ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA CURSO DE PSICANÁLISE CLÍNICA SISTEMA EAD MÓDULO VIII www.escoladepsicanalisekoinonia.com ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com AULA 36 – PSICOPATOLOGIA – DEPRESSÃO - TRATAMENTO Depressão: Tratamento Juntos, medicamentos e psicoterapia é melhor que só um deles. A Depressão é uma doença do organismo todo, que compromete o orgânico, o afeto e o pensamento. A Depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas. Para o tratamento da Depressão é importante que aquilo que se pretende tratar seja, de fato, Depressão. Isso quer dizer que a terapia implica antes, sobretudo, que haja um diagnóstico, pois, o tratamento médico é tão mais eficaz quanto mais caracterizada for a doença. Essa conduta se aplica a toda área médica. Não se pretende tomar por Depressão qualquer sintoma conseqüente às mazelas do cotidiano, às frustrações do dia-a-dia, os aborrecimentos a que todos estamos sujeitos. A Depressão é uma doença afetiva ou do humor, ela não é, simplesmente, estar na "fossa" ou com "baixo astral" passageiro. Também não é sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço (Veja Depressão e Frustração). Isso não quer dizer que não se deva aliviar as pessoas que sofrem a dor da tristeza, da mágoa, das desesperanças e frustrações, pois "a dor doi como doi, não importa a causa que a produz". Porém, esses casos podem não ser objeto da medicina, ou da psiquiatria clínica, ficando eles por conta da psicoterapia, da terapia ocupacional, psicologia e outras áreas da atenção à pessoa. As pessoas com doença depressiva (estima-se que 17% das pessoas adultas sofram de uma doença depressiva em algum período da vida) não podem, simplesmente, melhorar seu quadro por conta própria e através dos pensamentos positivos, nemconhecendo pessoas novas, viajando, passeando ou tirando férias. Sem tratamento, os sintomas podem durar semanas, meses ou anos. O tratamento adequado, entretanto, pode controlar perfeitamente o Transtorno Afetivo e ajudar a maioria das pessoas que sofrem com isso a ter uma vida normal. Pela medicina, a Depressão é entendida mais como um mal funcionamento cerebral do que má vontade psíquica, ou uma cegueira mental para as coisas boas que a vida pode oferecer, ou uma falta de ter o que fazer. A pessoa deprimida sabe e tem consciência das coisas boas de sua vida, sabe que tudo poderia ser bem pior, pode até saber que os motivos para seu estado ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com sentimental não são tão importantes assim, entretanto, apesar de saber isso tudo e de não desejar estar dessa forma, ela continua muito deprimida. Portanto, as doenças depressivas se manifestam de diversas maneiras, da mesma forma que outras doenças, como, por exemplo, as do coração. É sempre bom lembrar que maioria dos pacientes afetivos que procuram o clínico geral ou especialistas não-psiquiatras, podem ser portadores de quadros emocionais associados à Depressão, principalmente quadros ansiosos ou somáticos, cheios de sintomas físicos de origem emocional ou agravados pelas emoções. Os pacientes deprimidos podem apresentar a depressão de maneira; Depressão Atípica e Depressão Típica. Vejamos os 2 tipos: duas Pacientes com Sintomas Predominantemente Físicos (Depressão Atípica) Começamos com o esquema de abordagem dos pacientes com quadros somáticos. Podem ser eles: 1. - Síndrome do Pânico 2. - Quadros Fóbicos 2.1 - Fobia Social 2.2 - Fobia Simples 2.3 - Agorafobia 3. - Quadros Obsessivos-Compulsivos 4. - Quadros Somatiformes 4.1 - Dor Psicogênica 4.2 - Hipocondria 4.3 - Somatizações (Transtorno Somatomorfo) Todos esses quadros acima podem se manifestar com exuberantes sintomas autossômicos, determinados por desequilíbrio do SNA (Sistema Nervoso Autônomo) e/ou com a coexistência de Transtornos Psicossomáticos. Há uma "zona" de concomitância da Depressão com Ansiedade, caracterizando a Depressão Atípica, onde a sintomatologia mais evidente seria dos quadros relacionados à Ansiedade, como o Pânico, as Fobias, a Somatização e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Havendo necessidade de tratamento médico, este deve ser direcionado à Depressão e à Ansiedade. A maioria dos clínicos gerais e especialistas nãopsiquiatras têm optado, por várias razões, aos ansiolíticos como primeira opção medicamentosa para os quadros com sintomatologia ansiosa. Entre as razões dessa escolha estão, principalmente, o hábito e o desconhecimento do manejo com antidepressivos. Sabendo que a Depressão pode ser a base psicofisiológica dos sintomas ansiosos, o mais correto seria iniciar o tratamento com antidepressivos; isoladamente ou, conforme ao caso, temporariamente associados aos ansiolíticos. A existência de sintomas físicos em pacientes emocionais exige sempre uma adequada avaliação clínica. Não havendo confirmação clínica e laboratorial das queixas físicas estaremos diante de quadros Somatiformes (ou Somatomorfos). Havendo alterações clinicamente constatadas estaremos diante dos Transtornos Psicossomáticos (veja). Relação das queixas relacionadas aos Transtornos Somatomorfos Área Médica Sintomas Cardiologia Palpitações, arritmias, taquicardias, dor no peito, aperto no peito. Gastroenterologia Cólicas abdominais, dor no estômago, enjôo, gostos estranhos na boca. Neurologia Anestesias, formigamentos, cefaléia, alterações sensoriais, paralisias, alterações visuais. Otorrinolaringologia Vertigens, tonturas, zumbidos e barulhos no ouvido, bolo na garganta. Clínica Geral Falta de ar, sensação de desmaio, fraqueza dos membros, falta de apetite ou apetite demais, fadiga, dores nas juntas. Ginecologia Cólicas abdominais e pélvicas, dor na relação sexual, alterações menstruais, disfunção sexual. Ortopedia Lombalgias, cervicalgias, dor na nuca, fraquezas musculares, possivelmente LER (lesão por esforço repetitivo). Alguns desses sintomas estão presentes na crise de Pânico, outros na crise de Fobia(principalmente Fobia Social), outros na Dor Psicogênica ou nos Transtornos Somatomorfos. Se não há dúvidas para se iniciar o tratamento antidepressivo, estabelecer o tempo e a natureza desse tratamento pode ser um pouco mais complicado. Aqui, voltamos a sublinhar a importância de saber se a pessoa É deprimida ou ESTÁ deprimida. O bem estar e os benefícios do tratamento serão os mesmos nos dois casos, a questão está na duração do tratamento. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Sendo portador de Distimia, de Transtorno Depressivo Recorrente ou de Transtorno Afetivo Bipolar, acompanhado ou não de sintomas físicos ou somáticos, esse paciente é deprimido. Neste caso o tratamento será a longo prazo e algumas vezes para sempre. O médico deve orientar o paciente para essa possibilidade e, para amenizar os preconceitos que se tem sobre a possibilidade de um tratamento longo ou definitivo com medicação psiquiátrica, alguns argumentos podem ser lembrados ao paciente. Alguns outros problemas médicos de tratamento longo ou permanente mas que não despertam tanto constrangimento quanto os problemas psiquiátricos. ALGUMAS DOENÇAS DE TRATAMENTO LONGO OU PARA SEMPRE Área Médica Doenças Cardiologia Hipertensão Arterial, Arritmias, Doença Coronariana... Gastroenterologia Doença de Crohn, Colite Ulcerativa, algumas Gastrites Crônicas... Neurologia Enxaqueca, seqüelas de AVC, Hidrocefalias, Epilepsia... Otorrino - Oftalmo Labirintites, Zumbidos, Surdez, Miopia, Astigmatismo, Hipermetropia... Clínica Geral – Endócrino - Reumato Reumatismos, Lúpus, doença de Reynauld, Doenças Autoimunes, Diabete, Hipo ou Hipertiroidismo, Insuficiência Suprarrenal ... Ginecologia Endometriose, Esterilidade, Insuficiência Ovariana, Dismenorréia, simples corrimento vaginal... Ortopedia Lombalgias, Osteoporose, Osteoartrose, Cifoses, Escolioses... Na maioria desses casos, bem como na problemática psiquiátrica, o tratamento médico controla a doença, alivia sintomas, melhora a sobrevida, o nível de vida e o conforto, proporciona ressocialização e melhor adaptação do paciente. Portanto, a resolutividade da psiquiatria é absolutamente a mesma de outras tantas especialidades médicas. Sendo o paciente portador de um Episódio Depressivo único, bem como de Transtornos Ansiosos recentemente surgidos na vida da pessoa, o tratamento terá perspectivas de ser mais breve. Vejamos um esquema de orientação para se estimar um tratamento mais breve ou mais longo, conforme o quadro abaixo. TRATAMENTO MAIS LONGO Antecedentes pessoais de depressão História familiar de problemas emocionais Abuso de álcool ou drogas ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA TRATAMENTO MAIS CURTO Sem antecedentes pessoais de depressão. Sem história familiar de depressão. Estressor emocional desencadeante. www.escoladepsicanalisekoinonia.com Morar sozinho Idade avançada Alto nível de preocupação Tentativa anterior de suicídio Casado(a) ou equivalente. Idade mais jovem. Nível normal de preocupação. Recente perda. Pacientes com Sintomas Predominatemente Depressivos Com frequência o paciente também pode apresentar, predominantemente, sintomas francamente depressivos. O mesmo esquema proposto acima (dos sintomas predominantemente físicos) pode ser aplicado. Algumas recomendações podem ser muito proveitosas para o tratamento dos transtornos emocionais que envolvem a Depressão: O QUE ACONTECE O paciente quer melhorar rápido: Há sintomas ansiosos também: Há sintomas físicos também: DEPOIS DE 3 SEMANAS Se os sintomas depressivos persistem: Se os sintomas ansiosos persistem: Sintomas físicos persistem: LEMBRAR QUE... O tratamento demora alguns dias ou semanas. Antidepressivos + ansiolíticos (temporariamente). Antidepressivos + ansiolíticos e tratar sintomas físicos. LEMBRAR QUE... Antes de substituir o antidepressivo aumente a dose* Aumente o antidepressivo associe ansiolíticos. Aumente o antidepressivo associe ansiolíticos. * lembrar que os antidepressivos tricíclicos costumam Ter um tempo de latência para início dos efeitos terapêuticos maior que os antidepressivos atípicos oi ISRS (inibidores da recaptação de serotonina). Linhas Gerais do Tratamento É muito importante ter em mente que o paciente deve ser sempre muito bem orientado sobre os passos, o tipo e a natureza do tratamento a que está sendo submetido. O paciente deve saber sobre a natureza dos medicamentos, suas ações e efeitos colaterais, sobre o tempo previsto para sua ação terapêutica, bem como a previsão de tempo de uso. É sempre importante termos em mente que os sintomas ansiosos e físicos desaparecerão com o tratamento da Depressão na expressiva maioria dos casos, sem necessidade de ansiolíticos e/ou medicamentos sintomáticos. Havendo necessidade desses medicamentos para alívio mais rápido de sintomas físicos e ansiosos, os quais, além de muito aborrecedores, normalmente se constituem na principal queixa que motiva a consulta, devemos considerar a brevidade em que serão usados. O medicamento de uso mais longo e continuado será o antidepressivo. Como vimos acima, no caso do quadro sugerir tratar-se de um paciente que é deprimido, o tempo de tratamento deve ser mais longo (algumas vezes para sempre) e, inversamente, sugerindo tratar-se de um paciente que está deprimido, podemos pensar em maior brevidade. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Especificações dos Antidepressivos Os antidepressivos são drogas que aumentam o tônus psíquico melhoram o humor e, consequentemente, melhoram a performance psíquica de maneira global. Apesar de vários fatores contribuírem para a etiologia da Depressão, entre eles destaca-se cada vez mais a importância da bioquímica cerebral. Em situação normal, sem Depressão, o número de neuroreceptores no neurônio 2 (pós-sináptico) é normal. Na Depressão, à medida em que escasseiam os neurotransmissores, aumentam os neuroreceptores. A ação terapêutica das drogas antidepressivas tem lugar no Sistema Límbico, o principal centro das emoções. Este efeito terapêutico é conseqüência de um aumento funcional dos neurotransmissores na fenda sináptica, principalmente da Norepinefrina(NE) e/ou da Serotonina (5HT) e/ou da Dopamina (DO), bem como alteração no número e sensibilidade dos neuroreceptores. O aumento de neurotransmissores na fenda sináptica pode se dar através do bloqueio da recaptação desses neurotransmissores no neurônio pré-sináptico ou ainda, através da inibição da Monoaminaoxidase (MAO), a enzima responsável pela inativação destes neurotransmissores. Será, portanto, os sistemas noradrenérgico, serotoninérgico e dopaminérgico do Sistema Límbico o local de ação das drogas antidepressivas empregadas na terapia dos transtornos da afetividade. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Podemos dividir os antidepressivos em 3 grupos: 1 - Antidepressivos Tricíclicos (ADT) 2 - Inibidores da Monoaminaoxidase (IMAO) 3 - Antidepressivos Atípicos 4 - Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina Antidepressivos Tricíclicos (ADT) Os antidepressivos são drogas que aumentam o tônus psíquico melhorando o humor e, consequentemente, melhorando a psicomotricidade de maneira global. Como vimos anteriormente, são vários os fatores que contribuem para a etiologia da depressão emocional e, entre eles, destaca-se cada vez mais a importância da bioquímica cerebral. Acredita-se que o efeito antidepressivo se dê às custas de um aumento da disponibilidade de neurotransmissores no SNC, notadamente da serotonina (5-HT), da noradrenalina ou norepinefrima (NE) e da dopamina (DA). Ao bloquearem receptores 5HT2 os antidepressivos também funcionam como antienxaqueca. Este aumento de neurotransmissores na fenda se dá através do bloqueio da recaptação da NE e da 5HT no neurônio pré-sináptico ou ainda, através da inibição da Monoaminaoxidase (MAO) que é a enzima responsável pela inativação destes neurotransmissores. Será, portanto, nos sistemas noradrenérgico e serotoninérgico do Sistema Límbico o local de ação das drogas antidepressivas empregadas na terapia dos transtornos da afetividade. O local de ação Límbico aumentando disponibilidade dos através da inibição sinápticos. dos antidepressivos tricíclicos (ADT) é no Sistema a NE e a 5HT na fenda sináptica. Este aumento da neurotransmissores na fenda sináptica é conseguido na recaptação destas aminas pelos receptores pré- Parece haver também, com o uso prolongado dos ADT, uma diminuição do número de receptores pré-sinápticos do tipo Alfa-2, cuja estimulação do tipo feedback inibiria a liberação de NE. Desta forma, quanto menor o número destes receptores, menor seria sua estimulação e, consequentemente, mais NE seria liberada na fenda. Portanto, dois mecanismos relacionados à recaptação; um inibindo diretamente a recaptação e outro diminuindo o número dos receptores. Alguns autores tentam relacionar subtipos de depressão de acordo com o envolvimento do sistema serotoninérgico ou noradrenérgico. Teríamos então, bioquímica e farmacologicamente, a depressão por déficit de serotonina, considerada depressão ansiosa e a depressão por déficit de norepinefrina, depressão inibida. Importa, em relação à farmacocinética dos ADT, o conhecimento do período de latência para a obtenção dos resultados terapêuticos. Normalmente estes ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com resultados são obtidos após um período de 15 dias de utilização da droga e, não raro, podendo chegar até 30 dias. Enquanto os efeitos terapêuticos exigem um período de latência, o mesmo não acontece com os efeitos colaterais. Estes aparecem imediatamente após a ingestão da droga e são responsáveis pelo grande número de pacientes que abandonam o tratamento antes dos resultados desejados.