1 Eliete Aparecida de Aguiar Maria Cristina de Jesus Santos Quevellin Alves dos Santos A PERCEPÇÃO DAS MULHERES QUANTO A REALIZAÇÃO DO EXAME DO PAPANICOLAOU NUMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE Bragança Paulista 2010 2 Eliete Aparecida de Aguiar 0012007014703 Maria Cristina de Jesus Santos 001200701283 Quevellin Alves dos Santos 001200701637 A PERCEPÇÃO DAS MULHERES QUANTO A REALIZAÇÃO DO EXAME DO PAPANICOLAOU NUMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Enfermagem, da Universidade São Francisco, sob orientação do Profº Ricardo de Almeida como exigência para conclusão do curso de graduação. Bragança Paulista 2010 3 Dedico aos meus pais: Emilia e José, que já estão na Glória de Deus, pois, foram a razão da minha luta neste período de faculdade. Aos meus irmãos: Eliane, Edilaine, João, Kérlia e Terezinha pelo incentivo e por acreditarem sempre na minha capacidade. Eliete Ofereço a Deus, pois, sem Ele seria impossível. A minha mãe Maria de Lourdes Santos que sempre foi uma guerreira, um exemplo de honestidade e dignidade. Ao meu pai Lourival Santos que sempre está ao meu lado. Maria Cristina Dedico àqueles que nos momentos de fraqueza foram meu apoio, nos momentos de tristeza, meu ombro amigo, e nos momentos de dúvidas, me indicaram o caminho e caminharam comigo em busca da realização dos meus sonhos, mesmo que para tornar os meus reais, esqueceram-se dos seus. Obrigado pai e mãe pelas orações e lágrimas. Dedico o fruto do meu árduo e recompensador trabalho a vocês: Maria Sebastiana e José Edivan. Quevellin Dedicamos este trabalho a todos os profissionais envolvidos com a promoção e prevenção, que asseguram o direito à saúde e promovem a mesma de forma contínua e humanizada. Eliete, Maria Cristina e Quevellin 4 Agradeço a Deus por ter me ajudado, me dado força e paciência para alcançar mais esta conquista de minha vida. À minha família pelo apoio em todos os momentos. Ao professor e orientador Ricardo de Almeida pela orientação, atenção e apoio durante a elaboração deste trabalho. Eliete A minha família: meu filho Matheus, minha filha Thainá, ao meu ex-marido Sergio Luis que tanto me ajudou nesta jornada, a minha irmã Luciana. As minhas queridas companheiras de curso por tudo que passamos. A Educafro que me deu a oportunidade de realizar este sonho tão antigo. A Universidade São Francisco, por ter aberto para concretizar este sonho. Aos meus professores que dividiram seu conhecimento com toda a dedicação. Aos funcionários da USF por toda a atenção. Ao meu professor orientador Ricardo: obrigado por tudo, que Deus o ilumine. Maria Cristina Agradeço Aquele que é Excelso e o maior mestre sobre toda a arte: DEUS: ONIPOTENTE, ONISCIENTE e ONIPRESENTE pela graça e sabedoria em todos os momentos. À minha família que confiou em minha capacidade e esteve comigo nessa jornada. Aos meus queridos e pacientes irmãos que me “suportaram” e tiveram imensa paciência comigo (especialmente nos dias de prova!): Grace Kelly, Ivan Gleison e Ana Rosa. Ao meu noivo Júnior pelo apoio e compreensão nos 5 momentos de intensa ausência. Ao professor Ricardo de Almeida por acreditar em nosso projeto e nos orientar em sua construção. A todos aqueles que de joelho dobrado clamavam a Deus por mim, mesmo sem eu saber. As minhas mais que amigas Eliete e Maria Cristina: Amizade não se busca não se sonha não se deseja, ela se exerce e é uma virtude. Quevellin Alves dos Santos Enfim: A todos que nos fizeram acreditar que o conhecimento pode começar como um sonho, e que este sonho busca a realidade através do desconhecido, O nosso muito Obrigado! 6 DURANTE ESTE TRABALHO... As dificuldades não foram poucas... Os desafios foram muitos... Os obstáculos, muitas vezes, pareciam intransponíveis. Muitas vezes nos sentimos só, e assim, o estivemos... O desânimo quis contagiar, porém, a garra e a tenacidade foram mais fortes, sobrepondo esse sentimento, fazendo-nos seguir a caminhada, apesar da sinuosidade do caminho. Agora, ao olharmos para trás, a sensação do dever cumprido se faz presente e podemos constatar que as noites de sono perdidas, as viagens e visitas realizadas; o cansaço dos encontros, os longos tempos de leitura, digitação, discussão; a ansiedade em querer fazer e a angústia de muitas vezes não o conseguir, por problemas estruturais; não foram em vão. Aqui estamos, como sobreviventes de uma longa batalha, porém, muito mais fortes e hábeis, com coragem suficiente para mudar a nossa postura, apesar de todos os percalços... Como dizia Antoine Saint Exupèry em sua obra prima “O Pequeno Príncipe”: “Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que fez a tua rosa tão importante.” 7 RESUMO Eliete Aparecida de Aguiar Maria Cristina de Jesus Santos Quevellin Alves dos Santos O câncer do colo de útero, representa uma neoplasia maligna que ocorre com muita freqüência no Brasil, causando grande número de óbitos, porém, quando diagnosticado e tratado precocemente apresenta um alto potencial de prevenção e cura. Este trabalho, teve como objetivo; Identificar a percepção das mulheres quanto à realização do exame do papanicolaou numa Unidade da Estratégia de Agente Comunitário de Saúde. Foi abordado durante o estudo, o conceito do câncer cervico-uterino, sua fisiopatologia, seus fatores de risco, método de prevenção, sua incidência e o papel do enfermeiro no desenvolvimento de ações educativas e de conscientização quanto à prevenção do câncer do colo de útero. O papel da enfermagem é de fundamental importância na educação e orientação junto à população feminina, esclarecendo possíveis dúvidas e incentivando a realização periódica do exame, contribuindo assim para uma redução do número de casos. Palavras chaves: câncer do colo de útero, prevenção, papel do enfermeiro. 8 ABSTRACT Eliete Aparecida de Aguiar Maria Cristina de Jesus Santos Quevellin Alves dos Santos Cancer of the cervix represents a malignancy that arises frequently in Brazil, causing many deaths, but when diagnosed and treated early has a high potential for prevention and cure. This study aimed to identify women's perceptions regarding the realization of a pap smear examination of the Strategy Unit of the Community Health Agent was approached during the study, the concept of cervico-uterine cancer, its pathophysiology, its risk factors, method prevention, the incidence and the nurse's role in the development of educational and awareness about the prevention of cervical cancer. The role of nursing is of paramount importance in education and guidance by the female population, accounting for possible questions and encouraging the periodical testing, thereby contributing to a reduction in the number of Keywords: Cervical cancer, prevention, role of nurses. cases. 9 LISTA DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS Gráfico 1: Distribuição da idade de início da atividade sexual das mulheres entrevistadas na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010 ................................35 Gráfico 2: Distribuição do percentil de mulheres que fazem ou não uso de preservativo na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010................................37 Gráfico 3: Distribuição da mulheres com antecedente familiar de câncer na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010.......................................................................44 Gráfico 4: Distribuição das mulheres que conhecem ou não a finalidade do papanicolaou na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010 ...............................55 Gráfico 5: Distribuição da porcentagem de mulheres que consideram importante a realização do papanicolaou na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010...........59 Gráfico 6: Distribuição das mulheres que afirmaram ou não terem suas dúvidas esclarecidas durante a consulta de coleta de papanicolaou na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010.....................................................................................65 Quadro 1: Distribuição das mulheres de acordo com o seu perfil sócio demográfico na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010 ...................................................33 Quadro 2: Motivos para não utilizarem preservativo nas relações sexuais. EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010..................................................................38 Quadro 3: Resultado e tratamento do último papanicolaou realizado pelas mulheres entrevistadas na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010................................54 Tabela 1: Porcentagem das mulheres que tiveram ou não mais de um parceiro na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010........................................................39 Tabela 2: Total de mulheres que tiveram ou não parceiros com DST’s na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010..................................................................40 10 Tabela 3: Distribuição da paridade, tipo de parto, número e tipo de aborto nas mulheres na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010.......................................41 Tabela 4: Idade de menarca e menopausa das mulheres na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010.....................................................................................43 Tabela 5: Mulheres que apresentam antecedentes de câncer na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010.....................................................................................46 Tabela 6: Idade média de realização do primeiro papanicolaou pelas mulheres na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010........................................................47 Tabela 7: Periodicidade de realização do papanicolaou pelas mulheres na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010.,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,49 Tabela 8: Distribuição das mulheres que apresentam ou não sintomas relacionados dos fatores de risco ao câncer do colo do útero na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010....................................................................................................52 Tabela 9: Respostas das mulheres para a questão sobre a finalidade do papanicolaou, na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010..............................56 Tabela 10: Motivos apresentados pelas mulheres para realizar o papanicolaou no EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010........................................................59 Tabela 11: Mulheres que participaram ou não de palestras sobre saúde da mulher na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010...................................................62 11 LISTA DE SIGLAS AIDS: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida BEMFAM: Bem-Estar Familiar no Brasil CAF: Cirurgia de Alta Freqüência. CAISM: Centro de Atenção Integral á Saúde da Mulher. CEBRAP: Centro Brasileiro de Análises e Planejamento. DNA: Ácido desoxirribonucleico. EACS: Estratégia Agente Comunitário de Saúde. HIV: Human immunodeficiency vírus. HMLMB: Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros. HPV: Vírus do Papiloma Humano. INCA: Instituto Nacional do Câncer. NIC: Neoplasia Intracervical. OMS: Organização Mundial da Saúde. SIAB: Sistema de Informação de Atenção Básica. SISCOLO: Sistema de Informação de Controle do Câncer do Colo do Útero. TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 12 SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 13 2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................... 16 2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO ÚTERO ............................................................................................................ 16 2.2 TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS DO TRATO GENITAL FEMININO ............................................................. 17 2.3 FATORES DE RISCO ...................................................................................................................................... 21 2.4 SINAIS E SINTOMAS ..................................................................................................................................... 22 2.5 PREVENÇÃO ................................................................................................................................................. 22 2.6 DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DO ÚTERO .............................................................................................. 22 2.7 PROGRAMAS DE PREVENÇÃO ....................................................................................................................... 23 2.8 TRATAMENTO .............................................................................................................................................. 23 3.0 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................................................... 26 4.0 OBJETIVOS .................................................................................................................................................. 27 4.1 OBJETIVO GERAL......................................................................................................................................... 27 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................................................. 27 5.0 METODOLOGIA ......................................................................................................................................... 28 5.1 TIPO DE ESTUDO .......................................................................................................................................... 28 5.2 CAMPO DE ESTUDO...................................................................................................................................... 28 5.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO.............................................................................................................................. 28 5.4 CRITÉRIO DE INCLUSÃO / EXCLUSÃO ........................................................................................................... 29 5.5 FONTE DOS DADOS ...................................................................................................................................... 29 5.6 PROCEDIMENTOS ......................................................................................................................................... 29 5.6.1 PROCEDIMENTOS ÉTICO-LEGAL ............................................................................................................... 29 5.6.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS .................................................................................................... 30 5.6.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................... 30 6.0 ORÇAMENTO .............................................................................................................................................. 30 7.0 CRONOGRAMA........................................................................................................................................... 31 8.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................................................... 32 RESULTADOS .................................................................................................................................................... 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 72 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 74 APÊNDICE A ...................................................................................................................................................... 82 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................................................................................... 82 APÊNDICE B ...................................................................................................................................................... 