Culturas juvenis, escola e comunidade: mapeando as práticas musicais André Lodeiro Castanheira [email protected] Magali Oliveira Kleber [email protected] Universidade Estadual de Londrina – Centro de Educação, Comunicação e Artes – CECA Departamento de Música e Teatro – CECA-MUT Área do conhecimento: Artes; Sub-área: Música. Palavras-chave: prática docente, práticas artísticas, práticas musicais. Resumo O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados de um estudo de caráter transdisiciplinar, problematizando questões relacionadas com a prática docente, as práticas artísticas e musicais e a cultura juvenil. A necessidade da construção de pontes entre o Ensino Superior e a Educação Básica, problematizando questões que afligem a sociedade civil vem sendo objeto de discussão para busca de caminhos que possam minimizar a exclusão em diferentes esferas da sociedade. A proposta desse projeto está entrelaçada pela vertente que busca a intervenção da Universidade e produção de conhecimento a partir de uma dinâmica dialética entre o mundo acadêmico e as diversas dimensões da comunidade. O da coleta de dados foi de 2009 e 2010, na região Leste de Londrina, especificamente no Colégio Ana Molina Garcia, situado na Vila Ricardo, bairro Interlagos, e projetos sociais mapeados no entorno, mediante levantamento junto ao Colégio e, posterior visitas in loco. Para o desenvolvimento dessa pesquisa destaco a participação da UEL, do Colégio e dos projetos sociais localizados no bairro na produção do conhecimento a partir dessa relação que se estabelece entre elas. O objetivo busca compreender a música e as demais manifestações artísticas como um dos eixos das práticas sociais em sua estreita relação com a formação identitária dos indivíduos e dos grupos. A pesquisa parte da noção do processo pedagógico-musical como “fato social total”, para relacionar e compreender o vinculo que se estabelece entre a escola, a comunidade, o poder público e a realidade social. Palavras-chave: educação musical; movimentos sociais; práticas musicais; culturas juvenis; socialização. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Introdução A presente pesquisa parte de uma concepção transdisciplinar e contou com recursos da Fundação Araucária, no Programa Jovens Doutores. Trata-se de um estudo que se desenvolve a partir de políticas públicas visando, entre outros propósitos, a articulação entre a Universidade e o Ensino Básico. A necessidade da construção de pontes entre o Ensino Superior e a Educação Básica, problematizando questões que afligem a sociedade civil, vem sendo objeto de discussão para busca de caminhos que possam minimizar a exclusão em diferentes esferas da sociedade. A proposta do projeto: “Movimentos Sociais e Práticas Musicais no Contexto da Periferia Urbana de Londrina” – subprojeto: “Culturas Juvenis, Escola e Comunidade: mapeando as práticas musicais”, está entrelaçada pela vertente que busca a intervenção da Universidade e a produção de conhecimento a partir de uma dinâmica dialética entre o mundo acadêmico e as diversas dimensões da comunidade. Tal situação, ao focar o aspecto educacional, expande-se para questões de ordem política, ética, institucional e estética. Busca-se, mediante esse projeto, promover ações voltadas para o sistema público educacional que permitam a prática de intervenção nos projetos pedagógicos das escolas que apresentam situações de baixo percentual no IDEB e violência, de qualquer ordem, no cotidiano escolar. Verifica-se uma significativa limitação nas políticas públicas para reverter a desesperança de encontrar na escola a chave para um futuro melhor para a juventude brasileira. Alinhada a essa pesquisa, agregamos o projeto de extensão “Identidade e Culturas Juvenis: agregando escola e comunidade na busca da transformação social”, realizado pela Universidade Estadual de Londrina com financiamento do Programa Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná. Idealizado pela prof. Dra. Magali Kleber, este projeto foi selecionado por edital público para implementação de uma proposta que envolve educação musical, psicologia social, teatro e artes visuais, com a finalidade de compreender e realizar uma intervenção no cotidiano escolar, entendendo o Colégio como o epicentro do “processo pedagógico como fato social total” (KLEBER, 2006). Buscando compreender como se configuram as práticas musicais juvenis, como elas se relacionam através das redes de sociabilidade interferindo na construção das identidades sócio-culturais dos indivíduos, além de compreender como o mundo escolar interfere no que diz respeito às expressões estético-musicais das crianças e adolescentes. Montamos uma equipe que trouxe para as pessoas da comunidade uma proposta de articulação conjunta de projetos artísticos e culturais através da realização de festas, eventos, apresentações e a formação de grupos de trabalho, envolvendo as diversas áreas do conhecimento. Partindo do próprio conhecimento que nos é trazido pelos alunos no cotidiano das aulas, o projeto se encaminha de forma a envolver todo um conjunto de atributos sociais, presentes na vida cotidiana, social e individual da comunidade. Visando “expandir o repertório artístico e sócio-cultural de jovens estudantes e moradores de regiões da periferia urbana e em situações de vulnerabilidade e risco social, de maneira a contribuir para processos de apreensão, produção artística e atuação juvenil na cidade” (KLEBER 2009). Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Materiais e métodos Num primeiro momento, a atenção do grupo foi voltada para identificar o potencial de ação que tínhamos para depois então identificar o potencial da comunidade do entorno da Vila Ricardo, reconhecendo suas especificidades, relações, saberes e práticas sociais. Tendo como principal foco o colégio estadual Ana Molina Garcia, nossa primeira preocupação foi a convivência com a comunidade, freqüentando seus espaços e instituições. Foram visitados e freqüentados espaços como o Centro Regional de Assistência Social (CRAS), Centro Viva Vida, Clube das Mães Unidas, Instituto Espírita Irmã Sheila, Escola Maria Cândida, Paróquia São José, assim como demais espaços de socialização (praças, campos de futebol, paradas de ônibus, terrenos baldios, entre outros). Conseguimos com sucesso, até o término das atividades do ano de 2009, desenvolver um trabalho de aproximação com as pessoas da comunidade e de reconhecimento dos espaços potenciais da região, inserindo de forma mais intima a participação da universidade no contexto das atividades da escola e de seu entorno, podendo citar: realização de oficinas no colégio Ana Molina Garcia (violão, percussão, grafite, teatro, etc); transito dos alunos por espaços alternativos à escola (na UEL- em eventos da SETI e de Ciências Sociais; na Embrapa e no calçadão da cidade, para tocar no evento da consciência negra, oportunidade em que os alunos puderam assistir aos ensaios da dança de salão que acontecia no Cine Teatro Ouro Verde). E da mesma forma obtivemos o retorno por parte da comunidade, que passou a reconher e admirar o nosso trabalho. Retomamos as atividades no ano de 2010 com a idéia de desenvolvermos um processo de construção coletiva das propostas. Realizamos uma reunião em que alunos e pais foram convidados a discutir o projeto avaliando as ações de 2009, sugerindo atividades, sugerindo locais para apresentações e manifestando interesses e desejos diversos. Neste encontro ficou definido que manteríamos o formato de oficinas, mas também seria desenvolvida uma atividade nova que reuniria todas as linguagens presentes em sala: o "tudo junto, tudo misturado", na qual os diferentes grupos se uniriam para desenvolver uma atividade conjunta, contemplando todas as frentes de manifestações artísticas (música, teatro e artes visuais), em uma mesma proposta. Resultados e discussões Após quase um ano retomamos nossas atividades junto à comunidade e ao colégio Ana Molina Garcia propondo aulas semanais de artes, dança, música e teatro para os moradores do entorno. Agora com uma equipe ampliada de professores e bolsistas, mantivemos o direcionamento de nossas ações no sentido de contemplar a dimensão e o contexto a que o projeto se propõe. Agregando a escola, a comunidade e a universidade em um uníssono, produzindo juntos momentos de ensino e aprendizagem musical e relacional mutua. Oportunizamos a eles a possibilidade de se organizarem, de interagirem, de produzirem a sua própria arte, a sua própria iniciativa, ao mesmo tempo em que aprendem e desenvolvem habilidades que para eles ainda não eram tão acessíveis ou presentes. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. É neste contexto que identificamos a realização de uma festa como uma das realizações mais importantes do projeto. Um evento onde todos participem da organização, realização e desfrute, que se caracterize por possuir um fim pedagógico em si, que construa significados e sentidos para todos que dele participem: professores, alunos e pais. Conclusões Estarmos trabalhando em diversas esferas do conhecimento, com oficinas, com produção audiovisual, as reuniões pedagógicas, entre nós e com a comunidade, permitem ao projeto se sustentar em sua fundamentação teórico-metodológica e prática, sendo esse um projeto de grande potencialidade funcional. De fato interferimos, interagimos com a realidade social e individual daquelas pessoas: das crianças, dos jovens, adultos e idosos da comunidade onde atuamos. No entanto sabemos das dificuldades que um projeto tem para se manter para além do seu período de vigência, de se estabelecer na comunidade como algo que a ela pertença. Permitindo que bons resultados sejam colhidos em longo prazo e possibilitando que novas sementes possam brotar como fruto do nosso trabalho, do trabalho do educador musical, percebendo e recriando o “processo pedagógicomusical como um fato social total” (KLEBER, 2006). Deste modo, as ações do projeto têm colaborado para “uma construção reflexiva que ajuda a circunscrever as instâncias de socialização numa perspectiva relacional, tendo como eixo central a participação do sujeito social em seu processo educativo.(...) analisar as práticas socializadoras nas suas dimensões econômica, moral, estética e política, é uma forma de melhor compreendê-la e contextualizá-la no mundo contemporâneo” (SETTON, 2009.p. 2). Referencias KLEBER, Magali. Identidades e Culturas Juvenis: agregando a escola e a comunidade em busca da transformação social. Londrina, 2009. [projeto de extensão]. KLEBER, Magali. A prática de educação musical em ONGs: dois estudos de caso no contexto urbano brasileiro. Tese (Doutorado em Música), Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006. SETTON, Maria da G. J. A socialização como fato social total: notas introdutórias sobre a teoria do habitus. USP, São Paulo, 2009. FREITAS, M. C. de (org.). Desigualdade social e diversidade cultural na infância e na juventude. São Paulo: Cortez, 2006. CENPEC. Muitos lugares para aprender. São Paulo. Unicef, 2003. NÓVOA, A. (org.). As Organizações Escolares em Análise. 2ª. ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote: Instituto de Inovação Educacional, 1995. Temas de Educação nº. 2. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.