(saiba mais visitando a pág. das substâncias). Nome do Sal ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Nome Comercial Apresentação Dose média* AMITRIPTILINA Amitriptilina Amytril Tryptanol cp. de 25 mg cp. de 25 mg cp. de 25 e 75 mg 25 a 125 mg/dia CLOMIPRAMINA Anafranil cp. de 25 e 75 mg 25 a 225 mg/dia IMIPRAMINA Imipra Imipramine Tofranil cp. de 25 mg cp. de 25 mg cp. de 25, 75 e 150 mg 25 a 300 mg/dia MAPROTILINA** Ludiomil cp. de 25 e 75 mg 25 a 150 mg/dia NORTRIPTILINA Pamelor cp. de 25, 50 e 75 mg 25 a 100 mg/dia * - as doses dos tricíclicos são extremamente variáveis tendo em vista a sensibilidade pessoal. ** - os fabricantes consideram a Maprotilina um tetracíclico, porém, sua farmacodinâmica pode ser considerada juntamente com os tricíclicos. Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina Os Inibidores Específicos da Recaptação de Serotonina (ISRS) atuam no neurônio pré-sináptico inibindo especificamente a recaptação desse neurotransmissor, logrando daí seu efeito antidepressivo. Por não terem efeitos anticolinérgicos e nem por apresentarem afinidade com receptores adrenérgicos, muscarínicos, colinérgicos, histamínicos ou dopamínicos, deixam de apresentar a expressiva maioria dos efeitos colaterais encontrados nos antidepressivos tricíclicos e, embora alguns deles tornem o ato sexual mais prolongado, decididamente não diminuem a libido. Os ISRS não apresentam interações com o álcool, portanto, limitam menos o nível social dos pacientes. Estudos realizados por períodos de até um ano demonstram que a maioria dos ISRS não causa ganho de peso, ao contrário do que ocorre em muitos pacientes em uso de antidepressivos tricíclicos. Os efeitos antidepressivos dos ISRScomeçam a ser observados de 2 a 4 semanas após o início do tratamento, normalmente após a segunda semana. O efeito máximo ocorre após 5-6 semanas de uso. Recomenda-se a utilização de 20 a 60 mg/dia, via oral, para a maioria das substâncias ISRS, dose esta que pode ser em uma única tomada, devido sua ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com meia-vida mais longa. A Nefazodona e a Sertralina são ministrados em doses maiores (saiba mais visitando a pág. das substâncias). ANTIDEPRESSIVOS INIBIDORES SELETIVOS DA RECAP. SEROTONINA Nome do Sal Comercial* Apresentação Dose média CITALOPRAM Cipramil cp. de 20 mg Citta cp. de 20 mg Procimax cp de 20/40 mg Alcytan cp de 20/40 mg ESCITALOPRAM Lexapro cp. de 10/20 mg 10 a 30 mg/dia FLUOXETINA Deprax Eufor Fluxene Nortec Prozac Verotina cp. de 20 mg cp. de 20 mg cp. de 20 mg cp. de 20 mg cp. de 20 mg cp. de 20 mg 20 a 60 mg/dia 20 a 60 mg/dia 20 a 60 mg/dia 20 a 60 mg/dia 20 a 60 mg/dia 20 a 60 mg/dia FLUVOXAMINA Luvox cp. de 100 mg 100 a 300 mg/dia NEFAZODONA Serzone cp. de 100/150 mg 300 a 500 mg/dia PAROXETINA Aropax Pondera cp. de 20 mg cp. de 20/40 mg Cebrilim cp. de 20/30 mg Novativ Tolrest Zoloft cp. de 50 mg 50 a 100 mg/dia cp. de 50 mg cp. de 50 a 100 mg Serenata cp. de 20 mg SERTRALINA 20 a 60 mg/dia 20 a 60 mg/dia *- Dificilmente esta lista será prontamente atualizada, tendo em vista a profusão de lançamentos de produtos comerciais pela indústria farmacêutica. Antidepressivos Atípicos São os antidepressivos que não se caracterizam como Tricíclicos, como ISRS e nem como Inibidores da MonoAminaOxidase (IMAOs). Alguns deles aumentam a transmissão noradrenérgica através do antagonismo de receptores a2 (pré-sinápticos) no sistema nervoso central, ao mesmo tempo em que modulam a função central da serotonina por interação com os receptores 5-HT2 e 5-HT3 , como é o caso daMirtazapina. A atividade antagonista nos receptores histaminérgicos H1 da Mirtazapina é responsável por seus efeitos sedativos, embora esteja praticamente desprovida de atividade anticolinérgica. Outros atípicos são inibidores da recaptação de Serotonina e Norepinefrina, alguns inibindo também, a recaptação de dopamina. É o caso da Venlafaxina, da Mirtazapina. Também estão aquí os inibidores da reacaptação da Norepinefrina (Noradrenalina), como é o caso da Riboxetina.Essa droga ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com também reduz a sensibilidade dos receptores beta-adrenérgicos, inclusive após administração aguda, o que pode sugerir um início de efeito clínico mais rápido. Alguns atípicos, como é o caso da Tianeptina, embora sejam serotoninérgicos, não inibem a recaptação da Serotonina no neurônio pré-sináptico mas, induzem sua recaptação pelos neurônios da córtex, do hipocampo e do Sistema Límbico. Há ainda a Bupropiona que é uma droga sem efeito sobre a Serotonina estando sua ação vinculada a inibição da recapitação dos neurotransmissores Norepinefrina eDopamina. Seu uso é mais conhecido como adjuvante no tratamento anti tabágico porém seu efeito antidepressivo na depressão unipolar e principalmente na depressão bipolar está bastante consolidada. A Amineptina, outro atípico, é uma molécula derivada dos tricíclicos mas seu mecanismo de ação é essencialmente dopaminérgico, enquanto que os outros antidepressivos tricíclicos são essencialmente noradrenérgicos e serotoninérgicos. As melhoras sintomáticas poderão ser observadas a partir do 3º ao 5º dias e sobre o sono REM a partir do 20º dia de tratamento em posologia suficiente. Nome do Sal ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS Nome Comercial Apresentação Dose média AMINEPTINA Survector cp. de 100 mg 100 a 300 mg/dia VENLAFAXINA Efexor cp. de 37,5 e 75 mg 75 a 150 mg/dia MIRTAZAPINA Remeron cp. de 30 e 45 mg 30 a 45 mg/dia TIANEPTINA Stablon dr. de 12,5 mg 25 a 50 mg/dia BUPROPIONA Wellbutrin SR cp 150 mg 300 mg/dia REBOXETINA Prolift cp de 4 mg 8 - 16 mg/dia FLUVOXAMINA Luvox (breve) cp. 100 mg. 200 mg/dia.. DULOXETINA Cymbalta cp de 60 mg 60 – 120 mg/dia Conclusão A abordagem da clínica em geral, e da psiquiatria em particular, da Depressão tem ficado cada vez mais extensa e abrangente à medida em que avançam os conhecimentos sobre todas implicações sintomáticas desse Transtorno Afetivo (ou doHumor). Será didático uma analogia da Depressão com a embriagues, tendo em vista a diversidade de manifestações clínicas possíveis no quadro depressivo, quer tais manifestações sejam concomitantes ou conseqüentes à essa alteração afetiva. Se várias pessoas ficarem embriagadas, por exemplo, teremos também várias manifestações individuais dessa embriagues, apesar da causa subjacente do estado de cada uma delas ser a mesma. Da mesma forma acontece com a Depressão. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Do ponto de vista psiquiátrico podemos suspeitar de Depressão diante do paciente que apresente sintomas tais como tristeza, angústia, pessimismo, perda do prazer com as coisas, desinteresse, insônia ou dormir demais. Suspeitamos mais ainda quando se queixa de perda de energia, falta de vontade de viver, lentificação, apatia, preguiça, fadiga, perda de força, cansaço. E continuamos a hipótese de Depressão quando junta-se ainda, a diminuição do raciocínio, concentração e/ou memória, pensamentos sobre a morte, desejar ou não se importar em morrer, auto-desvalorização e sentimentos de culpa. Saber desses sintomas e concluir pelo diagnóstico de Depressão passa a ser o primeiro requisito para instituirmos o um tratamento médico. Apela-se à medicina clínica para a sensibilidade sobre essas questões emocionais. Suspeitar da Depressão diante de quadros de complicada propedêutica e difícil solução diagnóstica, como é o caso das inconclusivas palpitações, arritmias, taquicardias, dor no peito, cólicas abdominais, epigastralgia, constipação, diarreia, etc, deve fazer parte das opções de diagnóstico. Apela-se para que o clínico considere como uma linguagem afetiva e instituir um tratamento adequado para as parestesias, anestesias, formigamentos, cefaléia, alterações sensoriais, vertigens, tonturas, zumbidos, falta de ar, etc, sem solução e que pode-se considerar a hipótese de Transtorno Somatoforme. Reinvidica-se da medicina uma interpretação além da fisiologia orgânica para casos como o tal bolo na garganta, as sensação de desmaio, a tão mal compreendida fraqueza dos membros, a falta de apetite ou apetite demais, as inexplicáveis cólicas pélvicas das mulheres queixosas, assim como a dor na relação sexual e alterações menstruais. Abordando o paciente sob a ótica da emoção, podemos resolver, com frequência as incômodas lombalgias, artralgias, cervicalgias, dor na nuca, irritabilidade, alterações do sono, angústia, tristeza, medo, insegurança, tendência a ficar em casa e pensamentos ruins. Esses quadros polimórficos, sem correspondência orgânica e refratários aos tratamentos sintomáticos habituais, podem (e devem) ser abordados do ponto de vista emocional e, dentro desse prisma, enfocados como manifestações somáticas de transtornos muito provavelmente depressivos. Agindo assim, podemos interromper satisfatoriamente a "via crucis" pelos ambulatórios médicos de um sem número de queixosos crônicos e incompreendidos. Por outro lado, muita atenção; diante desse polimorfismo sintomático não devemos negligenciar um completo exame clínico e todos os procedimentos para investigar a participação orgânica, de fato. Mesmo o psiquiatra, diante de casos com hipóteses emocionais deve proceder uma completa investigação clínica, principalmente naqueles pacientes estigmatizados pelos diagnósticos anteriores de transtorno emocional. Obedecidas as diretrizes de exame clínico e diagnóstico, lembramos que os medicamentos mais modernos costumam resolver a maiorias dos quadros ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com depressivos, e seu uso como coadjuvante no tratamento de várias especialidades tem encontrado indicação formal em grande número de casos. Ballone GJ, Moura EC - Tratamento da Depressão ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com AULA 37 – PSICOPATOLOGIA – GRAVIDEZ E DEPRESSÃO Gravidez e Depressão Os efeitos do estresse, da ansiedade e da depressão sobre a gravidez e o feto é bem mais danoso que o tratamento médico para esses transtornos. O diagnóstico de depressão tem aumentado na população geral e, com isso, os problemas relacionados aos tratamentos antidepressivos também são maiores. Um dos dilemas que enfrenta o clínico nessas questões, é quando a paciente apresenta depressão e engravida, já está grávida ou amamentando. Em relação à prescrição de medicamentos para grávidas, uma revisão conduzida por Schou (1998) considerou que o tratamento à base de lítio, de antidepressivos tricíclicos(ADT), e de inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), estão justificados antes, durante e após a gravidez, sempre que for requerido; quer como tratamento de crises, quer como preventivo para pacientes de constatado risco emocional. Refere ainda, que nenhum outro tratamento curativo e profilático tem um risco mais baixo e uma melhor relação custo-benefício. A maioria dos pesquisadores são concordantes com Schou quanto aos antidepressivos tricíclicos (ADT) e ISRS mas, em relação ao Lítio, outros autores têm opinião diferente, contra-indicando esse produto durante a gravidez. É comum ouvirmos, da tal “sabedoria popular”, das interpretações psicodinâmicas mais ousadas, e até dos tipos alternativos de abordagem humana, que o estado emocional da mãe, durante a gestação, influi no futuro bem estar emocional da criança que vai nascer ou, outras vezes, determinar até a interrupção da gravidez. De fato isso parece ter procedência científica, não tão romântica como alguns querem fazer crer, sugerindo uma verdadeira transmissão de sentimentos intraútero ou o abortamento emocional, mas sim claramente bioquímica. Estudos retrospectivos em seres humanos (Weinstock, 2001) sugerem que o estresse materno crônico, durante a gravidez, se associa com os níveis elevados de Hormônio Liberador de Corticotrofina(corticotropin-releasing hormone CRH), de Hormônio Adreno-Córticotrófico (ACTH) e de Cortisol. Esses hormônios podem aumentar a probabilidade do nascimento de prematuros, de atrasos no desenvolvimento infantil e anormalidades comportamentais nas crianças. As anormalidades de desenvolvimento e de comportamento nos filhos poderiam ocorrer devido a sensibilidade do cérebro fetal à esses hormônios maternos aumentados pelo estresse, assim como à ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com ação danosa no cérebro do feto pelos glicocorticóides e neurotransmissores envolvidos pelas grandes tensões emocionais da mãe. São cada vez mais claras e inequívocas as pesquisas sobre os efeitos danosos da depressão da mãe durante a gestação sobre as futuras funções maternas no momento do parto e no período neonatal. A começar pela maior incidência de necessidade de analgesia em pacientes previamente deprimidas. Chung (2001) mostrou que as mulheres que tiveram níveis elevados de sintomas depressivos durante o terceiro trimestre, mais provavelmente necessitavam de anestesia peridural e maior incidência de partos cirúrgicos. Chung viu ainda que as crianças dessas mães deprimidas, eram também mais prováveis de admissões em unidades de cuidados intensivos de recém nascidos. Tais resultados sugerem um possível relacionamento causal entre alterações psicológicas maternais na gestação e pré-parto, e complicações obstétricas e neonatais. Por outro lado, também de acordo com a tal “sabedoria popular” e interpretações psicodinâmicas, tem procedência científica o tão propalado “espírito materno”, que se abate sobre gestantes de modo geral, tal qual um sopro mágico. Ocorrem no cérebro, grandes alterações no metabolismo, secreção e sensibilidade de receptores de ocitocina, um neurotransmissor elaborado inicialmente pela hipófise. Essa ocitocina de liberação central (no Sistema Nervoso Central) é o elemento bioquímico atualmente mais relacionado à expressão e comportamento maternal (Russell, 2001). Isso ocorre, diga-se de passagem, nos ser humano e nos animais, os quais parecem também ser envolvidos pelo espírito mágico da maternidade. Outras mudanças nos diversos sistemas neuroendócrinos estão igualmente ligadas à lactação, à supressão da ovulação, ao apetite aumentado, e demais modificações gravídicas. Assim sendo, considerando verdadeira a sensata hipótese de Monk, a preocupação em diagnosticarmos se a Depressão que apresenta uma mulher seria um caso de Tristeza Materna ou de Depressão Pós-Parto (veja artigo), pensando nesses diagnósticos como se tratassem de doenças psiquiátricas diferentes, vamos entender a questão como sendo transtornos depressivos tradicionais, de graus variados (leve, moderado ou grave) com a única diferença de terem sido oportunistas e comórbidos com a gravidez. Portanto, o correto seria considerar o quadro como Depressão na Gravidez e não da gravidez. As constantes e periódicas mudanças hormonais, as alterações orgânicas da reprodução, da puberdade, o uso prolongado de contraceptivos orais, as alterações orgânicas e existenciais do pós-parto e da menopausa contribuem, significativamente, para que as mulheres tenham duas vezes mais depressão que os homens (Parry, 2001). ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Na clínica diária tem sido comum algumas pacientes se queixarem ter apresentado depressão depois do nascimento de seus filhos e que, mesmo estando eles com até 3 anos de idade, a depressão continuava. Isso tem, de fato, uma confirmação em pesquisas. Avaliadas por McLennan (2001), 24% de parturientes manifestavam depressão 17 semanas depois do parto e até 17% delas continuavam deprimidas 35 meses depois (três anos). Um dos fatores que favorecem a depressão durante a gestação está o fato da gravidez não ter sido desejada. E essa depressão da gravidez persiste depois do parto (como veremos adiante, nada parece confirmar que exista maior incidência de depressão depois do parto que durante a gravidez). Dessas, 36% tinha história de gravidez não desejada. O estado afetivo dessas mães influiu no estado de saúde das crianças. A necessidade do pronto tratamento psiquiátrico em mulheres grávidas com problemas emocionais, decorre da noção sobre os efeitos do estresse, da ansiedade e da depressão sobre a evolução da gravidez, do parto, da futura função materna e, principalmente, da qualidade psíquica da criança que vai nascer. Trata-se, sobretudo, de uma atitude psiquiátrica predominantemente preventiva (Monk, 2001). Ao contrário do que pensa muita gente, a incidência de depressão na gravidez mostra taxas mais elevadas até a 32a. semana de gestação do que até 8 semanas depois do parto. Evans (2001) é enfático ao dizer, textualmente, que os sintomas da depressão não são mais comuns ou severos após o parto do que durante a gravidez. O que acontece, provavelmente, é que a maioria dos obstetras e pediatras evita esse diagnóstico, devido ao receio ou pouco conhecimento com relação ao tratamento disso durante a gravidez. Segundo essa pesquisa, realizada com 14.000 mulheres grávidas, a depressão depois do parto (puerperal) não pareceu ser uma síndrome distinta da depressão que pode acontecer durante o período da gestação. Sobre as dúvidas acerca das mulheres serem mais vulneráveis à doença psiquiátrica durante o período pós-natal, Evans concluiu que “a prevalência da doença depressiva não-psicótica no período pós-natal foi similar à prevalência na população geral”. De forma radical, mas convincente, afirma que não foi encontrada nenhuma evidência que justificasse categorizar, de forma distinta, depressão pós-parto da depressão de qualquer outra época da vida. Antidepressivos A indicação principal para antidepressivos é depressão e, entre esses produtos, muitas drogas se mostram eficazes para o tratamento farmacológico da depressão em gestantes e lactantes. Embora os antidepressivos de modo geral pareçam ser igualmente eficazes, os inibidores seletivos do recaptação da serotonina (ISRS) são frequentemente as drogas da escolha. Essa preferência deve-se, no mais das vezes, à sua segurança e aos efeitos colaterais mais menos incômodos (Majeroni, 1998). ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com É claro que as precauções em relação aos medicamentos em grávidas devemse ao fato dessas substâncias cruzarem a barreira placentária, portanto, fazendo supor eventuais implicações para o feto. Porém, como dissemos, tendo em mente também os evidentes efeitos danosos dos transtornos da ansiedade e da depressão não tratadas à mãe e ao feto, a decisão para esse tipo de tratamento deve ser muito bem ponderada pelos médicos que assistem à gravidez. A primeira coisa a saber, e que pode trazer conforto às gestantes, é que os transportes de radicais e outras substâncias da mãe ao feto, através da placenta, e das substâncias do feto à mãe começam, aproximadamente, a partir da quinta semana da vida fetal (Iqbal, 1999). Esse conhecimento alivia a angústia de muitas mães que faziam uso de medicamentos por ocasião de se saberem grávidas. De qualquer forma, as pessoas que desejam precaver-se do uso de quaisquer produtos durante o primeiro trimestre de gestação, estarão satisfatoriamente protegidas se mantiverem essa postura entre a 5a. e a 12a. semanas. Como cautelosamente avisam as bulas de psicotrópicos e outros tantos pesquisadores, apesar do uso muito difundido desses produtos, tais como benzodiazepínicos e antidepressivos, durante a gravidez, há ainda pouca informação a respeito de seus efeitos no feto. Diante dessas dúvidas, e com receio de não se saber o suficiente, há uma tendência geral para indicação de tratamentos não-farmacológicos sempre que possível para o tratamento de transtornos da ansiedade e alguns poucos casos de depressão leve-moderada. A maioria desses tratamentos não-farmacológicos se faz às custas da terapia comportamental e cognitiva. Entretanto, como pode se apurar na maioria das pesquisas recentes, se alguma medicação for exigida, as mulheres grávidas devem receber, preferentemente, antidepressivos (ADT e ISRS) para prevenir consequências mais desastrosas de sua doença emocional sobre si mesma, sobre a criança e sobre sua família. Os limites das pesquisas de psicotrópicos em grávidas se devem, sobretudo, aos compreensíveis problemas para se submeter mulheres normais aos estudos. No Brasil, um estudo relativamente recente comparou os efeitos tóxicos de doses altíssimas de fluoxetina (de 8 a 16 mg/kg) e venlafaxina (40 e 80 mg/kg), administrado durante a terceira semana da gravidez em ratas e cães. A conclusão foi de que esses produtos podem reduzir o peso das crias (da Silva, 1999) quando as doses forem exageradamente altas. Tradicionalmente, o que mais preocupa e se pesquisa é saber se esses antidepressivos e outras drogas podem causar possíveis efeitos teratogênicos (de malformações) aos fetos. O uso dos antidepressivos durante a gravidez tem sido consideravelmente avaliado com respeito às condições de segurança. Alguns relatórios anteriores sobre antidepressivos tricíclicos (ADTs) sugeriam a necessidade ajustar a dose durante a gravidez para manter concentrações terapêuticas no sangue. De fato, em relação aos ISRS, também parece haver ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com necessidade de aumento da dose em grávidas à partir da 20a. à 27a. semanas para se obter o mesmo efeito que nas pessoas não grávidas (Hostetter, 2000). Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), incluindo a fluoxetina, sertralina, paroxetina, fluvoxamina e citalopram, representam um avanço importante na farmacoterapia dos transtornos do humor e são os tratamentos da escolha para muitos quadros afetivos. Entre esses quadros incluem-se a depressão maior (ou grave), a distimia, o transtorno do pânico, o transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, e o transtorno disfórico pré-menstrual. Masand reviu os trabalhos sobre esse tema catalogados em Medline nos últimos 15 anos. A maioria dos autores pesquisados alega segurança na gravidez para os ISRS, notadamente para a fluoxetina. Os efeitos colaterais dos ISRS incluem distúrbios gastrintestinais, dor de cabeça, sedação, insônia em alguns casos, hiperatividade em outros, ganho ou perda de peso, a perspiração excessiva e disfunção sexual (Masand, 1999). A capacidade para determinar malformações fetais (teratogenicidade) e outros efeitos da medicação psiquiátrica no feto, recém nascido ou no lactente, deve ser muito bem discutida e considerada, em comparação com os riscos do não tratamento. A medicação, quando requerida, deve ser mantida na dose mínima necessária para tratar adequadamente os sintomas incômodos e perigosos. Revendo a bibliografia dos últimos dois anos, a maioria dos trabalhos mostra que os antidepressivos não têm nenhum efeito teratogênico aparente (Buist, 2000). Por outro lado, os estabilizadores do humor (Lítio, Carbamazepina e Valproatos) são mais prováveis ter efeitos teratogênicos e devem, em geral, ser evitados durante a gravidez. Horváth (2000) analisou, na Hungria, dados referentes à 127 grávidas que procuraram aconselhamento genético por fazerem uso de medicação durante a gravidez. A maioria dessas mulheres (78%) procurou o serviço de orientação genética antes da 12a. semana de gestação. As indicações principais para os tratamentos foram, por ordem de freqüência, as infecções, transtornos psiquiátricos (depressão e ansiedade), neurológicos (epilepsia), endócrinos (diabetes, hipertiroidismo), doenças cardiovasculares e problemas gastrintestinais. Os grupos principais das drogas utilizadas eram os antibióticos, analgésicos e antitérmicos, antidepressivos, antidiabéticos e antihipertensivos. Exames de ultra-som foram periodicamente realizados pelos autores no intuito de avaliar o desenvolvimento de malformações fetais em pacientes que faziam uso de medicações desde o primeiro trimestre da gravidez. Quando a paciente fazia uso de medicações múltiplas o risco de malformações aumentava, resultando em 6,3% dos casos. Em Milão, Addis (2000) examinou a possibilidade de risco aumentado para as malformações fetais devido ao uso do antidepressivo fluoxetina durante o primeiro trimestre da gravidez, mediante uma complexa meta-análise. Depois ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com de analisados os dados, concluiu que o uso do fluoxetina, durante o primeiro trimestre da gravidez, não é associado com os efeitos teratogênicos no ser humano. O desenvolvimento intra-útero e peri-natal das crianças cujas mães fizeram uso de tricíclicos ou de fluoxetina durante a gestação não apresentou diferença daquelas crianças do grupo controle (que não usaram esses medicamentos). Em alguns neonatos, cujas mães foram tratadas com os antidepressivos perto do termo da gravidez, pode-se observar efeitos da substância e efeitos diretos da retirada delas (Wisner, idem). Outros estudos de meta-análise sobre efeitos adversos sobre o feto de medicações psicotrópicas analisaram dados de 12 anos; de janeiro de 1976 à fevereiro de 1998 (MEDLINE EMBASE). A conclusão foi de que nem os ISRS nem os ADT parecem causar anomalias e malformações congênitas, mas ambos podem ser associados com um risco aumentado pequeno de alterações menores, como por exemplo, a prematuridade e algumas complicações neonatais (Austin, 1998). Por outro lado, os benzodiazepínicos, o lítio, os anticonvulsivantes e a clorpromazina produzem uma taxa aumentada de anomalias congênitas assim como maiores problemas neonatais. O estudo ressalta ainda que, quando alguns psicotrópicos forem associados com anomalias congênitas e complicações peri-natais, não devemos esquecer que a doença mental, por si mesma, pode também ser associada com um resultado adverso no desenvolvimento da criança. Foram acompanhadas 969 mulheres grávidas em uso dos antidepressivos em idade gestacional mais avançada. Dessas, mais da metade (531) usou somente inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) e 423 usaram outros antidepressivos, e 15 usaram associações de antidepressivos (Ericson, 1999). Observações de Ericson (1999) sobre 969 grávidas em uso de antideprssivos 1 - As mulheres que usaram antidepressivos eram mais velhas e fumavam mais que outras mulheres controle 2 - Pareceu haver um excesso de mulheres elevadas da paridade entre elas 3 A frequência de nascimentos múltiplos era mais baixa do que esperada, com poucos nascimentos gêmeos nas mulheres que tinham usado ISRS 4 - A duração da gravidez entre as mães solteiras era mais curta que das casadas mas não afetou a sobrevivência infantil 5 - As crianças nascidas eram um tanto mais pesados do que esperados, notavelmente quando eram usados ADTs. 6 - Nenhum aumento de malformações congênitas foi observado no período. Baseado nesses dados, Ericson conclui que o uso dos antidepressivos na gravidez adiantada não parece acarretar algum risco significativo para o bebê detectável durante o período neonatal. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Outras Drogas Aproximadamente um terço de todas as mulheres grávidas fazem uso de drogas psicotrópicas ao menos uma vez durante a gravidez. Embora as drogas psicotrópicas não sejam exaustivamente testadas, nem totalmente aprovadas pelo FDA(Administração para uso de Drogas e Alimentos dos EUA) para uso durante a gravidez, algumas mulheres continuam fazendo uso dessas medicações quando engravidam (Cohen, 1998). Os riscos do uso de drogas psicotrópicas durante a gravidez poderiam incluir os efeitos teratogênicos, o efeito tóxico neonatal direto, e o potencial para seqüelas neuro-comportamentais quando se trata por um período mais longo. Mas também existem os riscos do transtorno psiquiátrico para a integridade feto-placentária e o desenvolvimento fetal do sistema nervoso central. As decisões clínicas para o tratamento psico-farmacológico na gravidez devem envolver, além do médico, também a mulher e seu companheiro, sempre tendo em mente que a omissão de tratamento adequado pode ser extremamente danosa para a mãe e para a criança, apesar de ser comodamente confortável para o médico. Os riscos e os benefícios da farmacoterapia para estas mulheres devem ser pensados separadamente para cada paciente. Normalmente o tratamento deve ser limitado às situações onde os riscos do transtorno emocional à mãe e ao feto são, presumidamente, maiores que os eventuais riscos do tratamento biológico. Os interesses sobre a exposição fetal à medicação psicotrópica estão sendo crescentes na prática clínica de psiquiatras e de médicos generalistas da atenção primária. A necessidade de se saber mais sobre o uso de psicotrópicos durante a gravidez, pós-parto e lactação é imperiosa e deve-se, sobretudo, pela elevada e crescente taxa de doenças psiquiátricas durante esses períodos. Entre as drogas pesquisadas, sugere-se que há aumento do risco para malformações congênitas após a exposição intra-uterina do lítio e aos estabilizadores do humor, mas tal risco nunca pode ser provado para a maioria dos antidepressivos (Lanczik, 1998). Amamentação A maioria dos estudos procura relacionar concentração dos produtos químicos encontrados no leite materno e a concentração desses produtos do sangue da mãe (relação milk/plasma [M/P]). Apesar destes estudos serem em número já expressivo, há notavelmente poucos relatórios atestando efeitos adversos nos bebês expostos aos psicotrópicos administrados às suas mães (Llewellyn, 1998). A maioria das investigações recentes demonstra a segurança do feto exposto a antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs) ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com durante a gravidez. Todos os ISRSs relatados nos estudos foram excretados no leite materno, e níveis baixos foram detectados no sangue da criança (Misri, 2000). Entretanto, 74% por cento dos bebês de mães que usavam psicotrópicos não apresentaram nenhuma concentração detectada no sangue, ou poderia haver alguma concentração que se encontrava abaixo do limite de deteção do laboratório. Nos 26% restantes, as concentrações sanguíneas de psicotrópicos e/ou dos metabólitos ativos foram detectados. Em cada um destes casos, os bebês tinham sido expostos à medicação psicotrópica da mãe não apenas durante a gravidez mas também na amamentação (Birnbaum, 1999). Sobre a concentração de psicotrópicos que eventualmente pode surgir no sangue da criança que amamenta em mãe que faz uso de psicotrópicos foi avaliado em relação à venlafaxina (Efexor®, Venlift®, Venlaxin®). Os dados preliminares mostram que a dose de Venlafaxina e de seu metabólito ativo foi de 9,2% da dose administrada à mãe (Ilett, 1998). Estes dados sugerem uma baixa incidência de toxicidade infantil e de efeitos adversos associados com o uso dos antidepressivos e de benzodiazepínicos durante amamentação, sugerem também que nenhum desses medicamentos parece ser mais seguro do que outro. Consequentemente, a escolha do tratamento farmacológico durante a amamentação deve ser guiada pela restauração do bem estar psiquiátrico maternal. RISCOS DA FARMACOTERAPIA EM GRÁVIDAS A) ANTIPSICÓTICOS LEVESCLORPROMAZINA LEVOMEPROMAZINA SULPIRIDA TIORIDAZINA TRIFLUOPERAZINA Seu uso durante o terceiro trimestre pode provocar ictericia, movimentos extrapiramidais, hiper e hiporreflexia no recém nascidos (A. Benarrabe, M. Bernardo, E. Arrufat e J. Salva. El manejo e o tratamento de transtornos mentais graves em embarazadas. Actas Luso-Esp. Neurol. Psiquiatr.,1998;26,3:187-2001). AMISULPRIDA b) ANTIPSICÓTICOS FLUFENAZINA HALOPERIDOL PENFLURIDOL p PIMOZIDA Seu uso, especialmente entre a 6ª e a 10ª semana de gestação, se associa a malformações neonatais. Há sempre absoluta necessidade de se considerar o risco decorrente da suspensão do tratamento com antipsicóticos, tendo em vista o aumento de mortes fetais nesses casos (A. Benarrabe, M. Bernardo, E. Arrufat e J. Salva, 1998). PIPOTIAZINA ZUCLOPENTIXOL 2. ANTIDEPRESIVOS a) TRICÍCLICOS ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA Não aumentam o risco de malformações congênitas. Seu uso em período perinatal pode provocar o www.escoladepsicanalisekoinonia.com AMITRIPTILINA CLOMIPRAMINA IMIPRAMINA MAPROTILINA aparecimento de irritação, convulsões e sintomas secundários aos efeitos anticolinérgicos, próprios deste tipo de medicamento (Lee S.Cohen, M.D., and Jerrolde F. Rosenbaum, M.D. Psychotropic drug use during pregnancy: weighing the risks. J. Clin. Psychiatry 1998;59 (supl 2):18-28). NORTRIPTILINA b) ISRS CITALOPRAM ECITALOPRAM FLUOXETINA NEFAZODONA Exceto para a fluoxetina, os dados que se têm deste grupo são limitados. No caso da fluoxetina, não existe incremento do risco de aparição de malformações congênitas.(Alexis Llewellyn, Zachary N. Stowe, M.D., and Charles B. Nemeroff,M.D.,Ph.D. Depressiom during pregnancy and the porperium. J.Clin.Psychiatry 1997;58(suppl 15):26-32) PAROXETINA SERTRALINA c) IMAOs: TRANILCIPROMINA MOCLOBEMIDA Os antidepressivos IMAOs devem ser evitados durante a gravidez devido ao aumento da probabilidade de malformações congênitas.(Lee S.Cohen, M.D., and Jerrolde F. Rosenbaum, M.D., 1998) SELEGILINA 3. ELETROCONVULSOTERAPIA Até hoje não existem evidências de malformações congênitas pela Eletroconvulsoterapia. É o método recomendado para situações de alto risco, dado à sua eficácia e segurança (Alexis Llewellyn; Zachary N. Stowe, M.D.; and James R. Strader, Jr. The use of lithium and management of women with bipolar disorder during pregnancy ande lactatiom J. Clin. Psychiatry 1998;59 (suppl 6):57-64). 4. ESTABILIZADORES DO HUMOR a) LITIO Apesar de controversa, a administração de Lítio durante o primeiro trimestre está associada a um aumento no número de malformações cardiovasculares. Seu uso no período perinatal se relaciona com a síndrome do "floppy baby", caracterizada por cianose e hipotonia muscular (Ellem Leibenluft, M.D. Issues im the treatment of womem with bipolar illness. J.Clin.Psychiatry 1997;58 (supl 15):5-11). b) CARBAMAZEPINA De 0,5-1% dos casos de espina bífida estariam relacionados à utilização de carbamazepina no primeiro trimestre. A carbamazepina é uma alternativa para os casos de resistência ao lítio ou, no primeiro trimestre, se a mania não cede com antipsicóticos ou TEC. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Aconselha-se administrar folatos e vitamina K, juntamente com a carbamazepina para evitar a diminuição dos fatores de coagulação, dependentes que são das malformações neuronais (Ellem Leibenluft, M.D., 1997). c) ÁCIDO VALPRÓICO O uso do (Di)Valproato de Sódio ou Ácido Valpróico está associado com defeitos na formação do tubo neural em 3 a 5% dos fetos. O Ácido Valpróico não deve, de forma alguma, ser usado na gravidez, inclusive em situações extremas (Ellem Leibenluft, M.D., 1997). 5. BENZODIAZEPÍNICOS Existe risco de anomalías congênitas pela utilização de tranqüilizantes benzodiazepínicos durante o primeiro trimestre da gravidez. Sua utilização no período perinatal provoca alterações na termorregulação, pode favorecer apnéia, hipotonia muscular e diminuição na pontuação do Apgar do recém nascido. Seu uso deve ser evitado durante o primeiro trimestre. Entretanto, usados durante o segundo e terceiro trimestre, o uso ocasional de tranqüilizantes benzodiazepínicos não costuma afetar a gestação e o feto de forma negativa (Lee S.Cohen, M.D., and Jerrolde F. Rosenbaum, M.D. , 1998). ALPRAZOLAM BROMAZEPAM BUSPIRONA CLOBAZAM CLONAZEPAM CLORDIAZEPÓXIDO CLOXAZOLAM DIAZEPAM LORAZEPAM . ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com AULA 38 – PSICOPATOLOGIA –DEPRESSÃO PÓS-PARTO Depressão Pós-Parto Trata-se de um quadro que pode acometer de 10 a 15% das mulheres no pós-parto. A incidência da Depressão no pós-parto é elevada chegando a percentual de 10 a 15% nas mulheres que amamentam. O período de maior incidência está em torno dosprimeiros dias do pós-parto, mas esses números são confusos quando se tenta estabelecer diferenças entre Tristeza Materna (Maternity Blues), Depressão Pós-Parto e recorrência de Transtornos Bipolar no puerpério. A Psicose Puerperal é um quadro delirante, frequentemente alucinatório, grave e agudo que aparece do segundo dia a 3 meses depois do parto. Atualmente se observa no CID.10 (Classificação Internacional de Doenças) uma tendência à considerá-la, juntamente com a Depressão Pós-parto, como um tipo de Transtorno do Humor, iniciada ou precipitada pelo puerpério (período pós-parto). É prático dividir as alterações psíquicas mais comuns do puerpério em três tipos; a Tristeza Materna (Maternity Blues), a Psicose Puerperal e a Depressão Pós-parto (Cutrona, 1982). A Tristeza Materna atinge até dois terços das puérperas, desenvolve-se nos 10 primeiros dias de pós-parto e se caracteriza por irritabilidade, depressão, labilidade do humor, choro fácil e indisposição. Sua diferença com Depressão Pós-parto, apesar de não ser bem esclarecida pelos autores, parece ater-se ao grau de severidade e à evolução, bem menor e mais breve (Hapgood, 1988). Nossa opinião pessoal não é assim, e o curso e época de maior incidência entre esses dois quadros parecem ser muito diferentes. Estudos epidemiológicos têm estimado que mais de 80% das mulheres em idade reprodutiva, de modo geral, experimenta algum sintoma de humor deprimido. A Tristeza Materna (Blues), por sua vez, apresenta uma prevalência de 25 a 85%, dependendo do critério diagnóstico utilizado. Os sintomas desta síndrome se iniciam logo nos primeiros dias do pós-parto, diminuindo pelo décimo quinto dia e se resolvendo logo depois. Uma das características de diagnóstico para Tristeza Materna é que seus sintomas característicos não devem ser considerados suficientes para causar sérios danos para o funcionamento da mulher. E isso é diferente da Depressão Pósparto. Em algumas mulheres, no entanto, o transtorno inicialmente tido como Tristeza Materna persiste, evoluindo para um quadro mais grave de Depressão Pós-parto. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Entre os quadros de depressão iniciada no puerpério (Tristeza Materna, Depressão Pós-parto, Episódio Depressivo Grave), aquela com características de um Episódio de Depressão Maior apresenta uma prevalência entre 10 e 20%, considerando as mulheres que apresentam sintomas nas primeiras semanas depois do parto. Os casos mais leves duram em torno de 30 dias, e se resolvem espontaneamente, e os mais graves persistem até por dois anos. Os critérios são os mesmos para um episódio de depressão maior, com uma predominância de sintomas disfóricos. Outro estudo realizado por Wisner & Wheeler (1994), foi observado que a depressão iniciada no puerpério ocorre em 10 a 15% nas mulheres, coincidindo com o estudo de M. W. O Hara, realizado em 1986. Os estudos sobre os transtornos emocionais da gravidez e puerpério, originados quase exclusivamente nos Estados Unidos e Europa ocidental mostram que 10 a 15% das mães se deprimem no puerpério (veja artigo do III Fórum Paulista de Psiquiatria na coluna ao lado). Hearn (1998) também verificou os mesmos números em relação à incidência de Depressão Pós-parto, entre 15 e 20% de todas as parturientes, entretanto, ele acha que essa incidência que pode ser bem maior, considerando que boa parte das pacientes não procuram ajuda para esse problema afetivo ou prefere se utilizar da totalidade dos cuidados médicos para os bebês e não para si mesmas. O foco desse trabalho é a Depressão Pós-parto, um distúrbio do humor de grau moderado a severo, clinicamente semelhante ao Episódio Depressivo, tal como descrito no DSM.IV (Classificação de Doenças Mentais da Associação Norte americana de Psiquiatria) e no CID.10, com início dentro de seis semana depois do parto. O assunto da classificação da Depressão Pós-parto ainda não está definitivamente estabelecido. Sob o código F53.0 o CID.10 considera a Depressão Pós-Natal incluída noTranstorno Mental e de Comportamento Associado ao Puerpério e não classificado em outro local. Utilizando a escala de Edinburgh (Edinburgh Postnatal Depression Scale EPNDS)Terry (1996) pesquisou alterações emocionais em 3 períodos da gravidez e parto: no último trimestre da gravidez, nas quatro primeiras semanas e no quinto mês depois do parto. Sintomas depressivos foram mais proeminentes no primeiro período, ou seja, no último trimestre de gestação, nas quatro primeiras semanas depois do parto prevaleceram os sintomas de estresse e, no quinto mês de pós-parto, novamente evidenciaram-se sintomas depressivos. Assim sendo, podemos considerar que, embora a Depressão Pós-parto seja detectada entre a sexta e oitava semana depois do parto, ela tende a persistir por um período mais longo. De modo geral, segundo Machado (1997), entre os autores tem sido mais ou menos uniforme a incidência de 11,8 a 19,8% para a Depressão Pós-parto. A maioria dos trabalhos recentes baseia seu diagnóstico na escala de Edingurgh, considerando-se positivo os casos com escores acima de 13 pontos. Essa incidência tende a diminuir mais tardiamente, e entre 14 e 30 semanas depois ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com do parto o número cai a 10,28% para os quadros de ansiedade e a 7,48% para depressão (Stuart, 1998). Fatores Predisponentes e Fisiopatológicos São investigadas, recentemente, as relações entre alterações de humor prémenstrual (Tensão Pré-menstrual - TPM) e a ocorrência de Depressão Pósparto. Numa amostragem de 1.329 puérperas submetidas ao testes Zung s Self-rating Depression Scale (SDS) para detecção de Depressão Pósparto em 6 períodos diferentes (no início, no meio e no final da gravidez, no quinto dia, com um mês e seis meses depois do parto), Sugawara (1997) constatou que a mulher com sintomas emocionais pré-menstruais antes da gravidez é mais propensa a desenvolver Depressão Pós-parto. Desde a década passada estudos vêm mostrando uma forte correlação entre história