84 AUTORIZAÇÃO .................................................................................................................................................. 84 APÊNDICE C ...................................................................................................................................................... 85 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......................................................................................... 85 13 1. 0 INTRODUÇÃO Segundo Abrão (2001), o câncer do colo do útero ainda representa a mais freqüente neoplasia maligna do aparelho genital feminino. Constituindo um grave problema de saúde que atinge as mulheres em todo o mundo, sendo os países em desenvolvimento responsáveis por aproximadamente 80% desses casos. Infelizmente, o Brasil muito contribui para esse panorama (BRASIL, 2009). No estado de São Paulo estudos sobre mortalidade realizado pela Fundação Oncocentro de São Paulo, aponta que o câncer de colo uterino, apesar de apresentar quedas nas suas taxas padronizadas de mortalidade, ainda ocupa lugares de destaque como causas de óbitos. (BRASIL, 2009). O acesso fácil ao colo uterino e suas características morfológicas e funcionais permitiram desenvolver novas técnicas de interpretações da citologia oncológica; fundamento dos programas de rastreamento de lesões tumorais iniciais ou avançadas. Os conhecimentos adquiridos a partir dos estudos efetuados com o câncer do colo do útero, ao longo dos anos, têm sido extrapolados a outros tumores ginecológicos e tumores de outros órgãos (FOCCHI; RIBALTA, 1993). O teste de papanicolaou, é um método simples e barato que indica a presença de lesões neoplásicas ou pré-neoplásicas, e alguns processos de outra natureza (parasitas, processos inflamatórios, etc.), com o tratamento dessas lesões conseguimos interromper, em parte, a evolução para lesões mais graves, quebrando “a cadeia evolutiva” da doença, numa ação preventiva. No entanto, a oferta desse tipo de exame ainda é bem menor do que o desejado, pois nos serviços públicos de saúde, apenas 15% da população feminina acima de 20 anos realizam o teste como preconizado. Essa cobertura é muito pequena, mesmo levando se em conta o fato de que o percentual de mulheres se utiliza de outros serviços que não são vinculados ao Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2009). 14 Para prevenir o câncer a população deve ser informada, sobre os comportamentos de riscos, os sinais de alerta e a freqüência da prevenção. Em oncologia encontra-se o termo prevenção classificado em primário e secundário (CESTARI; ZAGO, 2005). A prevenção primária pode ser realizada através do uso de preservativos durante a relação sexual, uma vez que a prática de sexo seguro é uma das formas de evitar o contágio com o HPV (vírus do papiloma humano), vírus esse que tem um papel importante para o desenvolvimento do câncer e de suas lesões precursoras (BRASIL, 2008). A estratégia de prevenção secundária ao câncer do colo do útero consiste no diagnóstico precoce das lesões de colo uterino antes de se tornarem invasivas, a partir de técnicas de rastreamento compreendidas pela colpocitologia oncológica ou teste de Papanicolaou, colposcopia, cérvicografia e, mais recentemente, os testes de detecção de DNA do vírus Papiloma humano, em esfregaços citopatológicos ou espécimes histopatológicos. O exame colpocitológico ou teste de Papanicolaou dentre os métodos de detecção é considerado o mais efetivo e eficiente a ser aplicado coletivamente em programas de rastreamento do câncer cérvico-uterino, sendo uma técnica amplamente difundida há mais de 40 anos, mesmo sem ter sido objeto de avaliação por meio de estudos experimentais, como os ensaios clínicos aleatorizados (PINHO; IVAN JÚNIOR, 2003). Diminuir a morbidade e a mortalidade e contribuir para o aumento da qualidade de vida são aspectos essenciais quando se trabalha na área da saúde (BRANCO, 2005). Sendo o enfermeiro, o elemento da equipe de saúde que mais se contacta com o cliente, o seu papel é fundamental na promoção da saúde e na prevenção das doenças. A sua função de acompanhamento próximo e freqüente junto das pessoas (doentes ou não) deve privilegiar a educação em saúde, aquisição de hábitos saudáveis, as descobertas de novas motivações e de outros fatores determinantes nos comportamentos (BRANCO, 2005). Tendo em vista a problemática descrita, consideramos relevante o uso de pesquisas para guiar a tomada de decisões clínicas. Essa abordagem proporciona conhecer as preferências dos clientes, fornece provas, abrange resultado e requer aprendizado para 15 novas habilidades no uso de diferentes processos na tomada de decisões (GALVÃO; SAWADA; ROSSI, 2002). Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo verificar a percepção das mulheres quanto à realização do exame do papanicolaou numa unidade de Estratégia de Agente Comunitário de Saúde no Município de Bragança Paulista – SP. 16 2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Anatomia e fisiologia do útero O útero é um órgão muscular piriforme com cerca de 7,5 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de altura. A parte superior repousa sobre a face superior da bexiga urinária; a parte inferior está embutida no assoalho da pelve, entre a bexiga urinária e o reto. A parte superior mais larga é chamada corpo; a parte inferior, menor é o colo. A pequena parte arredondada, acima do nível das entradas tubárias é conhecida como fundo (COHEN; WOOD, 2002). A cavidade dentro do útero tem um formato um tanto semelhante a um T maiúsculo, mas é capaz de mudar o formato e dilatar a medida que o feto se desenvolve. O colo leva à vagina, a parte inferior do canal do parto, que se abre para o exterior do corpo. O revestimento do útero é um epitélio especializado conhecido como endométrio, e, é esta lamina que está envolvida na menstruação (COHEN; WOOD, 2002). O útero recebe o blastócito que se desenvolveu de um ovócito fertilizado e proporciona o local para sua implantação. O desenvolvimento pré-natal continua no interior do útero até que a gestação se complete, quando então o útero desempenha um papel ativo no parto. Este é um órgão que possui uma cavidade desenvolvida por uma espessa musculatura com a forma de uma pêra invertida, sua cavidade é o espaço situado no interior das regiões do útero: fundo e corpo. O estreito canal do colo do útero se estende através do colo e se abre no lume da vagina. A junção da cavidade do útero com o canal do colo do útero é chamada de istmo do útero, e a abertura do canal do colo do útero é chamada de óstio do útero (VAN; KENT, 2003). Os ligamentos largos sustentam o útero, estendendo-se de cada lado do órgão até a parede lateral do corpo. Junto com o útero, estas duas partes do peritônio formam uma divisão que separa a pelve feminina em áreas anterior e posterior (GUYTON; HALL, 2002). 17 Associado à produção cíclica mensal de estrogênios e progesterona pelos ovários existe um cíclico endometrial do revestimento do útero, que atua através dos seguintes estágios: primeiro, proliferação do endométrio uterino; seguindo desenvolvimentos de alterações secretoras no endométrio; e terceiro, descamação do endométrio conhecida como menstruação. Se o óvulo não tiver sido fertilizado cerca de dois dias antes do final do ciclo menstrual, o corpo lúteo, no ovário involui subitamente, e os hormônios ovarianos, estrogênios e progesterona, diminuem para níveis mais baixos (GUYTON; HALL, 2002). Durante a menstruação normal, ocorre a perda de cerca de 40 mililitros de sangue e 35 mililitros de liquido seroso. O liquido normal normalmente não coagula, devido a liberação de fibrinolisina, juntamente com material necrótico endometrial. Se ocorrer sangramento excessivo da superfície uterina, a quantidade de fibrinolisina pode não ser suficiente para impedir a coagulação. A presença de coágulos durante a menstruação constitui freqüentemente, e vidência clínica de patologia uterina (GUYTON; HALL, 2002). Sangramento uterino anormal inclui fluxo menstrual excessivo, menstruação muito freqüente e sangramento não menstrual. Quaisquer destes podem causar anemias graves e merecem atenção médica cuidadosa. O sangramento não menstrual pode ser uma indicação de um tumor, possivelmente câncer (COHEN; WOOD, 2002). 2.2 Tumores Benignos e Malignos do Trato Genital Feminino O termo câncer não implica um estado estático, o início do qual pode ser postulado ao tempo em que finalmente o patologista vê na lamina células invadindo o estroma. A doença é na realidade um processo cinético (carcinogênese). Cuja iniciação começou há muitos anos antes, desregulando uma função gênica (BRENTANI, 2001). Neoplasia maligna pode ser definida como acúmulo anormal de células de um tipo específico que pode levar ao impedimento fatal da função dos órgãos ou tecidos afetados. O acúmulo anormal de células pode advir ou de uma proliferação aumentada ou da ausência de perda de células de um determinado compartimento. Esta última situação pode ser uma 18 conseqüência tanto de uma falha na diferenciação celular como de erros nos mecanismos que iniciam a morte celular programada (apoptose) (BRENTANI, 2001). Evidências crescentes sugerem que o câncer é uma doença genética de células somáticas, sendo necessárias pelo menos duas mutações para o desenvolvimento da neoplasia. As mudanças genéticas aventadas incluem mutação ou super expressão de protooncogênse (envolvidos na estimulação do crescimento) e perda ou mutação de genes supressores responsáveis pelo controle do crescimento celular. A identificação dos genes envolvidos na transformação é auxiliada pela identificação ou estudo de anormalidades cromossômicas. Particularmente perda de heterozigose entre genes de cromossomas pareados pode indicar deleção de gene supressor (BRENTANI, 2001). No entanto, o câncer não é identificado clinicamente por mudanças em velocidades de crescimento mas pela invasão e perda da arquitetura celular. Uma das características do tumor, também é a independência da adesão à matriz extracelular (perda de ancoragem). Vários genes supressores codificam proteínas envolvidas com a matriz extracelular. Perda de adesão e da arquitetura celular não são conseqüências imediatas da desregulação do crescimento em virtude da ativação de oncogênese ou perda de genes supressores. Tumores benignos apresentando crescimento rápido são bem conhecidos. Mudanças genéticas que leva a ativação irreversível das vias regulatórias do crescimento são premissas para mutações subseqüentes em genes envolvidos em adesão ou estrutura do cito esqueleto ou aumento da produção de proteases. Na ausência da mutação inicial das vias regulatórias de crescimento, perda da adesão em apoptose ou morte celular. Similarmente expressão aumentada de proteases que degradam a matriz em tecidos normais induz regressão e apoptose, mas em células cancerosas aumenta a invasão e metástase (BRENTANI, 2001). Fibróides, que são mais corretamente chamados miomas são tumores comuns do útero. Estudos indicam que cerca de 50 % das mulheres que alcançam a idade de 50 anos tem um ou mais destes tumores nas paredes do útero. Freqüentemente esses tumores são pequenos e normalmente permanecem benignos e não produzem sintomas. Desenvolvem 19 entre a puberdade e a menopausa e comumente pára de crescer após a mulher ter alcançado a idade de 50 anos. Em alguns casos, esses tumores interferem com a gravidez e em uma paciente com mais de 40 anos de idade, um cirurgião simplesmente pode remover o tumor e deixar o útero completamente intacto. Gravidezes normais têm ocorrido após tal cirurgia. Os miomas podem se tornar tão grandes que a pressão nas estruturas adjacentes causa distúrbios graves. Em alguns casos, a invasão de vasos sanguíneos próximos da cavidade do útero causa hemorragias graves. Por estas e outras razões, pode ser necessário remover todo o útero ou parte dele. A remoção cirúrgica do útero é chamada histerectomia (COHEN; WOOD, 2002). O câncer mais comum do trato genital feminino é o câncer do endométrio (o revestimento do útero). Este tipo de câncer, normalmente afeta as mulheres antes ou após a menopausa. É observado em mulheres que tiveram poucas gravidezes, sangramento anormal ou ciclos nos quais a ovulação não ocorreu. Os sintomas incluem uma descarga anormal ou sangramento irregular: os métodos comuns de tratamento incluem cirurgia e irradiação. O tratamento agressivo precoce deste câncer; como de todos os cânceres, podem salvar a vida da paciente (COHEN; WOOD, 2002). O câncer de colo, o terceiro tipo de câncer mais comum do trato genital feminino, é mais freqüente em mulheres de 30 a 50 anos de idade. O exame apropriado permite a descoberta e o tratamento de muitos casos. Embora nenhuma causa específica, tenham sido identificadas, as estatísticas indicam que o risco de desenvolvimento de câncer de colo é acentuadamente aumentado por fatores como a primeira relação sexual em idade precoce, muitos parceiros sexuais e infecção, por meios de herpes ou um vírus que cause verrugas genitais (COHEN; WOOD, 2002). A distribuição da incidência e da mortalidade por câncer nas mulheres é de fundamental importância para o conhecimento epidemiológico deste agravo, desde os aspectos etiológicos até os fatores prognósticos envolvidos em cada tipo específico de neoplasia maligna. O estabelecimento de medidas efetivas de controle é feito com base em informações sobre a ocorrência dos tumores malignos nas diferentes regiões geográficas. 20 Dentro deste contexto, o cálculo das estimativas de casos novos oferece uma excelente base para o planejamento e aprimoramento das ações que visam à prevenção e atenção em todos os níveis (BRASIL, 2006). Segundo dados do Departamento de Informação e Informática do SUS o coeficiente de mortalidade por neoplasia maligna do colo do útero no município de Bragança Paulista em 2005 foi de 8,4 / 100 mil mulheres. Em 2006, no Brasil, foram registrados aproximadamente 237.480 casos novos de câncer (todos os tipos de localização) para o sexo feminino. Estima-se que entre os tumores mais incidentes neste grupo populacional, exceto os tumores de pele não melanoma (61.160 mil casos novos), destacam-se mama, colo do útero, cólon e reto e pulmão (BRASIL, 2006). A incidência dos casos ocorre de forma heterogênea nas unidades da federação e capitais do país, observando-se uma grande variação regional na distribuição das taxas brutas de incidência de câncer; seja de uma forma geral ou por localização primária. Tais taxas são maiores nas regiões Sul e Sudeste, passando pela região Centro-Oeste, as menores concentram-se nas regiões Nordeste e Norte, com raras exceções (BRASIL, 2006). Entre as mulheres, com relação ao câncer do colo do útero, registra-se uma discreta diminuição da mortalidade por essa causa entre 1979 e 1999, de 0,61%, apesar de ser uma doença de fácil diagnóstico, com tecnologia simplificada e de tratamento acessível. O número de casos novos de câncer do colo do útero para o Brasil em 2006 é de 19.260, com um risco estimado de 20 casos a cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2006). Para o Brasil estima-se em 2010 o número de casos novos seja de 18.430, com um risco estimado de 18 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2009). Segundo o INCA (2009) sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o mais incidente na região Norte (23/100.000). Nas regiões, Centro-Oeste (20/100.000) e Nordeste (18/100.000), ocupa a segunda posição mais freqüente e nas regiões Sul (21/100.000) e na região Sudeste é o terceiro mais freqüente (16/100.000). 