1
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MEC – SETEC
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO - CAMPUS CUIABÁ OCTAYDE JORGE DA SILVA
DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MARIA DO SOCORRO DE SOUZA TORRES
A VOZ E A VEZ DO RADIALISTA COM DEFICIÊNCIA
VISUAL NAS EMISSORAS DE RÁDIO NA CIDADE DE
NATAL - RN
Natal - 2009
2
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO - CAMPUS CUIABÁ OCTAYDE JORGE DA SILVA,
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU A DISTÂNCIA:
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INCLUSIVA
MARIA DO SOCORRO DE SOUZA TORRES
A VOZ E A VEZ DO RADIALISTA COM DEFICIÊNCIA VISUAL
NAS EMISSORAS DE RÁDIO NA CIDADE DE NATAL - RN
Natal - 2009
3
MARIA DO SOCORRO DE SOUZA TORRES
A VOZ E A VEZ DO RADIALISTA COM DEFICIÊNCIA VISUAL
NAS EMISSORAS DE RÁDIO NA CIDADE DE NATAL - RN
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Diretoria de Pesquisa e
Pós-Graduação
do
Curso
de
Especialização Lato Sensu à distância
do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Mato-Grosso –
Campus Cuiabá - Octayde Jorge da
Silva, como exigência para a obtenção
do título de Especialista.
Orientador(a): Profa. Ms. Amélia Cristina Reis e Silva
Natal - 2009
4
Divisão de Serviços Técnicos.
Catalogação da publicação na fonte.
IFRN / Biblioteca Sebastião Fernandes
T693v Torres, Maria do Socorro de Souza.
A voz e a vez do radialista com deficiência visual nas emissoras
de rádio na cidade de Natal – RN / Maria do Socorro de Souza
Torres. – 2009.
Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação Lato Sensu a
Distância em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva).
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte, Natal, 2009.
Orientador: Prof. Ms. Amélia Cristina Reis e Silva.
1. Inclusão social. 2. Deficiência visual. 3. Radialista. I. Silva,
Amélia Cristina Reis e. II. Título.
CDU 316.344-056.262
5
MARIA DO SOCORRO DE SOUZA TORRES
A VOZ E A VEZ DO RADIALISTA COM DEFICIÊNCIA VISUAL
NAS EMISSORAS DE RÁDIO NA CIDADE DE NATAL - RN
Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do titulo de especialista em
Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, submetido à Banca Examinadora
composta pelos seguintes membros:
Aprovado em: 28 de Setembro de 2009.
______________________________________________
Profa. Ms. Amélia Cristina Reis e Silva (Orientadora)
IFRN/IERC
________________________________________________________
Prof. Dda Katiene Symone de Brito Pessoa da Silva (Membro da Banca)
Sec. de Educação Municipal de Natal
_______________________________________________________
Prof. Esp. Margareth Míria Rodrigues Olinto Amaral (Membro da Banca)
IFRN
Natal - 2009
6
DEDICATÓRIA
A todos os que fazem o Instituto de
Educação e Reabilitação de Cegos –
IERC-RN, o qual me salvou de muitas
maneiras.
7
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Amélia Cristina, querida colega de trabalho que muito me
incentivou com palavras de estímulo.
Aos professores da banca pela disponibilidade e aos coordenadores do curso pela
organização e competência.
Aos professores do curso pela generosidade e sensibilidade demonstradas para comigo.
A minha querida amiga Profa. Tania Campos, que tem me ensinado com a sua própria
vida que nunca se pode desistir. Por causa dela eu não desisti.
Aos meus familiares, esposo, filhos e irmãos pela infinita paciência e bondade
demonstradas durante o curso. Desculpem a minha ausência nas resenhas.
8
RESUMO
Este estudo objetivou avaliar a possibilidade de inserção da pessoa com deficiência
visual nas emissoras de rádio da cidade de Natal/RN, caracterizando-se como um estudo
do tipo exploratório, propondo-se a uma análise qualitativa. Participaram da pesquisa
três radialistas, sendo um com visão normal e dois com deficiência visual, do sexo
masculino, entre 35 a 57 anos. Os dados foram obtidos por meio de entrevista semiestruturada, sendo gravada em MP3 e em seguida transcrita para análise. Foram
pesquisados dados referentes à profissão, qualidades, dificuldades, oportunidades,
contribuições, adaptações, formação e vocação. Pela análise realizada verificou-se que
os participantes da pesquisa já haviam trabalhado no rádio e afirmaram que a profissão
de radialista pode ser realizada com pleno êxito pela pessoa com deficiência visual,
sendo apontadas dificuldades ligadas ao preconceito, necessidade de algumas
adaptações no que se refere à acessibilidade, tais como adaptações no estúdio e
programas de computação específicos que ajudariam na locução e operação de mesa.
Por outro lado, foi apontado que esse trabalho pode mostrar as potencialidades do
indivíduo, aumentar a auto-estima, diminuir o preconceito e promover relacionamentos
pessoais e profissionais. Concluiu-se que a pessoa com deficiência visual tem sido
excluída desse mercado, perdendo a oportunidade de interagir com a sociedade e
expandir seu talento. Essa exclusão não ocorre por “falta de voz”, ou seja, de talento
radialístico, mas apenas por “falta de vez”, ou seja, cursos que ofereçam condições de
capacitação para estas pessoas e oportunidades de entrada no mercado.
Palavras-chave: deficiência visual, inclusão social, radialista.
9
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the possibility of inclusion of people with visual
impairments on radio stations in the city of Natal / RN, characterized as an explorative
study, proposing a qualitative analysis. The participants were three radio announcers,
one with normal vision and two visually impaired, male, between 35 to 57 years. Data
were collected through semi-structured interviews, and recorded in MP3 and then
transcribed for analysis. Data were extracted relating to the profession, qualities,
difficulties, opportunities, contributions, adjustments, training and vocation. The
analysis found that study participants had worked in radio and said that the profession
of radio can be performed with great success by people with visual impairment, and
pointed out difficulties related to prejudice, the need for some adjustments to that regard
to accessibility, such as adaptations in the studio and special computer programs that
would help in the locution and operation mixer. Moreover, it was noted that this work
can show the potential of the individual, enhancing self-esteem, reduce prejudice and
promote personal and professional relationships. It was concluded that the person with
visual impairment has been excluded from this market, losing the opportunity to interact
with society and expand their talent. This exclusion does not occur for “no voice”, ie
radialistic talent, but only for “lack of time”, ie, courses that offer training conditions for
these people and opportunities for market entry.
Keywords: visual impairment, social inclusion, radio announcers.
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Caracterização da amostra ............................................................................
........33
Quadro 2- Percepção dos radialistas quanto ao exercício da profissão..........................
........34
Quadro 3- Percepção dos radialistas quanto as qualidades necessárias para o exercício
da
profissão............................................................................................................................
......35
Quadro 4- Percepção dos radialistas quanto as dificuldades para o exercício da
profissão..........................................................................................................................
........37
Quadro 5- Percepção dos radialistas quanto as oportunidades para o exercício da
profissão..........................................................................................................................
........38
Quadro 6- Percepção dos radialistas quanto as contribuições que o exercício da
profissão
traz
para
a
pessoa
com
deficiência
visual................................................................................ ...... 39
Quadro 7- Percepção dos radialistas quanto as adaptações necessárias para o exercício
da
profissão............................................................................................................................
......41
Quadro 8- Percepção dos radialistas quanto a formação necessária para o exercício da
profissão...............................................................................................................................
... 42
Quadro 9- Percepção dos radialistas quanto a vocação para o exercício da
profissão............ 45
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................
11
1.1 Deficiência visual ..............................................................................................
1.2 Inclusão social ...................................................................................................
1.3 O rádio ...............................................................................................................
11
17
23
2 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................
31
2.1 Metodologia .......................................................................................................
2.1.1 Caracterização da Pesquisa ..........................................................................
2.1.2 Procedimentos .............................................................................................
2.1.3 Análise dos Dados .......................................................................................
2.2 Resultados e Discussão .....................................................................................
31
31
31
32
32
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................
46
4 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................
50
ANEXOS .............................................................................................................
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Deficiência visual
Em todas as sociedades, provavelmente, o sentido da visão foi sempre
considerado o de maior valor, entretanto, nunca o apelo visual se fez tão constante como
na sociedade moderna, o que torna mais difícil aceitar a possibilidade de interação
social sem que haja a expressão e o contato visual, sabendo-se que tais elementos são
cruciais no desenvolvimento evolutivo de todo indivíduo. Nesse sentido, abordar a
deficiência visual implica diretamente na descoberta de um novo mundo, com outros
significantes que funcionem como orientadores em atividades diárias e que, portanto,
requerem considerações dos videntes para compreender suas funcionalidades
(AMIRALIAN, 1997).
Considerando uma relação entre a visão e a ausência dela com o
mundo, nós que nascemos com a visão, mal podemos imaginar tal confusão. Já que,
possuindo de nascença a totalidade dos sentidos e fazendo as correlações entre eles, um
com o outro, criamos um mundo visível de início, um mundo de objetos, conceitos e
sentidos visuais. Quando abrimos nossos olhos todas as manhãs, percebemos um mundo
que passamos a vida aprendendo a ver. Não recebemos o mundo já pronto, antes o
construímos pela experiência, classificação, memória e reconhecimentos. (SACKS,
2006 apud AMIRALIAN 1997).
Segundo Ida Mara Freire (1998) há definições quantitativas e
funcionais e muitas destas representações sociais são estruturadas tendo como base
padrões bem definidos e estáticos de tal sorte que a extrapolação dos parâmetros
estabelecidos ou a fuga da “normalidade” produz falácias conhecidas no contexto
popular. Ainda de acordo com a autora o consenso social está permeado dessas falácias
no que diz respeito a ausência da visualidade, de maneira que, a partir do dicionário a
definição de “vidente” é:
1. Adj. Diz-se de pessoa dotada da faculdade de visão sobrenatural de cenas
futuras ou de cenas que estão ocorrendo em lugares onde ela não está
presente. 2. Pessoa dotada dessa faculdade. 3. Pessoa que profetiza. 4.
Pessoa perspicaz. Pessoa que tem o uso da vista (em oposição aos cegos).
Sobre a palavra “cego” a definição é:Página 12 de 69
13
1. Adj. Privado de vista. 2. Fig. Alucinado, transtornado: obcecado. 3. Que
impede a reflexão, o raciocínio, que perturba o julgamento, oblitera a razão.
4. Total, absoluto, irrestrito. 5. Diz-se do instrumento cortante que tem o fio
gasto ou embotado, reboto. 6. Indivíduo cego.
Nestas definições, segundo Freire (1998) são reveladas as atitudes
envolvidas nas interações sociais, nas concepções da medicina tradicional muito
presentes na educação especial, que fazem com que muitos dos estudos e atitudes
tenham como referencial um indivíduo abstrato e isolado da sociedade. Tal opinião, de
acordo com Tomasine (1994 apud FREIRE, 1998) é percepção estanque e fragmentada
do comportamento humano
que observa a diferença como algo inato, produto da
natureza e não como produto da atividade dos homens.
Em 1966 a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou 66
diferentes definições de cegueira, utilizadas para fins estatísticos em diversos países.
Para sintetizar, um grupo de estudos sobre a Prevenção da Cegueira da OMS, em 1972,
propôs normas para a definição de cegueira e para uniformizar as anotações dos valores
de acuidade visual com finalidades estatísticas. Há que se considerar ainda um conceito
mais específico de deficiência visual que, sob parâmetros legais, compreende no
Decreto n°. 5296, de 02 de Dezembro de 2004, Art.5°, Capítulo II – Do atendimento
Prioritário, §1°:
c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor
que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que
significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor
correção óptica; os cegos nos quais a somatória da medida do campo visual
em ambos os olhos for igual ou menor que 60°; ou a ocorrência simultânea
de quaisquer das condições anteriores.
Compreender a deficiência visual requer salientar a acuidade visual do
indivíduo, também apontada na definição legal. A título de esclarecimento, por acuidade
visual compreende-se o potencial que o indivíduo possui para identificar objetos a uma
distância específica, sendo caracterizada por dois fatores: a distância e o ângulo
formado pelos olhos no momento de apreciação do objeto. Já o campo visual remete-se
ao grau que o olho pode abranger em cada direção, tendo nos limites normais 90° na
parte externa; 50° na parte superior e 70° na parte inferior (GONZÁLEZ e DÍAZ,
2007).
14
Considera-se, então, pessoa com cegueira aquela cuja visão do melhor
olho, após a melhor correção óptica ou cirúrgica, varia de zero a um décimo, segundo a
escala optométrica de Snellen,1 ou quando tem o campo visual reduzido a um ângulo
menor que 20 graus. Para entender-se melhor o que significa um décimo de acuidade
visual, podemos esclarecer isso dizendo que o indivíduo portador dessa limitação
enxerga apenas a uma distância de 20 m.
De acordo com Amiralian (1997), ao contrário do senso comum, a
pessoa cega, sob a ótica médica e educacional, não é aquela que não enxerga, pois é raro
uma ausência total da percepção visual, podendo-se declarar que há graus de deficiência
visual, não abrangendo todos os deficientes visuais numa mesma classificação. Esta
variação é primordial para a constituição do sujeito, pois vai determinar se a percepção
visual fará parte das formas que o sujeito terá de apreensão e interpretação do mundo.
Conceituar e identificar a cegueira implica na idéia de total ou sério comprometimento
visual. A referência a pessoas cegas requer considerar um público heterogêneo,
composto daqueles que são privados da percepção de luz, como também dos que apesar
de terem percepção de luz apresentam problemas graves, e são diagnosticados como
legalmente cegos.
Existe a cegueira parcial (conhecida como legal, econômica ou
profissional) e nessa categoria estão os indivíduos apenas capazes de contar dedos a
pouca distância e os que só veem vultos. Próximos da cegueira total estão os indivíduos
que só tem percepção e projeção de luminosidade. No primeiro caso, há apenas a
distinção entre claro e escuro e no segundo (projeção) o indivíduo é capaz de identificar
a direção de onde vem a luz. A cegueira total (amaurose) pressupõe completa perda de
visão. A visão é totalmente nula, ou seja, nem a percepção luminosa está presente e em
oftalmologia isso significa visão zero (FARIAS e BUCHALLA, 2005, p. 187-193). Os
indivíduos podem ter cegueira de nascença ou adquirida ao longo da vida. É frequente
imaginar que toda pessoa com cegueira nasceu com tal problema visual, porém muitos
são os casos de pessoas que adquiriram a cegueira ao longo da vida.
1
A tabela de Snellen, também conhecida como optótico de Snellen ou escala optométrica de Snellen, é
um diagrama utilizado para avaliar a acuidade visual de uma pessoa. A tabela recebe seu nome em
homenagem ao oftalmologista holandês Herman Snellen, que a desenvolveu em 1862. Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
15
É fácil verificar-se que todas estas definições apresentam a cegueira
como redução ou ausência da acuidade visual e que essas noções tem guiado as
proposições presentes nos documentos oficiais e, consequentemente orientado a
formulação de políticas públicas para o trabalho e a educação das pessoas com cegueira
ou baixa visão. No entanto, vale salientar que uma pessoa pode fazer uso dos seus
sentidos de muitas maneiras, principalmente no que diz respeito ao processo
educacional e nem sempre essa maneira pode ser determinada por meio de medidas
objetivas, até porque, pode-se observar de imediato, que a quantificação médica das
variações na acuidade visual é um tanto vaga para o leigo, já que a limitação visual se
apresenta de forma bem variada. Diferente do que podemos imaginar, o termo cegueira
é relativo, pois reúne indivíduos com diversos graus de visão residual e abrange vários
tipos de deficiência visual considerados graves. Isso não significa, obrigatoriamente,
total incapacidade para ver, mas prejuízo dessa aptidão a níveis incapacitantes para o
exercício de tarefas do dia-a-dia.
Partindo de uma perspectiva da psicologia escolar a cegueira é definida
como um tipo de deficiência sensorial, sendo, portanto, sua característica central a
carência ou comprometimento de um dos canais sensoriais de aquisição da informação,
neste caso o visual (FREIRE, 1998). Tal deficiência tem consequências sobre o
desenvolvimento e a aprendizagem, tornando-se necessário elaborar sistemas de ensino
que transmitam, por vias alternativas, a informação que não pode ser obtida através dos
olhos. Na carência ou séria diminuição de um canal sensorial da importância da visão
certamente ocorre diminuição da captação da informação, fazendo com que a percepção
da realidade de um cego seja muito diferente da dos que enxergam, levando-se em conta
que uma grande parte da categorização da realidade reside em propriedades visuais que
se tornam inacessíveis ao cego, embora isto não queira dizer que haja impossibilidade
para conhecer o mundo ou para representá-lo, mas apenas que para isso deve
potencializar a utilização dos outros sistemas sensoriais (OCHAITA E ROSA, 1995).
Os mesmos autores defendem que é certo, portanto dizer que:
a deficiência não pode ser vista como uma qualidade presente no
organismo da pessoa ou no seu comportamento. Em vez de circunscrever a
deficiência nos limites corporais da pessoa com deficiência, é necessário
incluir as reações de outras pessoas como parte integrante e crucial do
fenômeno, pois são essas reações que, em última instância, definem alguém
como deficiente ou não deficiente. As reações apresentadas por pessoas
comuns face às deficientes ou às deficiências não são determinadas única
nem necessariamente por características objetivamente presentes num dado
quadro de deficiência, mas dependem bastante da interpretação,
fundamentada em crenças científicas ou não, que se faz desse quadro (p. 67).
