Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 ESTUDO DA ADERÊNCIA ENTRE CONCRETO E AÇO PELO ENSAIO APULOT UTILIZANDO CONCRETO DE ALTA RESISTÊNCIA João V. R. Martins Ana E. P. G. A. Jacintho Faculdade de Engenharia Civil CEATEC [email protected] Tecnologia do Ambiente Construído CEATEC [email protected] Resumo: O estudo da aderência entre no concreto armado é de extrema importância, pois tem sua existência resumida a solidariedade entre as armações feitas com barras de aço e o material concreto. Sendo assim, para garantir a qualidade e segurança destas estruturas deve-se realizar estudos para análise da aderência do aço e concreto. Devido ao alto custo para execução de ensaios de aderência como o pullout.test muitas obras civis deixam de analisar a tensão de aderência, ignorando esse importante mecanismo de análise. Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo realizar estudos sobre a aderência do aço com o concreto de alta resistência utilizando o método de ensaio de aderência APULOT (pull-out modificado). Visando a posterior inclusão do ensaio APULOT como mais um dos critérios para a segurança e qualidade das estruturas. O ensaio APULOT utiliza de protótipos de garrafa PET preenchidos com concreto de alta resistência e transpassados por barras de aço para arrancamento. A fim de garantir as resistências acima de 50 MPa foram realizados testes de resistência a compressão, tração e módulo de elasticidade. Os resultados desta pesquisa, aos 7 dias e 28 dias de idade, serão utilizados para a formação de um banco de dados para a futura normalização do ensaio APULOT que poderá ser realizado em obras civis para o controle de qualidade adequado das construções. Palavras-chave: aderência, aço, concreto, alta resistência. Área do Conhecimento: engenharia civil, construção civil. 1. INTRODUÇÃO A grande maioria das obras civis brasileiras, com destaque para as grandes construções, utiliza-se do concreto armado, já que este material apresenta diversas características positivas. Sendo assim, para que seja garantida a qualidade e segurança destas edificações se torna necessário não só a análise da resistência à compressão do concreto como é muito comum na grande parte das obras, mas também um estudo das tensões de aderência geradas pelo contato aço concreto. O ensaio para análise das tensões de aderência mais aceito mundialmente é o pull-out-test. Por diversos fatores este ensaio é ignorado na maioria das obras, tanto pelo seu alto custo como pela falta de mão de obra e laboratórios que consigam realizar este ensaio. Observando-se esta dificuldade executiva surge o método de ensaio APULOT como uma opção viável para análise da tensão de aderência, já que faz uso de protótipos de garrafa PET preenchidos com concreto e transpassados por barras de aço para arrancamento através de macaco hidráulico. Além de materiais de fácil acesso numa obra e baixo custo para sua execução, é necessário destacar que é possível ser realizado in-loco. A pesquisa descrita realizou uma comparação entre valores de tensão de aderência, através do ensaio APULOT, de concretos de resistência normal e concretos de alta resistência. Os resultados obtidos farão parte de um banco de dados e serão comparados a outros resultados obtidos por grupos de pesquisa na Argélia, Brasil e França, sob a coordenação do professor Michel Lorrain, da Universidade de Toulouse na França. Para que a caracterização do concreto fosse completa além da análise da tensão de aderência foram realizados ensaios de resistência à compressão, resistência à tração e módulo de elasticidade. 1.1. Concreto de Alta Resistência A NBR 8953:2009 [1] classifica os concretos por sua resistência a compressão em dois grupos, são chamados de Classe de resistência do grupo II aqueles que se apresentam com valores de resistência maio- Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 res de 50MPa até o limite de 80MPa. Ocorre uma grande duvida em relação as terminologias do concreto de alta resistência e concreto de alto desempenho. É necessário destacar que os concretos de alta resistência podem ter características de concretos de alto desempenho, porém devem atender exclusivamente de maneira superior a resistência à compressão. Helene [2] destaca que a diminuição da relação águacimento, a otimização da granulometria dos agregados e as adições minerais garantem um concreto de alta resistência. 