Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. 1 Guilherme Antônio Marques Buss 2 Evelinda Trindade 1 Maria Glória Vicente 1 Carlos Roberto Oliveira Fornazier 1 2 ANVISA/NUVIG/UTVIG NATS InCor-HC/FMUSP INTRODUÇÃO Estima-se que, somente nos EUA, anualmente cerca de 250 mil pessoas morram antes de chegar a um hospital em decorrência de ataque cardíaco súbito. Tal intercorrência é a maior causa de morte naquele país (ECRI, 2009). A terapia de desfibrilação cardíaca, quando realizada logo nos primeiros instantes após a ocorrência de um ataque cardíaco, é a medida mais efetiva para aumentar a expectativa de sobrevivência das vítimas (BAHR et al, 2009; ECRI, 1993). A efetividade da desfibrilação, no entanto, é altamente dependente do tempo – a chance de sobrevivência, que é de 90% no início, decresce cerca de 10% a cada minuto decorrido (THE PAD TRIAL INVESTIGATORS, 2003). A desfibrilação pode ser realizada por meio de equipamentos portáteis denominados Desfibriladores Externos Automáticos e SemiAutomáticos (denominados, em conjunto, AEDs – Automatic External Defibrillator), os quais monitoram o eletrocardiograma (ECG) do paciente e auxiliam na tomada de decisão para a liberação do choque terapêutico. Este tipo de produto é atualmente produzido em larga escala e a sua acessibilidade vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. Como qualquer outro equipamento eletro-eletrônico, desfibriladores podem apresentar problemas de funcionamento decorrentes de falhas dos seus componentes elétricos e eletrônicos. Food A agência governamental norte-americana, and Drugs Administration (FDA), é responsável pelo controle de produtos para a saúde (medical devices) naquele país. Entre outras atribuições, a agência executa ações de vigilância pós-comercialização (post-market surveillance) com intuito de formar uma “rede de proteção” que garanta a continuidade dos requisitos de segurança e eficácia dos produtos, quando estes já se encontram no mercado e estão sendo efetivamente utilizados (GROSS et al, 2007). Uma atividade de pós-mercado freqüentemente empregada pela FDA é o recall de produtos que oferecem risco à saúde (GROSS et al, 2007). A autoridade para impor a execução de um recall a um determinado fabricante é garantida por lei e, em situações que apresentam risco à saúde da população, os fabricantes são obrigados, por lei, a realizar o recall de produtos para a saúde e a comunicar esta ação à FDA (FDA, 2010). O Center for Devices and Radiological Health (CDRH) é uma divisão interna da FDA que tem como principal objetivo garantir que os produtos para a saúde, uma vez colocados no mercado, sejam seguros e eficazes (GROSS et al, 2007). Uma das atividades do CDRH é publicar, em sua página eletrônica, alertas a respeito das ações de recall executadas pelos fabricantes de produtos para a saúde. As informações contidas nestes alertas são disponibilizadas ao público em um banco de dados, o qual pode ser acessado na web a partir da página eletrônica do CDRH. O acesso a este banco de dados, bem como a organização dos dados e informações dele obtidas, pode ser de grande utilidade para agências de saúde de outros países. BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 1 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a agência governamental brasileira responsável, dentre outras atribuições, pelo controle de produtos para a saúde comercializados no Brasil. Um dos seus propósitos é garantir a segurança e eficácia desses produtos na fase de pós-comercialização. A Unidade de Tecnovigilância da Anvisa (UTVIG/Anvisa) é o setor da Anvisa que coordena ações de pós-mercado relacionadas a produtos para a saúde. Uma das atribuições da UTVIG é monitorar alertas publicados por agências de saúde estrangeiras, visando garantir que problemas de segurança ou desempenho verificados em outros países possam ser identificados e corrigidos no Brasil (ANVISA, 2010). A UTVIG utiliza com freqüência a base de alertas disponibilizada pelo CDRH/FDA nas suas atividades de monitoramento de alertas internacionais e, em algumas situações específicas, tal base é utilizada como fonte de dados para pesquisas direcionadas. