1 Projeção da necessidade de médicos pediatras para Unidades de Terapia Intensiva Neonatal no Brasil: proposta de apoio ao estabelecimento da Rede Nacional de Economia em Saúde. Facilitadores Cristiana Leite Carvalho Joanne Spetz Sábado Nicolau Girardi Apoio Karen Matsumoto Carinne Magnago Eliane dos Santos de Oliveira Jackson Freire Araújo José Meneleu Neto Marcia Hiromi Sakai Maria Ruth dos Santos Paula Carvalho Pereda Raquel Rapone Gaidzinski Rodrigo Otávio Moretti-Pires Valdemar de Almeida Rodrigues Introdução A Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) é considerada um dos principais indicadores para avaliar a saúde das populações ao redor do mundo, com implicações diretas na definição de Políticas Públicas no campo da Saúde Infantil. Sua relevância neste campo revela-se por expressar a combinação de fatores biológicos, sociais, culturais, da infraestrutura dos serviços e da assistência à população nos Sistemas de Saúde. Tendo em vista estes aspectos, as intervenções que objetivam sua redução são mediadas por mudanças estruturais relacionadas às condições de vida, assim como ações diretas nos serviços de Saúde, definidas em suas Políticas Públicas. A TMI tem sido analisada, segundo dois componentes cujos determinantes se diferenciam: a mortalidade neonatal, que se caracteriza pelos óbitos entre crianças de 0 a 27 dias de vida; e a pós-neonatal, que congrega os óbitos daquelas com 28 dias a 1 ano de idade. No Brasil, a TMI apresenta tendência decrescente nos últimos 30 anos: em 1980, era de 78,5/1000 e, em 2009, 20,6/1000 nascidos vivos. Entretanto há diferenças importantes na TMI entre as diversas Regiões brasileiras: nas Regiões Nordeste (33,2/1000) e Norte (22,3/1000) os níveis atuais são ainda elevados, apontando para a relevância desta problemática. O componente pós-neonatal foi mais relevante para a composição da TMI até o final da década de 1980, havendo certa mudança de comportamento com a maior prevalência do componente neonatal atualmente, corresponde a cerca de 70% da Mortalidade Infantil (MI). O decréscimo da MI tem sido atribuído a diversos fatores: queda da fecundidade, maior acesso da população ao saneamento e serviços de saúde, aumento da prevalência de aleitamento materno, ações de imunização, antibioticoterapia e terapia de reidratação oral, entre outros (SIMÕES, 2003). A redução das TMI se constitui em uma das metas do milênio traçadas pela ONU. Para tanto, estabeleceu o compromisso de diminuir em três quartos a taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos de idade, em especial o componente neonatal (FRANÇA e LANSKY, 2008). No Brasil, as diretrizes do Pacto pela Saúde1 contemplam o compromisso firmado entre os gestores do SUS por resultados sanitários em função das necessidades de saúde da população, em suas três dimensões: pela Vida 2, em 1 2 Consolidação do Sistema Único de Saúde, publicado pela Portaria/GM nº 399, de 22 de fevereiro de 2006. Refere-se a ações específicas, por ciclos de vida. 2 Defesa do SUS3 e de Gestão4. A redução da MI está incluída entre os objetivos e metas do referido Pacto, com ênfase na mortalidade neonatal. A mortalidade neonatal decorre de problemas relacionados com o período da gravidez e com o parto, por sua vez intimamente relacionados com as características biológicas das mães, com as condições socioeconômicas das famílias e com a disponibilidade e qualidade da assistência à saúde perinatal. A concentração dos óbitos neonatais, principalmente nas primeiras horas de vida, evidencia a estreita relação entre estas mortes e a qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde, vez que ocorre durante o trabalho de parto e nos primeiros atendimentos da equipe de saúde à criança, no nascimento e no seguimento. Um dos profissionais que compõe a equipe das Unidades de Terapia Intensiva neonatal (UTI) é o médico pediatra, especialista5 que, além de atender urgência e emergência, atua em todos os níveis de atenção à saúde: promoção, proteção e recuperação da saúde. Assim, para o atendimento das emergências e urgências pediátricas/neonatais necessita-se de profissionais qualificados, dadas as peculiaridades na prestação dessa assistência. Segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado São Paulo (CREMESP) há carência desses profissionais por múltiplas razões: desvalorização do profissional pelo Sistema de Saúde, feminilização da atividade, “pronto-socorrização” do atendimento, exigência de produtividade, diminuição do interesse pela especialidade entre os recém-graduados6 e, baixa remuneração. Estudo realizado em 2008, pela Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado (EPSM/NESCON/FM/UFMG), em