Criminalização de depoimentos compromete investigação de acidente aéreo Aero Magazine mostra que envolvidos no acidente evitaram falar com o Cenipa por medo de enfrentar processo criminal na Justiça Pouco mais de um ano depois do acidente ocorrido entre um jato da Gol e um Legacy, em setembro de 2006, a CPI do Apagão Aéreo no Senado Federal determinou como culpados os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino. A edição de novembro da Revista Aero Magazine traz um resumo da investigação e mostra que a criminalização dos depoimentos prejudicou a investigação aeronáutica, já que a maioria dos envolvidos se negou a falar com o Cenipa por medo de serem indiciados em processo criminal. Ao exigir que a Polícia Federal e o Ministério Público tivessem acesso aos depoimentos colhidos pelo Cenipa (Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aéreos), a Justiça brasileira esvaziou a investigação aeronáutica, que busca esclarecer as causas do acidente, porém, não aponta culpados. De acordo com o Anexo 13 da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) as investigações de acidentes aéreos devem transcorrer em sigilo. No Brasil, o Cenipa é a autoridade responsável pelas investigações e único órgão com capacidade para analisar dados técnicos de acidentes. Porém, a investigação do Cenipa é baseada em depoimentos voluntários. A divulgação dos depoimentos e o anseio pela busca por culpados gerou uma batalha de informações prejudicial para o elucidamento do acidente, pois houve vazamento de dados técnicos confidenciais para a imprensa, como a transcrição da caixa preta. Em depoimento à Aero Magazine, o Brigadeiro-do-ar Jorge Kersul Filho, chefe do Cenipa, diz que “as divulgações irresponsáveis de informações referentes ao acidente, inverídicas, fora de contexto também geram na comunidade aeronáutica e no público em geral uma visão distorcida da realidade”. Do outro lado, o delegado Renato Sayão, encarregado de conduzir a investigação “paralela” do acidente da Gol, defende a atuação da Polícia Federal desde o início e explica que “os objetivos são diferentes. A função da Polícia é identificar possíveis falhas humanas. Se houvesse apenas a investigação da Cenipa, os controladores não seriam acusados” e ainda completa que “a investigação da polícia é mais rápida e a da Cenipa, mais minuciosa”. A discussão continua e atinge principalmente a família das vítimas, principais prejudicadas neste tipo de acidente. Mas, ao mesmo tempo, o indiciamento dos culpados facilita para que as famílias sejam indenizadas.