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MATRIZ INSUMO-PRODUTO DA
ECONOMIA BAIANA: UMA ANÁLISE
ESTRUTURAL E SUBSÍDIOS ÀS POLÍTICAS DE
PLANEJAMENTO
Anderson Pereira Viana Leite*1
Roberto Maximiano Pereira**2
Resumo
O objetivo deste trabalho foi construir a matriz-insumo produto para o estado
da Bahia em 2006, com o intuito de extrair informações cruciais da estrutura
produtiva, que sirvam de elementos para as políticas de planejamento e
orientem as estratégias do setor privado. Para tanto, adotou-se o modelo
RAS agregado modificado, tendo como foco o perfil da estrutura tecnológica
instalada na região/estado, fundamentado nas hipóteses de tecnologia de setor
e market-share; o modelo permitiu que fosse construída a matriz de insumo
Q “quadrada” baiana, com base na desagregação simultânea da matriz da
região Nordeste. Os resultados empíricos mostram que o estado ainda apresenta
significativa deficiência produtiva de insumos; setores-chave em número
reduzido de atividades produtivas e multiplicadores de produto, emprego e
renda em distintos setores, dificultando a adoção de políticas de curto prazo
e, assim, reforçando a idéia de planos de médio e longo prazos, de forma a
diminuir a concentração setorial dos efeitos dinamizadores da economia baiana
Palavras-chave: Insumo-produto. Metodologia. RAS. Estrutura produtiva.
Matriz Bahia.
Abstract
The objective of this study is to construct an input-product matrix for the
State of Bahia, Brazil, in 2006, aiming at to extract crucial information from
productive structures, serving as evidence for the formulation of policies and
as guidelines for the private sector. It was applied the RAS modified aggregate
model, focusing on the profile of the technological infrastructure installed in
*1Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (CME/UFBA), Economista da Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia (SEPLAN-BA), Membro-Pesquisador do Grupo de
Estudos de Relações Intersetoriais (GERI/UFBA). [email protected]
**2Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (CME/UFBA), Pesquisador e Supervisor do Grupo de Estudos de Relações Intersetoriais (GERI/UFBA). [email protected]
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 99
the region/state, and based on technology sector and market-share theories.
The model enabled the construction of the Q “square” of Bahia variable,
from the simultaneous breakdown of the Northeast Region matrix. Empirical
results show that the state still presents significant deficiency of productive
inputs, key sectors with reduced number of productive activities and product
multipliers, employment and income in different sectors and thereby hinder
the adoption of more effective policies. In this sense, considering a new
global economy redesign and the potential of the State of Bahia economy,
the information presented in this work is fundamental for the adoption of a
plan for economic growth and development for the State, in order to reduce
the sectorial concentration of dynamizing economy effects.
Keywords: Input-Output. Methodology. RAS. Productive structure. State of
Bahia Matrix.
100 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Introdução
A análise insumo-produto é considerada como importante instrumento
analítico na identificação da interdependência entre os diversos setores da
economia, assim como para se conhecer a estrutura produtiva e analisar os
impactos de políticas econômicas, seja de um país, uma região, um estado
ou espaços menores.
Diante dos estágios avançados da globalização, tendo setorial e regionalmente
seu processo dinâmico em curso, vem se tornando clara a necessidade de
reconfiguração do papel do planejamento econômico nos diversos países,
com o intuito de prevenir os efeitos desestruturantes nas economias e
também aproveitar oportunidades nesta fase.
Deve-se buscar um tipo de planejamento que não seja de caráter centralizador
do papel do Estado na economia, mas sim daquele que procura identificar
e orientar setores estratégicos e, por conseguinte, estabelecer mecanismos
soberanos de amparo e incentivos aos empreendimentos privados,
potencializando, assim, as forças criativas e produtivas da sociedade.
Nota-se que os modelos “agregativos” até então utilizados pelos governos
nacionais como principal instrumento de política, em detrimento dos modelos
com maior detalhamento, têm apresentado uma série de resultados inesperados
e parcialmente penosos às atividades produtivas. Isto porque a busca por
respostas rápidas e positivas de determinadas variáveis econômicas, diante de
choques adversos, tem levado à adoção de políticas sem o devido detalhamento
panorâmico de sua repercussão dentro da estrutura da economia. Entretanto
essa tentativa de garantir bons resultados no curto prazo pode, no médio e
longo prazos, ter apresentado efeitos severos sobre o sistema econômico. Em
razão dessas políticas, tem gerado flutuações econômicas em períodos mais
curtos, propagando-se seus efeitos ao longo dos anos.
No caso do Brasil, além de retirar a questão do planejamento de pauta, as
políticas econômicas adotadas, em sua quase totalidade, são centralizadas
no Governo Federal que, muitas vezes, age de forma a atingir resultados
de curto prazo, sem considerar as demais variáveis macroeconômicas e,
principalmente, suas implicações para as distintas unidades federativas.
Ainda assim, a forma do planejamento praticado, não só na Bahia, mas
também no Nordeste ou na maior parte do país, tem sido de organização
do poder decisório, por meio de forças políticas locais, regionais, nacionais e
de grupos econômicos. Essa estrutura cristalizou-se, moldando investimentos
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 101
em setores que, muitas vezes, não caracterizam o poder de encadeamento
dinamizador da economia, além de não associar a própria estrutura produtiva
local, causando, assim, estrangulamentos na atividade econômica ou gerando
efeitos induzidos fora da região de interesse.
Mesmo sendo considerada uma unidade federativa com boas perspectivas
econômicas, a Bahia ainda carece de informações primordiais para elaborar e
direcionar seu plano de desenvolvimento. Nesse sentido, a demanda para se
ter em mãos indicadores antecedentes e do perfil da estrutura produtiva vem
se tornando realidade, para que não somente possam criar novas camadas
de negócios, mas também assegurar produto, postos de trabalho e renda.
Diante disso, por se tratar de uma importante e potencial economia, este
trabalho pretende, mediante o ferramental insumo-produto, construir
as Matrizes de Relações Intersetoriais (MRIs) para a economia baiana, de
forma que possam ser extraídas informações que subsidiem as políticas
de planejamento público e provejam resultados que possam ser úteis às
estratégias do setor privado. Esses elementos são oriundos dos resultados
analíticos do “diagrama de autossuficiência”, dos indicadores de ligação e
dispersão, além dos multiplicadores de impacto.
