UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
ALOMETRIA DE CORDEIROS ALIMENTADOS COM SILAGENS
DE CAPIM ELEFANTE COM PROPORÇÕES DE CASCA DE
MARACUJÁ DESIDRATADA
FABIANO MATOS PEREIRA
2010
FABIANO MATOS PEREIRA
ALOMETRIA DE CORDEIROS ALIMENTADOS COM SILAGENS DE CAPIM
ELEFANTE COM PROPORÇÕES DE CASCA DE MARACUJÁ
DESIDRATADA
Dissertação apresentada à Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - UESB, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Área de
Concentração em Produção de Ruminantes, para obtenção
do título de Magister Scientiae.
Orientador: Profª. D.Sc. Cristiane Leal dos Santos Cruz
Co-Orientador: Prof.Dsc. Paulo Bonomo
ITAPETINGA - BAHIA
2010
636.085
Pereira, Fabiano Matos.
P491a
Alometria de cordeiros alimentados com silagens de capimelefante com proporções de casca de maracujá desidratada. / Fabiano
Matos Pereira. – Itapetinga-BA: UESB, 2010.
71 fl.
Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Zootecnia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB Campus de Itapetinga. Sob a orientação da Profa. D Sc.Cristiane Leal
dos Santos Cruz e co-orientador Prof. D. Sc. Paulo Bonomo.
1. Ovinos – Alimentação – Capim-elefante – Casca de maracujá. 2.
Capim-elefante – Qualidade nutritiva – Aditivos. 3. Nutrição
animal – Ovinos – Casca de maracujá. I. Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - Programa de Pós-Graduação em Zootecnia,
Campus de Itapetinga. II. Cruz, Cristiane Leal dos Santos. III.
Bonomo, Paulo. IV. Título.
CDD (21): 636.085
Catalogação na Fonte:
Cláudia Aparecida de Souza-CRB 1014-5ª Região
Bibliotecária – UESB – Campus de Itapetinga-BA
Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:
1.
2.
3.
Ovinos – Alimentação – Capim-elefante – Casca de maracujá.
Nutrição animal – Ovinos – Casca de maracujá
4.
Silagem – Capim-elefante – Alimentação – Ovinos
Capim-elefante – Qualidade nutritiva – Aditivos.
DEDICATÓRIA
Dedico ao Sr. Jeová, meu Deus Soberano sobre todas as
coisas, que é a real essência de existirmos;
Aos meus Pais, José Pereira de Souza e Maria de Lourdes
Matos Pereira, que tanto me ensinaram no decorrer de minha vida,
pelo amor e base de sustentação, para a conquista dos objetivos;
À minha filha Bianca Matos Pereira e ao recém chegado Luís
Otávio Cunha Matos, pela ternura e compreensão nas horas ausente;
À minha esposa Érika Andréa Matos da Cunha, pelo seu
apoio nas horas mais difíceis;
Ao meu irmão Fernando Matos Pereira, e cunhada Flávia
Ferreira de Souza Matos, pelo apoio constante e amizade.
AGRADECIMENTOS
Ao Sr. Jeová, meu Deus Soberano sobre todas as coisas;
À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em especial ao Programa de
Pós-graduação em Produção de Ruminantes, pela oportunidade concedida para a realização
deste curso;
À minha orientadora, Prof (a). Cristiane Leal dos Santos-Cruz, pela orientação, pela
atenção, acessibilidade, apoio e exemplo de profissional no seu dinamismo e conhecimento na
condução das pesquisas;
Aos alunos componentes do grupo EPOC, pela sua contribuição imprescindível para o
desenvolvimento dos trabalhos;
Aos professores da Pós-Graduação, por fazerem parte da nossa formação profissional;
À empresa de sucos Necttare Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios Ltda,
situada na cidade de Feira de Santana-Bahia, pela doação da casca de maracujá desidratada;
A todos os colegas de curso e, principalmente, de república, Antônio Eustáquio, Paulo
Eduardo e Luiz Eduardo, que tiveram comigo lado a lado nessa caminhada;
À secretaria da Pós-graduação, em especial Maiza, pela clareza e precisão nas
informações e por nos atender sempre disposta;
A todos que, direta ou indiretamente, nos apoiou de alguma forma durante toda essa
jornada de estudo.
“Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já se passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,
Eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho,
A casca dourada e inútil das horas...
Dessa forma eu digo:
Não deixe de fazer algo que goste devido à falta de
tempo,
Pois a única falta que terá,
Será desse tempo que infelizmente não voltará mais”
(Mário Quintana)
PEREIRA, F.M. Alometria de cordeiros alimentados com silagens de capim elefante com
proporções de casca de maracujá desidratada. Itapetinga-BA: UESB, 2010. 71 p.
(Dissertação – Mestrado em Zootecnia, Área de Concentração em Produção de Ruminantes). *
RESUMO
O experimento foi realizado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB com o
objetivo de avaliar a alometria dos componentes do peso vivo, cortes da carcaça e componentes
teciduais em cordeiros Santa Inês, submetidos à dieta com silagem de capim elefante com
distintas proporções de casca de maracujá desidratada. Foram utilizados 16 cordeiros, machos
não castrados, com peso vivo médio inicial de 23 kg e idade média de 150 dias, previamente
identificados e vermifugados. Os animais foram alojados e confinados em baias individuais com
dimensões de 1,5 m x 1,0 m, equipadas com cocho e bebedouro em estábulo coberto do setor de
Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos – ENOC, por um período experimental de 60 dias,
precedido de 15 dias para adaptação à dieta e manejo. Os animais foram distribuídos nos
tratamento de silagem de capim elefante com proporções de 0, 10, 20 e 30% de casca de
maracujá desidratada, nas quais cada animal representava uma unidade experimental,
considerando um delineamento inteiramente casualizado. Os cordeiros foram abatidos ao final
do período experimental com um peso médio de 32,4 kg. O procedimento de abate decorreu
após 16 horas de jejum sólido, com a insensibilização e cortes na artéria carótida e veias
jugulares. Após a sangria e retirada da pele procedeu-se a evisceração e pesagem, para estudo
dos componentes do peso vivo. A carcaça foi levada para a câmara fria, por um período de 24
horas, sob uma temperatura média de 4º C. A ½ carcaça foi dividida em cortes que, após
dissecação, obteve-se a composição tecidual. No estudo a inclusão de casca de maracujá
desidratada (CMD) em níveis crescentes melhorou proporcionalmente o peso vivo final, peso da
meia carcaça, ganho de peso em kg, ganho médio diário, consumo de matéria seca e conversão
alimentar. Não houve diferença significativa para média de peso dos cortes e tecidos entre os
tratamentos, dos quais apenas o tecido ósseo teve um desenvolvimento precoce na paleta; para
os demais tecidos, o crescimento foi isogônico. Sendo assim, a inclusão de 30% de casca de
maracujá desidratada não alterou o crescimento alométrico dos órgãos, cortes e tecidos de
cordeiros Santa Inês.
Palavras – chave: crescimento alométrico, ovinos, casca de maracujá desidratada.
_____________________________________________________________________________
*Orientadora: Cristiane Leal dos Santos Cruz, D.Sc., UESB.
PEREIRA, F.M. Allometry of lambs fed with elephant grass silage with different
proportions of dried passion fruit peel. Itapetinga-BA: UESB, 2010. 71 p. (Dissertation Master in Animal Science, Emphasis in Production of Ruminants) *
ABSTRACT
The experiment was done at the State University of Southwest Bahia / UESB, aiming to assess
the allometric growth of the components of body weight, carcass cuts and tissue components in
Santa Ines lambs were submitted to the diet with elephant grass silage with different additive
proportions of passion fruit peel dried. We used 16 lambs, steers, with initial live weight of 23
kg and average age of 150 days were identified, wormed. The animals were housed and kept in
individual stalls with dimensions of 1.5 mx 1.0 m, equipped with watering trough and covered
in stable sector of Tests Nutrition of Sheep and Goats - ENOC, for a trial period of 60 days,
preceded 15 days for adaptation and management. were then randomly assigned to treatments
(0, 10, 20 and 30%) of passion fruit peel, given the randomized design. Lambs were slaughtered
at the end of the trial period with an average weight of 32.4 kg. The procedure for the slaughter
took place after 16 hours of fasting solid with a stunning and cuts in the carotid artery and
jugular veins. After bleeding and skinning proceeded evisceration and weighed in order to study
the components of body weight. The carcass was taken to the chamber for a period of 24 hours
at an average temperature of 4 ° C. The ½ carcass was divided into sections which, after
dissection, we obtained the tissue composition. In the study the inclusion of dried passion fruit
peel (CMD) in increasing levels, improved with the final live weight, half the weight of the
carcass gain kg, average daily gain, dry matter intake and feed conversion. There was no
significant difference in mean weight of the cuts and fabrics among treatments, where only the
bone had an early development in the palette for the other tissue growth was isogonic. Thus, the
inclusion of 30% of passion fruit peel dried did not alter the allometric growth of organs, tissues
and sections of Santa Ines lambs.
Key - words: allometric growth, sheep, passion fruit peel dehydrated.
_____________________________________________________________________________
*Adviser: Cristiane Leal dos Santos Cruz, D.Sc., UESB.
BIOGRAFIA
FABIANO MATOS PEREIRA, filho de José Pereira de Souza e Maria de Lourdes
Matos Pereira, nasceu em 19 de abril de 1975, em Salinas – MG.
Concluiu o curso de graduação em Zootecnia em Dezembro de 2006, na Universidade
Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Janaúba – MG.
Concluiu o curso de Pós-graduação (Lato Sensu) em Gestão e Manejo Ambiental em
Sistemas Agrícolas em Setembro de 2009, pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras
– MG.
Em março de 2008 iniciou o curso de Mestrado em Produção de Ruminantes, na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga – BA.
Atualmente, é Técnico em Agropecuária do IFNMG Campus – Salinas, onde é
responsável pelos setores de suinocultura e ovinocaprinocultura.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Composição percentual da dieta total. ............................................................. ........ 36
Tabela 2. Composição química do material utilizado da ensilagem. ............................... ....... 36
Tabela 3. Peso vivo inicial – PVI, peso vivo final – PVF, peso da meia carcaça (PMCAR),
ganho de peso total – GP, ganho médio diário – GMD, Consumo de matéria seca (g/animal/dia;
g/UTM PV0, 75) e conversão alimentar – CA, de silagens de capim elefante com níveis
crescentes de adição de casca de maracujá desidratada. .................................................. ........ 38
Tabela 4. Valores médios, erro padrão da média (Epm), probabilidade de F da análise de
variância e coeficiente de variação (CV) dos componentes do peso vivo dos cordeiros da raça
Santa Inês alimentados com silagem de capim-elefante aditivada. ................................. .......... 40
Tabela 5. Coeficiente alométrico dos componentes do peso vivo de cordeiros Santa Inês,
alimentados com silagem de capim elefante, sob diferentes níveis de casca de maracujá
desidratada, em função do peso do corpo vazio. ............................................................. .......... 41
Tabela 6. Valores médios, erro padrão da média (Epm), probabilidade de F da análise de
variância e coeficiente de variação (CV) dos cortes da carcaça (kg) de cordeiros Santa Inês
alimentados com silagem de capim elefante aditivado com distintas proporções de casca de
maracujá desidratada. ...................................................................................................... .......... 52
Tabela 7. Coeficiente alométrico e equações de regressão da composição regional da carcaça de
cordeiros Santa Inês alimentados com silagem de capim elefante com casca de maracujá
desidratada, em função do peso da meia carcaça. ............................................................ ......... 54
Tabela 8. Valores médios em kg, erro padrão da média (Epm), probabilidade de F da análise de
variância e coeficiente de variação (CV) dos componentes teciduais dos cortes da carcaça de
cordeiros Santa Inês alimentados com silagem de capim elefante aditivada com distintas
proporções de casca de maracujá desidratada. ........................................................ .................. 65
Tabela 9. Coeficiente de alometria dos componentes teciduais dos cortes da carcaça de
cordeiros Santa Inês, alimentados com silagem de capim elefante aditivada com diferentes
proporções de casca de maracujá desidratada, em função do peso do corte. ................... ......... 67
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
CDM
CMS
CV
ENOC
FDA
FDN
GMD
MM
MN
MS
NDT
R2
%
G
kg
PV 0, 75
P
PC
PCF
PCVZPG
PMCAR
PMCD
PMCE
PM
PVA
PVI
PVF
PO
SCE
UECO
-
Casca Desidratada de Maracujá
Consumo de Matéria Seca
Coeficiente de Variação
Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos
Fibra Em Detergente Ácido
Fibra Em Detergente Neutro
Ganho Médio Diário
Matéria Mineral
Matéria Natural
Matéria Seca
Nutrientes Digestíveis Totais
Coeficiente de Determinação
Porcentagem
Gramas
Kilogramas
Peso Vivo Metabólico.
Probabilidade Estatística
Peso do Corte
Peso da Carcaça Fria
Peso do Corpo Vazio
Peso da Gordura
Peso Meia Carcaça
Peso Meia Carcaça Direita
Peso Meia Carcaça Esquerda
Peso do Músculo
Peso Vivo de Abate
Peso Vivo Inicial
Peso Vivo Final
Peso do Osso
Silagem de Capim Elefante
Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO GERAL ......................................................................................... 14
2
REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 16
2.1
Panorama da Ovinocultura...................................................................................... 16
2.2
Importância do alimento alternativo na alimentação animal ............................... 17
2.2.1 Casca de maracujá (Passiflora edulis sims f. flavicarpa) na alimentação
de ruminantes ..................................................................................................................... 18
2.3
Carne Ovina..............................................................................................................
18
2.4
Crescimento Alométrico .......................................................................................... 20
2.4.1 Componentes do peso vivo ...................................................................................... 21
2.4.2 Componente regional................................................................................................ 22
2.4.3 Composição tecidual ................................................................................................ 22
3 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 25
CAPÍTULO I - ALOMETRIA DOS ÓRGÃOS INTERNOS DE CORDEIROS SANTA
INÊS ALIMENTADOS COM SILAGENS DE CAPIM ELEFANTE COM
PROPORÇÕES DE CASCA DE MARACUJÁ DESIDRATADA ................................. 31
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 33
2
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 35
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 38
4
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 43
5
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 44
CAPÍTULO II - ALOMETRIA DOS CORTES DA CARCAÇA DE CORDEIROS SANTA
INÊS ALIMENTADOS COM SILAGENS DE CAPIM ELEFANTE COM
PROPORÇÕES DE CASCA DE MARACUJÁ DESIDRATADA ................................. 47
1
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 49
2
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 50
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 52
4
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 56
5
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 57
CAPÍTULO III - ALOMETRIA DOS COMPONENTES TECIDUAIS DOS CORTES
DA CARCAÇA DE CORDEIROS SANTA INÊS ALIMENTADOS COM SILAGENS DE
CAPIM ELEFANTE COM PROPORÇÕES DE CASCA DE MARACUJÁ
DESIDRATA....................................................................................................................... 59
1
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 61
2
MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 63
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 65
4
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 69
5
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 70
1 INTRODUÇÃO GERAL
No Brasil, mesmo com o crescimento eminente da ovinocultura de corte, o consumo da
carne ovina está aquém do desejado, pois os sistemas de produção e comercialização são
desorganizados, evidenciando a falta de uniformidade, qualidade e constância dos produtos para
venda. Essa sazonalidade na produção é mais evidente, principalmente, na região nordeste
devido às condições climáticas adversas, influenciando diretamente sobre os baixos índices
produtivos atribuídos à deficiência no manejo alimentar, sanitário e reprodutivo.
