queixas
musculoesqueléticas na região do pescoço, ombro e
braço esquerdo e parte superior das costas (Figura 1).
Um pouco diferente dos resultados encontrados com os
músicos da orquestra semi-profissional foi a avaliação
realizada por Lederman (2003), que avaliou 1353
instrumentistas mostrando que 64,4% deles
apresentaram disfunções musculoesqueléticas nas
regiões das mãos, punhos e antebraço. Resultado
semelhante obteve Brandfonbrener (2003) que avaliou
2394 músicos, entre os anos de 1985 e 2002, obtendo
os locais de maior acometimento os braços, punhos e
mãos. Neste mesmo estudo foram encontradas
problemas de queixas nos ombros, joelhos e tronco,
dependendo do posicionamento do instrumento.
Entre 45 músicos da Orquestra Sinfônica da
Universidade Estadual de Londrina também foram
estudadas a localização dos sintomas
musculoesqueléticos. Os resultados mostraram que as
regiões anatômicas mais acometidas nos últimos doze
meses foram os ombros (48,9%), coluna cervical
(46,7%), coluna dorsal (46,7%) e punhos e mãos
(33,3%) (TRELHA et al., 2004). Durante a observação
da atividade de violinistas, observaram-se sintomas de
desgaste físico na região das costas (região dorsal) e
dos braços (região do tríceps braquial) (PETRUS e
ECHTERNACHT, 2004).
As diferenças dos locais encontrados pelo presente
estudo podem estar principalmente pelo número de
horas semanais despendido para as práticas
instrumentais. No presente estudo, por se tratar de
músicos semi-profissionais, há menores exigências de
práticas de estudos com a orquestra (3,47 ± 0,70 horas).
Além disso, o número de apresentações também é
reduzido, pois enquanto músicos de orquestras
profissionais realizam apresentações semanais, nesta
orquestra há apresentações mensais, o que permite mais
tempo de estudo e ensaio em cada peça musical. No
estudo de Trelha et al. (2004) o tempo de trabalho
semanal foi de 32,85 ± 9,26 horas, o que apresenta
diferença de dedicação ao instrumento quando
comparado aos músicos do presente estudo. Pode-se
dizer também que o tempo dedicado de estudo
individual também é relativamente baixo (2,21 ± 1,69
horas por dia), mesmo tendo freqüência semanal de
5,47 ± 1,50 dias.
A única variável que mostrou ter com associação com
as queixas de desconforto, na região do meio das
costas, foi o tempo total de práticas com a orquestra
(Tabela 3). Porém, uma das reflexões que podem ser
realizadas em função destas informações é que mesmo
com práticas consideradas baixas há comprometimento
musculoesquelético, o que demonstra que o desconforto
encontrado nas partes do corpo deve ser melhor
estudado para poder selecionar outras atitudes que
possam estar associadas a estas queixas.
Para Blum e Ahlers (1995) e Norris (1997) as
problemáticas ocorrem em função de fatores
predisponentes ao adoecimento, como o tempo
excessivo de dedicação ao instrumento, falta de
condicionamento físico, hábitos incorretos na prática do
instrumento (não realização de alongamentos e
aquecimentos, as posturas adotadas), questões técnicas
do instrumento (realização de força excessiva), a troca
do instrumento e seu tamanho, as condições ambientais
(como quantidade insuficiente de iluminamento, a
temperatura), as características do mobiliário (uso de
cadeiras que não contemplam as diferenças
individuais), as técnicas de compensação e condições
corporais dos músicos. Logo, muitas destas
características devem se melhor investigadas, uma vez
que, poucas associações foram encontradas com relação
a freqüência de estudo e além disso, apenas a
correlação com a parte do meio das costas foi
considerada alta.
Na verdade parece que a dor musculoesquelética deve
ser relacionada ao instrumento, conforme indicações de
Brandfonbrener (2003). Com a análise das queixas dos
músicos de cordas e sopros, parece que, de maneira
geral, os antebraços, punhos, mãos dos músicos de
sopro são mais acometidos que os músicos de sopros
(Tabela 1). Em contrapartida, os ombros, os braços,
pescoço e costas são mais acometidos pelos músicos de
cordas, podendo então ser investigadas as diferenças do
dimensionamento dos instrumentos, forma e
posicionamento adotados durante o tocar (Tabela 1 e
2).
