Federação Nacional dos Professores www.fenprof.pt Pobreza infantil está a aumentar nos países mais ricos Estudo da UNICEF incita os países da OCDE a criarem sistemas de controlo regulares e a definirem objectivos e prazos credíveis para reduzirem progressivamente a pobreza infantil Florença/Genebra, 1 de Março de 2005 - A proporção de crianças que vivem na pobreza desde o início dos anos 90 aumentou em 17 dos 24 países ricos, afirma um novo relatório - "A Pobreza Infantil nos Países Ricos 2005" apresentado hoje pelo centro de investigação da UNICEF. A convicção generalizada de que a pobreza infantil nos países ricos tem vindo a diminuir não corresponde à realidade, segundo este estudo que demonstra serem apenas quatro os países Austrália, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos da América - que apresentam uma redução importante desde o início da década de 90. Destes países, o Reino Unido é o que regista progressos mais significativos na redução da taxa de pobreza infantil. De acordo com o relatório, publicado pelo Centro de Investigação Innocenti da UNICEF, a Dinamarca e a Finlândia têm as mais baixas taxas de pobreza entre as crianças, actualmente inferiores a 3%, e a Noruega é o único país onde a pobreza infantil pode ser descrita como "muito reduzida e em contínua diminuição". Ao publicar os dados de um inquérito sobre a pobreza nos países da OCDE, a UNICEF sublinha que a redução da pobreza é um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio subscrito por todos os países. O inquérito analisa dados comparáveis e apresenta estimativas globais sobre pobreza infantil nos países ricos. O relatório examina os dados disponíveis de todos os países e interroga-se sobre o aumento das taxas de pobreza infantil em alguns deles, enquanto noutros se registam progressos significativos. O inquérito revela que os níveis de pobreza são determinados por três elementos fundamentais factores sociais, condições do mercado de trabalho e políticas governamentais. Em particular, o empenho do governo no combate à pobreza infantil e as políticas que são adoptadas na prática podem fazer uma diferença muito substancial. As diferenças consideráveis que se verificam mesmo entre países cujos governos atribuem níveis semelhantes de recursos indicam que não importa apenas o nível das verbas gastas mas a forma como são aplicadas. O relatório indica que muitos dos países da OCDE teriam a possibilidade de reduzir a pobreza infantil abaixo dos 10% sem um aumento significativo das suas despesas globais. O relatório demonstra ainda que há uma relação clara entre o montante das verbas atribuídas à família e à assistência social e a pobreza infantil. Em média, constata-se que as intervenções governamentais podem reduzir as taxas de pobreza infantil imputáveis às condições do mercado em cerca de 40%. O estudo conclui que a intervenção do governo nos países com as taxas de pobreza infantil mais baixas do mundo - Dinamarca, Finlândia e Noruega - reduz a referida "pobreza provocada pelo mercado" em 80% ou mais. Por outro lado, nos países ricos que têm as mais elevadas taxas de pobreza infantil México e Estados Unidos da América - a iniciativa do governo reduz a pobreza em apenas 10% e 15% respectivamente. Na Dinamarca, Suécia, Finlândia e Bélgica as taxas de pobreza infantil são inferiores a 10% e, pelo menos, 10% do PIB é alocado a despesas de carácter social destinadas a reduzir a pobreza infantil. Nestes quatro países, a proporção dos benefícios é maior para as crianças em idade pré-escolar, diminuindo progressivamente até aos 18 anos de idade. Pelo contrário, países como a Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha não só consagram uma percentagem muito baixa dos seus orçamentos de estado a despesas sociais em geral, como estas têm um papel muito reduzido na protecção das famílias com rendimentos mais baixos. Nestes cinco países, que têm elevadas taxas de pobreza infantil, os recursos públicos dirigidos às pessoas com baixos rendimentos concentram-se na população acima dos 50 anos. O relatório da UNICEF sublinha as dificuldades associadas à definição e à avaliação da pobreza infantil, e incita os governos dos países da OCDE a criarem sistemas de controlo regulares e a definirem objectivos e prazos credíveis para reduzirem progressivamente a pobreza infantil. Embora insista que o rendimento relativo deve continuar a ser um indicador chave da pobreza, o relatório diz que não é suficiente e sublinha a necessidade de mais indicadores para captar outras dimensões da pobreza. No seu último relatório sobre A Situação Mundial da Infância lançado em Dezembro, a UNICEF propôs que a privação de serviços básicos fosse utilizada como uma nova medida para avaliar a pobreza infantil. Com o objectivo de promover uma análise e debate sobre as questões suscitadas neste estudo relativamente à situação das crianças do nosso país, o Comité Português fará a apresentação da edição em língua portuguesa no final de Março, em data a anunciar brevemente.