Colégio Lobo – 2º ano Sociologia – Material Complementar Os Movimentos Sociais “Não se trata de substituir a sociedade existente por uma totalmente nova, (...). Não é uma questão de classes, (...) é a necessidade de refrear, desde o alto, os apetites de ambos e assim pôr fim ao estado de desagregação, de agitação maníaca, que não é produto da atividade social e que inclusive provoca sofrimentos. Em outras palavras, a questão social concebida desta maneira não é uma questão de dinheiro ou de força; é uma questão de agentes morais.” DURKHEIM, Émile. El socialismo. Madrid: Nacional, 1982, p. 287 Movimento social: O que é? Na história contemporânea temos diversos exemplos de formas de organizações coletivas, reivindicando as mais diferentes coisas ou ações caracterizando o que é um movimento social. Como exemplo, citamos o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Fórum Social Mundial (FSM), o movimento hippie, movimento feminista, o movimento estudantil, o movimento dos sem-teto, o movimento pela “Tradição, Família e Propriedade” (TFP), os movimentos anticapitalistas, dentre outros. Um movimento social constitui uma ação coletiva que envolve indivíduos que comungam de um mesmo interesse e pretensão. Pode ser pacífico, pode possuir confronto. Deseja, porém, mudar uma realidade ou mantê-la, além de aprimorar a visão de cidadania. Com o fim de um movimento social, a ordem é restabelecida, com perdas e concessões de um dos lados (do reivindicador e do reivindicado). Quando tratamos dos movimentos sociais encontramos diversas características gerais que permeiam a todos eles, uma delas, é que os indivíduos tornam-se sujeitos históricos quando organizados de forma coletiva e com objetivos em comum, e, portanto, apesar de não terem certezas sobre o futuro do movimento, podem lutar (seja qual for a reivindicação e o projeto) para a inclusão, exclusão ou transformação radical da sociedade. Os movimentos caracterizam-se por reivindicações diferentes, mas a ideia do movimento social como forma de organização coletiva é extremamente importante neste sistema, pois é a partir deles que se consegue suprir determinadas necessidades dos mais diversos grupos. Esta forma de movimento é muito importante numa sociedade como a que vivemos, pois políticas públicas, tais como: econômicas, sociais, educacionais, trabalhistas, dentre tantas outras, podem ser modificadas, quando indivíduos que isoladamente não possuiriam um grande poder de transformação organizam-se, e com isso, conseguem interferir na sociedade, transformando-a, ou até, mantendo-a de forma a garantir seus interesses. Os movimentos sociais apresentam-se ao longo da História de diversas maneiras e por diversos motivos e uma característica é comum a todos eles: o princípio norteador. Trata-se de um projeto construído coletivamente, buscando a solução de um problema, a transformação de uma situação, ou ainda, o retorno a uma situação anterior, na qual os indivíduos entendem que havia uma melhor condição para suas vidas. O certo é que um movimento social é caracterizado por possuir projeto, ideologia e organização. a) Projeto – é a proposta do movimento em si, de mudança ou de conservação dos privilégios reais. Envolve os objetivos, as intenções e estratégias da ação. b) Ideologia – refere-se à concepção que os envolvidos fazem da sociedade em que vivem, ou seja, corresponde à visão de mundo, às ideias sobre as condições vigentes, os valores que cercam as relações sociais, que nem sempre são os mesmos para todos os envolvidos, embora estes possuam as mesmas intenções. Isto significa dizer que os interesses dos envolvidos convergem, mas as ideias podem divergir. c) Organização – pode ser coletiva ou pode apresentar uma hierarquia de liderança. Se mal planejada, a organização pode fazer ruir todo o projeto e, caso firmada em hierarquias, pode levar os objetivos ao fracasso em razão do autoritarismo, o que pode desmotivar os agregados ao processo. Movimentos sociais marcantes da história brasileira O povo brasileiro sempre lutou, sempre teve participação decisiva em sua história. Quase sempre perdeu, mas não desistiu da luta. Identificamos movimentos sociais muito consistentes na trajetória histórica brasileira, antes e pósindependência. Citamos, a seguir, alguns exemplos marcantes que buscavam alguma forma de mudança e que podem ser classificadas de movimentos sociais. a) A Revolta dos Malês (Bahia, 1835) – Escravos africanos de religião islâmica, que possuíam um bom padrão cultural. O objetivo foi o de islamizar a Bahia e em 1835 os malês invadiram Salvador, atacando quarteis e prisões. Foram combatidos pelas forças militares da regência. b) Canudos (1896-1897) – Sertanejos pobres que expulsos de suas terras pelos grandes latifundiários passaram a seguir o beato Antonio Mendes Maciel, o Conselheiro. Ele anunciava aos seus seguidores a instauração de uma nova Canaã, a ser instalada após o Juízo Final por D. Sebastião de Avis, o rei português morto em 1578, na África (sebastianismo). Por si só, sua fé já parecia uma ameaça aos republicanos e católicos. O governo da Bahia, com apoio dos latifundiários, não concordavam com o fato dos habitantes de Canudos não pagarem impostos e viverem sem seguir as leis estabelecidas. Afirmavam também que Antônio Conselheiro defendia a volta da Monarquia. Por outro lado, Antônio Conselheiro defendia o fim da cobrança dos impostos e era contrário ao casamento civil. Ele afirma ser um enviado de Deus que deveria liderar o movimento contra as diferenças e injustiças sociais. Era também um crítico do sistema republicano, como ele funcionava no período. c) Contestado (1912) – Outro movimento de