Apesar da qualidade da carne ser um dos pontos de maior relevância para sua
comercialização, a carne ovina ainda não possui uma padronização e qualidade de seus cortes,
conforme observados em outras espécies, que apresentam constância na oferta e qualidade de
seus produtos. Essa variação na qualidade resulta de vários fatores inerentes ao animal, à
alimentação, ao manejo e à própria organização da cadeia produtiva da carne ovina.
A criação de ovinos no país tem se caracterizado basicamente por dois modelos de
criação; exclusivamente a pasto, desenvolvido em todo país, mais especificamente no semiárido nordestino, devido à estacionalidade na produção de forragens em decorrência da falta de
chuvas; e o sistema de confinamento, em que atende às exigências nutricionais dos animais,
tendo como vantagem a redução no tempo de abate, melhor qualidade da carne, mas com
elevado preço para a aquisição dos insumos protéicos. Em sistemas mais tecnificados busca-se a
produção de ovinos aliando, simultaneamente, aspectos econômicos e qualidade da carcaça.
Para que se alcance um produto de qualidade, constância de oferta e um maior
custo/benefício são necessários que se conheça o ritmo de desenvolvimento animal. Assim a
qualidade da carne está relacionada com o peso ideal de abate, que é diferente para cada grupo
genético, e deve ocorrer quando o animal atingir um padrão, com alta proporção de músculos e
adequada deposição de gordura (OSÓRIO et al., 1999; SANTOS et al., 2001a; CEZAR &
SOUZA, 2007). Entre os componentes do peso vivo a carcaça é a que tem o maior valor
comercial, no entanto, os demais componentes do peso vivo podem aumentar o retorno
econômico na comercialização (ZUNDT et al., 2006).
A viabilidade econômica está em função do tipo de alimento a ser fornecido para os
animais e que atendam suas exigências nutricionais a um menor custo, buscando-se, cada vez
mais, o uso de alimentos alternativos para substituir aqueles tradicionalmente usados na
alimentação animal e que muito oneram os custos de produção. No entanto é necessário que se
conheça a composição bromatológica para não comprometer de forma significativa o
desempenho animal, bem como a qualidade da carcaça e a composição tecidual.
Com o desenvolvimento crescente e vertiginoso da fruticultura irrigada na região
nordeste, destacando-se o maracujá amarelo ((Passiflora edulis), houve um incremento
relevante no número de agroindústrias, com o consequente aumento na produção de resíduos,
14
uma vez que o maracujá após o processamento, conforme relata Neiva Júnior et. al., (2007),
produz cerca de 65% a 70% de resíduos. Assim o aproveitamento do subproduto do
processamento do maracujá torna-se uma opção por alimentos mais baratos e de fácil acesso na
região nordeste, podendo auxiliar os produtores na alimentação do rebanho ovino.
A possibilidade do uso de resíduos de maracujá desidratado, em forma de silagem para
ruminantes, seja em confinamentos ou suplementados em regimes de pastagens, aumentam as
perspectivas para criação de ovinos deslanados no nordeste brasileiro. Entretanto, para que se
tenha crescimento, ganho de peso e qualidade da carcaça desejáveis, devem ser considerados
outros aspectos de relevância como a genética, a sanidade e a nutrição.
Neste contexto, objetivou-se com este trabalho avaliar a alometria de cordeiros
alimentados com silagens de capim elefante aditivada com proporções de casca de maracujá
desidratada (CMD).
15
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1
Panorama da Ovinocultura
A produção de carne ovina apresenta grande potencial para contribuir com a oferta de
proteína animal na região Nordeste, para tanto, estratégias de alimentação devem ser mais bem
estudadas com o objetivo de estabilizar a oferta deste produto no mercado, fato este que
compromete a cadeia produtiva regional, assim como na esfera federal. Diante dessa situação, o
confinamento de ovinos desponta como opção viável em função da irregularidade na
distribuição das chuvas, que reduz a disponibilidade de forragem, tornando esta alternativa
atraente, se utilizadas fontes de alimentos disponíveis na região (PARENTE et al., 2009).
Contudo, segundo Kozloski et al. (2006), o ganho de peso e a qualidade da carne dependem,
entre outros, do potencial genético, do consumo e do valor nutricional da dieta oferecida aos
animais.
A ovinocultura tem se destacado no setor agropecuário proporcionando bom retorno
econômico ao empreendedor, sendo uma atividade que apresenta enorme potencial produtivo.
As expectativas em relação à criação de ovinos no Brasil têm estado em evidência no
agronegócio nos últimos anos. Relatos sobre as vantagens e perspectivas do crescimento da
atividade têm sido constantes (PÉREZ & FURUSHO-GARCIA, 2002; BORGES et al., 2004).
De acordo o IBGE (2009), o efetivo do rebanho ovino no país cresceu em 2008,
aproximadamente 2,4% em ralação ao ano de 2007, com um total de 16,6 milhões de cabeças. A
Região Nordeste detém 56,4% do total de animais seguido pela região Sul que apresentou um
maior crescimento efetivo do rebanho em 2008.
Conforme Madruga et al. (2005), a ovinocultura vem despontando como uma atividade
promissora no agronegócio brasileiro, em virtude do Brasil possuir baixa oferta para o consumo
interno da carne ovina e dispor dos requisitos necessários para ser um exportador desta carne:
extensão territorial, clima tropical, muito verde, mão-de-obra barata, o que reflete na produção
de animais a baixo custo. O Brasil apresenta potencial para competir com os maiores produtores
de carne ovina no mundo China, Índia, Austrália e Nova Zelândia, entretanto, o Brasil ainda
importa carne ovina de países como Argentina e Uruguai (COSTA E ZANELLA, 2006).
Mesmo que o rebanho ovino tenha mostrado sinais de crescimento, as importações é
que têm aumentado de forma significativa. Tal perfil é encontrado também no setor de peles,
onde a produção não atende à demanda interna. É verificado que os curtumes nas regiões
Nordeste e Sul do país trabalham de forma ociosa, operando com apenas 37% e 50%,
respectivamente, da capacidade total, refletindo uma demanda crescente por carcaças de
qualidade e em quantidade que atendam às indústrias do setor, além das peles (COUTO, 2001;
SIQUEIRA et al., 2002).
16
Os sistemas de criação de ovinos no Brasil podem ser divididos de duas formas: o
exclusivamente a pasto (extensivo), que é limitado pela sazonalidade na disposição de
forragens, muito característico na região Nordeste (BEZERRA, 2001), e em confinamento, que
garante o aporte de nutrientes necessário para um desenvolvimento mais rápido do animal, A
redução na idade de abate garante um produto de melhor qualidade. Zervas et al. (1999) e
Macedo et al. (2000) verificaram um maior peso para os ovinos terminados em confinamento.
Os ovinos do nordeste brasileiros são criados basicamente em sistema extensivo, e
mesmo sendo a região com o maior número do rebanho efetivo de ovinos, ainda se encontra em
um patamar muito aquém de atingir os índices zootécnicos satisfatórios para se tornar
competitiva, diante dos preços praticados pelo mercado internacional. Este fato pode ser
atribuído, dentre outras variáveis, pelo nível de profissionalização dos produtores e a falta de
uma aproximação entre os elos da cadeia produtiva, que não se encontram devidamente
organizadas. Para Santos (1999) uma alternativa viável seria o abate de animais de maior
precocidade, pois apresentam uma rápida deposição de proteínas e baixa deposição de gordura.
Não obstante, na última década, muitos criadores têm buscado implantar tecnologias,
como o uso de pastagens cultivadas, feno e/ou silagem, a fim de garantir uma oferta regular de
alimento e, desta forma, oferecer um produto de melhor qualidade Xenofonte (2006), além da
perspectiva da produção do cordeiro orgânico, no qual tem inserido um valor agregado ao
produto.
2.2
Importância do Alimento Alternativo na Alimentação Animal
A alimentação é a que mais onera o custo de produção animal (60 a 70%), independente
do sistema de criação Martins et al. (2000). Diante deste cenário, é cada vez maior o número de
pesquisas em busca de alimentos alternativos, haja vista a enorme quantidade produzida de
resíduos e subprodutos da agricultura e agroindústria no Brasil, com potencial de uso ou já
utilizados como componentes da dieta animal.
Segundo Zagatto (1992) citado por Carneiro (2001), a utilização de subprodutos na
alimentação animal reveste-se de grande importância, pois 1/3 do total de cereais produzidos no
mundo são destinados aos animais domésticos, em detrimento da grande parcela da população
mundial ser carente de alimentação. Sendo assim, o uso de fontes alternativas para alimentação
animal liberaria parte significativa da produção de grãos nobres para a alimentação humana, e
com menor custo para a produção animal.
Comparando os ruminantes às demais espécies de animais domésticos, é observada uma
grande habilidade em converter materiais fibrosos, como os resíduos da agroindústria, através
da simbiose microbiana, em proteínas de excelente qualidade para suprir seus requerimentos
nutricionais de mantença e produção (ANDRADE et al., 2001).
17
2.2.1
Casca de maracujá na alimentação de ruminantes
Dados da FAO (2008) apontam que do total de frutas processadas para produção de
sucos e polpas cerca 40% são resíduos agroindustriais. Nos últimos anos, a capacidade de
processamento das agroindústrias tem aumentado e com isso a quantidade de resíduos gerada é
cada vez maior. Para a indústria, o acúmulo de resíduo aumenta os custos operacionais, uma vez
que este material requer destino apropriado.
Estes subprodutos são inadequados à alimentação humana, mas apresentam potencial de
uso para a alimentação animal, e vem sendo bastante pesquisados, principalmente para os
ruminantes, cujo aparelho digestivo é capaz de converter produtos fibrosos e subprodutos em
produtos nobres, como o leite e a carne, diminuindo o custo de produção e os impactos
ambientais.
Alguns subprodutos apresentam restrições quanto ao seu uso na alimentação animal,
indicando mais estudos para melhorar o valor nutricional. No entanto, o resíduo do
processamento do maracujá, além de outros, como acerola e goiaba vem sendo utilizado sem
comprometer o desempenho animal. Lousada Junior et al. (2002) observaram um consumo de
MS de 4,4% de peso (PV) em ovinos recebendo dietas com resíduo de goiaba enquanto as dietas
contendo resíduo do maracujá tiveram um consumo de MS de 3,5% do PV, contudo os valores
para acerola foram abaixo, obtendo um consumo de MS de 1,4% do PV.
A composição química-bromatológica do subproduto do maracujá ocorre alterações de
acordo com as variedades nos seguintes parâmetros: (11,21 a 17,57% para MS); (7,53 a 8,20%
para PB); (37,47 a 44,16% para FDN); (31,11 a 37,73% para FDA); (0,28 a 0,35% para Ca);
(0,08 a 0,13% para P). Dependendo desses níveis o resíduo de maracujá pode ser utilizado como
uma boa fonte de nutrientes para ruminantes (VIEIRA et al., 1999).
No entanto, Reis et al. (1994), trabalhando com resíduo do maracujá, encontraram
valores de 19,00% de MS, 10,50% para PB, 59,50% e 52,37% para fibra em detergente neutro
(FDN) e fibra detergente ácido (FDA), respectivamente, com base na matéria seca.
2.3
Carne Ovina
A produção de carne ovina é uma atividade econômica de grande importância para o
país, entretanto, em determinadas regiões do Brasil, como o nordeste, ela ainda é mal explorada.
Os ovinos apresentam características produtivas diferentes em relação aos bovinos, que devem
ser valorizadas para maximizar a produção de carne, bem como a qualidade da carcaça e a
composição dos cortes.
A comercialização da carne ovina é disponibilizada para os consumidores sob diferentes
formas, que vão desde carcaças inteiras, ½ carcaça e cortes cárneos (OSÓRIO et al., 2002). No
18
entanto estes cortes não têm a mesma padronização, pois é influenciado pelos hábitos regionais,
o que é um fator de relevância a ser considerado.
Conforme os costumes culturais existem algumas sugestões de cortes para o melhor
aproveitamento da carcaça pelos consumidores, entre eles, podemos destacar os cortes proposto
por Santos & Pérez (2001), em que são divididos nas seguintes regiões anatômicas: pescoço,
costeleta, costela/fralda, perna, paleta, lombo, braço anterior e posterior enquanto ColomerRocher et al. (1972) citado por Pilar et al. (2006) sugeriram os seguintes cortes: perna, lombo,
paleta, costela descoberta e baixos.
Segundo Pillar et al. (2005), os cortes cárneos que compõem a carcaça possuem
diferentes valores econômicos e a sua proporção constitui um importante índice para a avaliação
da qualidade comercial da carcaça dos ovinos. Todavia, não apenas a carcaça deve ser avaliada,
mas também os componentes corporais que representam importante fonte de proteína de origem
para a população humana (SOUSA et al., 2008).
De acordo Carvalho (1998), a carcaça é o elemento mais importante do animal, pois é
nela que está contida a porção comestível, portanto suas características devem ser comparadas
para que se torne possível detectar diferenças entre animais, apontando os que produzem
melhores carcaças. Saniz (1996) ressaltou que as características da carcaça são influenciadas
pela velocidade de crescimento, idade ao abate e regime nutricional.
Os cortes da carcaça não crescem na mesma proporção, cada um tem ritmos de
crescimento distintos, conforme a fase de vida do animal. Dessa forma, é necessário saber o
momento ideal de abate, para obter melhores proporções de cada corte, sem deixar de lado a
composição tecidual, o que resulta em um maior valor agregado do produto final (BARROS et
al., 2003).
Segundo Dantas et al. (2008), avaliando a qualidade da carcaça de cordeiros Santa Inês
terminados em pastejo e submetido a diferentes níveis de suplementação, constataram influência
no peso e no rendimento dos cortes da perna, lombo, paleta, pescoço e costilhar. Estes
resultados corroboram com os de Gonzaga Neto et al. (2006), ao avaliarem os efeitos de
diferentes níveis de concentrado em cordeiros da raça Morada Nova, confinados, observaram
crescimento linear para o peso de todos os cortes, em função do aumento do concentrado na
dieta.