Neste trabalho, o assunto é exposto em quatro seções: na primeira é feita
uma análise superficial da economia baiana; já na segunda, trata-se da
metodologia que será utilizada para a construção das matrizes; a terceira
sessão destaca o tratamento dos dados utilizados nas estimações; a última faz
uma breve análise dos resultados, no que se refere aos indicadores estruturais
e encadeamentos intersetoriais.
Aspectos relevantes da economia baiana
Ainda cercado de vários problemas estruturais, o estado da Bahia, em 2006,
abrigava 7,5% da população nacional, sendo o quarto estado mais populoso.
Ao mesmo tempo, tinha a maioria dos residentes nordestinos, por volta de
18%, de acordo com os dados das Contas Regionais 2002-2007 (IBGE, 2006a).
Os mais de treze milhões de baianos defrontam-se com problemas clássicos
de acesso à moradia, saúde e educação, além de sua má qualidade, quando
possuem. No entanto, problemas como o alto grau de pobreza e o elevado
grau de desemprego pesam sobre a perspectiva de desenvolvimento e
somam-se aos desafios que o estado deve enfrentar ao longo dos próximos
anos. Por outro lado, não correspondendo à mesma proporção da população,
102 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
a economia baiana, em 2006, deteve o posto de sexto maior Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil e de maior economia da região Nordeste, com
participações de 4,1% e 32%, respectivamente.
A produção de riqueza do estado está concentrada nos setores de serviços
tradicionais, que possuem efeitos (hierarquicamente) finais no sistema
econômico, como Administração Pública e Comércio. Pesam também sobre o
PIB do estado segmentos básicos importantes (mesmo intensivos em capital),
a exemplo de Petróleo e álcool (Refinaria Landulfo Alves), assim como o
Químico (Complexo petroquímico).1
Em período recente, o dinamismo do estado vem se delineando por meio de
investimentos em setores mais dinâmicos, relativamente a produto. Dentre
estes, destaca-se o segmento Automotivo, com a implantação do complexo
Ford na Região Metropolitana de Salvador (RMS), o setor Agropecuário, com
o avanço da fronteira agrícola na região Oeste, considerada uma das mais
produtivas do mundo, além do complexo de Papel e Celulose no sul do estado.
A economia baiana também pode ser considerada relativamente fechada,
com grau de abertura em torno de 25%, dado pela sua corrente de comércio,
o total entre exportações e importações com o resto do mundo, em relação
ao PIB, em 2006. Este critério será benéfico à economia quanto maior for o
indicador de abertura, uma vez que tende a promover maior diversificação e
eficiência do setor produtivo do estado.
De modo geral, como se sabe, a atração de investimentos no estado tem se
moldado pelas articulações políticas que, muitas vezes, não refletem a real situação
e necessidade da estrutura produtiva. Isto porque não ataca as deficiências que
moldam a atividade produtiva que, muitas vezes, não desempenha caráter
complementar e de efeitos endógenos ao sistema econômico.
Deste modo, a descompatibilidade entre a participação da população e do PIB
na esfera nacional penaliza o estado fortemente, já que o PIB per capita da
Bahia ocupa a 19º posição no ranking nacional, reconhecidamente uma das
piores colocações. Além disso, estas disparidades refletem-se no padrão de
vida dos baianos, que ocupam a incômoda 20º posição no ranking brasileiro
no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 2005. Quesitos como
longevidade e educação, além da renda, pesam sobre a dimensão do estado.
1
Vale destacar que outros setores já figuraram como carro-chefe da economia, como o setor
Agropecuário, Fumo, Alimentos e Bebidas, do século XVI a meados do século XIX.
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 103
A despeito de seus problemas estruturais e da timidez econômica, a Bahia
é vista como um estado de grande potencial para o perfil de longo prazo
que vem se configurando na economia mundial. A abundância em recursos
naturais e o vasto território ainda a ser explorado, além da população jovem,
são fatores que tornam o estado atrativo do ponto de vista estratégico.
Metodologia para a construção da matriz insumo-produto
Um dos grandes desafios dos economistas regionais tem sido esquematizar a
estrutura econômica, de maneira que obtenha a real compreensão da essência
da riqueza e de seu processo de formação dentro do contexto econômico, no
qual a construção de matrizes de insumo-produto sempre foi considerada de
fundamental importância, mesmo sendo tratada com enorme complexidade,
em função de requerer uma ampla disponibilidade de dados estatísticos, além
de um criterioso detalhamento destas informações.
Modelo insumo-produto
O modelo insumo-produto desenvolvido por Leontief (1966) tem sua
caracterização empírica na construção de Matrizes de Relações Intersetoriais
(MRIs) que estabelecem as relações econômicas entre os setores, de modo
a se tornar uma ferramenta a ser utilizada pelos governos e por empresas
na previsão e planejamento econômico global das atividades produtivas.
Este modelo sempre foi qualificado como importante ferramenta de estudos
setoriais, de análises estruturais e indispensável instrumento de planejamento
econômico (MILLER; BLAIR, 1985).
Os avanços das técnicas de insumo-produto ao longo do tempo, associados
à necessidade de análises mais localizadas, permitiram que se tornassem
viáveis estudos de caráter regional, melhorando assim a análise espacial
da economia. Entretanto a circunstância crítica está na complexidade e no
número insuficiente de dados estatísticos, principalmente aqueles oriundos
de censos econômicos.
Diante das dificuldades de elaboração das matrizes regionais, mediante métodos
censitários (survey), recomenda-se, na literatura internacional, a utilização de
métodos não-censitários (non-survey). Dentre estes métodos indiretos, um dos
mais indicados para estimação de matrizes regionais é o método biproporcional
RAS, descrito por Stone em 1962, aperfeiçoado por Bacharach em 1970 e
adaptado por Czamanski e Malizia ainda em 1969 (LEITE, 2009).
104 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Em razão das dificuldades de estatísticas de comércio por vias internas, o
modelo adota o estudo do perfil da estrutura produtiva setorial na região,
independente da origem dos insumos utilizados no processo produtivo.
Esta argumentação acaba por redefinir o objetivo da análise das relações
intersetoriais, uma vez que se prioriza como objeto de estudo o perfil da
estrutura tecnológica instalada em cada região ou estado, fundamentado
nas hipóteses de tecnologia de setor e market-share (DAMÁSIO; CRUZ;
VALVERDE, 1987; GIGANTES, 1970).
