Direção de arte na aula de língua
portuguesa: O que fazer? Como fazer?1
Anderson Marcos da Silva2 (UFCG)
Mariana Quirino Fechine3 (UFCG)
Karine Viana Amorim4 (UFCG)
Resumo:
A emergência do ciberespaço tem reflexos nas estruturas sócioeconômicas, culturais e também nos processos educacionais, como
menciona Lévy (1999) em “Cibercultura”. Diante dessas diretrizes, este
trabalho tem como foco analisar as experiências interdisciplinares entre o
ensino de língua portuguesa e o processo de produção de um curtametragem, sob a orientação de graduandos de Letras e de Arte e Mídia,
com alunos de ensino médio, de uma escola pública em Campina Grande,
Paraíba. Além do desenvolvimento de linguagens e da experimentação no
campo da artemídia, como define Machado (2007), tais atividades
contribuem com a formação dos Diretores de Arte e Mídia.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade, mídia, educação, arte.
Abstract
The emergency of cyberspace also has consequences in the partnereconomic, cultural structures and in the educational processes, as Lévy
(1999) in “Cibercultura” mentions. Ahead of these lines of direction, this
work has as focus to analyze the interdisciplinary experiences between the
education of Portuguese language and the process of production of a short
film, under the orientation of undergraduated of Letters and Art and
Media, with students of average education, of a public school in Campina
Grande, Paraíba. Beyond the development of languages and the
experimentation in the field of the artemídia, as it defines Machado
(2007), such activities contribute with the formation of the Art Directors.
Keywords: Interdisciplinary, media, education, art.
Introdução
Integrando o projeto “Mídias na sala de aula: articulação entre graduandos
de Letras e professores de língua portuguesa” (Ano II), doravante MSA (Ano II), este
trabalho tem como principal objetivo analisar as atividades realizadas com alunos
da terceira série do Ensino Médio da Escola de Ensino Médio e Fundamental São
Sebastião, na cidade de Campina Grande, dando ênfase ao caráter interdisciplinar
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-1-
destas, visto a aproximação entre língua portuguesa e arte – de forma mais
específica, o cinema – durante a execução das mesmas.
Em seu segundo ano o projeto citado acima, é vinculado ao programa PRÓlicenciatura da Universidade Federal de Campina Grande e composto por: uma
professora orientadora, dois estagiários bolsistas do curso de Letras (UFCG), um
estagiário voluntário também do curso de Letras (UFCG) e dois estagiários bolsistas
do curso de Arte e Mídia (UFCG).
Durante o período de sete meses (já concluídos), os estagiários
desenvolveram junto aos professores, atividades que proporcionassem aos alunos
uma imersão no campo artístico do cinema. Através de aulas expositivas foram
exemplificadas a história do cinema, noções de cinema e animação, construção e
elaboração de roteiro e o processo de divisão de equipes para a produção de um
curta-metragem. Após esse processo, deu-se início às atividades práticas (ainda em
execução)5, com a divisão da turma em equipes, começaram-se as etapas de préprodução, produção e pós-produção, para a gravação de um curta-metragem
ficcional – com roteiro escrito pelos próprios alunos.
A relação estabelecida no projeto entre língua portuguesa, arte e mídia é
fruto não somente do crescente uso da interdisciplinaridade em sala de aula, mas
principalmente da emergência e solidificação da cibercultura como agente
facilitador da educação – através da inserção de novas mídias e as possibilidades de
interação, por consequência.
Cibercultura e as novas possibilidades educacionais
É inegável que o processo de consolidação das novas tecnologias de
informação e comunicação interfere nas formas de organização da cadeia produtiva
e, por conseguinte, nas relações socioculturais na contemporaneidade. É neste
contexto que o ciberespaço6 se expande, redefinindo práticas e modos de
pensamentos que passam a constituir a cibercultura.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-2-
O desenvolvimento tecnológico alcançado pela sociedade atual é um fator
relevante para que se compreenda a expansão efetiva do ciberespaço. A técnica,
no entanto, segundo Pierre Lévy, não se comporta como determinante da
cibercultura,
apenas
a
condiciona.
A
relação
tecnologia-cultura
se
dá
horizontalmente, visto que ao passo que o desenvolvimento técnico possibilita
novas formas de interação interpessoal e de compreensão de mundo, as
necessidades humanas de comunicação e expressão, por sua vez, servem de ponto
de partida para que novas tecnologias sejam criadas, desse modo, pode-se afirmar
que a cibercultura se configura como um movimento social. (LÉVY, 1999).