As diferenças obtidas para os cortes, entre o nível de suplementação, refletem o maior
crescimento do músculo nos animais suplementados, a gordura apresenta um crescimento
tecidual lento e o tecido ósseo um crescimento precoce (DANTAS et al. 2008). Assim de acordo
Santos et al. (2001b), os músculos e depois o tecido adiposo é que influenciam diretamente na
composição da carcaça.
19
2.4
Crescimento Alométrico
Na pecuária moderna, busca-se aumentar a deposição de proteína no tecido muscular,
mantendo o conteúdo de gordura dentro do mínimo necessário, visando obter um produto de
qualidade e, ao mesmo tempo, melhorar a eficiência econômica para o produtor. Para tanto, é
necessário que se conheçam os processos de crescimento e desenvolvimento dos animais,
inclusive das partes não componentes da carcaça (GERASEEV et al., 2007).
Para que haja crescimento é necessário acúmulo de tecidos e para isso devem as taxas
de sínteses superar as respectivas taxas de degradação. Isso ocorre quando o consumo de
energia é maior que o custo da mantença. A proporção dos tecidos muscular, adiposo e ósseo,
na carcaça, no momento de sacrifício, é o aspecto da composição do animal que mais
importância tem para o consumidor e, portanto, determina, em grande parte, o valor econômico
da carcaça (Di MARCO et al., 2007).
Segundo Hammond (1966) citado por Osório (2008), há uma onda de crescimento
primária que inicia na parte facial e estende-se ao longo do tronco, enquanto as ondas
secundárias de crescimento iniciam-se pelas extremidades e ascendem pelo corpo, encontrandose ambas na região do lombo com a última vértebra. A velocidade de crescimento de cada
região e a maturidade fisiológica de cada tecido do organismo avança até alcançar o máximo e
começa a decrescer à medida que o animal vai adquirindo tamanho adulto, apresentando um
crescimento precoce para o tecido ósseo, intermediário para o músculo, e crescimento tardio
para o tecido adiposo.
A composição da carcaça é alterada à medida que o animal cresce e desenvolve-se
(SIQUEIRA et al., 2001). Mendonça et al. (2003) ressaltam que a proporção de cortes diferem
em função dos estágios de maturidade de cada raça. De acordo com Santos et al. (2001b), o
ritmo de crescimento dos diferentes tecidos pode variar e, ainda, de uma região da carcaça para
outra.
O crescimento das partes do corpo é estudado pela alometria, podendo assim explicar
partes das diferenças quantitativas produzidas nas distintas fases de vida do animal, (SANTOS
et al., 2001b). Segundo Veloso (2002), tem sido amplamente utilizado a área transversal do
músculo Longissimus dorsi para estimar o rendimento dos cortes e a proporção de músculo e
gordura da carcaça.
O aumento do peso vivo de abate (PVA), quando aumenta a idade dos animais é
fenômeno esperado, pois conforme cita Pérez et. al. (2000), a curva de crescimento que
representa graficamente o peso vivo em função da idade é sigmóide. Assim, percebe-se que o
peso vivo, até uma determinada idade, sofre acréscimo, para depois estabilizar.
Neto et al. (2006) avaliaram as características quantitativas e qualitativas de ovinos
Dorper x Sem Raça Definida (SRD) e Santa Inês x SRD, abatidos aos 12 e 14 meses de idade, e
20
não encontraram diferença para o cruzamento Santa Inês x SRD sobre as proporções dos cortes
comerciais da carcaça, indicando uma estabilização do peso dos animais já aos 12 meses de
idade.
Souza Júnior et al. (2009) estudaram o crescimento alométrico dos cortes da carcaça de
ovinos de cruzas Dorper com as raças Rabo Largo e Santa Inês, e verificaram um crescimento
isogônico, ou seja, proporcional ao crescimento da carcaça fria, com exceção da paleta em que
foi um crescimento precoce para o grupo genético Dorper x Rabo Largo. Para os cordeiros do
cruzamento Dorper x Santa Inês, apenas o corte costela/fralda apresentou um crescimento
heterogônico positivo, ou seja, crescimento tardio, em relação ao PCF (peso da carcaça fria), os
demais cortes tiveram um crescimento isogônico.
2.4.1
Componentes do peso vivo
Estudos que envolvem a produção de carne ovina consideram, na sua maioria, somente
a carcaça e os cortes como unidade de comercialização, desprezando outras partes comestíveis,
conhecidas como não-componentes da carcaça. Para Moreno (2008), deve-se considerar que o
aumento da competitividade dos mercados exige o aproveitamento racional e econômico dos
subprodutos gerados no processo produtivo, sendo os não-componentes da carcaça uma
importante alternativa para aumentar a rentabilidade dos sistemas, que podem representar até
40% do peso vivo do animal (GASTALDI et al. 2001).
Segundo Osório (1992), os não-componentes da carcaça são definidos como os
constituintes do peso do corpo vazio (PCVZ), com exceção da carcaça, ou seja, o conjunto de
órgãos, vísceras e outros subprodutos obtidos após o abate dos animais (trato gastrintestinal e
seu conteúdo, pele, cabeça, patas, cauda, pulmões, traquéia, fígado, coração, rins, gorduras
omental, mesentérica, renal e pélvica, baço e aparelho reprodutivo).
Os órgãos e vísceras representam baixo valor comercial quando avaliados
individualmente, no entanto se usados como matéria-prima na elaboração de pratos típicos ou
embutidos, permitem agregar valor à unidade de produção ou de abate, podendo alcançar
valores equivalentes ao da carne ovina, por isso, é importante conhecer os rendimentos destes
constituintes e suas possibilidade de utilização (COSTA et al., 2007).
Oliveira et al. (2002) avaliaram o efeito da inclusão de dejetos de suínos na dieta de
cordeiros confinados sobre o tamanho de seus órgãos internos e verificaram que os cordeiros
que receberam a dieta sem os dejetos tiveram maior proporção de intestino delgado, expresso
em porcentagem do peso do aparelho digestivo. Clementino et al. (2007) também verificaram
aumentos lineares de peso do fígado, baço e rins de cordeiros Santa Inês, em resposta à elevação
dos níveis de concentrado na dieta.
Para Yamamoto et al. (2004), além do retorno econômico, a importância dos órgãos
internos está associada à fonte alimentar alternativa, principalmente, para população de baixo
21
poder aquisitivo. As vísceras utilizadas para o consumo humano constituem uma significativa
fonte de proteína animal, sendo o valor nutritivo desses órgãos compatível ao da carcaça.
2.4.2
Composição regional
A composição da carcaça consiste na separação da carcaça, dando origem a peças de
menor tamanho. A padronização dos cortes comercializados é definida pelo mercado
consumidor, que determina pesos mínimos e máximos. O tipo de corte a ser comercializado
varia de acordo a região geográfica e está associado aos hábitos alimentares da população
(COSTA et al., 2002; OLIVEIRA et al. 2002; OSORIO et al., 2002).
A composição regional é realizada para determinar a proporção de cada parte dentro de
uma carcaça, pois um dos critérios de qualidade é a porcentagem dos cortes de qualidade
superior que a carcaça contém (ROTA et al., 2002). Segundo Yamamoto et al. (2004), os cortes
comerciais podem ser divididos em diferentes regiões anatômicas que são caracterizados por
cortes de primeira, que compreendem a perna e o lombo; cortes de segunda, a paleta; e cortes de
terceira, a costeleta, enquanto, para Tonetto et al. (2004), o rendimento dos diferentes cortes da
carcaça são parâmetros importantes para identificação de sistemas de alimentação que permitam
produzir cordeiros jovens para o abate.
Os componentes regionais e teciduais não se desenvolvem com a mesma velocidade,
sendo que a paleta, a perna e o osso apresentam desenvolvimento precoce, o músculo
crescimento isogônico, o costilhar e a gordura desenvolvimento tardios e o pescoço desenvolvese de forma precoce para fêmeas e tardio para os machos (HUIDOBRO, 1992; ROSA et al.,
2000; OSÓRIO et al., 2002; ROSA et al., 2005; FURUSHO-GARCIA et al., 2006).
Para predizer a composição regional, o peso de carcaça é o melhor estimador da
composição regional do que o peso vivo (PV) (OSÓRIO, 1996). O uso da meia carcaça é feito
para facilitar a medição e não afeta os resultados, pois não existem diferenças significativas
entre ambas as partes (HUIDOBRO, 1992; MARTINS, 2001).
A proporção dos cortes comerciais e a composição dos tecidos são determinantes na
valorização e na comercialização da carcaça, sendo influenciado por fatores inerentes ao animal
e ao meio ambiente, variando em função do peso, raça, sexo, sistema de criação, alimentação e
base genética (ROQUE et al., 1999; OLIVEIRA et al., 2000; ROSA et al., 2002; ROTA et al.,
2006).
2.4.3
Composição tecidual
A avaliação dos tecidos da carcaça baseia-se na dissecação dos três principais tipos de
tecidos: muscular, adiposo e ósseo. O seu conhecimento permite estabelecer um balanço preciso
da aptidão do animal, valorizar os tipos genéticos e controlar os sistemas de produção (DELFA
22
et al., 1991). Segundo Huidobro & Cañeque (1993), o valor intrínseco dos animais está
fundamentalmente determinado pela composição tecidual, bem como, o rendimento das partes
da carcaça.
A partir da dissecação de cortes obtidos da carcaça, é possível predizer a composição
tecidual, ou seja, a proporção de músculo, osso e gordura presentes na carcaça. A paleta e a
perna representam mais de 50% da carcaça, sendo esses cortes os que melhor predizem o
conteúdo total dos tecidos da carcaça (OLIVEIRA et al., 2002).
Conforme Pinheiro et al. (2007), a composição tecidual é obtida através da dissecação
da carcaça, que consiste na separação de músculos, tecido adiposo (subcutânea e intermuscular),
e o tecido ósseo. Por ser um processo oneroso, é justificado somente em casos especiais, em que
é mais usual a desossa, somente dos principais cortes, como a perna, paleta e lombo, por estes
apresentarem alta correlação com a composição da carcaça.
A velocidade de desenvolvimento dos tecidos depende da raça, e para cada raça existe
um peso ótimo econômico de abate, para qual a proporção de músculo é máxima, a de osso é
mínima e a de gordura suficiente para conferir à carcaça propriedades de conservação e à carne
suas propriedades organolépticas que satisfaçam ao consumidor (OSÓRIO et al.,1999).
Segundo Sainz (1996), com o aumento da maturidade dos animais ocorrem alterações
fisiológicas com relação à deposição de tecidos na carcaça, onde a sequência de crescimento
inicia-se pelo tecido nervoso, seguido do tecido ósseo, muscular e adiposo. Corroborando com
essa afirmação Cezar & Souza (2007) relatam que, de acordo a maturidade fisiológica, o tecido
ósseo é o mais precoce, o muscular intermediário e o adiposo tardio. Portanto é relevante
considerar o desenvolvimento dos tecidos em conjunto e as características de deposição de
gordura nos diferentes cortes da carcaça e a relação entre o peso destes tecidos (AGUIRRE &
TRON, 1996; MARTINS et al., 2001).
Martins et al. (2008), trabalhando com o efeito do genótipo x sistema nutricional sobre
a composição regional e tecidual em cordeiros da raça Corriedale e Ideal, não encontraram
efeito do genótipo sobre o peso e a percentagem na composição tecidual, dos cortes comerciais,
exceto a maior percentagem de ossos na paleta dos cordeiros da raça Corriedale.
Santos et al. (2001a), avaliando o desenvolvimento do tecido ósseo, muscular e
adiposo em cordeiros Santa Inês, encontraram um crescimento heterogônico positivo (b>1) para
o músculo da perna e costeleta, ou seja, o desenvolvimento do tecido muscular dos respectivos
cortes apresentou um crescimento tardio em relação ao seu desenvolvimento. Quanto aos
demais cortes foi verificado que o tecido muscular acompanhou o desenvolvimento relativo do
corte, enquanto o tecido adiposo apresentou um desenvolvimento tardio em todos os cortes.
A maioria dos estudos realizados com carcaças ovinas no Brasil tem mostrado que o
peso de abate ideal situa-se na faixa de 30-35 kg, o qual apresenta uma carcaça com adequada
cobertura muscular e de gordura. Neste contexto, a alimentação influencia, significativamente,
23
sobre o crescimento de cordeiros e, consequentemente, sobre a qualidade da carcaça e da carne
(OSÓRIO et al., 2002). Tais fatores devem ser considerados, buscando uma adequação do
sistema produtivo à demanda do mercado consumidor, garantindo um produto de melhor
qualidade e, consequentemente, uma maior lucratividade ao produtor de carne ovina.
Sendo assim, a alometria é imprescindível para avaliar o crescimento animal, e de que
forma a dieta, pela utilização de diferentes proporções do subproduto do maracujá, pode
influenciar no desenvolvimento de ovinos, qualidade da carcaça e seus respectivos cortes,
tecidos e componentes do peso vivo.
24
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30
CAPÍTULO I
Alometria dos órgãos internos de cordeiros Santa Inês alimentados com silagens de capim
elefante com proporções de casca de maracujá desidratada.
RESUMO
Avaliou-se o crescimento alométrico dos componentes do peso vivo de cordeiros Santa Inês,
machos, não castrados. Foram utilizados 16 cordeiros alimentados com capim elefante, com
diferentes proporções, 0, 10, 20 e 30%, de casca de maracujá desidratada. Considerando um
delineamento inteiramente casualizado, os animais foram previamente vermifugados,
identificados e alojados em baias individuais, passando por um período de 60 dias para
avaliação de desempenho. Ao final desse período, foram abatidos, após 16 horas de jejum
sólido. A conversão alimentar apresentou diferença significativa (P<0,002) para o tratamento
com 30% de inclusão de casca de maracujá desidratada, tendo menor consumo e maior ganho.
A casca de maracujá desidratada não influenciou no peso médio absoluto dos componentes do
peso vivo, com exceção do baço que teve o peso aumentado, de forma linear e crescente,
quando adicionou casca de maracujá na silagem. O fígado apresentou desenvolvimento tardio,
enquanto que o baço, intestino grosso e delgado, crescimento precoce, e os demais órgãos,
crescimento isogônico, proporcional ao desenvolvimento do peso do corpo vazio dos cordeiros.
O aumento na proporção de casca de maracujá desidratadas, na dieta de cordeiros Santa Inês,
não afetou o desenvolvimento animal nem o crescimento relativos dos componentes do peso
vivo, podendo ser incluída até 30% na fração volumosa.
Palavras – chave: cordeiros, componentes peso vivo, casca de maracujá.