Ao longo de sua fundamentação teórica, toda caracterização empírica do modelo
insumo-produto esteve acentuada com base na MRI nacional. Neste sentido, para
que se tenha a matriz no âmbito regional, estadual ou de outros subespaços,
deve-se necessariamente elaborar a matriz insumo-produto nacional.
Construção da Matriz Nacional
Os dados para a construção de matrizes nacionais, tal como recomendado
pela Comissão de Estatística da Organização das Nações Unidas (UNITED
NATIONS, 1999), são obtidos nas Tabelas de Recursos e Usos (TRUs);
inicialmente, baseia-se no seguinte quadro ajustado:
Quadro 1
Contabilidade do sistema insumo-produto – tabelas de recursos e usos
Fonte: Adaptado de Leite (2009).
Diante desse quadro, tem-se que
P = [ Pij ]( nxm ) , com i = 1,..., n e j = 1,..., m , é a matriz de produção das
indústrias ou matriz de produção; representa o valor produzido do produto j
pelo setor i;
Q* = [Qij* ]€
(mxn ) , para i = 1,..., m e j = 1,..., n , representa a matriz de
€
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 105
€
€
€
consumo intermediário das atividades ou matriz de absorção; indica o valor
do produto (insumo) i absorvido pelo setor j;
h = [h j ](mx1) representa o valor total da produção de cada produto;
y, = [yi ](1 xn ) indica o valor total dos insumos primários (composto pela
€
soma do valor adicionado – salários, lucros, aluguéis e juros – impostos e
importações) pagos pelos setores;
€
g = [g j ](nx1) informa o valor total da produção setorial;
f = [ f j ](mx1) informa o valor total da produção de mercadorias destinadas à
demanda final;
€
€
€
e = [e j ](nx1) valor total da produção setorial destinada à demanda final.
Partindo da estrutura do Quadro 1, a determinação das matrizes é obtida
ajustando-se ao perfil da produção, de acordo com o modelo de tecnologia
baseado no setor, em que se tem:
D* = Q*. g
−1
(1)
D* é uma matriz retangular de insumos por produção setorial, representando
a quota de aquisição de insumos no valor total da produção de cada setor ou
pode ser dita “matriz
€ de insumo por produção setorial”. Esta matriz mostra
a hipótese de tecnologia de setores que retrata a quantidade necessária de
cada produto insumido para a produção setorial, independentemente da
composição de bens produzidos pelo setor.
De acordo com as relações estabelecidas acima, é possível extrair a matriz
de market-share (M), indicando a participação de cada setor no mercado no
tocante a cada bem que produz, como:
M = P. h
−1
(2)
Decorrente desse processo algébrico, a determinação da matriz de
coeficientes técnicos ou matriz tecnológica (A), base para análise das relações
€
106 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
intersetoriais, é definida pela expressão:2
A = M.D* (3)
.Q* g
(3')
ou
€
A = P. h
−1
−1
Os elementos da matriz A exibem a participação do conjunto de produtos
de um dado setor diretamente adquirido para a produção de uma unidade
monetária de produtos de outro setor. Além disso, os índices desta matriz
€
exprimem as relações diretas mantidas entre os setores, provenientes da
estrutura tecnológica instalada em um determinado espaço econômico,
considerando a estrutura de preços vigentes no mercado.
A obtenção da matriz tecnológica possibilita derivar uma matriz de insumos
Q “quadrada”, cuja definição é de uma matriz que contemple a produção e
o consumo intermediários, e traga implícita a hipótese de tecnologia de setor
e de market-share:
Onde
€
g'= [g ]
,
i (1 xn )
Q = A. g' (4)
é o vetor do valor total da produção setorial transposto.
A matriz expressa pela equação (4) pode ser considerada uma espécie de
€(A) em termos monetários, isto é, Q = [qij ] , representando
matriz tecnológica
o valor do conjunto de insumos do setor i diretamente adquiridos para a
produção do setor j.
Após alguns rearranjos matemáticos, a equação fundamental de insumo€
-produto, baseada na tecnologia de setor, com enfoque “setor x setor”,
pode ser definida:
Assume-se que
g = (I − A)−1 .e (5)
(I − A)−1 = Z
Assim, Z é matriz inversa de Leontief nacional ou matriz de impactos,
€
indicando as quantidades
necessárias direta e indiretamente da produção
total €
de cada setor, de acordo com a demanda final. Consoante Pereira
(2007), em outros termos, os coeficientes desta matriz mostram o valor do
2
Em alguns casos, para adequar-se às normas da álgebra matricial, é necessário a transposição
das matrizes P ou Q.
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 107
conjunto dos produtos adquiridos direta e indiretamente de um setor para a
produção de uma unidade monetária de outro setor.
Matriz regional e estadual – o método RAS modificado agregado
Neste trabalho, as MRIs da Bahia foram construídas com a utilização do
método apresentado por Leite (2009), desenvolvido no âmbito do Grupo de
Estudos de Relações Intersetoriais (GERI), da Universidade Federal da Bahia.
A metodologia consiste em projetar, simultaneamente, tanto as matrizes
regionais quanto as estaduais, de forma que sejam compatíveis no espaço
econômico estudado, ao qual as matrizes pertencem (hierarquicamente).
Assim, o método constrói as matrizes de um determinado espaço menor
(regional ou estadual) com base na preexistência das matrizes de um espaço
maior (nacional ou regional).
Sendo assim, as matrizes de relações intersetoriais da economia baiana
(espaço inferior) foram derivadas das matrizes construídas para a região
Nordeste (espaço superior) que, por sua vez, foram oriundas das matrizes
nacionais. Em razão disso, neste trabalho, utilizaram-se as matrizes do
Nordeste construídas por Leite (2009).
Dado que essas matrizes intersetoriais são compatíveis e comparáveis entre
si, e também em relação à esfera regional e nacional, do ponto de vista do
padrão da estrutura produtiva, torna-se vital para os formuladores de políticas
de planejamento. Além disto, é útil para o setor privado, na condução de suas
decisões de investimentos, referindo-se à localização e ao setor de atuação.
O procedimento seguido é o método RAS modificado agregado, em que se
desagrega a matriz de insumos e produção intermediária, Q “quadrada”, da
região Nordeste para seus nove estados componentes: Bahia, Pernambuco,
Ceará, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Maranhão e Piauí.
