AComigo CONTECEU Gritou e saiu a correr, subiu num barranco muito alto e sem querer pisou a barra da saia e ela chegou em casa só de anágua, sem vara, sem os peixes, trêmula e sem voz. Teddy Nilson - Campinas/SP N um vilarejo muito pobre, cujos habitantes eram extremamente católicos, viveram meus avós maternos, família humilde e simples. Meu avô, Pedro Nascimento, havia sido demitido do cargo de administrador de uma fazenda muito grande e produtiva, por ter sido vendida. Seu novo proprietário trouxera consigo novos funcionários, mas sabendo das qualidades de meu avô, prometeu que assim que pudesse voltaria a readmiti-lo. O casal aguardava com muita ansiedade essa readmissão e como tardasse, minha avó, Filomena Farcirolli Nascimento, passou a orar para to- 16 FidelidadESPÍRITA dos os santos de sua devoção e nada do auxílio chegar. No entender dela, esses santos deveriam estar muito ocupados, não tendo tempo suficiente para atender seus apelos. Lembrou-se, então, de um senhor muito bom, conhecido como: “balaieiro da perna de pau". Esse homem havia perdido uma das pernas num acidente de trem, e como era comum naquela época, adaptaram-lhe uma perna de pau. Havia desencarnado há algum tempo. Minha avó passou a analisar que: tendo ele sido católico praticante, muito bom, cumpridor de seus deveres e suportado a maior parte de sua vida a falta daquela perna, com certeza estaria muito bem instalado no céu e poderia ajudála. Orou muito e prometeu que se fosse atendida, mandaria rezar uma missa por sua alma na capela da vila. Passadas poucas semanas meu avô foi readmitido e ela no auge da alegria, esqueceu-se completamente da promessa feita. Numa noite enluarada, acompanhada de sua irmã, saiu para pescar e em dado momento percebeu distante um clarão e comentou - “Que bom, temos companhia! Olhe irmã, lá longe, alguém vem vindo pescar munido de um lampião!". Parou de pescar e passou a contar os peixes que esta- uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP Maio 2003 vam sobre a grama e colocá-los no cesto, quando percebeu a luz que supunha ser do lampião do pescador, mais próxima. Levantou o olhar e apavorada deparou com “balaieiro da perna de pau", vindo em sua direção por sobre as águas do rio. Gritou e saiu a correr e para encurtar o caminho, subiu em um barranco muito alto e sem querer pisou a barra da saia que era presa por um cordão na cintura, e este se soltou e ela chegou em casa só de anágua, sem vara, sem os peixes, trêmula e sem voz. Na madrugada seguinte, lá estava meu avô esperando a capela abrir para marcar a missa a fim de cumprir a promessa feita. E minha avó, muito assustada, comentava: “É, precisamos aprender a agradecer cumprindo aquilo que prometemos, coitado do ‘balaieiro’, sofreu tanto aqui na Terra com aquela perna de pau e continua com ela lá no céu! Confesso que estou desapontada, o céu não é tão bom como a religião afirma!". Entendendo Se naquela recuada época, ela tivesse o conhecimento que o Espiritismo nos transmite, seu desaponto não Maio 2003 teria razão de ser. Em O Livro dos Médiuns, capítulo VI, item 101, intitulado: “Ensaio Teórico Sobre as Aparições", Kardec comenta que as aparições propriamente ditas ocorrem no estado de vigília (acordados) no pleno gozo e completa liberdade das faculdades da pessoa. Apresentamse geralmente com uma forma vaporosa e diáfana, algumas vezes vaga e indecisa. Quase sempre a princípio, é um clarão esbranquiçado, cujos contornos vão se desenhando aos poucos. De outras vezes as formas são claramente acentuadas, distinguindo-se os menores traços do rosto, a ponto de poder descrevêlos com precisão. As maneiras, os aspectos são semelhantes aos do Espírito quando encarnado. Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta com aquela que melhor o possa identificar, se for esse o seu desejo. Assim, embora não tenha, como Espírito, nenhum defeito corporal, ele se mostra estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se isso for necessário para identificá-lo. Os Espíritos comuns, das pessoas que conhecemos, vestem-se geralmente como o faziam nos últimos anos de sua existência. Os Espíritos superiores apresentam uma figura bela, nobre e serena. Os mais inferi- FidelidadESPÍRITA ores têm algo de feroz e bestial, e algumas vezes ainda trazem os vestígios dos crimes que cometeram ou dos suplícios que sofreram. As aparições nos estados de vigília não são raras nem constituem novidade. Verificam-se em todos os tempos. A história oferece-nos grande número de casos, mas sem remontar ao passado, encontramo-las com freqüência em nossos dias. O Espírito de “balieiro da perna de pau", certamente apareceu a minha avó a fim de dizer-lhe que suas preces foram ouvidas e, para ser identificado, se apresentou com a aparência que tinha em última encarnação. Sua intenção nunca foi de assustá-la, ou cobrar qualquer coisa. Que pena minha avó não ter tido o conhecimento desta maravilha que é o Espiritismo. Nota da redação: O Editor garante a veracidade dessa história. Encaminhe para a redação fatos espíritas como esse, absolutamente verídicos. Envie nome, telefone e endereço completos, estando disponível para eventual encontro com a redação. Após análise, publicaremos seu caso na coluna “Aconteceu Comigo”. Ressaltamos, ainda, que as histórias serão, após doação autoral, de propriedade exclusiva dessa revista. Nosso endereço: Rua Luiz Silvério, 120, Vila Marieta, Campinas/SP, CEP 13043-330. uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP 17