Para Brandfonbrener (2003) as dores, advindas das
práticas instrumentais, em músicos de violino e viola,
podem estar relacionadas ao suporte fornecido pelo
ombro no lado esquerdo pelo queixo e mandíbula no
lado direito. O que ocorre é o posicionamento do
ombro para cima e anteriormente, enquanto o pescoço é
rotado para a esquerda e a mandíbula pressionada para
baixo. Estas questões podem ser observadas pelo
presente estudo, uma vez que, as queixas apresentadas
pelos músicos encontraram-se principalmente na região
pescoço, ombro esquerdo e costas superior. Estes
achados merecem maiores investigações, pois também
estão relacionados com a técnica de execução que
determina o suporte correto ao instrumento, onde, por
exemplo, os instrumentos de cordas, não devem ser
seguros pelo membro esquerdo e sim apoiados pelo
ombro e cabeça, utilizando-se de acessórios como a
queixeira e a espaleira.
No caso dos violoncelistas e baixistas, muitas vezes, há
presença de dores em função da forma como carregam
seus instrumentos, pela alta repetição e atividade dos
dedos e pela prática por longas horas. Em instrumentos
de sopro, a dor está associada às necessidades
individuais de suporte de cada instrumento. O polegar
direito suporta a carga estática dos clarinetes e oboés,
levando a uma freqüência de dor maior que no polegar
esquerdo, além de problemas no braço. Já, em relação à
flauta transversal, observa-se maior demanda na mão
esquerda e antebraço, com hiperextensão de punho,
podendo predispor a problemas no braço e pulso
esquerdos. Segundo Norris (1993) o peso do
instrumento quando sustentado e suportado pela mão,
pode ser uma fonte significativa de carga estática,
particularmente nos músculos do ombro, sendo para
Brandfonbrener (2003) fator etiológico nas lesões dos
trabalhadores.
O estudo de Andrade e Fonseca (2001) identificou
quatro causas de dor, tensão e fadiga nos
instrumentistas, sendo elas: 1) inadequações posturais
primárias, ou seja, má postura não necessariamente
relacionada à execução do instrumento; 2)
inadequações posturais secundárias à execução do
instrumento, decorrentes da inadequação da relação das
dimensões dos acessórios do instrumento com os
instrumentistas e excesso de tensão durante a
performance; 3) vícios técnicos de execução sem
grandes repercussões posturais, mas causadoras de
tensão ou contração muscular excessiva com
sobrecarga articular ou neuromuscular; e 4) doenças
orgânicas articulares e periarticulares. Somado a estes
fatores, além das posturas incorretas, outros agravantes
durante a prática musical podem ser citados, como por
exemplo, a força aplicada para manipular o
instrumento, a repetitividade exercida pelos membros
superiores, a vibração (GLATZ, POFFO e
PRZSIEZNY, 2006) e a contração muscular utilizada
para a sustentação do instrumento para a prática ou
utilização indevida de determinados grupamentos
musculares.
Mesmo que exista indicação de Siqueira et al. (2006)
em ocorrências de distúrbios nos membros inferiores,
em função do trabalho com o instrumento ser
sustentado, muitas vezes, pelos membros inferiores, no
presente estudo não foram encontradas queixas
musculoesqueléticas na região inferior corporal.
4 CONCLUSÃO
De acordo com os resultados encontrados, foram
observadas queixas musculoesqueléticas na região
do pescoço, ombro e braço esquerdo e parte
superior das costas. Houve diferenças de queixas
quando os músicos foram analisados conforme os
tipos de instrumentos tocados, sendo que os
músicos de sopros apresentaram queixas
principalmente na região dos antebraços, punhos,
mãos, comparados aos músicos de cordas que
relataram maiores desconfortos nos ombros, os
braços, pescoço e costas.
A única correlação encontrada foi em relação ao
tempo total de prática com a orquestra, sendo que a
associação considerada alta e significativa foi na
região do meio das coisas (21,10% das queixas dos
músicos avaliados) com o tempo total em que os
músicos tocam juntamente com a orquestra (3,11 ±
2,16 anos).
5 REFERÊNCIAS
ARAÚJO, N. C. K.; CARDIA, M. C. G. A
presença de vícios posturais durante a execução do
violino. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIOMECÂNICA, 10, 2005, João Pessoa. Anais...
CD-Rom, Jun, 2001.
BLUM, J.; AHLERS, J. Ergonomic considerations
in violist’s left shoulder pain. Medical Problems
of Performing Artists, v. 9, n. 1, p. 25-29, 1994.
BRANDFONBRENER, A. G. Musculoskeletal
problems of instrumental musicians. Hand
Clinics, v. 19, n.2, p. 231-239, May 2003.