21 2.3 Fatores de Risco São considerados fatores de risco de câncer do colo do útero a multiplicidade de parceiros e a história de infecções sexualmente transmitidas (da mulher e de seu parceiro); a idade precoce na primeira relação sexual e a multiparidade. Além desses fatores, estudos epidemiológicos sugerem outros, cujo papel ainda não é conclusivo, tais como tabagismo, alimentação pobre em alguns micronutrientes, principalmente vitamina C, beta caroteno e folato, e o uso de anticoncepcionais (BRASIL, 2002). Atualmente, a teoria mais aceita para a explicação do aparecimento do câncer do colo do útero repousa na transmissão sexual. Desde 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a persistência da infecção pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) em altas cargas virais representa o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença. Sabe-se também que a infecção pelo HPV é essencial, mas não suficiente para a evolução do câncer. Além da tipagem e da carga viral do HPV, adquire importância a associação com outros fatores de risco que atuam como co-fatores, tais como a paridade elevada, o início precoce da atividade sexual e o número de parceiros sexuais. Em relação ao herpes vírus, alguns estudos de caso controle com sorologia têm demonstrado a presença do DNA viral em lesões pré-cancerosas ou cancerosas, porém, esta presença é considerada como um marcador de atividade sexual, e não agente ativo da carcinogênese (BRASIL, 2002). A análise da associação, se é que existe, entre o uso de contraceptivos orais e o risco de câncer invasivo do colo do útero é feita com dificuldades. Os contraceptivos orais são usados por mulheres sexualmente ativas e que, em menor probabilidade, usam métodos de barreira, sendo por isto mais expostas ao risco de contrair HPV. Em compensação, essas mulheres comparecem mais ao ginecologista, tendo maior possibilidade de serem rastreadas para o câncer do colo do útero (BRASIL, 2002). Em situações de imunossupressão, tais como no tabagismo, corticoterapia, Diabetes, Lúpus e AIDS, a incidência do câncer do colo do útero está aumentada. Isto também ocorre 22 em situações onde há ingestão deficiente de vitamina A e C, beta-caroteno e ácido fólico, comumente associado com baixas condições socioeconômicas (BRASIL, 2002). 2.4 Sinais e Sintomas O câncer do colo do útero é uma doença de crescimento lento e silencioso. Existe uma fase pré clínica, sem sintomas, com transformações intra-epiteliais progressivas importantes, em que a detecção de possíveis lesões precursoras é por meio da realização periódica do exame preventivo do colo do útero. Antes de atingir o estágio invasor da doença, quando a cura se torna mais difícil, senão impossível. Nessa fase os principais sintomas são sangramento após relação sexual, dor pélvica e secreção vaginal de odor fétido (BRASIL, 2002). 2.5 Prevenção A principal estratégia a ser utilizada é a adoção do sexo seguro por meio do estímulo do uso de preservativo (BRASIL, 2002). 2.6 Detecção Precoce do Câncer do Útero A principal estratégia utilizada para detecção precoce dessa doença no Brasil, é através do rastreamento, que significa realizar o exame preventivo (Papanicolaou) em mulheres sem os sintomas da doença, com o objetivo de identificar aquelas que possam apresentar a doença em fase muito inicial, quando o tratamento pode ser mais eficaz. O exame preventivo (Papanicolaou) é dirigido a mulheres de 25 a 59 anos que devem submeter-se ao exame periodicamente (BRASIL, 2008). A periodicidade preconizada para a realização desse exame é, inicialmente, 1 exame por ano. No caso de 2 exames normais seguidos, (com intervalo de 1 ano entre eles), o exame deverá ser feito a cada 3 anos. Em caso de exames com resultados alterados a mulher deve seguir as orientações fornecidas pelo médico que a acompanha (BRASIL, 2008). 23 O exame Papanicolaou pode ser realizado em postos ou unidades de saúde, próximos a residência da mulher, que tenham profissionais de saúde treinados para essa finalidade. O ministério da saúde lançou o programa Viva Mulher que introduziu a Cirurgia de Alta Freqüência (CAF) nas unidades secundárias de saúde, com a capacitação de 244 pólos para este tipo de tratamento. Foi implantado, em nível nacional, o SISCOLO - Sistema de Informação de Controle do Colo do Útero -, uma base de dados capaz de fornecer subsídios para a avaliação e planejamento do Programa (BRASIL, 2008). 2.7 Programas de Prevenção Viva mulher: Criado em 1997 pelo Ministério da Saúde, o Programa tem como objetivo reduzir a mortalidade e as conseqüências psicossociais que o câncer de colo de útero pode causar às mulheres brasileiras. Hoje, todas as 27 unidades da federação já possuem o programa. Nos últimos três anos foram aplicados R$ 135,3 milhões em ações do Programa Viva Mulher pelo país (que incluem coleta, exames citopatológicos, anatomopatológicos de colo uterino e cirurgia de alta freqüência). Nesse período, foram realizados 23 milhões de exames de Papanicolaou pela rede pública de saúde (BRASIL, 2009). 2.8 Tratamento Segundo Guimarães (2004), antes de qualquer tratamento (destruição ou ablação), é preciso estabelecer uma correlação entre a citologia e a biópsia dirigida pela colposcopia, com a finalidade de excluir com segurança a presença de carcinoma invasor, entre os tratamentos encontram-se: Cauterização: procedimento realizado através de nitrogênio líquido, nitrato de prata, eletro cautério ou ácido acético; Conização: A terapêutica adequada para as lesões de alto grau depende de vários fatores, entre eles: idade, desejo de manter a fertilidade e condição clínica. Estas lesões devem ser tratadas pela conização. A técnica de conização assim como o volume de tecido 24 removido depende da extensão da lesão no canal endocervical. Quando a paciente é jovem a junção escamo colunar geralmente é ectocervical e o cone pode ter menor altura, preservando-se o orifício interno do colo, evitando-se o risco de incompetência istmocervical. A remoção de toda extensão do canal endocervical é inevitável quando não se localizou a lesão para biópsia. Histerectomia abdominal ou vaginal: É aceita como tratamento para as pacientes com prole formada e indicada para os casos em que o cone apresenta margens comprometidas também em pacientes com prole formada. Histerectomia Radical: Operação onde a cérvice, o útero e parte da vagina são removidos, juntamente com os linfonodos da área; Radioterapia: Para pacientes consideradas inoperáveis por doenças associadas, radioterapia é a alternativa. Braquiterapia: Corresponde ao tipo de radioterapia na qual os materiais radioativos são implantados nas proximidades do tumor: as doses de radiação são liberadas nas imediações das células tumorais tentando preservar as células sadias. Como os implantes radioativos são mantidos no organismo por alguns dias, o tratamento é realizado sob internação hospitalar em quartos especiais, longe de crianças e gestantes. Existe um outro tipo de braquiterapia, chamada de "alta taxa de dose", cujo implante radioativo permanece no organismo da paciente por um curto espaço de tempo, sem que haja necessidade de hospitalização durante este período. Quimioterapia: era empregada apenas como conduta paliativa sobretudo nos tumores recidivantes não passiveis de tratamento cirúrgico ou radioterápico, ou casos da doença já em fazes metastática, ou como indicação pós tratamento cirúrgico e ou radioterápico. Hoje a quimioterapia deixou de ser considerada apenas como um último recurso paliativo, mas passou a ser vista também como um instrumento para ser utilizado antes de qualquer tratamento cirúrgico e ou radioterápico e neoplasias localmente avançadas. 25 Durante a gravidez não está indicado tratamento para lesões pré-invasoras do colo. No entanto, a paciente deve ser acompanhada com exames trimestrais (citologia, colposcopia e eventualmente nova biópsia) para se detectar a evolução para lesão invasora (GUIMARÃES, 2004). 26 3.0 JUSTIFICATIVA No Brasil, existem cerca de seis milhões de mulheres entre 35 a 49 anos que nunca realizaram o exame citopatológico do colo do útero (Papanicolaou), faixa etária onde mais ocorrem casos positivos de câncer do colo do útero. As conseqüências são milhares de novas vítimas a cada ano. Mulheres que, se tivessem tratado a doença a tempo, poderiam estar vivendo hoje uma vida normal (BRASIL, 2002). Após o levantamento das informações concluiu-se que todos os esforços realizados na tentativa de prevenir o câncer de colo de útero, as ações em prevenção tem se mostrado ineficaz no que diz respeito ao número de coletas do citopatológico, o aumento da morbidade pela doença e principalmente a educação em saúde, onde o controle do câncer depende essencialmente de ações nas áreas de promoção, proteção específica e diagnóstico precoce. Verifica-se então, a importância do papel do enfermeiro disponibilizando essas ações na estratégia de agente comunitário de saúde. E de se conhecer a percepção das mulheres quanto à realização do exame, suas dúvidas e inseguranças, e porque as mesmas deixam de realizá-lo. 27 4.0 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Identificar a percepção das mulheres quanto à realização do exame do papanicolaou numa Unidade da Estratégia de Agente Comunitário de Saúde. 4.2 Objetivos Específicos 1. Caracterizar o perfil da clientela que realiza o exame citopatológico do colo do útero (Papanicolaou); 2. Conhecer a história obstétrica e ginecológica; 3. Conhecer os fatores de risco da população estudada; 4. Identificar o último exame realizado e o seu resultado; 5. Identificar o conhecimento das mulheres quanto à importância do exame citopatológico do colo de útero (papanicolaou); 6. Enfatizar o papel do enfermeiro no desenvolvimento de ações educativas e de conscientização quanto à prevenção do câncer de colo de útero. 28 5.0 METODOLOGIA 5.1 Tipo de Estudo Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de campo, com abordagem quantitativa. 5.2 Campo de Estudo O EACS é uma unidade com médicos, clínico de adultos, ginecologista, pediatras outros especialistas com território definido, e com cobertura de Agente Comunitário de Saúde, população cadastrada, atendimento domiciliar e vigilância à saúde em domicílio. Em Setembro de 2003 foi cadastrado no Sistema de Estabelecimentos de Saúde a Unidade da Estratégia de Agente Comunitário de Saúde do Bairro Planejada II. Totalizando 4 Unidades juntamente com as do bairro do Pedro Megalle, Toró e São Lourenço. No município de Bragança Paulista no ano de 2006 foram registrados 13,3% de população coberta pela Estratégia de Agente Comunitário de Saúde. Esta pesquisa será realizada na unidade de Estratégia de Agente Comunitário de Saúde (EACS), localizada na Rua Agostinho Rosa 240 Planejada II – CEP -12922820, no Município de Bragança Paulista, São Paulo. Unidade que presta atendimento de demanda espontânea e referenciada. 5.3 População do Estudo A população será composta por usuárias cadastradas e que se submetem a coleta de papanicolaou no EACS Planejada II. Segundo dados do SIAB (2010), o total de mulheres cadastradas no EACS Planejada II é de 2,375, sendo que de 15 a 19 anos : 283 mulheres, de 20 a 39 anos : 1149 mulheres, de 40 a 49 anos : 379 mulheres, de 50 a 59 anos 278 e > 60 anos 286 mulheres; tendo em vista que, serão entrevistadas 100 mulheres para fazer parte do estudo, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. 29 5.4 Critério de Inclusão / Exclusão Inclusão: Usuárias maiores de 18 anos que realizaram a coleta do exame Papanicolaou, e que concordaram em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE. Exclusão: Usuárias menores de 18 anos, que não realizaram a coleta do exame Papanicolaou, e que não concordaram em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE. 5.5 Fonte dos Dados Para a coleta de dados serão utilizado duas fontes: um formulário (Apêndice A), será aplicado á usuária, composto por questões abertas e fechadas, e abordando características, conhecimento e percepção sobre o exame que será explicado as mulheres, e dados retirados do prontuário de cada mulher entrevistada. 5.6 Procedimentos 5.6.1 Procedimentos Ético-Legal O projeto de pesquisa será submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco. Será enviada uma carta para a Secretária de Saúde do Município de Bragança Paulista (Apêndice B), solicitando autorização para a coleta de dados. Será apresentado um Termo de Consentimento à população envolvida neste estudo (Apêndice C). Somente participarão deste estudo as pacientes que estiverem de acordo com o Termo de Consentimento. 30 5.6.2 Procedimento de Coleta de Dados Após autorização da Secretária de Saúde do Município de Bragança Paulista e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, os dados serão coletados, pelos próprios autores da pesquisa, nos meses de Junho, Julho e Agosto de 2010. Será agendada uma visita com o enfermeiro que atua no EACS Planejada II com a finalidade de apresentar os objetivos da pesquisa e obter informações á respeito da população em estudo. Primeiramente, serão determinadas as mulheres a participar da pesquisa através da amostragem aleatória. Após, serão realizadas análise dos prontuários e visitas domiciliares juntamente com os agentes comunitários de saúde, onde serão explicados os termos do consentimento livre e esclarecido. Após as mesmas serão orientadas a preencher o formulário. Este estudo, embora realizado com seres humanos, não acarretará risco conhecido à saúde física e mental dos mesmos, visto que não será utilizada nenhuma forma de intervenção, a não ser a aplicação de um questionário. Será assegurada à participante da pesquisa a manutenção do sigilo da informação prestada. Todos os instrumentos de coleta de dados ficarão arquivados e sob responsabilidade do pesquisador (a). Serão cumpridos os termos da Resolução 196 (10/10/1996), do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). 5.6.3 Procedimentos de Análise dos Dados Serão realizados a analise descritiva dos dados, os mesmos serão apresentados e após discutidos. 6.0 ORÇAMENTO Todos os custos da pesquisa serão subsidiados pelos pesquisadores, não incorrendo qualquer ônus à instituição e ao campo de pesquisa. 31 7.0 CRONOGRAMA Atividades Fev 2010 Levantamento Bibliográfico x Elaboração do projeto x Solicitação de aprovação ao Comitê de Ética Coleta de dados Tabulação dos dados Discussão dos dados Mar 2010 Abr 2010 X x Mai 2010 Jun 2010 Jul 2010 Ago 2010 x x x Set 2010 Out 2010 Nov 2010 X x X x Conclusões X Revisão X Elaboração do Pôster X Apresentação do trabalho Dez 2010 x 32 8.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO Quadro 1 - Distribuição das mulheres de acordo com o seu perfil sócio demográfico na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Idade em anos 18 a 20 21 a 29 30 a 59 ≥60 Total Profissão Do lar Aposentada Balconista Doméstica Costureira Desempregada Vendedora Outras Total Estado Civil Casada Solteira Viúva Divorciada União Consensual Total Escolaridade Ensino Fundamental Completo Ensino Fundamental Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Superior Completo Ensino Superior Incompleto Total N 3 27 54 16 100 N 53 4 4 4 4 3 3 25 100 N 54 14 9 7 16 100 N 10 53 26 7 4 00 100 % 3,0 27,0 54,0 16,0 100,0 % 53,0 4,0 4,0 4,0 4,0 3,0 3,0 25,0 100,0 % 54,0 14,0 9,0 7,0 16,0 100,0 % 10,0 53,0 26,0 7,0 4,0 0,0 100,0 No quadro acima, se observa que as mulheres com faixa etária com maior distribuição abrangem dos 30 aos 59 anos (54,0%), seguidas pelas com idade entre 21 a 29 anos (27,0%). Como profissão 53,0% referiram serem do lar. Das mulheres entrevistadas, quanto ao estado civil, 54,0% eram casadas, 14,0% solteiras e 16,0% em união consensual. Analisando as características sócios demográficas, observou-se uma associação do grau de escolaridade com conhecimentos, atitudes e práticas frente ao exame. Mais da 33 metade, 53,0%, possui o Ensino Fundamental Incompleto e 26,0% com Ensino Médio Completo. Estudo realizado por Oliveira et al. (2006), em São Luís, Maranhão, revelou que mulheres com menor escolaridade (5 a 8 anos de estudo), tiveram menores percentuais de realização do preventivo na análise não ajustada. Como a baixa escolaridade é um fator de risco para o câncer uterino, exatamente as mulheres de maior risco foram às menos atingidas pelo preventivo. Ainda sobre o baixo nível sócio econômico, podemos ressaltar que este se encontra diretamente relacionado à predominância do câncer do colo do útero. De acordo com estudo realizado em Pelotas – RS foi constatado que o exame do papanicolaou é menos realizado por mulheres mais jovens e de maior idade, de cor da pele mulata ou preta, de baixo nível socioeconômico, pouca escolaridade, sem companheiro e que não consultaram com ginecologista no último ano (HACKENHAAR; CESAR; DOMINGUES, 2006). Em trabalho realizado no ambulatório de patologia cervical do HMLMB, houve uma diferença significativa entre as mulheres com neoplasia invasora comparadas com aquelas portadoras de NIC, em relação à idade e trabalho. Observou-se maior porcentagem de mulheres com 40 anos de idade ou mais (85%) e que não trabalhavam fora de casa (81%), entre aquelas com neoplasia invasora; aquelas que tinham entre 20 e 39 anos corresponderam a 57 com neoplasia não invasora e 15 com invasora (BRENNA, 1996). 