EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM BELÉM – PA: ESTIMATIVA POR MÉTODOS SIMPLIFICADOS Maria do Socorro da Silva Rocha (1); José Gomes Chaves; Sílvia de Nazaré Monteiro dos Santos; Olívio Bahia do Sacramento Neto; Márcia Cristina Pinho Palheta (1) Meteorologista da UFPa e-mail: [email protected] ABSTRACT To evaluate potencial evaporation at Belém – PA this work utilizes the method of THORNTHWAITE (1948) and the method suggested by CAMARGO e CAMARGO (1983). These methods were presented by PEREIRA et al (1997) and they presented operational simplicity. Comparing the results obtained by mentioned methods we have observed that monthly mean values and diary mean values of the evapotransoiration are compatibles with that finded for Amazonic region by methods of VILLA NOVA et al (1976), RIBEIRO and VILLA NOVA (1979), REICHERDT et al (1970) and CHAVES (1991) more complex. 1- Introdução Conhecer o comportamento dos elementos climáticos de uma determinada região é de fundamental importância à prática de diversas atividades, sendo o turismo, o comércio e principalmente a agricultura, as mais dependentes das condições atmosféricas. Dentre esses elementos climáticos a evapotranspiração potencial contribui de forma significativa para o equacionamento do balanço hídrico de uma região e, consequentemente, às atividades relacionadas à agricultura. Tentando contribuir para estes fins o presente trabalho busca como objetivo principal, determinar, através de estimativa, a evapotranspiração potencial para a região em estudo em função dos métodos propostos por THORNTHWAITE (1948) e por CAMARGO e CAMARGO (1983). 2- Metodologia Os dados necessários para a realização deste trabalho foram coletados no posto do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, 2º DISME, na cidade de Belém, capital do Estado do Pará, localizada entre a Baia do Guajará (NW) e Rio Guamá (SW), com as seguintes coordenadas geográficas: 01º 23’S de latitude, 048º 29’WGr de longitude e uma altitude média de 16m acima do nível médio do mar. Alguns parâmetros utilizados na atual pesquisa como a temperatura do ar atmosférico e a precipitação pluviométrica, foram medidos. Enquanto o fotoperíodo e a radiação extraterrestre foram estimados através dos dados interpolados da SMITHSONIAN Meteorological Tables e de Tabela proposta por CAMARGO e CAMARGO citada por PEREIRA et al (1997). A temperatura teve suas medições efetuadas diariamente conforme recomendações da OMM. À precipitação, suas medidas foram realizadas a cada evento de chuva ocorrido no período de 24horas. Os valores resultantes da evapotranspiração diária foram obtidos através das equações 1 e 5 descritas a seguir, representativas, respectivamente, dos métodos de THORNTHWAITE (1948), e CAMARGO e CAMARGO (1983). ETPp= 16 (10 Ti/I) a , para T>0 onde, (1) ETPp: evapotranspiração potencial mensal padrão, em mm. Ti : temperatura média mensal padrão, em ºC. I : índice de calor da região, dado em função da temperatura média mensal com valores normais (climatológicos), através da equação (2) 12 (2) I= (0,2 Ti) 1,514 i =1 i= 152,3868 (adimensional) para a área em estudo a : expoente obtido em função da equação (3). a = 6,75 . 10 –7 . I 3 – 7,71 . 10 –5 . I 2 + 1,2912 . 10 –2 . I + 0,49239 (3) Às medições da área em estudo seu valor eqüivale a 3,818 (adimensional). Para períodos de ND dias e fotoperíodo médio mensal N, torna-se necessário ajustar a ETPp através da equação (4) ETP = ETPp (N / 12 . ND / 12) (4) onde, N : fotoperíodo ND: número de dias. O outro método, proposto por CAMARGO e CAMARGO (1983), consiste nos resultados da equação de THORNTHWAITE e na utilização das variáveis: radiação extraterrestre, em milímetro de evaporação equivalente e da temperatura média do ar (ºC). Tal método é expresso matematicamente pela equação (5). ETP = F . Qo . T . ND (5) onde, ETP: evapotranspiração potencial, em mm / dia. F : fator de ajuste, igual a 0,012 para a temperatura média anual >26.0ºC (PEREIRA et al, 1997). Qo : Radiação Extraterrestre, em mm de evaporação equivalente. T : temperatura do ar (ºC) ND : Período, número de dias. O período considerado para a avaliação dos dados obtidos foi janeiro/86 a dezembro/95. 