prévia de transtornos afetivos, antes ou durante a gravidez, e Depressão Pós-parto(Atkinson, 1984; Cutrona, 1986; Gotlib, 1991; Graff, 1991; Logsdon., 1994; O Hara, 1983, 1983; Whiffen, 1988, 1993). O Hara et cols. (1984) encontraram 21% de Depressão Pós-parto em pacientes que haviam apresentado sintomas depressivos durante a gravidez. Há estudos apontando em 60% a incidência de Depressão Pós-partoentre mulheres que haviam se submetido a tratamento prévio para algum transtorno afetivo, em comparação a apenas 3% entre mulheres sem história prévia de transtorno afetivo (Gotlib s, 1993). As condições existenciais e vivenciais nas quais se dá a gravidez podem influenciar a ocorrência da Depressão Pós-parto. Foi de 23% a incidência desse transtorno em parturientes adolescentes, enquanto para pacientes adultas foi de apenas 11,9% (Piyasil, 1998). Também é maior a incidência de Depressão Pós-parto em pacientes que experimentam dificuldades adaptativas à gestação (Sugawara, 1997), como por exemplo, nos casos de gravidez não desejada, gravidez contrária à vontade do pai, situação civil irregular, gravidez repudiada por familiares, carência social e outros fatores capazes de desestabilizar emocionalmente a relação entre a paciente e sua gravidez. Faixas etárias mais baixas da gestante também se relacionam com maior probabilidade de desenvolver-se Depressão Pós-parto. A incidência em parturientes mais adolescentes foi de 23%, enquanto para pacientes adultas foi de apenas 11,9%. Embora não se possa atribuir, com certeza, um aspecto causal entre disfunção tereoideana e Depressão Pós-parto, esta relação pode existir em pequeno número de casos. Pop e cols. (1991) encontraram 7% de disfunção tireoideana num grupo de 293 puérperas e, entre esse grupo, 21% apresentava transtorno depressivo. Há também evidências sobre um aumento da incidência de Depressão Pósparto em primigestas com mais de 30 anos de idade (Kumar, 1984), ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com entretanto, questiona-se se esse achado não estaria relacionado à maior incidência, também, de depressão nas mulheres mais velhas em geral. Base do Tratamento O tratamento médico da Depressão Pós-parto deve envolver, no mínimo, três tipos de cuidados: ginecológico, psiquiátrico e psicológico. Além da preocupação médica com o problema, são muito relevantes os cuidados sociais, comumente envolvidos com o desenvolvimento da depressão no período puerperal. Autores enfatizam a necessidade para o tratamento da Depressão Pós-parto, não apenas objetivando a qualidade de vida da mãe mas, sobretudo, prevenindo distúrbios no desenvolvimento do bebê e preservando um bom nível de relacionamento conjugal e familiar (Pritshard, 1996,Nonacs, 1998). Embora alguns clínicos ainda defendam o uso de progesterona no pós-parto, com finalidades curativas ou preventivas para a Depressão Pós-parto, tal conduta tem sido controvertida. O trabalho de Harris (1996) aponta para uma não correlação entre níveis desse hormônio e alterações do humor pós-parto. Ele mostra sim, a associação do cortisol, diminuído precocemente no puerpério em pacientes que desenvolveram Depressão Pós-parto. Avaliação da função tereoideana deve ser enfatizada e eventuais necessidades de correção são extremamente relevantes. Psiquiatricamente, o tratamento com antidepressivos tem indicação para os casos onde a depressão está comprometendo a função e o bem estar da mãe. Shou (1998), na Dinamarca, recomenda avaliar-se a relação custobenefício do tratamento antidepressivo durante e depois da gravidez e considera-o de baixo risco. Atualmente muitos antidepressivos estão sendo estudados em relação à lactação e os Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS) foram os menos presentes no leite materno. Entre estes, a serotonina e paroxetina parecem as melhores alternativas (Háberg, 1997). Trabalho de Wisner (1998), confirmando pesquisas anteriores, mostra que a expressiva maioria das crianças que se amamentam de mães lactantes que fazem uso terapêutico de sertralina tiveram níveis sanguíneos baixíssimos, tanto de sertralina (3 ng/ml) quanto de seu metabólito N-dimetilsertralina (6 ng/ml ou menos). Em relação ao uso de sertralina, paroxetina e fluvoxamina (todos ISRS) durante a gestação, Kulin e cols. (1998) concluíram não haver nenhum aumento de riscos teratogênicos para o feto nas doses terapêuticas habituais. Entre os cuidados psicológicos para as pacientes com Depressão Pósparto tem-se destacado muito o sucesso da abordagem cognitivocomportamental, preferentemente em grupos de terapia. Meager (1996) refere a melhora do quadro depressivo detectado pelas escalas de Edinburgh para Depressão Pos-Natal, Inventário de Beck para Depressão e Profile of Mood States com esse tipo de terapia. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com BIBLIOGRAFIA 1. Atkinson A K, Rickel A U - Postpartum depression in primiparous parents. Journal of Abnormal Psychology, 93(1), 115-119, 1984. 2. Cooper PJ; Murray L; Hooper R; - West The development and validation of a predictive index for postpartum depression - A Psychol Med, 1996 May, 26:3, 627-34 3. Cutrona C E - Nonpsychotic postpartum depression: A review of recent research. Clinical Psychology Review, 2(4), 487-503, 1982. 4. Cutrona C E, Troutman B R - Social support, infant temperament, and parenting self-efficacy: A mediational model of postpartum depression. Child Development, 57(6), 1507-1518, 1986. 5. 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Já a taxa de fecundidade, caiu pela metade em 20 anos, passando de 4,4 em 1980 para apenas 2,3 filhos por mulher em 2000. Segundo o IBGE (2000), em 1991 as pessoas com 60 anos ou mais representavam 7,3% da população e hoje são 8,6%, significando um aumento de 17% na década. Esse instituto calcula existirem hoje 14,5 milhões de brasileiros na terceira idade, e o Brasil segue a tendência mundial de envelhecimento da população, de acordo com o aumento da expectativa de vida e da queda da natalidade. Portanto, vivemos em um país que envelhece demograficamente e, em 2020, estima-se que contará com 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Isso representará 13% da população, época em que a expectativa de vida chegará a quase 75 anos. Infelizmente em nosso país, esse aumento na expectativa de vida não é acompanhado pela expectativa de boa qualidade de vida e, como a depressão nos idosos (assim como em qualquer pessoa) tem origem multifatorial, envolvendo desde o conforto social e econômico até a saúde física, cresce também a expectativa de aumento da depressãojunto com o crescimento da expectativa de vida. Assim sendo, a despeito da depressão ser uma doença bastante presente em qualquerfaixa etária, em pessoas com mais de 60 anos sua prevalência está aumentando. A despeito ainda da depressão em idosos saudáveis ter incidência semelhante à incidência em outras faixas etárias (algo em torno de 15 a 20%), a maior probabilidade de doenças orgânicas e de piora das condições de vida faz essa possibilidade aumentar para até 50% dos idosos. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Na velhice o fenômeno depressivo, em si, pode representar a recorrência de episódios anteriores que se manifestaram em outras épocas da vida, pode ser também a continuidade de uma depressão crônica anterior, do tipo Distimia, pode ainda ser uma depressão reativa, conseqüência do prejuízo na qualidade de vida proporcionada por alguma outra doença orgânica concomitante ou, simplesmente, pode ser um episódio originado após os 60 anos. De modo geral, é possível encontrar todos os tipos de depressão entre os idosos, desde a recorrência da depressão bipolar, depressão maior crônica, distúrbio distímicoagravado pelas condições de vida, distúrbios de ajustamento a outros transtornos orgânicos, etc. Assim sendo, a título de aconselhamento, sugiro considerar o diagnóstico correto do quadro depressivo no idoso mais importante que classificar a depressão. A pesquisa de Mauro Porcu e colaboradores, de Maringá, reflete bem a situação em nosso meio. Nesse estudo, o humor disfórico foi observado em 16,2% de uma amostra com idade média de 69 anos, enquanto o humor depressivo apareceu em 35,8% (Inventário para Depressão de Beck), de forma que somando os dois grupos, sintomas depressivos estiveram presentes em 52% da amostra estudada (123 pessoas com mais de 60 anos participantes Programa Saúde da Família no município de Maringá-PR). Esses números não destoam de outros autores nacionais, os quais atribuem às doenças clínicas concomitantes nessa faixa etária e à diminuição da qualidade de vida, a maior responsabilidade pela espantosa proporção de até 50% de depressão entre os idosos. O que é Depressão Resistente ao Tratamento Esse é sem dúvida o maior impasse. Os critérios para considerar a depressão resistente ao tratamento medicamentoso (DRT) são imprecisos, variam de acordo com o centro de pesquisa e, normalmente, são todos vagos. De modo geral detectamos dois grupos de critérios para esse diagnóstico, um mais abrangente que considera a DRT aquela que não responde à um tipo de antidepressivo, usado por 6 semanas, no mínimo, em doses adequadas. Assim procedendo, calcula-se que 50 a 60% dos casos de depressão em tratamento sejam resistentes (Fava, 2003). Há quem diga que, de modo geral, o índice de resposta ao tratamento antidepressivos em idosos varia de 50 a 60%(Brown & Schulberg, 1998). A não resposta a um tratamento é, portanto, uma possibilidade de DRT que necessita de avaliação e intervenção. O segundo critério é mais estreito e recomenda que DRT seja considerada depois do insucesso de dois tipos de antidepressivos, usados por 8 a 12 ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com semanas, em doses adequadas. Nesse caso a proporção de DRT cai para 18 a 20%. Novos critérios para DRT estão, no momento, sendo desenvolvidos. Ousando uma ideia curiosa, deixo para reflexões ulteriores o seguinte ponto de vista:não existe DRT. Quando isso acontece, ou se trata de um quadro organo-mental com sintomas depressivos (veremos adiante), portanto não se trata da mesma Depressão considerada pelas classificações internacionais ou, se não for um quadro organo-mental deve ter outro diagnóstico psiquiátrico subjacente aos sintomas depressivos. Nesses casos deve-se pesquisar os quadros histriônicos e transtornos de personalidade. Dando asas ainda à imaginação, poderia acrescentar que fizesse parte dos critérios para diagnóstico da Depressão, o fato delas remitirem com o tratamento antidepressivo adequado e, excludentemente, em não remitindo, não se trata de depressão pura e simples. Incluem-se nos casos de depressão resistente ao tratamento e que não tenham um comprometimento organo-mental, todos os quadros com sintomas depressivos mas que não são a Depressão nosologicamente delimitada. Encaixam-se aqui os histéricos que "anseiam" viver depressivamente, os transtornos de personalidade manipuladores, reivindicadores de atenção, as personalidades dependentes, os inseguros de si e assim por diante. A confusão que alimenta grandes polêmicas é a tendência em tomar pela doença Depressão todo e qualquer sintoma depressivo. Uma coisa são os sintomas depressivos fortuitos e circunstanciais, outra coisa é a Depressão doença, clássica. Para saber se o paciente melhorou seu quadro depressivo utilizam-se escalas de avaliação da depressão, e as mais usadas no mundo todo são, por exemplo, a escala de Hamilton, ou de Montgomery-Asberg, ou de Beck. Valores menores que oito pontos na escala de Hamilton já podem ser considerados como remissão de um episódio depressivo mas não, necessariamente, ausência de sintomas. A resposta satisfatória ao antidepressivo deve ser considerada quando a pessoa apresenta uma redução de mais de 50% no escore inicial em uma escala de avaliação. Para o clínico, entretanto, esses parâmetros acadêmicos nem sempre costumam ter a mesma utilidade que têm para a pesquisa científica. Na clínica, as informações junto ao paciente e familiares adquire importância prevalente, tanto para o diagnóstico de depressão, quanto para saber se houve melhora ou não do quadro. Grupo de Risco para Depressão Resistente Uma coisa é estabelecer critérios de risco para depressão na senilidade, outra coisa é falar em grupo de risco para desenvolver a Depressão Resistente ao Tratamento. Para depressão no idoso, evidentemente e longe de qualquer outra condição, o maior risco é a própria biografia depressiva do paciente. Vale aqui o ditado segundo o qual "envelhece-se como se viveu". Quem viveu ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com depressivamente tende a envelhecer depressivamente. Mas isso não significa que são resistentes aos tratamentos. Por outro lado, os riscos para DRT no idoso realmente devem ficar dentro dos limites do orgânico. Vejamos por que. Supondo ser correta a ideia segundo a qual a eficácia dos antidepressivos depende de sua farmacodinâmica, da farmacocinética e de sua ação química e molecular no cérebro; supondo ainda que essas características fazem os antidepressivos eficientes para a maioria dos quadros de depressão, se alguma coisa consegue anular seus efeitos antidepressivos, certamente é porque altera também sua farmacodinâmica, farmacocinética e/ou sua ação química e molecular. Essas suposições fazem crer que as alterações nas características terapêuticas dos antidepressivos a ponto de torná-los ineficazes foi o meio onde eles deveriam agir, portanto, foi o meio orgânico cerebral. Assim sendo, nossas hipóteses para a DRT resvalam, obrigatoriamente, nos transtornos orgânicos cerebrais ou, se não for isso, em última instância, em alterações de absorção e metabolização dos medicamentos, tornando-os insuficientes. Completando esse enfoque orgânico e sem medo de errar (muito), podemos dizer que, exceto nas alterações de absorção e metabolização dos antidepressivos, qualquer condição clínica capaz de alterar a funcionalidade cerebral poderá afetar os resultados dos antidepressivos. Entre essas condições cerebrais vê-se, na clínica, que as mais comuns dizem respeito aos casos de arteriosclerose, à Doença de Parkinson, de sequelas de AVCs, de traumatismo craniano, esclerose múltipla e encefalites. Mais ou menos nessa ordem. Alterações cognitivas e Depressão Resistente Em deprimidos