INTRODUÇÃO A atmosfera terrestre é o meio que mais tem sido agredido pelo homem, através de substâncias tóxicas emitidas por indústrias, automóveis, termoelétricas e outras fontes. Essa deteorização da qualidade do ar ficou mais evidente a partir da Revolução IndustriaL onde vários compostos químicos começaram a ser emitidos de forma não controlada. Com isso, o efeito da ação humana tem trazido nos últimos anos grandes problemas. Por outro lado, as substâncias de origem industrial contaminam o ar das cidades, provocando doenças ou agravando as existentes. A queima de biomassa, em ambientes externos e internos, utilizada desde a pré-história para produção de energia, tem sido uma das importantes fontes antropogênicas de poluição atmosférica. No Brasil, em 1990, o Conselho Nacional de Meio Ambiente adotou padrões para a qualidade do ar e um dos principais poluentes é o ozônio como fonte primária, cuja concentração de 160 µg/m3, com um tempo médio de 1 hora no máximo diário passa a fazer mal à saúde. Vale ressaltar que este não é o único, mas um dos principais poluentes atmosféricos. Novos estudos mostraram que não existem níveis seguros de concentração de poluentes para a saúde humana, questionando a segurança dos padrões de qualidade do ar estabelecidos (Bascom et al, 1996; Saldiva et al, 1995). A poluição atmosférica é um preocupante problema de saúde pública em grandes centros urbanos, tendo como desfechos o aumento das internações hospitalares e o incremento na mortalidade (Freitas et al, 2004; Hong et al, 2002). Em relação às queimadas em áreas remotas ou rurais, os poluentes gasosos e o material particulado fino apresentam efeitos diretos para o sistema respiratório, em especial para os grupos mais sensíveis (Ignotti et al, 2007). Entretanto, os efeitos das queimadas sobre a saúde humana têm sido pouco estudados. As grandes queimadas ocorridas em Bornéu (1983 e 1997), Tailândia (1997), Indonésia (1997), Estados Unidos (Califórnia, 2003) e Brasil - Roraima (1997 e 1998), Mato Grosso (1998), Pará (1998) e Acre (2005), (Cochrane, 2000) - despertaram interesse para o problema de saúde pública. As emissões de partículas finas decorrentes das queimadas representam cerca de 60% do material particulado emitido para a atmosfera, contribuindo de forma significativa para a alteração da composição química da atmosfera amazônica, com implicações importantes em nível local, regional e global, com valores que chegam a ultrapassar os limites observados em muitos centros urbanos (Artaxo et al, 2002). O objetivo do trabalho foi desenvolvido com a finalidade de descrever as internações hospitalares segundo o tipo de doenças respiratórias, ozônio e as variáveis climáticas para o período de estudo e verificar as associações entre as doenças respiratórias e as variáveis ambientais (poluentes e conforto térmico humano) na cidade de Campo Grande-MS. MATERIAL A cidade de Campo Grande, MS (20°27'16" S; 54°47'16" W, 650 m), está localizada no planalto denominado Maracaju-Campo Grande a 150 km do início da maior planície alagável do mundo, o Pantanal Mato-grossense (139 111 km2 de área). Souza et al, 2009; o clima na região de Campo Grande possui temperaturas moderadas variando de mínima 17,8 0C, máxima de 29,8 0C e media de 22,7 oC, com chuvas bem distribuídas e verão quente, a umidade relativa media do ar é de 72,8%, e precipitação media mensal de 122,4mm e media anual de 1469 mm. Neste trabalho serão utilizados dados de: 1) Meteorológicos obtidos na Estação Meteorológica da Embrapa, Gado de Corte. Estes dados foram utilizados para compor o cálculo dos índices de CTH utilizando as variáveis meteorológicas para simular eventos extremos de conforto: quente (TE1; TEv1), normal (TE2; TEv2), frio (TE3; TEv3). O critério utilizado foi o intervalo de 22oC a 25oC para a simulação confortável THOM 1972. TE = T – 0.4(T-10) (1-UR/100) (1) TEv = 37-(37-T) / [0.68-0.0014UR + 1/ (1.76+1.4v 0.75)]-0.29T(1-UR/100) (2) Onde: T é a temperatura em graus Celsius, U a umidade relativa em percentagem e v os ventos em metros por segundo. 2) No segundo conjunto de dados foram utilizadas medidas de poluentes coletados diariamente pelo Depto de Física da UFMS. O poluente utilizado neste estudo foram valores diário de Ozônio (O3). 