SOLIDARIEDADE E INDIVIDUALISMO ESPAÇOS EM DISPUTA NAS ORGANIZAÇÕES: UMA REVISÃO TEÓRICA GT 2 – Socioeconomia e saberes Locais Tipo de trabalho: Revisão de Literatura MELLO, Jéssica Pereira de1 MACHADO, Priscila Terezinha Aparecida2 Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão teórica através de uma revisão teóricoempírica a respeito do dilema enfrentado por organizações alternativas que se refere ao individualismo e a solidariedade, dado que esta temática vem ganhando grande importância na atualidade diante do sistema capitalista em que vivemos que tem como característica o incentivo a competição e a individualidade, diante disso este estudo se propõe a abordar a questão através de diferentes pontos de vista. Apresenta-se como estudo teórico, com uma abordagem qualitativa, foram utilizados como instrumentos de pesquisa textos, artigos e documentos relacionados a teorias que versam sobre o assunto para compor a discussão e reflexão sobre o tema pesquisado. Diante do objetivo do trabalho foram compostos tópicos de discussão, através do desmembramento da temática principal. Para finalizar são trazidos exemplos de trabalhos como forma de elucidar tanto a respeito das produções quanto da prática de organizações alternativas relacionado com a questão do individualismo e solidariedade nestes empreendimentos. Nas considerações finais destaca-se a importância de estudos que tratem do assunto, bem como de organizações com princípios contrários aos pregados pelo capitalismo. Palavras-Chave: Solidariedade, Individualismo, Cooperação, Organizações, Capitalismo. INTRODUÇÃO O processo de reflexão sobre a sociedade capitalista em que vivemos nos leva a questionar o individualismo que esse sistema inerentemente propulsiona. A cultura na qual estamos inseridos é extremamente influenciada pelos meios de comunicação de massa que estimulam o consumo excessivo, a obsessão pelos padrões de beleza e para tal fim os valores individualistas são pregados diariamente através da imagem do homem bem sucedido cercado de bens materiais. Neste contexto, surge à dualidade entre o individual e o coletivo, há uma contradição entre esta tradição que nos é imposta de valores individualistas e os valores da coletividade, dado que para a sociedade os valores coletivistas são necessários para uma convivência saudável e mais sustentável. A competitividade está presente em vários setores da nossa vida e é estimulada principalmente como forma não de valorização, mas de desvalorização no sentido de que se deve sobressair dentre as outras pessoas a qualquer custo, o sistema de fins justificam os meios, deixando de lado os valores coletivos que são essenciais a sobrevivência humana. Historicamente observa-se __________________________ 1 Discente de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Administração, [email protected], Universidade Estadual de Londrina – UEL 2 Discente de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Administração, [email protected], Universidade Estadual de Londrina – UEL. que a ajuda mútua em situações de risco, colaboraram para sobrevivência da espécie humana (LUZIO-DOS-SANTOS, 2013). De acordo com Luzio-dos-Santos; Oliveira (2011) muitas são as definições e perspectivas em relação ao conceito de solidariedade em relação ao individualismo, porém deve-se evitar os idealismos simplistas que tende a minimização dos debates a respeito deste assunto. Este conceito de solidariedade pode ser encontrado em diferentes períodos históricos, culturas e ideologias, porém com diferentes configurações. O conceito de solidariedade vem do Latim e remete a solidum, que originalmente significa totalidade, ou ainda solidus que remete a sólido, inteiro, maciço. Assim como há diferentes perspectivas sobre a solidariedade, estas quando buscadas em suas raízes, algumas se complementam e outras se distinguem e conflitam-se. Uma das teorias mais fortes na atualidade sobre a solidariedade é a corrente darwiniana que advém da biologia, que parte do princípio da evolução das espécies pela seleção natural, dentre os desdobramentos desta teoria destaca-se a tese que tange a evolução como um processo de concorrência entre genes, que tende a privilegiar os mais aptos em detrimento dos demais. No entanto, outras vertentes vão contra esta corrente Darwiniana e enfatizam a capacidade de empatia e cooperação como a principal força motriz da evolução da espécie humana (LUZIO-DOS-SANTOS; OLIVEIRA, 2011). No campo das ciências sociais, esta questão também é controversa e há várias correntes