1 FACULDADES IBMEC P PR RO OG GR RA AM MA AD DE EP PÓ ÓS S--G GR RA AD DU UA AÇ ÇÃ ÃO OE EP PE ES SQ QU UIIS SA AE EM M ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA JOÃO MANUEL DA SILVA Proposta de Novo Modelo para Avaliação das Condições Financeiras das Empresas do SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFESSOR ORIENTADOR: PROFESSOR DOUTOR RAIMUNDO NONATO SOUZA DA SILVA Rio de Janeiro, julho de 2005. Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. 2 1 – INTRODUÇÃO 1. 1 – ASPECTOS GERAIS As mudanças implementadas no cenário econômico nacional contribuíram para o desenvolvimento de novos padrões de comportamento e gestão para administradores das organizações, tais como: a relação entre as estratégias de crescimento das organizações e a gestão do capital de giro. Tratar da estratégia de crescimento de uma empresa requer atenção à conjugação dos riscos e aos retornos esperados. Durante o processo de planejamento financeiro de uma empresa, devem ser considerados o grau de crescimento que se pretende chegar e o impacto sobre a estrutura financeira da empresa, principalmente no que se refere a necessidades de capital de giro. Assim sendo, como os estudos atuais sobre a realidade empresarial do setor não são satisfatórios, procuramos quantificar os dados das empresas do ramo de construção civil, com o propósito de identificar quais as causas que as levam a necessitar de mais ou de menos capital de giro. Esse trabalho será demonstrado por meio da análise financeira tradicional versus o Modelo Fleuriet, empregado em dez empresas. É certo que, por questões de ética profissional, manteremos o sigilo sobre os nomes das empresas aqui examinadas. É possível constatar um crescente endividamento das empresas do setor estudado. Endividamento este que nas últimas três décadas, muitas vezes, as têm levado à falência. 3 Conforme o Sinduscon: O setor de incorporação e construção civil foi marcado por uma série de dificuldades, tendo em vista que enquanto o PIB industrial do país cresceu 7% de 2000 a 2003, o PIB da construção civil caiu 7,1% no mesmo período. Fatores como o baixo poder de compra do trabalhador brasileiro, a pouca oferta de financiamento e o equivocado direcionamento das linhas de crédito disponíveis, privilegiando a aquisição de imóveis usados, por exemplo, explicam estes resultados. (SINDUSCONRIO, ano 2 n. 17, abr. 2005, 1) Neste contexto não houve distinções, sendo prejudicadas tanto as micro, pequenas, médias e grandes empresas assim como também as grandes empresas, que no decurso do período relatado diversas empresas do setor faliram, conforme foi divulgado nos jornais como Monitor Mercantil, O Globo, etc. Como nossa atividade está diretamente ligada à conservação da riqueza patrimonial das empresas, independente da quantidade dos recursos disponibilizados para a geração de riqueza, resolvemos estudar melhor o problema do capital de giro que tanto aflige às gerências financeiras das micro, pequenas e médias empresas do setor de incorporação imobiliária e construção civil. Para buscar um esclarecimento melhor sobre o assunto estudado, optamos pela análise acerca da gestão das empresas, em cuja essência priorizamos o desempenho financeiro. Definidas as balizas que justificam o estudo, procura-se, agora, identificar as causas que fazem as empresas buscar o capital de giro de terceiros. Num segundo momento, iremos apontar sugestões para reverter o problema detectado. Certamente, o desenrolar dessas duas etapas vai de encontro às necessidades tanto dos empre- 4 sários que já estão em plena atividade, como também dos futuros empresários, ou seja, daqueles que desejam aplicar seus investimentos. Segundo Sousa e Menezes (1997, p.27), administração do capital de giro reúne vários meios que permitem efetuar diversos procedimentos gerenciais com elevado grau de eficiência. O planejamento do capital de giro é uma grande fonte de contribuição para o sucesso de qualquer empresa. No Brasil, esse tema tem especial relevância em função das elevadas taxas de juros e da escassa oferta de crédito para o setor em questão. Segundo Sousa e Menezes (1997, p.27) o planejamento do capital de giro de curto prazo produz resultados que refletem a saúde financeira das empresas e a sua imagem diante do mercado, focando-se nos ativos e passivos circulantes. Os maiores referenciais a serem considerados são: o nível de capital de giro líquido e o orçamento de caixa. Com a globalização da economia, uma realidade é indiscutível em nossos dias: as micro, pequenas e médias empresas têm que buscar, constantemente, melhores indicadores de eficiência e competitividade para que possam sobreviver no acirrado mundo dos negócios. De acordo com este ponto de vista lógico, se a carência de alguns conhecimentos é o principal motivo para que muitas empresas não tenham capital de giro, e, por outro lado, se a aquisição de conhecimentos é a solução para a reversão desse quadro de endividamento, devemos admitir que o conhecimento é peça chave para os empresários de qualquer setor. Daí, neste estudo, buscarmos dotar o gestor de conhecimentos elementares necessários, como por exemplo: a necessidade de capital de giro, a 5 tesouraria, o capital de giro e o endividamento, capazes de aumentar a capacidade para gerir o capital de giro em uma empresa. Se este conhecimento é fundamental para a mudança de práticas tão resistentes pela cultura, acreditamos, por hipótese, que os pequenos e médios empresários, a partir do momento em que se tornarem cada vez mais capacitados para o exercício de suas atividades empresariais e incorporarem os princípios básicos da administração financeira, aumentarão, por conseguinte, sua renda sobre o investimento. O que significa dizer que eles terão mais capital de giro próprio e, desta forma, não mais necessitarão de capital de terceiros para incrementar suas atividades. Já do ponto de vista acadêmico, não temos a intenção de esgotar um tema tão complexo como este. No entanto, buscamos dar algum tipo de contribuição, com nossos estudos, aos pequenos e médios empresários que visam desenvolver suas atividades empresarias no setor estudado. Com convicção, o maior êxito de Fleuriet (1980) foi o de aplicar, de modo eficaz e eficiente, sua teoria da dinâmica financeira à prática administrativofinanceira brasileira, inclusive nas empresas deste. Todavia, devemos ressaltar que a teoria fleurietiana tem sido largamente aplicada, com mais sistematização técnica, nas organizações de grande porte, principalmente no que se refere ao planejamento de longo prazo. Já nas micro, pequenas e médias empresas, esse modelo vem sendo menos empregado apesar de também trabalharem com o planejamento de longo prazo. Certamente, como as organizações de grande porte executam o planejamento financeiro de longo prazo, é necessário que, ao se investigar as microempresas, as pequenas e as médias empresas, não se negligencie o fato de que essas empresas tra- 6 balham com planejamento financeiro de curto prazo em função de seus recursos financeiros serem menores. Diante dessas considerações, não nos falta a convicção tanto sobre a eficácia e a eficiência da aplicação da teoria fleurietiana nas pequenas e médias empresas quanto sobre a coerência e a coesão técnico-científicas que este modelo assegura ao estudo a ser realizado. Assim, quer do ponto de vista do senso comum como do ponto de vista crítico, constata-se que os principais problemas que afetam o setor de construção civil são: 1 – A falta de conhecimento da gestão administrativo-financeira, particularmente no que diz respeito a tomadas de decisões, a saber: a) - Qual a modalidade de apoio financeiro que as empresas do setor estu- dado buscam? 2 – As modalidades de financiamento, a saber: a) Qual a melhor estratégia a ser adotada pelo empresário do setor es- tudado no que se refere à liquidação de um financiamento? b) Qual o período de carência mais adequado para um empréstimo feito por uma empresa do setor estudado? Por meio do exercício de busca das sugestões para as questões acima delineadas, iremos construir alguns instrumentos necessários para estabelecer os meios que viabilizem o desenvolvimento do setor empresarial estudado no município do Rio de Janeiro. 7 1. 2 – OBJETIVOS DO ESTUDO O tema selecionado para o desenvolvimento deste estudo – Proposta de Novo Modelo para Avaliação das Condições Financeiras das Empresas do Setor de Construção Civil – uma abordagem com base no Método Fleuriet, tem por objetivo geral estudar o caso representativo de dez Micro, Pequenas e Médias Empresas do setor, no âmbito da atividade produtiva. Como objetivos específicos, devemos: identificar e analisar as estratégias de gerenciamento do capital de giro de algumas empresas do setor. 1. 3 – RELEVÂNCIA As Micro, Pequenas e Médias Empresas têm grande relevância para a economia brasileira, tendo em vista que colaboram com 60% dos empregos disponíveis, mas têm acesso a apenas 10% de todo crédito disponível, conforme está publicado na revista Pequena Empresas Grandes Negócios (2004, n.º 185, 69), dentro deste contexto, surge a necessidade de maiores recursos financeiros para fazer face ao nível de atividades empreendida pelas empresas que compõem o setor, para financiar os investimentos necessários tais como: investimento em ativos permanentes, investimentos em capital de giro entre outros. Por outro lado, dados do SEBRAE, informam que 84,79% das empresas constituídas legalmente no Brasil são pequenas e média empresas. Das quais 64% das mesmas são exportadoras na qualidade de negócios de pequenas e médias empresas, e cujo resultado representa 7,6 bilhões de dólares em vendas para o mercado externo. (SEBRAE, 2004). 