Tempos de Murilo Mendes: Visita ao acervo do poeta: as obras e as margens A Universidade Federal de Juiz de Fora comemora neste ano de 2001, como sabemos, o centenário de nascimento do poeta juizforano Murilo Mendes. Evidentemente, esta não é uma iniciativa isolada da UFJF, uma vez que várias instituições acadêmicas e órgãos de cultura vêm organizando eventos diversos para lembrar a data. No entanto, Juiz de Fora tem motivos particularmente significativos para liderar no país as homenagens, não apenas por ser o lugar de nascimento de Murilo Mendes, mas principalmente porque sua Universidade abriga o valioso acervo de livros e quadros a ela legado pelo poeta e por Maria da Saudade Cortesão Mendes, sua esposa, também poeta. Muitos desses livros contêm marcas, anotações e comentários feitos por Murilo, assim como a maioria dos quadros, muitos deles oferecidos por amigos ao casal, traz dedicatórias ou pequenos escritos dos autores ou do próprio poeta, que, como se sabe, fazia de sua casa em Roma, na já quase famosa Via del Consolato, 6, um lugar de freqüentes reuniões de intelectuais e artistas, para longas conversas e debates sobre arte. Devido ao seu caráter de coleção privada e às marcas pessoais deixadas nas obras, o acervo de livros e o de artes plásticas, este considerado por especialistas como a mais importante coleção de arte européia do século XX existente em Minas Gerais, constituem um importante campo de investigação acadêmica por permitir que se configure, com evidências e dados significativos, o perfil do Murilo Mendes intelectual e leitor, receptor e crítico de arte em geral, e de literatura em particular. Esse aspecto, o do Murilo leitor, acrescenta-se, iluminando, à figura do Murilo Mendes poeta, já bastante conhecida da crítica literária, que o considera um dos ícones do modernismo brasileiro, e, certamente, um dos seus mais permanentes e criativos continuadores. Desde 1999 um grupo de pesquisadores da UFJF vem desenvolvendo, com o apoio do CNPq, um projeto integrado de pesquisa sobre os acervos do poeta, enfatizando as relações entre a literatura e outras formas de representação simbólica, a 1 partir de uma perspectiva de trabalho que articula conceitos e categorias da teoria da literatura com a crítica biográfica e cultural. Trabalhar com acervos, com arquivos particulares, e mesmo com documentação pessoal, é um procedimento investigativo instigante e relativamente novo na academia. A produção desse tipo de reflexão teórica e dessas novas práticas críticas por pesquisadores da UFJF, e por outros pesquisadores que recorrem ao acervo de Murilo Mendes, faz desse Centro de Estudos efetivamente um centro de pesquisa, além de ser um centro de documentação e um museu de arte expressivo hoje no cenário cultural brasileiro. (GUIA 4 RODAS) O acervo de livros e de artes plásticas da Universidade de Juiz de Fora permite ao pesquisador encontrar e conhecer, ainda, além da figura do Murilo leitor a que nos referimos há pouco, a figura do Murilo Mendes colecionador. Diante das coleções de Murilo Mendes recordamos sempre Walter Benjamin (1977) que, ao desempacotar sua biblioteca, produziu um dos seus mais belos textos sobre o trabalho de colecionar e sobre o colecionador. Benjamin destaca especialmente o colecionador de livros e diz que, entre várias possibilidades, a mais pertinente maneira de formar uma biblioteca é a herança. Nós que herdamos as coleções do poeta juizforano, recebemos não apenas os objetos, mas com eles os traços e as marcas da personalidade do colecionador que ele foi. Os livros, quadros, catálogos de exposições de arte, as dedicatórias dos autores e anotações do próprio poeta, tudo confirma o dado biográfico muito conhecido de que Murilo Mendes cultivava com grande cuidado, no Brasil e na Europa, amigos artistas e intelectuais, entre os quais se incluem nomes realmente expressivos da arte do século XX. Os objetos do acervo de Murilo não são, portanto, livros e quadros avulsos mas, sim, coleções pessoais, reunidas por Murilo Mendes num processo de arquivamento para o qual a convivência intelectual e as relações sociais, familiares e afetivas parecem ter sido