3) O terceiro conjunto de dados Foram incluídos todos os pacientes atendidos no município de Campo Grande, nos anos de 2004, 2005 e 2006, cujo diagnóstico havia sido classificado como doença respiratória, mediante uma das seguintes situações: diagnóstico de doença do aparelho respiratório, de acordo com o capítulo X (J00-J99) da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. No processo de modelagem foram seguidas as seguintes etapas: 1-Cálculo da matriz de correlação entre as variáveis de estudo, para definir a ordem de entrada dessas variáveis no modelo de regressão linear múltipla segundo o grau de significância estatística, bem como avaliar a colinearidade entre as variáveis independentes. Nesta etapa foram escolhidas as variáveis mais significativas (p<0,20) para fazer a modelagem múltipla. 2-Construção, primeiramente, de modelos univariados de regressão de Poisson com os poluentes e os índices TE e TEv. 3-Posteriormente, foram feitos os modelos múltiplos de regressão de Poisson para doenças do aparelho respiratório com os poluentes e os índices de CTH ajustados pelas variáveis de controle: dia da semana, mês e estação do ano e a variável indicadora do dia (1 a 1095). Esses modelos foram identificados como “modelo 1”. 4-Após escolher as variáveis que permaneceram significativas do modelo 1 (p<0,05), construiu-se um novo modelo (modelo 2), apenas com estas variáveis, separado para os poluentes, para os TE´s e para os TEv´s, ajustados pelas variáveis de controle. 5- Foram elaborados 2 últimos modelos múltiplos considerando os poluentes e os índices de CTH que foram significativos no modelo 2 e ajustados pelas variáveis de controle. No primeiro deles foi feito a análise com os poluentes e os TE´s (modelo 3) e no outro modelo múltiplo foram analisados os poluentes e os TEv´s (modelo 4). RESULTADOS Segundo os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde verificou-se decréscimo de 38% no número de hospitalizações por doença respiratória no ano de 2005 em relação ao de 2004 e um aumento de 20% de 2005 para 2006. Em 2004, 2005 e 2006 foram realizados, 13.990 atendimentos de emergência em Campo Grande. Os diagnósticos mais freqüentes foram: Síndrome da A.P.I. do Recém Nascido (Membrana Hialina) com 4,6%; Pneumopatias Agudas com 6,3%; Tuberculose Pulmonar com 1,5%; Pneumonia em Criança com 37%; Pneumonia do Lactente com 16%; Pneumonia em Adulto com 24%; Crise Asmática com 0,6%; Pneumotórax com 0,19%; Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica com 0,5% e Insuficiência Respiratória Aguda com 0,4%. A análise de correlação indica que, além de existir uma associação linear direta entre o poluente e o desfecho, há uma correlação entre o poluente e as variáveis meteorológicas. As séries temporais dos atendimentos ambulatoriais não apresentam um comportamento sazonal consistente com a série diária de concentração de ozônio. Contudo, o ozônio esteve significativamente associado com maior número de atendimentos ambulatoriais por doenças respiratórias. Variações diárias de concentração de ozônio estiveram estatisticamente associadas com o aumento na demanda diária de atendimento ambulatorial de doenças respiratórias, mesmo após controle de efeitos de confusão, isto é, quando o modelo foi controlado por variáveis que apresentavam correlação tanto com o desfecho quanto com a exposição. Foram encontradas associações significativas, no período de prática de queimadas, no 3º dias após a exposição ao poluente. O maior número de incidência de doenças respiratórias acontece nos meses de março, abril, maio e junho com uma média mensal nos anos de 2004 a 2006 de 353 casos, que acontece no fim da estação chuvosa e inicio da estação seca e a maior incidência de concentração de ozônio acontece nos meses de agosto, setembro e outubro com uma média mensal nestes três anos de 97,6 µg/m3 quando acontece a limpeza dos terrenos para plantio. Entre os anos de 2004 a 2006, médias anuais de concentração de ozônio estiveram abaixo do padrão primário de 160 µg/m3, com uma média nos três anos de 68,8 µg/m3 . Mas, alguns dias dos meses, apresentaram concentrações acima do padrão, principalmente durante os meses de agosto a setembro, quando ocorrem as queimadas para limpeza dos pastos (Robaina et al, 2005). As variáveis meteorológicas: temperatura, os menores valores na serie de dados foram, 4,5 C para a mínima, 9,8 para a média e 11,1 para a máxima. Com relação aos maiores valores registrados na serie foram: 25,2 0C para as temperaturas mínimas media de 29,8 e máximas de 39,5, respectivamente. Estes são os extremos de temperaturas encontrados na serie estudada. Para a variável umidade do ar, os menores valores registrados na serie foram: 20,7 % de umidade mínima, 66,7 de umidade media e 98 %de umidade máxima. A precipitação nesta