8 Segundo manchete publicada no jornal Monitor Mercantil de 14 de abril de 2005, intitulada, “Sem emprego, brasileiros buscam o próprio negócio”, o Brasil é o 7º país mais empreendedor do mundo, segundo pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (SEBRAE). O nível de empreendedorismo é determinado pela percentagem de pessoas entre 18 e 64 anos que abriram um negócio há, no máximo, 42 meses (3 anos e meio). A taxa no Brasil é de 13,5%. Na frente, está o Peru, com 40,3% e, na última colocação, o Japão (1,5). A pesquisa da GEM analisou o empreendedorismo em 34 países ano passado, o que significa 73 milhões de empreendedores. Em número absoluto, o Brasil é o segundo país com mais gente que gere seu próprio negócio: 15,37 milhões, dos quais apenas 14% têm formação superior (completa ou incompleta). No Brasil, 52% dos empreendedores optaram pelo negócio próprio devido ao desemprego no país. Sem mercado e orientação, porém, a grande maioria fecha as portas ainda no primeiro ano. De acordo com a pesquisa, há dois tipos de empreendedores. Os que se tornam empreendedores por oportunidade – por vocação ou por encontrar algum nicho de mercado pouco explorado – ou por necessidade – quem não encontrou outra forma de gerar renda. No Brasil, dos 15,37 milhões de empreendedores, 52% estão na categoria necessidade e 46.% na categoria oportunidade e 2%, não estão em nenhuma das categorias. A taxa de pessoas que abrem o próprio por necessidade é considerada alta. 9 Segundo o diretor-geral do GEM Brasil, Marcos Muller Schlemm, em entrevista concedida ao jornal Monitor Mercantil: “tal situação é comum nos países de baixa renda, como os da América Latina”. Para estudar, identificar e analisar as estratégias de gerenciamento do capital de giro, de dez empresas do setor, será utilizado o modelo Fleuriet (modelo dinâmico de gestão financeira de empresas) tais como: Saldo de Tesouraria (T), necessidade de capital de giro (NCG) ou investimento operacional em giro (IOG) e capital de giro (CDG). 1. 4 – DELIMITAÇÃO Em nossa amostra foram consideradas as micro, pequenas e médias empresas do setor de incorporação e construção civil na cidade do Rio de Janeiro, cuja receita fosse igual ou inferior a R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais), as quais encontram-se enquadradas no perfil das empresas que nos propomos estudar. Segundo SEBRAE Paraíba (crédito orientado de 15/06/2005), classifica-se de micro, pequena e média empresa para efeito de financiamento em função do faturamento bruto anual: Microempresa - até R$ 433.755,14 Pequena empresa - entre R$ 1.200.000,00 e R$ 2.133.222,00 Média empresa - acima de R$ 2.133.222,00 No entanto, o site acima não classifica a faixa superior do faturamento das médias empresas. 10 Entendemos que esta classificação seja considerada pelo SEBRAE em termos nacional, apesar de não termos o encontrado no site do SEBRAE (RJ). Mas, de qualquer modo servirá para balizar o intervalo de faturamento nos definido. Não vamos citar a razão social das empresas estudadas, tendo em vista que não obtivemos autorização de seus proprietários pra tal. Desta forma, relacionamos as empresas na seguinte seqüência: “A”, “B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “G”, “H”, “I”, “J”. 1. 5 – METODOLOGIA Sem dúvida, pela necessidade de fazer uma ilustração do conteúdo teórico, adotamos o método do estudo de caso e o método comparativo. O método do estudo de caso nos fornece meios para organizar os dados em um universo real – as microempresas, as pequenas e as médias empresas do setor estudado na cidade do Rio de Janeiro. Quanto ao método comparativo, sua conjugação com o de estudo de caso foi indispensável, porque, a partir de seu uso, transparecem os fatos estudados segundo suas diferenças e similitudes – em nosso estudo, seriam as diferenças e similitudes entre as empresas que adotaram o método tradicional e as que aplicaram o método fleurietiano. 1. 6 – ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO A pesquisa aqui desenvolvida está organizada conforme os capítulos abaixo indicados: 1 – Introdução Iremos procurar enfocar a relação entre as estratégias de crescimento das organizações e a gestão do capital de giro. 11 2 – Revisão de literatura Já nesta fase de nosso trabalho, procuraremos estudar a literatura pertinente ao bom gerenciamento do capital de giro das empresas do setor. 3 – Análise dos casos Neste capítulo, estaremos analisando o comportamento financeiro das pequenas e médias empresas do setor estudado, por meio da comparação entre o modelo tradicional e o modelo Fleuriet. 4 – Conclusão e recomendações Aqui, trazemos à baila as conclusões de nosso estudo, apontando os possíveis riscos verificados na má utilização do capital de giro nas microempresas, nas pequenas e nas médias empresas do setor. 12 2 – REVISÃO DA LITERATURA Visitando a literatura sobre a administração da necessidade de capital de giro voltada para a realidade brasileira, verificamos que o ponto de partida está nos estudos de Michel Fleuriet, a quem outros teóricos fazem referência, entre eles: B. Braga (1991), Assaf Neto (2002), J. P. Silva (2001), Marques (2004), Brasil e Brasil (2003). Por conseguinte, a história da dinâmica financeira – no que diz respeito à administração da necessidade do capital de giro no Brasil – está dividida em préfleurietiana e pós-fleurietiana. Na fase pré-fleurietiana, a análise das demonstrações financeiras, no Brasil dos anos 80, era estática, pois, se caracterizava pela visão patrimonial. Opondo-se a essa prática e observando a realidade brasileira, Fleuriet “descreveu um modelo de análise dinâmica da situação financeira das organizações” (BRAGA; MARQUES, 1995, p. 50). Na construção desse modelo foi utilizada uma amostra em seis empresas do ramo industrial de capital aberto. Visando uma melhor análise e compreensão do referido modelo, houve necessidade das contas do balanço patrimonial serem reorganizadas, além de outros relatórios contábeis, passando-os para um formato mais dinâmico que iria facilitar o processo de análise, levando em conta a reclassificação dos grupos que constituem o ativo e o passivo circulantes em financeiro e cíclico (operacional). De um modo geral, o pequeno e o médio empresário tende a ser aquelas pessoas que resolvem abrir uma empresa após serem demitidas de um emprego estável, onde já trabalhavam há alguns anos, utilizando para isso a verba indenizatória e o saldo do FGTS. No entanto, na maioria das vezes estes empreendedores não têm o mínimo de conhecimentos necessários sobre a gestão administrativo-financeira para conduzir com 13 êxito o negócio. Tais conhecimentos são indispensáveis para que o novo empreendedor obtenha sucesso. Entre os conhecimentos fundamentais que o empresário deve adquirir, temos: Reestruturação do Balanço Patrimonial Análise do Capital de Giro Necessidade de Capital de Giro Margem de Contribuição (margem liquida) Endividamento Rentabilidade do PL Rentabilidade do Ativo Liquidez Saldo Tesouraria 2. 1 – REESTRUTURAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL Balanço Patrimonial Convencional: O balanço convencional está elaborado em conformidade com as normas estabelecidas pela Lei n. º 6.404/76. 14 Quadro I: GRUPOS INTEGRANTES DO BALANÇO PATRIMONIAL Aplicação de recursos Origem de recursos Ativo circulante (AC) Passivo circulante (PC) Realizável em longo prazo (ARLP) Exigível em longo prazo (PELP) Ativo permanente (AP) Resultado de exercício futuro (REF) Patrimônio líquido (PL) Fonte: Adaptada do Artigo: Análise Dinâmica do Capital de Giro (O Modelo Fleuriet) de MARQUES E BRAGA in: Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, maio/jun. 1995, p. 49-63. Quadro II 15 BALANÇO - CONFORME MODELO TRADICIONAL Em mil $ CONTAS ATIVO ATIVO CIRCULANTE Caixa/Banco/Aplic. Impostos a Recuperar Clientes Adiantamentos EMPRESA -A EMPRESA -B EMPRESA -C 2003 2002 2003 2002 2003 4.244 4.578 5.814 5.750 11.766 EMPRESA -D EMPRESA -E EMPRESA -F 2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002 EMPRESA -G 10.323 7.330 5.500 17.220 14.744 8.280 1.303 2003 95 2002 77 EMPRESA -H EMPRESA -I EMPRESA -J 2003 242 2002 2003 2002 2003 2002 257 732 536 596 1.540 2837 3054 1585 1600 10164 4373 4594 1974 13143 13196 8078 1250 57 73 77 182 59 111 537 1501 323 539 353 88 607 363 123 149 57 62 33 0 57 39 59 73 59 42 134 755 1.016 1.664 0 19 0 403 393 18 90 0 0 0 0 41 15 27 21 48 7 0 0 743 628 374 420 564 935 971 733 34 87 76 0 0 99 61 16 14 148 512 160 1.643 1796 831 1071 8.846 3007 3484 1078 11.922 10958 7885 1354 1475 2160 2090 1532 5867 2707 3526 3.755 1.296 0 53 49 2069 2060 70 83 29 322 252 202 53 4 4 165 75 673 425 59 39 4244 4578 5814 5750 11766 10323 7330 5500 17220 14744 8280 1303 95 77 242 257 732 536 596 1540 421 422 146 142 1561 721 757 2788 8508 1801 1142 0 14 3 49 21 43 14 240 220 6 6 0 0 906 377 569 144 67 0 44 33 346 376 139 140 186 172 58 26 7 2 78 76 34 9 10 15 Imp. De Renda A Recolher 8 8 0 CSLL a Recolher 3 6 0 356 1320 Estoques de imóveis REALIZÁVEL A L/PRAZO PERMANENTE (LÍQ) PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE Fornecedores Contas a Pagar Imp. E Contr. A Recolher Custo Orçado Financiamentos EXIGÍVEL A L/PRAZO REF (LÍQUIDO) PATRIMÔNIO LÍQUIDO 0 0 154 2635 0 577 268 0 69 353 1250 34 319 573 49 2 1.239 561 31 12 190 190 6760 477 995 943 2579 6191 3 49 21 43 14 0 33 330 316 162 6063 2898 161 1.266 0 696 754 280 411 17 2611 213 1001 57 224 0 3094 3072 5072 5035 4125 4093 6199 1711 7712 10140 947 37 1125 2181 321 436 2427 3319 0 0 596 740 0 0 188 129 58 46 566 357 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 865 879 1686 3838 0 0 135 122 1279 -62 -86 -298 -9 -8 -13 -9 0 0 0 81 74 193 236 689 522 0 0 0 0 0 0 0 980 1.183 830 464 3848 -8 -38 -232 426 3616 DEMONST. DO RESULTADO Receita Venda de Imóveis Rec. Financ.s/Venda de Imóveis Receita Prestação de Serviçõs (-)Imp. Inc. s/Venda e Serviço (-)Vendas Canceladas -4 -21 -19 -154 -145 -22 -28 -129 -46 -158 -51 -397 0 0 0 0 0 0 0 0 -12 0 Receita Líquida 1247 2224 312 305 2788 3134 843 851 2153 4280 0 0 126 114 