31
CHAPTER I
Allometry of the internal organs of Santa Ines lambs fed grass silage elephant with passion
fruit peel dried
ABSTRACT
In this experiment evaluated the allometric growth of live weight components: omasum,
abomasum, rumen / reticulum, liver, spleen, pancreas, small and large intestines of Santa Ines
lambs intact male. The animals were fed elephant grass, added with different levels, 0, 10, 20
and 30% of passion fruit peel dried (CMD), where different proportions correspond to a
different treatment with four replications, totaling 16 animals in which each represented an
experimental unit. The experiment consisted of a randomly - DIC. The animals were dewormed,
identified and housed in individual stalls, going through a period of 60 days for performance
evaluation. At the end of this period were slaughtered after 16 hours of fasting, taking only
access to liquid diet. In the performance variables, only the feed showed a significant difference
(P <0.002) on treatment with 30% inclusion of dried passion fruit peel. The average values of
the components of body weight also showed no statistical difference in treatment means, except
that the spleen had the highest weights in a linear and increasing, when it increased the inclusion
of passion fruit peel in the diet. The growth rate estimated by Allometric study showed late
development of the liver, spleen, large and small intestines of early growth, and the other
organs, isogonics proportional to animal development. he inclusions of passion fruit peel in the
diet of dehydrated lamb did not affect animal development nor the growth of internal organs and
may be included in proportions of at least 30% in stover.
Key - words: lambs, live weight components, passion fruit peel.
32
1 INTRODUÇÃO
Os componentes do peso vivo são de grande relevância para avaliar a qualidade da
carcaça e seus cortes, podendo estabelecer um peso ideal de abate para os diferentes grupos
genéticos de ovinos na produção de carne. A maioria das pesquisas está voltada para avaliar a
qualidade da carcaça, pelo rendimento dos cortes e quantidade de tecido muscular e adiposo
depositados nestas, além do ritmo que é desenvolvido no processo de crescimento.
De acordo Sousa et al. (2008), Carvalho et al. (2007) e Pereira et al. (2002), para que
seja determinada a qualidade total, mesmo a carcaça tendo o maior valor comercial, é
importante avaliar os componentes do peso vivo, haja vista as perdas econômicas do setor, mas
também como alimento, como importante fonte de proteína para população humana, ou
matérias-primas na indústria de vestimenta, que poderiam aumentar o valor econômico do
animal como um todo.
Conforme relatam Costa et al. (2007) citado por Moreno (2008), individualmente, os
órgãos e vísceras representam baixo valor comercial, no entanto, se usados como matéria-prima
na elaboração de pratos típicos ou embutidos, permitem agregar valor à unidade de produção ou
de abate, podendo alcançar valores equivalentes ao da carne ovina, por isso, é importante
conhecer os rendimentos destes constituintes e suas possibilidade de utilização.
Segundo Sainz (1996), o principal fator a conferir valor à carcaça é o rendimento, que
depende primeiramente do conteúdo do aparelho digestório. Outros pontos de importância são
as mensurações no animal vivo e/ou na carcaça, que permitem predizer características que
proporcionem melhores porcentagens de músculo na carcaça, rendimento, conformação e
proporção de cortes desejáveis para a indústria da carne e mercado consumidor (MURTA et al,
2009).
Uma das principais fontes de variação na quantidade e qualidade das carcaças, assim
como nos componentes não constituintes da carcaça, é o genótipo, ao lado de outros fatores tais
como estado sanitário, idade e sexo (OSÓRIO et al., 1991; SIERRA et al., 1993; OSÓRIO et al.,
1995; OSÓRIO et al., 1996; OSÓRIO et al., 2000 citado por MENDONÇA et al., 2003).
O peso relativo dos constituintes do peso vivo pode chegar até 60% da massa corporal
do animal vivo (SILVA SOBRINHO, 2001), além da raça, outros fatores também podem afetar
componentes, como peso vivo, idade, sexo e condições nutricionais (ROTA et al., 2002).
Em relação ao estado nutricional, Jenkins & Leymaster (1993) relataram que os
diferentes programas de alimentação utilizados durante o período de crescimento dos animais,
podem influenciar o desenvolvimento dos seus órgãos, resultando em alteração nos
requerimentos energéticos para manutenção e influenciando a taxa de conversão alimentar.
O desempenho animal também pode ser afetado pelo crescimento diferenciado dos
órgãos (CARVALHO et al. 2005), sendo assim, torna-se viável a condução de estudos que
33
realizem uma avaliação dos componentes corporais dos animais, abordando, principalmente, a
nutrição com o uso de alimentos alternativos, uma vez que a relação volumo:concentrado da
dieta e a qualidade da mesma pode afetar, significativamente, o desenvolvimento de alguns
órgãos.
Dessa forma, com o aumento da procura pela carne ovina e de melhor qualidade, no
que tange aos aspectos teor de gordura e deposição de músculos nos cortes, os componentes do
peso vivo podem aumentar o valor agregado do produto, podendo até mesmo fazer parte da
carcaça comercial, principalmente àqueles de maior valor econômico, como fígado, coração
entre outros.
Objetivou-se avaliar a alometria dos componentes do peso vivo de cordeiros Santa Inês
alimentados com silagens de capim elefante com proporções de casca de maracujá desidratada.
34
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos – UECO,
do Departamento de Tecnologia Rural e Animal – DTRA, da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - UESB, Campus Juvino Oliveira, no município de Itapetinga-BA.
O resíduo do maracujá foi cedido pela Necttare Indústria e Comércio de Produtos
Alimentícios Ltda., situada no município de Feira de Santana-BA, sendo desidratado ao sol até
que atingisse valores entre 12 e 16% de umidade. O capim elefante foi proveniente da capineira
estabelecida no Campus da UESB. A gramínea foi cortada manualmente aos 80 dias de
crescimento e, posteriormente, processada em picadeira de forragem convencional com
tamanhos de partícula de 1 a 2 cm.
Foram utilizados 16 cordeiros machos, não castrados, da raça Santa Inês, com o peso
vivo médio inicial de 23 ± 1,4 kg e idade média de 150 ± 3,0 dias, previamente identificados e
vermifugados. Após os procedimentos sanitários, os cordeiros foram alojados e confinados em
baias individuais com dimensões de 1,5 m x 1,0 m, equipadas com cocho e bebedouro em
estábulo coberto do centro de Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos – ENOC da UESB,
por um período experimental de 60 dias, precedido de 14 dias para adaptação à dieta e manejo.
Os cordeiros foram distribuídos aos tratamentos, silagem de capim elefante com
proporções de 0, 10, 20 e 30% de casca de maracujá desidratada, de forma aleatória, sendo que
cada animal representou uma unidade experimental, considerando um delineamento
inteiramente casualizado. As dietas experimentais (Tabela 1) foram formuladas de acordo com
as exigências nutricionais do NRC (2006) para um ganho médio de 200 g dia-1, com
concentrado à base de milho moído em grão e farelo de soja, sendo o volumoso a silagem de
capim-elefante com casca de maracujá desidratada.
A silagem de capim-elefante com casca de maracujá desidratada foi acondicionada em
tonéis de metal com capacidade de 200 litros, pesada e homogeneizada de acordo os tratamentos
e, posteriormente, compactada. Após 30 dias do material ensilado, os silos foram abertos para a
análise bromatológica, conforme expressos na (TABELA 2).
O fornecimento da silagem e do concentrado foi ad libittun, duas vezes ao dia, às 7:00 e
16:00 h, respeitando a relação volumoso:concentrado de 60:40 e o consumo de matéria-seca de
3,5% do peso vivo, com ajuste de 10% para sobras.
35
Tabela 1. Composição percentual (%MS) e química (g/kg) da dieta total1.
Tratamentos
Ingredientes (%)
CDM
Capim elefante
Milho moído
Farelo de soja
Mistura mineral2
0%
10%
20%
30%
0,0
60,0
25,8
11,2
3,0
10,0
50,0
25,9
11,1
3,0
20,0
40,0
26,6
10,4
3,0
30,0
30,0
27,0
10,0
3,0
48,13
13,9
8,8
39,3
2,6
60,59
50,2
74,45
13,85
41,8
31,3
51,92
15,7
9,4
42,5
2,6
53,85
39,7
73,84
19,98
37,7
36,3
54,65
16,9
9,2
45,4
2,6
55,35
36,9
72,17
16,82
36,16
49,3
Composição química (g/kg)
Matéria seca
Proteína Bruta
Matéria mineral
Matéria orgânica
Extrato etéreo
Fibra detergente neutro
FDN corrigida para proteína
Carboidratos totais
Carboidratos não-fibrosos
Fibra em detergente ácido
Nutrientes digestíveis totais
56,82
14,3
8,7
48,1
2,6
52,44
33,9
74,95
22,50
34,12
39,6
1 % da matéria seca.
2 Níveis de garantia (nutrientes/kg): cálcio - 130 g; fósforo - 70 g; maagnésio - 1.320 mg; ferro - 2.200 mg; cobalto 140 mg; manganês - 3.690 mg; zinco - 4.700 mg; iodo - 61 mg; selênio - 45 mg; enxofre - 12g; sódio - 170 g; cloro 276 g; flúor máximo - 700 mg; solubilidade mínima de P2O5 em ácido cítrico a 2% = 90%.
Tabela 2. Composição química do material utilizado da ensilagem.
Item (%)
Capim Elefante
CDM
24,0
4,3
2,2
9,7
78,6
45,5
85,0
13,4
2,5
9,9
59,0
49,2
MS
PB
EE
MM
FDN
FDA
Os cordeiros foram abatidos ao final do período experimental com um peso médio final
de 32,4 kg. O procedimento de abate decorreu após 16 horas de jejum sólido com
insensibilização e cortes na artéria carótida e veias jugulares. Após sangria e retirada da pele
procedeu-se a evisceração e pesagem individual dos componentes do peso vivo. Os estômagos,
intestinos, vesícula e bexiga foram pesados cheios e vazios para obtenção do peso do corpo
vazio (PCVZ).
O estudo do crescimento alométrico dos componentes do peso vivo foi realizado
mediante
o
modelo
de
equação
exponencial
36
não
linear:
Y
=
a
X b,
transformada logariticamente em um modelo linear, conforme proposto por Huxley (1932):
LnY = Lna + b LnX + Lnεi., onde:
Y: peso dos órgãos;
X: peso do corpo vazio (PCVZ);
α: interceptação do logaritmo de regressão linear sobre Y e β;
β: coeficiente de crescimento relativo ou coeficiente de alometria;
εi: erro multiplicativo.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, quando significativos,
adotando-se os procedimentos PROC GLM e PROC REG do Software Statistical System (SAS
INSTITUTE, 2001). Para a verificação das hipóteses de nulidade (b=1) e alternativa (b≠1)
realizou-se o teste “t” (Student) a α = 0,05 e α = 0,0l de probabilidade. Se o coeficiente de
alometria “b” for igual a um (1) (b=1), o crescimento será denominado isogônico, indicando que
o desenvolvimento “X” e “Y” foram semelhantes no intervalo considerado. Quando o b for
diferente de 1 (b ≠ 1), o desenvolvimento será denominado de heterogônico, sendo positivo para
(b>1), órgão de desenvolvimento tardio, ou negativo (b<1) caracterizando um desenvolvimento
precoce do componente do peso vivo em relação ao desenvolvimento do corpo vazio do
animal.
37
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O peso vivo final, peso da meia carcaça, ganho de peso em kg, ganho médio diário,
consumo de matéria seca e conversão alimentar apresentaram aumento proporcional aos níveis
de adição de casca de maracujá desidratada, com exceção do peso vivo inicial (Tabela 3),
demonstrando assim o efeito positivo da adição da casca de maracujá à silagem de capim
elefante.
A casca de maracujá desidrata poderá melhorar a produção de carne, visto que para cada
nível de adição da casca desidratada de maracujá, houve um aumento de 0,17 kg no peso vivo
final, influenciando diretamente no peso da meia carcaça que aumentou em 0,05 kg.
Os valores de ganho de peso médios diários encontrados estão abaixo dos determinados
por outros autores. Azzarini & Ponzoni (1979) relataram que o ganho de peso médio diário,
próximo a 270 g, é adequado para ovinos destinados à produção de carne, porém como a dieta
com casca de maracujá foi preparada prevendo um ganho de peso de 200g/dia, considera-se que
o valor médio de 187,9 indica que a adição de casca de maracujá foi benéfica ao desempenho
dos cordeiros. Ribeiro et al. (2009), trabalhando com cordeiros Texel cruzados com Hampshire
Down, Ile de France e Suffolk em confinamento, encontraram valores para o ganho médio
diário de 179 g no cruzamento de Texel x Ile de France e 198g para Texel x Hampshire Down,
próximos ao deste trabalho (187,9g) no nível de 30% de adição de casca de maracujá
desidratada.
Tabela 3. Peso vivo inicial – PVI, peso vivo final – PVF, peso da meia carcaça (PMCAR),
ganho de peso total – GP, ganho médio diário – GMD, consumo de matéria seca
(g/animal/dia; g/UTM PV0,75) e conversão alimentar – CA, de silagens de capim
elefante com níveis crescentes de adição de casca de maracujá desidratada.
Variáveis
PVI (kg)
PVF (kg)
PMCAR (kg)
GP ( kg)
GMD ( g/dia)
CMS (g/dia)
CMS (PV0,75)
CA
Níveis de adição de CDM (%)
0
10
20
30
24,7
24,5
25,8
25,5
30,7
30,7
32,8
35,7
5,95
6,37
6,77
7,72
6,0
6,2
7,0
10,1
112,0
115,2
129,6
187,9
998,8
1070,0 1110,3 1350,2
81,8
88,5
87,8
103,1
8,9
9,2
8,6
7,2
Equação de
Regressão
y´ = 25,1
y´= 29,91 +0,17 x
y´= 5,84 + 0,05 x
y´= 5,36 + 0,131x
y´= 99,86 + 2,42 x
y´= 968,15 + 10,94 x
y´= 80,32 + 0,632 x
y´= 9,37 – 0,05 x
R2
Ns
86,9
94,9
79,25
78,29
85,16
81,32
69,30
Furusho et al. (1997), avaliando cordeiros Santa Inês em confinamento, recebendo
pedúnculo de caju, encontraram ganho de peso médio diário de 240 g/animal/dia, considerando
que as exigências eram para atingir 300 g/dia, ou seja, apesar do valor ser acima da média
verificada neste trabalho, o ganho está proporcional, quando comparados os trabalhos. Borges et
al. (2004) pesquisaram ovelhas sendo alimentadas com diferentes níveis de polpa seca de caju, e
obtiveram ganho de peso médio diário que variou de 120,24 a 152,68 g/dia, ou seja, valores
38
próximos ao encontrado neste trabalho para os cordeiros alimentados com silagens aditivada
com 20 e 30% de casca de maracujá desidratada. Todavia, Andrade et al. (2001) ao trabalharem
com cordeiros sem raça definida, recebendo resíduos agro-industriais de acerola, melão e
abacaxi no nível de 30% da ração total, em substituição ao capim-elefante, obtiveram resultados
de ganho de peso médio diário variando de 91,7 a 127,6 g/animal/dia, abaixo dos citados
anteriormente.