que divergem entre si. Enquanto uma vertente se apoia na biologia e na corrente darwiniana para explicar a individualidade e a competitividade, outra corrente enfatiza os fatores culturais, históricos, sociais e políticos como predominantes na constituição da vida em sociedade e na questão do individualismo e cooperação (LUZIO-DOS-SANTOS; OLIVEIRA, 2011). Neste contexto controverso, o dilema entre o individuo e a coletividade e o individualismo e a cooperação é uma temática que vem ganhando grande importância na atualidade visto que o sistema vigente em nossa sociedade tem como característica o incentivo a competição e individualidade causando várias consequências para o homem e a sociedade, diante disso este estudo se propõe a abordar a questão do individualismo e a solidariedade com vista a abordar diferentes pontos de vista, propondo uma reflexão teórica através de uma revisão na literatura a respeito dessa temática na sociedade capitalista. 2 PERCURSO METODOLÓGICO Neste trabalho foi utilizada a abordagem qualitativa, a qual permite que o pesquisador se aprofunde na questão a ser investigada, partindo do pressuposto da não neutralidade e a não primazia do quantitativo (ÉVORA, 2006), buscando aprofundamento dos dados, buscando compreender o sentido dos fenômenos sociais, utilizando um conjunto de técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de sistemas complexos (MAANEN 1979). Com vista o objetivo deste trabalho de fazer uma revisão de literatura, este se configura como ensaio teórico, que de acordo com Meneghetti (2011) “o qual não requer a comprovação empírica, mesmo que ela possa apresentar-se como elemento de confirmação de pressupostos. Este é reflexão permanente, em que a centralidade da sua força está menos na evidência empírica e mais nos atributos da razão que pensa a realidade”. Com relação aos procedimentos, destaca-se que este trabalho surgiu a partir de um projeto de dissertação, através da reflexão sobre problemas advindos do individualismo e a falta de solidariedade em empreendimentos solidários. A partir disso foram buscados textos, artigos e documentos relacionados à teorias que versam sobre o assunto para compor a discussão e reflexão sobre o tema pesquisado. 3 REVISÃO DA LITERATURA E DISCUSSÃO 3.1 O Contexto Capitalista e suas Consequências A sociedade moderna se caracteriza principalmente pelas organizações e a predominância desse tipo de sistema social em relação aos demais, o mundo vem passando por muitas mudanças nos últimos duzentos anos, mas com o desenvolvimento industrial, a história ganhou outro ritmo (PEREIRA, 1963). Com o advento do capitalismo as relações de produção passam de voltadas para o mercado interno para uma produção de excedentes visando o lucro e a mais-valia. No entanto o sistema era diferente anteriormente, as fases históricas pelas quais a humanidade passou são: cooperação simples, manufatura, grande indústria, organização cientifica do trabalho e produção flexível ou enxuta. Cada fase possui características particulares de relações de trabalho, sendo que na fase de manufatura foi quando começou a divisão de trabalho e cada vez as relações de trabalho foram se especializando e as condições de trabalho foram passando a grande precarização e exploração dos trabalhadores (FARIA, 2009). É interessante se voltar para a história para se observar que o capitalismo nos trouxe um conceito mais individualista de vivência, dado que neste sistema a competição é sua base. Esta forma desumanizante de relações vem se tornando insustentável e pontua que uma nova forma de organização vem se configurando, esta se caracteriza pelas redes e alianças entre diferentes movimentos sociais espalhados pelo mundo, com o intuito de lutar contra as exclusões sociais, desemprego, violência, entre outras. Nestes movimentos sociais prevalece a busca por objetivos comuns, inclusivos, sustentáveis ambientalmente e socialmente, além da busca por uma sociedade mais justa e igualitária que dê atenção às minorias esquecidas pelo sistema atual (SOUSA SANTOS, 2002). Os desafios são inúmeros e as barreiras de difícil transposição, dado o ambiente hostil a qualquer iniciativa não amparada na lógica capitalista dominante e que, desse feito, tenha que “navegar” contra a corrente que teima em sufocar qualquer experiência estranha e que conteste o status quo vigente. Porém, os modelos alternativos ao hegemônico ganham força quando cresce a percepção pública das distorções do mundo contemporâneo, do processo de insustentabilidade em que