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19 nov 2014 O Globo
GERMANO OLIVEIRA Enviado especial [email protected]
Executivos admitem que pagaram
propina a Youssef
Eles dizem que foram extorquidos por ex-diretor da Petrobras
“Se ele denunciasse o que estava acontecendo, era ameaçado de perder os contratos”
José Luis de Oliveira Lima Advogado do diretor de Óleo e Gás da Galvão Engenharia, Erton Medeiros
Executivos da Mendes Júnior e da Galvão Engenharia disseram que pagaram propina a Alberto Youssef
após sofrerem extorsão. -CURITIBA (PR)- Dois executivos de construtoras investigadas na Operação
LavaJato confessaram à Polícia Federal que pagaram propina ao esquema de corrupção na Petrobras
depois de serem extorquidos pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal
Paulo Roberto Costa. Se não pagassem o valor pedido, seus contratos com a empresa seriam prejudicados,
de acordo com o que eles relataram aos policiais. Em ao menos um dos casos, o destino final do dinheiro
seria o financiamento de campanhas do PP.
GIVALDO BARBOSA/27-4-2010
Mendes Júnior. Diretor-presidente, Sergio Mendes, diz ter pago R$ 8 milhões a Youssef em
2011
O diretor-presidente da construtora Mendes Júnior, Sérgio Mendes, contou aos policiais federais que
pagou R$ 8 milhões a Youssef entre julho e setembro de 2011, a mando de Costa. O pagamento foi feito
em quatro parcelas de valores iguais, segundo relato do advogado de Mendes, Marcelo Leonardo, que
acompanhou a oitiva.
Em um depoimento de quase três horas prestado na sede da PF em Curitiba, Mendes disse que, se
não pagasse a propina pedida pelo doleiro e pelo então diretor da estatal, não conseguiria fechar novos
contratos com a Petrobras e também não receberia o pagamento dos contratos que já estavam em vigor.
Na época, a construtora Mendes Júnior havia sido contratada para fazer uma obra na Refinaria Presidente
Getúlio Vargas (Repar), no Paraná.
Segundo o advogado, que também defendeu o publicitário Marcos Valério durante o julgamento da
Ação Penal 470, conhecida como julgamento do mensalão, a ameaça feita a seu cliente configura
extorsão:
— Em razão dessa extorsão, ele (Sérgio Mendes) fez esse pagamento para as empresas do Alberto
Youssef no valor total de R$ 8 milhões por exigência dele (Youssef ) e por indicação do Paulo Roberto
(Costa) — disse o advogado.
O presidente da Mendes Júnior disse que foi apresentado a Youssef pelo exdeputado federal José
Janene (PP), que morreu em 2010 — o doleiro trabalhava como arrecadador para as campanhas do PP.
Ainda falando aos policiais federais, Mendes afirmou que desconhece a formação de cartel entre as
construtoras. De acordo com ele, todos os contratos que a Mendes Júnior ganhou aconteceram por meio
de licitações. O executivo declarou ainda que não teve nenhum contato com o ex-diretor de Serviços da
estatal Renato Duque nem com o ex-diretor da área internacional da empresa Nestor Cerveró.
Ao ser questionado por que seu cliente não fez a denúncia de pagamento de propina antes, o
advogado Marcelo Leonardo respondeu apenas que isso não foi perguntando a seu cliente durante o
depoimento. O defensor disse que todos os contratos firmados entre a Mendes Júnior e a Petrobras foram
entregues à PF.
— Ele está tão disposto a colaborar que veio diretamente a Curitiba se entregar. Por enquanto, não
houve proposta de delação premiada feita pela PF.
PRISÃO DOMICILIAR PARA YOUSSEF
O advogado Antônio Figueiredo Basto, que defende o doleiro Alberto Youssef, afirmou que não
comentaria a acusação de corrupção feita pelo empresário:
— Isso é uma tese de defesa. Não vou comentar a tese de defesa de outros indiciados — afirmou.
Basto afirmou que vai pedir a prisão domiciliar de Youssef, que está com problemas cardíacos. Também
disse que, como seu cliente é delator do esquema de corrupção, está em uma cela especial, longe dos
demais presos, embora não veja risco para ele:
— Aqui ninguém é marginal para agredi-lo.
Sérgio Mendes não foi o primeiro executivo a falar no pagamento de propina a Youssef e Costa. Antes
dele, na segunda-feira, o diretor de Óleo e Gás da Galvão Engenharia, Erton Medeiros, confessou a prática.
Medeiros afirmou à PF que o destino de parte do dinheiro foi o PP, partido que integra a base aliada do
governo Dilma Rousseff.
O criminalista José Luis de Oliveira Lima, advogado de Medeiros, disse ontem que seu cliente também
pagou propina após ser extorquido por Youssef e Costa. Segundo Lima, a Galvão Engenharia obteve
contratos com a Petrobras “de forma lícita”, mas, depois disso, passou a ser vítima de extorsão e
concussão (ato de exigir para si ou para outro dinheiro ou vantagem em razão da função que ocupa).
— Se ele denunciasse o que estava acontecendo, era ameaçado de perder os contratos. Paulo Roberto
Costa e Alberto Youssef estão longe de serem “Madres Teresas de Calcutá” — ironizou o advogado.
Lima afirmou que o temor de perder a receita garantidora do funcionamento da Galvão Engenharia fez
com que Medeiros aceitasse as condições impostas pela dupla e continuasse pagando propina. O advogado
não informou o valor repassado por seu cliente :
— Você colocaria 10 mil funcionários na rua? O empresário era ameaçado constantemente — afirmou
Lima.
ACAREAÇÃO ENTRE COSTA E YOUSSEF
O executivo ainda disse aos policiais federais que tomaram seu depoimento que está disposto a fazer
uma acareação com Costa e Youssef. O ex-diretor da estatal e o doleiro fizeram um acordo de delação
premiada com o Ministério Público e denunciaram empresários que teriam formado um cartel para dividir
contratos da estatal.
Além de Sérgio Mendes e Erton Medeiros, outros 21 executivos de grandes construtoras foram presos
pela Polícia Federal na sexta-feira, durante a sétima fase da Operação Lava-Jato.
A Polícia Federal pretendia encerrar as oitivas ontem, mas não foi possível. O depoimento do vicepresidente da Camargo Correa, Eduardo Leite, por exemplo, está marcado para hoje. O advogado Antônio
Cláudio Maris de Oliveira, que o representa, disse ontem que Leite contará “toda a verdade”. Ao contrário
dos executivos da Mendes Júnior e da Galvão, Leite não deve admitir que pagou propina.
Segundo Maris, o executivo nega que tenha sido extorquido por Youssef ou Costa, embora reconheça
que conhece o doleiro do mercado financeiro. O advogado reclamou da manutenção da prisão preventiva:
— Não tem nenhuma acusação formal contra Eduardo Leite. Essa prisão é totalmente descabida. Ele
nunca fez menção de fugir, nem ameaçou testemunhas.
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