34 No gráfico acima podemos notar que 68% das mulheres iniciaram a atividade sexual entre 16 a 21 anos, 8% com idade igual ou maior que 22 anos. O início precoce da relação sexual é um fator de risco para o câncer do colo de útero, concluindo então que uma parte das mulheres entrevistadas encontra-se dentro desse grupo de risco, já que 23% relataram terem iniciado atividade sexual com menos de 15 anos. Sendo que essa neoplasia pode ocorrer em mulheres jovens que iniciam atividade sexual na adolescência e tendem por não apresentarem parceiros fixos constituir um fator de risco de aumento na predisposição para o desenvolvimento dessa patologia pela multiplicidade de parceiros sexuais. Muito embora sua incidência maior seja entre os 35 a 49 anos de idade e lesões mais graves podem ser encontradas também nas faixas entre 35 a 55 anos (OLIVEIRA et al., 2006). No estudo realizado em São Luís no Maranhão (OLIVEIRA et al., 2006), 283 mulheres iniciaram a atividade sexual com idade menor que 20 anos. Já em Maringá – PR, observou – se que a idade de média de coitarca das mulheres que realizam serviços gerais na Universidade Estadual de Maringá foi de 20,9 anos (SUZUKI et al., 2003). No Brasil, a idade mediana de início da vida sexual passou de 16,7 em 1986 para 16,4 entre as meninas de 15 a 24 anos. A idade mediana de iniciação sexual entre os meninos desta mesma faixa etária foi de 15,3 em 1996 (BEMFAM, 1999). 35 Para Nascimento et al. (2005), a primeira relação sexual ocorre mais precocemente que nas gerações anteriores, independente do estrato social. Ainda segundo Borges (2005), esta tendência é, porém, mais notável entre as mulheres que têm se iniciado, sexualmente, tão cedo quanto os homens, (em média aos 15,3 anos). No estudo de Nascimento et al. (2005) se colocando no ranking dos mais importantes fatores de risco para a neoplasia cervical, a sexarca foi analisada e confirmada a tendência à antecipação. No grupo Adolescente (idade média de 17,4 anos) a sexarca ocorreu em média aos 15,0 anos e no grupo Adulto (idade média 22 anos) em média aos 16,6 anos. Conforme o supracitado há que se considerarem as implicações desta antecipação para a saúde sexual e reprodutiva das mulheres desta região, visto que a composição dos grupos estudados se deu em estratos definidos por faixa etária, mas provenientes da mesma população e representativos de gerações imediatamente subseqüentes, que interessam adolescentes e mulheres que completaram recentemente o período da adolescência com características bastante semelhantes. O estudo do CEBRAP realizado para o Ministério da Saúde aponta que em 1984 era de 35,2% a percentagem de homens jovens de 16 a 19 anos que relatavam ter iniciado a vida sexual antes dos 15 anos, esse percentual cresceu para 46,7% em 1998. Entre as meninas esse percentual passou de 13,6 para 32,3. Para os homens a media foi de 14,5 para 16,4 anos e para as mulheres de 15,2 para 20,6 anos neste mesmo período (BERQUÓ et al., 2000). Esse comportamento não seria preocupante se não fosse o baixo índice de uso de métodos eficazes de prevenção das DST/AIDS e da gravidez não planejada na adolescência. Neste mesmo estudo encontramos os seguintes resultados sobre comportamentos de risco de adolescentes brasileiros: entre os jovens de 16 a 19 anos, 61% informaram já ter tido relações sexuais, 48% fizeram uso de preservativos na primeira relação sexual, sendo que este percentual é maior conforme o estrato socioeconômico e o nível de escolaridade. Entre os jovens de 16 a 25 anos sexualmente ativos nos últimos 12 meses, o uso de preservativos foi de 52,8% entre os do sexo masculino e 35,4% entre os do sexo feminino (BERQUÓ et al., 2000). 36 O gráfico acima nos indica a porcentagem das mulheres que fazem ou não uso de preservativo, das 100 mulheres entrevistadas 80% não usam preservativo durante as relações sexuais e apenas 20% dispõe dessa proteção. A partir dos dados apresentados podemos inferir que nessa população do estudo o uso do preservativo não é a principal opção de método contraceptivo ou medida preventiva de DST’s. O inquérito domiciliar realizado em São Luis, no Maranhão (OLIVEIRA et al., 2006) onde foram entrevistadas 465 mulheres, delineou que dessas 175 disseram fazerem uso de preservativo, enquanto que 290 não fazem uso. Fazendo um comparativo ficou claro que ambas as mulheres, tem total desconhecimento sobre as DST’s, já que em pluralidade não se previnem adequadamente, um dado alarmante já que a principal estratégia para a prevenção primária da doença é o uso de preventivo (masculino ou feminino) durante as relações sexuais. Pesquisa realizada com 116 de mulheres trabalhadoras de um Shopping Atacadista de Confecções, localizado na cidade de Cianorte no Paraná (DOMINGOS et al., 2008), chama atenção, pois apenas 9,5% relataram fazer uso de camisinha como método contraceptivo ou para a prevenção de DST’s. 37 Ainda sobre o uso do preservativo o Quadro abaixo nos mostra os motivos para o seu desuso: Quadro 2 : Motivos para não utilização do preservativo nas relações sexuais no EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Motivos para não utilizar N % Não tem mais relação sexual Confia no marido Não tem outro parceiro além do marido Usa ACO*/ Uso de anticoncepcional injetável Fez laqueadura/ O marido fez vasectomia Não tem marido O marido não gosta e confia no parceiro / O marido não gosta Não refere / Por que não Não tem mais menstruação Não acha necessário / Não acha que é necessário e é laqueada Não gosta de usar Nunca precisou Parceiro não tem dinheiro para comprar Pretende ter filhos Não tem necessidade é evangélica Total 14 11 10 08 07 06 06 04 04 03 03 01 01 01 01 80 11,2 8,8 8,0 6,4 5,6 4,8 4,8 3,2 3,2 2,4 2,4 0,8 0,8 0,8 0,8 64,0 *ACO: Anticoncepcional oral. Não ter mais relação sexual (11,2%), confiar no marido (8,8%), e não ter outro parceiro além do marido (8,0%) são as justificativas mais freqüentes para que as mulheres não façam uso do preservativo durante as relações sexuais. Estudo realizado em Fortaleza – CE, por Queiroz; Pessoa e Souza (2005) aponta como motivos para a não-adesão a camisinha: falta de informação, não acreditar na contaminação de DST’s, diminuição da auto-estima, descaso com o auto cuidado, falta de autonomia, vergonha, medo de se expor a situação embaraçosa. Aquelas que responderam que não usam preservativo, pois fazem uso de ACO ou injetável foi bastante significativo (6,4%). No estudo realizado em Maringá (SUZUKI et al., 2003) as mulheres que usam ACO totalizaram 26,1% da amostra estudada (n=88). Segundo o Inca (2002) em relação à associação do uso de contraceptivos orais e o risco de câncer invasivo do colo do útero, esta é feita com dificuldades. Os contraceptivos orais em sua 38 maioria, são utilizados por mulheres sexualmente ativas e que, em menor probabilidade, usam métodos de barreira, sendo por isso mais expostas ao risco de contrair HPV. Porém, essas mulheres apresentam maior freqüência ao ginecologista, tendo assim maior probabilidade de serem rastreadas para o câncer cérvico-uterino. Em estudo retrospectivo de 54.985 citologias de colo uterino que analisou dentre outros fatores o uso do contraceptivo oral por adolescentes com infecção pelo HPV, foram identificadas 6.498 mulheres nesta faixa etária, e 326 delas apresentaram alterações compatíveis com a infecção viral, associada ou não a NIC 1; 40 casos de NIC 2, e sete casos de NIC 3. O percentual de adolescentes do grupo com infecção pelo HPV usuárias de contraceptivo oral (16,9%) foi mais elevado quando comparado ao grupo controle sem infecção pelo HPV (13,8%) (MURTA et al., 2001). Tabela 1: Porcentagem de mulheres que tiveram ou não mais de um parceiro na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Tem ou já teve mais de um parceiro N % Sim Não 46 54 46,0 54,0 Total 100 100,0 O gráfico acima comprova que das mulheres entrevistadas, 54% responderam que sim, tiveram mais de um parceiro, 46% referiram que não tem ou não tiveram mais que um parceiro. É indiscutível a relevância da associação do número de parceiros sexuais com a neoplasia cervical. A multiplicidade de parceiros sexual durante a vida e a promiscuidade do parceiro sexual são fatores de risco importantes para infecção por HPV e de outras alterações genitais, tendo em vista que as mulheres com tais práticas tendem a se contaminarem mais facilmente com as DST’s, inclusive com o HIV, fato este que pode favorecer o desenvolvimento do câncer de colo de útero. A literatura relata, ainda, que parceiros sexuais de mulheres com câncer cervical tiveram várias infecções genitais, incluindo verrugas e câncer de pênis. E que a multiplicidade de parceiros sexuais tem sido relacionada com um 39 risco crescente para a aquisição do HPV, sendo o número excedente a cinco parceiros sexuais um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de colo, mesmo quando a mulher não é portadora de HPV. (SILVA ET AL., 2005, BORGES ET AL., 2004). Tendo em vista o resultado obtido em Cianorte – PR o elevado percentual de mulheres com companheiros e a realização do exame citopatólogico, podemos considerar que a população de mulheres estudadas está menos vulnerável ao câncer de colo uterino, o que pode ser confirmado com o estudo em Rio Branco – AC por Leal et al. (2003), no qual as mulheres que tiveram um único parceiro apresentaram freqüência inferior de lesões, quando comparadas com as que tiveram dois ou mais parceiros, dado confirmado também em Londrina – PR no estudo sobre a cobertura e os fatores associados à não-realização do Papanicolaou no qual o número de parceiros foi maior (de dois a três parceiros) no grupo que apresentava casos confirmados de câncer (SILVA et al., 2006). Tabela 2: Total de mulheres que tiveram ou não parceiros com DST’s na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Parceiros com DST's* N % Não Sim 91 09 91,0 9,0 Total 100 100,0 *DST’s: Doenças sexualmente transmissíveis. Segundo podemos verificar na Tabela 2, 91,0% das mulheres entrevistadas referiram não terem parceiros com DST’s As Doenças Sexualmente Transmitidas (DST’s) são doenças infecciosas que podem ser disseminadas através do contato sexual. Algumas podem também ser transmitidas por vias não sexuais, porém as formas não-sexuais de transmissão são menos freqüentes. Estão entre as cinco principais causas de procura dos serviços de saúde e podem provocar sérias complicações, tais como infertilidade, abortamento espontâneo, malformações congênitas e até a morte, se não tratadas. Além disso, aumentam a chance, em pelo menos dez vezes, de contaminação pelo Human Immunodefciency Virus (HIV). São doenças de difícil detecção, uma vez que acarretam poucos sintomas visíveis e, muitas vezes, apresentam-se de forma assintomática, (DAMASCENO et al, 2009). 40 Foi realizado um estudo no CAISM, em Campinas, (GUIDI, 1997) com os parceiros das mulheres infectadas pelo HPV e de acordo com a análise realizada, constatou-se que o antecedente de DST’s mostrou uma positividade geral referida de 46,44% (261/562). Dos 261 parceiros que referiram passado venéreo, 211 (80,8%) tiveram uma única doença, 41(15,7) referiram duas doenças diferentes e 9 (3,4%) referiram três doenças. A doença mais referida foi à uretrite gonocócica com 58,3% (n=123), seguida pelo condiloma acuminado com 15,6% (n=33), considerando-se apenas o subgrupo com uma única DST’s. No entanto, nos outros sub grupos (com 2 e 3 doenças) o condiloma esteve presente em mais 27 pacientes, o que aponta para um antecedente desta doença de 10,67% (60 pacientes) na população estudada. No mesmo estudo foram encontrados 3 pacientes suspeitos de portarem AIDS. A sorologia confirmou dois casos com prevalência nessa população de 0,35%. Todos os casos, incluindo o não confirmado, pertenciam ao grupo com lesões virais, o que equivale a uma prevalência da soropositividade nesse grupo de 1,06%. Os dois confirmados sorologicamente tinham lesões acuminadas, e o caso soro-negativo lesão plana. Os exames laboratoriais para o HIV não foram aplicados rotineiramente, nos grupos desse estudo, mas segundo refere Guidi, apenas em 8 casos suspeitos, na época definidos como pertencentes a grupo de risco (antecedente de drogadição por via venosa e bissexualidade). Desses 6 foram negativos e 2 positivos. A partir dos subsídios teóricos apresentados acima podemos concluir que a população em estudo apresenta baixo índice de ocorrência no fator de risco relacionado a antecedente de DST’s, já que as mesmas em suma maioria não tem ou teve parceiros com doenças sexualmente transmissíveis. 41 Tabela 3: Distribuição da paridade, tipo de parto, número e tipo de aborto nas mulheres entrevistadas na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Paridade N % 0 06 6,0 1a5 85 85,0 6a9 05 5,0 ≥ 10 04 4,0 Total 100 100,0 Tipo de parto PC* PN** PF*** Total N 48 60 02 110 % 48,0 60,0 2,0 110,0 Aborto 0 1a3 ≥4 Total N 81 18 01 100 % 81,0 18,0 1,0 100,0 *PC: Parto cesárea. **PN: Parto normal. ***PF: Parto fórceps. A tabela exprime que 85,0% das mulheres entrevistadas têm de 1 a 5 filhos, 6,0% de 6 a 9 filhos e 4,0% mais que 10 filhos; as nulíparas representam 6,0% das mulheres entrevistadas. Na mesma tabela podemos analisar que, existe prevalência do parto normal entre as mulheres (60,0%), o parto cesárea corresponde a 48,0% (n=110, pois uma mesma mulher por ter tido mais de um tipo de parto). Oitenta e um por cento das mulheres referiram nunca terem sofrido aborto e 18,0% de 1 a 3 aborto, sendo que todos espontâneos. Durante a gestação o esquema corporal feminino sofre intensa transformação como resposta às demandas próprias dessa fase. São modificações requeridas durante esse momento de transição para a maternidade. Nesse período, o corpo da mulher é, constante e intensamente, sensibilizado e passa a desenvolver uma linguagem própria e particular. Esta é expressa por muitos sinais e sintomas, mudanças posturais e por toda a expressão corporal da grávida. A linguagem do sintoma é uma forma de comunicação da grávida com seu mundo interior, seu corpo e suas sensações. Este conjunto necessita ser interpretado, 42 compreendido, avaliado e compartilhado, inclusive pelos profissionais que a assistem (REBERT; HOGA, 2005). No estudo realizado em Maringá – PR as mulheres nulíparas corresponderam a uma freqüência de 8,0% e as que tinham de 2 a 3 filhos vivos foi de 64,7%. Em relação a filhos, 92.0% apresentaram filhos vivos e 5 mulheres relataram terem sofrido aborto (SUZUKI, 2003). Estudo retrospectivo realizado no CAISM analisou no período de janeiro de 1987 a dezembro de 1992, analisou as características sociodemográficas, tocoginecológicas e a utilização de métodos anticoncepcionais, bem como a classificação do aborto e suas complicações. O que segundo os autores se observou, foi que entre 22,1% e 30,6% das pacientes estavam na sua primeira gravidez, sendo de aproximadamente 50% os casos com três ou mais gestações. Também se constatou que o percentual médio de mulheres sem parto anterior foi de 32,8%, e de três ou mais partos foi de 23%. O antecedente de aborto foi referido por 25,7% das pacientes, sendo que 9,1% destas referiram dois ou mais abortos no passado (GABIATTI, 1994). Tabela 4: Idade de menarca e menopausa das mulheres na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Menarca N % ≤ 10 anos 04 4,0 ≥ 11 anos 93 93,0 Não lembra 03 3,0 Total 100 100,0 Menopausa 30 a 40 anos ≥ 41 anos Não menopausadas Total N 05 30 65 100 % 5,0 30,0 65,0 100,0 A tabela nos expõe que 93% das entrevistadas tiveram a primeira menstruação depois dos 11 anos de idade, e 30% chegaram à menopausa depois dos 41 anos. 43 No estudo da cidade de Maringá (PR) a idade média da ocorrência da menopausa foi em média aos 46,4 anos; e a freqüência para a menopausa natural foi de 40,9% e de 16%, cirúrgica (ALDRIHI et al., 2003). Na vida das mulheres, diferentemente do que acontece com os homens, existe marcos concretos e objetivos que sinalizam diferentes fases ou passagens de suas vidas, tais como a menarca, a ruptura do hímen e a ultima menstruação. São marcos visíveis no corpo físico e, obviamente, cada cultura os investe de sua rubrica. De outro lado, podemos facilmente identificar um traço que parece comum e presente em diferentes sociedades e épocas históricas: a valorização da mulher na fase reprodutiva e a sua desvalorização na fase não reprodutiva (TRENCH; SANTOS, 2005). O climatério é definido como o período da vida da mulher compreendido entre os 40 e 65 anos de idade, e a menopausa se refere à última menstruação. Os sintomas climatérios acometem entre 60 a 80% das mulheres e são reconhecidos como indutores de desconforto físico e emocional que aumentam com a severidade dos sintomas. A depender da intensidade e da freqüência dos sintomas, em especial as ondas de calor, pode haver interferência no bem-estar e na qualidade de vida (MARTINS et al, 2009). Segundo a OMS, em relação à realização do papanicolaou em mulheres entre 35 – 64 anos, após um exame negativo de papanicolaou, o exame subseqüente pode ser a cada três anos, com a mesma eficácia anual. Sendo a redução ao risco seria de 93% se fizesse exame anual e de 91% se fosse realizado a cada três anos. O efeito protetor a cada cinco anos do exame preventivo seria de 84% e de cada 4%, a cada 10 anos (WHO, 1998). 