16
De qualquer modo a cegueira é uma redução que requer adaptação,
ajustamento, reorganização ou reprogramação. Lowenfeld (1991) constata que, embora
a cegueira represente uma demanda especial na vida do indivíduo, a continuidade de sua
existência e sua própria personalidade não foram consideradas por tais interpretações.
Uma primeira interpretação vincula a cegueira com a tragédia e o desastre. Todos,
estudiosos videntes ou não-videntes, reconhecem que a falta ou perda da visão é uma
diminuição
sensorial severa que afeta a pessoa como um todo. Salienta que a
contribuição que os estudiosos videntes oferecem nessa discussão sobre a condição da
cegueira pode ser valiosa, mas parcialmente entendida, pois, uma compreensão total da
cegueira escapa ao vidente que não pode se colocar completamente na experiência e na
posição ativa de uma pessoa cega.
Vygotsky (1983) expõe que, como em qualquer ciência, é possível
equivocar-se de diferentes maneiras, mas para avançar em direção à verdade só é
possível por uma via. Sua idéia se resume em apresentar a cegueira, não somente como
a falta da visão, ou deficiência de um órgão em particular, mas deve-se considerar que
esta provoca uma grande reorganização de todas as forças do organismo e da
personalidade. A cegueira, ao criar uma formação peculiar da personalidade, reanima
novas forças, muda as direções normais das funções do organismo e de uma maneira
criadora e orgânica, refaz e transforma a psiquê e a persona. Portanto, a cegueira não é
somente uma deficiência, uma incapacidade, mas, em certo sentido, uma fonte de
manifestação das capacidades, uma força, por mais estranho e paradoxal que seja.
Outra definição de cegueira, mais subjetiva, porém é a definição que
consideraremos preponderante nesta pesquisa é aquela que a considera não como falta,
mas como uma outra modalidade de relação com o mundo, que tem suas
especificidades, suas singularidades. (BATISTA, 2005; SIMMONS; SANTIN, 2000).
De acordo com Eline Porto (2005, p.25) deve-se considerar a cegueira positivamente,
como um modo singular de estar no mundo, pois aquilo que é “invisível aos olhos do
cego não é invisível à sua sensibilidade, intencionalidade e interioridade”. Segundo a
autora citada, a percepção que a pessoa com deficiência visual tem do mundo é própria,
individual, única, assim como a de qualquer pessoa, deficiente ou não. E essa percepção
única baseia-se nas experiências, sentimentos e sensações que vão sendo acumuladas ao
longo da existência de cada um, a diferença é que a pessoa com deficiência visual
constrói seu mundo sem a percepção do visível aos olhos.
17
A mesma critica o modo reducionista na percepção usual que se tem da
falta do sentido visual, uma vez que este, na maioria das vezes, é visto apenas
biologicamente. Enfatiza que não há razão para identificar-se o sentido com a
subjetividade. O corpo é mais do que as coisas vistas; ele é o centro do campo
perceptivo que o circunda e, tanto para o vidente como para o cego, viver no mundo
implica a “possibilidade de percebê-lo além do ver com os olhos e sentir com os
sentidos” (PORTO, P.36).
Sustenta ainda que não há diferença entre o mundo dos videntes e o
mundo dos cegos. O que existe é a maneira como cada um deles percebe esse mesmo
mundo real e o elabora internamente, de acordo com suas singularidades, possibilidades
e experiências. E argumenta que os videntes, como os cegos, também vivenciam
diferentemente situações idênticas, porque são seres diferentes em sua essência e
existência. O mesmo ocorre de cego para cego e de vidente para vidente, porque “todo
ser humano é único e particular na sua relação com o mundo” (PORTO, 2005, p. 37).
Tendo isto em vista entendemos que a condição de deficiente não deve
ser considerada como negativa ou inferior, mas ser encarada como uma das
possibilidades de estar no mundo, vivendo, trabalhando e sendo sujeito de direitos.
Parece, então que para definir a cegueira faz-se necessário ir além
daquilo que é dado. Deve-se compreender a pessoa cega como um ser singular,
contribuindo para a pluralidade do mundo e, no mundo, este ser não-visual, que usa os
outros sentidos para interagir e não a visão, como estamos acostumados, tem na sua
história a marca da cultura, que reflete crenças, valores e ideologias que, materializadas
em práticas sociais, estabelecem modos diferenciados de relacionamentos entre esta e
outras pessoas, com ou sem deficiências. A deficiência apresenta-se como um fenômeno
construído socialmente e, assim sendo, ser ou estar "deficiente" é quase sempre relativo
a outras pessoas que são consideradas sem "deficiências" (AMIRALIAN, 1986,
HIGINO, 1986, AMARAL, 1984, BRUNS, 1997, DELL’ACQUA, 1997).
A ocorrência da cegueira e seus diferentes significados inserem-se na
própria história da humanidade. As mudanças de atitudes da sociedade para com a
pessoa cega ocorrem, da mesma forma, em função da organização social à qual estão
submetidas. A pessoa cega tem sido, na maioria das vezes, excluída da sociedade e, de
um modo geral, os estigmas se fazem presentes nos grupos minoritários (GOFFMAN,
1982; AMIRALIAN, 1986; AMARAL, 1994; BRASIL, 1994).
18
Quando ocorre o encontro entre pessoas que enxergam com aquelas
que não enxergam, primeiramente, verifica-se a pena e simpatia como reações mais
comuns por parte daqueles que enxergam em relação à pessoa invisual. Nesses
encontros a piedade demonstrada às pessoas cegas muitas vezes é desproporcional em
relação às limitações impostas ao indivíduo pela cegueira. Infelizmente, as limitações
atuais, os reais problemas de ser cego, são geralmente desconhecidos ou
incompreendidos pela maioria das pessoas. O que se constata sobre isso é que o fato de
se viver sem visão é negligenciado em favor de uma gama imensa e diversa de malentendidos e interpretações diversas. Em relação às atitudes atuais sobre a cegueira,
essas são provenientes da nossa herança cultural. Igualmente, muitas dessas atitudes são
identificadas em outras culturas, indicando, assim, algumas experiências humanas em
comum, no que diz respeito às nossas reações com a cegueira e com a pessoa cega.
Deste modo, atitudes do passado podem desempenhar um papel de reforçar as
experiências de hoje em relação à cegueira, como também a predisposição individual
para certas reações.
1.2 Inclusão social
A forma como, ao longo dos tempos, a sociedade tratou e vem tratando
as pessoas consideradas deficientes demonstra como essa questão está diretamente
relacionada com a forma pela qual interpretamos essas pessoas e lhes atribuímos
rótulos. Geralmente as pessoas consideradas deficientes – e, dentro desse contexto, as
pessoas cegas – constroem seus conhecimentos e sua relação com o mundo pautadas na
forma como se dá a interlocução com o outro e como ocorre esse confronto. É comum
que encontremos um vínculo semântico entre cegueira e escuridão, enquanto ser ou
estar cego não coincide necessariamente com o enegrecimento da visão. Para nós,
videntes, que cremos nisso, essa metáfora torna-se praticamente universal, além de
haver aí uma relação negativa do que seja não ver. Assim se constitui a idéia de que ser
cego é não ver, de que a cegueira representa a face negativa da visualidade. A relação
com o conhecimento que as pessoas cegas constroem pode estar pautada em suas
vivências orais, sensoriais e perceptivas, vivências que se configuram na sua relação
direta com o outro que é o seu ouvinte. A definição de cegueira a partir da ótica de
pessoas que têm visão, geralmente traz consigo a idéia de negação, de ausência de uma
19
capacidade, de privação, de limitação, situação impeditiva para que essa pessoa possa se
relacionar com o mundo de forma legítima, como sujeito de direitos, antes, pelo
contrário, atraindo a elas o estigma da exclusão e do preconceito.
No entanto, parafraseando a tão repetida frase do sábio Salomão “nada
disso é novo debaixo do sol” (ECLESIASTES 1.9 apud BÍBLIA SAGRADA). De fato,
como explica Sassaki (1999, p. 16) a sociedade atravessou diversas fases no que se
refere às práticas sociais que começou com a exclusão social de pessoas que não
pareciam pertencer à maioria da população por causa de suas condições atípicas; daí
partiu-se para o movimento segregado, passando para a prática da integração social e
recentemente adotou a filosofia da inclusão social para modificar os sistemas sociais
gerais.
De acordo com Sassaki (1999, p. 09), "a sociedade inclusiva começou
a ser construída a partir de algumas experiências de inserção social de pessoas com
deficiência, ainda na década de oitenta". Ainda segundo o referido autor (1999, p. 42),
a inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de
um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes,
nos ambientes físicos e na mentalidade de todas as pessoas, portanto
também do próprio portador de necessidades especiais.
Seguindo com sua explicação sobre o movimento de inclusão, Sassaki
(1999, p.17) alista os objetivos para a construção de uma sociedade realmente para
todas as pessoas, sob a inspiração de novos princípios. Ele destaca a celebração das
diferenças, o direito de pertencer, a valorização da diversidade humana, a solidariedade
humanitária, igual importância das minorias e cidadania com qualidade de vida. Dentro
destes princípios faz-se necessário ter os conceitos corretos de autonomia,
independência e empowerment.2 Resumimos aqui estes três conceitos a partir da visão
de Sassaki (1999); este diz que Autonomia é “a condição de domínio no ambiente físico
e social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce”;
Independência é “a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas” e
Empowerment significa “o processo pelo qual uma pessoa ou um grupo de pessoas usa
o seu poder pessoal inerente à sua condição – por exemplo: deficiência, gênero, idade,
2
empowerment, do inglês: Empoderamento. Este termo é o usado atualmente pela maioria dos autores e
ativistas dos movimentos das pessoas com deficiência.
20
cor – para fazer escolhas e tomar decisões, assumindo assim o controle de suas vidas”.
(SASAKI, p. 37 e 38).
Desse modo, conceitua-se como inclusão social:
O processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus
sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e,
simultaneamente estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A
inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas
ainda excluídas e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas,
decidir sobre soluções, efetivar a equiparação de oportunidades para todos
(SASSAKI, 1999, p. 41).
Assim temos que, baseados no modelo social da deficiência, para
incluir todas as pessoas o mesmo autor, citando Clemente Filho (1996, p. 4) diz que:
a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que
precisa ser capaz de atender a necessidade de seus membros. O
desenvolvimento (por meio da educação, reabilitação, qualificação
profissional, etc.) das pessoas com deficiência deve ocorrer dentro do
processo de inclusão e não como um pré-requisito para estas pessoas
poderem fazer parte da sociedade, como se elas precisassem pagar ingressos
para integrar a comunidade (SASSAKI, 1999, p. 41).
Acrescentamos ainda que, a partir do conceito do citado autor a prática
da inclusão social repousa em princípios como a aceitação das diferenças individuais, a
valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana, a
aprendizagem através da cooperação, ao invés de se pensar nos atributos pessoais que
representam a diversidade humana como critérios para separar pessoas (ibidem).
A inclusão é, portanto, importante para todos, à medida que pode
mudar o mundo, as pessoas e os pensamentos. Não obstante, o processo de inclusão vai
muito além da inserção dos alunos na escola, exigindo uma mudança na estrutura social
vigente, no sentido de se organizar uma sociedade que atenda aos interesses de todas as
pessoas, indiscriminadamente.
Acreditamos que a inclusão da pessoa com deficiência seja
fundamental, porém, como pensar em uma sociedade inclusiva num sistema capitalista
que é organizado de maneira excludente? Será a inclusão uma utopia, como afirma Glat
(1998), ou uma possibilidade de acontecer a partir do paradigma que qualquer homem,
com ou sem deficiência visível é um ser em transformação, sujeito de sua própria
história? Estas são questões para as quais está se buscando uma resposta, acredita-se,
também, que o processo de inclusão não se restringe às pessoas com deficiência, mas
atinge todas as minorias cerceadas de direito dentro de uma sociedade capitalista.
21
No âmbito dos ideais de inclusão a preparação para o trabalho, ou
“profissionalização” das pessoas com deficiência vem sendo discutida, segundo Pastore
(2000), nas últimas três décadas, as quais marcaram um tempo de grandes esforços
legislativos com o objetivo de melhor “integrar” as pessoas com deficiência no mercado
de trabalho. Inúmeras leis nacionais e convenções internacionais foram aprovadas com
essa finalidade. Isso estimulou as pessoas com deficiências a se organizarem melhor e
buscar formas variadas de representação para atuar em busca dos novos direitos. Cabe,
entretanto, a sociedade “eliminar todas as barreiras físicas, programáticas e atitudinais
para que as pessoas com necessidades especiais possam ter acesso aos serviços, lugares,
informações e bens necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e
profissional” (SASSAKI, 1999, p. 47).
Partindo do pressuposto de que o trabalho é uma das principais vias de
inclusão social, sendo fator fundamental para minimizar a estigmatização sofrida por
estes indivíduos tornou-se uma das tarefas ou metas básicas da educação de jovens e
adultos com deficiências capacitá-los para exercer uma atividade profissional, e auxiliálos em sua inserção no mercado de trabalho, formal ou informal. Através do trabalho o
indivíduo com deficiência pode demonstrar suas potencialidades e competências e
construir uma vida mais independente e autônoma. Consequentemente, o trabalho
exerce também um efeito reabilitador, na medida em que contribui para o aumento da
auto-estima e nível de ajustamento pessoal (SASSAKI, 1999).
A educação para o trabalho é considerada uma área prioritária não
apenas pelos especialistas, mas, sobretudo, pelas próprias pessoas com deficiência. Para
esses indivíduos, trabalhar fora significa, entre outras coisas, “ poder abandonar sua
condição de ‘excepcional’, de ‘deficiente’ e juntar-se à rotina diária das demais pessoas,
lutando por sua sobrevivência e manutenção” (FERRARETTO, 2000 p.78). Em
contrapartida, conforme assinalou Jannuzzi (1994, apud FERRARETTO, 2000, p. 80),
“a ausência da possibilidade de trabalho para o deficiente aumenta sua exclusão,
acentuando, então, sua subordinação aos outros, esmaecendo a própria identidade”.
Infere-se, então que, pessoas com deficiência que estão inseridas no
mercado de trabalho, atuando em situações semelhantes aos demais cidadãos de sua
comunidade, tem mais possibilidades de expandir suas perspectivas de vida, inclusive
sob o aspecto dos relacionamentos sociais. Isto as diferencia sobremaneira daqueles que
continuam segregados em instituições ou escolas especializadas, em condições de
trabalho protegido, sendo considerados incapazes e eternamente tutelados.
22
Entretanto, o percentual de pessoas com deficiência que estão fora da
força de trabalho é duas vezes superior ao das pessoas sem deficiência, embora tenham
o mesmo direito de trabalhar (SASSAKI, 1999). Embora pareça utópico falar em
trabalho para deficientes num país onde há milhões de desempregados, ao comparar a
situação do Brasil com a situação de países como o Canadá pode-se comprovar em
estudos que, de cada 100 pessoas que não tem deficiência 70 estão trabalhando,
enquanto que, de cada 100 pessoas com deficiência 40 estão trabalhando
(MACFADDEN, 1994 apud SASSAKI, 1999, p.63). Esses dados nos mostram que a
situação de países desenvolvidos não é muito diferente da situação do Brasil, que, além
da retração na oferta de empregos, ainda há pouca divulgação sobre as potencialidades
de trabalho de pessoas com deficiência. Esse fato faz com que muitos empregadores não
acreditem nelas, no sentido de virem a ser bons funcionários, antes crêem que podem se
tornar mais um problema para ser administrado, tanto na área de conduta como de
ajustamento.
Sassaki (1999), citando estudo realizado nos Estados Unidos, corrobora
a assertiva acima relacionando quatro barreiras sérias que precisam ser removidas, no
que diz respeito aos obstáculos ao emprego de pessoas com deficiência: a barreira
atitudinal, falta de ambiente acessível, a não vontade de efetuar acomodações razoáveis
e falta de informação sobre recursos e técnicas de desenvolvimento de empregos
(SASSAKI, p. 63). Na fase atual, no que diz respeito às oportunidades de inserção no
mercado de trabalho já se vê as empresas, embora em pequena escala, praticando a
absorção da mão de obra de pessoas com deficiência. Tudo começou com pequenas
adaptações
no posto de trabalho e nos instrumentais de trabalho. Era a empresa
inclusiva aparecendo e desejando envolver-se no esforço de valorizar a diversidade
humana, contemplando as diferenças individuais (SASSAKI, 1999, p. 65).
Mesmo assim, muitas são as dificuldades existentes para a inserção das
pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Uma das dificuldades diz respeito às
vagas oferecidas, uma vez que se limita a poucas opções. No caso do presente estudo a
ênfase dá-se sobre a pessoa com deficiência visual, pois é muito comum se observar
profissionais qualificados, em certos casos com nível superior de ensino, em funções de
baixa qualificação, como telefonista, ascensorista ou massagista. São poucas as
experiências de pessoas com deficiência visual, mesmo com a devida qualificação, que
desenvolvem alguma atividade profissional como especialista em informática,
psicólogo, professor, músico, entre outras. Toda essa resistência quanto à contratação
23
de pessoas com deficiência é motivada pelo preconceito e falta de disposição em arcar
com os custos e adaptação do local de trabalho. Também pela dificuldade de encontrar
tais pessoas, pois é importante ressaltar que, no Brasil a educação e capacitação por
parte das pessoas com deficiência em geral, muitas vezes deixa a desejar, dificultando a
sua competição no mercado de trabalho. Esta é uma das razões pela qual o direito às
quotas nas empresas para a pessoa com deficiência estabelecida pela legislação ainda
não foi efetivado, em função da falta de profissionalização.