Ao proceder comparações com outras pesquisas, torna-se importante ressaltar que o
balanceamento das dietas estará influenciando no ganho de peso médio diário, assim como a
genética e a origem dos animais. Os cordeiros utilizados neste experimento são oriundos de um
sistema de criação a pasto, não havendo trabalho de melhoramento genético ou nutricional,
portanto, podendo explicar assim, por que não foi encontrada a diferença significativa entre os
tratamentos; a genética poderia ser outro fator para que os animais não tenham respondido aos
tratamentos.
Para cada nível de adição da casca desidratada de maracujá, houve um aumento de 10,9
e 0,63% dos consumos de matéria seca (CMS), expressos em g/dia e no peso metabólico. Neiva
et al. (2005) observaram um incremento da ordem de 1,29% para o consumo de matéria seca em
peso metabólico, enquanto que para o consumo expresso em g/animal/dia a elevação foi da
ordem de 19,4% para cada 1% de inclusão de casca de maracujá desidratada.
A conversão alimentar variou de 8,9 a 7,2 e de forma linear, entre os cordeiros
alimentados com silagem contendo 0 e 30% de casca de maracujá desidratada, ou seja, para
cada 1% de adição de casca de maracujá houve uma diminuição de 0,05% a CA, demonstrando
eficiência alimentar e boa palatabilidade da silagem fornecida com casca de maracujá
desidratada. Borges et al. (2004) encontraram resultados de conversão alimentar similares (9,83
a 6,49) aos obtidos neste estudo. Porém, comparando com os valores já citados, Furusho et al.
(1997) encontraram a melhor conversão alimentar, sendo 4,3, em cordeiros Santa Inês,
recebendo dietas contendo pedúnculo de caju.
Os valores médios (kg) dos componentes do peso vivo são mostrados na Tabela 4, na
qual não houve diferença significativa para os componentes extra carcaça: omaso, abomaso,
retículo/rúmen, fígado, pâncreas e intestinos delgado e grosso, com as respectivas
probabilidades (P=0,463; P=0,364; P= 0,605; P= 0,245; P=0,507; P=0,584; P=0,575), todavia os
valores do peso médio absoluto do retículo/rúmen decresceram à medida que aumentava os
níveis de inclusão da (CMD), o que pode ser atribuído pelo maior valor de (FDN) da silagem
de capim elefante (SCE) na dieta controle (Tabela 2). De acordo Jardim et al. (2000), à medida
que aumenta os níveis de fibra na dieta, ocorre uma limitação física, aumentando o tempo de
retenção do alimento no rúmen, aumentando o conteúdo do TGI (trato gastrointestinal) além de
diminuir a eficiência produtiva animal.
39
Tabela 4. Valores médios, erro padrão da média (Epm), probabilidade de F da análise de
variância e coeficiente de variação (CV) dos componentes do peso vivo dos
cordeiros da raça Santa Inês alimentados com silagem de capim-elefante aditivada.
Componentes do peso
vivo (kg)
Omaso
Abomaso
Retículo/Rúmen
Fígado
Baço
Pâncreas
Intestino delgado
Intestino grosso
Casca de maracujá (%)
0
10
20
30
0,34
0,42
1,04
0,45
0,06
0,04
0,75
0,30
0,10
0,17
0,85
0,52
0,07
0,04
0,68
0,31
0,12
0,20
0,77
0,54
0,08
0,05
0,71
0,42
0,17
0,17
0,67
0,63
0,09
0,04
0,84
0,33
Média
Geral
0,18
0,24
0,83
0,53
0,07
0,04
0,74
0,34
Epm
0,11
0,18
0,18
0,005
0,006
0,32
0,06
0,01
Pr>F
0,463
0,364
0,605
0,245
0,014
0,507
0,584
0,575
CV
123,6
93,7
44,9
22,9
15,6
28,7
22,3
38,0
Baço (y’) = 0,047 +0,0101X.
Conforme relatam Carvalho et al. (2005), o aumento do teor protéico nas dietas
proporcionam redução do TGI, corroborando com os resultados desse estudo, pois os níveis
crescentes de (CMD) aumenta o valor protéico da dieta fornecida aos cordeiros, haja vista um
maior incremento de proteína na casca de maracujá desidratada (13,4% PB) enquanto a (SCE)
tem valores de PB em torno de (4,3%).
Silva & Portugal (2000) e Furusho-Garcia et al. (2004) relatam que, à medida que o
peso dos ovinos aumenta, os cortes e os componentes do peso vivo acompanham a fisiologia de
crescimento dos cordeiros.Com aumento de inclusão da (CMD), mesmo não havendo diferença
estatística entre os tratamentos (P=0,245), o fígado aumentou seu peso em valores absoluto,
com a inclusão do subproduto, o que pode está relacionado ao valor nutricional da dieta, devido
maior aporte protéico e energético, além do maior consumo e peso vivo final dos animais nos
níveis crescentes de inclusão da casca de maracujá desidratada, pois, segundo Black (1989), o
crescimento de órgãos como o fígado, TGI e rins acarreta em mudança de pesos, quando os
animais recebem dietas acima dos requerimentos nutricionais de mantença, contudo, quando
esses níveis estão abaixo do mínimo requerido, apresentam uma notável atrofia desses órgãos.
Pereira et al. (2007) encontraram valores similares ao desse estudo para o peso do
fígado de cordeiros recebendo polpa cítrica úmida, no entanto Sousa et al. (2008) encontraram
valores abaixo para o peso do fígado em ovinos deslanados alimentados com silagem de
girassol e silagem de milho.
O baço apresentou uma diferença significativa (P<0,014), apresentando um crescimento
linear, conforme se aumentava o nível de inclusão de casca de maracujá desidratada na dieta
para os ovinos. Wallace (1948) observou que o baço apresenta maior peso ao nascimento, em
relação ao peso vivo, e que logo segue crescimento constante, fenômeno que pode ter
acontecido neste trabalho, pela forma de crescimento do baço.
O peso do baço encontrado neste estudo foram maiores que os relatados por Zund et al.
(2006), trabalhando com cordeiros Santa Inês filhos de ovelhas suplementadas em diferentes
40
fases da gestação. Já o fígado obteve valores similares no nível de 30% de inclusão de casca de
maracujá desidratada. Ao avaliar o peso do baço (0,06g) na dieta controle (0%) e do fígado
(54g) na dieta com 20% de CDM encontrado neste trabalho, percebeu-se uma similaridade aos
valores reportados por Andrade et al. (2009), trabalhando com cordeiros machos nãos castrados
Hampshire Down, abatidos com média de 31 kg de PV (peso vivo) para os mesmos órgãos, 0,06
e 55g, respectivamente.
Em função do peso do corpo vazio (PCVZ), foram determinados os coeficientes de
alometria para avaliar o desenvolvimento dos componentes do peso vivo: omaso, abomaso,
retículo/rúmen, fígado, baço, pâncreas e intestino grosso e intestino delgado (Tabela 5). Para os
valores médios dos pesos dos órgãos, exceto o baço, não foi encontrada diferença estatística,
dessa forma, realizou-se o estudo de alometria relacionando a média geral de cada componente
extra carcaça por animal e não por tratamento.
Tabela 5. Coeficiente alométrico dos componentes do peso vivo de cordeiros Santa Inês
alimentados com silagem de capim elefante sob diferentes níveis de casca de
maracujá desidratada, em função do peso do corpo vazio.
Componentes do Peso Vivo
Omaso
Abomaso
Reticulo/Rúmen
Fígado
Baço
Pâncreas
Intestino Grosso
Intestino Delgado
Β
0,978
0,167
0,080
1,137
0,504
0,254
0,547
0,598
Std
0,91
0,76
1,06
0,20
0,30
0,47
0,66
0,28
Teste T
β = 1 ns
β>1*
β<1*
β<1*
β<1*
R2 (%)
7,50
Ns
Ns
68,8
16,21
Ns
4,6
23,0
β: coeficiente de alometria; Std: erro padrão do coeficiente de alometria; R2; coeficiente de regressão; Teste de T a
5% de significância (*) e 1% (**).
De acordo Fernandes et al. (1994), o peso dos componentes não-carcaça desenvolvemse similarmente com o aumento do peso vivo do animal, mas não nas mesmas proporções.
Entretanto, estas variações não são lineares, podendo ser influenciadas pelo genótipo, idade,
sexo e tipo de alimentação, conforme observado nesse estudo, no qual o omaso, abomaso,
rúmen/retículo e pâncreas apresentaram um ritmo de crescimento isogônico (β=1), ou seja, de
desenvolvimento proporcional ao crescimento animal. Estes resultados foram semelhantes aos
obtidos por Rota et al. (2002) e Oliveira et al. (2000), trabalhando com animais da raça Crioula
e cruza de Ideal x Border Leicester, respectivamente.
Segundo Buterfield (1988), coração, fígado, rins, baço, traquéia, pulmões e
pâncreas, são órgãos essenciais para a vida e, por isso, apresentam desenvolvimento
precoce. Contudo, o fígado apresentou um desenvolvimento heterogônico positivo, ou
seja, de crescimento tardio (β=1,137), corroborando com Huidobro (1992), que classifica o tipo
de crescimento do fígado tardio em relação ao desenvolvimento do animal.
41
O crescimento tardio deste órgão, observado neste estudo, pode estar relacionado com
ponto de vista nutricional, pois, conforme Kozloski (2002), este órgão tem uma elevada taxa
metabólica que o torna responsável por grande parte da exigência despendida pelos animais em
mantença. Em razão dos animais utilizados neste experimento serem oriundos de um sistema de
criação a pasto, não havendo melhoramento genético nem nutricional, quando submetidos às
dietas experimentais de maior valor nutricional, apresentaram um maior crescimento do fígado,
uma vez que Di Marco et al. (2007) relatam que, quando os nutrientes são limitantes, os tecidos
e componentes corporais têm um desenvolvimento atrasado, no entanto obtêm uma recuperação
máxima durante a realimentação.
O baço, intestino delgado e intestino grosso apresentaram um desenvolvimento relativo
heterogônico negativo, (β<1), ou seja, um crescimento precoce, em relação ao desenvolvimento
animal para todos os tratamentos (0,10, 20 e 30%) de inclusão de casca de maracujá
desidratada. A forma de desenvolvimento destes órgãos (baço, intestino grosso e delgado) já era
esperada por serem vitais para o crescimento pré-natal, pois segundo Pálsson (1959) citado por
Gerassev (2008), estão proporcionalmente mais desenvolvidos ao nascimento, diminuindo o
ritmo de crescimento na vida pós-natal. No entanto, Rota et al. (2002) trabalhando com
cordeiros da raça Crioula e Roque et al. (1998) com ovinos Ideal, Corriedale, Romney Marsh e
Texel, reportaram crescimento isogônico (β=1) para o baço, diferente ao encontrado neste
trabalho.
Santos-Cruz et al. (2009), avaliando o desenvolvimento de cordeiros Santa Inês e
Bergamácia, ressaltando que não houve interação entre as raças (P<0,05), encontraram um
coeficiente de alometria proporcional (β=1) para o intestino grosso e delgado, (β<1)
heterogônico negativo para o fígado e (β=1) para o baço, crescimento proporcional, diferentes
aos encontrados neste estudo, que apresentou coeficientes alométricos de (β<1), (β>1) e (β<1),
para os intestinos (grosso e delgado), fígado e baço, respectivamente.
Gerassev et al. (2008), avaliando o crescimento e os coeficientes de alometria dos
componentes do peso vivo em ovinos Santa Inês submetidos a restrição pré e pós-natal,
reportaram valores diferentes ao deste estudo na alometria do rúmen/retículo e omaso (tardio,
intermediário), abomaso (precoce, intermediário), fígado (intermediário, tardio), intestino
delgado e intestino grosso (intermediário, precoce), respectivamente.
Silva (2005), trabalhando com cordeiros Santa Inês, encontraram ritmo de
desenvolvimento do omaso semelhante ao deste trabalho, crescimento isogônico (β=1), no
entanto, para o intestino grosso e delgado, no presente estudo, apresentaram desenvolvimento
precoce (β<1), enquanto o mesmo autor encontrou um crescimento isogônico (b=1) para os
respectivos órgãos.
42
4 CONCLUSÃO
A inclusão de 30% de casca de maracujá desidratada na silagem de capim-elefante não
comprometeu de forma significativa o desenvolvimento dos componentes do peso vivo, embora
o baço apresentasse um crescimento linear na medida em que se aumentavam as proporções de
CDM.
Dessa forma, o uso de subproduto do maracujá torna-se uma fonte viável de alimento
alternativo para alimentação de cordeiros em confinamento, podendo ser avaliada com maiores
níveis de inclusão.
43
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46
CAPÍTULO II
Alometria dos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês alimentados com silagens de
capim elefante com proporções de casca de maracujá desidratada.
RESUMO
Avaliou-se a alometria dos cortes comerciais: pescoço, paleta, braço anterior, costela/fralda,
costeleta, lombo, perna e braço posterior da carcaça de 16 cordeiros Santa Inês, machos não
castrados, alimentados com silagem de capim-elefante, aditivada com diferentes proporções de
casca de maracujá desidratada, 0, 10, 20 e 30%. Os animais foram confinados por 60 dias e
abatidos após 16 horas de jejum sólido. O pescoço e o braço anterior dos cordeiros alimentados
com silagem contendo 30% de casca de maracujá desidratada apresentaram valores médios
significativos. A paleta, perna, lombo, costela/fralda, costeleta, braço anterior e posterior
apresentaram um crescimento isogônico e o pescoço heterogônico negativo. A casca de
maracujá desidratada pode ser utilizada em até 30% nas silagens de capim elefante sem
comprometer o desenvolvimento relativo dos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês.
Palavras–chave: alometria, cortes da carcaça, cordeiros.
47
CHAPTER II
Allometry of carcass cuts of lambs fed grass silage elephant with passion fruit peel
dehydrated.
ABSTRACT
We evaluated the allometric growth of the commercial cuts: neck, shoulder, anterior arm, rib /
flank, rib, loin, leg and arm after the carcass of 16 Santa Inês lambs, steers, fed elephant grass
silage, additives with different proportions of dried passion fruit peel, 0, 10, 20 and 30%. The
animals were confined for 60 days and slaughtered after fasting for 16 hours solid. The neck and
anterior arm of the lambs fed silage containing 30% dried passion fruit peel showed significant
mean values. The shoulder, leg, loin, rib/flank, shorts ribs, anterior arm and posterior arm
showed a isogonics and neck heterogonic negative. The passion fruit peel can be used in
dehydrated by 30% in the silage of elephant grass without compromising on the development of
carcass cuts of Santa Ines lambs.
Key words: allometry, carcass cuts, lambs.