determinantes. (# DAS COLEÇÕES DE NERUDA – SOUVERNIRS DE VIAGEM; FORBES – ACUMULAÇÃO DE BENS NA FORMAÇÃO DO GRANDE CAPITALISTA, O NOVO RICO – O PAI, QUE TIHHA ESTALEIRO, COLECIONA NAVIOS, OS FILHOS, SOLDADINHOS DE CHUMBO E DEPOIS 2 OS DESPOJOS DOS ARISTOCRATAS COMO OS OVOS FABERGÉ DOS CSARES, E O QUADROS DE ARTE EUROPÉIA). Ao longo de toda a vida adulta, Murilo Mendes reuniu amigos, obras e livros, formando, nas palavras de Luciana Stegagno-Picchio (1995:29), uma “coleção preciosa, nascida toda da amizade e do convívio”. A “estratégia da coleção”, (tomo emprestada a expressão da Terezinha Scher) tão cara a Murilo, (Pereira 2000) vai além da reunião de livros e quadros, e parece mesmo ser um elemento estruturante da própria obra literária de Murilo Mendes. Isto é, mesmo sua obra literária expressa, de alguma maneira, esse procedimento de selecionar, recortar e guardar, em forma de textos, de poesia ou de prosa, autores que leu, experiências que viveu, cidades por onde andou, e circunstâncias históricas que testemunhou. Murilo, que desde criança gostava de colar “em grandes cadernos (...) fotografias de quadros e estátuas, cidades, lugares, homens e mulheres ilustres...” torna-se em adulto o escritor que usa a mesma estratégia nas suas obras. Livros como Retratos-relâmpago, Janelas Verdes, A idade do Serrote, A invenção do finito são, eles mesmos, coleções de retratos de amigos e de cartões-postais de lugares visitados; retratos e postais feitos de palavras, bem entendido, reunidos em álbuns que, lidos, contam a história da amizade e do convívio de que Luciana falava atrás. Isso significa que Murilo Mendes é o colecionador no sentido que dá ao termo Walter Benjamin. Para esse poeta colecionar parece ter o sentido de estabelecer laços e conexões, formando uma espécie de rede feita de dados culturais, artísticos, mas também pessoais e afetivos, que ajudam o estudioso a compreender melhor sua personalidade artística. Para exemplo, podemos tomar Janelas Verdes. É justamente a partir desse modo de colecionar que esse livro, totalmente dedicado a Portugal, se estrutura. Nas Notas do autor que fecham o livro, Murilo adverte que o título não se refere ao Museu das Janelas Verdes, o nome com que é mais conhecido o Museu de Arte Antiga, talvez o mais importante museu de arte do país que, em Lisboa, fica na Rua das Janelas Verdes. A advertência vem seguida da explicação: “refere-se a espaços abertos; à liberdade; ao campo e mar de Portugal, ao verde que ali nos envolve 3 sempre” (JV, 1444). Ao negar que o título de seu livro dedicado a Portugal tenha sido inspirado no nome do solene Museu, o poeta nega o museu como instituição e nega, sobretudo, o seu sistema próprio de tratar a memória. Segundo Linda Hutcheon, “tanto o museu quanto a academia compartilham, tradicionalmente, de uma crença institucionalizada no método e na razão e ambas instituições trabalham rumo a aquisição de conhecimento por meio da coleção, ordenação, preservação e exibição de objetos da civilização em todas as suas variedades.” (apud Domingues, 1999: 253) No entanto, esses tempos de pluralidade e fragmentação convocam o que ela chama de “nova museologia”, que desafia o museu convencional. Alguns dos elementos dessa nova museologia seriam a consideração da emoção e do presente e a orientação para a inovação, ao invés do predomínio do racional e da especialização, e da vocação para o passado, comuns associado a uma espécie de no museu tradicional, que no senso comum é solene e autoritário depósito de obras ou objetos de cultura, resultando na indesejável concepção de “museu como mausoléu”. (id. ib.:252) Contudo, ao optar por uma nova relação - negativa - com a instituição, quando des-relaciona o título de sua obra do venerável Museu das Janelas Verdes, apropriando-se porém do mesmo nome, agora ressemantizado, Murilo Mendes não apaga, mas realça, o rastro da primeira referência ao museu, aquela imediatamente acionada pelo senso comum. Assim, é como alegoria que Janelas Verdes estrutura-se justamente com o formato daquilo que poeta nega: dividido em Setor 1 e Setor 2, o livro escreve-se como um museu. Cada um dos setores é