Igualmente, consideramos de suma importância trazer à luz a questão
do beneficio de ação continuada pago pelo INSS às pessoas
com deficiência,
consideradas incapacitadas para o trabalho. Pastore, (2000, p. 41-43) cita que, de acordo
com a Constituição Federal de 1988, no artigo 32, inciso II, a União, Estados,
Municípios e Distrito Federal têm a responsabilidade de: “cuidar da saúde e assistência
pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”. O artigo 24,
inciso XIV diz ser competência da União, Estados, Municípios e Distrito Federal
legislar sobre a “proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência”,
complementado pelo artigo 37, inciso VIII que estabelece “um percentual de cargos e
empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência”. E, por fim é de interesse
dessa pesquisa citar o artigo que foi, provavelmente, o que tenha tido maior notoriedade
para a pessoa com deficiência e seus familiares: Artigo 2º, inciso V, da Lei 8.742, de 7
de dezembro de 1993 que dispõe “ a garantia de um salário mínimo de beneficio mensal
à pessoa portadora de deficiência [...] que comprovar não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei”
(LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social, 1993, versão eletrônica). Esse benefício
de ação continuada, que também é chamado de amparo social é dado àqueles que não
contribuem com o INSS. Igualmente são beneficiados com aposentadoria por invalidez
os que apresentam incapacidade para o trabalho, que tenham contribuído com o INSS e
não tenham conseguido a reabilitação, de acordo com a lei de nº 8.212/91 (Diário
Oficial, versão eletrônica)
Ora, num país cujo desemprego é notório e o despreparo das pessoas
com deficiência na área profissional é igualmente evidente, tal beneficio oferece
segurança àqueles que o recebem, ao mesmo tempo em que também restringe a entrada
destes no mercado de trabalho, visto que, recebendo o beneficio como é o caso de
muitos, ou sendo aposentado por invalidez, mesmo tendo alcançado a reabilitação, em
geral a pessoa com deficiência não se sente segura para trocar o beneficio pelo emprego.
24
Sem pretensão de discorrer neste momento sobre as questões da
dignidade humana, da cidadania e do direito ao trabalho, nem tampouco do
paternalismo compensatório demonstrado por esta lei, mas apenas enfatizando a questão
da segurança e estabilidade que o beneficio traz e ainda levando em conta os valores
salariais pagos à pessoa com deficiência no exercício das funções que geralmente lhe
são atribuídas é possível discutir, a partir desse pressuposto, as vantagens e
desvantagens que existem para a pessoa com deficiência ingressar no mercado de
trabalho. Tais salários, em geral, não ultrapassam o valor recebido pelo beneficio, razão
pela qual fica mais fácil entender porque muitas pessoas com deficiência, embora
tenham desejo de entrar no mercado de trabalho para exercer uma profissão, tendo
competência para tal, muitas vezes se retraem, recuando e permanecendo fora da vida
profissional, por medo de, perdendo o beneficio não adquirirem estabilidade no
mercado de trabalho e, então, sofrerem perda total. Tal pensamento pode parecer
antiético, mas facilmente compreensível quando se tem aproximação da realidade
econômica e social da pessoa com deficiência visual no Brasil, particularmente no
Estado do Rio Grande do Norte, em cuja capital - Natal se concentra o objeto da nossa
pesquisa.
Dá-se o fato, então, que a grande maioria das pessoas com deficiência
visual, embora já reabilitadas, não se dispõem a trocar a segurança do beneficio do
INSS pela instabilidade de um emprego onde lhe serão feitas exigências e, muitas vezes
lhe serão negadas as devidas adaptações. Em outra instância, não se pode negar também
a acomodação trazida pelo beneficio a qualquer pessoa que ainda não esteja consciente
de sua cidadania e do fato de que, trabalhar é um direito que traz a qualquer pessoa,
notadamente a pessoa com deficiência, autonomia, independência e empoderamento,
além de ser um prazer a mais. Espera-se, entretanto, de acordo com Sassaki (1999), que
as velhas políticas vão sendo lapidadas e que sejam elaboradas novas políticas sociais,
cada vez mais compatíveis com a vida independente, uma vez que esta agora se
encontra no bojo do movimento internacional de inclusão social, notando-se, como
exemplo a declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) e as Normas sobre a Equiparação
de Oportunidades para Pessoas com Deficiência (Nações Unidas, 1996). Nesse sentido,
é possível que as pessoas com deficiência visual adquiram a segurança necessária para
fazerem essa escolha, com entendimento e confiança de que essas políticas realmente
funcionarão.
25
1.3 O rádio
Diante de tudo o que se tem aprendido nesse novo contexto social e
educacional a respeito da deficiência em geral, mais particularmente da deficiência
visual e da inclusão social, educacional e profissional, considerando algumas das
possibilidades da pessoa invisual, essa pesquisa visa chamar a atenção para o mercado
da comunicação em radiodifusão, considerado, teoricamente, acessível a elas, levando
em conta a grande importância da mídia nas elaborações dos conceitos formados pela
sociedade.
Desde o movimento da integração o mundo todo vem reconhecendo o
importante papel que a mídia tem como aliada no processo de informação e
conscientização a respeito das necessidades, das potencialidades e das políticas para a
inclusão social de maneira geral. Desde a produção de documentários e matérias
científicas sobre pessoas com deficiência, estudos de manuais de construção de imagens
positivas, utilização de terminologia adequada sobre deficiência a fim de não reforçar os
estigmas e preconceitos até a participação efetiva em eventos organizados por
instituições ligadas à pessoas com deficiência, tem sido o papel da mídia na luta pela
inclusão (SASSAKI, 1999).
Os profissionais da mídia podem ajudar a formar uma imagem
positiva, humana, da pessoa com deficiência, através de mensagens edificantes,
possíveis, principalmente no rádio, uma vez que, segundo Mcluhan (1964, p.337)
O rádio afeta as pessoas, digamos, como que pessoalmente oferecendo um
mundo de comunicação não expressa entre o escritor-locutor e ouvinte. Este
é aspecto mais imediato do rádio. As profundidades subliminares do rádio
estão carregadas daqueles ecos das trombetas tribais e dos tambores antigos .
Assegura ainda, o mesmo autor, que o rádio tem o poder de
transformar a psique e a sociedade numa única câmara de eco e esta é a razão pela qual
nos inclinamos a estudar o mercado da radiodifusão e suas possibilidades para a pessoa
com deficiência visual, como se verá no corpo deste estudo.
No que concerne a este mercado de trabalho, propriamente dito, esta
realidade parece ainda estar muito distante, na medida em que observamos não ser
muito comum se encontrar pessoas com deficiência visual atuando diretamente na
apresentação de programas, noticiários e outros, embora este seja um excelente meio
para promover a inclusão. A linguagem do rádio é simples e de fácil assimilação, os
26
preços acessíveis dos aparelhos (radinhos de pilha) e, principalmente pela possibilidade
de qualquer um participar como ouvinte ou comunicador.
No entendimento de Esch (1999, p. 71) a comunicação de rádio gera
uma aproximação entre o comunicador e o seu público, “aproximação essa que tem sido
um sucesso e se mostra cada vez mais forte, a ponto de alterar significativamente o
perfil das programações de várias estações”. Segundo ele algumas destas emissoras,
com esse diferencial, promovem
uma verdadeira ‘revolução’ nos padrões tradicionais de fazer rádio,
extrapolando os limites impostos pelo seu próprio espaço físico, transferindo
seus estúdios para locais públicos, estrategicamente escolhidos em função
do fluxo de pessoas, de onde os comunicadores com grande audiência e
penetração popular comandam seus programas (p.71).
O rádio está presente em casa, no automóvel, no trabalho e no lazer,
atingindo diversos públicos em diferentes programações. Nove entre dez pessoas ouvem
rádio. O ouvinte de rádio pode optar por programações diversas e embora o rádio tenha
perdido gradativamente seus anunciantes, em função da atração da televisão, conservou,
entretanto, seu carisma e seu público. Enquanto a televisão lhe subtraia os melhores
profissionais e artistas e aumentava o faturamento difundindo a indústria cultural e
incentivando a sociedade de consumo, o rádio adaptava sua mensagem para atender as
necessidades de informação, prestação de serviços e entretenimento das classes
populares urbanas (BIANCO E MOREIRA, 1999, p. 43).
O rádio é meio de comunicação popular por excelência, onipresente no
cotidiano de todos, presta-se a múltiplas funções e responde as mais variadas demandas
e a fala constitui-se no principal instrumento de comunicação radiofônica, embora não
seja o único. Quem lê uma notícia ou apresenta um programa depende em grande parte
do uso que faz de sua capacidade vocal.
Marshall McLuhan (1964, p. 344), que cunhou a expressão ‘Aldeia
global’ diz que “o rádio é uma espécie de ‘tambor tribal’ da era eletrônica. Essa
assertiva parece ser verdade, pois mesmo na era da TV digital, do computador e de
todos os artefatos eletrônicos cada vez mais sofisticados, o rádio continua impactando
como veículo de comunicação e o interesse político na sua utilização atesta o seu poder
e sua influência. Segundo Mcluhan (1964) Hitler só teve existência política graças ao
rádio e aos sistemas de dirigir-se ao público.
De acordo com Ferraretto (2000), em termos numéricos, segundo o
IBGE, em pesquisa realizada em 1995, 88,8% dos lares brasileiros possuíam, pelo
27
menos, um aparelho de rádio, levando-nos a crer que a presença do rádio dá-se em
índices superiores aos da televisão. Leva vantagem inclusive nas regiões de difícil
acesso como nas zonas rurais nos estados da Região Norte. Igualmente nos estados mais
ricos como Sul e Sudeste o rádio chega a estar presente em mais de 90% dos domicílios.
Ainda segundo este autor (FERRARETTO, 2000, p.90) em termos
qualitativos a trajetória do rádio no Brasil desenvolve-se quase ao mesmo tempo em que
a do veículo em outros países, sofrendo influência em especial dos Estados Unidos. No
inicio da década de 1930 é também nas estações dos Estados Unidos que os pioneiros
profissionais do novo meio de comunicação irão buscar inspiração e mesmo hoje os
modelos mais difundidos continuam seguindo o modelo americano.
Em 1925 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro já emitia, além do jornal
da manhã, o jornal do meio dia, da tarde e da noite, acompanhados de suplementos
musicais, com algumas páginas literárias, esportes, agronomia, seção feminina,
doméstica e infantil (FERRARETO, 2000, p.101). O mesmo autor diz que no inicio da
década de 30 surgiram emissoras em diversos estados brasileiros. Quando a publicidade
foi regulamentada em 1932 deu-se início a uma nova fase na história da radiodifusão
sonora do país, com a presença do veículo em 11 estados do Brasil.
A estruturação do rádio ocorre por volta de 1932 a 1940. Já aí o rádio
nasce como espetáculo massivo. Com a regulamentação da publicidade a indústria e o
comércio ganham um veículo para atingir a população, inclusive os analfabetos. A
radiodifusão sonora passa também a ter uso político. Com a ditadura o programa Voz do
Brasil torna-se obrigatório, transmitido em rede nacional de segunda à sexta. Em 1955 o
rádio espetáculo chega ao seu apogeu, já com telenovelas, programas de auditório,
programas humorísticos e o rádio jornalismo, decaindo apenas com o advento da
televisão (FERRARETO, 2000, p.105).
A partir de 1970 até 1983 acontece a reestruturação do rádio, com nova
tecnologia, emitindo em frequência modulada (FM), com qualidade sonora superior e
com uma programação que atraia pessoas economicamente mais favorecidas por incluir
música popular brasileira, erudita e internacional, transmitida das 7 da manhã às 22
horas, com noticiários, boletins sobre bolsa de valores e blocos comerciais. O rádio
também passa a ser utilizado em programas de ensino a distância, embora numa visão
tecnicista trazida da ditadura, com horários obrigatórios para a transmissão destes
programas (ibdem, p. 162).
28
Nos anos de 1980 o Brasil encontra-se na perspectiva de uma abertura
política. O regime começava a se abrandar com a anistia que permite a volta dos
exilados, a libertação dos presos políticos e o reaparecimento dos militantes, antes na
clandestinidade. As greves explodem no país, vendo nascer um novo movimento
sindical e o Partido dos trabalhadores. A informação ganha destaque na programação
das rádios. O panorama da radiodifusão sonora muda também pelo uso de canais de
satélite para a formação de rede de emissoras, um marco que introduz uma nova fase na
história deste meio de comunicação no Brasil (FERRARETO, 2000, p. 165).
Em 1985 o país passa a contar com um satélite próprio de
comunicações. Perde-se a divisão entre AM e FM, pois cada vez mais os aparelhos de
rádio incorporam as duas frequências, atraindo públicos diversos. (ibdem, p. 166).
Com o movimento das Diretas-Já ganhando forças e a Emenda Dante
de Oliveira prestes a ser votada no Congresso Nacional, a qual uma vez aprovada
possibilitaria o país ir as urnas eleger o presidente da República ainda em 1984, surge a
repressão e a censura aos meios de comunicação, que são proibidos, mediante uma
Resolução de emergência, de irradiar, sem prévia liberação, programas noticiosos, de
debates ou entrevistas. A censura e a pressão sobre o rádio e a TV coibiram a votação
no Congresso que não foi bem sucedida pela falta de 22 votos. De “mãos atadas” as
rádios calaram-se, uma vez que o Estado como poder concedente determinava quem
podia ou não prestar os serviços de radiodifusão. Tais concessões, ao longo da ditadura
foram um importante instrumento para consolidação dos governos militares. O governo
podia cassar o direito das empresas de radiodifusão que não se adequassem às normas e
estas concessões eram distribuídas a grupos econômicos simpáticos ao regime ou a
políticos da Arena e de seu sucessor político o Partido Democrático Social
(FERRARETO, 2000, p.170).
O rádio torna-se também instrumento de conversão religiosa nas
últimas duas décadas. Em meados dos anos de 1980, 10% das rádios do país estavam
nas mãos dos religiosos (ORTRIWANO, 1985). Outro dado aponta que uma em cada
sete rádios existentes no país está vinculada a uma igreja. Nos anos 90 o crescimento do
poder político dos evangélicos atenuou denúncias de extorsão, falsas curas e ataques a
outras religiões (ibdem).
Em 1998 o Congresso Nacional aprova a lei que autoriza o serviço de
radiodifusão comunitária, que consiste na operação em baixa potência e cobertura
29
restrita, outorgada a fundações e associações comunitárias sem fins lucrativos com sede
na localidade de prestação de serviço. ((ORTRIWANO, 1985).
. Estabelece-se um novo marco nas rádios livres e comunitárias nas
relações entre emissor e receptor. Ambos tendem a uma interação jamais verificada na
comunicação massiva. No dizer de Manzano:
Uma emissora comunitária tem como característica principal o fato de
operar em via de duas mãos; ela não apenas fala como ouve, principalmente,
assegurando, assim, à comunidade o direito de se fazer ouvir, em seus
reclamos e se suas manifestações culturais e artísticas de natureza local.
(apud FERRARETTO, 2000, p.189).
A rádio comunitária dá ao cidadão a possibilidade de tomar posse do
microfone e participar das decisões sobre um tipo de rádio mais aberto e democrático.
Um exemplo disso são as experiências do Movimento dos trabalhadores rurais (MST)
com emissoras como a Camponesa FM, que, Segundo Marta Regina (apud
FERRARETTO, 2000, p.189).
Tem conseguido romper com o culto a especialização e a competência –
valores importantes no sistema capitalista – ao propiciar o exercício direto
da democracia. Não há nenhum padrão sobre a forma de transmissão, a
única exigência é que seja inteligível.
Ao mesmo tempo que o cidadão ganhou o acesso ao rádio, a imagem
do comunicador sofreu uma expressiva mudança. Segundo Esch (1999, p. 78)
Uma imagem comum de se ver nos comunicadores de rádio é a de educador,
na qual assumem o papel daquele que deve educar ensinar, informar,
preparar e instruir o ouvinte sobre temas que eles consideram os mais
importantes da atualidade.
A palavra locutor vem do latim “locutore” e significa “aquele que
fala”. No entanto, o mais importante e necessário é expressar um significado. Jorge
Valdês (apud FERRARETTO, 2000, p.104) “elenca alguns requisitos essenciais para
que o profissional seja considerado um bom locutor: entender o conteúdo, interpretar o
texto e transferir as idéias”.
Nessa transferência de idéias dar-se-iam as identificações tão
essenciais entre as pessoas, já que o locutor é aquele que estabelece com seus ouvintes
uma relação mais próxima. Com a imagem de provedor os comunicadores fazem o
trabalho de intermediação, mostrando que está atuando num espaço onde o Estado tem
30
se mostrado ausente ou pouco eficaz na promoção do bem estar dos cidadãos. Outro
grande papel que exercem diante do microfone é o de articular ações realizadas por
terceiros com o intuito de atender aos pedidos que chegam diariamente às emissoras por
intermédios de cartas, telefonemas ou mesmo participação direta ao vivo das pessoas
que os visitam no estúdio. Tais atitudes de articulação os humanizam perante sua
audiência tornando-os unos com seu público. Outra faceta no trabalho do comunicador
de rádio é sua atuação como conselheiro, quando muitas vezes os comunicadores
acabam se oferecendo como um espaço para apoio e amparo para as horas difíceis
(ESCH, 1999, p.79).
A confiança que se estabelece entre comunicador e ouvinte pode
chegar a ponto de os radialistas, em muitos casos exercerem poder real de influência e
se sentirem capazes de ditar modelos de comportamentos e atitudes a serem seguidos
por seus ouvintes. “Esse poder alcança níveis nos quais muitas vezes o comunicador
pode acabar servindo como instância final para a solução de alguns problemas” (ESCH,
1999, p. 81).