CAMPOS, R. M.; COSTA, J.; FIGUEIREDO, D.;
RABELO, V.; BRANDÃO, S.; FERREIRA, J.;
PEREIRA, R.; CASTRO, I. S. O benefício da
ergonomia para a arte de tocar o violino. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA,
14, 2006, Curitiba, Anais... CD-Rom, Out/Nov,
2006. CORLETT, E. N.; BISHOP, R. P. A technique for assessing postural discomfort. Ergonomics, v. 19, p. 175-182, 1976. COSTA, C. P. Contribuições da ergonomia à saúde do músico: considerações sobre a imensão física do fazer musical. Música Hodie, v. 5, n. 2, p. 53­
63, 2005. COSTA, C. P.; ABRAHÃO, J. I. Músico:
profissão de risco? In: CONGRESSO LATINO­
AMERICANO E CONGRESSO BRASILEIRO
DE ERGONOMIA, 13, 2006, Recife. Anais... CD-
Rom, 2002.
FRANK, A.; MÜHLEN, C. A. V. Queixas
musculoesqueléticas em músicos: prevalência e fatores de risco. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 47, n. 3, p. 188-19, 2007. GLATZ, C. V. D. H.; POFFO, P.; PRZSIEZNY,
W. L. Análise da incidência de dor e desconforto em músicos de Blumenau-SC. Revista Fisio&Terapia, n. 51, p. 18-19, 2006. LEDERMAN, R. J. Neuromuscular and musculoskeletal problems in instrumental musicians. Muscle & Nerve, v.27, n.5, p. 549-561, May 2003.
MALINA, R. M. Tracking of physical activity and physical fitness across the lifespan. Research Quarterly Exercise and Sport, v. 67, Suppl, p. 48-57, 1996. MAZZONI, C. F.; VIEIRA, A.; GUTHIER, C.;
PERDIGÃO, D.; MARÇAL, M. A. Avaliação da
incidência de queixas musculoesqueléticas em
músicos instrumentistas de cordas friccionadas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 14. Curitiba, 2006. Anais... CD-Rom, Out/Nov,
2006. MEIJA, C. M. R. La dinâmica Del violinista. 4. ed. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1977.
MOURA, R. C. R.; FONTES, S. V.; FUKUJIMA, M. M. Doenças Ocupacionais em Músicos: uma
Abordagem Fisioterapêutica. Revista Neurociências, v. 8, n. 3, p. 103-107, 2000. NORRIS, R. The musician’s survival manual: a guide to preventing and treating injuries in
instrumentalists. 3. ed. St. Louis, MO: MMB Music, 1997. NORRIS, R. N. Applied ergonomics: Adaptativ equipment and instrument modification for musicians. Medical Journal, v. 42, n. 3, p. 271­
275, 1993. PETRUS, A. M. F.; ECHTERNACHT, E. H. O. Dois violinistas e uma orquestra: diversidade operatória e desgaste músculo-esquelético. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 29, n. 109, p. 31- 36, 2004. PETRUS, Ângela. Márcia. Ferreira. Produção musical e desgaste musculoesquelético:
elementos condicionantes da carga de trabalho dos violinistas de uma orquestra. 2005. 116f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Produção) – Curso de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
SIQUEIRA, A. M.; ALVARENGA, F. P. V.;
FERREIRA, G. A.; PESSOA, M. R. G.; SAADE, S. V. L; VELLOSO, F. S. B. Distúrbios músculo­
esqueléticos entre músicos – uma revisão de
literatura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ERGONOMIA, 14, 2006, Curitiba, Anais... CDRom, Out/Nov, 2006.
THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Métodos de
pesquisa em atividade física. Porto Alegre:
ArtMed, 2002.
TRELHA, C. S.; CARVALHO, R. P. C.;
FRANCO, S. S.; NAKAOSKI, T.; BROZA, T. P.;
FÁBIO, T. L.; ABELHA, T. Z. Arte e Saúde:
Freqüência de sintomas músculo-esqueléticos em
músicos da orquestra sinfônica da Universidade
Estadual de Londrina. Semina: Ciências
Biológicas e da Saúde, v. 25, p. 65-72, 2004.
TULCHINSKY, E.; RIOLO, L. A Biomechanical
motion analysis of the violinist’s bow arm.
Medical Problems of Performing Artists. v. 9, n.
4, p. 119-124, 1994.
ZAZA, C. Playing-related musculoskeletal
disorders in musicians: a systematic review of
incidence and prevalence. Canadian Medical
Association, v. 158, n. 8, p. 23-27, 1998.
Download

do trabalho completo - Boletim Brasileiro de Educação