SEGURANÇA URBANA: AUTORIDADES E INEFICIÊNCIA -15 TERAPIA DO RISO Aristoteles Rodrigues Professor e Psicólogo, Mestre em Ciência da Religião. Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da UFJF. [email protected] É verdade que em ciências humanas tudo é possível: diferentemente das ciências exatas, só se vê o resultado depois que a ação é praticada. A previsão é relativa, sempre. Isso posto, é preciso acreditar que qualquer proposta que busque solução para a criminalidade em alta no Brasil pode dar certo e pode não dar certo. “Senado” tem a mesma origem etimológica de “senectude”, ou seja, velhice – mas no sentido de dignidade, de ponderação, de sabedoria. Acrescida de sua motivação emocional, a decisão de reduzir a idade penal pode dar certa ou não, como qualquer uma em humanidades, mas o Senado, até mais do que a Câmara Federal, não tem o direito de agir sob emoção, forte ou fraca. Ele representa os Estados, entidades largas e abstratas e, aparentemente, preferiu a variação de senilidade: aprovou, sob forte emoção, a redução da responsabilidade penal de 18 para 16 anos de idade, por sua Comissão de Constituição e Justiça. Um de seus membros, aparentemente descerebrado, afirmou, após a aprovação da redução, que não importa se esses delinqüentes podem não ser ressocializados, mas serão punidos. Temos, pois, Foucault, a toda velocidade (este, ao menos, a falar apoiado na História): trata-se de punir, sem qualquer compromisso com a sociedade. Trata-se de punir, sem medir a volta do delinqüente, a não ser que também aprovem a prisão perpétua, ou mesmo a pena de morte, o que impedirá sua volta. E temos o descerebramento dos que devem zelar pela sociedade, eis que eleitos e pagos para isso: José Sarney está na Folha de São Paulo, a reclamar que não consegue mais ouvir um discurso que mereça esse nome, no Senado; não que discursos possam resolver o surto de delinqüência e criminalidade pelo qual estamos passando atualmente, mas indicam ou indicariam a existência de vida inteligente no Senado. Não há. A Previdência, no Brasil, é deficitária e conta esse déficit em bilhões de reais, valor considerável em qualquer país do mundo. Assusta. Por conta disso, tornouse imoral, age ilegalmente, deslealmente, desonestamente: briga por centavos, sabendo que a Justiça restaurará o que ela própria retira. Retarda a concessão de aposentadorias por invalidez. Já humilhou pessoas centenárias, obrigando-as a comparecer como pudessem nos postos que as avaliariam. Câmara e o mesmo Senado procrastinam indefinidamente a apuração de atos possivelmente ilícitos de seus membros, a proteger eventuais inocentes e possíveis culpados. Membros de famílias ilustres e abastadas, condenados pela prática de algum ato ilícito, recebem os favores da lei (eventualmente, mais do que isso: membros do Judiciário, recentemente detidos pela Polícia Federal, foram libertados, sob a alegação de que não atrapalharão as investigações policiais. Particularmente, um deles acrescentou porte ilegal de arma às acusações). A mídia classifica de debate democrático, ou de jogo político, ações obviamente ilegais, imorais e desleais com o Estado e para com cada cidadão. Pessoas com dinheiro procrastinam seus julgamentos, suas condenações, indefinidamente, através de bons advogados e bons argumentos, à revelia dos fatos. “Senado” tem a mesma origem etimológica de “senectude”, ou seja, velhice – mas no sentido de dignidade, de ponderação, de sabedoria. Seus membros, aparentemente, preferiram a variação de senilidade: um deles, aparentemente descerebrado, afirmou, após a aprovação da redução da responsabilidade penal de 18 para 16 anos de idade, por sua Comissão de Constituição e Justiça, que não importa se esses delinqüentes podem não ser ressocializados, mas serão punidos. Temos, pois, Foucault a toda velocidade: trata-se de punir, sem qualquer compromisso com a sociedade. Trata-se de punir, sem medir a volta do delinqüente, a não ser que também aprovem a prisão perpétua, ou mesmo a pena de morte, o que impedirá sua volta. E temos o descerebramento dos que devem zelar pela sociedade, eis que eleitos e pagos para isso: José Sarney a reclamar que não consegue mais ouvir um discurso que mereça esse nome, no Senado. Estadunidenses inventaram, há muitos anos, o abraço, como medida terapêutica. Foi um sucesso, por lá. Trouxeram para cá: a novidade provocou gargalhadas em um povo habituado a beijar-se, acostumado a abraçar-se por qualquer motivo. Estadunidenses inventaram, recentemente, a risada, como ótima medida terapêutica. Trazida para cá, provocou lágrimas em muita gente, acostumada a rir até de trombada de trem, habituada a rir dos outros e de si própria (não me refiro ao seu uso em hospitais, e sim em consultório psicológico). Todo o acima descrito poderia funcionar como terapia de riso, mas o cidadão, o contribuinte, o povo é que provoca a risada. Mesmo acostumado a rir até de si próprio, não parece que isso vá deixar o cidadão, o contribuinte, o povo feliz, até mesmo porque esse dimenor que se pretende criminalizar também acompanha tudo isso, a despeito do Executivo, do Legislativo e do Judiciário pensarem que ele é tolo, que não acompanha isso. Afinal, ele é semi-analfabeto, criado e mantido à margem da cultura, a não ser do funk, do pó, do tresoitão, da hierarquia do crime ainda não organizado – mas não é bobo, sabe que poderá pagar por ser pobre e não por ser criminoso. E acompanha as falcatruas das pessoas bem alfabetizadas, inseridas na cultura e nos bens sociais. Enquanto isso, quem está rindo, mesmo, é o povinho de 14 a 16 anos, que finalmente terá a oportunidade de carregar sua quota de pó, aprender a atirar, entrar na hierarquia, podendo até a vir a ser gerente, quem sabe?, até a próxima redução histérica de idade criminalizável. _________________________________