subdivido em partes. O Setor 1, dividido em A, B, C e D, compõe-se de textos sobre as cidades visitadas; o Setor 2, dedicado a pessoas, como se fosse a grande galeria de retratos desse museu, também divide-se em A, B e C. As letras indicariam as salas dos dois setores, ao longo das quais o poeta viajante organiza sua coleção. É justamente aí, no modo de colecionar, que Janelas Verdes se estrutura sob a forma de uma “nova museologia”, para usar a expressão de Linda Hutcheon. Nele, as coleções de quadros de cidades, de paisagens, de cartões postais guardadas no Setor 1, 4 e a de retratos no Setor 2, organizam-se, segundo o poeta informa nas Notas, pelo princípio do afeto: “Reconheço a falta de unidade (no sentido clássico) do livro, mas não me importo. (...) querendo dessacralizar a temática e as fórmulas, quase sempre convencionais e ridículas, “Portugal pequenino”, ‘Portugal dos meus avós”. procedi com extrema liberdade e desenvoltura. Espero, entretanto, que tenha deixado aqui a marca do meu afeto.” (id. ib.). A marca do afeto está em toda parte nessa coleção de lembranças da viagem feita por Portugal e por seu acervo. Dela Murilo guarda no seu museu-livro os cartões postais e os retratos feitos de palavra e memória. De fato, o acervo de Janelas Verdes, é inteiramente colecionado a partir da memória afetiva, da experiência das viagens feitas (muitas com a esposa Maria da Saudade, ou com Jaime Cortesão e outros amigos), e também da seleção pessoal de autores e artistas de sua preferência, das citações e dos comentários que situam esse museu Janelas Verdes no “espaço aberto” da liberdade, e do novo. Na visita a Coimbra, cidade que se confunde com a sua Universidade - outro templo da tradição - é de novo um museu que surge, inevitável, no roteiro. O Museu Machado de Castro, o mesmo que em Viagem a Portugal impressiona o viajante de Saramago pela sua riquíssima estatuária, recebe de Murilo um tratamento insólito. Diferentemente do relato de Saramago, o relato de Murilo nada nos diz do tesouros artísticos do Museu. O poeta se detém é no seu jardim e, ao invés do acervo, visita o arquivo da história pessoal e do afeto: O magnífico Museu Machado de Castro. Os choupos: consinto a malincuore que entrem no texto. Agrada-me sua forma originária, não a palavra que os contém. Mas à sua sombra verde noivaram Carolina e Jaime Cortesão; sem esses choupos talvez Saudade não existisse. (JV:1373) É ainda no texto sobre Coimbra que Murilo insere mais um elemento do convívio afetivo-pessoal, ao alinhar a avó materna de Maria da Saudade, de quem ele gostava muito, com poetas e artistas que rememora: 5 “Ao tempo do meu primeiro séjour em Portugal achei que as trës personalidades mais fortes então encontradas eram Teixeira de Pascoaes, Almada Negreiros e a avó Madalena.” (id. 1373). Janelas Verdes, o museu-livro que Murilo então constrói para abrigar sua coleção, não é mesmo o da “arte antiga”, mas o do signo novo. Ao adotar o formato e o nome mas não a alma do museu-instituição, Murilo Mendes oferece seu texto como arquivo do novo. Elegendo o “ensaio como forma”, para usar o termo de Adorno, Janelas Verdes inscreve, ainda nesse aspecto, o deslocamento operado na relação tradição/viagem/relato. Obra de colecionador e ensaísta, Janelas Verdes se constrói pelos princípios da nova museologia e com os aqueles elementos que Adorno encontra no corpo vivo do ensaio, entendido como nova possibilidade de escrita: ordena de modo novo coisas que em algum momento já foram vivas; evoca liberdade de espírito; reflete o amado e o odiado; tem como objeto o novo enquanto novo. (op. cit, 167, 168,185) Segundo Luciana Stagano-Picchio, amiga íntima e biógrafa do poeta, e também uma reconhecida lusitanista, Portugal era para Murilo Mendes uma “segunda pátria, terra da ancestralidade e do amor”. (1995:30) A marca do afeto está em toda parte nessa coleção de lembranças da viagem feita por Portugal e por seu acervo. Dela Murilo guarda no seu museu-livro os cartões postais e os retratos feitos, como dissemos atrás, de palavra e de memória. Isso se dá, de certa forma, também com Retratos-relämpago, Tempo Espanhol, Carta Geográfica. As