A descentralização na produção e emissão de conteúdos, característica
primordial do ciberespaço, visa a universalização, ou seja, tornar evidente a
multiplicidade, o confronto de épocas e de pontos de vista, a desconstrução de
paradigmas que caracterizam a sociedade pós-moderna. Desse modo, o caráter
universal
do
ciberespaço
se
legitima
pelo
direito
de
livre
participação
independente das fronteiras semânticas que são estabelecidas no mundo físico. E é
na heterogeneidade de discursos que compõe o ciberespaço que se expressa a
diversidade humana e a possibilidade de construção de uma inteligência coletiva.
A nova realidade de produção, veiculação e acesso aos mais diversos
conteúdos midiáticos necessita que se desenvolva uma nova dinâmica de
aprendizado, pois, a rigidez e uniformidade dos processos educacionais tradicionais
não mais atendem às expectativas e às necessidades reais do homem
contemporâneo. Porém, como ressalta Lévy,
Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de
acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização
que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a
cultura dos sistemas educacionais tradicionais e sobretudo os papéis de
professor e aluno (1999, p.172).
A cibercultura requer uma construção participativa de saberes, mais próxima
das experiências reais do indivíduo, evitando a imposição de metodologias e pontos
de vista. É a partir desses paradigmas emergentes junto ao ciberespaço que se
desenvolvem as atividades interdisciplinares do projeto em questão, pois, mais do
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-3-
que a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC) como suporte
para a apresentação de conteúdos, se objetiva o desenvolvimento e a veiculação
de um produto artístico-midiático.
Direção de Arte – Arte e Mídia
O desenvolvimento e popularização das tecnologias de informação e
comunicação têm conseqüências claramente observáveis também no campo de
criação artística. Desde as primeiras décadas do século XX, a fotografia e o cinema
experimental já se firmavam como novas formas de arte e, mais recentemente, o
vídeo e as possibilidades de criação de imagens e sons através do computador,
além da crescente facilidade de veiculação destas obras na web, firmam as bases
para o iminente processo de convergências das artes e comunicação (SANTAELLA,
2008).
Com a perspectiva de formação multidimensional no campo das artes, tendo
por base os paradigmas estéticos e tecnológicos vigentes, tem origem o curso de
Arte e Mídia. Fundado pela “Comissão de Criação do Curso de Arte e Mídia”, no ano
de 1998 - na então Universidade Federal da Paraíba, hoje Universidade Federal de
Campina Grande - o curso já soma oito turmas formadas e vem, há mais de dez
anos, colocando no mercado de trabalho profissionais diferenciados, os diretores de
arte e mídia.
Com duração mínima de oito semestres e carga horária de 2400 horas, a
graduação procura, assim como afirma o Projeto de Criação do Curso de
Graduação: Arte e Mídia (apud TEIXEIRA, sd):
(i) prover o aluno de conhecimentos sobre arte, estética e tecnologia; (ii)
prover a formação de recursos humanos para o desenvolvimento da arte no
âmbito da direção e produção artísticas e seu envolvimento tecnológico e
científico; (iii) preparar pessoas críticas e conscientes de seu papel no que
diz respeito à produção artístico-cultural, as relações sociais em geral e as
dimensões humanas e éticas que o conhecimento produz na sociedade e
(iv) desenvolver o potencial criativo, perceptivo, de raciocínio e de
estímulo à criação cultural.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-4-
Assim, pode-se afirmar que é na intersecção entre a arte e a mídia, que se
constrói o perfil díspar do profissional com esta graduação, pois no projeto
pedagógico “[...] há a intenção direta de recompor as mais diversas dimensões
fragmentadas da arte em um único ambiente, através da facilidade dos recursos
tecnológicos e da estética filosófica. [...]” (TEIXEIRA, 2008, p. 119).
Para a conclusão do curso, é obrigatório o desenvolvimento de um produto
multimídia, resultado da reunião de duas ou mais mídias como matérias-primas ou
veículos de divulgação de uma criação artística. É importante ressaltar que o
crescente número de obras multimídia ou multisensoriais em todo o mundo “[...]
coloca em crise os conceitos tradicionais e anteriores sobre o fenômeno artístico,
exigindo formulações mais adequadas à nova sensibilidade que agora emerge. [...]”