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma avaliação das informações disponibilizadas nos alertas publicados pelo CDRH/FDA referentes a AEDs e seus acessórios, como estratégia de Tecnovigilância. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um estudo descritivo observacional dos alertas referentes a AEDs e acessórios, publicados pelo CDRH/FDA no período de 1º de janeiro de 2003 a 30 de junho de 2010. O critério de inclusão nesta amostra foi sua conveniência, ou seja, sua disponibilidade on-line no website do CDRH/FDA em base de dados estruturada - os Estados Unidos da América (EUA) detêm mais de 25% dos fabricantes mundiais de produtos para a saúde, possui e implementa fortemente a política regulatória de póscomercialização como parte integrante de sua política de desenvolvimento industrial e dispõem de um banco de dados de mais de duas décadas. Pesquisa dos alertas A pesquisa dos alertas foi realizada utilizando-se a ferramenta de busca do banco de dados Medical & Radiation Emitting Device Recalls, disponível em http://www.accessdata.fda.gov/scripts/cdrh/cfdoc s/cfRES/res.cfm. A consulta foi realizada em 28 de agosto de 2010 a partir das seguintes entradas nos campos de busca: • No campo Product: <defibrillator>; • No campo Date Posted (início): <01/01/2003> (data de corte inicial da pesquisa) • No campo Date Posted (final): <06/30/2010> (data de corte final da pesquisa) As datas de corte foram inseridas de acordo com a notação de data dos EUA (Mês/Dia/Ano). Num primeiro momento foram utilizadas as palavras-chave defibrillator e external; os resultados obtidos, entretanto, não foram satisfatórios, pois nem todos os alertas relacionados a desfibriladores externos contêm a palavra-chave external. Desta maneira optou-se por utilizar uma palavra-chave mais abrangente (defibrillator) e a depuração dos resultados foi realizada por meio da leitura individual dos alertas. Os alertas referentes a outros produtos que não AEDs e seus acessórios foram descartados. Os resultados foram exportados para uma planilha eletrônica (ExcellTM), utilizando-se a ferramenta de exportação de dados disponível na página eletrônica do CDRH/FDA. O sistema exportou automaticamente o conteúdo dos seguintes campos dos alertas: Recall Number (ID do recall), Trade Name Product (nome comercial do produto), Recall Class (classe do recall), Date Posted (data de publicação do alerta), Recalling Manufacturer (empresa fabricante) e Reason for Recall (motivo do recall). O arquivo obtido (extensão .csv) foi convertido para um arquivo de extensão .xls (ExcellTM - Microsoft, versão 2003). Tendo em vista que os acessórios de AEDs tiveram significativo destaque nos alertas BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 2 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. pesquisados e com objetivo de tornar mais detalhada a apresentação dos resultados, os alertas obtidos foram separados em alertas referentes a AEDs e alertas referentes a acessórios. Tal classificação foi feita tendo como base as informações disponíveis no campo ‘nome comercial do produto’ dos alertas avaliados. Foram considerados como acessórios os seguintes produtos: bateria, pá de desfibrilação, cabos, eletrodo e adaptador de voltagem. Os dados referentes ao número de unidades afetadas e à distribuição geográfica das unidades (AEDs e acessórios) foram obtidos por meio da leitura individual de cada alerta. Informações referentes às causas-raiz das falhas que afetaram AEDs também foram obtidas por meio da leitura e interpretação do conteúdo do campo ‘motivo do recall’, sendo preenchidas manualmente