3- Resultados e Discussão A variável determinante para alcançar-se os resultados necessários ao desenvolvimento deste trabalho foi a temperatura do ar. Em função da mesma pôde-se utilizar dos métodos de THORNTHWAITE (1948) e de CAMARGO e CAMARGO (1983) na estimativa da evapotranspiração potencial de Belém – PA. Como conseqüência da aplicação dos métodos acima citados, obteve-se, ao longo do período, uma aproximação expressiva entre seus valores, sendo da ordem de 4,7mm . dia –1 para o método de THORNTHWAITE (1948) e de 4,6mm . dia –1 para o método proposto por CAMARGO e CAMARGO (1983). Estes resultados confirmam a eficiência dos métodos utilizados na estimativa da evapotranspiração potencial à região em evidência, quando comparados àqueles encontrados por VILLA NOVA et al (1976) para o mesmo município utilizando-se do método de PENMAN (1948) modificado para as condições da região, cujo montante foi de 4,4mm . dia –1. Esses valores podem ser conferidos nos Quadros 1 e 2, onde, para fins de comparação, relacionase no Quadro 2 resultados de outros trabalhos desenvolvidos em região amazônica. O comportamento dos parâmetros observados na atual pesquisa encontra-se no Quadro 1. Tem-se para os meses de janeiro os maiores valores registrados para a precipitação e nos meses de julho a dezembro os menores valores. Relacionando-se este comportamento com o da evapotranspiração, percebe-se uma situação inversa apesar da média diária da evapotranspiração permanecer acima de 4mm . dia –1, ou seja, para os menores valores médios da precipitação registra-se os valores extremos da evapotranspiração nos respectivos meses de agosto, setembro, outubro e novembro. Tendo a temperatura do ar atingindo seus maiores índices também neste período, com exceção do mês de maio, deduz-se que esta pode ser um fator preponderante na oscilação da evapotranspiração para as condições da região. A variação do comportamento da evapotranspiração em relação a precipitação pode ser melhor visualizada na Figura 1, onde no período de maior índice de temperatura, tem-se o menor valor da chuva precipitada e os maiores valores da evapotranspiração, ultrapassando esses valores aqueles da precipitação, ou seja, nos meses de julho a novembro ocorre na região de Belém – PA um período máximo de evapotranspiração potencial. 4- Conclusão Diante dos resultados obtidos, conclui-se que: – Tanto o método de THORNTHWAITE (1948) quanto o de CAMARGO e CAMARGO (1983), são recomendados para aplicação da estimativa da Evapotranspiração Potencial da região em estudo. Seus resultados corroboram com aqueles verificados em VILLA NOVA et al (1976), REICHARDT et al (1970), entre outros. – Os meses de julho a novembro registraram os maiores índices de água transferido à atmosfera em forma de vapor através da Evapotranspiração. 5- Referências Bibliográficas CHAVES, J. G. Experimentação e modelagem da evapotranspiração da cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L.). GOODMAN, B et al. A satélite Based estimate of evaporation over Amazonian. Remote Sensing Reviews, 1994, v.10, p.179-191. JORDAN, C. F., HEUVELDOP, J. The water budget of na amazonian rain forest. Acta Amazônica, Manaus, v.11, n.1, p.87-92, 1981. MARQUES FILHO, A. de O. et al. Estudos climatológicos da reserva florestal ducke. Manaus, AM. Acta Amazônica, Manaus, v.11, n.4, p.759-768, 1981. MARQUES FILHO, A. de O., RIBEIRO, M. N. G., SALATI, E. Evapotranspiração de florestas da região amazônica. Manaus, AM. Acta Amazônica, Manaus, v. 13, n.4, p.519-529, 1983. NECHET, D. Análise da precipitação pluviométrica em Belém – PA, de 1981 a 1991. Comunicações. Bol. De Geog. Teor., v.23 (45-46), 1993. p.150-156. OMETTO, J. C. Estudos das relações entre radiação solar global, radiação e insolação. Piracicaba: USP, 1968. 64p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiros”. 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PARÂMETROS Período 1986 a 1995 PRECIPITAÇÃO EVAPOTRANSPIRAÇÃO Temp (ºC) A (mm) ETP/PRP (%) 4.3 34.4 B (mm) ETP/PRP (%) 4.7 37.6 (mm) (%) JAN 12.5 149 26.7 FEV 15.3 182 26.3 4.3 28.1 4.8 31.4 MAR 13.9 165 26.5 4.5 32.4 4.8 34.5 ABR 13.3 158 26.8 4.7 35.3 4.7 35.4 MAI 9.0 107 27.2 4.8 53.3 4.4 48.9 JUN 6.1 73 26.9 4.7 77.0 4.2 68.9 JUL 5.1 61 26.8 4.6 90.2 4.2 82.3 AGO 4.1 49 26.9 4.7 115.0 4.5 110.0 SET 4.3 51 26.8 4.7 109.0 4.8 112.0 OUT 4.2 50 27.0 4.8 114.0 4.9 117.0 NOV 4.9 58 27.1 4.9 100.0 4.8 97.9 DEZ 7.8 93 27.0 4.8 61.5 4.7 60.2 MÉDIA 8.4 100 27.0 4.7 71.0 4.6 70.0 QUADRO 02- Valores comparativos da precipitação e da evapotranspiração em (mm . dia –1) AUTORES Reichardt et al (1970) PRECIPITAÇÃO (mm) 5.8 EVAPOTRANSPIRAÇÃO (mm) (%) 4.0 0.69 Villa Nova et al (1976) 6.02 4.4 0.73 Ribeiro e Villa Nova (1979) 6.9 4.2 0.61 Jordan et al (1981) 10.0 5.2 0.52 Chaves (1991) 5.8 4.2 0.72 Método A 8.4 4.7 0.70 Método B 8.4 4.6 0.70 20 18 16 ETP e PRP (mm) 14 12 10 8 6 4 2 0 JA N FE V M AR ABR M AI JU H JU L AGO SE T OUT NOV DEZ M eses A - Evapotranspiração - Thornthw aite B - E vapotranspiração - C am argo e Cam argo P - P recipitação FIGURA 01 – Comportamento médio diário da PRP e da ETP, em mm . dia -1, para o período considerado