1266 971 1171 822 (-)Custo de Vendas / Serviços -723 -1453 -158 -265 -1817 -2503 -764 -681 -2047 -3.011 0 0 -54 -51 -971 -473 -415 -304 524 771 154 40 971 631 79 170 106 1269 0 0 72 63 295 498 756 518 -495 -503 -146 -155 -931 -915 -228 -175 -2.534 -1.140 -50 -1 -2 -5 -235 -144 -281 -339 36 149 143 21 Lucro Bruto (-)Despesas Operacionais (+)Outras Receitas (-)Deprec./ Amortização -2540 426 1076 -32 34 -6 (-)Custo Ex. Anterior -137 Lucro Antes da CSLL 29 268 44 34 40 -284 -149 16 -2428 129 -50 -1 70 58 Provisão p/ CSLL -3 -26 -3 0 -3 0 0 -1 0 -11 0 0 -1 -2 Lucro Ante do IRPJ 26 242 41 34 37 -284 -149 15 -2428 118 -50 -1 69 -284 -149 12 -50 -1 Provisão p/ IRPJ -4 -44 -5 0 -5 Lucro Líquido do Exercício 22 198 36 34 32 -3 -19 -2428 99 60 354 475 179 460 1044 56 60 354 475 179 460 993 -2 -1 -89 -66 -105 -59 67 55 -29 288 370 120 460 910 -51 -83 16 Balanço classificação conforme o modelo Fleuriet Quadro III: Aplicação de recursos Origem de recursos Ativo circulante financeiro (ACF) Passivo circulante oneroso (PCO) Ativo circulante cíclico (ACC) Passivo circulante cíclico (PCC) Ativo não circulante (ANC) Passivo não circulante (PNC) Fonte: Adaptada do Artigo: Análise Dinâmica do Capital de Giro (O Modelo Fleuriet) de MARQUES E BRAGA in: Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, maio/jun. 1995, p.49-63. Quadro IV 17 BALANÇO - CONFORME MODELO FLEURIET Em mil $ CONTAS ATIVO ATIVO CIRCULANTE FINANCEIRO EMPRESA -A EMPRESA -B EMPRESA -C EMPRESA -D EMPRESA -E EMPRESA -F EMPRESA -G EMPRESA -H EMPRESA -I EMPRESA -J 2003 2003 2003 2003 2003 2003 2003 2003 2003 2002 4.244 2002 2003 2002 2002 2002 2002 2002 2002 2002 5814 5750 11766 10323 7330 5500 17220 14744 8280 1303 95 77 242 257 732 536 596 1540 2837 3054 1585 1600 10164 4373 4594 1974 13143 13196 8078 1250 57 39 77 182 59 111 537 1501 134 755 403 746 364 554 380 109 655 370 123 149 57 62 33 0 57 39 59 73 59 42 323 539 353 88 607 363 123 149 57 62 33 0 57 39 59 73 59 42 41 15 27 21 48 7 0 0 CÍCLICO 2473 2500 1205 1491 9509 4003 4471 1825 13086 13134 8045 1250 0 0 18 109 0 69 Clientes 743 628 374 420 564 935 971 733 1.016 1.664 87 76 0 0 99 61 16 14 1.643 1796 831 1071 8.846 3007 Caixa/Banco/Aplic. Impostos a Recuperar Adiantamentos Estoques de imóveis ATIVO NÃO CIRCULANTE REALIZÁVEL A L/PRAZO PERMANENTE (LÍQ) PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE CÍCLICO ONEROSO PASSIVO NÃO CIRCULANTE EXIGÍVEL A L/PRAZO REF (LÍQUIDO) PATRIMÔNIO LÍQUIDO 2002 4578 148 512 160 3484 1078 11.922 10958 7885 1250 53 1407 1524 4229 4150 1602 5950 2736 3526 4077 1548 202 1354 1475 2160 2090 1532 5867 2707 3526 3.755 1.296 0 53 49 2069 2060 70 83 29 4244 4578 5814 5750 11766 10323 7330 5500 421 422 146 142 1561 721 757 2788 8508 421 422 146 142 984 453 757 2788 1748 0 577 268 0 0 6760 5608 10205 9602 6573 2712 0 3823 4156 5668 322 0 19 0 18 90 0 69 425 59 39 38 38 165 75 673 34 34 0 0 0 403 393 353 252 202 53 4 4 165 75 673 425 59 39 17220 14744 8280 1303 95 77 242 257 732 536 596 1540 1801 1142 0 14 3 49 21 43 14 240 220 1324 147 0 14 3 49 21 43 14 240 220 477 995 8712 12943 7138 33 330 316 162 6063 2898 161 696 754 280 411 17 2611 213 1001 3094 3072 5072 5035 4125 4093 6199 1711 1125 2181 321 436 2427 3319 0 0 596 188 129 58 46 566 357 0 0 0 0 0 0 0 0 0 865 879 1686 0 1303 81 74 6191 1.266 193 236 689 522 356 1320 193 236 689 522 356 1.320 0 464 3.848 943 2579 57 224 0 0 7712 10140 947 37 740 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3838 0 0 980 1.183 830 0 81 74 DEMONST. DO RESULTADO Receita Venda de Imóveis Receita Financ.s/Venda de Imóveis Receita Prestação de Serviçõs (-)Vendas Canc./imp.s/vendas e serv. -46 -158 -51 -397 0 0 0 Receita Líquida 1247 2224 312 305 2788 3134 843 851 2153 (-)Custo de Vendas / Serviços -723 -1453 -158 -265 -1817 -2503 -764 -681 524 771 154 40 971 631 79 170 -495 -503 -146 -155 -931 -915 -228 36 149 Lucro Bruto (-)Despesas Operacionais -4 (+)Outras Receitas 143 (-)Deprec./ Amortização 122 1279 0 0 0 0 0 -38 -232 4280 0 0 126 114 1266 971 1171 822 426 3616 -2047 -3.011 0 0 -54 -51 -971 -473 -415 -304 1269 0 0 72 63 295 498 756 518 -175 -2.534 -1.140 -50 -1 -2 -5 -235 -144 -281 -339 106 21 -2.540 426 1076 -32 34 -6 (-)Custo Ex. Anterior Lucro Antes da CSLL 135 -137 29 268 44 34 40 -284 -149 16 -2428 129 -50 -1 70 58 60 354 475 179 460 1044 354 475 179 460 993 460 910 Provisão p/ CSLL -3 -26 -3 0 -3 0 0 -1 0 -11 0 0 -1 -1 Lucro Ante do IRPJ 26 242 41 34 37 -284 -149 15 -2428 118 -50 -1 69 57 60 -2 -2 -89 -66 -105 -59 -284 -149 12 -50 -1 67 55 -29 288 370 120 Provisão p/ IRPJ -4 -44 -5 0 -5 Lucro Líquido do Exercício 22 198 36 34 32 -3 -19 -2428 99 -51 -83 18 2. 2 – ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO O modelo tradicional de análise de balanço contempla três abordagens, a saber: a) análise vertical; b) análise horizontal; e, c) a análise de índices com base nas demonstrações financeiras. As três abordagens se justificam na medida em que se busca a elaboração de um conhecimento sobre a situação econômico-financeira num determinado período. Os aspectos relacionados à situação financeira são avaliados por meio da análise dos índices de estrutura de capitais e liquidez. Por sua vez, a situação econômica é avaliada por intermédio da análise dos índices de rentabilidade. Assim, Marques e Braga (1995, p. 50) assinalam que: Em seus estudos sobre gestão financeira de empresas, Fleuriet descreveu um modelo de análise dinâmica da situação das organizações, favorecido pela experiência francesa nessa área do conhecimento. Em seguida outros autores, tais como Brasil e Brasil (2003), Silva (2001) e Braga (1991), aprimoraram determinados aspectos do modelo original, inclusive no sentido de aplicá-lo a casos reais, bem como buscando divulgá-lo de uma maneira articulada. Para a utilização do modelo dinâmico de análise financeira, é necessário reagrupar as contas do balanço patrimonial em ativos circulantes e não-circulantes, sendo que os ativos circulantes devem ser classificados em circulantes operacionais (cíclicos) e em circulantes financeiros (erráticos). Os ativos não-circulantes são representados pela soma dos ativos realizáveis de longo prazo com os ativos permanentes, e os passivos não-circulantes são representados pela soma do passivo exigível de longo prazo, resultado de exercícios futuros e pelo patrimônio líquido da empresa. 19 O ativo circulante operacional (cíclico) é o investimento que sucede das atividades operacionais da empresa como compra, venda, produção prestação de serviço, enquanto o passivo circulante operacional (cíclico) é a fonte de recurso denominada passivo de funcionamento, ou seja, a que procede das atividades operacionais (MATARAZZO, 1998 p. 338). O ativo circulante financeiro representa as contas de natureza financeira como os valores de disponibilidade imediata, tais como: caixa, banco e aplicações financeiras em dólar bem como os recursos de curto prazo da organização. Já o passivo circulante financeiro ou oneroso representa as fontes de financiamento referentes a empréstimos bancários, a descontos de duplicatas e a outras operações relacionadas com o ciclo financeiro da empresa (SANTOS, 2000 p. 366). Capital de giro Em conformidade com as análises de Monteiro e Moreno (2003), capital de giro (CDG), é “a diferença entre os Passivos Não Circulantes (PNC) e os Ativos Não Circulantes (ANC)”. No passivo não circulante (PNC) estão incluídos o Patrimônio Líquido (PL) e o Exigível em Longo Prazo (ELP), e no ativo não circulante (ANC) estão incluídos os Ativos Realizáveis de Longo Prazo (RLP) e o Permanente (AP). Explicando melhor na expressão a seguir: CDG = (PL + ELP) – (AP + RLP). Ao tirarmos o Exigível de Longo Prazo (ELP) da equação acima, temos a parcela do Ativo circulante financiado apenas com recursos próprios, isto é, o Capital de Giro Próprio (CGP). 20 2. 2. 1 – Capital de Giro O Capital de Giro (CDG) tem o mesmo valor absoluto que o Capital Circulante Líquido (CCL), embora seu cálculo seja feito de maneira diferente (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 1978). Assevera Silva (2001 p. 350) que o Capital Circulante Líquido (CCL) pode ser calculado por: CCL = AC – PC; Capital Circulante Líquido (CCL) Ativo Circulante (AC) Passivo Circulante (PC) 2. 2. 2 – A necessidade de capital de giro: A Necessidade de Capital de Giro (NCG), ou Investimento Operacional em Giro (IOG), consiste na diferença entre o Ativo Circulante Operacional (cíclico) (ACO) e o Passivo Circulante Operacional (cíclico) (PCO) (MATARAZZO, 1998 p. 344), sendo descrito melhor pela fórmula: NCG = ACO – PCO A Necessidade de Capital de Giro (NCG), ou Investimento Operacional em Giro (IOG), difere do Capital Circulante Líquido (CCL) devido ao fato de se restringir a uma parte do Ativo e Passivo Circulantes. A restrição está na parte relativa ao ciclo de operações da empresa, isto é, contas como duplicatas a receber, estoques, despesas antecipadas, fornecedores, salários e impostos e taxas. Alguns Índices de Liquidez (IL) estão diretamente relacionados ao tema, como, por exemplo, o de Liquidez Corrente (LC), que é a relação entre o Ativo 21 Circulante e o Passivo Circulante. Isto implica dizer que quando a Liquidez Corrente for maior que um, o Capital Circulante Líquido (CCL) é positivo. Outro índice relacionado à liquidez é o de Liquidez Seca (LS). Este índice pode ser obtido pela divisão entre o Ativo Circulante (AC), sem os estoques, e o Passivo Circulante (PC). Esta avaliação é expressiva, pois o Estoque envolve um grau de risco maior que os demais itens. 2. 2. 2. 