na planilha. A categorização por causa-raíz de problema foi realizada da seguinte forma: (i) falha de componente eletrônico, (ii) falha de software, (iii) falha do conector de bateria, (iv) falha nas instruções de uso, (v) falha do conector do cabo de força, (vi) falha no botão de choque, (vii) falha do conector do cabo da pá e (viii) falha no console. Nas situações em que houve falha na exportação completa dos dados (sistema do CDRH), o que ocorreu algumas vezes para os campos ‘nome comercial do produto’ e ‘empresa fabricante’, a pesquisa foi realizada em cada um dos alertas, individualmente, a fim de se completar a tabela. O conteúdo da planilha eletrônica obtida foi comparado com as informações dos alertas, de forma a validar o procedimento de exportação. Os resultados referentes a 2010 foram considerados até a data de corte da pesquisa (30/06/2010). Os dados foram tabulados utilizando-se as ferramentas de filtro do software ExcellTM (Microsoft, versão 2003). A partir da palavra-chave defibrillator foram obtidos 270 alertas, incluindo modelos de desfibriladores implantáveis e AEDs. Após o descarte dos resultados referentes a desfibriladores implantáveis e produtos de outras categorias que não eram do interesse do estudo, obteve-se um total de 134 alertas. Distribuições dos alertas em função do ano de publicação, categoria do produto, classe de risco do recall e fabricante A distribuição temporal dos alertas correspondentes a desfibriladores externos e acessórios é apresentada na Figura 1. Conforme apresentado na referida figura, os alertas publicados no período apresentaram maior prevalência de problemas relacionados a AEDs, quando comparados aos seus acessórios. O ano de 2010 (considerado parcialmente no presente estudo - 01/01/2010 a 30/06/2010) apresentou o maior número de alertas publicados pela FDA (42 alertas), diferindo consideravelmente dos outros anos. Figura 1. Alertas sobre AEDs e seus acessórios, de acordo com ano de publicação pela FDA e categoria 45 AED 40 Acessórios 38 35 30 sa25 tr e20 A 18 15 11 8 10 5 10 8 6 4 4 3 1 17 1 0 4 1 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Ano A avaliação detalhada das informações mostrou que uma parte dos alertas publicados em 2010 refere-se a um único caso: uma falha de um componente eletrônico afetando 14 diferentes modelos de desfibriladores, fabricados pela empresa Cardiac Science. RESULTADOS Verificou-se que 114 alertas (85%) estão relacionados a problemas que afetam AEDs, e o BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 3 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. restante (20 alertas, 15%) a problemas que afetam os acessórios destes produtos. Os acessórios citados nos alertas FDA foram bateria (8 alertas), cabos (5 alertas), pá de desfibrilação (4 alertas), eletrodo (2 alertas) e adaptador de voltagem (1 alerta). Dos 114 alertas referentes a AEDs, 30 (26,3%) foram classificados pela FDA como recall de classe I; 83 (72,8%) como classe II e 1 (0,9%) como classe III. Com relação aos 20 alertas relacionados aos acessórios de desfibriladores, 3 alertas (15%) foram classificados como recall de classe I, 16 (80%) como classe II e 1 (5%) como classe III. Considerando-se todos os alertas, sem distinção entre acessórios e AEDs, foram citadas 9 empresas fabricantes nas ações de recall (Tabela 1). Dentre estas, as 4 empresas mais citadas (Medtronic, Cardiac Science, Philips e Welch Allyn) foram mencionadas em 120 alertas (89,6%). Distribuições dos alertas em função da distribuição dos produtos (com foco no Brasil) De acordo com a Tabela 2, em 55 alertas (41,1% do total) o Brasil foi citado como um dos países para os quais os produtos afetados foram distribuídos. Nenhum destes alertas citou unicamente o território brasileiro como região de distribuição. Em 45 alertas (33,6%) os produtos afetados por ação de recall foram distribuídos para