É provável que, com a informatização e a digitalização haverá uma
redefinição do trabalho nas empresas de radiodifusão. Entretanto com essas facilidades
tecnológicas as emissoras utilizarão menos da metade dos profissionais hoje necessários
no rádio analógico. Nesse sentido os profissionais dessa área terão que aliar o seu
conhecimento acumulado no sistema analógico com os novos conhecimentos de
informática necessários para o domínio dessas novas tecnologias.
Entretanto, no dizer de Esch (1999), independentemente da defasagem
tecnológica e de status intelectual que o rádio tenha sofrido, os comunicadores valeramse do rádio e acabaram incorporando em suas relações com os ouvintes alguns aspectos
que caracterizam uma verdadeira relação de amizade. Da confiabilidade e intimidade
estabelecidas entre os radialistas e o público surgiram, então, programas nos quais o
comunicador exerce vários papéis.
Sendo assim – afirma Esch (1999, p. 72)
a programação radiofônica das emissoras ultrapassou o campo do
entretenimento, da oferta da música e do recado amoroso e alcançou,
verdadeiramente o cotidiano dos seus ouvintes, registrando seus problemas e
angústias, diante de uma realidade que se apresenta quase sempre marcada
pela ausência de condições mínimas de bem estar. Com isso a atenção do
comunicador ganha mais uma característica. O antigo amigo e companheiro
de todas as horas se coloca agora como um aliado de seus ouvintes ao
apresentar e defender, por intermédio do microfone, os pedidos, reclamações
e reivindicações da natureza social que o público faz chegar às emissoras.
31
O ouvinte pode discutir os problemas de sua comunidade, questões
familiares ou amorosas, queixar-se de uma determinada loja que desrespeitou sua
condição de consumidor, reclamar da falta de água, esgoto, escola, transporte coletivo e
assistência médica, enfim reivindicar direitos de toda natureza. Os microfones das
rádios se transformam em verdadeiras tribunas livres, nas quais a insatisfação popular
ganhou importância e se tornou referência para segmentos representativos das classes
populares. Segmentos que encontram a possibilidade concreta de tornarem públicas e
colocarem perante as instâncias governamentais responsáveis pelas suas reclamações de
caráter social (BIANCO E MOREIRA, 1999, p. 72).
A relação entre o comunicador e o ouvinte alcançou níveis de
confiança no qual o poder de influência e decisão do radialista chega, em muitos casos,
a substituir instituições sociais com ação e função bastante definidas como é o caso da
própria justiça. Esse “magistrado” ganha facilmente a confiança e o respeito dos seus
ouvintes ao colocar-se como igual, ou seja, aquele que conhece e pode apreciar melhor
os problemas, porque também já os vivenciou (BIANCO e MOREIRA,1999, p. 81).
Dentro desse contexto surge a comunicação de rádio como
possibilidade real de trabalho para a pessoa com deficiência visual, já que a radiodifusão
sonora continua sendo poderoso instrumento de integração nacional em um país de
dimensões continentais como é o Brasil. Acreditamos que todo esse contexto pode ser
utilizado em beneficio da pessoa com deficiência visual que demonstra habilidade para
a comunicação de radiodifusão. Em primeiro lugar estaria incluído no mercado de
trabalho, ao mesmo tempo faria bom uso político da fala e da sua influência junto ao
público para investir na educação e compreensão de uma sociedade que pode, através da
inclusão, tornar-se mais justa e igualitária.
O presente estudo visa analisar as possibilidades de inclusão do
radialista com deficiência visual neste mercado de trabalho, nas diversas emissoras
sediadas na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, no que diz respeito a sua atuação
na locução de programas de rádio, noticiários, coberturas esportivas e afins,
compreendendo-se que hoje tais sujeitos encontram-se à margem deste mercado, com
raras exceções.
Partindo-se deste estudo, pretendemos contribuir com uma concepção
de cegueira a partir de uma ótica mais ampla, que não somente o modelo médico ou
educacional e observar como poderia se dar o processo de inclusão dos radialistas com
deficiência visual nas emissoras de rádio da cidade de Natal, justificando porque é
32
preciso dar vez à voz dos mesmos. Pretende-se que, por meio da história dos sujeitos
implicados na pesquisa, ou seja, os radialistas com deficiência visual, seja possível
entender a cegueira como uma experiência perceptiva em contrapartida à visão de
cegueira como uma desvantagem e uma limitação.
Sendo o porta-voz dos menos favorecidos, na relação de cumplicidade
que um radialista estabelece com seu ouvinte, almeja-se pesquisar como a pessoa com
deficiência visual poderia vir a desempenhar o papel de comunicador. Dentro desta
perspectiva se crê que este pode fazer uso deste poder político do rádio, da história
crítica de sua influência para permear e interferir no espaço social, estabelecendo
mediações com a sociedade e se posicionando em seu meio na luta pela produção de
significados resultantes da experiência social.
Essas são, em parte, as razões que justificam a pesquisa, que
pressupõe, sem dúvida, a profissionalização da pessoa com deficiência visual no setor
da comunicação de rádio, para que este, valendo-se das ondas radiofônicas, possa ele
mesmo, ter voz e maior abrangência das suas mensagens.
33
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Metodologia
2.1.1 Caracterização da pesquisa
Este estudo caracterizou-se como do tipo exploratório, propondo-se
uma análise qualitativa.
2.1.2 Procedimentos
A metodologia adotada foi a pesquisa de campo vista por nós como o
que melhor nos possibilita conseguirmos, não só uma aproximação com aquilo que
desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da
realidade presente no campo, tendo como fundamental importância a relação do
pesquisador com os sujeitos a serem estudados, como sintetiza Otávio Neto (1994, p.51)
“o campo torna-se um palco de manifestações de intersubjetividades e interações entre
pesquisador e grupos estudados, propiciando a criação de novos conhecimentos.”
Fizemos uma listagem de todas as rádios AMs, FMs e Rádios
Comunitárias existentes na cidade de Natal, e a partir daí efetuamos os contatos com
cada uma delas a fim de saber se já existia a inclusão de pessoa com deficiência visual, de agora em diante caracterizados neste trabalho com as iniciais DV, - atuando na
locução de rádio ou que já tenha atuado anteriormente.
De posse destes dados investigamos a trajetória profissional de dois
radialistas cegos e um de visão normal, que já atuaram nas emissoras de rádio na cidade
de Natal. Após isso localizamos os sujeitos em questão e realizamos as entrevistas semiestruturadas, contendo questões fechadas e abertas. A entrevista é o procedimento mais
usual no trabalho de campo, buscando através dela o pesquisador obter informes
contidos nas falas dos atores sociais (CRUZ NETO, 1994, p.52). Neste sentido a
entrevista, embora seja um termo genérico é aqui entendida como uma conversa a dois
com propósitos bem definidos em dois níveis. O primeiro nível se caracteriza por uma
comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala e,
num segundo nível serve como um meio de coleta de informações sobre um
34
determinado tema científico (ibdem). Os questionamentos contidos na entrevista que
nortearam o estudo foram baseados nas seguintes categorias: profissão, qualidades,
dificuldades, oportunidades, contribuições, adaptações, formação e vocação.
Ao investigar o item “profissão” partiu-se da possibilidade de alguém
com DV atuar na função de locutor, interagindo diretamente com o público. No que diz
respeito às “qualidades” a idéia era investigar sobre quais características seriam
necessárias para que um sujeito com DV atuasse numa emissora de rádio. O estudo das
“dificuldades” partiu das experiências vivencidadas pelos profissionais com DV e dos
entraves encontrados pelos mesmos neste percurso. Já o item “oportunidades” enfocaria
a realidade da absorção da mão de obra de tais profissionais e em que funções eles
poderiam atuar nas emissoras de rádio. Investigou-se também a respeito das
“contribuições” que a entrada no mercado de trabalho traria para a pessoa invisual e
quais as adaptações poderiam ser feitas no ambiente de trabalho para absorver esta mão
de obra com mais propriedade. Quanto a “formação” a idéia era investigar o tipo de
treinamento necessário a um radialista e inquirir se os radialitas sujeitos da pesquisa já
tinham recebido algum. Tratava-se também de saber em que medida estes cursos são
oferecidos às pessoas com deficiência visual e de que maneira são adaptados para
recebê-los, promovendo uma real inclusão. Por fim, em se tratando da questão da
“vocação”, pretendia-se comparar, na perspectiva dos entrevistados, o aspecto técnico
da profissão e sua relação com a arte, propriamente dita, enquanto aptidão natural.
As entrevistas foram gravadas através de um MP3 e em seguida
transcritas para análise dos dados.
2.1.3 Análise dos dados
A partir dos dados coletados, foi realizada uma análise qualitativa de
conteúdo com exploração de todo material, e subsequente interpretação das opiniões
levantadas. A entrevista de cada participante foi lida e relida, comparando-se as
opiniões de cada um a fim de analisar as categorias estabelecidas no estudo que
permitissem avaliar as possíveis condições de inclusão da pessoa com deficiência visual
em alguma emissora de rádio.
35
2.2 Resultados e Discussão
No levantamento realizado em todas as emissoras de rádio na cidade de
Natal encontramos dados de apenas um radialista não vidente que tinha atuado
profissionalmente por dois anos. Além disso, encontramos dados de outro radialista que
depois de ter atuado no rádio por dezoito anos, perdeu a visão, atuando ainda por um
período de onze anos como radialista nessa condição. Assim sendo, foi feita a opção de
entrevistar também um radialista vidente a fim de poder comparar essas três
experiências e conseguir identificar as possibilidades de inserção da pessoa com DV
nesse mercado de trabalho.
No decorrer da análise de cada entrevista em consonância com as oito
categorias de maior relevância já explicitadas anteriormente, tratamos os três sujeitos
que participaram da pesquisa como RV (Radialista Vidente); RNV (Radialista Não
Vidente) e RVNV (Radialista Vidente - Não vidente); agrupamos as perguntas e as
respostas e discutimos cada uma delas sucessivamente.
Destacamos que na apresentação dos resultados foram considerados
apenas os trechos de fala relacionados com as categorias estabelecidas a partir dos
objetivos do estudo. Esses trechos foram separados por colchetes com reticências para
indicar a interrupção da fala dos entrevistados apresentadas em alguns momentos de
modo literal e, em outros, com correções, em função da necessidade de torná-las mais
claras ao leitor. Ainda sobre a apresentação das transcrições, em alguns momentos,
utilizamos parênteses para marcar interrupções e explicações.
Os nomes dos sujeitos no Quadro 1 que se segue encontram-se apenas
com suas iniciais e a caracterização de acordo com o que foi explicado acima, seguida
do sexo, faixa etária, profissão e o tempo que exerceu (ou exerce) a profissão em
emissora profissional. Todos os participantes são radialistas do sexo masculino com
idade entre 35 a 57 anos, com tempo de profissão de 02 a 33 anos (Quadro 1).
Quadro 1- Caracterização da amostra
Nome
Sexo
Idade
Profissão
Tempo no rádio
EOD (RV)
Masculino
35 anos
Radialista
18 anos
JT (RNV)
Masculino
39 anos
Radialista
02 anos
36
JJPM (RVNV)
Masculino
57 anos
Radialista
33 anos
No que diz respeito à profissão (Quadro 2) todos os entrevistados já
trabalharam no rádio, mas apenas o RV continua trabalhando. O RNV atuou no rádio
por apenas dois anos e o RVNV atuou por 25 anos e já não atua mais em rádios
profissionais, mas apenas em rádios comunitárias, sendo este tempo de rádio
comunitária incluído no quadro acima. Levando-se em conta esta informação infere-se
que existe a possibilidade de uma pessoa com deficiência visual ocupar esta função,
entretanto apenas o RV permanece exercendo formalmente a profissão. O RVNV
mencionou que, embora já aposentado e trabalhando em uma rádio comunitária
reconhece que poderia atuar na rádio profissional e que hoje nem entende porque não o
faz. Porém, foi levantada a impossibilidade de uma contratação formal em função do
mesmo ter uma aposentadoria paga pelo INSS, por invalidez.
O entrevistado RNV que atuou apenas dois anos no rádio confirma a
razão citada pelo colega, explicando que as dificuldades maiores se referem a
instabilidade no emprego, gerando insegurança em abrir mão do salário que advém da
aposentadoria por invalidez para arriscar a profissão no rádio, uma vez que percebe
tanto preconceito e exclusão.
Os três entrevistados afirmaram nunca terem trabalhado em emissora
de rádio profissional em Natal com um colega com deficiência visual, entretanto, eles
tiveram conhecimento de pessoas com deficiência visual atuando como radialista. De
acordo com o RV a pessoa que ele conhecia atuava em rádio comunitária e os RNV e
RVNV tinham conhecimento de duas pessoas com deficiência que trabalharam em
emissoras de outros estados.
Ao serem inquiridos a respeito da sua experiência pessoal na área de
radialismo, da possibilidade de alguém com deficiência visual atuar nessa área,
exercendo a função de locutor, o RV respondeu que seria algo inédito em Natal. O RNV
acredita que uma pessoa com DV poderia realizar esta função sem grandes dificuldades,
bastando ter os conhecimentos e capacidades relativos a esta área e o RVNV assumiu
que é necessário se dedicar
realmente, ter muita força de vontade e habilidade,
concordando em sua fala enfática com a resposta do colega RNV. É importante observar
que o RVNV fala como alguém que já enxergou anteriormente e, perdendo a visão
seguiu com sua experiência no rádio.
37
Quadro 2- Percepção dos radialistas quanto ao exercício da profissão.
Profissão
Questão 1
O que você acha, a partir da
sua experiência na área de
radialismo, de alguém com
deficiência visual atuar nessa
área, exercendo a função de
locutor?
Vidente (RV)
Não vidente (RNV)
Vidente-não vidente
(RVNV)
Seria uma coisa inédita aqui Não
teria
problema Precisa ter o dom, se dedicar
em Natal. [...] Eu conheço nenhum; é uma função que realmente, ter muita força de
só um, José Jorge que é o deficiente pode realizar vontade.
locutor esportivo.
com pleno êxito.[...] É um
dom.
Ao serem inquiridos sobre as qualidades requeridas para que um
sujeito com DV possa atuar no rádio (Quadro 3), os três entrevistados se colocaram da
mesma maneira no que diz respeito a sua própria experiência de interação com o rádio,
sendo que o RV acrescentou que considera a visão desnecessária para o processo,
considerando que é a voz que faz o rádio, o que nos leva a crer que é a voz e não a visão
a responsável pelo sentimento de presença e companhia, no que foi apoiado pelo RNV o
qual assegurou haver nascido para o radialismo e ter o rádio como companhia vinte e
quatro horas por dia. O RVNV assegurou a necessidade de ser polêmico. Ao que parece
a polêmica mantém o interesse do ouvinte, o qual, envolvido pela fala do radialista
mantém-se preso ao rádio, o que nos leva de novo a sugerir que a voz é, por assim dizer,
o carro chefe nessa profissão.
Quadro 3- Percepção dos radialistas quanto as qualidades necessárias para o exercício da
profissão.
Possibilidades
Vidente (RV)
Não vidente
Vidente-não vidente
Questão 2
(RNV)
(RVNV)
Porque você acha que Só precisa usar a voz, não Vivo o rádio 24 horas por Tem de ser polêmico. Eu já
mesmo com deficiência a visão. [...] Rádio é dia. Nasci pra isso.
nasci no rádio [...]. Estava lá
visual um sujeito pode companhia, rádio é voz.
com cinco anos de idade.
trabalhar numa emissora de
rádio? Que qualidades você
poderia reconhecer num
deficiente visual para
desenvolver este trabalho?
No item ‘Dificuldades’ a pergunta dirigida ao RV sofreu uma pequena
mudança de foco, voltando-se para as dificuldades encontradas pela pessoa com DV e
não as dificuldades encontradas pelo entrevistado. O mesmo entende que possivelmente
38
o DV encontrasse algumas dificuldades, mas as mesmas não seriam impeditivas, desde
que fosse colocada a disposição do radialista DV uma outra pessoa para operar a mesa,
já que o locutor é quem exerce essa função na rádio FM. O RV entende que a pessoa
com DV não daria conta de fazer o trabalho de locução e ao mesmo tempo operar a
mesa. A resposta do RNV não tratou de nenhum aspecto técnico propriamente, mas
enfocou a dificuldade de convencer o empresário do rádio a respeito da sua capacidade.
Já o RVNV demonstrou ter sofrido uma dificuldade particular, ligada a seus próprios
sentimentos com relação a cegueira e não mencionou dificuldades objetivas,
acrescentando apenas que teve que fazer algumas adaptações.
A pergunta a respeito dos roteiros em braille3 os três foram unânimes
em dispensar esse recurso, entendendo que memorizar ou gravar as informações, ou
mesmo falar de improviso, isto é, baseados apenas no conhecimento das informações,
sem scripts, seria mais prático. No que diz respeito à necessidade de uma capacitação
para o radialista com DV os três concordam que esta tem a sua importância e alistaram
motivos diferentes. O RV prioriza um treinamento para a memória em função das
muitas tarefas agendadas. O RNV acha que tal treinamento é essencial para promover a
interação com o operador. O RVNV crê que apenas alguém que nunca teve uma
experiência prévia no rádio, antes de deixar de enxergar teria essa necessidade.
No nosso entender as dificuldades encontradas não foram de grande
estirpe, uma vez que os três radialistas não apontaram faltas objetivas. Entretanto vale
realçar a resposta do RNV à primeira pergunta deste item, a qual reforça a idéia
concebida pelas pessoas com DV a respeito do preconceito que eles têm que enfrentar
no campo profissional.