(MACHADO, 2007, p. 26). A arte, desse modo, que não está restrita às salas de
concerto, galerias e museus, se faz mais presente no cotidiano da sociedade. Este
ponto de confluência entre arte e tecnologia encontra uma definição no termo
artemídia, que engloba
não apenas os trabalhos realizados com mediação tecnológica em áreas
mais consolidadas, como as artes visuais e audiovisuais, literatura, música
e artes performáticas, mas também aqueles que acontecem em campos
ainda não inteiramente mapeados [...]. Neste sentido “artemídia” engloba
extrapola expressões anteriores [...] (MACHADO, 2007, p. 7).
As atribuições do diretor de arte, bem como a regulamentação profissional,
variam de acordo com o caráter do trabalho a ser realizado. A partir das definições
jque o “Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual
dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal” oferece sobre as funções
cinematográficas (1997), adotou-se a que descreve a atuação do diretor de arte
para o desenvolvimento das atividades referentes ao trabalho em questão:
Cria, conceitua, planeja e supervisiona a produção de todos os componentes
visuais de um filme ou espetáculo; traduz em formas concretas as relações
dramáticas imaginadas pelo Diretor Cinematográfico e sugeridas pelo
roteiro; define a construção plástico-emocional de cada cena e de cada
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-5-
personagem dentro do contexto geral do espetáculo; verifica e elege as
locações; as texturas, a cor e os efeitos visuais desejados, junto ao Diretor
Cinematográfico e ao Diretor de Fotografia; define e conceitua o espetáculo
estabelecendo as bases sob as quais trabalharão o Cenógrafo, o Figurinista,
o Maquiador, o Técnico em Efeitos Especiais Cênicos, os gráficos e os demais
profissionais necessários supervisionando-os durante as diversas fases de
desenvolvimento do projeto.
É importante ressaltar que o campo de atuação do diretor de arte é cada vez
mais abrangente. A grande valorização da estética e a conseqüente necessidade de
criação de produtos diferenciados, sejam eles de cunho artístico, midiático ou
simplesmente para consumo, requerem a atuação do profissional nas áreas de
design, publicidade, web, jogos digitais, eventos etc. A sala de aula é outro
possível campo de atuação para o diretor de arte, sobretudo na atualidade, onde a
educação estética e o desenvolvimento de novas formas de expressão são tão
necessários, o que fica claro nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio
(2006, p. 29):
Isso significa dizer que a escola que se pretende efetivamente inclusiva e
aberta à diversidade não pode ater-se ao letramento da letra, mas deve,
isso sim, abrir-se para os múltiplos letramentos, que, envolvendo uma
enorme variação de mídias, constroem-se de forma multissemiótica e
híbrida – por exemplo, nos hipertextos na imprensa ou via internet, por
vídeos e filme, etc.
Arte e Educação
Para a construção de um perfil de aceitação de conteúdos artísticos, como
propiciadores de conhecimento e experiências culturais, faz-se necessário o
estímulo dessas atividades, para a solidificação de uma consciência artística. Isto
porque esse processo de compreensão da arte, somente pode acontecer a partir do
contato com a mesma, tornando possível a reflexão e o entendimento daquilo que
anteriormente não produziria nenhum significado, assim como afirmam as teorias
kantianas (apud, SUASSUNA, 2004).
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-6-
Somente no ano de 1996, com a LDB (lei no. 9.394/96), o ensino de artes
tornou-se obrigatório para escolas de educação básica (já que desde o ano de 1971,
“educação artística” era considerada uma atividade educativa e não uma
disciplina). A partir deste momento, os estudos que afirmavam que, através do
contato com arte, as crianças teriam mais identificação com o campo artístico e
até mesmo o aprendizado de outras disciplinas seriam facilitados, puderam se
concretizar. Assim como afirmam Leite, Pinho e Koehler (s.d):
Através da arte muitas capacidades podem ser desenvolvidas, como a
percepção, a expressão criativa, a imaginação, a motricidade, a auto
confiança, a relação entre o mundo interno e externo, a socialização.
O que antes era feito sem nenhum planejamento, apenas levando em
consideração o “princípio da livre expressão”, passou a trazer reflexões, como
podemos perceber nos “Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte” (1998):
“Que tipo de conhecimento caracteriza a arte?”, “Qual a função da arte
na sociedade?”, “Qual a contribuição específica que a arte traz para a
educação do ser humano?”, “Como as contribuições da arte podem ser
significativas e vivas dentro da escola?” e “Como se aprende a criar,
experimentar e entender a arte e qual a função do professor nesse
processo?”
