Nota de Imprensa
Mexilhão castanho encontrado pela primeira vez no Algarve
Um grupo de investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) reportou, pela
primeira vez, o aparecimento do mexilhão castanho Perna perna na costa atlântica
europeia. Carla Lourenço detectou, no decurso do projecto de Mestrado que está a
desenvolver no CCMAR, diversos indivíduos desta espécie que é nativa do continente
Africano.
A presença de alguns exemplares do mexilhão castanho Perna perna foi observada na
zona de Vilamoura e Ilha do Farol, em Julho de 2011, tendo sido a primeira vez que
este mexilhão foi encontrado nas zonas costeiras Atlânticas que banham o continente
Europeu.
A espécie, nativa do continente
Africano, distingue-se facilmente da
espécie
mediterrânica
Mytilus
galloprovincialis, mais característica
e abundante nas nossas águas, pela
sua típica cor acastanhada, mas
também pela forma das conchas,
pelo comportamento aquando da
emersão (a espécie P.perna tende a
abrir e fechar as valvas, enquanto
que a espécie M. galloprovincialis as
mantém fechadas), mas ainda pela
presença de uma dupla cicatriz
presente no interior da concha,
resultante da presença dos músculos Foto 1 - Mexilhão castanho (Perna perna) isolado no centro de um aglomerado de
retractores e adutores posteriores. mexilhões azuis (Mytilus galloprovincialis) em Vilamoura a 1 de Julho de 2011
Na espécie M. galloprovincialis esta cicatriz é contínua sem qualquer tipo de divisão.
O Perna perna é uma espécie comercializada e bastante abundante em África, desde
Moçambique até False Bay na África do Sul, e estendendo-se para o Mar
Mediterrâneo desde Walvis Bay na Namíbia até ao Golfo de Tunis (Tunísia),
exclusivamente no lado africano.
Está também presente em Omã, Sri Lanka e Sul da Índia, tendo sido introduzida no
continente Americano, e marcando presença na Argentina, Uruguai, Brasil, Venezuela,
Caraíbas, México e ainda no estado do Texas.
A espécie P. perna coexiste com a espécie mediterrânica M. galloprovincialis tanto no
norte de África como na África do Sul. Nestas regiões as populações coexistem em
elevadas densidades e apresentam uma distribuição específica ao longo da zona
intertidal, com a espécie M. galloprovincialis a dominar as zonas superiores e a
espécie P. perna as inferiores. Na zona central as duas espécies coexistem em
equilíbrio, mas o mesmo já não acontece em Portugal.
Nas populações portuguesas os indivíduos da espécie P.perna apresentam-se
dispersos por entre aglomerados de M. galloprovincialis ao longo da zona intertidal
ocupada por mexilhões. Esta baixa densidade é característica de populações
marginais que existem onde as condições ecológicas são menos favoráveis, quando
comparadas com as populações centrais que vivem com condições óptimas.
Uma monitorização das duas espécies permitirá no futuro compreender o impacto de
P. perna nas costas portuguesas e se a coexistência de ambas as espécies é estável
ou evoluirá para os mesmos padrões verticais observados em outras regiões. Os
autores do artigo sugerem que, tendo em conta o aquecimento global e o aumento da
temperatura da superfície do mar, a espécie tenha expandido a sua distribuição para o
continente Europeu a partir do anterior limite norte da sua distribuição africana na zona
costeira de Marrocos.
A descoberta da espécie foi reportada por Carla Lourenço, aluna de mestrado do
CCMAR, com orientação da Professora Ester Serrão, também investigadora do
Centro. O artigo foi publicado pelos investigadores em Abril, na revista Marine
Biodiversity Records.
(Mais fotos da espécie no final do documento)
Faro, 10 de Maio de 2012
Para mais informações contactar:
Departamento de Comunicação
Andreia Pinto
Email: [email protected]
Tlf: +351 289 800 050
Tlm: 913794995
Foto 2 - Valva esquerda da concha de um indivíduo da espécie Perna perna com a típica dupla cicatriz em destaque
Foto 3 - Mexilhão castanho (Perna perna) junto de indivíduos da espécie Mytilus galloprovincialis
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