44 O gráfico expõe que 50% das mulheres não têm antecedentes familiares com câncer e 48% tem antecedentes com câncer na família, mediante esse dado, se torna imprescindível a adoção de hábitos saudáveis e preventivos por parte dessas mulheres; além de uma educação permanente direcionada a essa população por parte dos funcionários da EACS Planejada II, para se evitar a existência futura de neoplasias entre essa população. Quanto ao familiar mais citado como ter apresentado câncer 11 responderam serem os avôs e avós e de acordo com o local atingido 13 referiram terem antecedente familiar de câncer do colo do útero. O câncer é caracterizado como uma doença crônico degenerativa, com evolução progressiva se não sofrer interferência. Trata-se não apenas de uma moléstia, mas de um processo comum a um grupo heterogêneo de doenças que diferem em sua etiologia, freqüência e manifestações clínicas. A incidência varia de país para país e de região para região; as estatísticas não são confiáveis em muitas regiões, mas os dados disponíveis apontam que os tipos de câncer mais comuns na população em geral são os de: pulmão, estômago, mamas, cólon/reto e cérvix (BRASIL, 2002). No Brasil, o Ministério da Saúde estimou, para o ano de 2003, o registro de aproximadamente 467.440 casos novos. O câncer tem sido estudado tanto no seu aspecto biológico quanto em sua relação com condições de vida de populações e desenvolvimento das sociedades. As associações entre 45 surgimento de câncer e fatores causais apontam para a forte relação com estilo de vida, em especial considerando-se o fumo, o álcool, hábitos alimentares e exposição à luz solar (Gomes, 1999). Quanto à incidência, o câncer reflete a influência do nível de escolaridade, faixa etária e expectativa de vida, sexo, nível social, recursos de saúde disponíveis e o nível de desenvolvimento da sociedade (KLIGERMAN, 1999). Além destes fatores são ainda apontados os fatores pessoais, fatores genéticos, fatores ambientais, ocupação e estilo de vida como relevantes no processo de adoecer por câncer. O grau de conhecimento destes fatores e sua relação com o câncer quer pela população, quer pelos profissionais da área de saúde pode ser fator determinante na prevenção e controle desta doença. O estabelecimento de medidas preventivas ou de ações aos já acometidos pela doença (tratamento efetivo ou reabilitação) poderão reduzir perdas de vidas ou mantê-las em melhores condições de sobrevida (BRASIL, 1995). Mantendo-se em 2º lugar entre as causas de morte no país, cada vez mais confirmando as semelhanças nos padrões de incidência e mortalidade dos países desenvolvidos, o câncer no Brasil, também detém características evolutivas da doença demarcadas pela grande desinformação da população em geral e acesso precário as instituições especializadas. Certamente o desenvolvimento econômico, avanço tecnológico, crescimento industrial, ingresso da mulher no mercado de trabalho, envelhecimento populacional, são fatores que, desprovidos de condições educacionais capazes de gerarem na população consciência dos fatores de risco relacionados ao câncer, bem como, do direito de usufruir dos exames diagnósticos e tratamentos comprovadamente eficientes, tornam-se ingredientes para a condição desfavorável no controle do avanço do câncer em nossa sociedade. Muitas ações relacionadas ao controle do câncer dependem do nível de informação da população, desde os profissionais da saúde que devem ser capazes de prevenir, diagnosticar, tratar, evoluir e saber notificar os casos de câncer, até o cidadão morador da zona urbana ou rural. A amplitude da tarefa não é fácil de ser vencida e, por essa razão, sabe-se que há muito por avançar nesta área (GUTIÉRREZ et al., 2009). 46 Tabela 5: Mulheres que apresentam antecedentes de doença sexualmente transmissível, no EACS Planejada II, 2010. Doença Sexualmente Transmissível N % Leucorréia 02 2,0 Candidíase 01 1,0 Corrimento 01 1,0 Sífilis 01 1,0 Não lembra 01 1,0 Nunca apresentou 94 94,0 Total 100 100,0 A tabela acima, torna notório o baixo número de mulheres com antecedentes de DST’s. Entre as doenças referidas estão leucorréia (2,0%), candidíase (1,0%), corrimento (1,0%), sífilis (1,0%). Segundo estudos de prevalência, mulheres com DST’s apresentam lesões precursoras do câncer do colo do útero cinco vezes mais freqüentemente do que aquelas que procuram outros serviços médicos. Portanto, essas mulheres têm maior risco para câncer do colo do útero, principalmente se houver infecção pelo HPV (Papilomavírus Humano). É razoável que mulheres com DST sejam submetidas à citopatologia mais freqüentemente, pelo seu maior risco de serem portadoras de câncer do colo do útero ou de seus precursores. O exame preventivo não tem o objetivo de identificar DST, embora muitas vezes seja possível a identificação do agente ou de efeitos citopáticos sugestivos da presença dos mesmos (BRASIL, 2006) Existem fortes evidências de que os agentes infecciosos sexualmente transmissíveis estão envolvidos na etiologia deste tipo de câncer (AZEVEDO e MENDONÇA,1993). Atualmente, a teoria mais aceita para a explicação do aparecimento do câncer do colo do útero repousa na transmissão sexual. Desde 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a persistência da infecção pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) em altas cargas virais representa o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença. Sabe-se também que a infecção pelo HPV é essencial, mas não suficiente para a evolução do câncer. Além da tipagem e da carga viral do HPV, adquire importância a 47 associação com outros fatores de risco que atuam como co-fatores, tais como a paridade elevada, o início precoce da atividade sexual e o número de parceiros sexuais. Em relação ao herpes vírus, alguns estudos de caso controle com sorologia têm demonstrado a presença do DNA viral em lesões pré-cancerosas ou cancerosas, mas esta presença é considerada como um marcador de atividade sexual, e não agente ativo da carcinogênese (BRASIL, 2002). Tabela 6: Idade média de realização do primeiro papanicolaou pelas mulheres da EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Idade que realizou o primeiro papanicolaou N % ≤ 15 anos 09 9,0 16 a 30 anos 72 72,0 ≥ 31 anos 11 11,0 Nunca fez 02 2,0 Não lembra 06 6,0 Total 100 100,0 A tabela acima nos revela que 72,0% de um total de 100 mulheres entrevistadas realizaram seu primeiro papanicolaou entre 16 e 30 anos de idade. A adolescência é fase de descobertas marcadamente no sentido sexual, implicando exposição de risco. Início precoce da atividade sexual, relacionamentos com múltiplos parceiros e padrão histofuncional da cérvice adolescente são fatores relevantes associados à carcinogênese cervical. (Rever este parágrafo em vermelho, não entendi tal citação do autor) O câncer de colo uterino é condição rara nesta fase da vida, no entanto, a redução de suas taxas de incidência e de mortalidade observadas em mulheres adultas nos países desenvolvidos está atribuída aos programas de rastreamento de lesões pré-invasivas, as quais ocorrem mais freqüentemente em mulheres jovens, com pico de incidência nos trinta primeiros anos. Recursos tecnológicos para o controle destas doenças baseados na citologia estão disponíveis há mais de meio século e permitem diagnosticar e tratar as lesões pré-neoplásicas em todas as idades, mas ainda não há consenso quanto às reais conseqüências da abordagem de alterações citológicas detectadas na adolescência. Tanto aspectos comportamentais relacionados à revolução sexual e experimentados ainda na 48 adolescência quanto aspectos de natureza biológica atribuídos à localização da “zona de transformação” são riscos adicionais para aquisição de infecção pelo HPV e maior morbidade cervical. Postulou-se que muitas mulheres adultas que apresentam lesões cervicais de alto grau foram infectadas pelo HPV durante a adolescência (NASCIMENTO et al., 2005). No estudo realizado no Acre, que examinou, com uso da citologia, o colo uterino de 2.397 mulheres entre 15 e 29 anos, observou-se que 1.533 (64%) estavam fazendo o exame pela primeira vez. As demais referiram exame anterior com resultado normal. A freqüência de lesões foi 6,3 e 6,6% nos grupos sem e com exame anterior, respectivamente, não havendo, portanto, diferença significante (LEAL et al., 2003). Também foi analisado por Nascimento et al. (2005) o hábito de prevenção citológica, e observou que as condições pré-cancerígenas foram identificadas já no primeiro exame realizado no grupo Adolescente (RP=2,6), o que pode também ser interpretado como viés da idade. Ao se constatar o antecedente de prevenção citológica entre as mulheres da faixa de 20 a 24 anos, verificou-se que algumas delas foram submetidas ao primeiro exame ainda na adolescência, com repercussão positiva para a saúde destas mulheres e com a repetição do exame foi possível diagnosticar e tratar a maioria das lesões cervicais ainda em fase pré invasiva e os casos de câncer foram diagnosticados em fase de cura cirúrgica. Deduz-se então que as mulheres interrogadas obtiveram resposta positiva em relação à identificação precoce de lesões já que as mesmas iniciaram na fase da adolescência o rastreamento do câncer do colo do útero, mas não podemos deixar de analisar para concluirmos fielmente esta informação, a possível existência de outros fatores para o câncer do colo do útero e a periodicidade de realização do papanicolaou. 49 Tabela 7: Periodicidade de realização do papanicolaou pelas mulheres na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Periodicidade que realiza o papanicolaou N % Semestralmente 7 7,0 Anualmente 64 64,0 A cada dois anos 5 5,0 A cada três anos 8 8,0 A cada cinco anos 4 4,0 Quando apresento sinais e sintomas 9 9,0 Nunca fez 2 2,0 Não coletou mais 1 1,0 Total 100 100,0 Das mulheres questionadas em nosso estudo, 64,0% realizam o papanicolaou anualmente, isto revela que a periodicidade com que elas realizam o exame é maior que a preconizada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008). Em geral, a realização do preventivo acontece em conjunção às atividades de rotina da assistência ginecológica, obstétrica ou de planejamento familiar. Mediante as respostas referidas nos chama atenção o número de mulheres que realizam o papanicolaou quando apresenta algum sinal ou sintoma (Tabela 8), este resultado indica a necessidade de integralizar a atenção à saúde da mulher pela ampliação da oferta do teste Papanicolaou para além de um procedimento de rotina ofertado durante as consultas ginecológicas e de pré-natal, objetivando estender seus benefícios para toda mulher, independentemente de sua experiência maternal e da sua situação conjugal, já que as mesmas podem estar procurando os serviços de saúde num estágio mais grave da doença. A falta de conhecimento da condição assintomática da doença pode explicar, em parte, porque a maioria dos casos de câncer do colo do útero diagnosticados pelo Papanicolaou já se encontrarem numa fase tardia da doença, cujo prognóstico já não é tão alentador, contribuindo para a permanência das altas taxas de mortalidade por câncer cervical (BRASIL, 2002). Com o objetivo de reduzir as taxas de morbimortalidade por essa neoplasia, desde 1988 o Ministério da Saúde do Brasil, adota como norma a recomendação da Organização 50 Mundial da Saúde (OMS), que propõe a realização do exame citológico do colo do útero a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos negativos para mulheres de 25 - 59 anos de idade, ou que já tenham tido atividade sexual. Iniciativas como o Programa Viva Mulher, lançado em 1996, e o desenvolvimento de campanhas nacionais sistemáticas têm contribuído para o aumento da cobertura do exame no país. Contudo, verifica-se que as taxas de incidência e de mortalidade ainda permanecem desafiando as medidas até então adotadas, sinalizando possíveis deficiências na oferta, no acesso e na qualidade das referidas ações (ALBUQUERQUE et al., 2010). De acordo com Moura et al. (2010), as mulheres entrevistadas em sua pesquisa realizada num Centro de Saúde de Atenção Primária, na cidade de Paracuru– CE quanto a questão da realização do exame de papanicolaou, 14 responderam que já haviam feito o exame antes, e apenas uma respondeu que comparecia ao serviço de prevenção do câncer do colo do útero pela primeira vez. De acordo com a periodicidade da realização do exame, uma relatou que era a primeira vez que comparecia ao serviço para a realização do exame de papanicolaou; uma delas realizava o exame trimestralmente por fazer uso de um dispositivo intra-uterino (DIU); 8 mulheres referiram fazer o exame uma vez por ano; 2 afirmaram que há mais de dois anos não procuravam o serviço de saúde para a realização do exame; 2 não o realizavam há mais de três anos e outra usuária há mais de quatro anos. Como cita o autor, se observarmos o intervalo entre os exames de papanicolaou das mulheres estudadas em sua pesquisa, podemos constatar que 11 delas mantinham o intervalo máximo de até três anos para resultados normais, que é a periodicidade recomendada pelo Ministério da Saúde. Apesar de 2 mulheres relatarem que não realizam o exame de papanicolaou há mais de dois anos, estas realizaram seus exames num intervalo de no máximo três anos, pois optaram pelo item do instrumento que continha a periodicidade de 2 a 3 anos. Isto pode, de acordo com o autor, justificar um aumento real na sua cobertura, tendo em vista a ocorrência de divulgação da importância do exame na década de 1980. Se analisarmos, segundo Paula (2003), outra possibilidade diz respeito ao aumento do número de citologias cervicais realizadas em mulheres como procedimento de 51 rotina durante as consultas de pré-natal e planejamento familiar. Se ressalta, segundo os pesquisadores que destas mulheres, 3 não realizavam o exame de papanicolaou há mais de três anos, resultado menor que o obtido em nosso estudo, onde 8 mulheres responderam realizarem o exame a cada três anos e quatro a cada cinco anos. Destaca-se que, a população dos estudos se encontram vinculadas a uma Unidade Básica de Saúde, onde deveria ser realizado um acompanhamento, inclusive por meio de exames de rotina, por uma equipe de saúde. Contudo, vale ressaltar que o estudo em questão não revela se a periodicidade das entrevistadas é após dois exames consecutivos com resultados negativos para displasia ou neoplasia. Na análise multivariada do estudo de Muller et al. (2008), realizada através da regressão de Poisson seguindo o modelo hierárquico para o exame preventivo do câncer de colo uterino não realizado nos últimos três anos, as mulheres pertencentes às classes sociais C, D, E e aquelas que não se consultaram com médico no último ano continuaram apresentando maior prevalência de exame atrasado. Observou-se ainda que as mulheres a partir dos trinta anos de idade e que procuravam os serviços privados foram mais submetidas ao exame. As mulheres classificadas como cor da pele não branca e com quatro ou mais filhos apresentaram maiores prevalências de exames atrasados. As mulheres nas classes econômicas C, D e E apresentaram maior prevalência de exame nunca realizado. As mulheres nas duas menores categorias de menor renda também tinham maiores prevalências de nunca realizar o exame, apesar de os intervalos de confiança não evidenciarem diferenças nas estimativas. Quanto à distribuição por idade, verificou se no mesmo estudo, que a partir dos cinqüenta anos a prevalência de exame nunca realizado foi menor do que a encontrada na categoria de base (20 a 29 anos). Foi constatado teste de tendência linear significativo, mostrando que à medida que aumentava a idade, diminuía o percentual de mulheres com o exame nunca realizado. As mulheres classificadas como as viúvas, separadas ou solteiras, que não tiveram filhos, que não consultaram no último ano e que procuraram preferencialmente o sistema público de saúde apresentaram maiores prevalências de exame preventivo do câncer do colo do útero nunca realizado. 