uma amostra de 426 estabelecimentos hospitalares do país revelou que dos hospitais que ofertavam o serviço de pediatria na ocasião, 43% encontravam alguma dificuldade para contratação deste profissional. Destes, 49,2% apontava a falta de profissionais titulados como uma das razões mais importante (GIRARDI, 2009). Resultados preliminares, oriundos de estudo realizado pela EPSM/NESCON/FM/UFMG, apontam que 67,7% dos hospitais que ofertam vagas para pediatras encontram dificuldade para a contratação desse profissional, sendo particularmente interessante o dado de 62,3% dos entrevistados apontaram a existência de profissionais com pouca experiência requerida para o trabalho. Diante deste contexto e relevância da temática, o presente projeto objetiva: Objetivo Geral Estimar a necessidade de médicos pediatras para atuação em UTI neonatais para as grandes Regiões brasileiras em 2015. Objetivos Específicos Projetar a necessidade de médicos pediatras para suprir a demanda por leitos de UTI neonatais das grandes Regiões brasileiras em 2015; Refere-se a ações no campo do Controle Social. Refere-se a ações para qualificação dos Gestores e das Gestões. 5 A neonatologia é uma área de atuação da pediatria, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria e Conselho Federal de Medicina, e exige formação especializada. 6 A partir de 2002 até 2011 observa-se uma queda de 50% de candidatos ao titulo de especialista em pediatria pela SBP e 55% daqueles considerados qualificados para tal (aprovados em concurso) (CREMESP). 3 4 3 Identificar iniquidades regionais brasileiras na necessidade de médicos pediatras em 2015; Estimar os custos de manutenção do provável décit de leitos/médicos pediatras nas UTI neonatais das grandes Regiões brasileiras em 2015, caso sejam evidenciadas necessidades de ampliação do número de leitos e/ou destes profissionais. Procedimentos Metodológicos Desenho de Estudo Trata-se de estudo prospectivo, para estimar a necessidade de médicos pediatras para a atuação em UTI neonatais para o ano de 2015, em dependência das projeções futuras da população, do deficit de saúde para recémnascidos, da produtividade e da oferta dos profissionais de pediatria com atuação em UTI neonatal. Método A projeção da necessidade de pediatras neonatais será feita a partir de um modelo de previsão com abordagem baseada nas necessidades de saúde (needs-based approach), utilizado por Bruckner et al (2011), que considera a projeção de necessidades futuras de serviços de saúde e a consequente necessidade da força de trabalho a partir de informações demográficas, epidemiológicas e de parâmetros de produtividade. As estimativas encontradas por este método considera que todas as necessidades de saúde devem ser atendidas e que todos os recursos disponíveis devem ser utilizados de acordo com as necessidades (MURPHY G.T. 2003; O’BRIAN-PALLAS et al 2005). A projeção da oferta de médicos pediatras para atuação em UTI neonatais será feita com base em uma abordagem de estoque-fluxo, considerando o estoque atual, a entrada e saída desses profissionais no mercado de trabalho. Os passos da análise pretendida, de acordo com Bruckner et al (2010), podem ser resumidos conforme o seguinte protocolo: Passo 1: Identificar a prevalência de afecções neonatais (Pr); Passo 2: Estimar a população de neonatos afetada em 2015 (PNA), de acordo com as previsões da população de nascidos vivos para 2015 (PNV); PNA2015 = PNV2015 * Pr Passo 3: Fixar metas de cobertura (%Cob) de serviços de saúde necessários para determinar a população neonatal afetada coberta (PNAC); PNAC2015 = %Cob * PNA2015# #: Para este estudo será considerada a taxa de cobertura de 100% , logo PNA = PNAC. Passo 4: Estimar o número de médicos pediatras necessários (NP) para o tratamentos das afecções neonatais com base no parämetro das Portarias 3432/1998, RDC 7/2010, GM 1101/02 que estabelecem a necessidade de 1 médico pediatra para cada 10 leitos nas 24 horas em UTI neonatais. Considerando a carga horária de um médico como de 12 horas, são necessários 2 médicos por dia para cada 10 leitos. Logo, 14 médicos são suficientes para a manutenção de 10 leitos em UTI neonatais; NP2015 = ( PNAC2015 * 14 ) / 10 4 Passo 5: Previsão da oferta de médicos pediatras (OP) para a atuação nas UTI neonatais a partir do estoque atual de médicos (P) e da entrada (EP) e saída de profissionais (SP) dentro dessa especialidade; OP2015 = P + EP2015 – SP 2015 Passo 6: Cálculo da necessidade líquida de pediatras neonatais (NLP): NLP2015 = NP2015 – OP201 5 Passo 7: Previsão de custos envolvidos na manutenção (instalação) dos novos leitos (CM), caso sejam necessários com base