Nesse instante uma voraz mutuca ferroou-me o braço fazendo-me largar a concha,
com caldo fervente, no pé. A dor me fez pular numa perna só e não me contive:
– Mutuca filha da puta!
Landa esforçava-se por reter o riso.
– Oh, Karina! Você xingando palavrão tão feio...
– E pode alguém deixar de xingar se vive num inferno como este?
A dor foi passando, deixei de pular e, em pouco, estávamos as duas a rir. Rimos
até chorar. De nós próprias, da mutuca, do caldo quente entornado e da farsa que
representáramos.
XIII
Não deixe que o caldo de minestrone entorne; tire a tampa – disse a Landa.
Ela se virou e perguntou:
– Você não está ouvindo um grunhido de porco?
Apliquei o ouvido e de fato percebi um grunhido de porco. Dirigi-me para os lados
de onde vinha.
– Ora viva! – exclamei. – Venha ver, Landa, a fortuna que nos trazem.
Na trilha aberta na floresta surgiram Arthuro e Paolo, este com um porco
atravessado sobre os ombros. Ao ver o marido com o porco às costas, Landa correu ao
seu encontro.
– Bravos! Isto equivale a um bocado de alegria. Mas não venham nos dizer que o
pegaram no mato, pois não acreditaremos.
– Não – falou Arthuro – nós o pegamos num chiqueiro.
Já estavam, a essa altura, no terreiro e Paolo arriou o porco, que vinha com os
pés amarrados de imbira. Estávamos maravilhadas. Um bonito porquinho e não era
selvagem. Mas onde o teriam encontrado?
– Para que não pensem que é porco do mato – disse Paolo, vou contar o que
aconteceu: procurávamos um lugar mais perto do serviço para lá erguermos novos
barracos. Assim não teríamos que caminhar tanto toda manhã. Metemo-nos pelo mato,
margeando o riozinho e fomos dar a uma casa.
– Uma casa – acentuou Arthuro. – Quase um palácio. Perceberam?
Despertamos: – Uma casa? Um palácio? Aqui por perto?
– Sim – confirmou Arthuro. – Uma casa com esteios bem fincados, coberta de
tabuinhas, com janelas e portas verdadeiras que se abrem e se fecham. Chaminé e tudo.
E uma escada de madeira para se subir e descer. Um vero palácio reinando no mato.
– Até parece mentira – suspirei. – E que espécie de gente vive lá?
– Gente como nós. Só que não falam o italiano, falam o polaco. – E como se
entenderam?
– Foi fácil. Mostramo-lhes uns vales e apontamos o porco.
Landa olhou para mim como a dizer: “Os donos da abóbora e das batatas.”
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Nesse instante uma voraz mutuca ferroou-me o braço fazendo