No que tange as oportunidades para o exercício da profissão a
percepção dos radialistas quanto ao mercado e absorção da mão de obra de um radialista
DV foi assim colocada: o RV tomou como certa a absorção das referidas pessoas no
mercado, desde que a mesma tivesse talento reconhecido; o RNV também parece ter
certeza quanto a oportunidade baseado na capacidade de raciocínio dos radialistas DV e
a capacidade de absorver informações por estar em companhia do rádio o dia todo. Já o
3
Braille: sistema de leitura e escrita para cegos inventado pelo francês Louis Braille. O sistema de Braille
aproveita-se da sensibilidade epicrítica do ser humano, a capacidade de distinguir na polpa digital pequenas
diferenças de posicionamento entre dois pontos diferentes.
39
RVNV intitulou a oportunidade de entrada no mercado em questão como ‘um sonho
irrealizável’ e alistou em seguida o preconceito, as programações retransmitidas, que
classifica de programações ‘enlatadas’ (em detrimento das produções locais) e a
decadência das rádios AM’s.
Observando esta questão e comparando as respostas diferenciadas e
antagônicas entendemos que, se por um lado a mão de obra da pessoa DV pode ser
considerada e até aceita, por outro se depara com a realidade expressa na resposta do
RVNV que aponta para a decadência do rádio, particularmente as rádios AM’s;
observa-se também que a programação retransmitida pelas emissoras diminui a
transmissão de produções locais; tal decadência aponta para um futuro desemprego na
área de radialismo.
Quadro 4- Percepção dos radialistas quanto as dificuldades para o exercício da profissão.
Dificuldades
Vidente (RV)
Questão 3
Que dificuldades você (a resposta dele diz
encontrou para exercer a respeito ao deficiente).
função de locutor?
...teria algumas, mas isso
não iria atrapalhar o
desempenho. [...] A
emissora teria que
dispensar mais um
operador de áudio para
essa pessoa, alguém para
operar a mesa de som...[...]
a dificuldade não seria
decisiva para impedir que
uma emissora desse
chance [...] .isso não seria
difícil para o deficiente
visual.
Você acha que é necessário Basta apenas o deficiente
ter roteiros (scripts) em visual memorizar.
Braille para exercer a função
de locutor?
Na emissora de rádio é Acho que o treinamento
necessário a pessoa com que ele deve fazer é o de
deficiência visual fazer memorização, pois são
algum treinamento?
muitas as tarefas para
memorizar.
Não vidente
Vidente-não vidente
(RNV)
(RVNV)
Convencer o empresário No começo pensei que o
de rádio de que você é mundo tinha acabado
capaz.
(quando perdeu a visão),
depois fiz as adaptações.
Eu fui ensinado por José Seria bom, mas eu prefiro
Jorge a usar um gravador. falar de improviso.
É necessário, sim,
principalmente para se
entrosar com seu
operador de rádio, senão
vai ficar falando sozinho.
Acho importante. Eu nunca
fiz porque nasci no rádio e
enxergava, mas quem nunca
teve experiência precisa.
Ainda tendo como tópico as oportunidades foram sugeridas as funções
que a pessoa com DV poderia exercer numa emissora de rádio, bem como: locução,
diretor de produção, roteirista, assistente de estúdio, operador de câmera, operador de
40
som de estúdio, projetista de estúdio, auxiliar de discotecário, continuista, filmotecário,
dublagem, contra-regra, sonoplastia, operador de mixagem.
É importante acrescentar que tais funções não englobam todas as
funções existentes numa emissora, nem tampouco foram escolhidas pensando-se na
questão da deficiência visual, no entanto, à esta lista
todos os três radialistas
responderam que todas as funções, a princípio poderiam ser exercidas por uma pessoa
com DV, mas em seguida acrescentaram pequenas sugestões que marcavam algumas
delas como tendo um maior grau de dificuldade, como por exemplo: Diretor de
produção, Roteirista, Projetista de estúdio, Dublagem (RV); Assistente de estúdio
(RNV); operador de câmara, continuísta e filmotecário (RVNV); todas, entretanto
poderiam ser exercidas, desde que fossem acrescentados treinamento, auxiliares,
experiência profissional e desenvoltura natural.
Pode-se observar nestas respostas que o RV alistou maior número de
funções que considerou dificultosas, enquanto o RNV encontrou apenas uma e o RVNV
encontrou apenas três. Também são dignas de nota as sugestões oferecidas para sanar
as dificuldades das funções mais dificultosas. O RV sugeriu a ajuda de um auxiliar; o
RNV acrescentou que precisaria de desenvoltura e o RVNV encontrou solução num
treinamento. As oportunidades, entretanto, existem a partir destas respostas e são
amplas e quase irrestritas.
Quadro 5- Percepção dos radialistas quanto as oportunidades para o exercício da profissão.
Oportunidades
Questão 4
Você acha que o mercado
de trabalho na área de
radialismo absorveria a sua
mão de obra? Por quê?
Qual a(s) função(ões) que o
deficiente visual poderia
exercer numa emissora de
rádio?
Vidente (RV)
Não vidente (RNV)
Com certeza. A essência do
rádio é comunicar. [...] Uma
pessoa com talento, mesmo
deficiente visual não passaria
despercebido ao empresariado
de rádio.
Com
certeza
[...]
absorveria sim, pela
capacidade de raciocínio
do radialista deficiente e
por estar sempre muito
bem informado, já que
tem como companheiro o
próprio rádio 24 horas.
Todas. Assistente de
estúdio eu acho mais
complicado, mas depende
da desenvoltura da pessoa.
Todas, mas o Diretor de
produção é muito difícil, não
se encaixaria bem [...].
Roteirista, só com um auxiliar.
Projetista de estúdio... [...] não
acho que essa aí seria uma
área aproveitável...
Vidente-não vidente
(RVNV)
Seria muito difícil por causa do
preconceito, das programações
“enlatadas” e não locais. Por causa
da decadência da rádio AM que
torna difícil emprego até para
quem vê, imagine para um
deficiente.[...]
Um
sonho
irrealizável.
Todas, menos operador de
câmara; continuísta e filmotecário,
[...] só com treinamento.
41
Em se tratando das contribuições que o exercício da profissão traria
para a pessoa com DV o RV referiu que a oportunidade seria um exemplo de
responsabilidade social que teria como consequência maior visibilidade para a empresa;
acrescentou que ajudaria na auto-estima da pessoa com DV e estimularia outras pessoas
com a mesma deficiência a enfrentar a procura por igual oportunidade. Opinou que a
presença de uma pessoa com DV nos programas e campanhas de doação de órgãos
angariaria maior interesse dos ouvintes. O RNV concordou que o aumento da autoestima com a inclusão no mercado de trabalho faz a pessoa com DV sentir-se útil para a
sociedade, além do prazer de exercer a função que ‘se nasceu pra fazer’. O RVNV
entende que as contribuições seriam muitas. Usando o verbo no futuro do pretérito o
entrevistado parece ver essa possibilidade como algo ainda distante, já que, novamente
repete que acredita ser “um sonho irrealizável”. Dá-se a si mesmo como exemplo,
realçando o fato de hoje trabalhar numa rádio comunitária mesmo sabendo que poderia
trabalhar numa rádio grande.
Os três entrevistados parecem ser unânimes no que diz respeito às
contribuições que a entrada no mercado de trabalho na área de radiodifusão poderia
trazer para a pessoa com DV, embora o último (RVNV) pareça incrédulo de que isso
poderá vir a acontecer. É importante fazer notar também a lembrança do RV quando se
refere à visibilidade que uma empresa recebe quando demonstra ter responsabilidade
social e o retorno de tal visibilidade que redunda em merchandising positivo e
consequente retorno financeiro.
Quadro 6- Percepção dos radialistas quanto as contribuições que o exercício da profissão traz
para a pessoa com deficiência visual.
Contribuições
Vidente (RV)
Não vidente (RNV)
Vidente-não
Questão 5
vidente (RVNV)
Que contribuições você acha Oportunidade, [...] daria Aumenta a auto-estima, Muitas...poderia trazer
Poderia..[...].
que o trabalho na rádio traria exemplo, [...] além de ajudar inclui o deficente no muitas...
para a pessoa com na auto-estima ajudaria a mercado de trabalho,[...] a agora é um sonho que eu
deficiência visual?
outras pessoas que tem gente se sente útil para a acho irrealizável porque
vontade de procurar uma sociedade, exercendo uma hoje eu trabalho numa
empresa, mas não tem função principalmente rádio comunitária, mesmo
coragem porque acha que aquela que a gente nasceu sabendo que eu tenho
condições de trabalhar
vai ser rejeitado. Tornaria as para fazer.
campanhas para doação
numa rádio grande...
mais interessantes...
Daria visibilidade à emissora
quanto a oportunidade às
pessoas com DV.
42
As adaptações requeridas para receber um radialista com DV foram
analisadas pelos radialistas de diferentes maneiras. De acordo com a percepção do RV o
que poderia ser feito para que esta inclusão ocorresse com mais propriedade se resume
em uma simples tentativa de fazer uma apresentação para demonstração das habilidades
do radialista, na emissora, a fim de ser avaliado. Uma vez demonstrando ter as
qualidades ideais para a função, com certeza seria admitido. O RNV referiu-se a quebra
do preconceito e o RVNV se colocou falando da falta de atuação do Sindicato dos
radialistas dizendo que o sindicato é fraco em não agir exigindo o cumprimento da lei,
na sua determinação de que a programação de rádio obrigatoriamente seria 75% local.
Essa colocação parece ter ligação com o fato de que a programação vinda de fora,
retransmitida pelas emissoras geram desemprego para muitos profissionais do rádio.
Ainda no que diz respeito às adaptações no sentido mais concreto e
técnico o RV sugeriu novamente a ajuda de outra pessoa que faria lembretes, auxiliaria
a pessoa com DV na memorização das tarefas e faria narrações dos programas para o
locutor com DV executar. Já o RNV se colocou em desacordo com a primeira resposta
demonstrando que contratar pessoas seria desnecessário. Enfatizou como maior
necessidade mudanças no ambiente externo, cuidados com as barreiras arquitetônicas,
sem esquecer do ambiente interno e os equipamentos inadequados. Sugeriu que a
instalação do programa Jaws4 resolveria os pequenos entraves que a pessoa com DV
poderia vir a enfrentar. O referido programa de computação deveria ser instalado
principalmente nas emissoras de FM, onde o operador e o locutor são o mesmo.
Explicou que o mencionado programa serve para selecionar música, blocos comerciais,
apenas com um comando de voz, bastando apenas que tenha duas faixas de som no
computador. O RNV disse que esse programa não está instalado em nenhuma emissora
comercial na cidade de Natal e que já tinha feito a proposta de instalação nas emissoras
onde trabalhou, mas não obteve resposta. O RNV acrescentou que a informática tornase hoje a ferramenta que faltava para facilitar a vida da pessoa com DV. O RVNV não
acha que sejam necessárias quaisquer adaptações, mas apenas que o radialista com DV
conheça o equipamento.
É valioso pensar na ajuda que a informática vem trazer para todos,
particularmente para a pessoa com DV. O entrevistado RVNV mencionou a experiência
4
JAWS: O Jaws é um software do tipo ledor de tela que fornece assistência para que pessoas com
deficiência visual possam utilizar melhor o computador.
43
de ter tido um estúdio montado em sua casa logo que perdeu a visão, utlizando o
programa Dosvox5 e que, graças ao seu contato com a informática pôde continuar
atuando por onze anos depois de ter adquirido cegueira e hoje pode efetuar gravações de
comerciais através do computador.
Quadro 7- Percepção dos radialistas quanto as adaptações necessárias para o exercício da
profissão.
Adaptações
Questão 6
O que poderia ser feito para
incluir com mais propriedade
o deficiente visual nesse
mercado de trabalho?
O que poderia ser adaptado
na emissora de rádio para
absorver o trabalho de uma
pessoa com deficiência
visual?
5
Vidente (RV)
Não vidente
(RNV)
Em primeiro lugar uma Diminuir o preconceito.
tentativa... alguém que
pudesse trazê-lo a uma
emissora, trazer uma
proposta... [...] se nessa
apresentação essa pessoa
com deficiência visual
tiver qualidades, a
emissora tem condições
para colocá-la no ar...
O principal é ter alguém Contratar pessoas é
O
da emissora que fosse desnecessário.
colocado para ficar ambiente externo com
fazendo os lembretes [...] certeza, [...] o ambiente
fazer um trabalho de interno precisa ser
memorização [...] o melhorado. [...] hoje a
departamento
de instalaçao do Jaws
promoções teria que dar resolve quase tudo. Ele
maior atenção. Não seria pode ser instalado no
necessário
grandes computador,
mudanças, apenas alguém principalmente
nas
de cada setor que diria: emissoras de FM, que o
você vai executar tal operador e o locutor são o
[...]
Para
música e tais promoções mesmo
[...] alguém ficaria selecionar música, blocos
lembrando verbalmente, comerciais, com um
fazendo uma narração pra comando de voz no
ele de cada área, de cada computador dá para o
programa que ele fosse deficiente fazer [...] não
fazer.
tem nenhuma (emissora)
aqui em Natal (com o
jaws instalado). A
informática
é
a
ferramenta que faltava.
Vidente-não vidente
(RVNV)
O sindicato do radialista, que é
muito fraco, poderia agir,
porque, ao que me parece
existe uma lei que determina
que 75% da programação de
rádio tem que ser local. [...].
Mas essa lei não é cumprida...
Você fala de adaptação
do...sistema,
da
parte
técnica...bom...hoje a parte
técnica...[...] é aquilo que eu
falei, eu trabalhei com Sidney,
na rádio Nova Visão e ele
fazia tudo na mesa de
áudio...[...] ele colocava
tudo...na mesa de áudio... Sem
nenhuma
adaptação...
trouxeram uma pessoa para
ensinar...depois que ele pegou
não teve problema.
DOSVOX: sistema para microcomputadores que se comunica com a pessoa que tem deficiência visual
por meio de síntese de voz. O software é gratuito e foi desenvolvido pelo Núcleo de Computação
Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
44
No item que diz respeito a formação, apenas dois dos entrevistados
(RV e RNV) fizeram algum curso de capacitação para o exercício da profissão. O
terceiro entrevistado (RVNV) não fez curso por não haver obrigatoriedade na época em
que foi admitido como radialista.
Buscando conhecer mais a respeito dos cursos de capacitação para a
área de radialismo observamos que estes existem em larga escala em todo o Brasil, tanto
a nível técnico como a nível universitário; tanto cursos presenciais quanto cursos a
distância, via internet. Na cidade de Natal-RN estes cursos são oferecidos pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mediante a aprovação no vestibular e
pelas universidades e faculdades privadas, com o intuito de preparar pessoas para
exercerem a função de radialista. Estes cursos, porém, de acordo com dois dos três
sujeitos entrevistados (RV e RNV) colocam que os cursos não estão preparados para
receber alunos com DV. Somente o terceiro entrevistado (RVNV) sugeriu que os cursos
são bem ministrados, embora ele mesmo nunca tenha participado de nenhum.
Mencionaram todos também que os cursos não ministram disciplinas a respeito da
inclusão da pessoa com DV. Os dois entrevistados (RNV e RVNV) apontaram como
falta nos cursos de formação a ausência das apostilas em braille, para que ocorra uma
melhor aprendizagem e participação da pessoa com DV. O RV não apontou falta
específica, mas apenas as faltas usuais que ocorrem em muitos lugares, como ruas,
universidades e escolas formadoras de profissionais, entretanto pontuou que a formação
de um radialista não passa necessariamente por um campo teórico, mas basta ter voz,
tempo, dedicação e talento.
Quadro 8- Percepção dos radialistas quanto a formação necessária para o exercício da profissão.
Formação
Vidente (RV)
Questão 7
Você já fez algum curso de Eu comecei...(um curso)
radialismo? Se sim, por que? [...] tenho formação
Se não, por que?
acadêmica em jornalismo
e, por vocação sou
radialista.
Não vidente
Vidente-não vidente
(RNV)
(RVNV)
Sim, por determinação Não, porque naquela época....
do
sindicato
dos a profissão não era
radialistas. Em 1989 eu reconhecida.
estagiava na rádio Poti
quando fui retirado do ar
porque eu não tinha curso
de radialista, então fiz um
curso com duração de
oito meses.
Durante o curso você teve
algum
colega
com
deficiência visual, ou teve
conhecimento de alguém
Tive dois colegas, o
Francisco Daniel e o
Ronaldo
Tavares.
Tambem fiquei sabendo
A única oportunidade de
conhecer um radialista
cego foi o José Jorge. Eu
até perguntei como ele
Nildo, Daniel... [...] estavam
atuando na Rádio Rural e o
sindicato tirou do ar porque
não tinham curso...Eles
45
que já tenha cursado?
conseguia fazer isso, ele
me disse que decorava,
absorvia as informações e
memorizava...
de outras pessoas que já
trabalhavam como o
José
Jorge...[...]
não...desculpe, o José
Jorge veio depois, mas
tenho um outro colega na
Paraiba,
o
Darci
Cachoeira, que eu
também conheci....
Na época em que eu fiz,
não. A gente fez mais na
vontade, na superação,
hoje eu não tenho assim
muito conhecimento,
mas sei que os cursos
estão mais rápidos,
durando apenas três
meses...
Os cursos que você fez ou
conhece nessa área estão
prontos para receber um
aluno com deficiência visual,
proporcionando a ele as
mesmas oportunidades dos
demais?
