33 Reparação Reparação 32 Texto › Pedro Rodrigues Santos Pressão na refrigeração O sistema de refrigeração é uma das áreas mais sensíveis do automóvel. Uma manutenção menos atenta deste circuito pode ser responsável pela degradação ou mesmo a falência do motor do veículo. O inquérito realizado pela Produtos & Serviços junto de 55 marcas e distribuidores de peças e acessórios auto de refrigeração mais representativos do mercado nacional avança com alguns dados interessantes sobre o estado actual deste segmento. Sem querer caracterizar este trabalho como um efectivo estudo de mercado mas sim apenas como indicador – já que apenas responderam ao questionário uma dezena de empresas –, as respostas obtidas permitem concluir que os componentes para esta área do motor continuam a ser fortemente pressionados pelo preço. De certa forma, e em parte devido ao grande número de marcas presentes no mercado nacional e à elevada concorrência que existe entre elas, o principal problema prende-se com o nivelamento por baixo no que à qualidade dos produtos diz respeito. Com efeito, as peças para o circuito de refrigeração, à semelhança de outros segmentos de mercado, são marcadas por uma “guerra” de preços e descontos, que muitas vezes se reflecte na qualidade e fiabilidade desses produtos. Se a todos estes factores juntarmos o aumento dos custos de fabrico devido à pressão dos preços sobre as matérias-primas, é crível que o crescimento do mercado será menos acentuado do que nos anos anteriores. Em termos de qualidade de serviço prestado pelos instaladores aos seus clientes, é previsível que ela aumente, nem que seja pelo facto de os modelos automóveis lançados recentemente na Europa terem aumentado a sua complexidade tecnológica nesta área do motor. Aliás, até por que é opinião de alguns distribuidores, que esse factor pode ser um importante diferenciador entre os vários intervenientes da cadeia de distribuição, já que permite relevar outros indicadores como a disponibilidade da peça e diminuir a pressão sobre o preço. Razão por que também é elogiado o facto de os profissionais de reparação auto terem cada vez mais conhecimento em relação aos produtos em causa. Crescimento ligeiro Num segmento como é a refrigeração, a larga maioria dos distribuidores independentes de peças para reposição auto tem como principais clientes as empresas de reparação de mecânica independentes, arrecadando este grupo cerca de 90 a 95% do total. Oficinas de rede e de concessionário, reparadores autorizados e serviços rápidos são responsáveis por “ As peças para o circuito de refrigeração são marcadas por uma “guerra” de preços e descontos, que se reflete na ” qualidade dos produtos apenas 5% do volume das empresas distribuidoras que responderam ao questionário. Em termos de produtos de substituição, o ano de 2004 registou crescimentos nas linhas de radiadores, bombas de água e termóstatos. As tubagens do circuito de refrigeração, por seu lado, assim como os respectivos acessórios de aperto e ligação, registaram uma certa estagnação. O segmento de fluidos de refrigeração, pelo contrário, teve uma quebra acentuada, pelo menos os das marcas com maior notoriedade do mercado. No entanto, os distribuidores com anti-congelantes de marca própria registam crescimentos significativos na comercialização deste produto. Uma das razões apontadas pelos inquiridos tem a ver com o facto de o preço destes produtos ser um factor-chave junto das empresas de reparação auto, com reflexos óbvios na qualidade do fluido, e por também terem uma rentabilidade muito baixa no conjunto da actividade. Para este ano, o panorama na distribuição e instalação destas linhas de produtos não deverá registar alterações muito significativas. Para além de uma ligeira subida dos preços das diversas linhas de produtos de refrigeração, a evolução do mercado em 2005 deverá ter contornos muito semelhantes ao ano anterior, assim como a qualidade de serviço prestada. Também as marcas e distribuidoras contam apresentar um crescimento percentual ligeiro nestas linhas de produtos durante este ano. Para isso deverá contribuir a actualização regular das suas linhas de produtos com novas referências e o lançamento de novos catálogos com todo o seu programa de componentes de refrigeração, reforçadas com campanhas promocionais junto de retalhistas e empresas de reparação auto. Reparação 34 Falta de manutenção provoca falhas graves Negligência na refrigeração Texto › Pedro Rodrigues Santos Uma área que muitas vezes é negligenciada pelo profissional de reparação auto nas tarefas de manutenção do automóvel é o sistema de refrigeração. Tendo a manutenção do sistema de refrigeração da viatura como pano de fundo, a Produtos & Serviços entrevistou Ricardo Nunes, responsável pela Auto Marinhos, Lda, em Lisboa. Esta pequena empresa de reparação auto independente, já com mais de 30 anos de existência, tem colocado a rapidez das intervenções e a qualidade de serviço aos seus clientes como duas das suas principais responsabilidades nesta actividade. O percurso profissional de Ricardo Nunes iniciou-se aos 16 anos como aprendiz numa instalação oficinal de Lisboa. Ainda na década de 60, trabalhou em Angola na representação local da Alfa Romeo, de onde regressou em 1970. Depois de vários anos a trabalhar em várias oficinas multimarca independentes, em 1981 decidiu montar o seu próprio negócio, adquirindo a Auto Marinhos, Lda. Em termos de organização do processo de trabalho, o dia inicia-se com a preparação dos serviços mais morosos, como por exemplo, todos os ligados à reparação de chapa e repintura do automóvel. Mas, como é óbvio, “todos os veículos que vêm à nossa oficina para fazer uma mudança de óleo ou substituir filtros são feitos de imediato”, afirma Ricardo Nunes. “O que complica mais nestes serviços, apesar de eles serem de simples execução, é que normalmente os nossos clientes vêm sem marcação, o que obriga a interromper outros trabalhos que temos em curso”. Quando se trata de alguma avaria no circuito ou num componente do sistema de refrigeração, a situação é ainda mais complicada de gerir. “Essas situações, por incrível que possa parecer, surgem sempre à sexta-feira, porque o cliente só se lembra Foto: DR que quer ir passar o fim-de-semana fora na noite anterior”, ironiza o responsável da Auto Marinhos. “Imaginemos que um cliente entra na nossa oficina com o seu automóvel a verter fluido por problemas na bomba de água”, exemplifica Ricardo Nunes. “Essa situação tem imediatamente de ser resolvida pelo risco que a integridade do motor corre”, criticando também o facto de o cliente só fazer a revisão do veículo “nas últimas”. Com efeito, em condições normais de funcionamento e feitas as revisões de forma atempada, “quando o sistema começa a ter problemas, o automóvel já tem para cima de quatro ou cinco anos”, afirma. Embora não tenham uma dificuldade técnica muito elevada, “são intervenções específicas que não podem ser interrompidas pela sua urgência”.“Se houver o cuidado, quer por parte do profissional, quer por parte do automobilista, em mudar o fluido refrigerante segundo o preconizado pela marca do automóvel, e limpar o circuito de forma eficiente, é difícil que essas situações cheguem a esse ponto”. Razão por que um dos riscos mais comuns na manutenção do sistema é a possibilidade de ficar ar no circuito. “É necessário sangrar bem o circuito porque senão, o motor corre novamente o risco de aquecer ao ponto de poder danificar a junta da cabeça”.