48
1 INTRODUÇÃO
A cadeia de produção da carne ovina desponta com grandes perspectivas tanto para o
mercado interno como para o mercado externo. No entanto, mesmo com o aumento do
consumo, ou seja, com a média nacional aumentando de 0,46 kg-1habitante-1ano para 0,7 kg1
habitante-1ano (FAO, 2008), o mercado ainda se encontra muito aquém de países como a
Austrália e Nova Zelândia, que apresentam um consumo médio-1habitante-1ano de 30 kg e 20 kg
-1
ano, respectivamente.
Uma maior estruturação dos sistemas de produção, com o incremento de novas
tecnologias e padronização dos cortes a serem comercializados, torna-se possível atender o
mercado que exige produtos de qualidade e ofertados constantemente. Esse mesmo mercado
define o peso ideal da carcaça e, consequentemente, o peso ideal dos cortes. De acordo Santos
(2002) o mercado ao exigir o peso mínimo para os diferentes cortes, evita o abate de animais
que não apresentem desenvolvimento e/ou crescimento satisfatório.
O desenvolvimento do animal e/ou dos cortes de importância econômica pode ser
descritos pelo coeficiente de alometria, permitindo estabelecer o tipo de carcaça ideal
(SANTOS, 2002 e OSÓRIO, 2008), e podendo está associado a uma alimentação alternativa no
intuito de melhorar a produção de carne e reduzir os custos de produção.
A casca de maracujá desidratada é um resíduo da agroindústria disponível, em grande
parte, na região nordeste e que pode atender às exigências nutricionais de cordeiros em fase de
crescimento. De acordo Togoshi et al. (2008), apresentam um bom aporte protéico e energético,
pois apresentam valores de 12,4% para PB e 3655,57 (kcal/kg) de energia bruta, podendo
influenciar diretamente no desenvolvimento animal e na qualidade da carcaça a serem
comercializados, garantindo, assim, uma regularidade na oferta da carne ovina.
Objetivou-se determinar a alometria dos cortes da carcaça (pescoço, paleta, braço
anterior, costela/fralda, costeleta, lombo, perna e braço posterior) de cordeiros Santa Inês
alimentados com silagens de capim elefante com proporções de casca de maracujá desidratada.
49
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos – UECO,
do Departamento de Tecnologia Rural e Animal – DTRA, da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - UESB, Campus Juvino Oliveira, no município de Itapetinga-BA.
O resíduo do maracujá foi cedido pela Necttare Indústria e Comércio de Produtos
Alimentícios Ltda., situada no município de Feira de Santana-BA, sendo desidratado ao sol até
que atingisse valores entre 12 e 16% de umidade. O capim elefante foi proveniente da capineira
estabelecida no Campus da UESB. A gramínea foi cortada manualmente aos 80 dias de
crescimento e, posteriormente, processada em picadeira de forragem convencional com
tamanhos de partículas de 1 a 2 cm.
Foram utilizados 16 cordeiros machos, não castrados, da raça Santa Inês, com o peso
vivo médio inicial de 23 ± 1,4 kg e idade média de 150 ± 3,0 dias, previamente identificados e
vermifugados. Os cordeiros foram distribuídos aleatoriamente aos tratamentos (0, 10, 20 e 30%)
de casca de maracujá desidratada, considerando o delineamento inteiramente casualizado, em
baias individuais com dimensões de 1,5 m x 1,0 m, equipadas com cocho e bebedouro em
estábulo coberto do centro de Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos – ENOC da UESB,
por um período experimental de 60 dias, precedido de 15 dias para adaptação à dieta e manejo.
A silagem de capim-elefante com casca de maracujá desidratada foi acondicionada em
tonéis de metal com capacidade de 200 litros, pesada e homogeneizada de acordo os tratamentos
e, posteriormente, compactada.
O fornecimento da silagem e do concentrado foi ad libittun, duas vezes ao dia, às 7:00 e
16:00 h, respeitando a relação volumoso: concentrado de 60:40 e o consumo de matéria-seca de
3,5% do peso vivo, com ajuste de 10% para sobras.
Os cordeiros foram abatidos ao final do período experimental com um peso médio final
de 32,4 kg. O procedimento de abate ocorreu após 16 horas de jejum sólido, seguido da
insensibilização dos cordeiros e cortes na artéria carótida e veias jugulares. Após a sangria e
retirada da pele, procedeu-se a evisceração e obtenção da carcaça.
A carcaça, após ter sido limpa, foi levada para a câmara fria por um período de 24
horas, sob uma temperatura média de resfriamento de 4º C, permanecendo pendurada pela
articulação tarso metatarsiana em ganchos próprios, a uma distância média entre carcaças de 17
cm. Decorrida às 24 horas de resfriamento, procedeu-se a retirada do primeiro corte, o pescoço,
com posterior divisão, aproximadamente simétrica, da carcaça. A ½ carcaça esquerda foi pesada
para obtenção do peso da meia carcaça (PMCAR) e dividida em 07 (sete) cortes: paleta, braço
anterior, costeleta, costela/fralda, lombo, perna e braço anterior, conforme Santos (1999).
Considerando o pescoço, totalizou-se 08 cortes a serem avaliados, por carcaça.
50
O estudo do crescimento alométrico dos cortes comerciais foi realizado mediante o
modelo de equação exponencial não linear: Y = aXb, transformado logariticamente, base
neperiana, em um modelo linear, conforme proposto por Huxley (1932): LnY = Lna + b LnX +
Lnεi., em que:
Y: peso dos cortes;
X: peso da meia carcaça fria;
α: interceptação do logaritmo de regressão linear sobre Y e β;
β: coeficiente de crescimento relativo ou coeficiente de alometria;
εi: erro multiplicativo.
Os dados foram submetidos à análise de variância e estudo alométrico, adotando-se os
procedimentos PROC GLM e PROC REG do Software Statistical System (SAS INSTITUTE,
2001), respectivamente.
No estudo alométrico, para a verificação das hipóteses de nulidade (b=1) e alternativa
(b≠1), realizou-se o teste “t” (Student) a α = 0,05 e α = 0,0l de probabilidade. Se o coeficiente
de alometria “b” for igual a um (1) (b=1), o crescimento será denominado isogônico, indicando
que as taxas de desenvolvimento “X” e “Y” foram semelhantes no intervalo considerado.
Quando o b for diferente de 1 (b ≠ 1), o desenvolvimento será denominado de heterogônico,
sendo positivo para (b > 1), corte de desenvolvimento tardio; ou negativo (b < 1),
caracterizando um desenvolvimento precoce do corte em relação ao desenvolvimento da meia
carcaça.
51
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao fornecer aos cordeiros Santa Inês silagem de capim elefante adicionada com
diferentes proporções de casca de maracujá, não houve diferença para os pesos da paleta
(P=0,5347), costela/fralda (P=0,0889), perna (P=0,2710), costeleta (P=0,3607), braço posterior
(P=0,0832) e lombo (P=0,5075), entre os tratamentos avaliados (Tabela 6). No entanto
observou-se um comportamento linear para o pescoço (P=0,05) e braço anterior (P=0,03).
Observando os valores médios absolutos, provavelmente houvesse influência da adição da casca
de maracujá nos pesos dos cortes da carcaça, pois ao exemplo da perna, o peso variou de 1,845
a 2, 273, porém, a análise de variância não detectou uma probabilidade menor que 0,2710.
Talvez houvesse necessidade de um número maior de repetição, ou seja, o maior número de
cordeiros por tratamento poderia provocar a significância dos pesos dos cortes nos tratamentos,
apesar de que os coeficientes de variação encontrados não foram altos.
Os valores são
semelhantes aos encontrados por Xenofonte (2006), avaliando o peso dos cortes de ovinos sem
raça definida suplementados com farelo de babaçu, nas proporções de 0, 10, 20 e 30%.
Tabela 6. Valores médios, erro padrão da média (Epm), probabilidade de F da análise de
variância e coeficiente de variação (CV) dos cortes da carcaça (kg) de cordeiros
Santa Inês alimentados com silagem de capim elefante aditivado com distintas
proporções de casca de maracujá desidratada.
Cortes de carcaça
0
Paleta
Costela/fralda
Perna
Pescoço
Braço Anterior
Costeleta
Braço Posterior
Lombo
1,045
1,127
1,845
0,797
0,266
0,997
0,298
0,411
Casca de maracujá (%)
10
20
0,906
1,206
1,892
0,961
0,278
1,177
0,401
0,460
1,010
1,438
2,123
0,961
0,331
1,145
0,337
0,396
30
1,150
1,536
2,273
1,038
0,365
1,417
0,455
0,480
Média
Geral
1,028 c
1,326 b
2,033 a
0,939 c
0,310 d
1,184 c
0,373 d
0,436 d
Epm
Pr >F
CV
0,11
0,11
0,16
0,05
0,02
0,16
0,04
0,04
0,5347
0,0889
0,2710
0,0530
0,0342
0,3607
0,0832
0,5075
22,45
17,45
16,28
11,70
14,81
27,13
21,98
20,01
Médias seguidas de mesma letra, na coluna da média geral, não diferem entre si, pelo teste de T a 5%.
Pescoço (y = 0,830 + 0,007 x; R2 = 84,0)
Braço Anterior (y = 0,257 + 0,003X; R2 = 95,0)
Comparando os valores médios dos cortes da carcaça, nota-se que a perna tem peso
médio superior aos demais cortes, provavelmente pelo turnover protéico, onde a síntese do
tecido muscular é maior que a sua degradação, conferindo ao corte uma maior deposição
protéica, tendo a nutrição como um dos principais fatores responsáveis pela maior quantidade
de tecido muscular. Silva Sobrinho (2001) atribuiu ao fato da perna apresentar maior
musculosidade e parte comestível em relação aos outros cortes.
O braço anterior, posterior e o lombo foram os cortes que apresentaram menor peso
médio, mas não diferiu entre si, corroborando com Silva & Portugal (2000) e Fushuro-Garcia et
al. (2004) ao relatarem menor proporção dos membros à medida que aumenta o peso dos
52
ovinos. Contudo o braço anterior apresentou diferença significativa (P=0,0342) entre os
tratamentos, demonstrando um efeito linear crescente na media em que se aumentava a
proporção de CDM, o que pode ser atribuído pelo maior aporte de energia e proteína nas dietas
com 10, 20 e 30% de inclusão do subproduto.
Cardoso (2008), trabalhando como ovinos Santa Inês e cruzas, avaliando o desempenho
e característica da carcaça em sistema intensivo encontrou valores médios de 1, 46, 0, 66, 0, 89,
1,46 kg para os cortes comerciais: paleta, lombo, pescoço, costela/fralda, respectivamente,
sendo maiores que os deste experimento, assim como Oliveira et al. (2002) para os cortes paleta
e lombo que encontraram valores médios de: 1,67 e 0,91 kg, respectivamente. As diferenças
entre os resultados podem estar relacionadas ao nível nutricional e sistema de criação dos
animais.
O peso médio da paleta dos cordeiros alimentados com até 30% de casca de maracujá
desidratada, foi de 1, 028, abaixo do encontrado por Dantas et al. (2008), sendo 1,077 kg,
quando avaliaram as características da carcaça de ovinos Santa Inês terminados em pastejo e
submetidos a diferentes níveis de suplementação (0,0, 0,5 e 1,5 % do PV).
Alves et al. (2003), avaliando três níveis de energia com 66, 90, 73,72 e 78,33% de
NDT na dieta de ovinos da raça Santa Inês, sobre a característica da carcaça, encontraram pesos
médios para a perna, lombo e paleta (2, 580, 0,870 e 1,240 kg), respectivamente, enquanto o
pescoço obteve um peso médio de (0,800 kg). Os cortes da perna, lombo e paleta obtiveram
pesos médios superiores, e o pescoço inferior aos encontrados no presente estudo, que também
tinha níveis diferentes para energia e proteína, conforme aumentava a proporção de CDM.
É indicada a adição de 30% de casca de maracujá desidratada na silagem de capim
elefante, pois foi benéfica ao desenvolvimento absoluto dos cortes. No entanto, há uma
necessidade de mais estudos em relação aos níveis de inclusão deste subproduto influenciando
no peso dos cortes da carcaça, devido aos valores de probabilidade do teste F estar próximos do
nível de significância a 5% de probabilidade.
Em função do peso da meia carcaça, foram determinados os coeficientes de alometria e
as equações logarítmicas para estimar o desenvolvimento da composição regional da carcaça, os
cortes: paleta, costela/fralda, perna, pescoço, braço anterior e posterior, costeleta e lombo de
cordeiros Santa Inês, alimentados com silagem de capim elefante com distintas proporções de
casca de maracujá desidratada (Tabela 7). Como não houve diferença significativa entre os
valores médios do peso da maioria dos cortes avaliados, optou-se em realizar o estudo
alométrico, considerando a média geral dos cortes em cada cordeiro, e não por tratamento.
A paleta, perna, lombo, costela/fralda, costeleta, braço anterior e posterior apresentaram
um desenvolvimento relativo intermediário em relação à meia carcaça, ou seja, um crescimento
isogônico (β=1), proporcional à carcaça dos cordeiros alimentados com até 30% de casca de
maracujá desidratada. Porém, os dados da perna, do braço anterior e posterior, da costeleta e
53
costela/fralda, depois de transformados na base do logaritmo neperiano, obtiveram melhores
ajustes para definição do tipo de crescimento.
Tabela 7. Coeficiente alométrico e equações de regressão da composição regional da carcaça de
cordeiros Santa Inês alimentados com silagem de capim elefante com casca de
maracujá desidratada, em função do peso da meia carcaça.
Composição Regional da Carcaça
Paleta
Perna
Lombo
Costela/Fralda
Costeleta
Pescoço
Braço Anterior
Braço Posterior
LnY = Lna + bLnX
Paleta
Perna
Lombo
Costela/fralda
Costeleta
Pescoço
Braço anterior
Braço posterior
Β
0,988
0,859
0,554
0,978
1,378
0,594
0,873
0,965
Std
0,21
0,97
0,23
0,16
0,18
0,14
0,12
0,26
Teste T
β =1ns
β =1ns
β =1ns
β =1ns
β =1ns
β <1*
β =1ns
β =1ns
R2 (%)
58,8
83,8
23,0
71,0
78,1
52,2
77,3
83,2
Ln PA = -1,861 + 0,988 Ln PMCAR
Ln PE = -0,926 + 0,859 Ln PMCAR
Ln LO = -1,892 + 0,554 Ln PMCAR
Ln CF = -1,581 + 0,978 Ln PMCAR
Ln CO = -2,467 + 1,378 Ln PMCAR
Ln PES = -1,195 + 0,594 Ln PMCAR
Ln BA = -2,834 + 0,873 Ln PMCAR
Ln BP = -2,837 + 0,965 Ln PMCAR
β Coeficiente de alometria; Std erro padrão coeficiente de alometria; R2 coeficiente de regressão; Teste T a 5%(*)de
significância. PMCAR= peso da meia carcaça; PA= paleta; PE= perna; LO=lombo; CF= costela/fralda;
CO=costeleta; PES= pescoço; BA= braço anterior; BP= braço posterior.