Acho que não, a
universidade...[...] eu não
conheço o curso, mas pelo
que eu ouço falar são
poucas as escolas hoje...e
no âmbito geral, não só na
universidade, mas os
deficientes visuais tem
dificuldades em andar nas
ruas, no trânsito, em
shoppings...[...]
essa
deficiência que as escolas
tem,
essas
escolas
formadoras
de
profissionais
com
deficiência elas tem
dificuldade também de
receber esses profissionais
com deficiência visual.
Na grade curricular do curso
que você fez tinha alguma
disciplina que envolvia o
tema da inclusão social da
pessoa com deficiência?
Não lembro...[...] na Não, na epoca, não. Na
universidade
como epoca não tinha...
jornalista..[...] se falava
muito em algumas aulas,
mas sempre ficava só no
falar, mas nas cadeiras que
eram pagas não tinha essa
temática
mais
aprofundada de inclusão
dos deficientes visuais.
Pelo
menos
juridicamente...[...] o sindicato
fazia cursos para legalizar o
pessoal.... eu lutei muito na
ADVIRN para que as
pessoas que estavam lá
fazendo radio fizessem o
curso...
O que você acha que falta
nos cursos de radialismo para
uma pessoa com deficiência
visual tornar-se radialista?
Basta querer..[...] ter um
pouquinho de talento, um
pouquinho de voz...[...]
muita dedicação, tempo. A
formação de um radialista
e especialmente um
radialista com deficiência
visual...
não
passa
especificamente por um
campo muito teórico...[...]
Um comunicar de rádio de
sucesso e com bom
desempenho, ele é
formado por vários fatores:
vocação, dedicação, boa
O que falta nos cursos...o que
poderia ser acrescentado...[...]
o Braille. A leitura braile é
essencial para a pessoa que
vai começar no rádio.
É
necessário
por
exemplo ter as apostilas
em braille, é mais fácil;.
Eu creio que as apostilas
estando em braille
facilita.
fizeram o curso do sindicato.
Disseram que era obrigado
fazer o curso.
É... Inclusive porque os curso
são
ministrados
por
professores e radialistas
profissionais. Sempre tem um
professor de português,
professor de comunicação e
os próprios radialistas que
ministram o curso... [...]
muitas pessoas boas, além do
professor de comunicação da
UFRN.
46
dicção, um bom domínio
da língua portuguesa...
No que diz respeito à vocação os três entrevistados foram unânimes em
afirmar a relação do radialismo com o dom. Definem a voz como um dom, como algo
artístico que vem “do berço”. Sendo assim, não parece ser, segundo eles, tão necessária
a técnica na comunicação, muito menos a visão, mas basta ter boa oralidade e outras
qualidades usuais como boa memória e raciocínio rápido para poder exercer a profissão
de locutor de rádio.
Entretanto, analisando tanto as respostas dos entrevistados, como suas
posições pessoais frente ao mercado de trabalho e enfrentamento dos preconceitos, bem
como sua situação atual, - observamos que dois dos entrevistados, justamente os que
não enxergam estão desempregados, fora das emissoras, embora tenham competência
reconhecida e experiência na área. Com base nessa análise é possível concluir que a
realidade do mercado de trabalho da cidade de Natal, no que diz respeito às emissoras
de radio e sua relação com o radialista com DV não parece realmente aberto a absorver
esta mão de obra. Entende-se que mesmo tendo capacidade para o exercício da profissão
não tem conseguido sua inclusão no dito mercado, uma vez que na nossa amostra de
profissionais da radiodifusão com DV apenas um dos radialistas (RVNV) se encontra
hoje “trabalhando” em uma rádio comunitária, no entanto, nenhum profissional do
rádio, na amostra e além desta, atua, hoje, profissionalmente, como radialista em
emissoras comerciais na cidade de Natal.
Quadro 9- Percepção dos radialistas quanto a vocação para o exercício da profissão.
Vocação
Questão 8
Vidente (RV)
A comunicação no rádio é
um pouco de dom, de
vocação. É uma coisa
mais artística. Não é uma
coisa técnica, é mais de
vocação [...] no Brasil ser
radialista hoje é mais
questão de vocação e dom.
Não vidente
(RNV)
[...] porque falar é um
dom e você tendo o dom
[...] nasceu “pra quilo”,
desenvolve sua profissão
sem maiores problemas.
Vidente-não vidente
(RVNV)
[...]...porque eu acho que o
rádio é berço. Eu acho que [...]
as pessoas falam muito, mas
eu acho que o rádio...[...] o
radialista já nasce com o dom.
47
48
3 CONCIDERAÇÕES FINAIS
A comunicação, do ponto de vista da matriz sócio-histórica é um
processo que faz parte das relações sociais, é uma necessidade humana. Segundo
Pedrinho A. Guareschi (2004) a comunicação é o mais forte dos poderes e este
fenômeno misterioso é ainda carente de estudos. Segundo o autor “não seria exagero
dizer que a comunicação constrói a realidade e que esta existe ou deixa de existir se
apenas for silenciada pelos meios de comunicação ((GUARESCHI, 2004, p.14).
Parece-nos correto, então pensar que, quem detém a comunicação também detém o
poder, detém a existência das coisas, a difusão de idéias, a criação da opinião pública.
O mais importante é que, quem detém a comunicação chega até a
definir os outros, definir determinados grupos sociais como sendo melhores
ou piores, confiáveis ou não confiáveis (...). Quem tem a palavra constrói
identidades pessoais ou sociais (GUARESCHI, 2004, p. 15).
De fato os meios de comunicação estão sempre presentes e são fator
indispensável
tanto na criação como na transmissão, mudança, legitimação
e
reprodução de determinada cultura, sendo uma das relações mais persuasivas e
abrangentes (GUARESCHI 2004, p. 20). Dentre os meios de comunicação destacamos
o rádio, ainda grande companheiro das massas e, de acordo com o objeto da nossa
pesquisa grande instrumento para contribuir com o processo de inclusão.
De acordo com Esch (1999, p. 70),
o rádio entretém, informa, é companheiro e acima de tudo presta serviço
para o seu público. Caracteriza-se também por apresentar programações
bastante diversificadas que procuram com dinamismo e linguagem coloquial
criar um clima vibrante e estimulante para seu ouvinte.
No dizer de Chantler (1992, p. 21) “o rádio é um meio muito pessoal,
pois o locutor fala diretamente para o ouvinte, considerando cada um como se fosse
uma pessoa individual, embora tecnicamente se saiba que um locutor quando fala está
falando para massas através de um sistema gigantesco de transmissão de mensagens.
Para o que ouve, porém, o locutor esta falando com ele apenas, como se estivesse
conversando”.
49
Pelo rádio também é possível se captar toda a emoção da voz humana,
o que transmite sensações mais fortes do que a leitura de um texto sobre o mesmo
acontecimento. Isso ocorre porque o modo de dizer as coisas influencia sobremaneira
naquilo que é dito.
Provavelmente, levando em conta toda a gama de valores que tem o
rádio enquanto veículo de comunicação esse espaço acabou sendo cedido para os
comunicadores populistas, os pregadores eletrônicos e o jornalismo de merchandising.
Os departamentos comerciais foram desarticulados e a produção artística praticamente
desapareceu da programação das emissoras. A profissionalização no rádio piorou de
qualidade em quase todas as funções e a remuneração tornou-se irrisória. A queda de
faturamento dificultou a modernização física das emissoras e a contratação de pessoal
qualificado. Equipamentos de produção e operação tecnicamente superados e mal
conservados contribuem para piorar a qualidade de transmissão das emissoras –
particularmente das AMs (BIANCO E MOREIRA, 1999, p. 43).
Em meio a todas essas questões citadas encontra-se a pessoa com DV
que tem talento para o radialismo, formação e desejo de ingressar nessa profissão. É a
partir desse momento que elas iniciam sua jornada com encontros que lhes
proporcionam sentimento de fracasso e exclusão. No caso da pessoa com deficiência
visual os scripts em braille, embora sejam importantes não oferecem uma opção muito
viável, uma vez que as tarefas cotidianas agendadas para o radialista são muitas e as
informações são dinâmicas e urgentes, requerendo do profissional extrema agilidade.
Isso nem sempre é possível com a utilização de uma reglete6, sendo necessários, no caso
de se ter scripts, equipamentos mais sofisticados como impressora braille. Entretanto
esta ferramenta também não seria adequada, pois sendo o sistema braille muito extenso,
as agendas e notícias necessitariam ser impressas em muitas folhas, o que dificultaria a
“interação” do radialista com o microfone, pois segundo Chantler (1992, p. 76):
“O microfone é um equipamento sensível, que amplifica o som de tudo o que é
possível, desde a voz até a respiração. A distância do microfone, então, é
sobremaneira importante. Se tiver perto demais o estalo dos lábios e a força
exagerada das consoantes tornam a voz desagradável para ser ouvida. Se muito
longe vira uma reverberação forte que dificulta a audição”
Uma pessoa de apoio contratada para auxiliar a pessoa com DV seria
um ônus a mais para a emissora, sustentando ainda o preconceito de dependência que
6
REGLETE: Equipamento utilizado para auxiliar na escrita do sistema braille.
50
a pessoa com DV tanto quer quebrar. Seria necessário apenas que o mesmo recebesse
as notícias em tempo hábil para poder gravá-las e repetí-las, pois segundo os próprios
radialistas com DV entrevistados “o convencional é que a pessoa com DV use mesmo
um pequeno gravador para gravar as informações mais longas e memorize as demais
agendas” (JT - RNV). Ademais não podem ser descartados os cursos que oferecem
formação para estas pessoas e pensem em soluções dos pequenos problemas que
surgem no rádio para qualquer profissional, sendo isso ainda mais verdadeiro no que
diz respeito a pessoa com DV.
A falta de pesquisas nessa área, também foi observada. Já existem
muitos trabalhos que tratam da relação intensa da pessoa com DV e o rádio, entretanto
são poucos os que pensam na pessoa com DV ocupando essa “tribuna livre”, fazendo
suas considerações e levando à comunidade, ele mesmo, a sua mensagem. Segundo
essa realidade constatada é como se o rádio e toda a gama de possibilidades advindas
da relação com seus ouvintes fossem direito e posse apenas dos que possuem visão
normal.
Esse fato ocorre ainda em função do olhar da pessoa de visão normal,
dita vidente, em relação à pessoa com DV, como bem lembra Eline Porto, recorrendo
a Elcie Masini (PORTO, 2005, p. 105)
na relação entre o cego e o vidente, a identidade do deficiente visual
estabelece-se a partir da falta da visão e não da presença dos outros
sentidos.
Essa assertiva dita de outro modo chama a nossa atenção para o fato
de que a pessoa com deficiência visual é considerada mais pela falta, do que pelas
suas possibilidades, pela positividade dos sentidos que ele possui.
Em razão de esta ser uma pesquisa que tem como objetivo principal
estudar as possibilidades de inserção da pessoa com DV no mercado de trabalho na
área de radialismo na cidade de Natal espera-se, por meio destas reflexões e dos dados
aqui lançados, poder contribuir com alguma informação a fim de possibilitar o
vislumbramento da ocupação por sujeitos com DV nesta profissão.
É importante levar-se em conta que, embora existam cursos
capacitadores para o profissional da área de radialismo na cidade de Natal, não existe
ainda interesse suficiente em relação à pessoa com DV, a ponto de serem feitas nos
mesmos qualquer adaptação. Havendo tal interesse, este poderia gerar mobilização de
51
educadores e pesquisadores na oferta destes cursos, bem como despertar o interesse de
pessoas com DV para atuar nessa área e o estudo de novas perspectivas na utilização
da tecnologia do rádio como ferramenta possível de ser utilizada pelos referidos
sujeitos. Enxergar-se-ia essa via de comunicação, que se coloca para todos os sujeitos,
como uma possibilidade de ser colocada também para os radialistas com deficiência
visual, os quais até hoje se encontram a margem da comunicação de rádio. Essa
marginalização não ocorre por “falta de voz”, ou seja, de talento radialístico, mas
apenas por “falta de vez”.
Acreditamos igualmente, que a ocupação da “tribuna” de uma
emissora comercial, por uma pessoa com DV geraria, no dizer deles mesmos, maior
interesse para o público ouvinte em relação à pessoa com deficiência e a consequente
quebra de paradigmas, favorecendo os ideais da inclusão, através de mensagens
positivas e construção de um novo saber e de um novo olhar a respeito de tais sujeitos.
Da parte da pessoa com deficiência visual a inclusão neste mercado patrocinaria para
ela a oportunidade de ser, ela mesma, agente de mudança a respeito da percepção que
a sociedade tem sobre a sua condição e informação sobre as suas potencialidades.
Nesse caso, o rádio, como mídia fácil e próxima poderia ser um aliado aos ideais de
inclusão e o deficiente visual, enquanto locutor seria o ator principal em cuja fala se
refletiria a mensagem de que ele, finalmente, fora incluído, com voz e com vez.
52
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55
ANEXO
ENTREVISTA: Radialista Vidente
1- Você já trabalhou em alguma emissora de rádio?
Sim. Comecei na 95 FM de Currais Novos, 95 FM em Natal, 96 FM, em Natal,
Costa do Sol FM em Fortaleza e há onze anos na 98 FM em Natal.
2- Você já trabalhou em alguma emissora de rádio em Natal com um colega
com deficiência visual?
Não. Nunca trabalhei.
3- Você tem conhecimento de alguma pessoa com deficiência visual que tenha
atuado como radialista?
Sim, no ano passado, durante o mês de outubro de 2008 estive em Guamaré e vi
um radialista com apenas dez por cento de visão. Isso me impressionou muito.
A força de vontade dele. Ele chegava até a encostar os olhos na tela do
computador para tentar enxergar as vinhetas, os comerciais que ele teria que
veicular na rádio.
4- O que você acha, a partir da sua experiência na área de radialismo, de
alguém com deficiência visual atuar nessa área, exercendo a função de
locutor?
Seria uma coisa inédita aqui em Natal, pelo menos no meu conhecimento, na
FM não existe ninguém com deficiência visual que esteja hoje atuando, ou pelo
menos nos últimos dez anos que tenha tido essa oportunidade. Eu conheço
apenas um que faz rádio AM e, inclusive, faz plantão de futebol.
5- Porque você acha que mesmo com deficiência visual um sujeito pode
trabalhar numa
emissora de rádio? Que qualidades voce poderia
reconhecer num deficeinte visual para desenvolver este trabalho?
Primeiro que, em rádio não necessita ter a imagem e sim áudio; rádio é
companhia, rádio é voz, rádio é áudio. Então através da voz, do som da sua voz
e de outros sons é que você pode levar companhia, levar sua mensagem e
entretenimento, sem necessidade de ter a visão.
6- Que dificuldades você acha que um deficiente visual encontraria para
exercer a função de locutor?
No rádio, que é áudio, teria algumas, mas isso não iria atrapalhar o
desempenho. A emissora teria que dispensar mais um operador de áudio para
essa pessoa, alguém para operar a mesa de som, pois na FM hoje todo locutor
opera a sua própria mesa de som; a maior dificuldade seria essa, mas não seria
decisiva para impedir que uma rádio desse chance, porque ele pode ser muito
bem informado ouvindo as noticias na televisão, ouvindo as notícias no rádio,
ouvindo no dia a dia, que a gente recebe milhares de informações por dia, isso
não seria difícil para o deficiente visual.
7- Você acha que é necessário ter roteiros (scripts) em braille para exercer a
função de locutor?
56
No rádio seria mais fácil ainda, porque o rádio, o rádio popular, no qual estou
inserido, precisa muito de improviso. Precisaria do comunicador ter muito
conhecimento em sua memória, então não necessariamente a rádio teria que
adaptar uma mesa em braille, com botões em braille, pois já teria um operador
pra ele. Ele teria que se preocupar...no rádio em si para ele ser comunicador de
rádio, por exemplo, não necessariamente precisaria nem da...da...de um roteiro
em braille, não. Bastava que ele decorasse. Bastava que alguém da pauta de
promoção dissesse apenas: você tem isso e isso para sortear, tem essa
informação para executar. Se ele tiver essa capacidade de memorizar...
8- Na emissora de rádio é necessário a pessoa com deficiência visual fazer
algum treinamento?
Ela...eu acho que o maior treinamento que ela deve fazer deve ser de
memorização... de informações que ele vai receber. Hoje no rádio...que eu faço
hoje, sem nenhuma deficiência visual eu executo de cinco a seis tarefas que
são elaboradas por outras pessoas...tem a pauta de promoções, tem a pauta
comercial, tem a execução da pasta comercial, tem a locução, atendimento ao
ouvinte, tem a produção musical, só ai em pouco tempo eu já enumerei seis e
teriam outras funções...eu perdi a sua pergunta... (E- Um treinamento extra...?)
O único extra que ela poderia receber é o de memorização...capacidade de
armazenar muitas informações, exato, na memória dele, para que alguém
chegasse ali e dissesse: você teria que memorizar quatro a cinco pautas por
dia...na sua comunicação aqui no rádio você teria que memorizar quatro a cinco
pautas por dia.
9- O que poderia ser adaptado na emissora de rádio para absorver o trabalho
de uma pessoa com deficiência visual? - contratação de outros
profissionais, adaptação no ambiente externo, adaptação no ambiente
interno. (E- Você falou da contratação de um operador...)
O que eu poderia...O principal é ter alguém da emissora que fosse colocado
para ficar fazendo os lembretes que eu falei anteriormente, fazer um trabalho de
memorização porque nós executamos por dia cinco a seis promoções diárias,
principalmente na área de promoções...então o departamento de promoções
teria que dar maior atenção. Não seria necessário grandes mudanças, apenas
alguém de cada setor que diria: você vai executar tal música e tais promoções.