Entretanto, o ensino de arte em escolas, muitas vezes, se limita às artes
plásticas, à dança, à música e ao teatro, deixando de lado, aquela que é
considerada a sétima arte: o cinema. Isto porque, como afirma DUARTE (2006, p.
87), há uma dificuldade em reconhecer o cinema como arte e a arte como
produtora de conhecimento, o que leva a uma utilização limitada dos recursos
cinematográficos em sala de aula.
Na maioria das vezes, os filmes são exibidos apenas para ilustrar o
conteúdo programático a ser trabalho em determinada disciplina. Essa prática
acaba por desprezar os aspectos técnicos e estéticos, de grande importância para a
construção imagética e assimilação do enredo do filme – não somente por mero
descuido, mas principalmente pela falta de conhecimento dos profissionais que
conduzem essas aulas.
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-7-
É neste ponto que se encontra o cerne do projeto MSA (Ano II). Através da
interdisciplinaridade entre os conteúdos estudados pelos estagiários dos dois cursos
– Letras e Arte e Mídia - são realizadas atividades que proporcionam ao aluno de
ensino médio, a interação entre arte e língua portuguesa, de modo a tornar mais
interessante e didático o aprendizado destes.
Para dar continuidade ao que já havia sido feito no ano de 2009 com esses
alunos - MSA (Ano I)
7
- resolveu-se que um dos objetivos específicos do projeto
seria a elaboração e gravação de um curta-metragem ficcional. Para tanto, os
alunos inicialmente teriam aulas sobre noções e conceitos cinematográficos, assim
como da história do cinema, e depois, elaborariam e produziriam um roteiro de
ficção.
O que fazer, como fazer?
As atividades do projeto MSA (Ano II) foram desenvolvidas em reuniões entre
os estagiários do curso de Letras, de Arte e Mídia, e a professora orientadora. A
escolha e desenvolvimento das atividades a serem realizadas eram feitos
coletivamente de maneira que fosse privilegiado o caráter interdisciplinar
proposto.
A relação palavra–imagem foi bastante explorada, desde atividades simples
de retextualização, que consistiam
na recriação de narrativas ficcionais
apresentadas no formato de vídeo-animação, bem como a exploração da relação
inter-gêneros, como a passagem de um conto para o gênero roteiro – responsável
pela tradução em palavras de uma cena cinematográfica.
Buscou-se privilegiar ainda, o desenvolvimento de atividades teóricaspráticas, ou seja, após breve exposição dos gêneros a serem trabalhados, os alunos
eram incentivados à experimentação de cada linguagem. Acredita-se que, desse
modo, motivou-se o desenvolvimento do processo criativo, bem como se aprimorou
a capacidade de leitura e de crítica, mediante à grande exposição midiática que se
vivencia na atualidade.
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-8-
A seguir, serão analisadas as atividades realizadas na sala de aula da escola
supracitada, com foco nas que se configuram como atribuições do diretor de arte.
Serão ressaltados o caráter participativo das propostas, bem como a sua inserção
na dualidade universal-individual, que marca o processo de construção de
conhecimentos na cibercultura.
Na primeira aula, foi realizada uma sessão de vídeos-animação produzidos a
partir de flipbooks8. Com base nos vídeos, desenvolveu-se uma discussão acerca da
criação da ilusão de movimento a partir de imagens estáticas – princípio
fundamental do cinema. Posteriormente, a turma foi convidada a recriar
coletivamente a narrativa imagética apresentada. Na seqüência, solicitou-se aos
alunos que criassem pequenas narrativas para que fossem confeccionados, a partir
de desenhos feitos em sala, os seus próprios flipbooks.
A opção pelo uso dos flipbooks como atividade introdutória à linguagem do
cinema se deu por sua execução ser simples, barata e despertar grande interesse, e
por ser fonte de inspiração para o desenvolvimento de filmes de animação9 até a
atualidade. Além dos motivos já citados, a possibilidade de incentivo à prática do
desenho, também funciona como um exercício de criação de imagens através de
narrativa
prévia,
capacidade
indispensável
para
a
produção
audiovisual.