1 – A necessidade líquida de capital de giro (NLCDG) A Necessidade Líquida de Capital de Giro é elemento fundamental para avaliar a situação financeira das organizações. Seu valor revela o montante de recursos para manter o giro dos negócios. As contas que compõem a necessidade líquida de capital de giro representam operações de curto prazo e de retornos rápidos, são totalmente diferentes das contas que compõem o ativo permanente, pois estas resultam de decisões de longo prazo com uma perspectiva bastante lenta para a recuperação do capital investido. Qualquer alteração nas políticas de compra, estocagem e crédito podem produzir efeitos imediatos sobre o fluxo de caixa e na Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG), corroborando, assim, a importância deste tipo de análise para caracterizar o equilíbrio financeiro de curto prazo das organizações. Se o saldo desta variável for positivo, indica que as aplicações de capital de giro são superiores às fontes de capital de giro de terceiros. Desta forma, a organização está utilizando fonte de capital de giro próprio e necessita de recursos para financiar sua atividade operacional. Por outro lado, quando o saldo for negativo entende-se que as fontes de capital de giro são superi- 22 ores às aplicações de capital de giro e, portanto, a organização não necessita de recursos para financiar suas atividades operacionais, porque dispõe inclusive de recursos para financiar outras aplicações, tais como: atividade operacional, ou, até mesmo, na expansão dos negócios. A mensuração da Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG) pode ser demonstrada pela seguinte fórmula: NLCDG = ACO – PCO Sendo: NLCDG = Necessidade Líquida de Capital de Giro ACO = Ativo Circulante Operacional PCO = Passivo Circulante Operacional 2. 2. 3 – Tesouraria (ST) Uma importante função da diretoria financeira de uma empresa é acompanhar a evolução do Saldo de Tesouraria, a fim de evitar que permaneça constantemente negativo e crescente. A maioria das empresas que operam com Saldo de Tesouraria crescentemente negativo apresenta uma estrutura financeira inadequada, revelando uma dependência excessiva de empréstimos a curto prazo, que poderá levá-las até mesmo, ao estado de insolvência. De modo geral, essas empresas enfrentam sérias dificuldades para resgatar seus empréstimos a curto prazo, quando os bancos, por qualquer motivo, se recusam a renová-los. Isto ocorre, por exemplo, quando o Banco Central utiliza seus instrumentos de controle monetário no sentido de restringir o crédito, levando os bancos – agora com 23 uma política de empréstimos mais seletivos – a não conceder e/ou renovar seus empréstimos às empresas que apresentam risco de insolvência elevado. (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 1978, 37, 38) Conforme a citação transcrita acima, por intermédio da tesouraria podese identificar o grau de utilização de recursos de terceiros de curto prazo para financiar as necessidades líquidas de capital de giro da organização. Caso o saldo seja positivo se deduz que a organização possui folga financeira, ou seja, ela possui recursos financeiros aplicados em curto prazo. Se o saldo for negativo significa que recursos financeiros de curto prazo estão financiando as atividades operacionais da empresa. Isto porque: O T pode sinalizar o grau de adequação da política financeira empregada pela administração. Quando positivo, indica disponibilidade de recursos para garantir a liquidez de curtíssimo prazo do empreendimento. Caso seja negativo, pode evidenciar dificuldades financeiras iminentes, em especial por ocasião da manutenção de saldos negativos sucessivos e crescentes. O acompanhamento da evolução do T no decorrer de exercícios sociais sucessivos, bem como das causas das eventuais alterações de tendências percebidas, representa o cerne do modelo. (BRAGA; MARQUES, 1995, 55) O resultado da tesouraria deve ser analisado com cautela, pois, se existe folga financeira esta deve representar o saldo de aplicações financeiras, ou, até mesmo, de outros ativos com alta liquidez e apropriada remuneração. O mesmo não poderia ser dito para tesouraria positiva, formada por elevados saldos em contas indeterminadas como outros créditos, adiantamentos, entre outras, que poderiam esconder recursos 24 cujas realizações dificilmente aconteceriam. Do mesmo modo, uma tesouraria positiva com elevados saldos em disponibilidades expressa a inoperância da gerência de recursos financeiros, tendo em vista que os recursos disponíveis deveriam estar aplicados em outros ativos da empresa na busca de maior rentabilidade. Tesouraria (T) pode ser demonstrada pela seguinte fórmula: T = ACF – PCF Sendo: Tesouraria (T) Ativo Circulante Financeiro (ACF) Passivo Circulante Financeiro (PCF) 2. 2. 3. 1 – Índice de Geração de Caixa (EBITDA) Segundo Marques: Esse conceito de EBITDA corresponde, simplesmente, ao caixa gerado pelos ativos genuinamente operacional. Afinal, o lucro antes dos juros (tanto receitas como despesas financeiras), do Imposto de Renda e da Contribuição social sobre o Lucro e antes das depreciações e amortizações e exaustões, corresponde ao potencial de caixa que o ativo operacional de uma empresa é capaz de produzir, antes de considerar inclusive o custo de qualquer capital tomado emprestado. Não corresponde ao efetivo fluxo de caixa físico já ocorrido no período porque parte das vendas pode não estar recebida e parte das despesas pode não estar paga. Mas 25 representa o potencial de geração genuinamente operacional de caixa. (MARQUES, 2004, 236). 2. 2. 3. 2 – Ciclo Econômico e Ciclo Financeiro Segundo Fleuriet: O ciclo econômico caracteriza-se pelo prazo decorrido entre as entradas de matérias-primas (compras) e as saídas de produtos acabados (vendas), enquanto o ciclo financeiro caracteriza-se pelo prazo decorrido entre as saídas de caixa (pagamentos a fornecedores) e as entradas de caixa (recebimentos de clientes). Como pode-se observar , o ciclo financeiro apresenta-se “defasado” em relação ao ciclo econômico, visto que os movimentos de caixa ocorrem em datas posteriores às datas das compras de matérias-primas e vendas de produtos acabados. Os ciclos econômico e financeiro, relacionam-se, aproximadamente, através da seguinte expressão: ciclo financeiro = ciclo econômico + prazo médio de recebimento das contas a receber – prazo médio de pagamento das contas a pagar. Ciclo financeiro = prazo médio de rotação de estoque (PME) + prazo médio de recebimento das contas a receber (PMR) – prazo médio de pagamento das contas a pagar (PMP). (Fleuriet 2003, 6). 2. 2. 4 – ESTRUTURA E ENDIVIDAMENTO Ross, Westerfield e Jordan (2000, 340, 341) conceituam a alavancagem financeira como a intensidade pela qual a empresa está endividada. Quanto mais finan- 26 ciamento por meio de capital de terceiros a empresa utilizar, maior será o grau de alavancagem financeira empregado. A alavancagem financeira pode ter um efeito drástico nos resultados para os acionistas de uma organização. Todavia, a alavancagem financeira pode não alterar o custo geral do capital da empresa. Assegura Santos (2000, 86) que a alavancagem financeira resulta da utilização de recursos de terceiros sujeitos a juros, que aumentam, ou reduzem, os resultados disponíveis para investimentos. Assim, a alavancagem financeira consiste na capacidade da empresa em usar capital de terceiros para maximizar os efeitos de variação no lucro, antes dos descontos dos juros e do imposto de renda sobre o lucro. O grau de alavancagem financeira é medido pelo quociente entre o lucro operacional e o lucro tributável. Em consonância com a definição de grau de alavancagem emitida por Santos (2000, 86, 87), temos que: “Define-se o grau de alavancagem financeira como o quociente entre a variação percentual do lucro líquido disponível para os investidores e a variação percentual do lucro operacional.” Onde: Lucro Operacional (antes da dedução das despesas financeira e IR) (LO) Lucro líquido (depois de juros e IR) = LL Vendas, admitida igual à produção = V Despesas financeiras fixas = J Custo fixo = CF Custo variável = CV Receita total = RT 27 Patrimônio líquido = PL Desta forma, pode-se calcular o grau de alavancagem financeira, por meio da seguinte fórmula: GAF = LO / (LO-J) 2. 2. 4. 1 - Alavancagem financeira excessiva Segundo Santos: Caracteristicamente, no Brasil, recursos de longo prazo para investimentos são extremamente escassos; praticamente são provenientes de fundos e fontes oficiais e inexiste um mercado de capitais expressivo que viabilize a utilização da poupança privada, sob a forma de capital de risco, com retorno a longo prazo. Por serem cobrados juros substancialmente inferiores nos financiamentos de longo prazo originados da poupança institucional, há forte incentivo à excessiva alavancagem financeira. Entretanto, à medida que aumenta a alavancagem, em contrapartida também cresce o risco de insuficiente capacidade de pagamento futura da empresa. Outra possível conseqüência do excesso de alavancagem situa-se na maior probabilidade de ocorrer incapacidade financeira do empresário para complementar com recursos próprios ou captar em mercado necessidades adicionais imprevistas na fase de execução dos orçamentos. Nesses casos, a participação acentuada de recursos de terceiros inibe a entrada de novos parceiros, originando situação em que a execução de projetos é paralisada. Retomadas futuras criam custo adicionais que reduzem a rentabilidade do investimento. Há linhas de financiamentos de bancos de fomento que permitem expressiva participação relativa no investimento total projetado, e a elevada alavancagem, associa- 28 da a prazos e juros favoráveis, tem a exata função de propulsionar investimentos, aumentando a atratividade para pequenos e médios empresários. Admita-se que um projeto contemple uma participação de 70% de financiamento de longo prazo (30% de capital próprio do empresário). Um aumento imprevisto de 10% no valor dos investimentos, se tiver de ser complementado exclusivamente por capital de risco, representará uma exigibilidade adicional de 33% sobre a participação original do empresário. Como uma característica das atividades dos bancos de desenvolvimento é assumir riscos da espécie, fomentando o surgimento ou o crescimento de empresários em regiões incentivadas, o apoio complementar do banco financiador torna-se fundamental, sob a forma de orientação e acompanhamento nas fases de elaboração e execução do projeto. (SANTOS, 2000, 137, 138). 