No caso o deficiente visual ficaria somente com a locução e outra pessoa ficaria
com a execução de vinhetas, de tocar as música pra ele...em relação ao
departamento de promoções alguém de cada área do jornalismo ou de
promoções ficaria lembrando verbalmente, fazendo uma narração pra ele de
cada área, de cada programa que ele fosse fazer.
10- Que contribuições você acha que o trabalho na rádio traria para a pessoa
com deficiência visual? - aumentar suas potencialidades; - ter uma vida
mais independente; - aumentar a auto-estima; - diminuir o preconceito; inserir no mercado de trabalho; - ter relacionamentos sociais; - expandir
suas perspectivas de vida.
Em primeiro lugar oportunidade; segundo para dar exemplo de que uma pessoa
com deficiência visual pode executar com toda perfeição, com toda
tranqüilidade, com toda objetividade o que toda pessoa pode, até porque o rádio
é leitura, companheirismo, o rádio faz companhia a milhares de pessoas...
57
(E- Ajuda na auto-estima?)
Sim..além de ajudar na auto-estima ajudaria a outras pessoas que tem vontade
de procurar uma empresa, a televisão, mas não tem coragem porque acha que
vai ser rejeitado ou discriminado.
(E- Preconceito?)
Sim, alguns radialistas, comunicadores que fazem campanhas sobre doação de
medula óssea, se uma emissora colocasse um cego visual para trabalhar na sua
locução, tornaria o programa mais interessante e daria maior visibilidade a
emissora quanto a oportunidade que ela dá para deficientes visuais.
11- Você acha que o mercado de trabalho na área de radialismo absorveria
essa mão de obra? Por quê?
Apesar de no começo da entrevista dizer que não conheço, continuo não
conhecendo na FM em Natal especificamente alguém que tenha deficiência
visual trabalhando acho que é uma idéia a ser estudada. Acho que é algo que
não seria tratado com indiferença pelos empresários do rádio...dependendo da
qualidade. Assim como pessoas que são vistas...tidas... como perfeitas
visualmente, elas são avaliadas em certos testes em rádio e são reprovadas,
porque não tem conteúdo, da mesma forma podemos enxergar um deficiente
visual que saiba falar, comunicar, pois a essência do rádio é fazer companhia,
mas comunicando.
12- O que poderia ser feito para incluir com mais propriedade o deficiente
visual nesse mercado de trabalho?
Em primeiro lugar uma tentativa...alguém que pudesse trazê-lo a uma emissora,
trazer uma proposta...em primeiro lugar ele teria que estar interessado, teria que
levar jeito. A comunicação no rádio é um pouco de dom, de vocação. É uma
coisa mais artística. Não é uma coisa técnica, é mais de vocação... Se nessa
apresentação essa pessoa com deficiência visual tiver qualidades a emissora
tem condições para colocá-la no ar...para avaliar, assim como avalia tantos e
tantos sem deficiência visual.
13- Qual a(s) função(ões) que o deficiente visual poderia exercer numa
emissora de rádio?
a. Locução (x) Sim, nós já falamos nesse assunto aqui, acho tranquilamente a
locução... perfeito.
b. Diretor de produção ( ) É mais difícil, acho que não se encaixaria bem,
daria muito trabalho.
c. Roteirista (x) Roteirista sim. Só com um auxiliar. Sempre com um auxiliar.
d. Assistente de estúdio (x) Sim...
e. Operador de câmara (x) Seria mais para a televisão.
f. Operador de som no estúdio (x) Se ele tivesse um domínio muito bom do
equipamento... Hoje com a chegada da informática... acho que sim.
g. Projetista de estúdio (x) Não, acho que essa aí não seria uma área
aproveitável...
h. Auxiliar de discotecário (x) Perfeito, com certeza.
i. Continuísta (x) Acho que sim.
j. Filmotecário (x) Essa pergunta é mais direcionada a imagem.
k. Dublagem (x) Eu não imagino um deficiente visual fazendo dublagem...
58
l. Contra-regra ou sonoplastia (x) Sim, parecido com a outra pergunta,
operador de som de estúdio, ela é mais ou menos uma função, também com
um contato com...com...como a informática está hoje diminui o trabalho de
operação.
m. Operador de mixagem (x) também, que ela se assemelha com a sonoplastia,
né?
14- Para ser radialista você precisa fazer um curso de radialismo? Você já fez
algum curso de radialismo? Se sim, porque? Se não, porque?
Não necessariamente, no Brasil ser radialista hoje é mais questão de vocação e
dom, mas é bom ter o conhecimento. Existe um órgão que fiscaliza bem no Rio
Grande do Norte... se o radialista é registrado, se tem autorização para atuar em
emissora A ou B. É o Sindicato dos Radialistas; ele exerce esse papel, não
deixa que entre no ar nenhum profissional que não tenha registro no ministério
do trabalho.
Você fez um curso?
Eu comecei... tenho formação acadêmica em jornalismo e, por vocação sou
radialista.
15- Durante o curso você teve algum colega com deficiência visual, ou teve
conhecimento de alguém que já tenha cursado?
A única oportunidade de conhecer um radialista cego foi o José Jorge. Eu até
perguntei como ele conseguia fazer isso, ele me disse que decorava, absorvia as
informações e memorizava...
16- Os cursos que você fez ou conhece nessa área estão prontos para receber
um aluno com deficiência visual, proporcionando a ele as mesmas
oportunidades dos demais? Os cursos de radialismo, tanto os formais como
os técnicos, estariam prontos a absorver o aluno que quisesse se
aperfeiçoar?
Acho que não, a universidade... eu não conheço o curso, mas pelo que eu ouço
falar são poucas as escolas hoje... e no âmbito geral, não só na universidade,
mas os deficientes visuais tem dificuldades em andar nas ruas, no trânsito, em
shoppings...essa deficiência que as escolas tem, essas escolas formadoras de
profissionais com deficiência elas tem dificuldade também de receber esses
profissionais com deficiência visual.
17- Na grade curricular do curso que você fez tinha alguma disciplina que
envolvia o tema da inclusão social da pessoa com deficiência?
Não lembro... Na universidade como jornalista... se falava muito em algumas
aulas, mas sempre fica só no falar, mas nas cadeiras que eram pagas não tinha
essa temática mais aprofundada de inclusão dos deficientes visuais.
18- O que você acha que falta nos cursos de radialismo para uma pessoa com
deficiência visual tornar-se radialista? Nos cursos quais os passos que um
deficiente visual daria para tornar-se um profissional?
A principio um pouco de técnica vocal, Basta querer... ter um pouquinho de
talento, um pouquinho de voz...muita dedicação, tempo. A formação de um
radialista e especialmente um radialista com deficiência visual... ele... essa
formação não passa especificamente por um campo muito teórico; você vai
59
para universidade, não é garantido que ter uma teoria... isso não garante que
você vai ter sucesso nem vai ser extremamente bem sucedido como
comunicador de rádio. Não é bem assim. Um comunicar de rádio de sucesso e
com bom desempenho ele é formado por vários fatores, vocação, dedicação,
boa dicção, um bom domínio da língua portuguesa, isso contribui para que ele
seja bem sucedido, seja deficiente visual ou não.
60
ENTREVISTA: Radialista Não -Vidente
1- Você já trabalhou em alguma emissora de rádio?
Sim, ja trabalhei....já estagiei na rádio Poti e Rural e na Novos Tempos de
Ceará Mirim e em Natal na Alternativa FM.
2- Você já trabalhou em alguma emissora com um colega com deficiência
visual?
Sim, na Rádio Rural e na Novos Tempos de Ceará Mirim e na Alternativa com
Ronaldo Tavares e Kleiton Costa.
3- Você tem conhecimento de alguma pessoa com deficiência visual que tenha
atuado como radialista?
Sim, José Jorge... que atuou muito tempo na rádio CBM – Tropical - e hoje está
na Satélite FM, além de Marco Aurélio, na rádio Globo Brasil.
4-
O que você acha, a partir da sua experiência na área de radialismo de
alguém com deficiência visual atuar nessa área, exercendo a função de
locutor?
Acho que é uma função que o deficiente pode realizar com pleno êxito no seu
trabalho, porque falar é um dom e você tendo o dom... nasceu “pra quilo”,
desenvolve sua profissão sem maiores problemas... não tem problema algum
que um deficiente visual seja locutor.
5-
Porque você acha que mesmo com deficiência visual você pode trabalhar
numa emissora de rádio? Que qualidades você reconhece em você para
este trabalho?
A qualidade que reconheço... primeiro, que eu acho que nasci pra isso, desde
criança que eu gosto de rádio e eu acho que nasci para ser radialista, não me
vejo em outra profissão que não seja o rádio. Eu vivo o rádio vinte e quatro
horas por dia.
6- Que dificuldades você encontrou para exercer a função de locutor?
A principal dificuldade é você convencer o empresário do rádio que você tem
capacidade de exercer a profissão; inclusive quando a gente estava a procura de
uma rádio, eu e Ronaldo Tavares, um empresário disse que não tínhamos
condições de exercer a profissão de radialista na capital, que ele não
acreditava...só se fosse no interior, mas na rádio dele, não.
7- Você acha que é necessário ter roteiros (scripts) em Braille para exercer a
função de locutor?
Olha, alguma coisa assim você tem que ter, principalmente no meu caso que
tinha um programa de três horas diárias... é importante... você tem que ter um
roteiro, agora não necessariamente em braille, mas é importante você ter algo
em braille; eu digo isso assim porque a informação está muito rápida...então
você tem que divulgar uma notícia e tem um minuto, então você tem que ter
alguma coisa...eu fui ensinado por José Jorge a usar um gravador, porque aí
você dá a informação em tempo real.
61
8- Na emissora de rádio é necessário a pessoa com deficiência visual fazer
algum treinamento?
É necessário sim, principalmente com a rádio que tem um operador de áudio, é
importante que você tenha um entrosamente com o seu operador de áudio,
senão você vai ficar falando...como agente diz... vai ficar falando sozinho....
9- O que poderia ser adaptado na emissora de rádio para absorver o trabalho
de uma pessoa com deficiência visual? - contratação de outros
profissionais, adaptação no ambiente externo, adaptação no ambiente
interno.
É necessário sim a adaptação no estúdio... e por exemplo na rádio FM, como a
rádio FM não utiliza o operador, o radialista é ao mesmo tempo locutor e
operador, é necessário a colocação do sistema Jaws, que isso é possível sim,
para que o deficiente possa operar e ser o locutor ao mesmo tempo.
10- Que contribuições você acha que o trabalho na rádio traria para a pessoa
com deficiência visual? - aumentar suas potencialidades; - ter uma vida
mais independente; - aumentar a auto-estima; - diminuir o preconceito; inserir no mercado de trabalho; - ter relacionamentos sociais; - expandir
suas perspectivas de vida.
Olha aí... está tudo realmente...tudo o que está aí é realmente tudo o que
poderia dizer: aumenta a auto-estima, inclui o deficente no mercado de
trabalho, a gente se sente útil para a sociedade, exercendo uma função
principalmente aquela que a gente nasceu para fazer.
11-Você acha que o mercado de trabalho na área de radialismo absorveria a
sua mão de obra? Por quê?
Com certeza. Absorveria sim; primeiro, eu acho que pela capacidade não só
minha, mas do deficiente em si, a capacidade de raciocíonio, a capacidade de
estar sempre muito bem informado, já que o companheiro nosso, do deficiente,
é sem dúvida o rádio por vinte e quatro horas, além também da internet que
veio suprir a lacuna que se tinha... a necessidade de informação. Eu sei que
desempenho muito bem a minha função e por onde eu passei, graças a Deus
sempre fui muito elogiado por meus colegas de trabalho pela capacidade que eu
tenho para exercer a minha função.
12- O que poderia ser feito para incluir com mais propriedade o deficiente
visual nesse mercado de trabalho?
13- Qual a(s) função(ões) que o deficiente visual poderia exercer numa
emissora de rádio?
a. Locução (x)
b. Diretor de produção (x)
c. Roteirista (x)
d. Assistente de estúdio (x) ...eu acho mais complicado...mas depende da
desenvoltura da pessoa...
e. Operador de câmara ( )
f. Operador de som no estúdio (x)
g. Projetista de estúdio (x)
62
h.
i.
j.
k.
l.
m.
Auxiliar de discotecário (x)
Continuísta (x)
Filmotecário (x) Arquivar filme? É isso? Acho que sim...
Dublagem (x)
Contra-regra ou sonoplastia (x) Ai sim...como sonoplasta também sim...
Operador de mixagem (x)
14- Para ser radialista você precisa fazer um curso de radialismo? Você já
fez algum curso de radialismo? Se sim, porque? Se não, porque?
Sim, por determinação do sindicato dos radialistas. Em 1989 eu estagiava na
rádio Poti quando fui retirado do ar porque eu não tinha curso de radialista,
então fiz um curso com duração de oito meses.
15- Durante o curso você teve algum colega com deficiência visual, ou teve
conhecimento de alguém que já tenha cursado?
Tive dois colegas, o Francisco Daniel e o Ronaldo Tavares. Também fiquei
sabendo de outras pessoas que tem curso e já trabalhavam como o José
Jorge...não, desculpe, o José Jorge veio depois, mas tenho um outro colega na
Paraiba, o Darci Cachoeira, que eu também conheci....
16- Os cursos que você fez ou conhece nessa área estão prontos para receber
um aluno com deficiência visual, proporcionando a ele as mesmas
oportunidades dos demais?
Na época em que eu fiz, não. A gente fez mais na vontade, na superação, hoje
eu não tenho assim muito conhecimento, mas sei que os cursos estão mais
rápidos, durando apenas três meses, hoje eu não tenho conhecimento.
17- Na grade curricular do curso que você fez tinha alguma disciplina que
envolvia o tema da inclusão social da pessoa com deficiência?
Não, na época, não. Na época não tinha...
18- O que você acha que falta nos cursos de radialismo para uma pessoa com
deficiência visual tornar-se radialista?
É necessário por exemplo ter as apostilas em braille, é mais fácil; na época que
a gente fez teve um pouco de dificuldade, mas a gente teve as apostilas em
braille. Eu creio que as apostilas estando em braille facilita.
63
ENTREVISTA: Radialista Vidente - Não -Vidente
1- Você já trabalhou em alguma emissora de rádio?
Em várias, comecei em 1973 na rádio Cabugi, hoje Globo, no programa Carlos
Alberto que era o programa de maior audiência da cidade na época, programa
“Show Carlos Alberto” de oito as onze horas e após uma cobertura de carnaval
em 74 eu tive pela primeira vez a carteira assinada. E de lá em 77 levado por
Assis de Paula que trabalhou também comigo lá fui para rádio Poti. De 77 até
80 fiquei lá. Em 80 eu fui para rádio cearense, a rádio Progresso de Juazeiro de
Adauto Bezerra, governador do Ceará, senador da República, deputado e após
um ano e seis meses, em 81 eu voltei para a rádio Tropical que era Trairi na
época, que hoje é CBN e fiquei ate 2006. ou seja, eu passei 25 anos na rádio
Tropical, depois me aposentei. (Entrevistador interrompendo: Nesse tempo
você já tinha perdido a visão ou ainda enxergava?) Não, eu era... era normal,
enxergava tudo, era locutor esportivo, transmitia futebol, fazia reportagem, era
repórter policial porque no rádio eu sempre fiz tudo, desde narrar futebol
é...produção de programa, noticiarista, redator, apresentador, repórter policial,
repórter de campo, tudo isso fiz no rádio.
2- Você já trabalhou em alguma emissora com um colega com deficiência
visual?
Não... eu trabalhei...é...em rádio comunitária sim, mas em rádio profissional
não, na Cabugi, não; na Poti, não; na Progresso, não; na Tropical, não, mas na
rádio Nova Visão e na rádio Alternativa FM, rádios comunitárias que ficam no
bairro de Nazaré, Sept Rosado por ali eu trabalhava com um deficiente visual,
Josenildo Trindade que também é radialista profissional... e na rádio das
meninas...ADVIRN eu trabalhava com Sidney que era operador na época.
3- Você tem conhecimento de alguma pessoa com deficiência visual que tenha
atuado como radialista?
Tenho, tivemos em Fortaleza Paulo Rodrigues que faleceu há dois meses atrás,
ele era deficiente visual de nascença... era plantão esportivo... e no rádio
Nacional tem Marco Aurélio, que apesar de não ser deficiente visual total, já
que ele enxerga 20 por cento no olho esquerdo e tem prótese no direito, quer
dizer, olho de vidro para ser mais exato..ele trabalha hoje na rádio Globo, faz o
Quintal da Globo todas as noites.
4-
O que você acha, a partir da sua experiência na área de radialismo de
alguém com deficiência visual atuar nessa área, exercendo a função de
locutor?
Olhe eu levei umas vantagens diante de outras pessoas porque eu não sou cego
de nascença, eu perdi a visão há onze anos atrás, eu sei definir por exemplo as
cores, eu sei quando é a cor rosa, vermelha, branca. Eu tenho mais ou menos a
idéia do que vem a ser um carro, um fone, um microfone, a pessoa que nasceu
já cego não tem essa idéia, não tem essa idéia do que vem a ser um red fone,
um microfone... de rádio. Quando eu perdi a visão eu era locutor esportivo. Eu
transmitia futebol e passei, então, a ser plantão esportivo. Quando Marco
Antonio que já não está entre nós, o chamado garotinho da copa, deixou o
rádio, ai veio...vieram outras pessoas e me colocaram para ser repórter, e hoje
64
eu sou repórter de cobertura de clube. Eu só não faço ficar no de lance de meta
porque aí eu não vou poder descrever o lance porque eu não tô enxergando o
lance, mas eu faço entrevistas depois do jogo, no vestiário, vou para o coletivo,
entrevisto o jogador. A experiência e força de vontade acima de tudo, se
interessar pelo que está fazendo porque eu acho que o rádio é berço. Eu acho
que... as pessoas falam muito, mas eu acho que o rádio, o rádio mesmo, o
radialista já nasce com o dom. Eu sou irmão de dois radialistas Jarian e Jorge
Menezes. Um já se foi, o outro ainda vive. Quando eu dei meus primeiros
passos, ainda criança, cinco anos de idade eles me levavam para o rádio Poti
que eles trabalham lá e eu ficava ouvindo Genário Vanderlei, Diênio
Trigueiro, Ademir Ribeiro, Glorinha Oliveira, então eu já nasci dentro do rádio
porque na minha família tinham dois radialistas; então eu acho que pra ser
radialista, sendo deficiente visual a pessoa tem que ter uma força de vontade
muito grande e se dedicar realmente.