A costela/fralda apresentou ritmo intermediário de desenvolvimento relativo, no
entanto, este corte é conhecido pela deposição elevada de gordura, o que provoca crescimento
tardio, devido ao ritmo acelerado de deposição de gordura depois de uma determinada idade ou
aumento de peso do animal. Esse crescimento denominado heterogônico positivo não ocorreu
neste experimento, sendo assim, provavelmente, a adição de casca de maracujá em até 30% na
silagem de capim elefante não provocou elevada deposição de gordura na carcaça.
Efeito contrário ao determinado neste experimento foi o de Diaz et al. (2006) que
trabalharam com vinte cordeiros, machos não castrados, Texel x Ile de France, alimentados com
silagem de sorgo para um ganho diário de 200g dia-1, e observaram diferenças na composição
individual de cada corte, sendo a região das costelas aquela com maior deposição de tecido
adiposo e, consequentemente, de desenvolvimento tardio.
A composição do ganho do animal é diferente nas diferentes partes do corpo, refletida
na carcaça, peso dos cortes e, consequentemente, no seu desenvolvimento. Segundo Rosa et al.
(2005), o crescimento dos distintos cortes está relacionado ao percentual e ao ritmo de
crescimento dos diferentes tecidos que compõem a carcaça. No entanto, o desenvolvimento dos
tecidos é causado, também, pela nutrição, sendo assim, o tipo de dieta influencia diretamente no
54
crescimento dos cortes da carcaça e de forma alométrica, ou seja, os padrões de
desenvolvimento corporal não são uniformes, porque nem todas as partes do organismo se
desenvolvem no mesmo ritmo. Segundo Smith et al. (1976), a composição do ganho pode
influir diretamente na eficiência com que os alimentos são utilizados.
Souza Júnior et al. (2009), avaliando o crescimento alométrico dos cortes da carcaça de
cordeiros Dorper x Santa Inês, criados a pasto, em função do peso da carcaça fria e peso do
corpo vazio, também encontraram coeficientes de alometria semelhantes ao deste trabalho, para
a paleta, costeleta, perna, lombo e braço anterior e posterior, com exceção da costela/fralda que
apresentou um crescimento heterogônico positivo (β>1), de desenvolvimento relativo tardio.
O pescoço foi o único corte que não acompanhou de forma proporcional o
desenvolvimento da carcaça à medida que houve adição de casca de maracujá, apresentando um
coeficiente de alometria diferente de 1 (β≠1), com um crescimento precoce (β<1), heterogônico
negativo em relação à meia carcaça. Furusho-Garcia et al. (2006), estudando a alometria dos
cortes de cordeiros Santa Inês puros e cruzas, reportaram coeficientes alométricos iguais a 1
(β=1), crescimento isogônico, para o pescoço de machos e fêmeas de Santa Inês puros e
cruzados, exceto para o cruzamento Santa Inês x Bergamácia.
Considerando o peso vivo final dos cordeiros, alimentados com até 30% de casca de
maracujá, Silva et al. (2000) relataram comportamento diferenciado do desenvolvimento
relativo dos cortes, quando comparado ao deste experimento, em que o crescimento isogônico
foi predominante para os cortes, com exceção do pescoço. Os cordeiros utilizados por Silva et
al. (2000) foram abatidos com peso vivo de 33 kg, próximos ao valor médio deste experimento
(32,47 kg), porém, o crescimento para a perna e paleta foi precoce, observando, ainda,
crescimento isogônico para o pescoço e tardio para a costela.
Galvani et al. (2008), trabalhando com ovinos da raça Texel, encontraram resultados
similares da perna, costela e pescoço, ou seja, um crescimento isogônico (β=1), enquanto a
paleta apresentou crescimento precoce (β<1). Esses resultados corroboram com o modelo de
crescimento antero-posterior proposto por Hammond (1932), o qual relata que quanto mais
jovem o animal maior é a proporção da região anterior em relação à carcaça. Porém, ressalta-se
que a depender da genética, alimentação e peso absoluto dos cordeiros em estudo o crescimento
dos diferentes componentes regionais da carcaça se comportam de forma diferente, mesmo o
animal sendo jovem. Os cortes podem acumular peso, sendo proporcional ou não à carcaça, sob
influência nutricional, conforme foi observado neste trabalho, em que dietas com maior aporte
protéico e energético (10, 20 e 30%) de CDM afetaram positivamente o peso dos cortes.
55
4 CONCLUSÃO
A adição de CDM em diferentes proporções na silagem de capim elefante não alterou de
forma significativa o peso dos cortes, com exceção do pescoço e braço anterior, que
apresentaram um efeito positivo na medida em que se aumentava a proporção da casca de
maracujá desidratada.
A paleta, perna, lombo, costela/fralda, costeleta, braço anterior e posterior de cordeiros
submetidos à dieta contendo casca de maracujá desidratada, apresentam um crescimento
isogônico e o pescoço heterogônico negativo.
Sendo assim a casca de maracujá desidratada pode ser utilizada em proporções de até
30% nas silagens de capim-elefante sem comprometer o peso, desenvolvimento relativo dos
cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês, podendo ser avaliada em maiores níveis.
56
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Mestrado.Universidade Federal Rural do Pernambuco.
58
CAPÍTULO III
Alometria dos componentes teciduais dos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês
alimentados com silagens de capim elefante com proporções de casca de maracujá
desidratada.
RESUMO
Avaliou-se a alometria tecidual dos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês alimentados com
silagem de capim elefante, com proporções (0; 10; 20 e 30%) de casca desidratada de maracujá.
Foram utilizados 16 cordeiros em um delineamento inteiramente casualizado, em que os
animais foram previamente vermifugados, identificados e alojados em baias individuais,
passando por um período de 60 dias para avaliação de desempenho. Ao final do período
experimental, foram abatidos, após 16 horas de jejum sólido. As carcaças foram pesadas e
acondicionadas em câmara frigorífica sob uma temperatura de 4°C por um período de 24horas.
Depois deste período, pesou-se a meia carcaça esquerda, que foi dividida em cortes regionais,
da paleta, perna e costela/fralda, pesados e acondicionados em sacos plásticos, devidamente
identificados e mantidos no freezer a -10° C. Pela dissecação física destes cortes, foi
caracterizada a composição tecidual dos tecidos ósseo, muscular e adiposo. Não houve
diferença significativa entre os tratamentos para os tecidos (ósseo, muscular e adiposo) dos
cortes, ou seja, foi caracterizado um crescimento isogônico, proporcional ao desenvolvimento
de cada corte, exceto para o tecido ósseo que teve um crescimento relativo precoce em relação à
costela/fralda. Dessa forma, o uso da casca de maracujá desidratada na proporção de 30% na
silagem de capim elefante não altera significativamente a velocidade de crescimento dos
componentes teciduais da perna, paleta e costela/fralda.
Palavras – chave: crescimento alométrico, composição tecidual, casca de maracujá.
59
CHAPTER III
Allometry of tissue components of carcass cuts of Santa Ines lambs fed elephant grass
silage with passion fruit peel dehydrated.
ABSTRACT
We evaluated the tissue composition of carcass cuts of Santa Ines lambs fed grass silage
elephant, added with different levels of inclusion (0, 10, 20 and 30%) of dried passion fruit rind
- (CDM). We used 16 castrated males not with body weight (BW) averaging 23 kg and average
age of 180 days, which were previously identified, wormed and in groups of four were
randomly selected in a completely randomized design with four treatments, where each animal
represented an experimental unit. The slaughter was performed after fasting for 16 hours of
solid food. The carcasses were weighed and placed in a refrigerator at a temperature of 4° C for
a period of 24 hours. After this period weighed up the left half carcass, which was divided into
regional sections, weighed, packed in plastic bags, properly identified and kept in a freezer at 10 ° C. By physical dissection of these cuts, they characterize the tissue composition of bone,
muscle and adipose tissue. The study of allometric growth of tissues was performed using the
model of Huxley (1932), analyzed using the Statistical Software System, SAS (2001). There
was no significant difference between the treatment to the tissues (bone, muscle and adipose) of
the cuts, ie, was a featured isogonics proportional to the development of each cut, except for
bone tissue that grew early on in relation to Rib /. Thus, the use of passion fruit peel dried in the
inclusion levels of 30% elephant grass silage did not significantly affect the growth speed of
tissue component of the leg, shoulder and rib / flank.
Key - words: allometric growth, tissue composition, passion fruit peel.
60
1 INTRODUÇÃO
A carne ovina apresenta grande potencial com a oferta de proteína animal, no entanto,
segundo Siqueira et al. (2001), existem alguns entraves que impedem
a expansão dessa
atividade, como a qualidade e a quantidade do produto ofertado que não atende à demanda de
mercado. O perfil do consumidor moderno vem mudando, exigindo uma carne com maior
porção comestível, no caso dos músculos e deposição adequada de gordura, indicando que as
proporções dos tecidos depositados na carcaça é o que vai determinar a sua composição e,
consequentemente, o valor econômico.
A qualidade da carne é um dos fatores mais importantes para sua comercialização, a
carne ovina ainda não possui o padrão de qualidade e cortes desejados, e nem oferta constante, o
que dificulta o seu marketing, quando comparados com outras espécies, como o suíno e o
frango, que apresentam constância em sua qualidade. Essa variação no padrão da carne ovina se
deve, principalmente, aos fatores inerentes ao animal, alimentação e manejo.
O ritmo de crescimento e proporções dos tecidos que compõem a carcaça são
imprescindíveis na cadeia produtiva da carne ovina, pois a partir do momento que se conhece a
forma de deposição e quantidade destes tecidos na carcaça, poderá determinar o peso ideal de
abate, conforme cada genótipo, visando uma elevada quantidade de músculo e um nível mínimo
e adequado de gordura (ROSA et al. 2002a). Essa mínima quantidade de gordura é necessária,
pois mantém uma relação biológica relacionados com a composição tecidual, garantindo as
qualidades sensoriais da carne, isolamento térmico e ajuda a prevenir perda de líquidos, e de
acordo Monteiro (2000), evita o encurtamento e escurecimento das fibras musculares durante a
conservação.
Segundo Carvalho (1998), a composição tecidual merece um interesse particular, haja
vista que a comercialização da carne, os diferentes tecidos (músculo, gordura e ossos) são
comprados pelo consumidor e com o preço idêntico, sem distinção pela maior ou menor
deposição de músculo.
É relevante que as avaliações de carcaças ovinas sejam mais pesquisadas e precisas
visando uma melhoria da produção e qualidade. As medidas realizadas nestas, de acordo
Solomoni (1981), proporcionam comparações para diferentes tipos raciais, pesos, idades de
abate e modelos de sistema de alimentação, sendo eles o pastejo ou confinamento, e o pastejo
com suplementação.
Segundo Santos (2009), o cordeiro de 30 kg de peso vivo atende à demanda de
mercado, em relação à composição tecidual, porém, devido aos reduzidos ganhos de peso em
sistemas de produção extensivo (pastejo), o confinamento vem sendo adotados pelos produtores
de carne ovina para acelerar o ganho de peso em menor tempo. Contudo, Santello et al. (2006)
61
afirmam que a terminação dos cordeiros devem ser feitos em pastejo e suplementados, devido à
análise do custo/benefício para o confinamento não ser favorável.
Para garantir uma maior eficiência nos sistemas de produção de ovinos é necessário
lançar mão de alternativas alimentares, pois de acordo Barros et al. (2003), a alimentação é
responsável por 70% do custo de produção na criação de ovinos, destacando-se, principalmente,
os concentrados protéicos. Dessa forma, a utilização de subprodutos ou resíduos de maracujá
(Passiflora edulis sims f. flavicarpa) pode se tornar uma alternativa viável para substituição do
concentrado protéico, a um custo mínimo, na alimentação de ovinos sem alterar a qualidade do
produto final, a carne.
Tão importante quanto à composição regional da carcaça é sua composição tecidual,
pois a carcaça, através de seus diversos cortes comerciais, apresenta partes comestíveis e nãocomestíveis, sendo que, entre as não-comestíveis, os ossos perfazem a maior parte. O excesso
de gordura, embora comestível, é de pequeno valor comercial e, em determinados casos,
indesejável (CUNHA, 2008).
Objetivou-se avaliar a alometria da composição tecidual dos cortes: perna, paleta e
costela/fralda de cordeiros Santa Inês alimentados com silagens de capim elefante com
proporções de casca de maracujá desidratada.
62
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos – UECO,
do Departamento de Tecnologia Rural e Animal – DTRA, da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - UESB, Campus Juvino Oliveira, no município de Itapetinga-BA.
O resíduo do maracujá foi cedido pela Necttare Indústria e Comércio de Produtos
Alimentícios Ltda., situada no município de Feira de Santana-BA, sendo desidratado ao sol até
que atingisse valores entre 12 e 16% de umidade. O capim elefante foi proveniente da capineira
estabelecida no Campus da UESB. A gramínea foi cortada manualmente aos 80 dias de
crescimento e, posteriormente, processada em picadeira de forragem convencional com
tamanhos de partículas de 1 a 2 cm.
Foram utilizados 16 cordeiros machos não castrados, da raça Santa Inês, com o peso
vivo médio inicial de 23 ± 1,4 kg e idade média de 150 ± 3,0 dias, previamente identificados e
vermifugados. Os cordeiros foram distribuídos aleatoriamente aos tratamentos (0, 10, 20 e 30%)
de casca de maracujá desidratada, considerando o delineamento inteiramente casualizado, em
baias individuais com dimensões de 1,5 m x 1,0 m, equipadas com cocho e bebedouro em
estábulo coberto do centro de Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos – ENOC da UESB,
por um período experimental de 60 dias, precedido de 15 dias para adaptação à dieta e manejo.
A silagem de capim-elefante com casca de maracujá desidratada foi acondicionada em
tonéis de metal com capacidade de 200 litros, pesada e homogeneizada de acordo os tratamentos
e, posteriormente, compactada.
O fornecimento da silagem e do concentrado foi ad libittun, duas vezes ao dia, às 7:00 e
16:00 h, respeitando a relação volumoso: concentrado de 60:40 e o consumo de matéria-seca de
3,5% do peso vivo, com ajuste de 10% para sobras.
Os cordeiros foram abatidos ao final do período experimental com um peso médio final
de 32,4 kg. O procedimento de abate ocorreu após 16 horas de jejum sólido, seguido da
insensibilização dos cordeiros e cortes na artéria carótida e veias jugulares. Após a sangria e
retirada da pele, procedeu-se a evisceração e obtenção da carcaça.