2. 2. 4. 2 – RISCO FINANCEIRO E RENTABILIDADE DO CAPITAL PRÓPRIO Segundo Santos: Há estreita relação entre retorno do capital próprio e estrutura de capital de uma empresa. Quando a taxa de rentabilidade do ativo é superior à taxa de juros média do endividamento, à medida que é utilizada maior proporção de recursos de terceiros mesmo que haja diminuição do lucro liquido, em termos relativos, aumenta o lucro disponível para os acionistas, por unidade de capital investido. Daí resulta a denominação – alavancagem financeira -, que consiste na capacidade de ser incrementada a rentabilidade do capital próprio mediante a utilização de capital de terceiro. (Santos, 2000, 93) 29 Risco Financeiro Capacidade de pagamento Alavancagem Financeira Relações entre risco e retorno 2. 2. 4. 3 – ESTRUTURAS FINANCEIRA E O RISCO A Dinâmica do Resultado Econômico Operações de produção e venda Operações de repartição Venda Resultado Econômico Produção Compra Despesas e rendas financeiras Imposto de Renda Dividendos Autofinanciamento Fonte: Adaptada. A Dinâmica Financeira das Empresas Brasileira, Michel Fleuriet (2003, 19). 30 Segundo Fleuriet (1980), as empresas apresentam estruturas financeiras e níveis de riscos diferentes conforme o seu ciclo econômico e a sua rentabilidade. A estrutura financeira da empresa é avaliada por meio de três indicadores – Capital de Giro (CDG), Necessidade de Capital de Giro (NCG) ou Investimento Operacional em Giro (IOG) e o Saldo de Tesouraria (T), que associados revelam a existência de quatro tipos diferenciados de estrutura patrimonial, com a respectiva situação financeira variando de excelente a péssima. Segundo Chaves (2002, 40), a classificação de balanços em diferentes formas de determinados elementos patrimoniais, que também é descrita por Braga (1991 p.17 e 18), classifica 6 tipos de estrutura patrimonial. E Brasil e Brasil (1996 p. 31) diz que o modelo de análise desenvolvido a partir do estudo das variáveis NCG, CDG e ST, “permite definir o perfil conjuntural e estrutural das empresas, vinculado, respectivamente, à política financeira adotada (nível de risco) e ao negócio”. Estruturas patrimoniais apresentadas por Braga: Tipo CDG NCG ST Situação I + - + Excelente II + + + Sólida III + + - Insatisfatória IV - + - Péssima V - - - Ruim VI - - + Arriscada 31 Quadro V – Comportamento entre as estruturas patrimoniais apresentadas por Braga e Fleuriet Classificação feita por Braga Tipo I II III IV V VI Característica da Classificação feita por Fleuriet estrutura patrimonial Tipo Classificação Classificação CDG maior que zero Excelente NCG menor que zero 2 Sólida ST maior que zero Excelente, porém, mais CDG maior que zero sensível a um aumento, Sólido NCG maior que zero 4 ou diminuição de vendas, ST maior que zero que a estrutura das empresas do tipo 1 CDG maior que zero Não considera a situação Insatisfatória NCG maior que zero 1 grave quanto à elevação ST menor que zero da NCG é temporária CDG menor que zero Empresa que luta pela Péssima NCG maior que zero 3 sobrevivência / Risco de ST menor que zero insolvência elevado CDG menor que zero Muito ruim NCG menor que zero Não classificada ST menor que zero CDG menor que zero Alto risco NCG menor que zero Não classificada ST maior que zero Fonte: Apud Chaves, 2002, p.41. Neste quanto foi efetuada uma comparação do comportamento dos modelos apresentados por Braga e Fleuriet, os quais foi dado um tratamento diferenciado a classificação quanto ao tratamento de risco. Segundo Claves (2002, 42), a forma de classificação apresentada por Assaf Neto, grupa os 6 tipos de estrutura em 3 grupos, graduados por risco: 32 Quadro VI - Classificação das estruturas patrimoniais apresentadas por Assaf Neto Classificação por grupo Baixo risco Médio risco Alto Risco Característica da estrutura patrimonial CDG maior que zero NCG menor que zero ST maior que zero CDG maior que zero NCG maior que zero ST maior que zero CDG maior que zero NCG maior que zero ST menor que zero CDG menor que zero NCG maior que zero ST menor que zero CDG menor que zero NCG menor que zero ST menor que zero CDG menor que zero NCG menor que zero ST maior que zero Fonte: Apud Chaves, 2002, p.41. A classificação de risco em três grupos, dada por Assaf Neto, facilita a tomada de decisão por parte do usuário das informações contábeis. Entretanto entendemos que esta facilidade poderá vir beneficiar ou prejudicar determinada empresa que busca recursos externos. 2. 2. 4. 4 – As diferentes modalidades de financiamento Uma necessidade primordial, para o empresariado contido nesse grupo em estudo, é a de saber como diferenciar as diversas modalidades de financiamentos 33 existentes no mercado, tendo em vista que estes financiamentos poderão ser adquiridos por intermédio de várias instituições financeiras. Para tanto, os micro, os pequenos e os médios empresários, do setor de construção civil, precisam montar uma estratégia para poder saldar seus compromissos financeiros, tendo em vista, que seus ativos, de um modo geral, são de mais longa realização, como é o caso dos estoques de terrenos para construção ou imóveis em construção e, até mesmo, os imóveis construídos. Além do que, na maioria das vezes, os prazos médios de recebimentos também são de longo prazo. Neste contexto, o ciclo econômico e o ciclo financeiro variam no setor estudado com muita intensidade, tendo em vista que as compra de materiais necessários ao desenvolvimento da atividade geralmente são feitas com prazo de pagamento não superior a 90 dias, enquanto que a rotação de seus estoques é muito lenta, sendo às vezes até ilíquidos, considerando-se o fato de que não se realiza uma venda de um imóvel de imediato para saldar uma dívida que venha vencer em trinta dias. Esta perspectiva, do ponto de vista do ciclo econômico, seria tratada como ativos de curto prazo e figuraria no ativo circulante cíclico para a maioria das atividades. No entanto, entendemos que este tratamento não pode ser dado ao setor de construção civil. Segundo Michel Fleuriet (1980), os ativos de Realizável de Longo Prazo são classificados no Balanço como Ativos não Circulante. Mas, devido à tipicidade que envolve o setor de incorporação e construção civil, seria prudente um estudo dando enfase baixa rotatividade dos estoques. O que demonstra uma certa fragilidade do setor estudado. 34 Outro ponto que não podemos deixar de observar, diz respeito à necessidade da carência mais adequada para que as pequenas e médias empresas possam liquidar seus empréstimos, levando-se em consideração as dificuldades causadas pelo seu ciclo operacional. Entre as diferentes modalidades de financiamento do capital de giro disponível aos setores produtivos, de um modo geral, devemos destacar algumas destas modalidades, bem como algumas instituições financeiras que operam com este tipo de financiamento, além de destacarmos as taxas de juros geralmente praticadas, conforme pesquisa de maio 2005, na revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios. 35 Quadro VII Quadro VII O CUSTO DO DINHEIRO Comparação das taxas de juros das principais linhas de financiamento para empresas - em % ao mês Linha de Caixa HSBC de 2,1 a 5,0 de 2,1 a 5,7 de 1,5 a 9,3 de 2,1 a 4,5 de 1,9 a 5,0 de 1,9 a 3,7 de 1,6 a 3,4 de 1,8 a 4,9 de 2,1 a 4,8 Hot money de 1,4 a 8,0 não informou de 1,4 a 4,3 de 1,8 a 6,5 de 3,1 a 4,8 de 1,4 a 4,6 de 1,9 a 4,6 de 1,9 a 6,7 de 1,8 a 4,5 Capital de giro de 1,4 a 6,5 de 1,0 a 5,9 de 1,2 a 9,2 de 1,5 a 6,4 de 1,9 a 5,4 de 2,6 a 4,7 de 1,1 a 5,1 de 1,5 a 4,9 de 1,8 a 4,0 Aquisição de bens de 2,2 a 7,6 não informou não informou de 1,9 a 5,3 não informou de 1,8 a 4,8 de 1,0 a 3,3 de 1,6 a 3,3 de 1,9 a 4,9 Conta garantida de 1,4 a 6,5 de 2,3 a 7,8 de 0,4 a 14,2 de 3,5 a 6,7 de 1,5 a 7,4 de 1,5 a 5,4 de 1,9 a 6,6 financiamento/Banco Desconto de duplicata Banco Banco Bank Real do Brasil Boston Bradesco de 1,8 a 4,0 de 2,4 a 7,6 Itaú Santander Unibanco Desconto de promissória não informou de 2,1 a 7,6 não informou de 3,5 a 4,8 não informou de 2,1 a 5,0 não informou de 1,9 a 4,9 de 2,1 a 4,8 Vendor de 1,2 a 2,0 de 1,7 a 4,9 de 1,4 a 3,2 de 1,4 a 3,6 não informou de 1,5 a 4,6 Fonte: Banco Central Pequenas Empresas e Grandes Negócios / maio 2005 - p. 64 de 1,1 a 4,3 de 1,3 a 2,8 de 1,8 a 3,5 36 De um modo geral, as instituições financeiras negam um financiamento às microempresas, às pequenas e às médias empresas por não disporem de garantias reais, tais como: imóveis, máquinas, etc. Que servem para garantir seus empréstimos numa possível falta de pagamento dos mesmos. Outro motivo bastante relevante é que muitas vezes as empresas têm seus nomes registrados no Cadin por falta de pagamento das obrigações tributárias, dificultando seu acesso a qualquer linha de crédito disponível. O mesmo acontece quando uma empresa está inadimplente com o sistema financeiro ou com alguma concessionária de serviços públicos e tem seu nome lançado no SERASA. Se não bastasse o que foi descrito acima, a maioria das microempresas, das pequenas e das médias empresas do setor não cuidam bem dos documentos necessários para uma abertura de crédito junto às instituições financeiras, por não disporem, muitas vezes, de balanço e da demonstração de resultado, além de não contarem com as certidões atualizadas, o que só vem dificultar na obtenção de financiamentos. Outro motivo para que sejam negados empréstimos às empresas, de um modo geral, é o fechamento de linhas de crédito, que se torna também um grande empecilho na obtenção de financiamento. Todavia, isto geralmente ocorre quando o Governo impõe medidas recessivas, ou, então, eleva o depósito compulsório das instituições financeiro junto ao Banco Central, com o propósito de tirar o dinheiro de circulação, e, por causa disso os Bancos são obrigados a fechar algumas linhas de financiamento. Outra causa que leva as instituições financeiras a negarem financiamento às empresas são os projetos inviáveis que apresentam riscos estruturais e econômicofinanceiros, não mostrando claramente qual o retorno esperado. 