Posteriormente, ocorreu a digitalização das imagens que compunham parte dos
trabalhos da turma e sua animação com o auxílio de softwares de edição de vídeo,
para que fossem demonstradas outras possibilidades de produto a partir dos
desenhos em seqüência.
Passada a confecção dos flipbooks digitalizados, o que representou a
primeira experiência de produção de conteúdos audiovisuais para a maioria da
turma, realizou-se uma aula expositiva dos principais momentos da história do
cinema, desde o desenvolvimento das primeiras câmeras, as primeiras exibições
realizadas pelos Irmãos Lumière, o cinema mudo e o aperfeiçoamento da linguagem
cinematográfica, quando foi exibido trecho de Tempos Modernos (1936), de Charles
Chaplin; e, finalmente chegando ao movimento cinematográfico brasileiro.
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-9-
A fase posterior tinha como objetivo a retomada do gênero roteiro, foco do
MSA (Ano I). Foi entregue aos alunos material de apoio contendo as principais
características do gênero, bem como suas regras de estruturação. A partir das
indicações escritas e da exposição oral, os alunos, em duplas, desenvolveram uma
narrativa escrita – roteiro literário10. Os textos passaram por breve correção
(gramatical e indicações acerca de melhorias na história) e retornaram aos alunos
para que realizassem os ajustes. Como finalização desta fase, foi escolhida uma das
narrativas para ser coletivamente transformada em um roteiro técnico11 para a
gravação.
Os preparativos para a gravação do roteiro escolhido foram iniciados com
uma breve oficina sobre as fases de criação de uma peça audiovisual (preparação,
produção e finalização), bem como informações sobre as atribuições de cada uma
das equipes técnicas (Arte, Fotografia, Elenco, Áudio e Produção). Ao final da
exposição, os alunos se dividiram em grupos de acordo com a equipe técnica que
desejariam trabalhar. A divisão proposta teve como objetivo oferecer uma maior
aproximação com os moldes de produção audiovisual de caráter profissional. Desse
modo, as responsabilidades são divididas e é estabelecida uma hierarquia, porém,
se faz necessária a criação de uma unidade, estabelecida a partir do diálogo entre
as equipes.
Posteriormente, uma das aulas foi dedicada a uma reunião com os alunos
designados para as funções de Direção e 1° Assistente em cada uma das equipes
técnicas. Na ocasião, as Diretoras Gerais, designadas para a função por serem
também as autoras do roteiro literário, expuseram suas idéias acerca da estética a
ser adotada, da construção das personagens etc. Houve também retomada das
funções de cada equipe e propostas as primeiras tarefas de ordem prática, como a
autorização e reserva de local para as gravações pela produção; a pesquisa de
figurinos e maquiagem e a definição da disposição do cenários, pela direção de
arte; a escolha dos enquadramentos e ângulos de câmera pela direção de fotografia
e a composição de música tema pela direção de áudio.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
- 10 -
As
atividades
propostas
tiveram
boa
aceitação
dos
alunos
que,
indiscutivelmente, passaram a desenvolver uma visão mais crítica dos conteúdos
audiovisuais, além de demonstrarem desenvolvimento de seu juízo estético12. As
atividades ainda estão em andamento, portanto, uma análise do resultado final e
das impressões dos alunos sobre sua primeira participação na produção de um
curta-metragem ainda não podem ser realizadas.
A experiência de realizar atividades cotidianas aos diretores de arte em sala
de aula representa uma contribuição importante aos estagiários do curso de Arte e
Mídia que, por se tratar de um bacharelado, não oferece em seus componentes
curriculares possibilidades de vivência dos processos de planejamento e prática de
ensino. Aos alunos, os exercícios se tornam uma oportunidade de inserção mais
efetiva no campo da artemídia, tão presente em seu cotidiano através das mais
diversas produções que lhes chegam pela televisão, cinema, internet etc.
Conhecimentos básicos acerca da estética e das técnicas empregadas nestes
produtos melhoram sua leitura e aguçam o senso crítico.
Considerações Finais
As atividades interdisciplinares do projeto MSA (Ano II) decorrem da
tentativa de viabilizar uma nova relação de aprendizagem dos conteúdos de língua
portuguesa, sobretudo no que se refere à produção textual, junto a uma
aproximação com atividades do campo da artemídia. Mesmo com o foco na
realização de um curta-metragem, trabalhou-se na perspectiva de confluência das
artes, bem como de suas interações com as TIC. A presença de Diretores de Arte e
Mídia em sala de aula, ainda que em formação, pode ser considerada uma
possibilidade de ensino de arte de forma não fragmentada e coerente com as novas
diretrizes da construção de conhecimento que se consolidam com a cibercultura.