nos encontramos, além da tendência em querer-se reduzir o sentido maior da existência ao ato do consumo e ao individualismo extremo (SOUSA SANTOS, 2002). Diferente da hegemonia que nos é imposta, Singer (2002) defende que o princípio fundamental da igualdade, entre todos os seres humanos é o princípio moral de igual consideração de interesses, destacando que nossa preocupação com os outros não deve depender de como são ou das aptidões que possuem. Assim sendo, abre margem para que se possa pensar novas formas de ação que vão contra o sistema de valores individualistas. É interessante ressaltar que muitas pessoas estão adotando outras formas de vida que vão contra a hegemonia dominante, algumas por escolha e outras por terem passado por situações traumáticas ou doenças psicológicas, dado que esta questão do individualismo abre várias ramificações e se insere profundamente tanto na vida pessoal como profissional das pessoas. Há várias formas de resistência ao sistema atual. Estes movimentos de resistências podem adquirir várias formas (SOUSA SANTOS, 2007), como as lojas colaborativas, brechós que visam à reutilização, cooperativas de produtos recicláveis, empreendimentos de economia solidária, movimento hippie, comunidades alternativas que possuem sistema próprio. Cada uma destas formas visam objetivos diferentes, porém estão relacionadas à questão da dualidade entre indivíduo e coletividade, visto que nestas organizações mais solidárias, há grandes divergências relacionadas à solidariedade e individualismo. A seguir será versado sobre o indivíduo na organização, bem como fatores intrínsecos as suas diferentes dimensões. 3.2 O Indivíduo e a Organização/Comunidade Em seu texto, Chanlat (1992) coloca que o ser humano possui várias dimensões, o ser humano é ao mesmo tempo um ser genérico e singular, ou seja, ao mesmo tempo em que somos da mesma espécie e temos características comuns a todos, somos seres singulares dotados também de características próprias. O homem se encontra ligado à natureza e a cultura, se envolve com elas e as transforma e é transformado por elas. Explicar o ser humano por um aspecto somente, embora aprofundado, não é coerente, devido a sua singularidade. O ser singular e somente a concepção que busca entendê-lo em sua singularidade e totalidade esta próxima dele. O pensamento consciente que é o que determina a singularidade de cada um para se compreender estas ações e a construção da realidade do ser humano, deve-se recorrer à linguagem que é uma forma de significação simbólica do homem. O ser humano possui desejos e pulsões, porém, não se deve deixar dominar por elas, senão se reduziria a isto, é também através das relações com o outro que o ser humano se constitui (CHANLAT, 1992). Outra questão importante dentro da organização é a linguagem, pois, através dela o homem constrói sua realidade social e toda sua simbologia, se comunica e transmite suas mensagens para os outros membros. A organização é um espaço onde o homem pode reafirmar sua identidade através do enraizamento espaço-temporal, pois, confere um espaço onde o ser humano pode se ocupar dele e a partir disso, pode ou não fazer seus investimentos afetivos, profissionais e outros (CHANLAT, 1992). Outro aspecto importante do ser humano é que ele é um ser simbólico, onde o próprio homem e a sociedade produziram uma representação do mundo que é o que lhe confere significado (CHANLAT, 1992). O homem é constituído também por características espaço-temporal, ou seja, pertencemos a algum lugar, viemos de algum lugar e temos diferentes concepções de tempo. Em ciências como a física e a química estudam-se os fatos em si mesmos, externos a quem esta pesquisando, já no ramo das ciências humanas, o pesquisador é o próprio objeto de sua ciência, então deve ser levado em consideração fatores internos e externos do ser humano para que se possa perceber alguns fenômenos (CHANLAT, 1992). A partir das dimensões acima citadas pode-se verificar que cada uma delas tem sua importância para as organizações na qual o homem está inserido. Quando se pensa no homem como um ser genérico e singular, pode-se destacar que o estudo do homem na organização, não deve deixar de lado esta dupla dependência, a valorização e o resgate das dimensões esquecidas. 