INFORMAÇÕES TÉCNICAS A água no solo para a A água é constituída de moléculas que se atraem pela força de coesão. Essas moléculas no estado líquido estão em constante agitação, deslizando e rolando umas sobre as outras. Essa agitação molecular é proporcional à energia ou à temperatura da água. Se a temperatura aumentar, as moléculas mais agitadas da superfície podem se escapar da massa líquida e ficar livres na atmosfera, em estado gasoso. Se a temperatura da água líquida diminuir, a agitação das moléculas também diminui. Se chegar a zero grau centígrado, as moléculas serão fixadas e a água solidificará, formando o gelo. Evaporação Na superfície da água as moléculas mais quentes e mais agitadas têm a tendência de escapar para a atmosfera. É a evaporação. Ao mesmo tempo, as moléculas de água mais agitadas e mais quentes da atmosfera, ao colidir com a superfície da água líquida são capturadas, ocorrendo a condensação. Quando o número de moléculas que escapam da superfície líquida for maior que as capturadas por ela, da atmosfera, estará ocorrendo evaporação. Se for o contrário, maior o número de moléculas capturadas pela superfície liquida, ocorrerá condensação. Quando há evaporação, com a saída das moléculas mais agitadas e mais quentes da água líquida, esta estará perdendo energia. O que significa que a evaporação se faz à custa da temperatura ou da energia da água. Quanto maior for a sua temperatura em relação à da atmosfera, maior o saldo de moléculas que se transferem para a atmosfera e maior a evaporação. A evaporação e a transpiração vegetal na natureza representam a transferência da água da superfície do solo para a atmosfera, ou seja, a passagem do estado líquido da água para o gasoso. Condensação Na natureza a superfície da terra recebe a radiação solar durante o dia e se aquece, provocando a evaporação. Durante a noite a superfície da terra se resfria pela perda de calor, com radiação terrestre de ondas longas para o espaço sideral. Quanto maior for o resfriamento da superfície exposta, maior será a captação de moléculas de água da atmosfera pela superfície resfriada, ou seja, o orvalhamento, principalmente sofre a folhagem das plantas. Quando a condensação se dá na própria atmosfera há a formação de nuvens, que podem se precipitar em forma de chuva. A condensação, que é a passagem da água do estado gasoso para o líquido, representa o fenômeno oposto à evaporação, ou seja, o retorno da água da atmosfera, através da chuva, para o solo. 10 Evapotranspiração potencial Representa a chuva necessária ao desenvolvimento normal das plantas, de forma não faltar nem sobrar água para sua vegetação normal. Thornthwaite (1948) chamou-a de evapotranspiração potencial (Etp), que corresponde à quantidade da água que pode passar do estado liquido para o gasoso, em função da disponibilidade de energia solar na região no período considerado. Por essa razão, a evapotranspiração potencial é mais elevada nos trópicos que em região temperada e mais elevada no verão que no inverno. A evapotranspiração em base potencial é um elemento meteorológico característico da região, como é a temperatura média, o orvalho, a precipitação pluvial, etc. Em climatologia, para avaliar as condições de umidade do clima compara-se a quantidade da chuva ocorrida com a quantidade da chuva necessária. Quando a chuva real for maior que a necessária, no período, o clima pode ser considerado úmido. Se for o contrário, pode ser considerado seco. Thornthwaite (l948) introduziu em climatologia o conceito de chuva necessária ou evapotranspiração potencial e do balanço hídrico climático ao comparar os dados da chuva com os da evapotranspiração potencial do período considerado. Quando, como geógrafo, estudava o clima semi-árido do Nordeste brasileiro, verificou que em Cabrobó - PE, com uma chuva normal de cerca de 300 mm anuais, o clima era seco. Mas em Londres, na Inglaterra, com os mesmos 300 mm anuais, o clima mostrava-se úmido. A razão é que em Londres, pelo clima temperado, frio, a chuva anual necessária, ou Etp, é de apenas 200 mm, bem menor que a chuva real de 300 mm, ao passo que em Cabrobó, pelo clima equatorial, quente, a chuva necessária ou Etp é muito maior, cerca de 1600 mm anuais, condição que exigiria uma precipitação bem maior. Cerca de 2000 mm anuais! Estimativa da evapotranspiração potencial A medição da chuva é muito fácil. É feita em todo o mundo, por meio de simples pluviômetros, há muito tempo. O Agronômico, Campinas, 57(1), 2005 Mas a quantificação da evapotranspiração potencial, como elemento meteorológico, é bem mais difícil. Primeiro, porque é um conceito novo, ainda não bem compreendido pelos próprios meteorologistas e climatologistas. Sua medição exige o manuseio de evapotranspirômetros, espécie de lisímetros, que devem ser conduzidos durante vários anos por climatologista experiente. Seus resultados são utilizados principalmente para aferir as equações de estimativa da evapotranspiração potencial. Existem hoje muitas fórmulas para estimativa da Etp. As primeiras e muito eficientes são as de Thornthwaite (1948) e de Penman (1948). A de Thornthwaite, relativamente empírica, é baseada nas causas, fatores astronômicos e geográficos, que condicionam e quantificam a Etp. A segunda