NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 59 Biodinâmica 4.1 CINEMÁTICA DO CORPO HUMANO a. Cinemática linear No corpo humano em movimento usaremos as equações cinemáticas de movimento linear uniaxial. A Análise Cinemática é baseada na relação entre a posição, sua primeira derivada (velocidade), e sua segunda derivada (aceleração). Estas são quantidades vetoriais, e assim para movimento uniaxial, nós definimos um eixo de coordenada (como x) ao longo do qual o movimento acontece. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 60 Os parâmetros da cinemática pertinentes serão então definidos nesta direção. Movimento linear uniaxial (ou translação) refere-se ao movimento que acontece ao longo de uma linha reta. Há muitas situações nas quais o movimento de objetos só ocorre em uma direção. Um exemplo é o de um carro que é dirigido para cima em uma estrada reta de uma colina uniformemente inclinada. Outro exemplo poderia ser o de um esquiador ao longo de um percurso reto em uma colina uniformemente descendente. Estes exemplos ilustram que não há necessidade do movimento ser puramente vertical, nem puramente horizontal, mas também pode ser inclinado. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA A equação básica cinemática 61 para o movimento uniaxial linear (ou translacional) é derivada da definição de velocidade e aceleração: dx ; dt a v = = dv dt (1,2) Um tipo de movimento translacional acontece quando aceleração uniforme é aplicada a um objeto de forma que a aceleração permaneça constante em relação ao tempo. Se a0 representa a aceleração constante, e o v0 a velocidade inicial (em t0 = 0), então a velocidade (v) em qualquer ponto no tempo (maior que t0) é obtida integrando equação (2) NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 62 v = v0 + a 0 t (3) Finalmente, se a posição inicial do objeto (x0) também é conhecida, a posição do objeto em qualquer tempo t (maior que t0) pode ser achada através da substituição de (1) na equação (3) e integrando: x 1 2 = x0 + v0t + a0t 2 (4) Quando a aceleração for constante, podemos derivar uma relação entre deslocamento, velocidade e tempo, rearranjando equação (3) para a0, substituindo esta expressão então em equação (4), e rearranjando então para x: NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 63 x 1 = x0 + ( v + v0 )t 2 (5) Finalmente, podemos derivar a relação entre velocidade, aceleração e deslocamento rearranjando equação (3) para t, substituindo esta expressão na equação (4), e rearranjando então para v²: v = v + 2a ( x − x )t 2 2 0 0 0 (6) Equações (3)-(6) representam as quatro equações da cinemática que descrevem o movimento uniaxial linear de um objeto quando a aceleração for constante. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 64 Dois tipos comuns de movimento para o qual estas expressões de cinemática são úteis são a queda livre e também deslizando. Um exemplo muito comum do movimento de um corpo sujeitado a aceleração constante acontece quando o corpo cai verticalmente ao chão. É dito que o objeto experimenta queda livre. Na ausência de resistência de ar, todos os objetos estão sujeitos a uma aceleração gravitacional constante de forma que a = g nas equações (3), (4), e (6). Lembre-se que g é um vetor, e assim tem que seguir a convenção de sinal aplicada às outras quantidades vetoriais que, (deslocamento) e v (velocidade). são x NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA Deslizar é outro exemplo comum 65 de movimento uniformemente acelerado. Na ausência da resistência frictional da superfície (e na ausência de resistência do ar), deslizar pode ser visto como queda livre inclinada (contrastado a queda livre vertical que vimos acima). O objeto ainda está sujeitado à aceleração gravitacional constante (g) verticalmente descendente, mas o movimento linear do objeto é ao longo de um eixo inclinado. Quando este eixo é inclinado com a horizontal de ângulo θ, o objeto está sujeitado a uma aceleração constante (a0) que é uma função daquele ângulo. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 66 EXEMPLO 4.1 a. Ache uma expressão para a aceleração (a) de um corpo que desliza para baixo numa superfície diagonal sem atrito e inclinada de um ângulo θ. O corpo tem massa m e no seu centro de massa age verticalmente para baixo a constante gravitacional g. b. Exemplo 4.l a repetido para um corpo que desliza para cima na superfície diagonal. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 67 SOLUÇÃO 4.1.a Desenhe o diagrama de corpo livre do corpo descendo em uma linha direta diagonal. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 68 Neste caso o corpo está se movendo uma direção de uniaxial (x) orientada para a direita e para baixo. É util fazer o eixo vertical positivo descendente (g é positivo). Para a força (FT): Ft = Fp (já que a superfície não tem atrito) W = m. g (i) Ft = W . senθ (ii) Substituindo (i) em (ii) Ft = m. g senθ (iii) NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 69 Pela segunda lei de Newton: a Ft = m (iv) Portanto: a= g senθ . (v) NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 70 SOLUÇÃO 4.1.B Desenhe o diagrama de corpo livre, e mantenha a mesma convenção de sinais: Para a força (FT): Ft =- Fp (já que a superfície não tem atrito) W = m. g (i) NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA Ft = -W . senθ 71 (ii) Substituindo (i) em (ii) Ft =- m. g senθ (iii) Pela segunda lei de Newton: a Ft = m (iv) Portanto: a= -g senθ . (v) Aplicação de HFE: Um engenheiro de fatores humano freqüentemente considerará vários modos para o subsistema humano interagir com o subsistema desempenho do sistema tecnológico-humano. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 72 EXEMPLO 4.2 Uma parte de um equipamento de playground (um escorregador) está sendo considerado para instalação em um local conhecido por invernos muito frios. Na Figura 4.1 estão as dimensões do escorrega (onde M = comprimento em metros). É previsível que em alguns dias um pouco de gelo possa cobrir as grades laterais e superfície corrediça, de tal forma que haverá zero coeficiente de fricção (ν = 0). Se a maior criança previsível tem uma massa de 30 kg, e a velocidade inicial dela no topo do escorregador é zero, quão rápido estará a criança quando alcançar a parte mais baixa? NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 73 Figura 4.1 Criança deslizando para baixo numa superfície diagonal sem atrito inclinada a um ângulo θ. NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 74 SOLUÇÃO 4.2 Referindo-se a Figura 4.1 com as dimensões pertinentes, o comprimento xf do deslizamento é: 2.6 m cos θ = xf 2.6 m xf = = 3.0 m cos(30º ) (i) Usando a convenção de sinal positiva descendente, com a origem ao topo do deslizamento: x0 = 0 (ii) NOTAS DE AULA – INTRUDUÇÃO À ENGENHARIA BIOMÉDICA 75 Também dado no problema: v0 = 0 (iii) Da equação 4.1 (a) (v): a0 = g ⋅ senθ Equação usando (iv) (6) resolver para v velocidade 2 f a final: = v 02 + 2a 0 ( x f − x 0 ) (v) v Substituindo (i), (ii), (iii), e (iv) em (v): 2 f = 2 ⋅ g ⋅ senθ ⋅ x f (vi) Substituindo os valores e resolvendo: vf = ( 2)(9.81)(0.5)(3.0) vf = 5.42 m/s