52 Conforme Cesar et al. (2003), dentre as 1.302 mulheres incluídas em seu estudo, 57% nunca realizaram exame para detecção precoce de câncer de colo uterino. No EACS Planejada II, responderam nunca terem coletados o papanicolaou apenas 2 mulheres, que justificaram não ter realizado por terem vergonha e acreditarem ser desnecessário a realização do mesmo. No estudo de Pinho et al. (2003), quando questionadas sobre o principal motivo para não realização do Papanicolaou, 45% responderam que achavam que eram saudáveis por não apresentarem queixas ginecológicas e, conseqüentemente não viam necessidade de realizá-lo. Tabela 8 - Distribuição das mulheres que apresentam ou não sintomas relacionados aos fatores de risco ao câncer do colo do útero na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Sintomas N % Não apresenta nenhum dos sintomas 80 80 Apresentam 1 ou mais sintomas 20 20 Total 100 100 Como nos ilustra a tabela acima, as mulheres que referem apresentarem um ou mais sintomas relacionados aos fatores de risco ao câncer do colo do útero totalizaram 20% e aquelas que não apresentam nenhum dos sintomas 80%, sendo o sintoma mais comum relatado entre elas dor na região pélvica. Trabalho de estudo transversal realizado por Freitas; Arantes; Barros (1998); sobre a Atuação da enfermeira obstetra na comunidade Anhanguera, Campo Grande - MS, na prevenção do câncer cérvico-uterino; mostra que das 104 mulheres entrevistadas, 77,88%, referiram ter mais de uma queixa ginecológica. Dessas 39,42% referiram corrimento vaginal, 15.38% referiram prurido vulvar, 37,50% presença de dor no baixo ventre (região pélvica), 39,42% ocorrência de dismenorréia, 31,73% de irregularidade menstrual no ciclo menstrual e 40,38% referiram alterações na quantidade do fluxo menstrual. Um estudo com objetivo de analisar o conhecimento das mulheres, que freqüentavam palestras sobre fatores de risco para o câncer do colo do útero no município de Kilamba Kiaxi, Angola (ALMEIDA, 2009), evidenciou que das 100 mulheres 53 entrevistadas, 51% nunca ouviram falar sobre o exame do papanicolaou e de seus fatores de risco e que 89% nunca realizaram o exame preventivo de papanicolaou, após análise foi concluído que a população tinha pouco conhecimento sobre os fatores de risco e prevenção do câncer do colo do útero. Portanto, a equipe de saúde deve orientar e motivar suas clientes à realização do exame de papanicolaou, principalmente se não estiverem apresentando sinais e sintomas, pois como já referido anteriormente, este exame é destinado à detecção precoce do câncer de colo uterino, podendo ser dificultado por presença de secreção abundante, eritema, edema, prurido, ou dor local, dentre outros. De acordo com o Ministério da Saúde, os sinais e sintomas de algum processo inflamatório devem ser imediatamente tratados, e posteriormente, a mulher deve se submeter ao exame de papanicolaou (BRASIL, 2006). Sabendo que as mulheres com câncer do colo do útero, podem apresentar alguns sinais e sintomas, principalmente as que se encontram em um estágio mais avançado da doença, sendo os mais comuns: sangramento vaginal após relação sexual, corrimento vaginal com odor fétido, dor em baixo ventre, entre outros se mostra necessário ações de acolhimento para essas mulheres, já que de acordo com as queixas apresentadas as mesmas encontram-se vulneráveis ao câncer do colo do útero (FREITAS; ARANTES; BARROS, 1998). 54 Quadro 3 - Resultado e tratamento do último papanicolaou realizado pelas mulheres entrevistadas na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Resultado N % Normal 89 89 Inflamação 05 05 01 01 01 01 01 01 Não soube informar 01 01 Nunca fez 02 02 Total 100 100 Tratamento Cauterização Pomada Histerectomia Inflamação (Pólipos) Tratamento Histerectomia NIC I Tratamento Metronidazol NIC III Tratamento Radioterapia e Quimioterapia O Quadro acima, nos mostra que 89% das mulheres referiram que o último exame do papanicolaou teve resultado normal, 6% relataram ter algum tipo de inflamação, 1% NIC I, 1% NIC III, 1% não soube informar e 2% nunca fizeram o exame. O tratamento apresentado pelas mulheres para as alterações relatadas foi o de cauterização, pomadas e histerectomia para resultados de inflamação e inflamação (pólipos); para o tratamento de NIC I metronidazol e NIC III radioterapia e quimioterapia. REVER CITAÇÃO DE TRATAMENTO....não entendi histerectomia para resultados de inflamação e inflamação(pólipos) Segundo análise realizada em Igarapava – SP, dos 1501 exames de papanicolaou coletados na cidade no ano de 2006, 51,6% (774) estavam dentro dos limites de 55 normalidade de acordo com os dados clínico atuais anteriores. Os resultados com alteração contabilizaram um total de 47,9% (719) do total de coletas e pode-se observar a prevalência de inflamações (SOARES; SILVA, 2010). O Ministério da Saúde (2004) calcula que um total de 30% das mulheres que colhem o exame poderá necessitar de algum tipo de medicamento, sendo esperada uma prevalência de inflamações por Gardnerella vaginalles seguida por Cândida SP e Trichomonas vaginalles. Em um estudo realizado no município de Mozarlândia – GO, realizado por Cardoso et al.(2005) publicado pela Revista Brasileira de Farmácia, mostrou que os pesquisadores encontraram uma incidência de 27,6% (159) do total de 577 resultados de papanicolaou com presença de inflamação sendo prevalente Gardnerella vaginalles, Cândida sp, e Trichomonas vaginalles, respectivamente. No mesmo estudo verificaram-se cinco resultados de metaplasia escamosa imatura acompanhadas na própria Unidade Básica de Saúde, onde o estudo foi realizado, houve ainda segundo os autores um resultado (0,1%) compatível com Lesão Intra Epitelial de Alto Grau (NIC II, NIC III). Em Nascimento et al., (2005) apenas a alteração citológica sem graduação, NIC a esclarecer, foi significante no grupo Adolescente (RP=1,8; IC 95%: 1,26-2,52; p=0,006). No grupo Adulta foram encontrados um caso de ASCUS , um caso suspeito de carcinoma invasivo e oito casos de alterações inflamatórias. As alterações classificadas como NIC 1, NIC 2 e NIC 3 não apresentaram diferença significante na comparação entre os grupos de seu estudo. 56 Os dados apresentados no Gráfico 4, evidenciam que 92% das mulheres entrevistadas possuem conhecimento a cerca da finalidade do papanicolaou, porém apenas 30% destas citam papanicolaou como forma de prevenção do câncer cérvico-uterino, seguidos dos 26% que responderam a finalidade do exame seria prevenir doenças e identificar feridas/lesões no útero (Tabela 9). Tabela 9: Respostas das mulheres para a questão sobre a finalidade do papanicolaou, na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Explicar a finalidade do exame N % Prevenir o câncer do colo do útero 30 30 Prevenir doenças 26 26 Identificar feridas/leões no útero 26 26 Não sobe explicar 09 09 Identificar câncer do colo do útero 03 03 Identificar infecção/DST 03 03 Identificar câncer, nódulos ou bactérias 02 02 Identificar anomalias no organismo 01 01 Total 100 100 Estudo realizado com 267 mulheres no Nordeste brasileiro, constatou que a maioria das mulheres entrevistadas (96,2%), considerou necessária a realização do exame. Porém, apenas 63,3% delas apresentaram atitude adequada, expressando de forma consciente o reconhecimento de suas vantagens e benefícios, justificando corretamente a importância de 57 fazê-lo periodicamente. Dentre aquelas que apresentaram atitude adequada, 66,9% justificaram a necessidade da realização do exame como forma de se prevenir do câncer do colo do útero e 33,1% de se prevenir de câncer, de forma geral. No que se refere ao grau de conhecimento sobre o exame do papanicolaou, 98,1% das mulheres tinhas ouvido falar do procedimento, mas somente 46,1% apresentaram conhecimento adequado. A principal fonte de informação sobre o exame foi o médico, mencionado por 40,1% das entrevistadas, seguido de amigas ou parentes (20,2%), agentes comunitários de saúde (19,8%), rádio e TV (8,4%) e demais profissionais das unidades básicas de saúde (6,5%) (FERNADES et al., 2009). Valente et al. (2009) em um estudo de caráter epidemiológico, quantitativo, descritivo, transversal, com estudantes do ensino médio no período noturno em escolas públicas da cidade de Uberaba/MG, constatou que quando questionadas sobre haver ouvido falar a respeito do exame de Papanicolaou, 386 alunas (81%) responderam que sim, já haviam ouvido falar e sabiam do que trata o exame, 80 (17%) já haviam ouvido falar, mas não sabiam do que se tratava, 3 alunas (1%) nunca havia ouvido falar sobre o exame de Papanicolaou e 7 (1%) rasuraram ou não responderam a questão. Em estudo comparativo entre mulheres brasileiras e japonesas verificou-se que o conhecimento da finalidade do exame de Papanicolaou influencia as mulheres a se submeterem ao mesmo, resultando em uma maior e mais consciente procura, enquanto que a desinformação sobre a doença e o exame prejudica a mulher na procura dos cuidados preventivos. A desinformação pode gerar despreocupação e conseqüente desinteresse pela prevenção, não só do câncer de colo uterino, como também de outras doenças ginecológicas. Os resultados do estudo mostraram, ainda, que as mulheres submetem-se ao exame preventivo quando têm facilidade de acesso ao programa de prevenção de doenças ginecológicas, e também quando possuem algum suporte de convênio médico (CHUBACI; MERIGHI e YSUMORI, 2005). No que se refere à finalidade do exame de Papanicolau, pesquisa realizada por Davim et al. (2005) mostra a opinião das mulheres entrevistadas, as quais referem em 58% 58 que o mesmo previne contra a formação do câncer e indica o tratamento adequado, 25% mostra se a mulher tem doenças contagiosas e DST, e 17% se há alteração no útero. Dessa forma, as pesquisadas, no geral, apresentaram uma opinião satisfatória sobre o exame, denotando conhecer sua finalidade. Ainda nos revela a literatura que, apesar das mulheres perceberem a finalidade do exame de Papanicolau, o consideram apenas como instrumento de detecção de afecções ginecológicas, e não como método de rastreamento da doença, o qual deve ser realizado, também, por aquelas assintomáticas (PINOTTI, 1994). Moura et al. (2010) relatou que das mulheres que foram questionadas em sua pesquisa sobre o conhecimento que elas têm do exame de papanicolaou, 10 delas não souberam responder. Tal fato mostra a necessidade de esclarecimento sistemático sobre o exame, pois se acredita que o desconhecimento contribui para aumentar a falta de aderência ao mesmo. Após insistência da pesquisadora, as mulheres referiram o exame de prevenção do câncer de colo uterino como meio de diagnóstico para determinadas doenças ou prevenção de outras, como DST/Aids, como podemos observar: Eu entendo que é muito importante para a mulher, é através dele que a gente sabe que tem alguma doença por dentro (TPCF). Eu sabia, é um exame bom para saber da prevenção, saber se cuidar e evitar essas doenças que estão aí como a AIDS (MLSB). É bom a gente saber e fazer! A gente sabe se está com corrimento, inflamação, pra se prevenir, por que se a pessoa tiver já vem e pede alguma pomada. Bom pra se prevenir! (FVMC) (MOURA et al. 2010, p. 99) Como nos mostram as falas transcritas do estudo apontado previamente, muitas mulheres citam o exame de papanicolaou como um exame preventivo contra as DST/Aids, o que demonstra, de forma preocupante, mulheres com desconhecimento total das práticas de prevenção dessas doenças. Como alega o autor, algumas mulheres conseguiram compreender o real objetivo do exame de papanicolaou, pois relataram o exame como um meio de prevenção do câncer de colo uterino, sendo de acordo com o mesmo importante salientar que emergiu o desprazer na realização do exame, indicando vestígios do pudor, vergonha e medo de possíveis diagnósticos de câncer, no entanto mesmo com essa percepção que remete a um vivenciar a sexualidade de modo sombrio, elas se submetem a esse exame, pois sabem de sua importância. 59 Das 15 mulheres entrevistadas, por Moura et al (2010) ,7 delas responderam que o significado do exame é se cuidar; 5 responderam se prevenir e 6 usuárias acham que serve como diagnóstico. O significado cuidar referido pelas mulheres do estudo de Moura et al. remete ao cuidado de si, diante da possibilidade do acometimento de doenças. Desse modo, cuidar, prevenir e “saber como está” são sinônimos e remetem a uma postura de busca de informações sobre o estado de saúde atual, para se cuidar, se prevenir de algo mais grave, como o câncer. Mas acabam cometendo um equívoco, quando relatam que o exame tem como significado também prevenir a Aids. Parte das mulheres entrevistados por esse autor acredita que o exame de papanicolaou significa diagnóstico de doenças, como DST e Aids, como já referido anteriormente. Das mulheres entrevistadas, como mostra o gráfico acima, 97% consideram importante a realização do papanicolaou. 