5-
Porque você acha que mesmo com deficiência visual você pode trabalhar
numa emissora de rádio? Que qualidades você reconhece em você para
este trabalho?
Olhe eu aprendi com um cidadão... Aliás, quem me lançou no rádio foi Carlos
Alberto... depois Assis de Paula me colocou na equipe de esportes da rádio
Cabugi em 1975. Eu comecei lá em 74 fazendo apresentações de programa de
estúdio e participando de patrulha da cidade e do programa dele. Depois ele me
colocou também no futebol. Eu aprendi uma coisa: No rádio o importante é
você ser polêmico. Hoje, se ninguém polemizar você cai na mesmice. É... Faz o
trivial e o trivial o ouvinte não gosta, gosta de polêmica. Agora mesmo estamos
numa polêmica para saber quem é a favor ou contra a derrubada do Machado.
Eu sou contra, mas tem várias pessoas que são a favor. Isso é polêmica. Eu
acho que a polêmica hoje é o principal requisito pra você ganhar audiência no
rádio.
6- Que dificuldades você encontrou para exercer a função de locutor?
Olhe..quando perdi a visão pensava que o mundo tinha acabado. Com o apoio
da família...a minha mulher que não gostava de futebol passou a gostar, porque
ela passou a ser minha escuta. Foi montado um estúdio aqui em casa, pra mim,
na rádio CBN as transmissões do estádio aconteciam e eu em casa com uma
linha direta com a rádio dava as informações dos jogos que estavam
acontecendo no Brasil inteiro. Então ela era responsável pelo trabalho de
escuta. Nós tínhamos 5 rádios, eu não tinha nem internet. Eram cinco rádios e
mais a televisão que pegava a rádio Nacional do Rio e de Brasília através de
uma antena parabólica comum, sem ser de assinatura. Então ela ficava ouvindo
a rádio Nacional, a rádio Clube e eu ouvia a rádio Dragão do Mar noutro rádio.
Ela ouvia três rádios e eu ouvia três rádios, fora o retorno da minha rádio. As
informações iam saindo, eu já sabia a programação, ela me dizia os resultados e
eu ia informando. A facilidade de memorizar os resultados... porque Deus tira
uma coisa e dá outra. Memorizar, ou seja, poucas vezes eu tinha que perguntar
quanto é que foi o jogo tal, porque eu já sabia ela dizendo só uma vez. Eu tinha
vezes que dizia os 14 jogos da loteria esportiva sem perguntar, já na cabeça,
todos os 14 jogos. (entrevistador intervindo: Não encontrou dificuldade
nenhuma.?) Não...no começo eu sentia algumas...no começo o cara sente
dificuldades, mas agora já me acostumei, é tanto que hoje eu vou para um
65
treinamento coletivo e não anoto nada, eu chego aqui e digo os dois times que
treinaram, o time A e o time B.
7- Você acha que é necessário ter roteiros (scripts) em braille para exercer a
função de locutor?
No caso de noticiário eu acho que seria necessário porque pra ler noticiário você
tem que saber braille, aliás, eu comecei a fazer braille e não deu mais pra fazer,
mas eu não precisei ainda do braille para exercer a função, até porque eu aprendi
a falar de improviso, ou seja, quem me ensinou... eu tive grande professores no
radio, além de Carlos Alberto, Assis de Paula, Rubens Lemos que pra mim foi
um dos homens mais inteligentes que eu encontrei no radio...Frank Machado,
Nilson Freire que não está no rádio mas grava comerciais. Liênio trigueiro, Helio
Câmara que ainda hoje esta no radio...esse pessoal me ensinou muito... Jaime
Cisneiros, que não era daqui, era de Pernambuco, mas veio pra cá quando eu
estava na radio Poti, ele falava de improviso e muito bem... eu aprendi a falar de
improviso eu faço o noticiário inteiro do clube que eu cubro sem anotar nada... eu
poderia gravar e depois botar um fone e repetir...mas gravador eu uso pra fazer
entrevista com os jogadores, treinadores e a diretoria do clube.
8- Na emissora de rádio é necessário a pessoa com deficiência visual fazer
algum treinamento?
É... se a pessoa não tiver exercido a profissão antes, como foi o meu caso, como
eu já falei anteriormente eu nasci dentro do radio, eu participei de programas de
auditório na época, a radio Poti tinha um auditório...onde hoje é o diário de
Natal, na Deodoro era um auditório com mil lugares, nós tínhamos programas
de auditório lá...Domingo Alegre, Vesperal dos Brotinhos e Alegria na Taba.
Geraldo Fontinele, Paulo Câmara e...Genario Vanderlei...quem... a pessoa que
perdeu a visão já no radio como foi o meu caso não precisei fazer nenhum
treinamento...agora a pessoa que nasceu com deficiência, nunca fez radio, ai
teria que passar por um treinamento para poder exercer a profissão...
9- O que poderia ser adaptado na emissora de rádio para absorver o trabalho
de uma pessoa com deficiência visual? - contratação de outros
profissionais, adaptação no ambiente externo, adaptação no ambiente
interno.
Você fala de adaptação do...sistema, da parte técnica...bom...hoje a parte
técnica...é aquilo que eu falei, eu trabalhei com Sidney, na radio Nova Visão
(rádio comunitária) e ele fazia tudo na mesa de áudio. Eu usava apenas o
microfone mas ele colocava tudo...na mesa de áudio (entrevistador intervindo:
Sem nenhuma adaptação?) Sem nenhuma adaptação...é evidente que ele foi lá,
as meninas que também são deficientes trouxeram uma pessoa para
ensinar..depois que ele pegou não teve problema. Trabalhou até a radio parar de
funcionar por conta de uma licença do ministério de comunicações
10- Que contribuições você acha que o trabalho na rádio traria para a pessoa
com deficiência visual? - aumentar suas potencialidades; - ter uma vida
mais independente; - aumentar a auto-estima; - diminuir o preconceito; inserir no mercado de trabalho; - ter relacionamentos sociais; - expandir
suas perspectivas de vida.
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Muitas...poderia trazer muitas... Poderia...agora é um sonho que eu acho
irrealizável porque hoje eu trabalho numa rádio comunitária, mesmo sabendo
que eu tenho condições de trabalhar numa radio grande, porque ao longo da
minha vida eu só trabalhei em rádios grandes. Eu trabalhei na Cabugi.. com os
maiores nomes do rádio; na radio Poti também com grandes nomes do radio,
Almeida filho,...Trigueiro, Zé Antúrio,. Ademir Ribeiro...
11-Você acha que o mercado de trabalho na área de radialismo absorveria a
sua mão de obra? Por quê?
Seria muito dificil, porque há um preconceito contra o deficiente visual; muita
gente acha que um deficiente visual não tem capacidade de fazer determinadas
coisas. É por isso que eu me superei e já transmiti, inclusive, uma partida de
futebol sem enxergar.....a ponto das pessoas procurarem um comentarista que
trabalhou num jogo da seleção brasileira em 2005...na radio da ADVIRN –
Nova Visão eu transmiti Brasil 4, Argentina 1, Brasil 3, Alemanha 2, na copa
das confederações. Como eu transmiti? Transmiti ouvindo uma emissora do Sul
do pais...o que o comentarista dizia lá, eu dizia aqui, evidentemente mudando o
vocabulário, isso gerou uma polemica...o comentarista que eu falei...foram
perguntar se eu tinha voltado a enxergar...há um preconceito...há uma falta de
respeito principalmente na hora de fazer entrevista porque algumas pessoas
acham que tem mais direito que o deficiente visual...ainda bem que eu tenho
algumas amizades que me dão o direito...exatamente pelo respeito que eles têm
pela minha deficiência. (entrevistador intervindo: E também pelo seu passado
de grande radialista, pela sua historia. Essa expressão...um sonho
irrealizável...você acha que o mercado de trabalho...) Eu recentemente fui
entrevistado num programa Memória Viva, aliás vai para o ar agora no dia 16
na TV universitária, as sete horas da noite, com reprise no dia 19 as onze horas
da manhã. Eu digo o seguinte, o radio AM, principalmente o AM está numa
queda livre. Por quê? Por vários fatores. Primeiro: qualificação de mão de obra,
você não tem mais mão de obra qualificada na radio AM de Natal, é tanto que
as emissoras de radio tem 75 a 80 por cento da sua programação enlatadas com
programas vindos do Rio de Janeiro e São Paulo. O tempo em que tínhamos
emissoras fazendo programação local já se foi. Tínhamos a Cabugi com
programação local. Todas as outras com programação local; E... não sei porque
as pessoas não preservam uma coisa chamada memória. A radio Poti mudou de
nome para radio Clube; você ouve a programação de Brasília. A Cabugi mudou
de nome; é Globo, você ouve a programação do Rio de Janeiro ou São Paulo. E
a radio Tropical é CBN, outra enlatada, você ouve a programação do Rio de
Janeiro, então o espaço para o norte-riograndense...os profissionais daqui
tenham a oportunidade de desenvolver um trabalho no radio está cada vez
menos, imagine um deficiente visual. Se os próprios diretores tomaram um
caminho de colocar enlatados...imagine só como é que fica um deficiente visual
que vai concorrer a 25 por cento de uma programação...com pessoas que tem
maiores facilidades de desenvolver um trabalho. Inclusive...porque tem poucas
rádios FM que você suporta ouvir por conta da má qualidade da programação.
12- O que poderia ser feito para incluir com mais propriedade o deficiente
visual nesse mercado de trabalho?
67
O sindicato do radialista, que é muito fraco, poderia agir, porque, ao que me
parece existe uma lei que determina que 75 por cento da programação de radio
tem que ser local. Mas essa lei não é cumprida. Se o sindicato entrasse na
briga...teria que haver uma união entre o radialista e o sindicato, mas o
profissional de radio sabe que se gritar, se reivindicar pode lhe custar caro,
porque o desemprego é grande e pode custar o emprego dele, por isso eles
aceitam a situação atual. Se você me falar...a radio AM, a radio AM quando eu
comecei no radio Carlos Alberto fazia 38 pontos percentuais...começava de
oito.de oito as nove ele tinha vinte e cinco pontos. Ele concorria com Omar
Cardoso, que era um enlatado ...de nove as dez ele já vinha para 31, 32... e no
pique das 11 horas ele subia para trinta e oito pontos. Hoje com o advento da
televisão, porque naquela época não tinha televisão, tinham cinco emissora e a
audiência era só no radio AM. Ele inclusive percorreu as casas legislativas em
função do radio porque ele era a maior audiência, prestava serviços etc. Em
1976 o radio AM atingia a maior audiência...eu to falando isso, porque eu
participei de varias pesquisas. Eu participei do programa “Você faz o show,
substituindo Edson de Oliveira...ate que eu passei a ser setorista de clube...hoje
se você for fazer uma pesquisa séria do ibope vai aparecer mais traço do que
ponto, porque o índice de radio desligado é muito alto, de radio AM...por isso
que já faz mais de dez anos que não se faz pesquisa de ibope em Natal.
13- Qual a(s) função(ões) que o deficiente visual poderia exercer numa
emissora de rádio?
n. Locução (x)
o. Diretor de produção (x)
p. Roteirista (x)
q. Assistente de estúdio (x) ...eu acho mais complicado...mas depende da
desenvoltura da pessoa...
r. Operador de câmara ( )
s. Operador de som no estúdio (x)
t. Projetista de estúdio (x)
u. Auxiliar de discotecário (x)
v. Continuísta (x)
w. Filmotecário (x) Arquivar filme? É isso? Acho que sim...
x. Dublagem (x)
y. Contra-regra ou sonoplastia (x) Ai sim...como sonoplasta também sim...
z. Operador de mixagem (x)
Todas, menos operador de câmara, porque ai você tem que estar enxergando
para saber o que esta fazendo. Também acho que Continuísta e filmotecário,
não...Bem... desde que você tenha um treinamento para saber manusear os
equipamentos...não há problema nenhum.
14- Para ser radialista você precisa fazer um curso de radialismo? Você já fez
algum curso de radialismo? Se sim, porque? Se não, porque?
Quando eu comecei no radio... eu comecei em 73 e eu tava estudando. A...a
minha entrada no radio é porque eu era líder estudantil e Carlos Alberto me
conheceu e me levou para a rádio Cabugi, no dia de uma festa que eu fiz com
uma banda dele... que naquele tempo não era banda, era conjunto. Depois eu fiz
o teste pra ficar no radio...quem fez o teste comigo foi Roberto Machado, que
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na época era o grande nome da radio. Ele mandou eu ler um noticiário “O
mundo em sua casa”. Eu li o noticiário e depois ele mandou eu fazer um teste
como se tivesse apresentando um programa; eu fiz, respondi algumas perguntas
de português e conhecimentos gerais, nome de presidente de republica, na
época era Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos, ai quando foi uma
semana depois o Dr. José Gobar mandou me chamar e assinou minha carteira,
mas eu já estava há quase um ano com Carlos Alberto. (entrevistador
intervindo: O senhor não foi chamado para fazer um curso pelo sindicato?)
Não, porque naquela época era o seguinte...a profissão não era reconhecida.
Quem era radialista pagava o sindicato dos comerciários; A partir do momento
em que o presidente Ernesto Geisel sancionou a lei regulamentando a profissão
de radio ai todas as pessoas que trabalhavam no radio eram chamadas
profissionais do radio; entre essas pessoas tinha Ademir Ribeiro que era técnico
em contabilidade. Um dos maiores noticiaristas que eu vi na minha vida. Liênio
Trigueiro que se formou em jornalismo depois de vinte anos no radio. Assis de
Paula, jornalista e Roberto Machado, jornalista. Porque quem exerceu a
profissão antes da assinatura da lei entrar em vigor, a regulamentação da
profissão recebeu o registro profissão da DRT como jornalista e como
radialista. Hoje não precisa mais.
15- Durante o curso você teve algum colega com deficiência visual, ou teve
conhecimento de alguém que já tenha cursado?
O sindicato... Nildo, Daniel e alguns que estavam fazendo o curso estavam
atuando na radio Rural e o sindicato tirou do ar porque não tinham curso...Eles
fizeram o curso do sindicato e eu fiz as transcrições em Braille. Disseram que
era obrigado fazer o curso. O grande problema é que quem exerceu a profissão
ate o dia 16 de dezembro de 79 com carteira assinada teve direito ao registro
profissional...na realidade eu fiz o segundo grau inteiro já no radio; alias o meu
registro profissional não foi nem em Natal, meu registro é de fortaleza. Assim
que entrou 1980 eu fui pro ceará e fiz o meu registro lá, é 471, livro 2, folha 72.
16- Os cursos que você fez ou conhece nessa área estão prontos para receber
um aluno com deficiência visual, proporcionando a ele as mesmas
oportunidades dos demais?
É... inclusive porque os curso são ministrados por professores e radialistas
profissionais. Sempre tem um professor de português, professor de
comunicação e os próprios radialistas que ministram o curso, Helio câmara já
ministrou, deu palestras...muitas pessoas, alem do professor de comunicação da
UFRN..
17- Na grade curricular do curso que você fez tinha alguma disciplina que
envolvia o tema da inclusão social da pessoa com deficiência?
Pelo menos juridicamente, ate a 15 dias atrás quando o Superior Tribunal
aboliu...inclusive o sindicato esta de mãos atadas...por exemplo: João Maria de
Souza que mora ali na esquina, se uma empresa quiser contratar ele o sindicato
não pode fazer nada. O sindicato fazia cursos para legalizar o
pessoal...(entrevistador intervindo: Ainda precisa disso?) Não, não precisa mais
de curso superior para exercer a profissão,.. basta que a empresa entenda que
você tem condições...(entrevistador intervindo: agora nem mais para jornalista,
né?) Não, precisa, sim para você ser um editor de jornal, mas para repórter não
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precisa. É...eu falo...Josenildo me disse que fez o curso e eu lutei muito na
ADVIRN para que as pessoas que estavam lá fazendo radio fizessem o curso,
mas profissional do radio mesmo só tinha eu e Josenildo, mas era uma
garantia...porque o sindicato tirou do ar muita gente que não tinha...o sindicato
pegava, anexava o diploma e solicitava o registro profissional a DRT...
18- O que você acha que falta nos cursos de radialismo para uma pessoa com
deficiência visual tornar-se radialista?
O que falta nos cursos...o que poderia se acrescentado...O que deve ser acrescentado no
curso é o que você acabou de falar, o braille. A leitura braille é essencial para a pessoa
que vai começar no rádio. Alias eu fiz uma reivindicação dessas na faculdade, eu queria
fazer o vestibular, eu perguntei se tinha braille e eles disseram que não tinha. Como
posso fazer o vestibular se não tem braille na faculdade? A não ser que tudo fosse
adaptado no dosvox.
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Maria do Socorro de Souza Torres