37 Como nosso estudo está centralizado na análise do Capital de Giro das empresas do setor de construção civil, procuramos dar um destaque às principais operações desenvolvidas pela Caixa Econômica Federal, as quais, bem planejadas, podem vir a beneficiar as empresas do setor. Entretanto, não podemos deixar de ressaltar que as empresas que por ventura queiram operacionalizar com a Caixa, deverão estar bem estruturadas, pois as análises de riscos, tanto do ponto de vista do projeto de engenharia bem como os riscos econômico-financeiros são bastante rigorosas. Em seguida procuramos relacionar os principais programas disponíveis no momento. Quadro - VIII A RESPOSTA É NÃO! Razões alegadas pelos bancos para não dar empréstimos às micro e pequenas empresas Falta de garantias reais 40% Registro no Cadin / Serasa 16% Insuficiência de documentos 12% Inadimplência das Empresas 9% Linhas de créditos fechadas 7% Projetos inviável 4% Outras* 12% Fonte: Sebrae - SP Pequenas Empresas e Grandes Negócios / maio/ 2005 – p. 69 *Inclui conta nova no banco saldo médio que não permite o pedido de empréstimo. 38 2. 2. 4. 4 – PROGRAMAS DA CAIXA DESTINADOS A EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL: (Pesquisa realizada no dia 19 de maio de 2005 – no site da Caixa Econômica Federal – portal – Para sua Empresa) 1 PARA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÃO 1.1 PROGRAMA DE APOIO A PRODUÇÃO DE HABITAÇÕES – RECURSOS DO FGTS Objetivo: Linha de crédito para produção de empreendimentos habitacionais, com financiamento direto à pessoa jurídica do ramo da construção civil, constituída sob a forma de Sociedade de Propósito Específico – SPE e com comercialização comprovada de, no mínimo, 30% das unidades habitacionais do empreendimento/módulo e execução de obras com recursos próprios de no mínimo 15% ou percentual definido na análise econômico-financeira do projeto. Condições: Prazo: Prazo máximo de 60 meses, englobando o prazo de construção e de amortização, sendo: - Construção: máximo de 24 meses - Amortização: máximo de 36 meses Encargos financeiros: - Na fase de construção: a taxa de juros é de 10,16% a.a, mais atualização monetária com base em índice aplicado às contas do FGTS e seguros, mensalmente, sobre o saldo devedor. - Na fase de amortização: a taxa de juros de 12% a.a, mais atualização monetária. Limites: As unidades habitacionais do empreendimento têm o seu valor de venda/avaliação limitado a, no máximo, R$80.000,00. 39 1.2 PROGRAMA DE CARTA DE CRÉDITO ASSOCIATIVO – IMÓVEL NA PLANTA Objetivo: Linha de crédito para produção de empreendimentos habitacionais e lotes urbanizados, com financiamento direto às pessoas físicas, agrupadas em condomínios ou por sindicatos, cooperativas, associações ou pessoas jurídicas voltadas à produção habitacional. Condições: Prazos: - De construção: até 24 meses - De amortização: mínimo de 12 meses e máximo de 240 meses Encargos financeiros: - Taxa de juros e atualização monetária. A taxa de juros varia de acordo com a renda familiar mensal do proponente; Renda familiar bruta Taxa de juros nominal a.a Taxa de juros efetiva a.a Até R$ 1.500,00 6,00% 6,1677% De 1.500,01 a 3.900,00 8,16% 8,4722% De 3.900,01 a 4900,00 10,16% 10,6467% Limite de financiamento: a unidade habitacional deve ter um valor máximo de R$ 72.000,00 Modalidades: construção em terreno próprio, aquisição de terreno e construção, produção e aquisição de lote urbanizado. Neste programa a CAIXA poderá emprestar, diretamente à empresa construtora, o valor correspondente a 30% das unidades habitacionais. 2 PARA CAPITAL DE GIRO 2.1 CONSTRUGIRO – ANTECIPAÇÃO DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS Objetivo: Operação destinada a antecipar fluxo de caixa de empresa privada do ramo da construção civil, lastreada em recebíveis imobiliários oriundos de plano de autofinanciamento, objetivando a obtenção de capital de giro. 40 Condições: Prazo: o prazo máximo da operação é de 36 meses. Taxa de juros: variável, informada diariamente em boletim interno da CAIXA, acrescida da TR. Limites: Até 80% do valor dos créditos analisados. Amortização: prestações mensais, compostas de amortização e juros pós-fixados. 2.2 CONSTRUGIRO – AQUISIÇÃO DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS Objetivo: Operação destinada a antecipar fluxo de caixa de empresa privada do ramo da construção civil, através de aquisição de recebíveis imobiliários oriundos de autofinanciamento, objetivando a obtenção de capital de giro. Condições: Prazo: é o prazo dos direitos creditórios adquiridos Taxa de juros: A taxa de juros/desconto utilizada no cálculo do valor presente líquido – VPL de cada contrato é a do custo de oportunidade da área de crédito imobiliário, acrescida da taxa de risco por contrato e taxa de descasamento entre o índice utilizado na carteira e aquele utilizado na fonte de origem pela CAIXA – TR. No que tange a taxa de juros dos contratos de promessa de compra e venda ou contratos de aquisição definitiva/transferência de propriedade firmado entre a construtora e os promitentes compradores, estas permanecerão conforme estabelecido no contrato. Limites: Até 80% do valor dos créditos analisados. 41 3 – ANÁLISE DOS CASOS A diretoria financeira de uma empresa tem a função de acompanhar a evolução do Saldo de Tesouraria a fim de evitar que o mesmo fique negativo e crescente. Tem-se observado que a maior parte das empresas da amostra apresenta o Saldo de Tesouraria positivo nos dois exercícios estudados, o que nos leva a acreditar que estão operando com uma estrutura financeira adequada, não indicando uma dependência acentuada de empréstimos em curto prazo. O que não acontece com a empresa “E” que nos dois estudos apresentou um Saldo de Tesouraria negativo e crescente, o que demonstra uma dependência bastante acentuada em tomar empréstimos de curto prazo, o que poderá conduzi-la à insolvência. Esta insolvência ocorre porque estas empresas, que operam com o Saldo de tesouraria negativo, passam por grandes dificuldades para pagar seus empréstimos de curto prazo. As dificuldades se acentuam quando há uma recusa, por qualquer motivo, dos bancos em renovar os empréstimos já concedidos. Um exemplo dessa situação ocorre quando o Banco Central aumenta o compulsório dos bancos, usando este instrumento de controle monetário para restringir o crédito, nesse contexto agrava-se a situação das empresas que estão operando com Saldo de Tesouraria negativo. O Saldo de Tesouraria negativo em período de recessão econômica, quando se verifica uma queda acentuada nas vendas, é bastante crítico, pois, provoca um aumento significativo na Necessidade de Capital de Giro. Esse fato acontece porque 42 o autofinanciamento não é capaz de financiar o aumento da Necessidade de Capital de Giro, obrigando a empresa a recorrer aos empréstimos externos de curto e/ou de longo prazo, ou então, ao aumento do capital social em dinheiro. Na falta desses fundos, o que é freqüentemente comum num período de recessão, a continuidade da empresa ficará enfraquecida. Por outro lado, o Saldo de Tesouraria continuará mais negativo com um aumento rápido das vendas, se, proporcionalmente, a Necessidade de Capital de Giro não aumentar em níveis maiores do que o Autofinanciamento, e, com isso, a empresa não consiga aumentar seu Capital de Giro, por intermédio da obtenção de recursos de fontes externas. Esse aumento negativo do Saldo de Tesouraria denomina-se efeito tesoura. Em $ NCG Efeito tesoura CDG Anos Efeito Tesoura - Fonte: Adaptada do Modelo apresentado por Silva (2001, 392). Analisando a estrutura financeira e o risco das dez empresas estudadas, de acordo com o modelo Fleuriet, podemos observar que as empresas “A”, “B” e “C” têm uma situação sólida para os dois anos estudados. Porém, quando analisamos sob a perspectiva tradicional verifica-se que as empresas “A” e “B” se mantêm sólidas segun- 43 do os indicadores de liquidez e endividamento, apesar de sua margem líquida ser relativamente baixa, além das taxas de retorno sobre os ativos e o patrimônio líquido serem muito pequenos para os dois anos em questão. Já quanto à empresa “C”, verifica-se que ela se mantém sólida quanto ao indicador de liquidez corrente. No entanto, não podemos ter a mesma convicção quanto ao indicador de liquidez seca, tendo em vista que o mesmo baixou em 2003 com relação a 2002, o mesmo acontecendo com o indicador do endividamento, pois, em 2002 este era de 35,05% passando para 64,79% no ano de 2003. Como se não bastasse o elevado grau de endividamento, a empresa tem suas taxas de margem líquida e seus retornos sobre seus ativos e patrimônio liquido muito baixos e, no ano de 2002, estas taxas foram negativas, o que indica claramente que a empresa não está produzindo lucros para formar capital de giro para saldar suas dívidas. Este quadro a deixa numa situação desconfortável, levando em conta as dificuldades de captar recursos externos, o que poderá levá-la a insolvência. Do ponto de vista do modelo Fleuriet, a empresa “D”, no de 2002, apresentou uma situação arriscada passando para uma situação sólida no ano de 2003, ocorrendo a mesma situação quando analisamos pela ótica da analise tradicional. Podemos verificar, então, uma acentuada elevação de seus indicadores de liquidez, apesar da margem líquida ter sido negativa em 2003 e as taxas de retorno sobre os ativos e o patrimônio líquido serem também negativas. Todavia seu