O caráter participativo das aulas e a abordagem alternativa dos conteúdos
despertaram o interesse dos alunos. As atividades de retextualização e o
aperfeiçoamento da linguagem escrita a partir da criação de roteiros, base para o
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- 11 -
desenvolvimento da produção do curta-metragem, foram pontos relevantes para
uma aproximação entre os dois campos do conhecimento que estruturam este
projeto. Neste caso, não se trata somente da absorção da estrutura formal de um
roteiro, mas sim de suas potencialidades como ferramenta de expressão, pois, a
ação comunicativa é inerente à arte.
Os processos de planejamento e execução das seqüências de atividades
estabeleceram uma nova compreensão das atribuições comuns aos diretores de
arte por parte dos estagiários de Arte e Mídia. A possibilidade de utilização
pedagógica de tarefas antes consideradas puramente técnicas foi surpreendente.
Desse modo, o projeto MSA (Ano II) se concretiza como uma experiência inovadora
e frutífera não só para os alunos da Escola São Sebastião, mas também para os
graduandos em Letras e Arte e Mídia.
Referências Bibliográficas
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Médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, Volume 1, 2006.
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DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2ª Ed., 2006.
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MACHADO, Arlindo. Arte e Mídia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
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RODRIGUES, Chris. O cinema e a produção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
SANTAELLA, Lucia. Culturas e Artes do pós-humano - da cultura das mídias à
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SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos
Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Funções
Cinematográficas. S.d. Disponível em: http://www.sindcine.com.br/site/funcoe
s_cine.asp. Acesso em: 13 out. 2010.
TEIXEIRA, Luciênio de Macêdo. Arte e mídia e a possibilidade de uma formação
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1
Este trabalho está vinculado ao grupo de pesquisa “Letramentos, tecnologia e formação de professores” (CNPq/UFCG) e ao
Programa de Formação Continuada Mídias na Educação (MEC/SEED/DPCEAD/UFCG).
2
Anderson Marcos da SILVA, graduando em Arte e Mídia
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
[email protected]
3
Mariana Quirino FECHINE, graduanda em Arte e Mídia
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
[email protected]
4
Karine Viana Amorim, Profa. Ms. Orientadora
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
[email protected]
5
Ressaltamos aqui, que as atividades de prática e gravação estavam em processo de conclusão até a data de entrega deste
artigo à comissão do congresso.
6
“[...] é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas
a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim
como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo [...]” (LEVY, 1999, p. 17).
7
No ano de 2009, os alunos dos então segundos anos A e B, elaboraram um roteiro de um documentário com base em visitas
ao Batalhão da Polícia Militar da cidade de Campina Grande. Ver mais detalhes em: “A construção do roteiro
cinematográfico
com
alunos
de
ensino
médio:
relato
de
experiência”.
Disponível
em:
http://www.ufpe.br/nehte/hipertexto2009/anais/a/a-construcao-do-roteiro-cinematografico.pdf.
8
Inventado em 1868, o flipbook “[...] consiste em páginas de desenhos (ou fotografias) em seqüência, montadas como um
livrinho. Quando as páginas são viradas rapidamente, a ilusão de movimento é criada. [...]” (LUCENA JUNIOR, 2005. p. 35).
9
A palavra ‘animação’, e outras a ela relacionadas, deriva do verbo latino animare, que significa ‘dar vida a’ e só veio ser
utilizada para descrever movimento através de imagens estáticas a partir do século XX. (LUCENA JUNIOR, 2005).
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10
“ O roteiro inicial, podendo ter as cenas numeradas ou não. É usado para leitura por leigos, normalmente não familiarizados
com a linguagem cinematográfica. Geralmente sem detalhes técnicos.” (RODRIGUES, 2002, p.64).
11
“Roteiro com especificações de planos e movimentos de câmera, segundo a visão do diretor. É o roteiro de trabalho da
equipe técnica.”. (RODRIGUES, 2002, p.65).
12
Conjunto de impressões que “[...] decorrem de uma simples reação pessoal do contemplador diante do objeto [...]”.
(SUASSUNA, 2004, p. 68).
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