A carcaça, após ter sido limpa, foi levada para a câmara fria por um período de 24
horas, sob uma temperatura média de resfriamento de 4º C, permanecendo pendurada pela
articulação tarso metatarsiana em ganchos próprios, a uma distância média entre carcaças de 17
cm.
A meia carcaça esquerda foi dividida em 08 (oito) componentes regionais, sendo
caracterizada como cortes comerciais: pescoço, paleta, braço anterior, costeleta, costela/fralda,
lombo, perna e braço anterior. Os cortes da paleta, perna e costela/fralda foram escolhidos para
determinar a composição tecidual (osso, músculo e tecido adiposo), conforme Santos et al.
(2001), pois os mesmos representam uma alta correlação com as extremidades da carcaça.
63
Os cortes paleta, perna e costelas/fralda foram pesados, identificados e armazenados em
sacos plásticos, onde foram mantidos em um freezer a uma temperatura de – 10ºC até o
momento da dissecação, que consiste na separação dos componentes teciduais (osso, músculo,
tecido adiposo e outros tecidos).
Antes da dissecação, os cortes foram descongelados a 10ºC por 16 a 20 horas dentro dos
sacos plásticos, para posterior pesagem. Com auxílio de bisturi e faca, foram separados os
seguintes grupos de tecidos: gordura subcutânea (composta pela gordura externa, localizado
abaixo da pele), gordura intermuscular (toda gordura localizada abaixo da fáscia profunda
aderida aos músculos), músculo (peso total dos músculos dissecados após completa remoção da
gordura intermuscular aderida), osso (peso total dos ossos da paleta, perna, costela/fralda) e
outros tecidos (composto por tendões, glândulas, nervos e vasos sanguíneos). Pela dissecação
dos cortes foram obtidos os pesos em quilograma e percentagens dos tecidos dissecados, em que
a percentagem foi calculada em relação ao peso total (kg) de cada corte.
A análise estatística da composição tecidual da paleta, perna e costela/fralda foi
realizada mediante o modelo de equação exponencial não linear: Y= a Xb, transformada
logariticamente em um modelo linear, conforme proposto por Huxley (1932): LnY= Lna + b
LnX + Lnεi., onde:
Y: peso do tecido;
X: peso do corte;
α: interceptação do logaritmo de regressão linear sobre Y e β;
β: coeficiente de crescimento relativo ou coeficiente de alometria;
εi: erro multiplicativo.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, quando significativos,
adotando-se os procedimentos PROC GLM e PROC REG do Software Statistical System (SAS
INSTITUTE, 2001). Para a verificação das hipóteses de nulidade (b=1) e alternativa (b≠1),
realizou-se o teste “t” (Student) a α = 0,05 e α = 0,0l de probabilidade. Se o coeficiente de
alometria “b” for igual a um (1) (b=1), o crescimento será denominado isogônico, indicando que
a velocidade de desenvolvimento “X” e “Y” foi semelhante no intervalo considerado. Quando o
b for diferente de 1 (b ≠ 1), o desenvolvimento será denominado de heterogônico, sendo
positivo para (b >1), tecido de desenvolvimento tardio; ou negativo (b < 1), caracterizando um
desenvolvimento precoce do tecido em relação ao desenvolvimento do corte.
64
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para completa avaliação do sistema de produção, as características da carcaça são
consideradas informações importantes, uma vez que complementam os resultados de influência
da nutrição sobre o desempenho animal (RODRIGUES et al., 2008).
Na Tabela 8 são mostrados os coeficientes de variação (CV), valores médios do peso
dos cortes, paleta, costela/fralda e perna nos quatro tratamentos com casca de maracujá
desidratada (CMD) e o peso dos tecidos (músculo, tecido adiposo e ósseo) que compõem cada
corte dos cordeiros Santa Inês.
Tabela 8. Valores médios em kg, erro padrão da média (Epm), probabilidade de F da análise de
variância e coeficiente de variação (CV) dos componentes teciduais dos cortes da
carcaça de cordeiros Santa Inês alimentados com silagem de capim elefante aditivada
com distintas proporções de casca de maracujá desidratada.
Componentes
Teciduais
Paleta
PC
PM
PG
PO
Costela/Fralda
PC
PM
PG
PO
Perna
PC
PM
PG
PO
0
Casca de Maracujá (%)
10
20
30
Média
Geral
Epm
Pr >F
CV
1,038
0,691
0,139
0,190
0,913
0,549
0,178
0,219
1,009
0,673
0,120
0,185
1,145
0,733
0,180
0,206
1,025
0,661
0,154
0,255
0,1135
0,0730
0,0431
0,0730
0,5643
0,3611
0,7096
0,5437
22,14
22,09
56,01
64,88
1,120
0,549
0,306
0,261
1,198
0,553
0,333
0,243
1,429
0,679
0,410
0,310
1,531
0,725
0,329
0,338
1,139
0,626
0,344
0,287
0,1155
0,0580
0,0596
0,0415
0,0865
0,1215
0,6414
0,3836
17,52
18,53
34,62
28,81
1,836
1,234
0,264
0,406
1,924
1,304
0,200
0,379
2,073
1,494
0,245
0,410
2,268
1,450
0,305
0,501
2,025
1,370
0,253
0,424
0,1648
0,1201
0,0597
0,0702
0,3133
0,4132
0,6683
0,6416
16,27
17,53
47,08
33,12
PC= peso do corte; PM= peso do músculo; PG= peso da gordura; PO= peso do osso.
Para a variável peso do corte, não houve resultados significativos neste estudo (P=0,
564, e P=0,313) para a paleta e perna, respectivamente, quando aditivados com diferentes níveis
de casca de maracujá, todavia a paleta obteve um alto coeficiente de variação (56,01%) para
peso médio da gordura e tecido ósseo (64,88%).
Embora na costela/fralda não foi encontrado diferença significativa (P=0,0865), o valor
total do peso neste corte, na proporção de 20 e 30%, foram maiores em relação aos encontrados
nos níveis de 0 e 10%, o que pode ser atribuído ao maior peso vivo final (PVF) nas proporções
de 10 e 20% de CDM, indicando para a realização de mais estudos, quanto aos níveis de
inclusão da casca de maracujá na dieta.
O peso médio das pernas foram maiores que os observados por Santos et al. (2009),
trabalhando com cordeiros Santa Inês terminados em pastejo e submetidos à suplementação,
assim como o peso dos tecidos musculares e ósseos, enquanto Rosa et al. (2002 b) encontraram
65
valores bem menores para a gordura nos cortes da perna e paleta de cordeiros da raça Crioula.
Essa diferença pode ser atribuída ao fato dos animais serem criados em condições extensivas,
com pastagens nativas, havendo um menor consumo de energia, enquanto os animais desse
trabalho foram criados em regime de confinamento, consequentemente, menor requerimento de
energia para mantença.
O peso dos músculos foi maior em todos os cortes em relação aos demais tecidos,
enquanto a costela/fralda e a paleta tiveram maior quantidade de músculos nos níveis de 30%, a
perna apresentou uma maior deposição deste tecido com 20% de casca de maracujá.
Os resultados indicaram uma maior quantidade de músculos para a perna que os demais
cortes estudados, corroborando com Silva Sobrinho et al. (2002) que descreveram maiores
proporções de músculo nas pernas em cordeiros Ile de France x Ideal, enquanto Jardim et al.
(2007) encontraram, em valores absolutos, maior deposição de músculo na perna, quando
comparado com a paleta em ovinos Corriedale. Garcia et al. (2003) observaram maior deposição
de músculo na perna em ralação à gordura, em cordeiros Suffolck.
De acordo Silva Sobrinho (2001), a perna é o corte que apresenta maior peso e,
consequentemente, maior rendimento, por se tratar de região com maior musculosidade e maior
rendimento da parte comestível.
Piola Júnior et al. (2009) reportaram valores para o peso da gordura da paleta de ovinos
mestiços de Texel (0,17 kg) com dietas contendo 2,85 (Mcal de EM/kgMS), semelhantes ao
deste trabalho (0,17 kg) para paleta no nível de 10% de (CDM), com NDT de 36,3%.
Os constituintes básicos da carcaça são os músculos, os ossos e a gordura. Cada tecido
terá um impulso de desenvolvimento em uma fase diferente da vida do animal. O tecido ósseo
apresenta crescimento mais precoce; o muscular, intermediário; e o adiposo, mais tardio, de
acordo com a maturidade fisiológica (HAMMOND, 1965).
A composição tecidual das diferentes raças difere dos estágios de maturidade de cada
uma, influenciada diretamente pelo plano nutricional. De acordo Santos et al. (2001b), a
alometria explica parte dessas diferenças quantitativas que são observadas nos animais. Em
função do peso dos cortes (PC), paleta, costela/fralda e a perna foi determinado o
desenvolvimento dos tecidos (ósseo, adiposo e muscular) de cordeiros Santa Inês alimentados
com silagem de capim elefante aditivados com casca de maracujá desidratada (TABELA 9).
66
Tabela 9. Coeficiente de alometria dos componentes teciduais dos cortes da carcaça de
cordeiros Santa Inês, alimentados com silagem de capim elefante aditivada com
diferentes proporções de casca de maracujá desidratada, em função do peso do corte.
Paleta
Componentes
Teciduais
Tecido ósseo
Tecido Muscular
Tecido Adiposo
Costela/fralda
Tecido ósseo
Tecido Muscular
Tecido Adiposo
Perna
Tecido ósseo
Tecido Muscular
Tecido Adiposo
β
Std
Teste T
R2 (%)
LnY = Lna + b LnX
0,543
1,066
1,488
0,13
0.16
0,76
Β<1**
Β=1ns
Β=1ns
59,0
78,4
20,1
Ln PA = -1,701 + 0,543 Ln TO
Ln PA = -0,456 + 1,066 Ln TM
Ln PA = - 1,965 + 1,488 Ln TA
0,753
0,641
1,154
0,32
0,21
0,35
Β=1ns
Β=1ns
Β=1ns
26,6
39,5
44,5
Ln CF = -1,480 + 0,753 Ln TO
Ln CF = -0,667 + 0,641Ln TM
Ln CF = -1,413 + 1,154 Ln TA
0,687
0,999
0,783
0,46
0,12
0,68
Β=1ns
Β=1ns
Β=1ns
9,15
85,5
2,6
Ln PE = -1,341 + 0,687 Ln TO
Ln PE = -0,397 + 0,999 Ln TM
Ln PE = -2,026 + 0,783 Ln TA
β Coeficiente de alometria; Std erro padrão coeficiente de alometria; R2 coeficiente de determinação; Teste T a 1%
(**) de significância; ns (não significativo).
As proporções do tecido muscular e adiposo, na paleta, apresentaram um coeficiente de
alometria (β = 1) isogônico, ou seja, proporcional ao desenvolvimento do corte, onde a equação
de regressão mostrou-se bem ajustada para o estudo de desenvolvimento da gordura. O tecido
ósseo apresentou um valor de alometria (β<1), obtendo um crescimento heterogônico negativo
precoce, desenvolvendo-se mais rápido que o corte, no entanto, é o tecido que menos cresce na
paleta e perna. Esses resultados corroboram com os reportados por Silva (1999) que encontrou
um menor crescimento do tecido ósseo, quando comparado com o peso da carcaça.
Santos et al. (2001b), estudando o crescimento alométrico da carcaça de cordeiros Santa
Inês e Bergamácia, encontraram coeficientes de alometria diferentes de 1 (β≠1) para o tecido
ósseo que apresentou desenvolvimento precoce (β<1), de acordo com o encontrado neste
trabalho, bem como o tecido muscular de crescimento isogônico, enquanto o tecido adiposo
obteve um desenvolvimento tardio β>1), diferente ao encontrado neste estudo. Para a
costela/fralda e perna, o desenvolvimento dos tecidos foram todos isogônicos, acompanhando
de forma proporcional o crescimento dos respectivos cortes.
Santos et al. (2001 a), avaliando o desenvolvimento dos tecidos ósseo, muscular e
adiposo nos cortes da carcaça de cordeiros Santa Inês, encontraram coeficientes alométricos do
tecido ósseos menores que 1 (β<1) indicando um crescimento precoce, similares ao deste estudo
para a paleta. Neste trabalho, o crescimento muscular da paleta e coste/fralda foram
proporcionais ao desenvolvimento dos respectivos cortes, corroborando com os resultados
obtidos pela mesma autora, enquanto o tecido adiposo apresentou crescimento tardio (β>1),
diferentemente ao encontrado nesta pesquisa, que foi proporcional (β=1) para todos os cortes.
Rosa et al. (2002b), estudando o crescimento relativo de osso, músculo e gordura de
cortes da carcaça de cordeiros e cordeiras da raça Texel, em diferentes métodos de alimentação
67
concluíram que, os coeficientes de alometria, encontrados para osso, foi precoce para a paleta
(b<1), em consonância com os resultados deste estudo, assim como o desenvolvimento do
músculo na perna, que foi isométrico. Contudo, os valores obtidos pelo mesmo autor para o
desenvolvimento do tecido ósseo da perna, precoce, e tardio para o tecido adiposo de todos os
cortes, foram diferentes aos encontrados neste trabalho, em que os respectivos tecidos e cortes,
apresentaram crescimento isogônico (β=1).
Alguns autores como Pinheiro et al. (2007), Rosa et al. (2005), Osório et al., (2002) e
Santos et al. (2001a) relataram crescimento ósseo precoce e crescimento tardio do tecido
adiposo, que vai aumentando sua deposição quando mais próximo da maturidade. Além disso,
os mesmos autores relataram taxa de crescimento do tecido muscular semelhante à da carcaça.
No presente trabalho os resultados obtidos divergiram com esses autores, em relação
aos tecidos adiposo e ósseo. Sendo assim, as diferenças podem ser atribuídas à composição,
ganho, partição de nutrientes e o crescimento tecidual nas diferentes regiões da carcaça. No
entanto, foram utilizados cordeiros do mesmo padrão quanto ao peso, idade e raça, diferente dos
autores supracitados, dessa forma a utilização de até 30% de casca de maracujá desidratada não
foi suficiente para expressar modificações no ritmo de desenvolvimento relativo dos tecidos,
mas também não causou nenhuma mudança negativa, indicando para mais pesquisas, com
inclusão mínima de 30% de casca de maracujá.
68
4 CONCLUSÃO
Os cordeiros Santa Inês submetidos a diferentes níveis de inclusão de casca de maracujá
desidratada na silagem de capim elefante, não apresentaram diferenças para os pesos médios
dos cortes e dos tecidos ósseo, muscular e adiposo, bem como para os coeficientes alométricos
dos componentes teciduais, que apresentam um crescimento proporcional ao desenvolvimento
dos cortes. No entanto o uso de casca de maracujá, de até 30% em dietas para cordeiros, é
viável, porém, recomenda-se que sejam testados níveis superiores na utilização desse
subproduto como alimento alternativo.
69
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Fabiano Matos Pereira