3.3 Competição e Individualismo ou Cooperação e Solidariedade A perspectiva individualista baseada no sistema hegemônico advoga que a liberdade individual é o bem maior, percebem qualquer forma alternativa de perspectiva coletiva como forma de barreira ao crescimento da atividade econômica, que para esta corrente seria a propulsora de ampliação do nível de emprego e de desenvolvimento social. Para que estas barreiras sejam superadas e aumente as forças produtivas e em consequência o desenvolvimento social, esta perspectiva destaca que é necessário o desmonte das instituições de bem-estar social e a desregulamentação do mercado de trabalho (LUZIO-DOS-SANTOS; OLIVEIRA, 2011). Esta vertente individualista entende que as diferenças e as desigualdades sociais são inevitáveis, justificando que depende do esforço desempenho de cada indivíduo pertencer à determinada classe social, também consideram o fator ambição material como propulsor para as desigualdades (LUZIO-DOS-SANTOS; OLIVEIRA, 2011). Diferentemente da perspectiva individualista, a perspectiva crítica defende que as desigualdades sociais e o espirito individualista é causado pelo sistema capitalista, sendo assim deve-se estabelecer uma nova forma de sistema social, pautado na igualdade e justiça entre todos (LUZIO-DOS-SANTOS; OLIVEIRA, 2011). Neste sentido parte-se da necessidade de construção de uma nova lógica capaz de subjugar a instância econômica a instância social, derrubando a estrutura vigente e estabelecendo na prática incentivo a solidariedade e cooperação (SOUSA SANTOS, 2002). 3.4 Em busca de uma Prática Transformadora: Referências Empíricas Nesta seção serão apresentados alguns trabalhos que foram realizados nesta área, com a característica de terem realizado pesquisa empírica e se aproximarem a temática trabalhada nesta pesquisa. A pesquisa foi realizada em livros sobre o assunto e bases de dados brasileiras. As palavras-chave utilizadas foram: individualismo, cooperação, indivíduo e solidariedade, foram realizadas combinações de palavras e também as palavras separadamente. É interessante ressaltar que quando as palavras foram usadas separadamente para a busca, vários resultados foram encontrados, porém quando estas foram combinadas poucos resultados foram encontrados. Especificamente sobre o título do trabalho não foram encontrados nenhum trabalho, aqui é interessante ressaltar que embora o tema da individualidade e cooperação e individuo e comunidade seja um debate antigo, este é um tem que permeia mais as discussões teóricas. Além disso, o estudo de comunidades alternativas e formas mais sustentáveis vêm ganhando espaço e maior força somente nas ultimas décadas, quando está se passando a perceber que o modelo desenfreado que vivemos por muito tempo está se tornando insustentável. No livro sobre “Economia solidária numa pluralidade de perspectivas”, organizado por Santos, Borinelli e Pitaguari (2011) há uma seleção de estudos partiram do pressuposto crítico, além de estudarem cooperativas de catadores e empreendimentos que tem como objetivo uma forma de organização mais solidária. Um dos estudos empíricos presente no livro tem como autores: Morais; Lanza; Santos e Pelanda (2011) sob o título: “Cooperativismo e economia solidária: teoria e prática na COPAVI Paranacity- PR.”. Este estudo além de fazer uma revisão teórica sobre cooperativas com caráter solidário, desenvolveram uma pesquisa na COPAVI, cooperativa de produção agropecuária que se destaca devido a sua manutenção com seis mil habitantes. O estudo foi realizado através de entrevistas sobre a formação da cooperativa que versava sobre sua concepção e estrutura organizacional, a conclusão do estudo pode ser definida pela afirmação: “a partir das análises é possível afirmar que o caminho traçado pelas diversas experiências da Economia Solidária, outras formas e seus benefícios coletivos, são uma aposta e possibilidade de exercitar novas demandas humanas e ambientais distanciadas das práticas capitalistas” (p.163). Outro estudo sobre a temática deste trabalho é da Universidade Federal da Paraíba dos autores: Valdiney Gouveia; Josemberg M. de Andrade; Girlene R. de Jesus; Maja Meira e Nilton F. Soares e sob o título: Escala multifatorial de individualismo e coletivismo: elaboração e validação de construto, teve como objetivo apresentar uma medida multifatorial de atitudes individualistas e coletivistas, comprovando sua validade de construto e convergente. Participaram da pesquisa 304 pessoas, a maioria do sexo feminino (62,5%), com idade média de 29 anos. Estes responderam a Escala Multifatorial de Individualismo e Coletivismo (EMIC), a Escala de Identificação Endogrupal e uma lista de variáveis demográficas. Os resultados da pesquisa apontaram para comprovação de uma estrutura multifatorial