coleções de Murilo Mendes, de livros e de quadros, mas também de textos, certamente significam muito da perspectiva da investigação acadêmica. A hipótese de uma reflexão sobre o processo de inserção de Murilo Mendes na cena literária poderia então se formular, em linhas gerais, assim: Murilo, que escolheu a Europa para viver, teria, de alguma forma, escolhido também os autores e as obras com os quais queria se relacionar e aos quais gostaria de ser relacionado pela crítica. Nesse procedimento de escolha de seus pares, teriam sido fundamentais o gosto pessoal e a subjetividade, a convivência, a rede familiar e afetiva, como sugerem as pistas deixadas nas margens dos livros lidos e dos quadros recebidos e guardados. 6 Atentar para o que há de significativo nas margens dos textos e das obras de arte permite que se valorizem determinados aspectos que a análise literária propriamente dita dispensaria, em função do privilégio do texto literário. Essa pista seguida nos elementos do acervo oferece dados inusitados. Por exemplo, num dos esboços para seu retrato, feito por Arpad Szenes, o pintor húngaro parece querer incluir na obra alguma coisa a mais do que o perfil físico do amigo Murilo, e escreve nas costas do quadro a informação, aparentemente desimportante para o espectador tradicional, de que o poeta ouvia música, ao posar para ser retratado por ele. As marcas da afetividade são perceptíveis em todo o acervo, como se pode observar também quando em um dos seus livros Murilo registra, na página final, um testemunho do seu afeto: “Este livro foi lido e comentado por Ismael Nery, portanto é um exemplar precioso”. Tais registros de circunstância, como o feito por Arpad no retrato, e como a anotação sobre Ismael feita por Murilo, nesse caso, por um autor que, além de amigo, é leitor de outro leitor, que é também autor..., ou seja, esses elementos da margem das obras só recentemente passaram a ser valorizados pela crítica acadêmica. Esse tipo de trabalho não deixa de ser absolutamente fascinante, sobretudo porque resgata um procedimento investigativo em geral desprestigiado pela crítica literária mais consolidada academicamente nas últimas décadas, a que prestigia quase que exclusivamente o texto literário. A contribuição que a metodologia de trabalho com acervos e com coleções pode dar ao estudo do poeta, de um momento do modernismo brasileiro, e até ao estudo da construção dos discursos de interpretação do Brasil, pode e deve incluir a reflexão sobre as coleções deixadas por Murilo Mendes. A partir dessa perspectivas podemos pensar de nova forma a relação de Murilo Mendes com o repertório literário e cultural não só brasileiro, mas também europeu. Essa relação parece estar definitivamente atravessada pela tensão que decorre do exílio processo de deslocamento que toma, no seu caso, a forma do exílio, ainda que voluntário. A experiência do exílio em Murilo Mendes configura-se, por um lado, pelo desenraizamento real do poeta devido às suas mudanças, primeiro de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, depois, do Brasil para a Europa; e, por outro lado, por 7 movimentos do seu itinerário afetivo e pessoal, que aparentemente definem a fixação de laços específicos com a Europa, principalmente com a Itália e com Portugal. Assim, pode-se considerar a hipótese de que, tratando-se particularmente de Murilo Mendes, a relação com o centro, a Europa, supera a relação convencional entre o escritor da periferia e a metrópole, que tradicionalmente se manifesta por alguma espécie de “atração do mundo”, para usar uma expressão de Joaquim Nabuco, em Minha Formação, destacada por Silviano Santiago (1996); profunda atração cultural ou literária, tanto faz se marcada por fascínio ou por rejeição. No caso de Murilo Mendes, a atração pela Europa, tão imperativa que ele para lá se muda, estabelece uma relação que parece, diferentemente, formular-se por mediações de outras ordens, como a afetivo-pessoal, pelo casamento com Maria da Saudade Cortesão, e pelo convívio familiar com o conceituado historiador e crítico de cultura, Jaime Cortesão, tornado sogro e amigo. Também, pela mediação de uma