índice de endividamento que fora de 50,69% em 2002, no ano de 2003 foi reduzido para 12,52%, o que provavelmente facilitará na captação de recursos externos. Enquanto as empresas “E” e “F” apresentam uma situação insatisfatória no dois anos estudados, com relação ao modelo Fleuriet, podemos verificar que esta 44 situação persiste também quando as analisamos do ponto de vista tradicional, pois a empresa “E” teve uma grande redução nos seus indicadores de liquidez em 2003 em comparação a 2002, e a margem liquida foi negativa em 2003, além das taxas de retornos sobre os ativos e patrimônio liquido serem negativos em 2003. Por outro lado, seu endividamento que fora de 29,71% em 2002, passou para 54,88% em 2003. Já a empresa “F” no período estudado não apresentou receita, o que nos levou a estudar melhor sua gestão. Podemos verificar que a mesma empresa aumentou substancialmente seu endividamento passando de 0,97% em 2002 para 88,56% em 2003, o que a dificultará possivelmente tomar empréstimos externos. As empresas “G”, “H”, “I” e “J” classificadas como prestadora de serviços no setor estudado demonstram ter uma situação sólida para o ano de 2002 e excelente para o ano 2003, quando estudamos pela ótica do modelo tradicional também é possível verificar que as empresas estudadas mantêm sua solidez, considerando que todas têm baixo índice de endividamento. O mesmo observando que a empresa “H” apresentou, em 2003, margem líquida e suas taxas de rentabilidade dos ativos e o patrimônio líquido negativas, o que, de acordo com nossa avaliação, aponta que esta empresa terá capacidade de captar recursos externos. 45 Quadro IX Medidas de Desempenho Financeiro em mil reais CDG NCG ST EMPRESAS 2003 2002 2003 2002 2003 2002 A 2.416 2.633 2.052 2.077 364 554 B 1.439 1.458 1.059 1.349 380 109 C 8.604 3.652 8.525 3.550 655 370 D 3.837 -814 3.714 -963 123 149 E 4.635 11.395 11.338 11.810 -6.703 -415 F 6.936 1.250 7.898 1.250 (962) - G 43 36 (14) (3) 57 39 H 28 161 (31) 88 59 73 I 16 97 (43) 55 59 42 J 297 1.281 163 526 134 755 Fonte: Adaptada de Marques (2004, 264). Quadro X Medidas de Desempenho Financeiro em % CDG / VL NCG / VL ST / VL EMPRESAS 2003 2002 2003 2002 2003 2002 A 1,94 1,18 1,65 0,93 0,29 0,25 B 4,61 4,78 3,39 4,42 1,22 0,36 C 3,09 1,17 3,06 1,13 0,23 0,12 D 4,55 -0,96 4,41 -1,13 0,15 0,018 E 2,15 2,66 5,27 2,76 -3,11 -0,1 F 0 0 0 0 0 0 G 0,34 0,32 -0,11 -0,03 0,45 0,34 H 0,02 0,18 -0,03 0,09 0,05 0,08 I 0,01 0,13 -0,04 0,07 0,06 0,05 J 0,7 0,35 0,38 0,15 0,31 0,21 46 Fonte: Adaptada de Marques (2004, p.264). Principais indicadores tradicionais Com base na estrutura do Balanço conforme modelo tradicional, nos é permitido calcular alguns indicadores financeiros tradicionais muito usados em análise de risco econômico-financeiro das empresas. De um modo geral, demonstramos estes indicadores a seguir: 47 Quadro XI PRINCIPAIS INDICADORES TRADICIONAIS Liquidez Corrente EMPRESAS 2003 2002 Liquidez seca 2003 2002 Endividamento Margem Líquida 2003 2003 2002 2002 Rent. do Ativo 2003 2002 Rent. do PL 2003 2002 A 6,74 7,24 2,84 2,98 11% 16% 1,76% 8,90% 0,51% 4,32% 0,71% B 10,85 11,26 5,16 3,73 7,94% 5,28% 11,54% 11,15% 0,61% 0,59% 0,71% 0,67% C 6,51 6,06 0,84 1,89 64,79% 35,05% 1,14% -9,06% 0,27% -2,75% 0,77% -6,93% D 6,07 0,70 1,42 0,32 12,52% 50,69% -17,67% 1,41% -2,03% 0,21% -2,40% 0,70% E 1,54 7,32 0,14 1,24 54,88% 29,71% -112,77% 2,31% -14,09% 0,67% -31,48% 0,97% 0,16 6,44% F 7,07 88,56% 0,97% -0,60% -0,07% -5,29% -2,70% G 4,07 13 4,07 13 14,74 3,89% 53,17% 48,25% 70,53% 71,43% 82,72% 74,32% H 1,57 8,66 1,57 8,66 20,25% 8,17% -2,29% 29,66% -11,98% 112,06% -15,03% 122,03% I 1,37 7,92 1,37 7,92 5,87% 2,61% 31,4% 14,46% 50,55% 22,39% 53,70% 22,99% J 2,24 6,82 2,24 6,82 40,27% 14% 107,47% 25,16% 77,18% 59,09% 129,21% 68,94% 48 Com Balanço Reestruturado conforme propõe o novo modelo, é possível calcular algumas medidas de desempenho financeiro, as quais dão ênfase a três indicadores de desempenho decisivos na avaliação da estrutura financeira e o risco de cada empresa em estudo, tendo em vista que podemos avaliar com certa precisão o Necessidade de Capital de Giro (NCG), o Capital de Giro (CDG) e o Saldo em Tesouraria (ST). Conforme está descrito a seguir: 49 Quadro XII BALANÇO - CONFORME MODELO FLEURIET - 2.2 Em mil $ CONTAS EMPRESA -A 2003 ATIVO ATIVO CIRCULANTE EMPRESA -B EMPRESA -C 2002 4.244 4578 2003 2002 5814 5750 2003 2002 11766 10323 EMPRESA -D EMPRESA -E EMPRESA -F EMPRESA -G EMPRESA -H EMPRESA -I EMPRESA -J 2003 2003 2003 2003 2002 7330 5500 2002 17220 14744 2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002 2002 8280 1303 95 77 242 257 732 536 596 1540 1194 1258 754 529 1318 1366 1110 896 1221 2238 193 0 57 39 77 182 59 111 537 1501 364 554 380 109 655 370 123 149 57 62 33 0 57 39 59 73 59 42 134 755 323 539 353 88 607 363 123 149 57 62 33 0 59 73 59 42 134 755 41 15 27 21 48 7 0 0 CÍCLICO 830 704 374 420 663 996 987 747 1164 2176 160 0 18 109 0 69 403 746 Clientes 743 628 374 420 564 935 971 733 1.016 1.664 0 19 0 87 76 0 0 99 61 16 14 148 512 18 90 0 69 165 75 673 425 59 39 FINANCEIRO Caixa/Banco/Aplic. Impostos a Recuperar Adiantamentos ATIVO NÃO CIRCULANTE 3.050 3.320 5.060 5.221 10.448 8.957 6.220 4.604 15.999 12.506 8.087 1.303 1.643 1796 831 1071 8.846 3007 3484 1078 11.922 10958 7.885 REALIZÁVEL A L/PRAZO 1354 1475 2160 2090 1532 5867 2707 3526 53 49 2069 2060 70 83 29 4244 4578 5814 5750 11766 10323 7330 5500 421 422 146 142 1561 721 757 2788 8508 1801 421 422 146 142 984 453 757 2788 1748 577 268 0 0 6760 10205 9602 6573 2712 6063 2898 161 PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE CÍCLICO ONEROSO PASSIVO NÃO CIRCULANTE EXIGÍVEL A L/PRAZO REF (LÍQUIDO) PATRIMÔNIO LÍQUIDO 0 0 3823 4156 33 330 5668 5608 316 162 280 411 17 2611 213 1001 5072 5035 4125 4093 6199 1711 0 160 ESTOQUES DE IMÓVEIS PERMANENTE (LÍQ) 0 1250 38 38 4 4 34 34 3.755 1.296 0 322 252 202 53 17220 14744 8280 1303 95 1142 0 14 1324 147 0 14 477 995 8712 12943 7138 403 393 353 0 0 0 165 75 673 425 59 39 77 242 257 732 536 240 220 3 49 21 43 14 3 49 21 43 14 240 220 0 1303 943 2579 57 224 0 7712 10140 947 37 81 74 6191 1.266 193 236 689 522 356 1320 193 236 689 522 356 1320 0 0 696 754 3094 3072 0 1125 2181 321 436 2427 3319 0 0 596 740 0 0 0 0 0 188 129 58 46 566 357 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 865 879 1686 3838 0 0 135 122 1279 980 1.183 830 464 3848 -62 -86 -21 -19 -154 -145 -22 -28 -129 -298 0 0 -9 -8 -13 -9 -8 -38 -232 -46 -158 -51 -397 0 0 0 0 0 0 0 2788 3134 843 851 4280 0 0 126 114 1266 971 1171 822 -1817 -2503 -764 -681 -2047 -3.011 0 0 -54 -51 -971 -473 -415 -304 81 74 DEMONST. DO RESULTADO Receita Venda de Imóveis Receita Financ.s/Venda de Imóveis Receita Prestação de Serviçõs (-)Imp. Incidente s/Venda e Serviço (-)Vendas Canceladas -4 Receita Líquida 1247 2224 312 305 (-)Custo de Vendas / Serviços -723 -1453 -158 -265 Lucro Bruto (-)Despesas Operacionais 524 771 154 40 971 631 79 -495 -503 -146 -155 -931 -915 -228 36 149 (+)Outras Receitas 143 (-)Deprec./ Amortização 170 2153 106 -12 0 1269 0 0 72 63 295 498 756 518 -175 -2.534 -1.140 -50 -1 -2 -5 -235 -144 -281 -339 21 426 3616 -2.540 426 1076 -32 34 -6 (-)Custo Ex. Anterior -137 Lucro Antes da CSLL 29 268 44 34 40 -284 -149 16 -2428 129 -50 -1 70 58 Provisão p/ CSLL -3 -26 -3 0 -3 0 0 -1 0 -11 0 0 -1 -2 Lucro Ante do IRPJ 26 242 41 34 37 -284 -149 15 -2428 118 -50 -1 69 -284 -149 12 -50 -1 Provisão p/ IRPJ -4 -44 -5 0 -5 Lucro Líquido do Exercício 22 198 36 34 32 -3 -19 -2428 99 60 354 475 179 460 1044 56 60 354 475 179 460 993 -2 -1 -89 -66 -105 -59 67 55 -29 288 370 120 460 910 -51 -83 50 Por intermédio da combinação dos indicadores de desempenho financeiro, apurados no quadro 9, podemos analisar com clareza qual o tratamento dado à administração do capital de giro das empresas em geral. Entretanto, no caso do setor que nos propomos estudar, estes indicadores, em nosso entendimento, não reflete a realidade do setor . À luz de nossa pesquisa, sugerimos imputar à discussão a necessidade de uma nova reestruturação dentro da teoria do Michel Fleuriet, o que procuraremos enfocar em seguida, este assunto que entendemos ser necessário que o setor em estudo. Segundo reorganização do balanço das empresas, Fleuriet considera como não circulante o Ativo Realizável de Longo Prazo e o Ativo Permanente, ou seja, os ativos de maior prazo de realização. Dentro deste contexto, por se estar pesquisando um caso atípico como é o caso do setor de incorporação e construção civil que tem um ciclo operacional relativamente longo, em média entre 18 e 24 meses considerando-se apenas o período de construção, sem abalizarmos o período correspondente à elaboração e à aprovação do projeto de engenharia, expomos para discussão a reclassificação dos estoques de imóveis como não circulante, dado que, na maioria das vezes, estes ativos são ilíquidos, ou seja, suas vendas são demoradas. Desta forma, o seu giro não se deve dar na mesma velocidade dos estoques das empresas de outros setores, como é o caso do setor industrial estudado no modelo Fleuriet (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 1978), cujos estoques giram com bastante velocidade. De acordo com este contexto, efetuamos uma nova reclassificação dos balanços estudados, tentando ajustá-lo à realidade do setor em questão, melhor dizendo, alocando os estoques de terrenos, imóveis construídos e em construção no ativo não circulante. Após essa reclassificação, é possível verificar que as medidas de desempe- 51 nho financeiro sofreram mudanças substanciais dignas de uma melhor atenção, tanto pelos usuários das informações contábeis, bem como pelas empresas do setor, conforme demonstram os quadros a seguir. Quadro XIII Medidas de Desempenho Financeiro Em mil reais CDG NCG ST EMPRESAS 2003 2002 2003 2002 2003 2002 A 773 836 409 282 364 554 B 608 387 228 278 380 109 C -243 645 -321 543 78 102 D 353 -1892 230 -2041 123 149 E -7287 437 -584 852 -6703 -415 F -949 0 13 0 -962 0 G 43 36 -14 -3 57 39 H 28 161 -31 88 59 73 I 16 97 -43 55 59 42 J 297 1281 163 526 134 755 Fonte: Adaptada de Marques (2004, p.264). 