1.2. Aderência “Pode-se definir aderência como sendo o mecanismo de transferência de tensões que existe na interface entre a barra de aço da armadura e o concreto que a envolve. Esse fenômeno é tão importante, que a própria definição de concreto se condiciona à sua existência.” [3]. Netto [4] afirma que a aderência é composta por três parcelas: a primeira surge no lançamento do concreto e aumenta até o endurecimento (aderência por adesão). A outra parcela surge sempre que ocorra deslizamento entre os materiais (aderência por atrito). A última parcela ocorre pelas saliências e reentrâncias da superfície das barras (aderência mecânica). 2. MATERIAIS Para esta pesquisa foram realizados três diferentes traços (20, 60 e 80MPa) que utilizaram dos seguintes materiais: Agregado natural miúdo: areia lavada; Agregado natural graúdo: brita 1 basáltica; Cimento: CP II – E – 32 do fabricante Cauê Cimentos; Aço: CA 50 com diâmetro de 8 milímetros; Adições: sílica ativa da fabricante Dow Corning; Aditivos: plastificante Muraplast FK 100B fabricado pela MC Bauchemie (20MPa) e superplastificante Glenium 51 fabricado pela BASF (60 e 80MPa). Tabela 1. Caracterização dos agregados. Máx. Teor de Finos Absorção de Água [g/cm3] [mm] [%] [%] 2,60 1,55 4,80 2,26 2,87 1,65 19,00 Massa Específ. Massa Unit. Dimen. [g/cm3] Agregado Miúdo Agregado Graúdo Material 0,74 3. DOSAGEM Para esta pesquisa foi utilizada a mesma dosagem feita por Guimarães [5] no caso do traço de 80MPa, para os demais foi empobrecido. Com base em resultados de corpos de prova testes os traços foram modificados conforme a Tabela 2. Tabela 2. Traços finais. Resistência (MPa) Cimento : Areia: Brita A/C Aditivo 20 1 : 2,69 : 3,35 0,55 0,2% 60 1 : 2,01 : 2,88 0,35 1,0 % 80 1 : 1,45 : 2,08 0,34 1,5% 4. ENSAIOS 4.1. Concreto Após os testes iniciais foram realizados ensaios de resistência a compressão simples e tração por compressão diametral sendo analisada para ambos as idades de 3, 7 e 28 dias e para cada idade e ensaio feitos 4 corpos de prova. 24 horas após a moldagem os corpos de prova foram retirados da forma e imersos em tanque com água para processo de cura. A Tabela 1 mostra a caracterização dos agregados feita em laboratório. Figura 1. Preparação dos corpos de prova. Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 4.2. APULOT “O método APULOT é uma modificação do ensaio pull-out, proposto para possibilitar um melhor controle de qualidade na produção de concreto armado” [6] e utiliza como protótipos para corpo-de-prova garrafas de plástico PET cilíndricas, que devem possuir um diâmetro mínimo de 8 cm e se possível um formato mais homogêneo na zona aderente, afirma [7]. Figura 3. Montagem dos protótipos de PET. É importante deixar uma parte da barra livre para que entre em contato com o concreto e gere a tensão de aderência procurada. Para isso é necessário a aplicação da Equação 1. σ ab = Figura 2. Ensaio APULOT (Baiochi et al. [8]). O macaco hidráulico deve ser bombeado e o pistão é empurrado contra a cunha, “quando a força atinge um valor tal que a barra está prestes a ser arrancada, o concreto se encontra fissurado.” [4]. Neste momento ocorre um rápido deslizamento da barra e o ensaio é finalizado. Faplicada Faplicada = 2.π .R.lancoragem Área (1) Sendo: σad = tensão de aderência; FAplicada = força aplicada na barra de aço obtida no ensaio APULOT; R = raio da seção transversal da barra de aço; lAncoragem = comprimento de ancoragem. A aplicação da formula com base nos resultados de resistência a compressão dos testes iniciais que serão apresentados no próximo tópico nos dão parâmetros para definirmos os comprimentos de aderência que devem ser adotados. Tabela 4. Comprimento de Aderência. A tabela abaixo mostra a quantidade de ensaios: Tabela 3. Ensaio APULOT. Resistência Ensaio Idade [dias] 20 7 6 20 28 6 7 6 60 28 6 80 7 6 80 28 6 APULOT Resistência Real Tensão de Escoamento do Aço Comprimento de Ancoragem [MPa] [MPa] [MPa] [cm] 20 23,70 60 62,10 80 75,56 Garrafas [MPa] 60 Resistência É necessário primeiramente preparar os protótipos de PET que por sua vez devem ter o fundo cortado e a tampa e base furados para a passagem da barra de aço. 9,50 580 4,70 3,96 5. RESULTADOS 5.1. Concreto Resultados obtidos através dos testes citados no tópico 4.1. Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 Tabela 5. Resultados Concreto. Resistência à tração por compressão diametral Resistência Idades Resistência à compressão simples [MPa] [dias] [MPa] [MPa] 3 22,7 - 20 60 80 7 23,15 1,32 28 28,18 1,83 3 32,55 - 7 45,4 2,41 28 52,81 2,7 3 38,68 - 7 50,61 2,6 28 74,96 2,92 5.2. APULOT A tabela e os gráficos abaixo mostram os valores obtidos no ensaio APULOT. Figura 6. Gráficos 80MPa 7 dias Tabela 6. Tensão de Aderência Média. Rest. Resistência à Compressão simples Carga de Ruptura Tensão de Aderência Tensão de Aderência média [MPa] [kN] [MPa] [MPa] 21,17 8,87 3 23,61 9,89 1 18,86 7,91 20,74 8,69 6 27,04 11,33 1 35,18 29,79 33,82 28,64 4 34,4 29,13 1 29,09 24,65 28,53 24,18 4 30,27 25,65 1 29,94 30,09 30,61 30,77 3 26,51 26,65 4 32,15 32,31 1 21,85 21,96 26,3 26,43 26,38 26,51 Idade PE T [MP a] [dias] 1 7 20 28 7 23,15 4 2 28,18 45,4 9,38 9,31 29,19 60 28 Figura 4. Gráficos 20MPa 7 dias. 2 52,81 2 7 80 28 50,61 3 4 Figura 5. Gráficos 60MPa 7 dias. 74,98 24,83 29,96 24,96 Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 6. CONCLUSÃO Conforme esperado foi observado uma elevação contínua ao longo das idades (3, 7 e 28 dias) nos resultados de propriedades mecânicas do concreto. Mesmo assim, diferente dos resultados apresentados pelo traço de 20MPa, os concretos de 60 e 80MPa chegaram a valores de resistência a compressão bem próximos ao esperado, mas não chegaram a ultrapassá-los como era esperado. Mediante os resultados apresentados pelo Módulo de Elasticidade é importante resaltar que foi excluído da publicação do artigo. Analisando especificamente as tensões de aderência observamos que com exceção do concreto de 20MPa os outros não alcançaram as tensões esperadas conforme foi mostrado nas tabelas acima. Assim, provavelmente a curva proposta por Lorrain e Barbosa [6] pode não ser adequada para estimar a relação entre a resistência a compressão axial e a tensão de aderência para concretos da Classe II de resistência. Sendo assim, uma maior gama de ensaios deve ser executada e analisada para maiores afirmações. AGRADECIMETOS Agradeço a FAPESP pelo auxílio à Pesquisa usado na compra dos equipamentos, à Pontifícia Universidade Católica de Campinas pela bolsa concedida, por ceder às instalações do Laboratório de Materiais e Estruturas e os materiais necessários para a realização deste artigo. E a aluna de graduação Gabriela França Santarosa que deu início a este projeto. REFERÊNCIAS [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2009) NBR 8953: Concreto para fins estruturais – classificação por grupos de resistência. 2009. 2 p. [2] Helene, P; et al. (2011) Concreto de alto e ultra desempenho. São Paulo: Ed. IBRACON. Disponível em: <http://www.concretophd.com.br/imgs/files/HPCCap3 6Concreto2011.pdf > Acesso em: 30 mar. 2014. [3] Fernandes, R. M. (2000) A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto. 2000. 155 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. [4] Netto, P. S. (1977) Ancoragem por aderência em barras para concreto armado. São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos – USP, Departamento de Engenharia de Estruturas, 1977. p. 1-4. [5] Guimarães, A. E. J. (1999) Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas submetidos à compressão centrada. 1999. 145 f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos,. [6] Lorrain, M.; Barbosa, M.P. (2008) Controle de qualidade dos concretos estruturais: Ensaio de aderência aço-concreto. Revista Concreto e Construções. n.51, pp. 52-57. jul, ago, set. [7] Vale Silva, B. (2010) Investigação do potencial dos ensaios APULOT e pull-out para estimativa da resistência a compressão do concreto. 2010. 178f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira. [8] Baiochi, A. G. et al. (2009) Análise da aderência entre o concreto desenvolvido com resíduo de construção civil e o aço pelo método APULOT. In: Congresso Brasileiro do Concreto 55.