outros países, exceto para o Brasil. Nos demais 34 alertas (25,6%) o Brasil não foi explicitamente mencionado como região alvo das ações de recall, porém pode estar envolvido, uma vez que, nestes alertas, as regiões de distribuição foram descritas de maneira geral: ‘América do Sul’ e ‘Abrangência Mundial’. Tabela 1. Alertas sobre AEDs e acessórios, de acordo com o fabricante do equipamento, publicados pela FDA/EUA no período de janeiro de 2003 a junho de 2010 Fabricante Alertas (n) % Acumulação (%) Medtronic 43 32,1 32,1 Cardiac Science 42 31,3 63,4 Philips 25 18,7 82,1 Welch Allyn 10 7,5 89,6 Zoll 7 5,2 94,8 Access 2 1,5 96,3 Defibtech 2 1,5 97,8 Heartsine 2 1,5 99,3 Laerdal 1 0,7 100 Total 134 100 - BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 4 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. Tabela 2. Alertas sobre AEDs e acessórios, de acordo com a distribuição dos equipamentos afetados, publicados pela FDA/EUA no período de janeiro de 2003 a junho de 2010 Região geográfica Alertas (n) % Brasil e outros países 55 41,1 Somente outros países1 45 33,6 Abrangência Mundial2 27 20,1 América do Sul2 7 5,2 Total 134 100 1 Brasil não incluído na lista de países. 2 Países não especificados pela FDA. Quantidade de AEDs e acessórios afetados em função do ano de publicação dos alertas e do fabricante As distribuições das quantidades de unidades de AEDs e acessórios envolvidos nas ações de recall publicadas pela FDA, em função do ano de publicação do alerta, são apresentadas na Figura 2 (AEDs) e Figura 3 (acessórios). Os dados indicam que 1.071.047 unidades de AEDs e 255.031 unidades de acessórios foram afetadas por ações de recall durante o período considerado. A Figura 2 mostra a distribuição das unidades de AEDs afetados por ações de recall ao longo dos últimos anos. Foi observado um acréscimo mais acentuado nos anos mais recentes, sendo que 2010 apresentou o maior número de AEDs afetados por recall (343.081 unidades) – considerando-se que os dados são referentes a apenas 6 meses (janeiro a junho). O menor número de unidades de AEDs afetadas (18.392 unidades) foi verificado em 2004. Diferentemente dos AEDs, a distribuição do número de acessórios afetados por recall não apresentou um comportamento crescente ao longo dos anos (Figura 3). A distribuição do número de unidades de AEDs afetados por ações de recall, em função do fabricante do produto, é apresentada na Tabela 3. Os resultados referentes aos acessórios afetados por recall são apresentados no Quadro 1. Figura 2. Unidades de AEDs afetados por recall, segundo o ano de publicação do alerta pela FDA 400.000 343.081 350.000 315.516 300.000 250.000 e d a d200.000 n U 150.000 141.068 114.608 100.000 55.594 50.000 37.570 45.218 18.392 0 2003 2004 2005 2006 Ano 2007 BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 2008 5 2009 2010 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. Figura 3. Unidades de acessórios afetados por recall, segundo o ano de publicação do alerta pela FDA 60.000 50.000 54.202 55.673 48.210 46.042 44.684 e40.000 d a d n30.000 U 20.000 10.000 3.218 3.002 0 0 2003 2004 (27,4%), Zoll (19,6%) e Philips (9,4%). O total acumulado de equipamentos relacionados a estes 4 fabricantes foi de 1.036.139 unidades. 2005 2006 Ano 2007 2008 2009 2010 De acordo com as informações disponíveis na Tabela 3, 96,7% das unidades de AEDs envolvidas nas ações de recall estão relacionadas a 4 fabricantes: Medtronic (40,4%), Cardiac Science Considerando os resultados obtidos para os acessórios (Quadro 1), o produto que apresentou a maior quantidade de unidades afetadas foi cabos (142.290 unidades afetadas no total). A empresa com maior número de produtos envolvidos nas ações de recall deste acessório foi a Medtronic (139.271 unidades afetadas). O segundo maior número de unidades afetadas, na categoria dos acessórios, refere-se a bateria (58.663 unidades