Inicialmente, torna-se necessário estimar os vetores proxy para a produção
intermediária, tanto para a região Nordeste quanto para o estado da Bahia,
dada a visível carência desta informação nas pesquisas disponíveis no país.
No primeiro momento, o procedimento consistiu em obter a matriz Q
“quadrada” do Nordeste Q NE , com base em sua matriz tecnológica ANE , que
pode ser obtida da seguinte expressão:
€
QNE = ANE . g NE €
108 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
€
uma análise estrutural
e subsídios às políticas de planejamento
(6)
sendo que g NE
diagonalizado.
representa o vetor de produção setorial nordestina
Ao mesmo tempo, nesta etapa, é possível determinar os vetores de produção
( m NE ) e consumo intermediários ( c NE ) nordestinos, como segue (SILVEIRA,
€
1993):
€
m NE = QNE .i e
€
c NE = i'.QNE (7)
Em sequência, é necessário estimar as matrizes Q “quadradas” estaduais,
QH ∗ , €como uma primeira
€ aproximação, obtidas pela pré-multiplicação
da matriz tecnológica regional, ANE , pelo vetor de produção setorial
diagonalizado estadual, gH , ou seja3:
€
QH ∗ = ANE . g H
∀H = 1,2,...,9. (8)
€ o próximo passo é obter os vetores proxies da
Partindo desse arcabouço,
€
produção intermediária, mH , dos k estados individualmente, neste caso nove
estados,
€ como citado, cujo€vetor é originado do seguinte processo:
a) calcula-se temporariamente o vetor da produção intermediária estadual
mH ∗ , por meio
€ da seguinte expressão:
mH ∗ = QH ∗ ⋅ i (9)
b) em seguida, é possível derivar a proxy do vetor de produto intermediário
da seguinte relação:
€
€
Onde
€
mH = mi (H ∗) .
∑c
∑m
i (H )
(10)
i (H ∗)
cH ,i é o vetor de consumo intermediário estadual.
Esta expressão (10)€indica a importância que o consumo intermediário tem
sobre a produção intermediária, o que referencia o efeito fabricação em todos
os setores que insumem de um setor específico. Isto porque variações na
absorção intermediária por qualquer setor alteram a produção intermediária,
de forma ponderada.
3
Adota-se aqui, temporariamente, a hipótese de que a estrutura tecnológica regional não difere
muito da nacional, além de a estadual não diferir muito da regional.
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 109
Desta forma, o algoritmo modificado agregado é estabelecido inicialmente
por meio dos seguintes procedimentos:
t
Q(H
) = rH .Q NE cada
€
rH é composto pela expressão r
€
(t +1) / 2
H ,i
(11)
mH0 ,i
= t−1
m NE,i
A matriz Q = [qij ] representa o valor do insumo “i” absorvido pelo setor “j” das
respectivas matrizes Q quadrada da região Nordeste (NE) e estadual (H). Enquanto
isso, m informa os vetores€
de produção intermediária estadual e regional.
A aplicação dos fatores de correção é realizada utilizando-se de recursos da
€ álgebra tensorial. Sendo assim, as operações multiplicativas são interpostas entre
€
a álgebra matricial e tensorial, de acordo as propriedades do algoritmo RAS.
Deste modo, é importante atentar para os seguintes processos:
a) a primeira tabela dos fatores de correção, que ajusta todas as matrizes
estaduais de modo a torná-las compatíveis com a matriz regional, é obtida
como:
fijt = qij ( NE ) .
9
1
∑q
H =1
sendo,
i, j = 1,2..., n e ∀H = 1,2,...,9 (12)
em que F = {fij } representa a tabela com os valores de ajuste que serão
t
aplicados na matriz€Q(H ) . O total de
€ estados (H) da região é descrito por k
que, neste estudo, será igual a nove. Já t representa o passo de cada etapa do
processo iterativo. Em sua referência espacial Q(H ) ⊂ Q( NE ) .
t
€
t
ij (H )
t
€ Os valores da tabela F t são calculados de maneira conjugada, isto é, existe
€
correspondência entre os elementos (i e j) da matriz da região Nordeste (N)
e a dos estados (H). Neste caso, após
€ a obtenção dos valores da tabela de
correção, é possível aplicar os valores de ajustes correspondentes da tabela
F t a cada€elemento correspondente da matriz QHt .
Nesta fase, todas as matrizes são corrigidas ao mesmo tempo, sendo as
correções expressas da seguinte forma:
€
t
F
t€
t
Q(H
) = Qij (H ) ⊗ Fij 110 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
€
(13)
Em que Q(H ) = {qij (H )} representa a tabela com os valores dos elementos da
matriz Q “quadrada” estadual, ajustados e corrigidos para todos os setores
dos estados.4
Ft
€
Ft
Neste caso, a tabela é obtida pela multiplicação por escalar, ou seja, numa
conformidade matemática bijetiva entre os elementos da tabela do fator de
correção e das matrizes metas (estadual).
Na segunda etapa deste passo, como no método RAS padrão, atentando-se à permutação da matriz A pela matriz Q “quadrada”, tem-se a seguinte
expressão:
t +1
F
Q(H
) = Q(H ) . sH t
(14)
cH0 , j
(t +1) / 2
s
=
sendo cada sH composto da expressão H , j
c Nt−1, j
€
Aqui, c representa os vetores de consumo intermediário estadual (H) e da
região
€ Nordeste (NE).
€
€
b) de modo análogo, a segunda tabela do fator de correção da etapa vigente
t +1
é obtida, porém considerando a nova matriz Q(H ) :
fijt +1 = qij ( NE ) .
9
∑q
H =1
€
t +1
ij (H )
,
i, j = 1,2..., n e ∀H = 1,2,...,9 (15)
€
em que F
= {fij }ێ a tabela do fator
€ de correção do segundo passo para
cada rodada do método iterativo.
t +1
€
1
t +1
Em seguida, aplica-se o segundo fator de correção, atendendo ao mesmo
processo multiplicativo, e obtém-se uma nova tabela corrigida:
t +1
t +1
QijF(H ) = Qijt +1
(H ) ⊗ Fij (16)
O símbolo “ ⊗ ” representa o “produto tensorial”. Sua utilização indica aqui a multiplicação
escalar por escalar.