60 Tabela 10: Motivos apresentados pelas mulheres para realizar o Papanicolaou no EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Por que você acha importante realizar o Papanicolaou N % Para evitar/identificar doenças 54 54 Outras respostas 22 22 Prevenir câncer do colo do útero 15 15 Não explicou/Não tem interesse 07 07 Para prevenção 02 02 Total 100 100 Na tabela acima, as mulheres relataram em sua maioria considerarem importante a realização do papanicolaou para evitar ou identificar doenças e apenas 15% para prevenir o câncer do colo do útero, obtivemos outras respostas: Conhecidos que já tiveram câncer do colo do útero; Tem medo de ficar doente; Acha super importante esse exame; Para obter informações sobre a sua saúde; Tem que servir para algo se não ninguém faz; Porque morre de medo de câncer. De acordo com Ferreira (2009) em estudo aplicado com o objetivo de analisar os motivos que influenciaram um grupo de mulheres a nunca terem realizado o Papanicolaou: 6 mulheres responderam que achavam desnecessária a realização do exame, 3 disseram terem medo da realização do exame, 3 medo de se deparar com resultado positivo para o câncer, 2 exprimem sentimentos de vergonha e constrangimento em relação ao exame, algumas relataram também que nunca realizaram o exame por questões familiares como por exemplo a não adesão por parte dos avós e sua longetividade e saúde, entre as respostas também se encontravam a questão da dificuldade de acesso aos serviços de saúde por parte dessa população. Os contextos apresentados pelas funcionárias da indústria têxtil (FERREIRA; OLIVEIRA, 2006) sobre diferentes abordagens em relação ao assunto papanicolaou o "motivo para" representa um contexto de significado que é construído sobre o contexto das 61 experiências disponíveis no momento da projeção da ação, sendo essa categoria essencialmente subjetiva, onde somente a pessoa pode definir o seu projeto de ação, seu desempenho social. Pensando-se sempre na vida ativa, pode-se notar a evidente preocupação dessas funcionárias quanto ao trabalho, maternidade e, sobretudo à vida quando são questionadas sobre o significado do exame de Papanicolaou: "Preservar o meu futuro, pois se um dia eu quiser ser mãe e se eu tiver algum problema, já vou descobrir antes...e maiores são as minhas chances..." (M40). "Significa a vida da gente, que é muito mais importante..." (M46). "Para a minha saúde, isto tem um significado muito grande,... pois sem a saúde a gente não consegue trabalhar, se sente inútil" (M66) (FERREIRA; OLIVEIRA, 2006,p. 9). Com esta declaração acima citada, o autor da pesquisa pode evidenciar a ligação entre a doença e a sensação de inutilidade, pois com a conquista cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, essa tem a necessidade de manter-se sempre ativa e sentir-se útil. Ainda sobre o autor mencionado, dado o pavor provocado pelo câncer, as mulheres temem apresentar algo sério e relatam a importância de que se houver algo, no começo o tratamento pode ter mais sucesso. Investigação sobre a cobertura e motivos para a realização ou não do teste de Papanicolaou no Município de São Paulo (PINHO et al., 2003), averiguou que a realização do exame colpocitológico pode adquirir uma periodicidade mais regular entre essa mulheres, cujo acesso ao serviço de saúde e potencial conhecimento sobre o teste de Papanicolaou, sua finalidade e importância lhes tornariam de menor risco para o desenvolvimento de câncer cervical. Em relação ao trabalho de pesquisa realizado em Paracuru – CE a maioria das entrevistadas relatou procurar o serviço por estar sentindo algum incômodo, especialmente dor. Isso mostra que o serviço de prevenção não está sendo compreendido pelas mulheres que o procuram. A lógica da prevenção é escamoteada por essas mulheres que procuram esse serviço com a finalidade curativa de tratar as dores que estão incomodando. Nesse sentido, remetemos também a prática da Educação em Saúde como um campo de consolidação de aprendizados, onde os profissionais podem elucidar essas questões. Lembramos que essa postura curativista ainda se encontra presente no sistema primário de 62 saúde brasileiro, porém, urge a modificação desse panorama visto a importância da compreensão e prática de um modelo centrado na prevenção. Podemos observar relatos que mostram a instalação de doenças sexualmente transmissíveis como propulsoras da procura do serviço de prevenção do câncer de colo uterino, reafirmando a visão errada que as usuárias têm do serviço. Na sua pesquisa apenas uma das mulheres entrevistadas relatou que realiza o exame de papanicolaou todo ano sem a necessidade de estar sentindo nada. Segundo o autor a sua fala nos mostra que é possível inculcar nessas usuárias a importância da realização do exame anualmente. Podemos então rematar com a questão do conhecimento das mulheres e suas atitudes frente ao exame do Papanicolaou, analisando e correlacionando à um processo fragilizado de educação em saúde para as mulheres, demonstrando a forma mecanicista do governo e da mídia em suas ações, estimulando a realização do exame entre as mulheres, porém não fornecem informações claras sobre a doença e seus meios de prevenção, não cumprindo o que deveria ser o objetivo real das campanhas de promoção à saúde, visto que a educação da população é uma forma de produzir saúde e fortalecer ações participativas. Sabe-se que todo conhecimento é de suma importância para a adoção de medidas preventivas. Contudo, para grande surpresa, o desconhecimento das mulheres entrevistadas, sobre o câncer de colo de útero, suas formas de contágio e manifestações clínicas, não interfere no grau de adesão destas ao exame preventivo. Apesar de 92% das mulheres referirem conhecer a finalidade do papanicolaou, quando solicitadas para que explicassem com suas palavras a intenção da realização do exame apenas 30% responderam que o mesmo é um exame preventivo ao câncer do colo do útero. Podemos deduzir que a falta de informação por parte dessas mulheres as tem levado a cometer equívocos quanto à fidedigna razão para se realizar o exame preventivo. Valendo salientar que mesmo diante desse desacerto a periodicidade de realização do papanicolaou foi considerável, já que 64% referiram coletar o exame anualmente. 63 Tabela 11: Mulheres que participaram ou não de palestras sobre Saúde da mulher na EACS Planejada II. Bragança Paulista, 2010. Participou de palestras na unidade N % Não 91 91 Sim 09 09 Total 100 100 Os dados analisados e apresentados na tabela acima nos mostram que 91% das mulheres entrevistadas nunca participaram de palestras sobre saúde da mulher na EACS Planejada II, e 9% ressalta ter participado de alguma palestra nesta EACS, com temas como Papanicolaou, DST’s e Métodos Contraceptivos. Quando foram questionadas sobre quais temas gostariam que fossem abordados durante palestras pelo enfermeiro da unidade os seguintes temas foram expostos: Adolescência; Papanicolaou; Sexualidade; Gestação; TPM; DST’s; Menopausa; Prevenção; Contracepção; Câncer de mama. a) A qualidade e a humanização da atenção em saúde são condições fundamentais para que as ações de saúde se traduzam, na resolução dos problemas identificados, na satisfação das clientes, no fortalecimento da capacidade das mulheres frente à identificação de suas demandas, no reconhecimento e reivindicação de seus direitos e na promoção do autocuidado (ALPOROVITCH, 1992). O Ministério da Saúde afirma que, as histórias das mulheres na busca pelos serviços de saúde expressam frustrações, discriminação e violações dos direitos e aparecem como fonte de tensão e mal-estar psíquico-fisico. Contudo, a qualidade e a humanização da atenção implicam no reconhecimento, na promoção e respeito aos seus direitos humanos, dentro de um marco ético que garanta a saúde integral e seu bem-estar. A qualidade da atenção deve estar referida a um conjunto de 64 aspectos que englobam as questões; psicológicas, biológicas, sociais, ambientais, sexuais e culturais. Isso demanda a superação do enfoque biologista e medicalizador hegemônico nos serviços de saúde e a adoção do conceito de práticas e saúde integral que considerem as experiências das clientes (BRASIL, 2004). Pouco se valoriza a prevenção especificamente dirigida ao controle das DST (Educação em Saúde, disseminação da informação para reconhecimento de sinais e sintomas, busca precoce por assistência, convocação de parceiros, campanha em mídia, etc.). Há ênfase no diagnóstico etiológico, pouco se conhece o manejo sindrômico e os profissionais capacitados são insuficientes (BRASIL, 2006). Pode-se constatar que tais práticas educativas acontecem com maior freqüência na atenção terciária (unidade hospitalar) e não na atenção primária (unidades de atenção básica a saúde da família, centros de saúde, escolas, universidades e comunidade) (CARVALHO; CLEMENTINO; PINHO 2008). A educação em saúde é enfatizada na Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Ela regula as ações e os serviços de saúde em todo o território nacional, dispondo, no seu artigo 2° que: “a saúde é direito fundamental do ser humano, devendo o Estado, prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. Além de determinar a saúde como direito básico de todos, enuncia também, no artigo 3°, que: “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País”. (CARVALHO; CLEMENTINO; PINHO 2008). Enfermeiros são profissionais chaves no processo de prevenção e detecção do câncer. Experiências de desenvolver estratégias de ensino direcionadas à prevenção têm sido descritas na literatura. Uma delas é a reportada por Ash; McCorkle e Frank-Stromborg (1999). Estas autoras coordenam um programa de treinamento sobre prevenção e controle do câncer, em países em desenvolvimento. O programa, oferecido a cada 2 anos, já inclui 65 enfermeiras de mais de 50 países através do mundo. O propósito do programa é estimular interesse e facilitar o aumento do conhecimento de prevenção primária e secundária do câncer, expandir internacionalmente o número de enfermeiras preparadas para prevenção e detecção precoce em seus países, expandir uma rede internacional de enfermagem em oncologia e fazer com que estas enfermeiras auxiliem na redução e incidência do câncer nos países em desenvolvimento. Discussão apresentada por Chiesa e Verissimo (2001) nos diz que ao longo do tempo podemos observar diversas formas de interpretar e explicar a ocorrência das doenças, que influenciam também a forma de se estruturar as intervenções no âmbito da educação em saúde. Apesar disso, a organização das ações educativas, ainda na atualidade, demonstra fragilidade na sua operacionalização aliada á falta de discussão mais aprofundada sobre os referenciais teóricos mais adequados para sua estruturação, nos diferentes modelos assistenciais adotados. Associado a esse aspécto, destaca-se a vigência predominante, nos serviços brasileiros de saúde, de um modelo assistencial que privilegia as ações curativas e centra-se no atendimento médico segundo uma visão estritamente biológica do processo saúde-doença. Esse modelo condiciona a prática educativa de ações que visam modificar práticas dos indivíduos consideradas inadequadas pelos profissionais, mediante a prescrição de tratamentos, condutas e mudanças de comportamento. Nesse modelo, ainda quando se propõem atividades chamadas participativas, particularmente a formação de grupos, sua organização prevê prioritariamente que não sejam dúvidas pontuais a serem respondidas pelos profissionais. A grande lacuna de informações da população atendida, acerca do seu processo patológico, das alternativas terapêuticas levam ao abandono do tratamento, uso incorreto de medicações e ainda a procura excessiva dos serviços de saúde. Ainda segundo as autoras esse panorama revela que a assistência prestada nas instituições públicas não tem um caráter educativo emancipador incorporado no seu bojo, pois, está mais fortemente centrada na atenção curativa e no atendimento chamado “queixa-conduta”. Além disso, nas atividades ditas educativas, como palestras, está presente a idéia de que a doença se deve principalmente, à falta de cuidado e ao 66 desleixo da população com sua saúde, deixando a vítima com sentimento de culpa pelo problema que apresenta. O gráfico acima mostra que 36% das mulheres têm suas dúvidas esclarecidas durante a realização do papanicolaou e 64% refere não ter suas dúvidas esclarecidas. Em pesquisa estatística feita por Feliciano; Chisten e Velho (2010), frente ao questionamento sobre dúvidas ou medos quanto ao exame colpocitológico, 85% das mulheres disseram não possuir dúvidas, pois realizam periodicamente o exame e sempre as esclarecem com os profissionais de saúde. Verificou-se certo grau de entendimento das mulheres, que pode estar relacionado ao critério de inclusão para a entrevista, sobre a realização do exame colpocitológico. Educação em saúde é uma prática constante no cotidiano de um enfermeiro, principalmente para o que atua em saúde pública (CARVALHO; CLEMENTINO; PINHO 2008). É importante enfatizar que o enfermeiro, dentro da equipe multiprofissional, é um dos agentes de educação para a saúde, objetivando integração em favor da promoção da saúde do paciente, da família, dos grupos sociais e da comunidade. A sua ação deve ser integral e participativa na sua rotina de trabalho, deve estar voltado para o desenvolvimento de ações de saúde e práticas educativas no sentido de prevenir o câncer (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). 67 Notamos uma fragilidade na prática de Educação em Saúde dos profissionais no local de pesquisa, pois muitos destes não realizam nenhuma atividade educativa relacionada à prevenção do câncer do colo do útero; e outros, quando realizam, resumemse em palestras. Caberia a estes agir diretamente sobre as mulheres através de grupos educativos, esclarecendo dúvidas, fornecendo orientações, fazendo com que as mulheres contem suas experiências de vida, até mesmo no consultório, para informar a prática correta do exame de papanicolaou. Os profissionais de saúde devem estar capacitados e habilitados para a realização do referido exame. As mulheres precisam receber orientações sobre a coleta do exame, tais como: no que consiste a sua realização, finalidade e importância de fazê-lo periodicamente, apresentar os materiais utilizados, esclarecimentos sobre a posição da mulher no momento da coleta, a população alvo e informações sobre o resultado do exame. Deve ser dada atenção às condições de acesso e recepção da clientela ao promover um ambiente acolhedor e que forneça privacidade; a oferta de estabelecimentos de saúde e horários flexíveis para a realização do exame, verificando a proximidade de sua residência ou trabalho; e, principalmente, o respeito às limitações impostas pela individualidade das mulheres. A garantia de acesso à atenção à saúde deve estar adequada às necessidades de assistência, com disponibilidade conforme a demanda e distribuição geográfica, tanto em áreas urbanas como rurais (MANDÚ, 2009). Os profissionais de saúde, por estarem mais próximos da população no contexto familiar, devem construir um vínculo de confiança para discutirem os fatores de sexualidade, cultura e explanar a importância da prevenção do câncer de colo uterino, através de formas alternativas que buscam compreender cada indivíduo (PAULA, 2006 ; OLIVEIRA, 2007). Salienta-se que é preciso haver profissional capacitado para planejar, organizar e desenvolver atividades que respondam às necessidades das mulheres e assim estimular sua participação e envolvimento. 68 RESULTADOS O resultado do estudo nos levaram as seguintes conclusões: Quanto às características da amostra estudada observamos que a idade predominante das mulheres foi de 30 a 59 anos (54%), seguida pelas com idade entre 21 a 29 anos (27%). A profissão de maior prevalência foi a do lar (53%). Quanto ao estado civil, 54% eram casadas, 14% solteiras e 16% em união consensual. Em relação à escolaridade a maioria passou menos de 8 anos na escola, pois 51% possui apenas o Ensino Fundamental Incompleto e 26% o Ensino Médio Completo; Quanto à idade de inicio da relação sexual das mulheres entrevistadas observamos que 68% das mulheres iniciaram a atividade sexual entre 16 e 21 anos, 23% relataram terem iniciado atividade sexual com menos de 15 anos e 8% com idade igual ou maior que 22 anos; Em relação ao uso ou não de preservativos e quanto aos motivos para não utilização do mesmo nas relações sexuais, o estudo mostrou que 80% das mulheres não o usa durante as relações sexuais e apenas 20% dispõe dessa proteção. Quanto aos motivos apresentados, 14 mulheres (11,2%) não tem mais relação sexual, 11 (8,8%) disseram que confiam no marido, 10 (8,0%) relataram não ter outro parceiro além do marido, 8 delas (6,4%), usam ACO ou anticoncepcional injetável, 7 (5,6%) fizeram laqueadura ou marido fez vasectomia, 6 (4,8%) não têm marido, 6 (4,8%) o marido não gosta, 4 (3,2%) disseram simplesmente porque não, 4 (3,2%) não têm mais menstruação, 3 (2,4%) não acham necessário, 3 (2,4%) não gostam de usar, 1 (0,8%) respondeu que nunca precisou, 1 (0,8%) relatou que o parceiro não tem dinheiro para comprar, 1 (0,8%) referiu que pretende ter filhos e 1 (0,8%) respondeu que não tem necessidade por ser evangélica; 69 Quanto à porcentagem de mulheres que tiveram ou não mais de um parceiro, observamos que das mulheres entrevistadas, 46% responderam que sim, tiveram mais de um parceiro, e 54% referiram que nunca tiveram outro parceiro além do marido; Em relação ao total de mulheres que tiveram ou não parceiros com DSTs, 91,0% das mulheres entrevistadas referiram não terem parceiros com DST’s e 9% relataram relacionar-se com parceiro que teve algum tipo de DST; Com relação às variáveis obstétricas, destaca-se o alto percentual de multíparas (85%), 60% escolheram como via de parto o natural e 81% não sofreu nenhum tipo de aborto. Quanto à idade de menarca e menopausa das mulheres observamos que 93% tiveram menarca a partir dos 11 anos e 30% já se encontra na menopausa; Quanto às mulheres com antecedentes familiares com câncer, 50% delas não apresentam nenhum antecedente e 48% tem antecedentes com câncer na família; Em relação a mulheres que apresentam antecedentes de doença sexualmente transmissível, notamos que 94% nunca apresentaram nenhum