da EMIC através de uma análise fatorial confirmatória, que revelou índices aceitáveis de bondade de ajuste. O artigo intitulado Dimensões normativas do individualismo e coletivismo: é suficiente a dicotomia pessoal vs. social?, Sob autoria de Valdiney V. Gouveia; Josemberg M. de Andrade; Taciano Lemos Milfont; Fabiana Queiroga; Walberto Silva dos Santos, também da Universidade Federal da Paraíba teve como objetivo principal: verificar empiricamente a relação entre individualismo e cooperativismo como valores humanos, assim através de uma escala buscaram comprovar esta questão, este estudo tem relação com o acima citado. De acordo com os autores, os objetivos específicos foram conhecer os valores humanos que melhor descrevem as dimensões destes construtos (individualismo vertical, individualismo horizontal, protoindividualismo, individualismo expressivo, coletivismo vertical e coletivismo horizontal). Participaram 304 pessoas, membros da população geral e estudantes do ensino médio e universitário. Verificou-se que o individualismo pode ser melhor caracterizado pelos valores pessoais, enquanto que o coletivismo expressa uma ênfase nos valores sociais. No que se refere às dimensões do individualismo e coletivismo, estas foram correlacionadas de modo diferenciado com certos valores básicos, permitindo identificar um tipo específico de orientação social (p.1). Para finalizar esta seção o último trabalho apresentado será de Hermano Thiry-Cherques com o título: “O individualismo à brasileira: Raízes e proposições”. Nesta pesquisa o autor trabalhou em cima da hipótese de que o individualismo presente nas organizações brasileiras guarda traços do que nos foi legado pela cultura portuguesa dos tempos da Expansão (p.1). Procuramos sustentar que, agora, nos tempos da globalização e das formas universais de administrar, a compreensão deste individualismo de origem lusitana pode nos ajudar a melhor conduzir as nossas organizações. Com este propósito, o artigo discutiu alguns dos aspectos da herança comum a partir de dados e de impressões colhidas ao longo de através de pesquisas sobre o perfil ético do executivo brasileiro e sobre as formas de trabalho individualizado. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora as organizações com princípios solidários estejam crescendo em todo mundo, há muitas lacunas nestes movimentos alternativos, na maioria das vezes estes se concentram no local e não se articulam num projeto de abrangência maior, apartando-se num projeto de pureza ideológica. Essa segregação tende a afastar-se da realidade concreta e dificultar o desenvolvimento de alternativas factíveis. Entretanto estas iniciativas são de extrema importância, pois, estas questionam os valores impostos pelo capitalismo, muitas propõem valores coletivistas e se utilizam de relações solidárias para alcance de seus objetivos, mostrando assim que há possibilidades diante de um sistema hegemônico e resgatando dimensões e valores esquecidos pela sociedade. De fato qualquer projeto de transformação que busque ser consistente, terá de ser pensado levando em conta a grande variedade de contingências atuais e, ao mesmo tempo, deverá ser capaz de projetar um devir desejado e possível, ultrapassando o reducionismo de modelos unidimensionais e de contemplar a complexidade, a pluralidade e principalmente o respeito à democracia e à diferença. O tema pesquisado carece de mais estudos sobre o assunto, abrindo espaço para novas pesquisas que possam aprofundar o tema e o abordem sob novas perspectivas. Entre as sugestões de futuros trabalhos, destacam-se trabalhos empíricos a respeito da temática, como a configuração de relações solidárias e individualistas em comunidades e organizações alternativas. REFERÊNCIAS BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. In: PRESTES MOTTA, Fernando C; BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Introdução à organização burocrática. 5a. Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 15-55. CHANLAT, Jean-François. Por uma antropologia da condição humana. In____. (Coord.) O individuo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1992.v.1 p.21-45. ÉVORA, Iolanda. Metodologia qualitativa: experiências em psicologia social. Seminários em Psicologia, Universidade Autonomia: Lisboa, 29/11/2006. FARIA, José H. de F. Os Fundamentos da Teoria Crítica. In: FARIA, José H. de F (Org.). Análise Crítica das Teorias e Práticas Organizacionais. São Paulo: Atlas, 2007. ______. 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