4
€
€
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 111
Por fim, a cada rodada, tem-se que a matriz Q(H ) = {qij (H )}, construída
mediante a aplicação dos fatores de correção, tende para as verdadeiras matrizes
de insumos Q “quadradas” estaduais, QH , para as k estados da região.
F t +1
F t +1
Vale ressaltar que os fatores de correção
permitem, desde o começo, a
€
compatibilidade das matrizes estimadas com a regional, ou seja:
€
F t +1
Q
=
∑ (H ) Q( NE ) ; e ∀t = 1,2,..., m 9
H =1
(17)
Entretanto as matrizes “metas” serão obtidas somente mediante iterações
sucessivas e da convergência
€ do algoritmo. A aplicação de ambos os fatores de
€ em cada passo, implica na conclusão da rodada do processo iterativo
correção,
do RAS modificado agregado, que segue finitamente a sua convergência.
De maneira geral, para se obter as matrizes Q “quadradas” estaduais, aplicam-se os procedimentos iterativos e introduzem-se
os fatores de correção, de
m (F t +1 )
modo que
as
matrizes
estaduais
Q
não
difiram
significativamente de
(H )
m−1(F t +1 )
m (F t +1 )
Q(H
,
bem
como
a
soma
das
matrizes
seja igual a Q( NE )
Q(H )
)
, como a melhor aproximação para as verdadeiras matrizes Q quadradas
estaduais Q(H ) , isto é:
€
1a Etapa – Passo 1:
Q
€
1
(H )
€
€
= r .Q( NE ) , e, em seguida, tem-se: Q
1
H
F1
(H )
=Q
€
⊗ Fij1
1
ij (H )
1a Etapa – Passo 2:
2
F
1
F
2
2
Q(H
) = Q(H ) . s H , e, em seguida, tem-se: Q(H ) = Qij (H ) ⊗ Fij
€
1
€
2
2a Etapa – Passo 1:
3
2
F
3
3
Q(H
) = rH .Q( N ) , e, em seguida, tem-se: Q(H ) = Qij (H ) ⊗ Fij
€
3
€
2a Etapa – Passo 2:
4
F
2
F
4
4
Q(H
) = Q(H ) . s H , e, em seguida, tem-se: Q(H ) = Qij (H ) ⊗ Fij
€
3
€
€
4
Vale observar, em cada rodada, que equivale a dois passos (uma etapa) do
algoritmo, sendo ajustados pelos fatores de correção inseridos no processo
iterativo, que segue sucessivamente
€ até sua convergência e estabilidade,
garantindo, assim, a total compatibilidade das matrizes estaduais.
112 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Por fim, com a obtenção das matrizes “metas”, torna-se possível construir
as demais matrizes intersetoriais que são habitualmente utilizadas para
análises de políticas e estratégias, visando, principalmente, evidenciar a
interdependência e os efeitos de transbordamentos entre os setores.
Neste sentido, a matriz tecnológica de cada um dos nove estados poderá ser obtida
pela pré-multiplicação da matriz Q “quadrada” estadual pelo vetor de produção
setorial estadual diagonalizado e invertido. Como, neste trabalho, o estado da
região Nordeste de interesse é a Bahia, pode-se obter da seguinte maneira:
A(BA) = Q(BA) . qBA
−1
(18)
A(BA) = [aij (BA) ], para i = 1,..., n e j = 1,..., n , exibe o valor do conjunto
de produtos do
€ setor nacional “i”, diretamente adquiridos para a produção
de uma unidade monetária de produtos do setor estadual “j”.
Vale frisar que€a matriz de coeficientes
técnicos, A(BA) , informa que os setores
€
colunas “j” (compradores) correspondem às atividades localizadas no estado
da Bahia (BA); ao passo que os setores linhas “i” (vendedores) representam
as atividades produtivas em sua localização nacional (N), inclusive os setores
€
do próprio estado (BA).
€
Segundo Leite (2009), esta metodologia gera um ganho de escala notório,
em razão do escopo de construção simultânea de matrizes de relações
intersetoriais estaduais, o que permite que outras matrizes, além daquelas de
interesse do pesquisador, possam ser obtidas.
Após a confecção da matriz tecnológica estadual, por meio do RAS modificado
agregado, é possível realizar análises estruturais e elaborar “diagrama de
autossuficiência”, índices de encadeamentos e multiplicadores de impactos.
Para tanto, é necessário construir a matriz inversa de Leontief, cuja matriz mostra
os efeitos intersetoriais diretos e indiretos no sistema econômico, como segue:
Z (BA) = [I − A(BA) ]−1 (19)
Z (BA) = [zij (BA) ] , onde i = 1,2..., n e j = 1,2,..., n .
€ metodologia, a construção da matriz tecnológica e inversa
Com base nesta
Sendo
de Leontief possibilita definir-se o perfil da estrutura produtiva e tecnológica
€
€
€
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 113
instalada no estado da Bahia, para se ter um modelo mais próximo da
realidade e capaz de identificar suas especialidades e potencialidades. Por
esta razão, pode ser utilizado como instrumento de política de crescimento e
desenvolvimento econômico.
Indicadores estruturais
As matrizes insumo-produto possuem diversas informações que são utilizadas
como parâmetros para a tomada de decisões, mediante análise da estrutura
produtiva, dos encadeamentos produtivos entre as atividades e dos seus
setores-chave, além dos multiplicadores de produção, emprego e renda.
“Diagrama de autossuficiência”
A matriz Q “quadrada” permite organizar-se um quadro em que seja
contabilizada a “autossuficiência” produtiva dos setores no espaço econômico
estudado, de acordo com a demanda intermediária dos demais setores no
mesmo espaço. Este arcabouço permite que se visualizem as condições de
oferta de insumos e as estratégias de incentivos intersetoriais.
Sua formulação se dá pela diferença entre o valor bruto da produção (VBP) e
a demanda intermediária (DI) local, uma espécie de consumo aparente, como
é dado pela seguinte expressão:
n
Saldoi = VBPi − DI i em que, DI i = ∑ Qij com i, j = 1,2,..., n
j=1
€
O saldo exibirá déficit, caso a demanda dos setores “j” por insumos do setor
“i” seja maior que a produção do setor “i”. Neste
€ caso, há um estímulo para
€
que este setor seja incentivado
(estratégia de localização). Caso contrário,
sendo o saldo superavitário, mostra que o setor produz internamente mais
que o necessário para os demais setores e, portanto, supre o resto da nação
e/ou resto do mundo.