ordem afetivo-intelectual, construída, por exemplo, pela amizade de toda vida com Vieira da Silva e Arpad Szenes, que, como Murilo, desterritorializam-se, e desterritorializaram, a seu modo, os conceitos de pátria e nação; e, mais amplamente, pela convivência amigável e permanente com artistas e escritores europeus, sobretudo italianos, mas também com brasileiros em estadia na Europa, como largamente informam seus biógrafos, como a já mencionada Luciana Stegagno-Piccio. (Picchio,2001). Assim, a relação com o centro parece estabelecer-se tanto ou mais pelo pessoal, e menos pelo intelectual; pelo viés da vivência e da subjetividade, mais do que pelo puramente artístico. Se compreendemos Murilo Mendes como um escritor que de si diz “dentro de mim discutem um mineiro, um grego, um hebreu, um indiano, um cristão péssimo, relaxado, um socialista amador...”, como se lê na “Microdefinição do Autor”(OC: 45/47), podemos entender, então, sua enorme abertura para o outro e para a novidade que ele, o outro, traz: “... observo a novidade das coisas debaixo do sol”, afirma Murilo, biblicamente, no mesmo texto. Por isso, o exílio, os freqüentes deslocamentos, e sobretudo a camaradagem cuidadosamente cultivada colaboram para que, no seu conjunto, a obra de Murilo 8 Mendes possa ser compreendida como uma rede de múltiplos itinerários e de múltiplos espaços de permanência, longa ou breve, que levam a refletir sobre o modo como o poeta juizforano lança seu “olho armado” sobre esses vários lugares: Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Roma, Lisboa, Paris... entre muitos outros visitados, que formam uma espécie de moldura para o texto literário do poeta itinerante. Através da metáfora do colecionador, construída pelas vias do exílio e da viagem, estas ambas presentes no projeto modernista brasileiro, pode-se compreender, em Murilo Mendes, a complexidade da articulação de tradição e ruptura, da qual já se ocuparam importantes trabalhos de sua fortuna crítica, como os de Silviano Santiago, Júlio Castañon Guimarães, e José Guilherme Merquior , entre outros. Por um lado, praticando o deslocamento como outros modernistas, mas através de uma nova maneira de viajar pela cultura canônica e pela tradição, Murilo Mendes produz em sua obra uma espécie de narrativa não canônica do exílio e das viagens, superando de muitas maneiras a tendência ao reenraizamento de que não escaparam alguns de seus contemporâneos. Por outro lado, o itinerário da vida de Murilo Mendes, que começa em Juiz de Fora, passa pelo Rio de Janeiro e por Roma, e vai terminar em Lisboa, onde morreu, expressa-se nos registros da vivência no exílio e do permanente processo de colecionar lugares, amigos, experiências... Muito desse itinerário encontra-se à disposição nos acervos reunidos e legados pelo poeta, que convidam a muitas visitas e sugerem sempre renovados percursos de fruição e de reflexão. Referências bibliográficas ADORNO, T. Theodor Adorno. Org. Gabriel Cohn. Coord. Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Ática, 1986. BENJAMIN, Walter. Desempacotando minha biblioteca. Rua de mão única. Obras escolhidas II. São Paulo, Brasiliense, 1977. DOMINGUES, Evandro L von Sydow. A ventura pós-moderna. In Semear. Revista da Cátedra Pe. Antônio Vieira de Estudos Portugueses. No. 3. Instituto Camões/ PUC, Rio, 1999. MENDES, Murilo. Janelas Verdes. Obras Completas. Org. L.S. Picchio. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1995. PEREIRA, Terezinha Scher. A estratégia da coleção: pesquisando nos acervos de Murilo Mendes. Imagens de 9 uma biografia literária. Catálogo. Juiz de Fora, CEMM,2000. PICCHIO, Luciana Stegagno. Vida-poesia de Murilo Mendes. In MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Org. L.Stegagno-Picchio. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1995. ------. Murilo Mendes poeta crítico italiano. In Murilo Mendes, 1901 – 2001. Catálogo. Org. J.Castanõn Guimarães. Juiz de Fora: CEMM/UFJF, 2001. SANTIAGO, Silviano. Atração do mundo. Gragoatá – Revista do Programa de Pós-graduação em Letras da UFF. Niterói, no. 1, 1996. Juiz de Fora, MG, agosto de 2001. Maria Luiza Scher Pereira 10