Colóquio de Literatura em Bruxelas Maria Fernanda Afonso* Universidade Livre de Bruxelas (francófona) e o leitorado do Instituto Camões nesta institutição realizaram nos dias 16 a 19 de Setembro um colóquio de literatura com o título La Lusophonie : Voies/voix Océaniques, cujo tema decorreu naturalmente da celebração do aniversário da aventura marítima vivida pelos portugueses há 500 anos. Esta primeira reunião internacional de especialistas das literaturas lusófonas na Bélgica desenvolveu em cerca de sessenta comunicações, apresentadas por professores de várias Universidades europeias e brasileiras, a simbologia do imaginário marítimo nas obras que se escrevem em Língua Portuguesa nas duas margens do Oceano Atlântico e nas costas do Oceano Índico. Nas conferências inaugurais proferidas pelos professores da Universidade Clássica de Lisboa, Maria Alzira Seixo, Fernando Cristóvão e pelo professor da Universidade de Rennes 2 e presidente deste colóquio, Jean-Michel Massa, foram definidas as grandes linhas temáticas que, reflectindo sobre a criação literária em Portugal, no Brasil e em África, seriam desenvolvidas nas seis secções propostas pelo programa: Les rivages de la lusophonie ; Le voyage maritime : errance et rencontres culturelles et linguistiques; Le voyage maritime : epiphanie d’une conscience critique; La lusophonie : polyphonie de voix océaniques; Vers une herméneutique de la parole océanique; Les îles littéraires lusophones. O mar visto da Literatura Portuguesa é o mar das caravelas, da descoberta e da aventura, saudade e lágrimas, da errância, sonho e busca de identidade. Neste sentido, foram largamente analisados textos do séc. XVI (Anne-Marie Quint, Edwige André), do séc.XX, A LATITUDES n° 4 - décembre 98 a poesia de Fernando Pessoa (Adrien Roig, Ana Maria Binet) e de Sofia de Mello Breyner Andersen (Maria Madalena Teixeira da Silva), a ficção de Luísa Dacosta (José Manuel da Costa Esteves) e de José Saramago (Graciete Besse falaria da deriva atlântica da Jangada de Pedra). Na literatura brasileira, o mar inscreve-se lugar de retórica (Antonio Carlos Secchin), contraponto do sertão (Flávio Loureiro Chaves, Francis Utéza, Jacqueline Penjon) ou metáfora de navegações imaginárias na busca do sentido último da existência, nomeadamente na poesia de Cecília Meireles (Maria Margarida Maia Gouveia, Norma Seltzer Goldstein). Em África, a imensidão oceânica configura em algumas literaturas um projecto de nação (Ana Mafalda Leite, MarieFrançoise Bidault, Tania Macedo). Os mares do oriente (Françoise Massa, Horácio Araújo), a insularidade (Salvato Trigo, Maria Felisa Prado), a açorianidade (António Machado Pires) e a diáspora da América do Norte (Vamberto Freitas) foram também objecto de um grande número de comunicações. Numa mesa-redonda, animada pelos leitores da Bélgica, os escritores João de Melo, Maria Isabel Barreno e Casimiro de Brito debateram o significado que a presença do mar assume na sua escrita, comungando do sentimento que levou Vergílio Ferreira a dizer na Bélgica, em 1991, aquando da Europália : Da minha língua vê-se o mar * Leitora de Português em Bruxelas. 59