Tal caracterização não significa, caso o setor seja deficitário ou superavitário,
que os negócios sejam realizados apenas entre os setores da região estudada.
Assim, o quadro só estabelece uma visão sintética da atual situação produtiva
e extrai indicativos de futuros investimentos para atender o mercado local.
Segundo Leite (2009), este quadro procura mostrar a capacidade produtiva
da região para atender a demanda por insumos necessários à produção
114 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
dos diversos setores produtivos na própria região. Superficialmente, isto
representaria o grau de dependência externa (resto do país e resto do
mundo) da unidade federativa em desenvolver suas atividades produtivas
internamente. Portanto, essas informações são úteis para orientar as políticas
públicas de planejamento e as decisões estratégicas do setor privado.
Índices de ligação e dispersão e setores-chave
Dada a importância da investigação acerca dos setores importantes para a economia,
uma análise que se torna possível é a dos setores-chave. Esta caracterização dos
setores indica os segmentos produtivos com maior poder de encadeamento
para trás e para frente – backward and forward linkages –, além daqueles que
apresentam maior potencial dinamizador dentro da economia analisada.
Desenvolvidos pioneiramente, os índices simples de encadeamento de
Chenery e Watanabe, cuja base é a matriz tecnológica (A), têm o intuito
de distinguir os setores produtivos e classificá-los estrategicamente. Os
indicadores desenvolvidos pelos autores buscam classificar os índices de
encadeamento de acordo com a origem e o destino da produção dos setores.
Estes índices são obtidos da seguinte maneira:
n
wi
= ∑ a ij
j=1
Encadeamentos a montante
n
wj
= ∑ a ij
i=1
Encadeamentos a jusante
O critério instituído por alguns pesquisadores com este enfoque adota a
€
€
restrição
do índice igual a um valor p estabelecido
com base na média dos
índices. Neste estudo, assim como em Prado (1981), será considerado um
valor padrão de p igual 0,4.
Em razão disso, caso os índices de ligação para trás ( Wi ), que mostram
o destino da produção do setor, sejam superiores a 0,4, este setor será
classificado como produtor de bens intermediários; caso o índice seja menor
que este valor padrão, será considerado um setor produtor de bens finais. Já
os índices de encadeamento para frente ( W j ) €referem-se ao uso dos fatores.
Deste modo, os setores serão considerados secundários se esses índices forem
maiores que p = 0, 4 ; e primários, caso sejam inferiores a p = 0, 4 .
De maneira mais apurada, a caracterização dos setores pode ser dada pelos índices
€
de ligação e dispersão intersetoriais
de Rasmussen/Hirschman, considerados
€
€
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 115
apropriados por melhor captarem os efeitos nas relações diretas e indiretas entre
os setores, em seus impactos a montante (trás) e a jusante (frente).
Dessa forma, os índices de ligação para trás ( U j ), que mostram o quanto
determinado setor demanda dos demais, e para frente ( U i ), representando
o quanto cada setor é demandado pelos demais setores, são obtidos pelas
seguintes expressões:
€
Encadeamentos para trás:
u oj =
Encadeamentos€para frente:
1
uio =
1 z oj
n
€
n
n2
1
∑z
, em que
oj
n
zoj = ∑ zij
i=1
i=1
1 zio
n €
n
n2 ∑
j=1
zio , em que
n
zio = ∑ zij
j=1
Já o coeficiente de dispersão procura mostrar a intensidade com a qual os
impactos da produção de um setor se “esparrama” direta e indiretamente pela
€
estrutura produtiva
€do restante da economia, definindo-se da seguinte forma:
Encadeamentos para Trás
Encadeamentos para a Frente
A referência metodológica desses indicadores assegura que setores-chave
são aqueles que, simultaneamente, possuem índices de ligações para trás e
para frente maiores que a unidade, além de ter ordenada sua capacidade de
dispersão. Em outras palavras, estes índices indicam setores acima da média
e, por conseguinte, setores-chave para o crescimento da economia. Pereira
(2007) argumenta que os setores-chave são capazes de alavancar a economia
por demanda e ser demandado intersetorialmente numa intensidade maior
que os demais setores.
116 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Multiplicadores setoriais
A possibilidade de se fazerem análises estruturais e de se medirem os impactos
das variações na demanda final sobre algumas variáveis do sistema econômico
torna estes indicadores complementares e indispensáveis à elaboração de
estratégias de crescimento e desenvolvimento.
Por meio da matriz inversa de Leontief (Z) é possível projetar os impactos
setoriais, diretos e indiretos ou totais, com base em variações nos componentes
de demanda final. Assim, podem ser obtidos multiplicadores importantes tanto
da economia, como de produto, emprego e renda, principalmente, além de
outros indicadores (que não serão estudados). Sendo assim, o multiplicador
de produto, principal indutor ao crescimento econômico, mostra o quanto
determinado setor “j” pode gerar de produção em todos os setores da
economia, de acordo a alteração de uma unidade monetária da demanda
final total, em relação à produção do setor “j”. Sua definição é dada como:
n
MPj = ∑ zij
i=1
em que
zij são os elementos da matriz inversa de Leontief.
O multiplicado de emprego indica a variação ocorrida no nível de emprego
no setor “j” devido a€uma variação unitária na demanda final, é definido pela
€ seguinte expressão:
n
ME j = ∑ zij .ei
i=1
E
e = i
Sendo i VBP , representante da razão entre o total de empregados e o
i
valor bruto da produção no setor “i”.
€
€
Numa relação análoga, o multiplicador de renda é obtido mediante a razão
entre valor adicionado e valor bruto da produção do setor “i”. Isto é,
n
MV j = ∑ zij .vi
i=1
Sendo
€
vi =
VAi
VBPi .
€
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 117
Portanto, enquanto o critério do multiplicador de produto é de caráter
quantitativo, os multiplicadores de emprego e de renda são os principais
indutores ao desenvolvimento econômico, configurando-se, assim, em
termos qualitativos para a economia.