com mais de 40 anos as queixas de memória são muito comuns, mas após os 60 anos essas queixas podem ser tão proeminentes que levam o clínico a suspeitar de um quadro demencial. Foi por causa desse sintoma que, há tempo, cogita-se o diagnóstico de Pseudodemência Depressiva. Entre idosos deprimidos e resistentes ao tratamento medicamentoso tem sido comum encontrarmos sintomas de déficit cognitivo. Tratando-se dessa ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com tal Pseudodemência Depressiva, então o termo déficit cognitivo devesse ser substituído por desinteresse cognitivo. Entre as hipóteses que explicariam a alteração cognitiva dos idosos deprimidos, fala-se na Teoria da Destinação de Recursos. Haveria, para a atividade mnêmica, necessidade da alocação de recursos mentais para a evocação da memória, recursos estes severamente prejudicados no paciente deprimido. Há também a possibilidade da depressão sequestrar o interesse necessário para o paciente evocar lembranças, como parte do processo da perda de prazer e interesses globais (anedonia). Apesar da hipomnésia ser um sintoma exuberante, não é a única alteração cognitiva na depressão do idoso. Também a atenção, a fluidez e velocidade do processamento de informações e o próprio pragmatismo podem estar seriamente comprometidos. A dúvida atual sobre esse quadro de Pseudodemência Depressiva é que, frequentemente, boa parte desses pacientes acaba evoluindo para um quadro demencial verdadeiro depois de algum tempo. Nesse caso falaríamos em pródromos (pré-sinais) demenciais depressivos e não em pseudodemência. Para casos assim foi proposto o termo "excesso de incapacidade" (excess disabilíty), isto é, um comprometimento excessivo da cognição por conta do quadro depressivo, supondo-se que tratando a depressão o excesso de incapacidade deveria remitir. Pois bem. Os pródromos demenciais deveriam ser suspeitados exatamente quando as queixas cognitivas não melhorassem totalmente com o tratamento da depressão. Aliás, contando agora com exames de neuroimagens funcionais, infelizmente pode-se constatar que muitos pacientes diagnosticados como pseudodementes depressivos estão, de fato, funcionalmente mais próximos da demência verdadeira do que da depressão. E essa comorbidade demência-depressão é, talvez, o principal fator a tornar a depressão no idoso mais resistente ao tratamento farmacológico. Um dos dados que podem falar a favor da Pseudodemência Depressiva e não de pródromos depressivos de demência verdadeira, é a existência pregressa de alterações do humor. A questão mais importante, quando da avaliação de um paciente deprimido com queixas cognitivas importantes, é saber se a depressão interfere e em que grau com a cognição. Vilalta-Franch em 1998 estudou a prevalência de depressão em quadros demenciais. No grupo dos pacientes com demência, a depressão estava presente em 28,15% dos pacientes, enquanto no grupo controle, de idosos sem demência, a depressão aparecia em apenas 5,4%. E não houve diferença na prevalência de depressão entre pacientes com demência do tipo Alzheimer e aqueles com demência vascular. Resumindo, é sensato considerar a existência tanto dos casos realmente considerados Pseudodemência Depressiva, como de casos onde a ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com depressão se apresenta como pródromos de uma demência verdadeira posterior. De qualquer forma, havendo alterações cognitivas, estaremos diante de uma depressão possivelmente resistente aos tratamentos habituais. Para ajudar na distinção entre ambos, vejamos tabela abaixo baseada, em Paulo Matos. Diferênças entre Pseudodemência Depressiva e início de Demência Característica Depressão Demência Início mais preciso indeterminado Progressão rápida lenta Atendimento médico mais precoce mais tardio Depressão prévia comum incomum Tipo de queixa detalhada, minuciosa ausente, minimizada Ênfase das queixas nos fracassos nos sucessos Esforço do paciente pouco mantido Habilidades sociais prejudicadas de início mantidas Piora pela manhã final da tarde Opções para a DRT 1 - Repensar nos antidepressivos tricíclicos em DRT em uso de antidepressivos ISRS tem sido uma prática estimulada. Entre os tricíclicos, a nortriptilina tem merecido um destaque especial. Segundo Nierenberg e colaboradores (2003), 52% dos pacientes considerados com DRT evoluíram satisfatoriamente com a monoterapia com nortriptilina. 2 - Entre os novos antidepressivos, a mirtazapina deve ser considerada. Primeiramente tendo em vista sua dupla ação (noradrenalina e serotonina), em seguida seu baixo potencial de interação medicamentosa e, segundo pesquisa de Wan e colaboradores (2003), 38% dos pacientes diagnosticados como DRT evoluíram satisfatoriamente em monoterapia com mirtazapina. 3 - A combinação de agentes antidepressivos tem sido considerada útil no tratamento da DRT. Apesar de ser teoricamente inconsistente, a viabilidade e eficácia empíricas autorizam a associação de antidepressivos nos casos de DRT (Nelson, 2003). Nessas combinações a nortriptilina tem sido recomendada como um dos antidepressivos importantes. 4 - Além das combinações entre grupos distintos de antidepressivos, as associações destes com o lítio também vêm gozando prestígio em pesquisas (Shelton, 2003). Entre essas associações, com a nortriptilina parece ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com ser mais eficiente, entretanto, isoladamente o lítio mostrou-se menos eficaz que o placebo (Nierenberg e cols, 2003). 5 - Combinações de antidepressivos ISRS com antipsicóticos atípicos tem sido eficiente tanto nas depressões graves com sintomas psicóticos quanto em alguns casos de DRT. A olanzapina, tendo em vista seu perfil de segurança, tem sido uma opção bastante satisfatória para o tratamento da DRT na dose de 5 mg/dia, associada à fluoxetina, 20 a 80 mg/dia. 6 - Substâncias usadas em neurociência têm sido eficazes para a DRT quando associadas aos antidepressivos tradicionais, como é o caso, por exemplo, da selegilina e amantadina (Stryjer et cols, 2003). A resposta satisfatória da associação de antidepressivos com essas substâncias utilizadas na Doença de Parkinson fala a favor de envolvimento maior da dopamina nos casos de idosos deprimidos resistentes aos tratamentos convencionais. 7 - A eletroconvulsoterapia (ECT) mostrou-se bastante eficaz no tratamento dos casos de DRT. (Kalb, Ellinger e Reulbach, 2003). Estudos com SPECT de pacientes idosos com DRT tem mostrado uma melhora na perfusão das regiões parietais média e posterior após aplicação da ECT proporcional à melhora clínica da depressão (Hervas Benito e cols, 2002). 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ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com AULA 40 –TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Transtorno Afetivo Bipolar ou Transtorno Bipolar do Humor: oscilação entre depressão e euforia é muito mais comum do que se pensa. O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é também conhecido como Transtorno Bipolar do Humor (TBH) ou, antigamente, como Psicose Maníaco Depressiva (PMD). Trata-se de uma doença relacionada ao humor ou afeto e classificada no mesmo capítulo da Depressão e da Distimia. O TAB se caracteriza por alterações do humor, com episódios depressivos e maníacos ao longo da vida. É uma doença crônica, grave e de distribuição universal, acometendo cerca de 1,5% das pessoas em todo o mundo. O Transtorno Afetivo Bipolar é considerado uma doença psiquiátrica muito bem definida e, embora tenha um quadro clínico variado é um dos transtornos com sintomatologia mais consistente da psiquiatria. Sua forma típica (euforiadepressão) é bem caracterizada e reconhecível, permitindo o diagnóstico precoce e confiável. Normalmente sentimos uma grande variedade de sentimentos com maior ou menor intensidade, tais como alegria, tristeza, medo, ousadia, energia, desânimo, eloqüência, apatia, desinteresse em diversos momentos de nossa vida. Em geral é normal a pessoa ficar alegre com uma promoção no emprego, com uma conquista amorosa, nascimento de um filho e outras situações agradáveis. Também como se espera que a pessoa normal experimente tristeza e sofrimento depois de um rompimento amoroso, com doença ou morte de pessoa querida, com a perda do emprego, dificuldades financeiras, etc. Isso não tem nada a ver com o Transtorno Afetivo Bipolar. Em situações normais o estado de humor ou de ânimo deve variar ao sabor dos acontecimentos da vida e de acordo com a tonalidade afetiva de cada um (vejaTonalidade Afetiva na página Alterações da Afetividade). Essas respostas emocionais podem ser adequadas, inadequadas, proporcionais ou desproporcionais aos estímulos externos, que são nossas vivências. Mas os episódios agudos de oscilação afetiva do Transtorno Afetivo Bipolar nem sempre necessitam de vivências para se manifestarem. No DSM.IV são classificados 2 tipos de Transtorno Afetivo Bipolar. O Transtorno Bipolar do Humor Tipo I, onde a maioria dos episódios de alteração do humor são do tipo euforia e o Transtorno Bipolar do Humor Tipo II, ao contrário, ou seja, a maioria dos episódios são depressivos (Figura) ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Pelo DSM.IV, a característica essencial do Transtorno Bipolar Tipo I é um curso clínico caracterizado pela ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos. Com frequência, os indivíduos também tiveram um ou mais Episódios Depressivos Maiores. Por outro lado, a característica essencial do Transtorno Bipolar Tipo II é um curso clínico marcado pela ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos Maiores, acompanhados por pelo menos um Episódio Hipomaníaco. Hoje em dia o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar está sendo repensado e deslocado para um grupo de estados psicopatológicos afins; os Transtornos do Espectro Bipolar (Akiskal e cols., Montgomery e Keck, 2000. EPISÓDIO DEPRESSIVO A Depressão é caracterizada principalmente por alterações do humor, da psicomotricidade, da cognição e das funções vegetativas. O quadro clínico do paciente deprimido é bastante complexo, cheio de sinais e sintomas. Geralmente há humor depressivo, alterações de apetite e do sono, dificuldades de concentração e pensamentos de cunho negativo, incapacidade de sentir alegria ou prazer, redução da energia, agitação psicomotora ou, ao contrário, lentificação, podendo ocorrer ideação suicida e/ou sintomas psicóticos. Profissionais com atividades acadêmicas ou intelectuais não conseguem executar suas tarefas quando deprimidos, as crianças diminuem o rendimento escolar por causa das dificuldades de raciocínio e concentração. Essa variedade de sinais e sintomas faz pensar em uma verdadeira síndrome depressiva, cujas unidade de manifestação é o Episódio Depressivo. Alterações de humor e afetividade Obviamente, o paciente deprimido manifesta o humor depressivo. Os reflexos mais típicos desse tipo de humor são os sintomas de angústia, tristeza, vazio, desesperança, desânimo, enfim, a sensação popularmente conhecida como "baixo astral". ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Entretanto, para surpresa do público leigo, nem sempre a tristeza clássica está presente no Episódio Depressivo. Algumas vezes, de acordo com determinados traços de personalidade, o paciente pode não manifestar sentimento de tristeza e concentrar suas queixas em somatizações, em dores e outras queixas físicas, tais como cefaleia, dor de estômago, dor no peito, tonturas, etc. Apesar disso, a atitude da pessoa com humor depressivo, mesmo sem as queixas de tristeza, pode ser percebido indiretamente por sua expressão facial, pelo olhar triste, fixo e sem brilho, pelos ombros caídos e por uma notável tendência ao choro e hipersensibilidade sentimental (Bleuler, 1985). Antigamente falava-se em Depressão Mascarada, para se referir a esses casos de depressão sem tristeza mas com muitos outros sintomas. O humor de pacientes deprimidos pode ser irritável, por causa da tendência a sentir-se facilmente incomodado por tudo, mal-humorado, com baixo limiar de tolerância para frustração. Esse quadro de irritabilidade e explosividade no humor depressivo é uma das manifestações depressivas mais comuns em crianças e adolescentes. Os deprimidos podem perder a capacidade de sentir prazer, o que os leva ao abandono de atividades anteriormente prazerosas e ao desinteresse por amigos e familiares. Em casos mais graves pode haver incapacidade de experimentar qualquer tipo de emoção, dando a impressão que nada mais interessa ou vale a pena. Nas alterações da afetividade chamei esse estado de “egoísmo afetivo”, colocado entre aspas para sugerir o aspecto involuntário desse egoísmo. Cognição e percepção A avaliação e juízo crítico da realidade à sua volta, que é a cognição propriamente dita, pode estar seriamente prejudicada na pessoa deprimida. A consciência da realidade pode estar desde ligeiramente alterada até psicoticamente alterada com pensamentos deliróides. A avaliação que a pessoa deprimida faz de si mesma, que nada mais é do que a autoestima, pode sugerir uma idéia muito negativa. Essas ideias autopejorativas orbitam em torno do fracasso, da ruína, pessimismo, inferioridade, inutilidade, culpa, auto-recriminação, pecado e mesmo uma série de ruminações que tomam conta totalmente do pensamento. Medo do presente e do futuro, sofrimento retroativo pelas mazelas do passado, ausência de planos e perspectivas (Moreno & Moreno, 1994). Os problemas existenciais reais, que existem de fato e todos temos, assumem proporções insuportáveis na depressão, surgem medos irracionais e preocupações excessivas. As avaliações negativas de si, do mundo e do futuro, dominam o pensamento do paciente deprimido e podem alterar a sua percepção da realidade a ponto de cogitar em suicídio (que pode se manifestar em até 15% das depressões maiores ou graves sem tratamento). ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com O médico clínico, diante de um paciente deprimido, deve investigar e avaliar o risco de suicídio, uma vez que a morte por suicídio é tão letal quanto por infarto do miocárdio. Na Depressão Grave com Sintomas Psicóticos, classificada no CID.10 sob o código F33.2, podem aparecer delírios congruentes com o humor (veja Idéias Deliróides na seção Psicopatologia). Esses delírios secundários ao humor deprimido podem servir para maquiar um mundo temerário, ameaçador e sofrível no qual a cognição do deprimido crê. Alucinações, principalmente auditivas, podem aparecer nas depressões graves. Karla Mathias de Almeida e Doris Moreno (2002) listam alguns critérios ou características dessas Ideias Deliróides ou Delírios Humor Congruente: a) são de tonalidade afetiva penosa; b) são monótonas e repetitivas; c) são pobres, isto é, a ideia delirante não se desenvolve em construções intelectuais: são mais ricas em emoção do que em conteúdo ideativo; d) são passivas e o paciente aceita todas suas infelicidades placidamente; e) são divergentes e centrífugas, isto é, estendem-se progressivamente para a pessoa próxima e para o ambiente; f) são delírios do passado (lamentações, remorsos) ou do futuro (ansiedade, temores). São comuns queixas de dificuldades de raciocínio, concentração e tomada de decisões. De fato, a mais prejudicada talvez seja a atenção e não a memória, propriamente dita. E a dificuldade em fixar a atenção, associada à falta de interesse, pode simular severos problemas de memória. Com a lentificação do pensamento as idéias podem ficar confusas. Ey e cols (1978) descrevem a "paralisia psíquica". Nesse estado a ideação fica lenta, as associações são difíceis, a evocação é penosa, a síntese mental é impossível, o esforço mental sustentado também é impossível e a atenção concentra-se nos temas melancólicos sem poder separar-se deles. Em idosos, as alterações das funções cognitivas na depressão podem ser confundidas com demência. Comportamento e psicomotricidade Alguns autores consideram o retardo psicomotor a principal alteração no Transtorno do Humor (Akiskal, 2000). O paciente com lentificação psicomotora exibe importante restrição de movimentos espontâneos, postura de abatimento, discurso lentificado, frases raras e monossilábicas, com aumento do tempo de latência de resposta, baixo tom de voz, dificuldade de raciocínio, diminuição da energia e cansaço excessivo. Não é raro alguns pacientes reclamarem de fadiga extrema ao realizar tarefas simples, tais como escovar os dentes. Há uma tendência a ficar deitado e ao isolamento. Em casos graves, a lentificação psicomotora pode evoluir para o estupor depressivo. Funções vegetativas ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Funções vegetativas são aquelas reguladas pelo Sistema Nervoso Autônomo (ou Vegetativo). No paciente deprimido estão alterados o sono, o apetite, a função sexual e o ritmo circadiano do humor. A alteração do apetite e/ou do peso é um dos indicadores confiáveis do comprometimento somático da Depressão. As alterações do sono na Depressão envolvem insônia, mais frequentemente intermediária, quando então a pessoa desperta no meio da noite e tem dificuldade para voltar a dormir, ou acorda muito cedo (insônia terminal). Alguns pacientes podem dormir demais, como uma espécie de fuga de uma realidade hostil para eles ou como sinal de escasseamento da “energia” necessária para a disposição geral. Dentro dessas funções vegetativas prejudicadas está a função sexual, onde ocorre invariavelmente uma expressiva diminuição da libido, tanto nos em homens e como nas mulheres. E não apenas a libido costuma estar comprometida mas, inclusive, também a função erétil. Subtipos depressivos A nomenclatura psiquiátrica é demasiadamente complexa, apesar de inteligível. Há vários tipos de manifestações depressivas, classificadas tanto de acordo com a origem, quanto através da apresentação clínica. A todos esses subtipos acrescento ainda a sintomatologia depressiva da atualidade, a qual decorre mais dos sentimentos de frustração do que da depressão, propriamente dita (veja Depressão e Frustração, na seção Depressão). Depressão Bipolar É a Depressão que se apresenta em portadores do Transtorno Afetivo Bipolar. Aqui há uma alternância de episódios depressivos e eufóricos (maníacos), não necessariamente um depois do outro (podem surgir vários episódios depressivos e um eufórico ou vice-versa). Trata-se de um quadro de origem constitucional, ou seja, biológica. Normalmente essas crises surgem sem que se possa associar a alguma razão vivencial. Depressão endógena Antigamente essa denominação caracterizava a Depressão que se manifestava por episódios agudos, recorrentes e sem a existência de episódios eufóricos. Hoje se fala em Transtorno Depressivo Recorrente, graduado em Leve, Moderado e Grave pela CID.10 ou Maior, pelo DSM.IV. Entretanto, o nome endógeno deveria ser mantido como conceito com objetivo de facilitar a idéia do fator constitucional desse tipo de Depressão. Na Depressão Endógena os sintomas são mais exuberantes, focando predominantemente o prejuízo da capacidade para sentir prazer (anedonia), na apatia significativa, nos sentimentos de culpa, piora matutina, diminuição de apetite e perda de peso. Depressão Atípica ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com As Depressões Atípicas são aquelas que se manifestam, predominantemente, através de sintomas ansiosos (Pânico, Fobia...) e somáticos. Nos quadros de Depressão Atípica encontramos os sintomas vegetativos incaracterísticos (aumento do apetite, do sono, ganho de peso), humor não totalmente rebaixado (capacidade de se alegrar diante de eventos positivos) e grande sensibilidade emocional. Alguns deprimidos podem manifestar apenas sintomas somáticos (físicos) ao invés de sentimentos de tristeza, como por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, etc. Para estes, talvez, seja mais fácil comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos que do discurso. Também em crianças e adolescentes a depressão pode dissimular-se sob a forma de um humor irritável ou rabugento, ao invés de triste e abatido. Depressão Psicótica ou Maior Trata-se de Depressão Grave, na qual ocorrem sintomas psicóticos, tais como os delírios e/ou as alucinações. Geralmente esses delírios são congruentes com o humor, chamados então, Delírios Humor-Congruentes. Podemos chamá-los também de Delírios Secundários ou Ideias Deliróides. Na esquizofrenia os delírios são primários e aqui são secundários (secundários à depressão). Quando existem delírios esses são, geralmente, de ruína, de grave prejuízo moral, de doença grave, culpa, morte, castigo. Quando existem alucinações, geralmente são auditivas. EUFORIA (Mania) Assim como a depressão, a euforia ou mania também se caracterizada por alterações no humor, na cognição, na psicomotricidade e nas funções vegetativas, porém com características opostas àquelas alterações observadas na depressão, ou seja, o paciente apresenta elevação do humor, aceleração da psicomotricidade, aumento de energia e idéias de grandeza, as quais podem ser até delirantes. As formas clínicas da euforia variam de acordo com a intensidade e o predomínio dos sintomas afetivos, das alterações psicomotoras e da presença de sintomas psicóticos. Em sua forma clássica a mania se caracterizada por humor exageradamente expansivo (chamado de elação), aceleração no ritmo do pensamento, agitação psicomotora e pensamentos delirantes de grandiosidade. Dependendo da gravidade do Episódio Eufórico as ideias deliróides podem fazer confundir o quadro com um surto esquizofrênico. Humor e Afetividade O humor na euforia é muito expansivo, geralmente irritável, desinibido. Sentimentos de exagerada alegria, júbilo e excitação são comuns. Essa alegria percebe-se patológica e o riso é exagerado, desproporcional ou à toa, há um desmedido entusiasmo e incomum interesse sexual, profissional e social. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Cognição e Percepção O pensamento na euforia costuma ser repleto de ideias de grandeza, autoconfiança incomodamente elevada, otimismo exagerado, falta de juízo crítico e da inibição social normal. A impulsividade pode levar a consequências desastrosas. Podem existir ideias deliróides inteligência. No tipo Grave acompanhada de alucinações, profética, caracterizando assim 1978). de grandeza, de poder, riqueza e de irreal com Sintomas Psicóticos a euforia é sentimentos de influência e de inspiração o verdadeiro Estado de Elação (Ey e cols., A aceleração do pensamento produz um dos sintomas mais clássicos da euforia que e a Fuga de Ideias, onde o paciente começa um assunto novo sem terminar o anterior. Há também uma hipermnésia, com lembrança fácil de eventos passados, porém, prejudicado por excesso da distraibilidade. Comportamento e Psicomotricidade A pessoa com euforia sente-se sempre muito bem disposto e capaz de alcançar qualquer objetivo, cheio de energia e sem necessidade de repouso ou sono. Normalmente ela gargalha, canta, dança, se mexe, corre, faz sexo, trabalha... tudo exageradamente e incansavelmente. Desse jeito é difícil convencê-lo estar doente, já que o bem estar (patológico) é muito contundente. Durante a fase de euforia do Transtorno Bipolar do Humor, a auto-estima, o vigor e a energia física aumentam e a pessoa passa a agir em ritmo acelerado, fica inquieta e agitada, a necessidade de sono diminui. Começa a ter sentimentos de grandeza, considera-se especial e se sente como se não tivesse limites. Os planos grandiosos e mirabolantes se multiplicam, as ideias fluem rapidamente e não consegue concluir as ideias, pulando rapidamente para outros assuntos. Quando o paciente já é conhecido, percebe-se claramente estar entrando em euforia até pelo colorido exuberante das roupas, o volume com que ouve músicas, a profusão do discurso, eloqüência com que defende seus pontos de vista. Por outro lado, a aceleração exagerada do pensamento pode dificultar a compreensão do discurso. Por causa da impulsividade, da desinibição, do aumento de energia e da ausência de crítica, a pessoa em mania acaba se envolvendo em atividades perigosas e insensatas, tais como dirigir em alta velocidade, praticar sexo inseguro, gastar além das possibilidades. Funções Vegetativas A diminuição da necessidade de descanso e de sono é o sintoma físico mais frequente. O paciente necessita de poucas horas e, mesmo assim sente-se bem disposto e cheio de energia (Moreno e Moreno, 1994). ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Costuma haver, na euforia, aumento do apetite, do consumo de cigarro, álcool e drogas. Como tudo está acelerado é comum o aumento do apetite sexual, associados à desinibição e à impulsividade. Outro sintoma bastante característico da euforia é a perda da inibição social natural. Isso produz atitudes inadequadas ou extravagantes, como por exemplo, fazer compras desenfreadamente ou vestir-se de forma exuberante, agressividade, inadequação e outros comportamentos inconvenientes que, inclusive, podem ocasionar envolvimentos policiais. De modo geral, as crises de euforia podem ser caracterizadas pelos seguintes sintomas: 1.- auto-estima inflada, grandiosidade, sensação de ser mais e melhor que os outros e, algumas vezes quando tem delírio, reconhecendo ser predestinado a alguma coisa muito importante. 2.- necessidade de sono diminuída, sentindo-se bem e repousado com apenas 3 horas de sono. 3.- mais eloquente e loquaz do que o habitual, pressão por falar, interrompendo os outros. 4.- perda da inibição social, falta de crítica para com as situações ridículas e vexatórias 5.- fuga de ideias (mudança de assunto rápido sem conclusão do anterior) ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão correndo mais do que as palavras podem pronunciar. 6.- distratibilidade, a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes, dispersão da atenção. 7.- aumento da atividade dirigida a objetivos sociais, no trabalho, na escola ou sexualmente. 8.- agitação psicomotora, excesso de movimentos 9.- envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um alto potencial para insensatez, perigo, inconsequência, como por exemplo, envolvimento em compulsão para compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos. HIPOMANIA A hipomania é um estado semelhante à mania, em grau mais leve, que aparece em pacientes com TAB, no início dos episódios de mania ou, se não for no TAB, no Transtorno Ciclotímico da Personalidade. Observa-se mudança no humor habitual para euforia ou irritabilidade, reconhecida pelas pessoas mais íntimas do paciente. Há também na hipomania, hiperatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo, e impaciência. A hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, não precisa de internação e o prejuízo ao paciente não é tão intenso quanto no episódio de mania. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Como dissemos, em uma sociedade que valoriza demais a extroversão e eloquência, pacientes e familiares podem considerar a hipomania como se fosse uma atitude normal e até desejável. Assim, a hipomania pode ser confundida com estados de alegria desencadeada por eventos positivos, não percebidos pelos outros como exagerados, comparados com o padrão habitual de humor da pessoa. Já a irritabilidade da hipomaniapode ser confundida, também, com reações normais aos eventos negativos, como por exemplo, uma má notícia. Mas a hipomania pode ou não ter fatores desencadeantes, sejam positivos ou negativos. Se esses pacientes não forem tratados, podem apresentar ausência do juízo crítico e proporcionar para si ou para seus familiares, severos prejuízos morais e materiais. Incidência Em nosso meio, segundo dados do Sistema Único de Saúde de São Paulo, mais de 10 mil internações por ano são devidas ao TAB, predominantemente entre as mulheres, pois, em homens, prevalecem os diagnósticos de alcoolismo e esquizofrenia. As estimativas acerca da prevalência de TAB na população são bastante acanhadas, devido à rigidez dos critérios de diagnóstico propostos pelas classificações atuais. Assim, a prevalência para o Transtorno Bipolar do Humor do tipo 1, que é o tipo com mais episódios de euforia do que depressão, ao longo da vida, nos EUA, alcança 1%. Na cidade de São Paulo essa prevalência é de 1% (Andrade, 2002). Estudos que consideram critérios mais flexíveis de diagnóstico já apresentam uma prevalência de 4% a 8% durante a vida. Apesar do interesse nestes quadros ter aumentado nos últimos anos, os portadores de TAB continua sendo tardiamente diagnosticados e, conseguintemente, inadequadamente tratado. ------------------------------------------------------- Causas do TAB Em relação às causas do TAB, tem sido muito relevante a sugestão de hereditariedade. Segundo Cardno (1999), a concordância de TAB entre gêmeos idênticos (monozigóticos) varia de 60% a 80%, e o risco de desenvolver TAB em parentes de primeiro grau de um portador de TAB situase entre 2% e 15%. A quantidade de gêmeos monozigóticos onde não há concordância de TAB reflete a importância dos fatores ambientais. A genética considera a TAB como tendo de um “modo complexo” de transmissão, cuja manifestação dependeria da presença de um conjunto de genes que interagem entre si, até o momento de conhecimento pouco definido (veja abaixo). Resumindo, compreende-se que o aparecimento dessas doenças de transmissão complexa dependa da presença de um conjunto de genes de suscetibilidade, os quais, ao sofrerem influência do meio, ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com manifestam-se precipitando as alterações necessárias para a eclosão da doença em questão. Sobre os fatores ambientais associados ao Transtorno Bipolar do Humor, Leandro Michelon e Homero Vallada (2005) citam Tsuchiya e colaboradores, que investigaram a possível associação entre TAB e fatores variados, tais como, demográficos (sexo, etnia), relacionados às complicações da gestação ou do parto, estação do ano no nascimento, nascimento em área urbana ou rural, antecedentes de lateralidade, ajustamento pré-mórbido, padrão socioeconômico, eventos estressantes de vida, disfunção familiar, perda de parente e história de epilepsia, trauma craniencefálico, esclerose múltipla. De relevante ocorreu, nessa revisão da literatura, uma associação entre o TAB e a condição socioeconômica desfavorável, bem como com o desemprego, baixa renda e estado civil solteiro. Também houve associação da TAB com mulheres nos três primeiros meses do pós-parto. O restante dos fatores avaliados não mostrou nenhuma associação com ocorrência de TAB. De modo geral, os estudos foram inconclusivos, exceto para a significante associação do desenvolvimento de TAB com história familiar positiva, em vários estudos. Volta aqui a questão dos fatores genéticos, porém, a despeito de todos os fatos que sugerem uma fortíssima participação genética no desenvolvimento do TAB, até o momento não foi possível identificar genes ou regiões cromossômicas envolvidos diretamente no aparecimento desta doença. Embora algumas regiões dos cromossomos se mostrem mais significativamente ligadas ao problema, ainda se aguarda a confirmação científica por meio de novas pesquisas e novas técnicas de investigação. Inúmeras alterações na função cerebral têm sido descritas em pacientes apresentando quadros de depressão e mania. Pesquisas utilizando modelos genéticos, neuroanatômicos, neuroquímicos e de neuroimagem no TAB têm trazido importantes hipóteses teóricas e conceituais para o melhor entendimento de como certos mecanismos biológicos podem afetar a manifestação clínica da doença, seu curso e sua resposta aos tratamentos. As classificações mais utilizadas em psiquiatria enfatizam o quadro clássico da mania. O diagnóstico pelo DSM-IV (veja) requer humor persistente e anormalmente elevado, expansivo ou irritável durando pelo menos uma semana. Estudos genético-epidemio1ógicos (com famílias) Alguns estudos apontam para um sólido componente familiar no Afetivo Bipolar. Nesses estudos de família, Angst, em 1966, na Suíça, e Perris, no mesmo ano, na Suécia, apresentaram os primeiros resultados. Ambos demonstraram concordância familiar para essas alterações do humor. A maioria dos estudos que se seguiram concorda com esses autores, tanto na agregação familiar quanto na subdivisão. O Quadro 1 apresenta alguns dos ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com principais estudos com famílias de pacientes bipolares realizados nos últimos trinta anos. Quadro 1 -Estudos com famílias de probandos com transtorno afetivo bipolar* Autor/ano Parentes com TB estudados Rel. Bipolar/Unipolar (%) Angst, 1966 161 4,3/13 Perfis, 1966 627 10,2/0,5 Gershon e cols., 1975 341 3,8/8,7 Smeraldi e cols.,1977 172 5,8/7,1 Taylor e cols., 1980 601 4,8/4,2 Gershon e cols., 1982 598 8,0/14,9 Coryel e cols., 1984 389 5,4/22,7 Fieve e cols., 1984 1.309 6,6/9,0 Weissman e cols., 1984 508 9,3/14,3 Tsuang e cols., 1985 218 2,8/7,8 Andreasen e cols., 1987 569 8,1/22,8 Maier e cols., 1993 166 3,6/16,3 *Fonte: Ricardo Alberto Moreno e Doris Hupfeld Moreno, Transtorno Bipolar do Humor, Lemos Editorial, S.Paulo, 2002 Os resultados de estudos em famílias de pacientes com Transtorno Bipolar podem ser assim sumarizados: 1) - o risco de parentes em primeiro grau de indivíduos nãoafetados, representativos da população geral é de quase 1% para Transtorno Bipolar e cerca de 4% para Depressão Uni polar; 2) - quando comparados o grupo de familiares de indivíduos da população geral e o grupo de parentes em primeiro grau de portadores de transtorno bipolar, observa-se que o risco para a Depressão Unipolar é três vezes maior, enquanto o risco para Transtorno Bipolar nesses parentes está aumentado cerca de sete vezes. Além da maior probabilidade para o Transtorno Bipolar e Depressão em familiares de pacientes bipolares, tem-se ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com observado também um aumento do risco para o Transtorno Esquizoafetivo, Distimia e Ciclotimia (Goodwin e Jamison, 1990). 3) - A demonstração do caráter familial é necessária, mas não suficiente, para comprovar a transmissão genética, haja vista que essa agregação na família pode ser decorrência da mesma exposição ambiental. Assim, estudos com gêmeos e com adotados são necessários para identificar a fonte dessa concentração familiar (Moreno e Moreno, 2002). Estudos com gêmeos Uma segunda estratégia para demonstrar o componente genético do Transtorno Bipolaré o clássico estudo com gêmeos, no qual se compara a concordância para a doença entre gêmeos monozigóticos (MZ) com a concordância entre gêmeos dizigóticos(DZ). Sabendo que os MZ tem semelhança cromossômica e os DZ não, se a doença tiver componente genético tende a ter uma concordância muito maior nos MZ. Não se pode deixar de considerar que os gêmeos, tanto MZ como DZ, sofrem influência ambiental semelhante. Nas doenças determinadas pelo ambiente a concordância entre MZ e DZ seria quase a mesma, ao passo que nas doenças genéticas, a concordância nos MZ será significativamente maior, tendendo a se aproximar de 100%. Um dos estudos mais importantes com gêmeos no Transtorno Afetivo Bipolar é de Bertelsen e cols. (1977), que investigaram um total de 123 pares de gêmeos em que um dos irmãos já apresentava Transtorno do Humor. Esses autores observaram uma concordância de 79% de Transtorno Afetivo Bipolar para MZ e de apenas 19% para DZ. Torgersen (1986) encontrou um taxa de concordância de 51 % para MZ e de 20% em DZ. Números semelhantes foram encontrado por McGuffin e Katz (1991), os quais observaram uma concordância entre MZ de 53% e em DZ de 28%. Em 1993 Kendler e cols. verificaram uma concordância para transtornos do humor de 75% em MZ e de 29,6% em DZ. Quadro 2 -Estudos de concordância entre gêmeos com Transtornos do Humor* Autor - ano MZ MZ (%) de concordância DZ DZ (%) de concordância Gershon e cols., 1975 91 69 226 13 Berrelsen e cols., 1977 69 79 54 19 Torgersen, 1986 37 51 65 20 Mcguffin e cols., 1991 62 53 79 28 ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com Kendler e cols., 1993 12 75 27 29 *Fonte: Ricardo Alberto Moreno e Doris Hupfeld Moreno, Transtorno Bipolar do Humor, Lemos Editorial, S.Paulo, 2002 Podemos concluir com base nos dados apresentados anteriormente que a taxa de concordância para o transtorno do humor é de duas a quatro vezes maior em gêmeos MZ do que nos DZ, reforçando a hipótese de um componente genético nessa enfermidade. Mas, deduz-se que o componente genético não é o único determinante desse transtorno. Se assim fosse a concordância entre os gêmeos MZ seria de 100%. Estima-se que o potencial hereditário para o Transtorno Bipolar seja em tomo de 75% (Baron, 1991). Estudos com adotados Com o propósito de separar a influência ambiental do fator genético, costumase pesquisar em adotados. Segundo Moreno e Moreno (2002), o primeiro estudo desse tipo foi conduzido na Bélgica por Mendlewicz e Rainer (1977), que verificaram 29 adotados com a antiga doença maníaco-depressiva (hoje Transtorno Afetivo Bipolar). Esses autores observaram uma prevalência de distúrbios afetivos em 31 % dos pais biológicos dessas pessoas, comparado a uma prevalência de 12% nos pais adotivos. Outro estudo foi de Cadoret (1978), que em uma amostra de mães com o Transtorno Afetivo (bipolar e unipolar) evidenciou uma freqüência seis vezes maior de Depressão em seus filhos biológicos adotados ao nascimento, comparados aos filhos de mães sem o transtorno, também adotados no nascimento. Wender e cols. (1986) pesquisaram, na Dinamarca, 71 pessoas adotadas portadoras deTranstornos do Humor e relataram uma prevalência oito vezes maior em casos de Depressão Unipolar e quinze vezes maior em casos de suicídio nos pais biológicos dessas pessoas quando comparadas com seus pais adotivos. Outras Classificações Durante muito tempo o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) foi considerado apenas ao que se considera hoje a sua forma mais grave. A classificação DSM.IV, já com mais de 10 anos, reconhece somente os tipos I e II, entretanto, os pesquisadores estão ampliando os conceitos e os tipos da bipolaridade. Já se fala em Transtornos do Espectro Bipolar e, de acordo com abordagem mais recente, existem quatro tipos de transtorno bipolar, que se caracterizam basicamente pela intensidade i em que ocorre a alteração do humor. Tipo I: Afeta apenas 1 % da população, é a forma mais intensa, com forte alteração do humor, por apresentar fases de mania plena. Apresenta toda a amplitude de variação do humor, do pico mais alto (mania plena), que pode ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com durar várias semanas, até depressões graves. Em geral, inicia-se entre 15 e 30 anos, mas há casos de início mais tardio. É comum apresentar sintomas psicóticos, como delírios (pensamentos fora da realidade) ou alucinações (ouvir vozes que não existem, por exemplo). Se não for tratado, em geral prejudica enormemente o curso da vida do paciente. Tipo II: A alteração do humor não é tão intensa quanto no Tipo I, mas apresenta fases de hipomania (pequena mania) e depressão. Assim sendo, nesse tipo a fase maníaca é mais branda e curta, chamada de hipomania. Os sintomas são semelhantes, mas não prejudicam a pessoa de modo tão significativo. As depressões, por outro lado, podem ser profundas. Também pode iniciar na adolescência, com oscilação de humor, mas uma parte dos pacientes só expressa a fase depressiva ao redor dos 40 anos. Com frequência, os sintomas de humor deixam de ser marcadamente de um polo para ter características mistas, turbulentas. Tipo III: O Tipo III é semelhante ao tipo II, porém o quadro de hipomania é desencadeado pelo uso de antidepressivos ou psicoestimulantes. É uma classificação usada apenas quando a fase maníaca ou hipomaníaca é induzida por um antidepressivo ou psicoestimulante, ou seja, os pacientes fazem parte do espectro bipolar, mas o polo positivo só é descoberto pelo uso destas drogas. Sem o antidepressivo, em geral manifestam características do temperamento hipertímico ou ciclotímico. Como regra, devem ser tratados como bipolares, mesmo que saiam do quadro maníaco com a retirada do antidepressivo. Tipo IV: No tipo IV a oscilação de humor é mais leve e o paciente é, geralmente, uma pessoa com temperamento mais determinado, dinâmico, empreendedor, extrovertido e expansivo, e que, esporadicamente, passa a ter o humor mais turbulento e depressivo na meia-idade. Esses pacientes nunca tiveram mania ou hipomania, mas têm uma história de humor um pouco mais vibrante, na faixa hipertímica, que frequentemente gera vantagens. A fase depressiva pode só ocorrer em torno ou depois dos 50 anos e às vezes é de característica mista e oscilatória. Além desses quatro tipos, há a ciclotimia, que se caracteriza por um traço de personalidade cujo humor é oscilante e desregulado, e cujas fases não chegam a ser configuradas como mania ou depressão. Curso O Transtorno Bipolar I é um transtorno recorrente, ou seja, mais de 90% das pessoas que tiveram um Episódio Maníaco terão futuros episódios. Aproximadamente 60 a 70% dos Episódios Maníacos frequentemente precedem ou se seguem a Episódios Depressivos mas o padrão de alternância é característico para cada pessoa. O número de episódios durante a vida (tanto Depressivos quanto Maníacos) tende a ser superior para Transtorno Bipolar I, em comparação com Transtorno Depressivo Recorrente. Estudos do curso do Transtorno Bipolar I, antes do ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com tratamento de manutenção com lítio, sugerem que ocorremquatro episódios em média a cada 10 anos. O intervalo entre os episódios tende a diminuir com a idade. Aproximadamente 5 a 15% das pessoas com Transtorno Bipolar têm quatro ou mais episódios de alterações severas do humor, tais como, Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco, Episódio Misto ou Episódio Hipomaníaco, que ocorrem dentro de um determinado ano. Embora a maioria das pessoas com Transtorno Bipolar retorne a um nível plenamente normal de funcionamento entre os episódios, alguns deles, entre 20 e 30%, continuam apresentando instabilidade do humor e dificuldades interpessoais ou ocupacionais. Quando um indivíduo tem Episódios Maníacos com aspectos psicóticos, os episódios subsequentes têm maior probabilidade de ter aspectos psicóticos. A recuperação incompleta entre os episódios é mais comum quando o episódio atual é acompanhado por aspectos psicóticos incongruentes com o humor. Bibliografia: Andrade L, Walters EE, Gentil V e cols. – Prevalence of ICD-10 Mental Disorders in a Catchment a Área in the city of São Paulo, Brazil. Soc Psych Epidemiol 37(7): 316-325, 2002 Cardno AG, Marshall EJ e cols. – Heritability Estimates for Psychotic Disorders. Arch Gen Psychiatry 56:162-168, 1999 Michelon L, Vallada H – Fatores Genéticos e Ambientais na Manifestação do Transtorno Bipolar. Rev Psiq Clínica 32(Sup. Esp.) 1;21-27, 2005. ESCOLA DE PSICANÁLISE KOINONIA www.escoladepsicanalisekoinonia.com