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TRÁFEGO - Fenômeno Sócio-Econômico
Arq. José Ignácio Sequeira de Almeida
É comum o uso indistinto dos vocábulos "trânsito" e "tráfego" como se fossem
sinônimos. Analisadas suas origens, é possível distinguir-lhes significados
especiais, próprios da riqueza da língua portuguesa.
De fato, as palavras são signos criados para expressar e transmitir com maior
clareza, objetividade e segurança o conhecimento humano. Até mesmo um
sentimento somente existe na concepção cultural de uma sociedade na medida
em que essa sociedade consegue estabelecer um signo que o represente.
Assim, numa sociedade em que seus membros vivem em perfeita harmonia,
desfrutando igualmente do espaço natural onde vive, não se encontra signo para
o que se denomina "propriedade". Simplesmente, entre os caiapós, os
ianomâmis e outras tribos, não há propriedades, nem proprietários. As lutas
entre tribos decorrem das necessidades de sobrevivência de seus povos.
As sociedades modernas desenvolvem relações interpessoais complexas, para o
que requerem formulações claras, objetivas e seguras. Quanto mais específicos
forem os signos disponíveis, melhores condições terá a sociedade para
desenvolver-se culturalmente, concretizando com exatidão os resultados da
infinita capacidade criativa do ser humano.
Desse modo, ao buscar a origem da palavra trânsito, verifica-se que nasce do
latim "transitu" que significa mudar de posição, deslocar-se. É o significado
corrente que se aplica com maior intensidade no meio urbano para designar a
movimentação dos veículos no sistema viário.
A palavra "tráfego", por outro lado, tem origem diversa, da qual se lhe pode
encontrar um contexto próprio de significação. "Tráfego" vem da palavra
italiana "trafficare", no sentido de comerciar, trocar. Decorrente desse
significado, a expressão: "tráfico", representava os atos de comércio envolvendo
escravos, atividade legal e socialmente aceita até há bem pouco tempo. Uma vez
excluídos esses atos da legalidade, essa palavra permaneceu entre os signos para
representar o comércio ilícito, aplicando-se em termos como "tráfico de drogas",
ou "narcotráfico", "tráfico de influência" e, ainda, no sentido específico de sua
origem, quando ocorre o ilícito do "tráfico de escravas brancas", por exemplo.
Da mesma origem, nasce outra expressão, que se poderia considerar como signo
das atividades relacionadas como lícitas: "tráfego".
Considerando sua origem, representativa da troca, do comércio de coisas, a
palavra "tráfego" não pode ser utilizada simplesmente com o mesmo significado
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de trânsito, pois que envolve mais do que a simples mudança de posição de uma
pessoa ou coisa. O ato de comerciar tem o conteúdo de relações interpessoais,
ou seja envolve interesses, compensações, obrigações, direitos e deveres.
Extrapolando esse conteúdo para o contexto de uma sociedade, identificam-se as
inúmeras atividades sociais e econômicas, contemplando educação, saúde,
esporte, lazer, cultura, produção, serviços, entre tantos outros.
Essas interrelações pessoais constituem atividades sócio-econômicas que
caracterizam um fenômeno típico das sociedades humanas, para o qual não se
pode atribuir outra designação que não "tráfego".
A complexidade de uma sociedade decorre da intensidade e da quantidade das
trocas que patrocina. A qualidade das trocas será correspondente à qualidade
com que o fenômeno "tráfego" se desenvolve, ou seja, será proporcional à
qualidade da infra-estrutura urbana disponível para a realização das atividades
sócio-econômicas que a sociedade gera.
Ao consagrar à palavra "tráfego" a dimensão de signo do fenômeno sócioeconômico gerado pelas relações de troca que ocorrem na sociedade humana,
abre-se a possibilidade de se explicar com maior clareza, objetividade e
segurança, os vínculos que existem entre o que se pode, então, identificar como
seus elementos essenciais e interdependentes: trânsito, transporte e sistema
viário.
Esclareça-se desde logo que essa formulação não se restringe às questões
urbanas ou regionais, mas alcançam toda e qualquer estrutura que possibilite a
realização das interrelações pessoais que caracterizam o fenômeno. Assim se
pode falar em tráfego aéreo, ferroviário, telefônico, de dados, de idéias,
envolvendo esses mesmos três elementos. Basta entender que a referência está
no âmbito das relações socio-econômicas de troca.
O elemento trânsito contempla a movimentação, a circulação propriamente dita,
dos veículos (autos, ônibus, caminhões, aviões, pulsos eletro-magnéticos, ou
quaisquer outros).
O elemento sistema viário contempla as estruturas pelas quais se realiza essa
movimentação (vias públicas, rotas aéreas e marítimas, cabos etc.).
O elemento transporte corresponde a toda logística que envolve a troca em sí, ou
seja, todos os suportes físicos e operacionais necessários para que a troca se
efetive (planejamento, programação, controle, suportes técnico, operacional e
funcional dos sistemas que viabilizam a criação de uma nova situação para
novas trocas).
Somente com a articulação e integração desses três elementos é que se pode
almejar resultados eficientes e eficazes nas relações de troca que se realizam
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ininterruptamente na sociedade, ou seja qualidade
consequentemente, qualidade na vida das pessoas.
FIM
do
tráfego
e,
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