Tratamento das informações estatísticas
As bases de dados utilizadas para as projeções das matrizes estaduais
foram as Tabelas de Recursos e Usos, as Contas Regionais e a Pesquisa da
Indústria Anual (PIA), todas elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), cujas informações são apresentadas a preços correntes do
ano de 2006 (IBGE, 2006a, 2006b, 2006c).
O grau de abertura dos setores do IBGE parte de 110 grupos de produtos
distribuídos para 55 setores. No entanto, em razão da indisponibilidade de
informações suficientes para as regiões e estados, o número de setores foi
agregado para o nível de 36 setores, responsáveis pelos mesmos grupos de
produto, de maneira a se construir uma matriz setor por setor (36x36).
Quanto à construção dos vetores proxies da produção intermediária e
obtenção de vetor de consumo intermediário para as cinco regiões, os dados
para o cálculo são obtidos junto às Contas Regionais e da Pesquisa Industrial
Anual (PIA), ambos publicados pelo IBGE (2006a, 2006b). As informações
disponíveis nas Contas Regionais correspondem aos totais de Valor Bruto
da Produção (VBP), Consumo Intermediário (CI) e Valor Agregado (VA) para
todos os estados da federação, para um total de 17 setores. Como não
existem informações estatísticas regionalizadas, os dados foram agregados
de acordo com a divisão regional do país.5
Como forma de permitir uma análise com maior detalhamento da
economia, foi necessária a desagregação dos dados referentes à Indústria
de Transformação. Isto só foi possível com o apoio dos dados da Pesquisa
Industrial Anual (PIA) das Empresas por unidade local, disponíveis para todos
os estados do país.
O primeiro passo foi realizar a compatibilização, por meio da abertura das
proporções de cada setor da Indústria de Transformação da PIA, para em
seguida adaptá-las às informações das Contas Regionais.
5
Neste trabalho, VBP e vetor de produção setorial são tratados como sinônimos.
118 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Análise dos resultados
Com base na nova variante metodológica, foi possível construir as matrizes
intersetoriais para o estado da Bahia, com referência ao ano de 2006. Foram
extraídas informações primordiais, tanto para elaboração de um plano de
desenvolvimento quanto de um indispensável subsídio ao setor privado.
O indicador de “autossuficiência”, que busca mensurar a questão do
abastecimento setorial, mostra que a Bahia ainda apresenta, em alguns
setores importantes de sua economia, forte deficiência produtiva local,
conforme Tabela 1:
Tabela 1
“Autossuficiência” do estado da Bahia em 2006 – R$ Milhão
(Continua)
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 119
Tabela 1
“Autossuficiência” do estado da Bahia em 2006 – R$ Milhão
(Conclusão)
Conforme a Tabela 1, do total de 36 setores analisados, 14 apresentaram
deficiência produtiva na economia baiana. O destaque negativo ficou
por conta do setor de Extrativa Mineral, por ser importante para todos os
outros, tendo a extração de petróleo e de minério como principais produtos
demandados. Em seguida, o setor de Cimento e Minerais não-metálicos, uma
vez que é demandado de forma intensa, principalmente pelo segmento de
construção civil.
As demais atividades deficitárias, como Metalurgia, Informação, Eletrônicos
e Telecomunicações, Máquinas e Equipamentos e Eletrodoméstico, Editorial
e Gráfico, Máquinas e Aparelhos Elétricos, Serviços às Empresas, Madeira,
Financeiro, Borracha e Plástico, Têxtil e Fabricantes de Equipamentos
Hospitalares, mostram que a economia do estado ainda não desenvolveu de
forma consistente setores que são importantes para avançar estágios cruciais
do crescimento econômico.
Em função disso, o quadro permite que as políticas de planejamento considerem
estes setores, como forma de estabelecer um crescimento equilibrado. Além
disso, estrategicamente, permite que o setor privado aloque melhor seus
investimentos, não só espacialmente, mas também setorialmente.
Quando se trata da caracterização das atividades produtivas, os índices de
Chenery e Watanabe indicam que a economia baiana é predominantemente
produtora de bens e serviços intermediários e de uso secundário.
120 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Tabela 2
Índice Simples de Encadeamento de Chenery e Watanabe – Bahia – 2006
Assim, é possível fazer a seguinte análise:
• Intermediário e Primário são aqueles setores que têm tímida
demanda por insumos, porém são importantes ofertantes de insumos,
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 121
isto é, produtores de produtos intermediários, a exemplo dos setores
Agropecuário e Financeiro.
• Intermediário e Secundário são os setores que ofertam e demandam
uma grande quantidade de insumos ou produtos intermediários. Este
critério é o mais observado para a economia baiana.
• Final e Primário são as atividades produtivas que têm baixa demanda por
insumos e são produtoras de bens finais, que visam atender a demanda
final. Sendo assim, Administração Pública, Comércio, Imobiliário e Outros
Serviços foram os segmentos que se encaixaram neste perfil.
• Final e Secundário são os setores produtivos que têm elevado consumo
intermediário, porém o destino de sua produção é, em sua maioria,
para atender a demanda final. Neste quesito, enquadram-se os setores
de Fumo, Vestuário, Couro e Calçados, Editorial e Gráfico, Informática,
Equipamentos Hospitalares e de Transporte, Indústrias Diversas,
Construção, Alojamento e Alimentação, além de Saúde e Educação.
A determinação dos setores-chave da economia seguiu a norma metodológica
dos índices de ligação e dispersão de Rasmussem, que analisa conjuntamente
os índices de encadeamento para frente e para trás superiores à unidade. Neste
caso, a economia baiana, dentro de trinta e seis segmentos, possui apenas seis
setores que detêm o poder dinamizador. Essa baixa participação da maioria
dos setores no processo dinâmico pode evidenciar o atual modelo e estágio da
maior economia do Nordeste, de grande fornecedora de matérias-primas. Dentre
estes, estão os setores Químico e Borracha e Plástico, ambos localizados, em sua
maioria, no Complexo Petroquímico de Camaçari. Os demais setores importantes
são Petróleo e Álcool, Siderurgia, Alimentos e Bebidas e também Têxtil.
A análise que complementa esta verificação é o índice de “sensibilidade”
de dispersão na economia. De fato, este índice exprime que, se o valor do
coeficiente de dispersão para trás for alto (baixo), o impacto setorial será
concentrado (uniforme) em alguns setores (nos demais setores). Enquanto
um alto (baixo) coeficiente de dispersão para frente indica que a demanda
por esse setor está concentrada (esparramada) em poucos (demais) setores.