tipo de DST, 2% referiram ter sido acometida por leucorréia, 1% por candidíase, 1% por corrimento, 1% por sífilis e 1% não lembra; Com relação à idade de realização do primeiro papanicolaou pelas mulheres e a periodicidade com que elas o realizam, observamos que 72% delas realizaram seu primeiro papanicolaou entre 16 e 30, 9% o realizou antes dos 15 anos, 11% a partir dos 31 anos, 2% nunca fizeram e 6% relataram não lembrar. Quanto à periodicidade, 64% das entrevistadas o fazem anualmente, dentro do intervalo preconizado pelo Ministério da Saúde, (a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos negativos para mulheres de 25 a 59 anos de idade ou que já tenham atividade sexual), 9% realizam este exame apenas quando apresentam sinais e sintomas, 8% a cada três anos, 7% o realizam semestralmente, 5% a cada dois anos, 4% a cada cinco anos, 2% nunca fez e 1% coletou uma única vez e não mais procurou o serviço de saúde para esse fim; 70 Quanto aos sintomas relacionados e aos fatores de risco ao câncer do colo do útero, 80% delas não apresentou nenhum dos sintomas descrito no questionário e 20% apresentou um ou mais sintomas; Quanto ao resultado e tratamento do último papanicolaou realizado pelas mulheres entrevistadas, observamos que 89% referiram que o último exame do papanicolaou teve resultado normal, 6% relataram ter algum tipo de inflamação, 1% NIC I, 1% NIC III, 1% não soube informar e 2% nunca fizeram o exame. O tratamento apresentado pelas mulheres para as alterações relatadas foi o de cauterização, pomadas e histerectomia para resultados de inflamação e inflamação (pólipos) rever citação; para o tratamento de NIC I, metronidazol e NIC III radioterapia e quimioterapia; Quanto à percepção das mulheres na realização do exame citopatológico do colo do útero, 92% conhecem a finalidade do papanicolaou e 75% sabem como é realizado o exame. Questionadas a explicar a real finalidade desse exame apenas 30% destas citam o papanicolaou como forma de prevenção do câncer cérvico-uterino, seguidas dos 26% que responderam que a finalidade do exame seria prevenir doenças e identificar feridas ou lesões no útero, 9% não soube explicar, 3% disse que é para identificar câncer no colo do útero, 3% identificar infecção DST. Além destas, destacamos também a resposta incorreta apontada por 3% das entrevistadas que afirmaram que o exame de Papanicolaou tem a finalidade de identificar câncer (qualquer tipo de câncer), nódulo, bactéria e anomalias no organismo. Esta informação distorcida é passível de levar estas mulheres a se despreocuparem em buscar outras especialidades por crerem estar protegidas. Em relação à importância do exame do papanicolaou, 97% das entrevistadas consideram importante realizar o exame, no entanto quando perguntamos o motivo pelo qual elas o fazem, apenas 15% delas responderam que seria para prevenção do câncer cérvico uterino, a maioria (54%) disseram que é para evitar ou identificar doenças (qualquer tipo), 7% não explicaram ou não tiveram interesse em responder e 2% responderam simplesmente que é para prevenção. A falta de compreensão da importância da 71 realização do exame por um segmento de mulheres constitui um desafio para os serviços de saúde, pois limita o acesso ao rastreamento do câncer de colo do útero, principalmente daquelas consideradas de maior risco; Em relação ao papel do enfermeiro em ações educativas, concluímos que 91% das entrevistadas nunca participaram de palestras na unidade e 64% delas dizem não ter suas dúvidas esclarecidas durante o exame. Com base nos dados notamos a pouca produção dos enfermeiros da EACS Planejada II em ações educativas para promoção e proteção da saúde. O enfermeiro deverá comprometer-se com a promoção da saúde e acreditar no poder transformador da educação, pois as mulheres com seus conhecimentos aprimorados se tornam multiplicadoras de informações. 72 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho procurou identificar a percepção das mulheres quanto à realização do exame papanicolaou, para compreender desta forma, os comportamentos preventivos destas mulheres. Conhecer estes fatores é o primeiro passo para definir estratégias de intervenções mais eficientes e adequadas às reais necessidades da população feminina. Prevenir é antecipar o conhecimento, impedindo que um fato ocorra ou mesmo que tenha continuidade, portanto a atitude preventiva ao câncer cérvico uterino deve ser abrangente a fim de evitar o processo de cancerização, ou mesmo a interrupção da evolução de uma lesão pré-maligna, para isso utilizando-se de todos os recursos diagnósticos disponíveis. Os dados apresentados neste estudo mostraram que a prevalência de comportamentos de risco é alta na população de mulheres em geral, e que a auto percepção de risco é muito baixa e freqüentemente inadequada. Esses fatores contribuem como obstáculos na prevenção ao câncer cérvico uterino, e podem ainda se perpetuar dentro dos núcleos familiares e sociais, impedindo o estabelecimento de ações ineficazes no sentido da prevenção. Atender as necessidades da realidade dessas mulheres significa aproximar-se da transformação social do comportamento em relação à prevenção. A transformação só é possível através da modificação do modo de vida, e que seja entendida como benefício e justificativa dos esforços no sentido de concretizá-la. As medidas educativas são, assim, extremamente importantes para que a prevenção do câncer de colo uterino seja fundamentada para condição de vida das mulheres, ao ter como objetivo instruir indivíduos e grupos para colaborarem na melhoria da saúde da população, pois é sabido que a evolução da saúde está relacionada com a evolução da sociedade. Educar é um processo contínuo, em que se ensina e aprende a cada dia, respeitando o saber do outro e aprendendo com ele. Assim ensinar não é transferir conhecimentos, e sim criar possibilidades para sua construção e produção. Enfim, este estudo concluiu que é imprescindível uma atuação diferenciada dos profissionais da saúde com as mulheres em relação ao exame preventivo papanicolaou. 73 Uma atuação com envolvimento, com respeito à sua intimidade, à sua privacidade, ao seu direito de conhecer e poder conversar sobre o câncer de colo uterino. Para que haja diminuição da mortalidade das mulheres e, para que uma alta porcentagem da população seja rastreada, é necessário busca ativa das mesmas, que nunca realizaram o exame de papanicolaou ou que não o realizam com freqüência desejada para atender o aspécto da prevenção do câncer de colo uterino. Foi de grande importância a realização deste trabalho, tanto para nosso desenvolvimento profissional, quanto pessoal, pois ele nos trouxe muito conhecimento e mostrou caminhos pelos quais, o enfermeiro pode percorrer, cabendo a ele assumi-lo. 74 REFERÊNCIAS ABRÃO,F. S. Tratamento do câncer do colo do útero. In: Oliveira, H. C.; Lemgruber, I. V.II. FCM- UERJ; PUC – RJ. Revinter, 2001. ALBUQUERQUE, Kamila Matos de et al . Cobertura do teste de Papanicolaou e fatores associados à não-realização: um olhar sobre o Programa de Prevenção do Câncer do Colo do Útero em Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em <http://www.scielo.br. Acessos em 30 set. 2010. 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Qual o motivo? ___________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3) Tem ou já teve mais de um parceiro? ( ) Sim ( ) Não 4) Seu parceiro já apresentou alguma doença sexualmente transmissível? (Se não souber o que é DST, perguntar se o parceiro já apresentou lesão peniana/anal em formato de couveflor ou verruga, presença de secreção) ( ) Sim ( ) Não 5) Nº de gestações: _______ Paridade: _____ (PC__ PN__ PF __) Aborto: ( ) sim ( ) não Se sim: (P__ E __) Menarca: __________ Menopausa: _______________ 6) Antecedentes familiares com Câncer? ( )Sim ( ) Não Quem? _________________________________________________ Tipo de câncer? __________________________________________ 7) Antecedentes de doença sexualmente transmissível? (Se não souber o que é DST perguntar se já apresentou lesão em forma de verruga na parte externa da vagina). ( ) Sim ( ) Não 83 Que doença? ___________________________________________________________ 8) Com que idade realizou o primeiro exame citopatológico do colo de útero (Papanicolaou)? ___________ 9) Com que periodicidade realiza o exame de Papanicolaou? ( ) Semestralmente ( ) Anualmente ( ) A cada dois anos ( ) A cada três anos ( ) A cada cinco anos ( ) Quando apresento sinais e sintomas III – Quanto os fatores de risco, já apresentou algum/alguns dos sintomas abaixo relacionados? 1 - ( ) Sangramento após as relações sexuais; 2 - ( ) Perda de sangue inesperado entre as menstruações, ou após a menopausa (se for o caso) 3 - ( ) Aparecimento de sangue na urina ou fezes; 4 - ( ) Dor na região pélvica. IV - Resultados apresentados no último exame de Papanicolaou : Sistema Sistema Sistema Sistema Clássico OMS NIC Bethesda I Normal Normal Dentro dos limites normais II Inflamação Inflamação Alterações celulares benignas III Displasia Leve Displasia Moderada Displasia Severa NIC 1 NIC 2 NIC 3 SIL baixo grau SIL alto grau SIL alto grau IV Carcinoma in situ NIC 3 SIL alto grau V Carcinoma invasor Carcinoma invasor Carcinoma invasor 1) Tipo de tratamento empregado? ( ) não foi utilizado nenhum tratamento, apenas acompanhamento ( ) Medicamentos (especificar): _____________________________________________ ( ) Cauterização - através de nitrogênio líquido, nitrato de prata, eletrocautério ou ácido acético; ( ) Conização - cirurgia para retirada de pequena porção do colo uterino; ( ) Histerectomia - retirada de todo o útero; 84 ( ( ( ( ) Radioterapia; ) Quimioterapia; ) Não foi possível colher esta informação por falta de dados em prontuário ) A cliente não soube informar V - Identificar o conhecimento das mulheres quanto a importância do exame : 1 – Você sabe o que é o exame de Papanicolaou? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2 - Você sabe para que serve este exame? ( ) Sim ( ) Não Se sim. Explicar. ____________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 3 - Sabe como é realizado o exame? ( ) Sim ( ) Não 4 - Você acha importante realizar o exame de Papanicolaou? ( ) Sim ( ) Não Por quê?______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ VI- Enfatizar o papel do enfermeiro no desenvolvimento de ações educativas e de conscientização quanto à prevenção do câncer de colo de útero : 1 – Você já participou de alguma palestra sobre a Saúde da mulher com o enfermeiro da sua Unidade? ( ) Sim ( ) Não Se sim. Quais temas são abordados: ( )Exame preventivo (Papanicolaou) ( )DST ( )Métodos anticonceptivos 2 – Durante a coleta do papanicolaou são esclarecidas as dúvidas quanto ao exame? ( ) Sim ( ) Não 3 – Quais temas você gostaria que fossem abordados pelo enfermeiro da sua Unidade quanto ao exame do papanicolaou? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Apêndice B Autorização Bragança Paulista, ___ de abril de 2010. 85 Exma. Secretária Municipal de Saúde Drª Maria Amália Gouveia Oliveira. Vimos solicitar as dignas providências no sentido de autorizar a coleta de dados da pesquisa intitulada “A PERCEPÇÃO DAS MULHERES QUANTO A REALIZAÇÃO DO EXAME PAPANICOLAOU NUMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE” em desenvolvimento pelas minhas orientandas Eliete Aparecida de Aguiar, Maria Cristina de Jesus Santos e Quevellin Alves dos Santos, alunas do 7º semestre do curso de enfermagem, do centro de Ciências Biológicas da Saúde da Universidade São Francisco, como exigência parcial para conclusão do curso de graduação. Os dados serão obtidos através de aplicação de uma entrevista, com o objetivo de identificar o conhecimento das mulheres quanto à importância do exame citopatológico (Papanicolaou) e o papel do enfermeiro frente à prevenção do câncer do colo do útero na Estratégia de Agente Comunitário de Saúde. Somente participarão desta pesquisa as pacientes que estiverem de acordo com o Termo de Consentimento e a coleta de dados somente será realizada após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa. Em anexo enviamos o projeto de pesquisa o qual será avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco. Agradecendo antecipadamente a valiosa colaboração de VS, colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos. Atenciosamente ________________________________ Professor Ricardo de Almeida (orientador) Fone: (11) 96306272 E-mail: [email protected] Declaro que conheço o projeto de pesquisa em questão e autorizo a realização do mesmo após apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco. ___________________________________________ Drª Maria Amália Gouveia Oliveira (Secretária de Saúde de Bragança Paulista) Apêndice C Termo de consentimento livre e esclarecido A PERCEPÇÃO DAS MULHERES QUANTO A REALIZAÇÃO DO EXAME PAPANICOLAOU NUMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE O abaixo assinado: 86 Nome: ____________________________________________________________________ Endereço: ________________________________________________________________ Cidade / Estado: ____________________________________________________________ RG:_______________________________ Idade: ____________ Declara que é de livre e espontânea vontade que está participando como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, de responsabilidade do pesquisador. O voluntário está ciente que: I. Os objetivos desta pesquisa são: Objetivo geral: Identificar a percepção das mulheres quanto à realização do exame papanicolaou no Programa de Agente Comunitário de Saúde. Objetivos específicos: Caracterizar o perfil da clientela que realiza o exame citopatológico do colo do útero (Papanicolaou); Conhecer historia obstétrica e ginecológica; Conhecer os fatores de risco da população estudada; Identificar o último exame realizado e o seu resultado; Identificar o conhecimento das mulheres quanto importância do exame citopatologico do colo de útero (papanicolaou); Enfatizar o papel do enfermeiro no desenvolvimento de ações educativas e de conscientização quanto à prevenção do câncer de colo de útero. II. A participação neste estudo não acarretará nenhum risco que possa comprometer a sua saúde ou o seu tratamento. III. Obteve todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a participação no referido estudo. IV. Está livre para interromper a participação no estudo a qualquer momento ou deixar de responder a qualquer pergunta. V. A interrupção no estudo não lhe causará prejuízo ao seu atendimento, cuidado e tratamento pela equipe de saúde do EACS Planejada II. VI. Responderá a um formulário, o qual não possuirá nenhuma forma de fornecer sua identidade, visto que todas as informações obtidas serão convertidas em dados numéricos. VII. Uma vez encerrado o trabalho, os resultados poderão ser divulgados em eventos e revistas científicas, onde serão mantidos sigilo e anonimato de qualquer informação fornecida. 87 VIII. Poderá entrar em contato com os pesquisadores, sempre que necessário, pelo telefone abaixo citado. IX. Poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa para apresentar recursos ou reclamações em relação ao estudo (Fones: (11) 2454-8981ou 2454-8028 – Comitê de Ética em Pesquisa – USF). X. Este termo de consentimento livre e esclarecido constará de duas vias, sendo uma delas entregue ao voluntário. Pesquisadoras: Eliete Aparecida Aguiar RG 11.423.905 Rua do Campo, 337 apto 22 – JD. São José Bragança Paulista – São Paulo Fone (11) 6742-8016 E-mail: [email protected] Maria Cristina de Jesus Santos RG 2.454.195 Rua Dois, 79 – Vila São José II Atibaia – São Paulo Fone (11) 7468-6828 E-mail: [email protected] Quevellin Alves dos Santos RG 42.859.721-X Rua Ezeo Dínamo Rossi, 353 Jardim Águas Claras Fone: 8996-7389 E-mail: [email protected] Pesquisador Responsável: Prof° Ricardo de Almeida RG: 29.506.250-2 Endereço: Rua Dom Pedro I, 30 Cidade: Bom Jesus dos Perdões - SP Fone: (11) 96306272 E-mail: [email protected] Bragança Paulista, ___ de_____________________ de 2010. Assinatura do (a) voluntário (a) : ____________________________________ Assinatura do Responsável pela pesquisa: Prof° Ricardo de Almeida 88 Assinatura: ________________________________