serie teve valores variando de 00 a 97,8 mm. Os índices TE1, TE2, TE3 apresentam os menores valores variando de 5,3 0C; 11,0 e 9,8 0 C. Com relação aos maiores valores registrados variaram de 23,2; 33,0 e 26,3 0C. Com relação aos índices TEv1, TEv2, TEv3 os menores valores variaram de -11,3; -1,6 e -4,2 0C, e os maiores valores de 17,0; 33,6 e 22,10C. Verifica-se, que as combinações de temperatura e umidade tanto máxima quanto mínima, sempre permanecem em intervalo desconfortável. No índice que leva em consideração o vento médio, nota-se que todas as combinações, entram na faixa confortável, de 22-25 0C. De acordo com o valor observado na serie temporal a maior média de O3 ocorre nos mês de agosto com o máximo (98,7 µg/m3) e mínimos de 1,7 (µg/m3). Este poluente possui sanozalidade, porem diferente na sazonalidade observada nas doenças respiratórias. Enquanto os máximos valores de doenças respiratórias ocorrem no inverno, neste período observam-se os menores médias de ozônio. CONCLUSÃO A concentração de O3 não ultrapassou o limite de qualidade do ar durante os três anos de observação. Observou-se maior incidência de DR nos meses de março a maio e correlação positiva entre a concentração de O3 e atendimentos por DR e a maior freqüência de doenças está na faixa etária de 0 a 9 anos com 66,8%. No entanto, no presente estudo, realizado fora de um centro metropolitano, verificou-se que a distribuição dos poluentes atmosféricos apresenta aspectos sazonais e os níveis médios desses poluentes ficaram abaixo dos observados (Braga et al, 1999). A magnitude da associação entre os poluentes e as internações por pneumonias foi semelhante às encontrados em estudos realizados em São Paulo (Braga et al, 1999, 2001). A metodologia do presente estudo é similar aos de estudos semelhantes realizados no Brasil (Bakonyiet al, 2004; Braga et al, 1999, 2001) e em centros de pesquisa fora do País (Saldiva, 1996). As variáveis de confusão incluídas nos modelos de regressão foram as classicamente utilizadas em estudos dos efeitos dos poluentes do ar sobre a saúde. A região onde está localizada a cidade de Campo Grande apresenta clima sem grandes variações de temperatura, com raras temperaturas baixas, isso permitiu que o controle dos efeitos da temperatura e da umidade fosse feitos com indicadores lineares. A utilização de apenas uma função de alisamento não paramétrica, para sazonalidade de longa duração, minimizou possíveis erros nas estimativas de efeito e seus respectivos erros-padrão. No presente estudo, os efeitos do O3 nas internações hospitalares se tornaram importantes apenas três e quatro dias após a exposição. O O3 também se mostrou com significância em recente estudo relacionado com atendimentos de crianças, em ambulatórios da rede pública com problemas respiratórios (Saldiva et al, 1995). A modelagem do ozônio é mais complexa, pois apresenta picos de concentração tanto nos períodos quentes como frios. Tal fato explica-se pela maior insolação dos dias de verão e pela maior permanência de precursores oxidantes na atmosfera no inverno, devido às piores condições de dispersão. Mesmo assim, houve associação entre o O3 e as internações com defasagem de quatro dias e nos meses de maior incidência de queimadas, de agosto a novembro. Nas internações por doenças respiratórias as variáveis independentes foram o o3lag3. As doenças respiratórias apresentam maior número de internações nos meses de outono e inverno, e apresenta um forte comportamento sazonal. Para os índices CTH se a variação for positiva, o índice atua como fator protetor, ou seja, quanto maior o incremento, mais confortável, menos frio. Mesmo o conforto atuando como fator o protetor nas internações, deve-se considerar que este índice tende a ser desconfortável, pois utiliza temperatura mínima nos seus cálculos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Artaxo P, Martins JV, Yamasoe MA, Procópio AS, Pauliquevis TM, Andreae MO, et al. Physical and chemical properties of aerosols in the wet and dry seasons in Rondônia, Amazônia. J Geophys Res. 2002; 107(D20): 8081. Bakonyi SMC, Danni-Oiveira IM, Martins LC, Braga ALF. Poluição atmosférica e doenças respiratórias em crianças na cidade de Curitiba, PR. Rev Saúde Pública 2004; 38(5): 695-700. Bascom R, Bromberg PA, Costa DA, Devlin R, Dockery DW, Frampton MW, Lambert W, Samet JM, Speizer FE, Utell M. State Of The Art. Health Effects Of Outdoor Pollution. Am. J. Respir. Crit. Care Med. 1996;153(1):3-50. 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