A análise destes indicadores mostra-se inversa às anteriormente utilizadas,
posto que este coeficiente utiliza a dispersão dos índices setoriais em relação
à média. Desta forma, valores baixos indicam que as ligações encontram-se
próximas à média e não concentradas em poucos setores.
122 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Tabela 3
Índices de Ligações de Rasmussen-Hirschman – Bahia – 2006
Vale destacar que estes setores-chave são indutores do crescimento da economia
baiana, ou seja, detêm poder quantitativo sobre o sistema econômico. O uso de
políticas para estes setores tem a função de direcionar a economia do estado a
ganhar maior participação na fatia da economia nacional.
Ainda nessa linha, além dos setores-chave, os multiplicadores setoriais de produto
englobam os efeitos globais de todos os setores sobre a produção da economia.
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 123
O setor de Informática foi o que apresentou maior multiplicador de produto na
economia baiana. Isto é, como é mostrado na Tabela 4, cada aumento de 1.000
unidades monetárias de demanda final desse setor irá requerer um aumento de
4.630 unidades monetárias do produto de todos os setores da economia baiana.
Tabela 4
Multiplicadores de Impacto na Economia Baiana em 2006
Outros destaques, com impactos quantitativos para a Bahia, estão nos
segmentos de Petróleo e Álcool, Indústrias Diversas e Vestuário. Por outro
124 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
lado, em termos qualitativos para o desenvolvimento da economia baiana,
os setores que geram mais emprego por variações exógenas na demanda
final não são os que mais geram produto. O setor que mais gera emprego,
de acordo com um aumento da demanda final por seus produtos, é o de
Serviços às Empresas, em que, para cada R$ 1.000.000 de demanda final,
gera um total de 96 empregos na economia baiana. Em seguida, vêm os
setores de Madeira, com 66 empregos, Agropecuária, com 44, e Transporte e
Armazenagem, gerando 42 empregos.
Quando se trata de renda gerada ou valor adicionado na economia, isto é,
de salários, lucros, juros e aluguéis, o multiplicador de renda indica a variação
nestes componentes oriunda da variação unitária na demanda final, ou
melhor, variação nas exportações, consumos das famílias, investimentos e
gastos do governo. Deste modo, mais uma vez, o setor de Petróleo e Álcool,
Agropecuária e Transportes e Armazenagens figuraram papel importante na
economia do estado da Bahia. A Tabela 4 mostra que o aumento de R$ 1,00
na demanda final do segmento de Petróleo e Álcool irá gerar na economia
baiana renda adicional de R$1,39.
Diante dessa configuração estrutural, os agentes responsáveis por políticas
de planejamento defrontam-se com um “tripé”: vetor de produto, emprego
e renda. Ao mesmo tempo em que um setor pode ser importante gerador
de produto, pode não ser significativo do ponto de vista do emprego e da
renda, ou vice-versa. Entretanto, uma combinação de políticas e prioridades
econômicas associada com as estratégias do setor privado poderia delinear
os resultados globais da economia do estado. Como visto, mesmo tendo
os setores-chave como ponto de partida, as demais atividades produtivas
também são importantes para a dinâmica da Bahia e, neste caso, devem ser
analisadas e estudadas, como forma de diminuir a concentração setorial dos
impactos dinamizadores da economia.
Considerações finais
O objetivo deste trabalho foi construir a matriz insumo-produto para
a economia baiana, como forma de oferecer elementos importantes e
direcionadores para as políticas de planejamento e decisões do setor privado.
Este feito foi realizado com o apoio de uma nova variante metodológica, o
RAS modificado agregado, que possibilitou a análise do perfil tecnológico da
economia do estado dentro dos critérios de compatibilização com os demais
estados da região Nordeste.
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 125
Os resultados dos indicadores estruturais mostraram que a demanda por
insumos dos setores no estado, em boa parte das atividades produtivas, é
maior que a produção desses setores internamente. Esta informação, vista no
“diagrama de autossuficiência”, pode direcionar políticas de investimentos
nesses setores. Outro indicador importante é que a economia baiana
apresentou apenas seis setores-chave, número que pode refletir o estágio
de desenvolvimento da estrutura produtiva do estado, de produtor de bens
intermediários. Os destaques ficaram por conta dos setores Químico, Petróleo
e Álcool, Siderurgia, Têxtil e Borracha e Plástico. Agora, quando se trata dos
multiplicadores de impacto na economia baiana, a missão de adotar uma
política que focalize produto, emprego ou renda torna-se criteriosa e de difícil
aplicação. Isto porque aqueles setores que apresentaram melhores índices de
produto não proporcionam bons números na geração de emprego ou renda,
e vice-versa, o que dificulta políticas de curto prazo. Nestes termos, uma
combinação de políticas de médio e longo prazos que possa contemplar estes
indicadores de forma harmoniosa, juntamente com os objetivos propostos
pelo setor privado, pode gerar resultados positivos e sustentáveis para a
economia baiana.
Como limitação deste trabalho, pode-se considerar que a agregação dos
setores, em razão da disponibilidade de dados, reduz a pontualidade das
possíveis políticas a serem adotadas e das realizações dos investimentos
privados. Portanto, diante desse novo redesenho da economia global e das
potencialidades que a economia baiana possui, as informações apresentadas
neste trabalho são cruciais para a adoção de um plano de crescimento e
desenvolvimento econômico do estado da Bahia, de forma a diminuir a
concentração setorial dos impactos dinamizadores da economia.
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Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 127
Apêndices
Tabela A.1
Matriz tecnológica (A) da Bahia em 2006
128 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
(Continua)
Tabela A.1
Matriz tecnológica (A) da Bahia em 2006
(Conclusão)
Tabela A.2
Matriz Q “quadrada” da Bahia em 2006 – R$ Milhão
(Continua)
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 129
Tabela A.2
Matriz Q “quadrada” da Bahia em 2006 – R$ Milhão
(Conclusão)
130 | Matriz insumo-produto da economia baiana:
uma análise estrutural e subsídios às políticas de planejamento
Tabela A.3
Tradutor de Compatibilização Setorial Contas Regionais e PIA
Tabela A.3
Tradutor de Compatibilização Setorial Contas Regionais e PIA
Revista Desenbahia nº 13 / set. 2010 | 131
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