52 Quadro XIV Medidas de Desempenho Financeiro Em % CDG / VL NCG / VL ST / VL EMPRESAS 2003 2002 2003 2002 2003 2002 A 0,62 0,38 0,33 0,13 0,29 0,25 B 1,95 1,27 0,73 0,91 1,22 0,36 C -0,09 0,21 -0,12 0,17 0,03 0,03 D 0,42 -2,22 0,27 -2,4 0,15 0,18 E -3,38 0,1 -0,27 0,2 -3,11 -0,1 F 0 0 0 0 0 G 0,34 0,32 -0,11 -0,03 0,45 0,34 H 0,02 0,17 -0,02 0,09 0,05 0,08 I 0,01 0,12 0,04 0,07 0,05 0,05 J 0,7 0,35 0,38 0,15 0,31 0,21 Fonte: Adaptada de Marques (2004, p264). Analisando as novas medidas de desempenho financeiro, conforme a nova reclassificação dos estoques, é possível constatar que com a nova reclassificação ficou mudada substancialmente a situação financeira das empresas “C”, “E” e “F”. A empresa “C” que apresentou uma situação sólida, na análise anterior para os dois anos estudados, com a nova análise é possível verificar que esta mesma empresa tem um nível elevado de risco de insolvência no ano de 2003, coadunando com o resultado verificado quando da análise tradicional no mesmo período, que apresentou um índice elevado de endividamento. A empresa “E”, por sua vez, apresentou uma situação insatisfatória na análise anterior para os anos estudados, enquanto na nova análise verifica-se que a situ- 53 ação da empresa piorou, passando para muito ruim conforme a classificação da estrutura patrimonial apresentada por Braga (1991). O que já fora identificado na análise pelo método tradicional, tendo em vista o alto índice de endividamento. Já a empresa “F” que fora classificada numa situação insatisfatória, na análise anterior para os dois anos em questão, na nova análise foi verificado que sua situação se agravou passando para péssima, ou seja, apresenta um elevado risco de insolvência. O que também foi verificado na análise anterior feita no molde tradicional, pois a empresa apresentou alto índice de endividamento. 54 4 – CONCLUSÃO Inicialmente, fato mais relevante que se observou foi no que tange a situação econômico-financeira desfavorável para o setor estudado nos anos de 2000 a 2003. Este intervalo de tempo contempla o período por nós estudado. Finalmente, concluímos que 70% das empresas analisadas pela ótica do modelo Fleuriet apresentam situações sólidas ou excelentes, enquanto 20% demonstram situação insatisfatória e apenas 10% apresentam uma situação arriscada em 2002. Em 2003 houve uma modificação em relação às empresas em situação arriscada passando para a situação de sólidas. Já quando recorremos aos indicadores tradicionais, verificamos que 80% das empresas apresentaram, em 2002, elevado índice de liquidez corrente, e, em 2003, todas as empresas mantiveram o índice de liquidez elevado. Quando enfocamos o endividamento, concluímos que 30% das empresas estudadas demonstram alto índice de endividamento e conclui-se que este endividamento não vem gerando recursos para as empresas em questão, tendo em vista que apresentam baixa rentabilidade sobre os ativos e o patrimônio líquido e, na maioria das vezes, são negativos. Para facilitar o entendimento do setor estudado, classificamos as empresas em três grupos: incorporação, incorporação e construção e prestadora de serviços. Sendo compreendido como incorporadora as empresas que apenas fazem o investimento, contratando uma construtora para a execução de seu projeto; a incorporadora e construtora acumula as duas funções, fazendo o investimento e a construção; já as prestado- 55 ras de serviços executam serviços de construção civil, para terceiros (órgãos públicos, pessoas físicas, pessoas jurídicas, etc). Em nosso estudo procuramos abarcar estas atividades relacionadas ao setor estudado. Para isto 10%, 50% e 40% são respectivamente incorporadora, incorporadora e construtora e prestadora de serviços. Dentro deste contexto, concluímos que as empresas incorporadoras estão bem estruturadas, fato que reflete uma boa estabilidade quando analisadas pelo modelo Fleuriet, bem como pelo o método tradicional, como é o caso da empresa “B”. Estas mesmas condições também nos parecem muito favoráveis quando analisamos as empresas prestadoras de serviços. Por outro lado, observamos que a maioria das empresas objetos deste estudo, que operam com a incorporação e construção simultaneamente, apresentam alto índice de endividamento, ou seja, captam financiamento no mercado para financiar suas necessidades de capital de giro, e na maior parte das vezes são obrigadas a fazer estas captações com elevadas taxas de juros por vários motivos já detectados no quadro IV da p. 29. Estas taxas, de certo modo, inviabilizam seus projetos. Outro ponto relevante a considerar: o prazo de carência dado pelas instituições financeiras para que as empresas do setor possam liquidar seus empréstimos é muito curto, o que de certo modo inviabiliza a liquidação de seus compromissos, principalmente quando o mercado está retraído por qualquer instabilidade financeira ou política, o que precisa ser mais bem estudado por parte do tomador de empréstimos, tendo em vista que seus estoques são de longo prazo de realização. Ao analisarmos o setor podemos verificar como são atípicos os estoques nas empresas incorporadoras e construtoras, pois são compostos geralmente dos seguintes itens: estoques de terrenos, imóveis em construção e imóveis construídos. Apesar da 56 literatura considerar como de curto prazo todos os produtos que estejam dentro do ciclo econômico, no caso do setor estudado, conclui-se que, por força da falta de liquidez em relação aos estoques, estes deveriam ser considerados como de longo prazo. Para fins desta análise. Neste contexto, ao reclassificarmos os balanços e considerando a teoria fleurietiana, constatamos uma mudança substancial nas medidas de desempenho financeiro das empresas “C”, “E” e “F”, que tiveram suas situações financeiras modificadas. Verificou-se que a empresa “C” que fora classificada na análise de risco anterior, (considerando-se os estoques no ativo circulante cíclico), apresentou uma situação sólida para os dois anos em estudo, enquanto na nova reclassificação a mesma empresa apresenta um nível elevado de risco, o que já havia sido identificado quando a analisamos pelo método tradicional. As empresas “E” e “F” também pioraram suas classificações, passando de insatisfatória para muito ruim, e de insatisfatória para péssima, respectivamente, confirmando o que já havia sido verificado quando da análise financeira pelo método tradicional. O que nos leva a crer que o novo modelo proposto, reflete melhor a realidade das empresas do setor de construção civil, independente do seu porte. Consideramos que houve algumas limitações, em nosso estudo, por conta da baixa qualidade e pouca transparência das informações contidas nos balanços patrimoniais e nas demonstrações contábeis das empresas estudadas dentro do período em questão. Dado ao fato já revelado quanto à qualidade dos Balanços Patrimoniais e suas Demonstrações Financeiras, não foi possível calcular o EBITDA. Já o ciclo econômico além das dificuldades relatadas, ainda devemos considerar a iliquidez dos esto- 57 ques além das vendas serem de longo prazo, que, na maioria, correspondem a um período entre 36 a 120 meses para que ocorram os recebimentos. Sem considerar-mos a inadimplência e, até mesmo, a rescisão de venda, o que de certo agrava mais a situação das empresas, tendo em vista que imóvel readquirido volta a compor os estoques. Devemos considerar que tanto o cálculo EBITDA como também o do ciclo econômico são importantes para a análise de risco das empresas. Alguns fatores são relevantes para que o setor das empresas de construção civil possam melhorar seu perfil junto às instituições financeiras no que se refere à captação de recursos para compor o capital de giro, conforme segue: Melhorar a qualidade e a transparência das informações; Reestruturar a empresa; Tentar encurtar os prazos de recebimentos e alongar os prazos de pagamentos; Buscar financiamento junto à Caixa Econômica Federal, em uma das modalidades de financiamento já citada, tendo em vista, que, na maioria das vezes, o financiado não a empresa e sim o usuário; Planejar sua necessidade de capital de giro, para não ser penalizada com as maiores taxas de juros; Procurar alongar o período de carência, levando em conta a iliquidez de seus estoques; Operar sob a forma de Sociedade de Propósito Específico – SPE. 58 Devemos registrar uma alerta para futuras pesquisa neste setor: a) quanto ao tratamento dos estoques; b) quanto ao tratamento dos recebíveis; c) quanto à carência necessária para facilitar a liquidação dos empréstimos. Quanto às considerações finais dentro de nossa observação a respeito do comportamento e da relevância dos estoques na análise do Capital de Giro, devemos assinalar que esta distorção possivelmente causará impacto nas empresas do setor estudado. Por fim, recomendamos que as empresas, que exploram o setor, procurem fazer parcerias com instituições financeiras para que proporcionem financiamento imobiliário a seus clientes, considerando que estes financiamentos são de longo prazo, além desta função não ser originariamente do setor, o que certamente viabilizaria novos investimentos, sem a necessidade de captar recursos de terceiros. Para isto, as empresas em questão talvez necessitassem de uma reestruturação. 59 5 - BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: AFONSO, R. A. E. DOAR versus fluxo de caixa. Temática Contábil e Balanços, IOB – Bol. 18/1999. ASSAF NETO, A.; SILVA, T. A. C. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. BRAGA, R. Análise avançada do capital de giro. 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Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo