Religião e religiosidade: perfil dos alunos do curso de Serviço Social
da Universidade Estadual de Londrina
Renan José Francisco (PROIC/UEL), Claudia Neves Silva, (Orientador), email: [email protected].
Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Serviço Social/
Londrina, PR.
Área: Serviço Social - Código - 6.10.00.00 - 0
Sub-área: Fundamentos do Serviço Social - código - 6.10.01.00 – 7
Palavras-chave: religião, religiosidade,serviço social.
Resumo:
A principal motivação para realização desse trabalho é entender a
religiosidade dos alunos e alunas do curso de Serviço Social da
Universidade Estadual de Londrina e como essa religiosidade é vivida pelos
mesmos. Entender também como a religiosidade pode influenciar no
momento em que o aluno decide pelo curso e em como ele enxerga a
profissão e como ela age. Esperamos demonstrar com esse trabalho como
esses fatores se expressam entre esses acadêmicos e se sua manifestação
é positiva ou não aos alunos e professores.
Introdução
Conforme pesquisa realizada, acadêmica e de campo, desenvolvemos este
trabalho para estudar a religiosidade dos alunos do curso de Serviço Social
da Universidade Estadual de Londrina, entender como a religião influencia
os acadêmicos e constatar se a religião católica ainda é predominante entre
os estudantes ou se isso se mostra de uma forma diferente no atual
momento.
Como metodologia para a realização deste trabalho realizou-se um estudo
bibliográfico, a aplicação de um questionário nas oito turmas do curso de
Serviço Social da UEL e a realização de entrevistas com alguns alunos do
curso (etapa ainda não concluída).
Temos como motivação para a realização desse estudo a vontade de
entender como a religiosidade influencia os alunos no processo de escolha
do curso, entender como a religiosidade se manifesta entre os alunos no
meio acadêmico.
Revisão de Literatura
As décadas de 1920 e 1930 foram importantes para a implantação do
Serviço Social no Brasil, neste momento histórico o capital já não era mais
responsável por manter os custos da reprodução da força de trabalho, que
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antes eram os escravos, agora ela procurava no mercado a força de
trabalho que precisasse (IAMAMOTO, 1982).
O operário e sua família era quem tinham que se manter através do
salário pago pelo empregador, ele agora era “proprietário” da sua força de
trabalho e, conforme esta perspectiva ideologia, poderia vendê-la para quem
quisesse empregá-lo.
Mas o trabalhador era extremamente explorado pelo capital, levandoo a uma luta defensiva para garantir sua condição de existência e ampliá-la
conforme sua necessidade.
A partir desta luta, alguns burgueses passaram a avaliar as ações dos
operários como uma ameaça aos valores burgueses e instituíram um maior
controle social da exploração da força de trabalho.
Neste momento histórico, estava a pleno vapor a industrialização do
Brasil, porém ainda com uma economia de base agro-exportadora, voltada
principalmente para o plantio do café.
Justamente por ser o início da industrialização no Brasil, as primeiras
décadas do século XX não registravam leis trabalhistas que
regulamentasses o trabalho nas fábricas; os trabalhadores tinham que
submeter-se às ordens do patrão, que estipulava 14 horas de jornada
normal de trabalho, no início do século e de 10 horas por volta da década de
1920 (IAMAMOTO, 1982).
Por receberem baixos salários, os trabalhadores se viam obrigados a
levar toda sua família para o trabalho na fábrica, então naquela época era
comum o trabalho de crianças e mulheres nas fábricas, cumprindo também a
alta carga horária estipulada pelos patrões. Nestas, podiam-se observar a
presença de até mesmo crianças de cinco anos realizando uma jornada de
10 horas de trabalho.
No contexto político da época, encontramos a política do café-comleite e a política dos governadores, no qual se constatava que a democracia
não era algo que acontecia plenamente no Brasil, tendo a política como uma
área de interesses pessoais e não universais.
Como a política era comandada por fazendeiros, eles não tinham
interesse algum nos trabalhadores das grandes cidades, na questão social
que se agravava e nas condições insalubres em que os trabalhadores
trabalhavam e viviam.
O Serviço Social surge em um momento em que a Igreja Católica
tinha inúmeros movimentos que buscavam disciplinar o apostolado laico e
fomentava a criação de outros movimentos, pretendia também, através
desses movimentos, fazer a divulgação da doutrina social baseada na época
nas encíclicas rerum novarum e quadragésimo ano (IAMAMOTO, 1982).
Os assistentes sociais daquela época tinham o dever de manter a
harmonia social e trabalhando para uma convivência harmoniosa entre todos
os membros da sociedade, os profissionais do Serviço Social deveriam
adaptar a sociedade à legislação vigente e adequar o indivíduo a lei para
que ele não ficasse fora da harmonia, para elas a sociedade tinha que ter
bens o suficiente para dar ao individuo condições de manter seu corpo e
alma.
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As primeiras assistentes sociais tinham uma visão de mundo e de
homem baseada na doutrina social da Igreja Católica, sendo o homem seu
fim último que é fruto e expressão da vontade de Deus precisando ser
amado e respeitado, sua formação era toda fundamentada na doutrina social
e o seu projeto de formação profissional também apresentava grande
fundamentação teórico-metodológica na doutrina social da Igreja e no
Neotomismo (SILVA, 2005).
Com o passar das décadas, o Serviço Social começou a se afastar da
Igreja, buscando fundamentação em outras teorias além da doutrina social,
esse afastamento encontra seu ápice na década de 1970, quando o Serviço
Social busca um novo referencial teórico para compreender a sociedade da
forma como ela estava posta naquele determinado momento histórico: a
ditadura militar dava início a sua época mais violenta com o A.I. 5,
resultando na perseguição aos movimentos sociais e as organizações
populares, além do aumento da desigualdade social impulsionada pela crise
de 1973 (SILVA, 2005).
Segundo José Paulo Netto, nesta época as idéias marxistas
começam a influenciar a profissão, trazendo para os assistentes sociais a
postura crítica proposta por Marx, com o tempo as categorias marxistas
passam de presentes para dominantes no projeto ético-político e na
formação profissional, além de influenciar o Código de Ética da profissão.
Resultados e discussões
Tivemos como sujeitos de nossa pesquisa os alunos do curso de
Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina. Aplicamos
questionários em todas as turmas do curso, totalizando 201 alunos de um
total de aproximadamente 320 alunos.
Nos dias de hoje, a fé católica não é a única a ser expressa, de
acordo com os resultados obtidos com nossa pesquisa realizada dentro das
salas de aula do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de
Londrina, cerca de 41% dos estudantes participa da igreja católica, sendo os
outro 60% participantes de outras igrejas, em sua maioria evangélicas
pentecostais. Mostrando-nos uma realidade bem diferente daquela vista no
inicio da profissão no Brasil, quando 100% dos profissionais declaravam-se
católicos.
A religião traz às salas de aula, verdadeiros questionamentos quando
a relação entre a religião e o serviço social é colocada em xeque por conta
das história do serviço social que se distancia, em sua fundamentação
teórica ao menos, da religião. Em nossos estudos, ao iniciarmos as
interpretações dos questionários que aplicamos em nossos alunos,
constatamos que muitos destes pretendiam ou pretendem relacionar a
prática profissional com o que foi aprendido na igreja, através da
sensibilidade “que tive a partir da igreja” (resposta de um dos questionados),
ou de outras questões relacionadas a fé.
Ideais que são reproduzidos na vida cotidiana e que tem um
significado muito forte para o individuo que apresenta um ethos religioso que
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lhe dá os significados para essas ações, e que determina o modo de agir e
viver. Acredito que ao não relacionar a fé com a profissão será uma tarefa
que terá que ser muito bem trabalhada pelos alunos e professores, isso se
constatarmos, com as entrevistas que faremos, que os alunos pretendem
desvincular a religião de sua prática religiosa.
Conclusão
Pode-se concluir que o Serviço Social, mesmo depois de 73 anos de
seu início no Brasil, ainda apresenta uma forte relação com as instituições
religiosas por meio de seus alunos de graduação, pelo menos dentro do
curso de serviço social da Universidade Estadual de Londrina que são,
grande parte, oriundos de instituições religiosas que trabalham de alguma
forma com ações assistenciais e caritativas que instigam o fiel a procurar
uma profissão em que possam por em prática essa ação religiosa, e acabam
vendo no Serviço Social uma área de formação onde elas podem por em
prática seus conhecimentos absorvidos através da atuação nessas
instituições.
Por acreditar que através do serviço social podem realizar atividades
ligadas a caridade e ao bem comum, atividades estas que antes eram
realizadas pela profissão em seu início, quando ela ainda era relacionada a
igreja, nos dias de hoje observamos uma realidade diferente dentro da
profissão, quando os profissionais buscam trabalhar focando a garantia e
busca por direitos dos usuários das políticas públicas, além de levar a este
usuário a posição de cidadão que de ver ser vivida pelo mesmo.
Referências Bibliográficas
BERGER, Peter. A dessecularização do mundo: uma visão global. Religião
e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p.9-24, 2000.
IAMAMOTO, Marilda; Carvalho, Raul de. Relações Sociais e Serviço
Social no Brasil. 5.ed. São Paulo: Cortez Editora, 1982. p.127-168
SILVA, Claudia Neves da. Serviço social, caridade e política de assistência
social: aproximações e divergências. Praia Vermelha 12, Rio de Janeiro, v.
12, n. 12, p.202-224, Primeiro semestre, 2005.
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