é matemática, baseada em princípios físicos e nos efeitos meteorológicos da própria Etp. Ambas as fórmulas são de solução matemática trabalhosa, mas hoje muito facilitada através da informática. A estimativa de Etp baseada nas suas causas, como a equação de Thorthwaite, foi muito simplificada pela introdução da equação de Camargo-71, que foi analisada e avaliada por Camargo & Camargo (1983). Esses autores verificaram que em nível mensal e decendial os resultados da fórmula de Camargo-71, nas condições climáticas do Estado de São Paulo, foram muito consistentes e dão praticamente os mesmos resultados da equação clássica de Thornthwaite, podendo ser utilizada para estimar a Etp, levantar o balanço hídrico, quantificar bem as disponibilidades de umidade no solo e assim prescrever satisfatoriamente as necessidades de irrigação. Absorção da umidade do solo A umidade do solo absorvida pelas raízes das plantas é realizada por processo fisiológico, através dos pêlos absorventes. Nesse processo são absorvidos além da água os elementos químicos necessários à fisiologia da planta. Os pêlos absorventes são órgãos vivos que necessitam de oxigênio para respirar. O oxigênio é obtido do ar encontrado entre as partículas do solo, na zona das raízes. Os pêlos absorventes retiram a água das lâminas líquidas que ficam fixas, aderentes às partículas do solo. Essa água não é drenada pela ação da gravidade. A umidade do solo nessa condição está na chamada capacidade de campo, sendo facilmente disponível às plantas. Para plantas hortícolas Quando o solo é raso ou a planta cultivada é uma hortaliça de sistema radicular curto a quantidade de água disponível no solo é pequena , cerca de 15 a 20 mm. Nesse caso não é necessário recorrer a estudos de balanço hídrico para quantificar a irrigação. A prática do hortelão é suficiente para estimar quando e quanto irrigar. Para culturas florestais Para essas culturas com sistemas radiculares muito profundos, alcançando várias dezenas de metros de profundidade, é preciso considerar que a capacidade de armazenamento de água disponível no solo é muito maior. Para árvores como o eucalipto, a grevílea, a seringueira, etc., pelo sistema radicular muito profundo que têm, alcançando dezenas de metros de profundidade, o solo pode armazenar um volume enorme de água facilmente disponível, de mais de 500 mm na zona O Agronômico, Campinas, 57(1), 2005 das raízes, para seu uso. Nesse caso, basta o solo ter boa textura e estrutura, sem impedimentos ao desenvolvimento das raízes, para que as árvores não sejam prejudicadas por deficiências hídricas nas condições do clima da região sudeste do Brasil, como o do Estado de São Paulo. A irrigação seria inteiramente dispensável para as árvores adultas. Para plantas arbustivas Para tais plantas, como o cafeeiro, a laranjeira, a cana-deaçúcar, o milho, o trigo, a mandioca, as pastagens etc., cujos sistemas radiculares podem atingir cerca de 3 a 5 m em solo franco, sem impedimentos ao desenvolvimento das raízes as culturas podem contar com 50 a 100 mm de água facilmente disponível. A irrigação só seria indicada quando o balanço hídrico indicasse uma disponibilidade de água facilmente disponível abaixo de 50 mm. Esse balanço hídrico seria feito para períodos de dezenas, quinzenas ou mensais. Se houver um veranico excepcional de 15 dias, com um somatório de Etp de 15 mm, não atingiria a condição de deficiência hídrica, pois o solo de 3 m de profundidade tem normalmente a capacidade de armazenamento superior a100 mm de água facilmente disponível. Períodos de observação Em climatologia, os valores dos elementos ligados ao fator umidade do solo para uso das plantas não podem ser considerados para períodos curtos, de poucos dias. Se assim for feito os resultados não serão consistentes e aproveitáveis. Autores inexperientes desejando obter resultados mais precisos trabalham com dados diários, mas sem os resultados desejáveis, aproveitáveis. O solo é um moderador da disponibilidade da água para as plantas. Em condições de capacidade de campo no solo, quando ocorrem alguns dias com saldo negativo entre chuva e Etp, a disponibilidade de água na zona das raízes diminui um pouco, mas se nos dias seguintes chover mais que a Etp, isto é, se o saldo for positivo, a disponibilidade fácil aumentará de novo e não haverá problema algum com a vegetação das plantas. Por isso não se deve trabalhar em climatologia agrícola com períodos muito curtos e nunca com dados diários, que não são consistentes. Os melhores são os períodos mensais ou quinzenais. Referências bibliográficas Camargo, A.P.; Camargo, M.B.P. Teste de uma equação simples para estimativa da evapotranspiração potencial baseada na radiação solar extraterrestre e na temperatura do ar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 3., Campinas, Anais... Campinas: Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, 1983. p. 229-244. Penman, H.L. Natural evaporation from open water, bare soil and grass. Proceeding Royal Society, London, v. 193, p. 120-143, 1948. Thornthwaite, C.W. An approach toward a rational classification of climate. Geographical Review, New York, v. 38, n. 1, p. 5594, 1948. Ângelo Paes de Camargo Pesquisador Científico aposentado do Instituto Agronômico 11