Graciliano Ramos
 Nascido
em 27 de outubro de 1892, em
Quebrângulo, sertão de Alagoas, era o
primeiro dos dezesseis filhos de Sebastião
Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro
Ramos.
 Cresceu nas cidades de Viçosa, Palmeira
dos Índios (AL) e Buíque (PE) enfrentando
não só a seca, mas também as surras
aplicadas pelo pai, fato que o fez acreditar
desde cedo que todas as relações
humanas se movem pela violência.
 Atuou
como revisor e escritor em diversos
jornais e revistas pelos lugares em que
passou.
 Em 1904, criou o jornal o Dilúculo,
dedicado às crianças; participou do Echo
Viçonsense, no qual, trabalhava como
redator Mário Venâncio seu mentor
intelectual, e cujo suicídio em fevereiro de
1906, pôs fim ao respectivo jornal.
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Graciliano Ramos foi preso em março de 1936, acusado de
ligação com o Partido Comunista.
Prisão sem processo, mas que não evitou a deportação do
acusado, num porão de navio, para o Rio, onde permaneceu
encarcerado.
Foi demitido do cargo de Diretor da Instrução Pública e levado a
diversos presídios, até Janeiro de 1937, quando foi libertado.
Dessa experiência resultou a obra Memórias do Cárcere,
publicada postumamente em 1953.
obra não é o relato puro e simples do sofrimento e humilhações
do homem Graciliano Ramos; é a análise da prepotência que
marcou a ditadura Vargas e que, em última análise, marca
qualquer ditadura.
É um dos depoimentos mais tensos da literatura brasileira.
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Escrito em quatro volumes (sem o capítulo final,
pois Graciliano faleceu antes de concluí-lo),
Memórias do Cárcere narra acontecimentos da
vida de Graciliano Ramos e de outras pessoas
que estiveram presas durante o Estado Novo.
A narrativa é amarga, mas sem exageros ou
invenções, nessa obra Graciliano Ramos é fiel
aos acontecimentos.
Se há amarguras e sordidez, é porque as
situações vividas foram sórdidas e amarguradas.
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A narrativa de Graciliano Ramos, pela
exposição de motivos contida no capítulo
de abertura da obra, dá ao texto uma
autenticidade autobiográfica, sobretudo se
a ela somarmos a “explicação final” de
Ricardo Ramos, na qual ficam esclarecidas
as dificuldades que impediram o autor de
dar definitivamente o texto por concluído.
Essa narrativa, característica do relato
autobiográfico, oferece a típica junção
autor-narrador-personagem, sendo possível
percebê-la como resultado da experiência
vivida, o que aproxima Graciliano Ramos da
noção
de
narrador
clássico.
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A autoridade do narrador clássico é referendada
pela perspectiva da morte, conforme se percebe
já no início do texto: “... estou a descer para a
cova...”.
A morte, para o filósofo alemão, confere
autoridade, pois é nesse momento que o saber
humano assume uma força maior, tornando
imperativa a sua transmissão.
O narrador clássico sabe dar conselhos. Narra
porque tem experiência de vida, e é essa
experiência que lhe dá sabedoria.
A obra do escritor alagoano, ao fazer uso da
forma autobiográfica, ao falar de si mesmo,
intencionalmente mistura a sua voz a outras, até
então silenciadas, contrariando assim a
perspectiva natural desse tipo de relato.
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Memórias do Cárcere é o testemunho da
realidade nua e crua de quem, sem saber
por quê, viveu em porões imundos, sofreu
com torturas e privações provocadas por
um regime ditatorial chamado de Estado
Novo.
Na obra Graciliano Ramos não diz
diretamente que se sente injustiçado,
embora o tenha sido e isso se explicita no
próprio texto.
Não fica insistindo que não deveria estar
naquelas situações, isso faz com que a
indignação do leitor não fique restrita às
suas histórias particulares, mas se direcione
a situações vivenciadas por muitas pessoas.