sertanejos pobres, mas agora na divisa entre os estados do Paraná e Santa Catarina. De caráter messiânico, com as mesmas características de Canudos, o movimento foi liderado pelo beato José Maria (o santo monge). Envolvia questões de terras e capitalismo. Os posseiros foram expulsos de suas terras pelos grandes proprietários e entraram em choque com os capitalistas que estavam construindo uma estrada de ferro ligando o Rio Grande do Sul a São Paulo. José Maria fundou em 1912, uma comunidade conhecida como Monarquia Celeste e passou a reagir aos frequentes ataques das forças governamentais. O conflito durou até 1916 quando o governo fez um ataque final provocando a morte de centenas de revoltosos. d) Movimento operário brasileiro – Com o desenvolvimento industrial no Brasil no final do século XIX e começo do XX, a estrutura da sociedade brasileira passou a observar uma diversificação, com a formação da classe operária. Com grande inspiração da ideologia anarquista, o movimento passou a questionar as condições de vida e de trabalho e passaram a enxergar nas manifestações de greve a saída para a melhora das condições de trabalho ofertadas. As greves se alastraram e chegaram ao auge com o movimento de 1917 que paralisou a cidade de São Paulo e várias indústrias no interior. e) Semana da Arte Moderna (1922) – o movimento que chocou a mentalidade conservadora da época ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, de 13 a 17 de fevereiro de 1922 com a participação de Mário de Andrade, Afonso Schmidt, Menotti Del Picchia, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Villa-Lobos, Anita Malfati, entre outros. A crítica dos modernistas estava no nosso passado intelectual e a proposta era que o Brasil se inteirasse do novo momento cultural europeu e das suas próprias transformações. f) Ligas Camponesas (1954) – Com início em Pernambuco, as ligas logo se espalharam pelo Brasil. Seu projeto era a reforma agrária e a distribuição de terras como forma de combater as desigualdades sociais. g) Movimentos contra o regime militar – a ditadura no Brasil também foi alvo de movimentos sociais. A primeira tentativa foi o Movimento Nacional Revolucionário (MNR), que se estabeleceu na Serra de Caparaó, entre Minas Gerais e Espírito Santo. Em março de 1968, após o assassinato do estudante Edson Luís, a sociedade brasileira, em especial a artística e estudantil, provocaram várias passeatas nas principais cidades do Brasil, pedindo o fim da ditadura. Em setembro de 1969, o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick por militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento Revolucionário 8de Outubro (MR-8) abalou as estruturas dos quartéis. Em maio de 1978, movimentos sociais de trabalhadores passaram a contestar o regime com greves por aumentos salariais, desafiando a política do arrocho praticada pelo governo. Em 1984 aconteceu o maior movimento social da história recente brasileira: Diretas Já. Novos Movimentos Sociais a) Associação de bairros – o que era um movimento visando a melhoria de serviços básicos para o bairro (saúde, educação, segurança, etc.), ganhou outros contornos, principalmente a partir de 1990, com a formação das Federações de Bairros. As discussões, mobilizações e questionamentos ganharam maior força e visão. b) Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) – é o mais vigoroso hoje. Surgiu em 1979, a partir de trabalhadores rurais de Santa Catarina, com incentivo da Igreja Católica. c) Movimentos dos sem-teto – a partir de 1970, grupos organizaram-se e passaram a fazer ocupações de áreas urbanas com posterior pressão para a regularização. Em 1997, através do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi organizado um movimento de caráter declaradamente social, político e popular para lutar pela reforma urbana, por um modelo de cidade mais justa e pelo direito à moradia.Além do trabalho organizado de luta por moradia, o movimento mobiliza pessoas em bairros pobres, organizando lutas e propondo soluções para problemas que afligem os bairros periféricos pobres. d) Ecologistas/Ambientalistas – São movimentos em defesa do meio ambiente que através das Organizações não governamentais (ONG’s) tem pressionado os governos para mudanças políticas nas áreas de preservação do meio ambiente e da vida. Neste sentido, foi realizado no Brasil a 2ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a chamada ECO 92 (Rio 92). Da conferência saíram documentos e compromissos, tais como a Carta da Terra e a Agenda 21. e) Outros movimentos – Negros e negros, indígenas, LGBT, prostitutas e prostitutos, idosos e idosas, portadores necessidades especiais, antiglobalização, etc. Na contramão da História Na atualidade, um movimento que pode explicar de maneira clara o que são essas organizações coletivas, que não pensam na organização social de forma a transformá-la e sim de modo a voltar a formas anteriores são os movimentos neonazistas, também conhecidos como skinheads. Não só no Brasil, mas por todo mundo, crescem as manifestações fóbicas a diferentes culturas, nacionalidades ou etnias; especificamente aqui, há movimentos oriundos da ideologia nazista, que chegam a tratar com violência indivíduos que se vestem ou comportam-se diferentemente do que eles definem como correto. Estamos dizendo agora que, se por um lado, é possível pensar em movimentos que querem alterar algumas características da realidade social, outros pedem uma volta a antigas formas de pensamento preconceituosas e autoritárias, e ainda, existem os movimentos sociais que criam a possibilidade de uma nova forma de organização social, na tentativa de superarem suas necessidades.