nos cálculos do Passo 6. CM 2015 = ( NPL2015 * 10 / 14 ) *Custo Médio por leito Fontes de dados e variáveis Para construção do modelo de previsão proposto e estimativa de custos envolvidos na formação e contratação de novo profissionais e da infraestrutura necessária para expansão dos serviços de saúde em UTI neonatais, serão coletados diferentes dados por Região Geográfica em diversas fontes de dados. As principais fontes a serem utilizadas são as bases censitárias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS); o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES); o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações Hospitalares (SIH), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Também serão consultados dados fornecidos pela Rede de Observatório em Recursos Humanos em Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). A Tabela 1, mostra as variáveis a serem utilizadas e as respectivas fontes de dados, de acordo com os passos descritos anteriormente. Tabela 1: Variáveis necessárias a construção do modelo de previsão e respectivas fontes de coleta de dados, Brasil e Grandes Regiões, 2011-2016. Passos do Estudo Passo 1 Passo 2 Variáveis Prevalência de afecções neonatais População de nascidos vivos e projeção para 2016 Passo 3 Passo 4 100% de cobertura Proporção médicos/leitos Passo 5 Estoque de pediatras (P) Ingressantes na pediatria em 2016 Saída de pediatras (aposentaria e mortalidade) RAIS Necessidade Líquida de pediatras Custos: recursos humanos e infraestrutura RAIS; Datasus; SIH (implantação e manutenção) Passo 6 Passo 7 Fontes DATASUS, Ministério da Saúde SINASC, Ministério da Saúde SIM, Ministério da Saúde IBGE, Ministério do Planjamento, Orçamento e Gestão Portaria 3432/1998; RDC 7/2010; Portaria 1101/GM/2002. CNES CNRM 5 Resultados Esperados Espera-se que este projeto apoie o estabelecimento da Rede Nacional de Economia em Saúde no Brasil e contribua com a difusão de métodos de estimativa de recursos humanos em saúde. E a partir da aplicação do método de estimativa de necessidade líquida de pediatras neonatais, espera-se fornecer subsídios para a gestão de recursos humanos em saúde e na formulação de políticas públicas para redução da mortalidade infantil, sobretudo no componente neonatal, diante da escassez de pediatras para preencher os postos de trabalho nas unidades de terapia intensiva neonatal. Referências Bibliográficas BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC nº 7, de 24 de fevereiro de 2010. Dispõe sobre os requisitos mínimos para funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva e dá outras providências. ______. Ministério da Saúde. Departamento de Apoio à Descentralização. Diretrizes operacionais dos pactos pela vida, em defesa do SUS e de gestão. Brasília: 2006. 76p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). ______. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 3.432, de 12 de agosto de 1998. Estabele critérios de classificação entre as Unidades de Tratamento Intensivo. 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Mortalidade Infantil Neonatal no Brasil: Situação, Tendências e Perspectivas. Texto elaborado por solicitação da RIPSA para o Informe de Situação e Tendências: Demografia e Saúde, 2008 (Textos de Apoio, Texto 3). GIRARDI, S. N. (Coord.); CARVALHO, C. L.; GIRARDI JR, J. B.; ARAUJO, J. F.; OLIVEIRA, V. A.; PETTA, H. L. Avaliação Nacional da Demanda de Médicos Especialistas Percebida Pelos Gestores de Saúde. Relatório de Pesquisa Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina, Núcleo de Educação em Saúde Coletiva, Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado. Belo Horizonte, 2009. 83f. Disponível em http://epsm.nescon.medicina.ufmg.br MURPHY, G.T . Health Human Resources Planning: an examination of relationships among nursing service utilization, an estimate of population health and overall health status outcomes in the province of Ontario Canadian Health Services Research, 2003. 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Levantamento de fontes de dados para determinação de variáveis necessárias ä aplicação do método de previsão de força de trabalho Coleta de dados necessários ä aplicação do método de previsão de força de trabalho Aplicação do método de previsão para as cinco regiões do Brasil Coleta de dados necessários ä projeção de custos envolvidos na formação e contratação de novo profissionais e da infraestrutura necessária para expansão dos serviços de saúde em Unidades de Terapia Intensiva Estimativa dos custos Elaboração de relatório final de pesquisa Elaboração de artigo Meses 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12