afetadas). A empresa com maior número de produtos envolvidos nas ações de recall deste acessório foi a Philips (37.674 unidades afetadas). Tabela 3. Quantidade de desfibriladores (AEDs) envolvidos nas ações de recall dos alertas FDA, de acordo com o fabricante do produto. Fabricante Unidades (N) % Acumulação (%) Medtronic 432.310 40,4 40,4 Cardiac Science 293.593 27,4 67,8 Zoll 209.571 19,6 87,3 Philips 100.665 9,4 96,7 Welch Allyn 31.596 3,0 99,7 Heartsine 2.601 0,2 99,9 Access 711 0,1 100 Total 1.071.047 100 - BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 6 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. Quadro 1. Quantidade de acessórios de AEDs envolvidos nas ações de recall dos alertas FDA, de acordo com o fabricante do produto. Acessório: Cabos Fabricante Unidades (N) % Medtronic 139.271 97,9 Laerdal 3.019 2,1 Total 142.290 100 Acessório: Bateria Fabricante Unidades (N) % Philips 37.674 64,2 Medtronic 10.841 18,5 Defibtech 5.418 9,2 Cardiac Science 4.730 8,1 Total 58.663 100 Acessório: Pá de desfibrilação Fabricante Unidades (N) % Medtronic 50.672 97,0 Philips 1.592 3,0 Total 52.264 100 Acessório: Outros (1.814 unidades) Desfibriladores afetados em função da causa do problema Foi realizada uma categorização das informações disponíveis nos 114 alertas referentes a AEDs, com objetivo de se agrupar os alertas por categorias de causas-raíz de problemas que afetaram AEDs (as categorias de causas-raiz utilizadas estão definidas na seção Materiais e Métodos) Dentre os alertas correspondentes a AEDs (114 alertas), uma fração deles (70 alertas, 61% do total) apresentou informações suficientes para a identificação da causa do problema. O número de AEDs citados nesses 70 alertas foi 543.272 unidades – o que representa 50% das 1.071.047 unidades citadas nos 114 alertas relacionados a AEDs. Na Tabela 4 são apresentadas as informações referentes às causas dos problemas, identificadas para AEDs e levando-se em conta somente os alertas que apresentaram informações suficientes para a pesquisa. A causa de problema que afetou o maior número de equipamentos e apareceu com maior freqüência nos alertas avaliados foi componente eletrônico (365.608 unidades afetadas em 49 alertas, respectivamente). Os componentes eletrônicos citados com maior freqüência foram placa de circuito impresso (PCBA - Printed Circuit Board Assemblies) e capacitor. Alguns alertas somente citam a existência de um problema com componente eletrônico, sem detalhar o tipo de componente envolvido. Problemas relacionados a software afetaram 117.925 unidades. BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 7 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. Considerando-se somente as duas maiores causas de problemas, o total de equipamentos afetados corresponde a 483.533 unidades, ou seja, 89% do total de AEDs citados nos alertas avaliados. Tabela 4. Causas identificadas dos problemas citados em alertas referentes a AEDs. Causa Alertas (N) Unidades (N) % (N) Falha de componente eletrônico 49 365.608 67,3 Falha de software 9 117.925 21,7 Falha do conector da Bateria 1 26.418 4,9 Falha nas instruções de uso 2 18.574 3,4 Falha do conector do cabo de força 1 5.210 1,0 Falha do botão de choque 3 4.596 0,8 Falha do conector do cabo da pá 2 3.620 0,7 Falha no console 3 1.321 0,2 Total 70 543.272 100 CONCLUSÕES A base de alertas disponibilizada pelo CDRH/FDA (Medical & Radiation Emitting Device Recalls) demonstrou ser uma fonte útil de dados e informações para as atividades de tecnovigilância e de fiscalização de produtos para a saúde competências da Anvisa e do SNVS. Ainda que os alertas contenham dados das ações de recall iniciadas nos EUA e conduzidas pela agência de saúde daquele país (FDA), uma parcela considerável das ações também se aplica ao Brasil, conforme pode ser verificado neste estudo. Os dados e informações disponibilizadas pela base do CDRH/FDA podem ser acessadas a qualquer momento, por meio da página eletrônica na web da FDA. A despeito dessa facilidade de acesso, tanto a pesquisa quanto a exportação dos dados desse banco carecem de ferramentas mais funcionais, que possibilitem uma maior automatização das atividades. Durante a realização do presente trabalho, algumas vezes a coleta de informações teve que ser realizada de maneira manual, ou seja, a partir da leitura e transcrição do conteúdo dos campos dos comunicados de recall, o que demandou mais tempo e trabalho. Além disso, a ausência de um campo para a pesquisa de alertas por meio do código do produto para a saúde (código da nomenclatura adotada pela FDA) também dificultou sobremaneira a pesquisa objetiva dos BIT – Boletim Informativo de Tecnovigilância, Brasília, Número 01, jan/fev/mar 2011 - ISSN 2178-440X 8 Alertas como fonte de conhecimento e base para ações regulatórias de tecnovigilância. Estudo de caso: desfibrilador externo automático. alertas referentes a uma determinada categoria de produto. Ao longo do período compreendido entre 2003 e 2010 (até 30/06/2010), a publicação de alertas de recall referentes a AEDs pela FDA foi crescente, sendo observado um significativo aumento no número destes alertas já no primeiro semestre de 2010. Também ocorreu uma distribuição crescente, ao longo destes anos, em relação ao número de equipamentos afetados. No total, mais de 1 milhão de equipamentos foram citados nos alertas FDA referentes a AEDs desconsiderando-se a ocorrência de dois ou mais problemas afetando um mesmo equipamento. Tais números demonstram a importância do tema pesquisado para a saúde pública nacional. O presente estudo não levou em consideração o número de produtos colocados no mercado por cada uma das empresas envolvidas, durante o período avaliado, devido à dificuldade de se levantar este tipo de informação. Em decorrência disso, não foi possível efetuar o cálculo da razão entre os alertas publicados e o número de equipamentos comercializados. Assim, as informações obtidas não permitem inferir se os fabricantes citados com maior freqüência nos alertas estão nesta situação porque produzem um número maior de equipamentos (em relação aos demais fabricantes) ou se porque seus produtos são, em geral, mais propensos a falhas. As informações a respeito da quantidade de unidades afetadas de desfibriladores e acessórios, citados em ações de recall, bem como o fato de mais de 40% dessas ações também se aplicarem ao Brasil, são informações de grande importância para a Anvisa, bem como para o SNVS, pois as providências adotadas internacionalmente não devem diferir das práticas de tecnovigilância realizadas no Brasil. Desta forma, se os fabricantes estrangeiros já adotaram medidas corretivas em outras jurisdições, devem agilizar a implementação das mesmas ações também no Brasil. Tal cenário também fortalece a percepção de que é necessária uma norma específica, no âmbito da vigilância sanitária, para regulamentar as atividades de recall no Brasil – neste sentido, encontra-se atualmente em andamento a consulta pública n° 05/2011 da Anvisa, a qual objetiva transformar em Resolução de Diretoria Colegiada o tema em questão. BIBLIOGRAFIA 1. ANVISA, 2010, “Competências da Área de Tecnovigilância da Anvisa”. <http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/posuso/tecnovigilancia> Acesso: 10/09/2010. Website: 2. BAHR J. et al, 2009, “AED in Europe. Report on a survey”, Resuscitation. Website: <http://1016/jresuscitation.2009.10.017> Acesso: 12/09/2010. 3. ECRI Institute, 1993, “The Importance of Early Defibrillation”, Health Device, v. 22, n° 5-6. Website: <http://www.ecri.org> Acesso: 01/09/2010. 4. ECRI Institute, 2009, “Automated External Defibrillators”, Healthcare Risk Control. Website: <http://www.ecri.org> Acesso: 15/09/2010. 5. 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