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O que o autor retrata, e é o que mais
interessa em Memórias do Cárcere, é
um olhar de quem foi preso, algo que é
muito mais abrangente do que se fixar
no olhar do narrador.
O discurso, regido pela égide da
opressão,
é
caracterizado
pelo
desdobramento: pois é psicológico, e,
ao mesmo tempo, um documentário; é
particular,
mas
universaliza-se.
 “O
mundo se tornava fascista. Num mundo
assim, que futuro nos reservariam?
Provavelmente não havia lugar para nós,
éramos fantasmas, rolaríamos de cárcere
em cárcere, findaríamos num campo de
concentração.
 Nenhuma
utilidade representávamos na
ordem nova. Se nos largassem, vagaríamos
tristes, inofensivos
e
desocupados,
farrapos vivos, fantasmas prematuros;
desejaríamos enlouquecer, recolhermonos ao hospício ou ter coragem de
amarrar uma corda ao pescoço e dar o
mergulho decisivo. Essas idéias, repetidas,
vexavam-me; tanto me embrenhara nelas
que me sentia inteiramente perdido.”
Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
Em 1953, surge o primeiro dos quatro
volumes de Memórias do Cárcere. A
metáfora da tirania (...) é superlativa de
toda sua obra, além de definir a noção
que o autor formou do homem e seu
destino trágico.
 Ampliando nossa análise, digamos que
os acontecimentos trágico-políticos, nos
quais ele se envolveu, e sem saber por
quê, tenham servido para quê sua visão
de mundo ainda mais pendesse para a
certeza da dramaticidade.

 Desnecessário
traçarmos limites rígidos
entre confissão biográfica e testemunho
histórico nesse momento. A unidade final
sempre cairá no realismo.
 Eis o Brasil de 1930, sob a vista de quem
o viveu em porões imundos: misérias,
torturas e degradações perpetradas pelo,
ironicamente chamado, ESTADO NOVO.
 O discurso é realista também porque
acolhe o real e desdobra-o em duas
formas: do documentário ao psicológico,
e do particular ao universal. Claro, tudo
isso sob a égide da opressão.
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Veja o seguinte trecho da obra: “O
mundo se tornava fascista. Num mundo
assim, que futuro nos reservariam?
Provavelmente não havia lugar para nós,
éramos fantasmas, rolaríamos de cárcere
em cárcere, findaríamos num campo de
concentração.
Nenhuma utilidade representávamos na
ordem nova. Se nos largassem, vagaríamos
tristes, inofensivos
e
desocupados,
farrapos vivos, fantasmas prematuros;
 desejaríamos
enlouquecer, recolhermonos ao hospício ou ter coragem de
amarrar uma corda ao pescoço e dar o
mergulho decisivo.
 Essas idéias, repetidas, vexavam-me; tanto
me embrenhara nelas que me sentia
inteiramente perdido.”
 Memórias
do Cárcere acompanha em
parte as preocupações memorialísticas
de Graciliano, antecipadas em Infância
sofrendo entretanto um tratamento
técnico e contendo vivência diversa.
 Ainda que as situações estejam
agrupadas em capítulos, não foi a
matéria intitulada, obedecendo-se a uma
cronologia marcada pela mudança de
prisões e esperas preenchidas pelos
fatos observados no relacionamento
recluso.
A
atitude ficcionista porém não o abandona.
Observa-se o que declara no primeiro
volume, no início da narrativa:
 “ Realmente há entre os meus companheiros
sujeitos de mérito, capazes de fazer sobre os
sucessos a que vou referir-me obras valiosas.
Mas são especialistas, eruditos, inteligências
confinadas à escrupulosa análise do
pormenor, olhos afeitos a investigações em
profundidade. Há também narradores, e um
já nos deu há tempo excelente reportagem,
dessas em que é preciso dizer tudo com
rapidez.
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File - Terceiro Ano Anglo