2 – ORIGEM E ESTRUTURA DA TERRA O objetivo desse capítulo é apresentar as evidências que levaram ao estabelecimento das estruturas que formam o nosso planeta, destacando-se também suas características físicas e químicas. 2.1 - A ORIGEM DA TERRA Provavelmente a Terra começou com uma poeira cósmica que mantinha em movimento correntes de convecção em seu interior , quando, por volta de 3000ºC, determinadas substâncias começaram a se liqüefazer. Primeiro o ferro liqüefeito começou a formar o núcleo, por ser mais pesado, depois vieram o silício, óxidos metálicos, dando origem ao manto. Quando a temperatura da Terra diminuiu, também a radiação do calor para o espaço foi reduzida. Entre 1500ºC e 800ºC começou a solidificação da crosta. A atmosfera formou-se pouco a pouco e no início compunha-se de vapor d’água, amoníaco e óxido de carbono. A água dos atuais oceanos estava concentrada em parte na atmosfera e em parte ainda no interior das rochas. Nesta fase temos então, uma Terra constituída exclusivamente por rochas denominadas ígneas ou magmáticas. Com a crosta sólida e a atmosfera continuando seu resfriamento, a maior mudança ocorreria a cerca de 374ºC, quando o vapor da atmosfera se condensaria formando chuvas, iniciando pelas regiões mais frias do globo. Este deve ter sido o primeiro momento em que caiu água sobre a crosta, desgastando-a e acumulando-se , em seguida, nas primeiras depressões, formando os primeiros mares. Nesta etapa começam também a se formar as rochas sedimentares. A ação da água que caia e corria sobre as rochas ígneas , previamente formadas, reduzia em fragmentos de diversos tamanhos, que eram transportados e depositados junto com as lamas mais finas nas depressões preenchidas pelas águas. Esse material, mais tarde consolidado, constituiria as primeiras rochas sedimentares. Com a crosta solidificada e as rochas quentes logo abaixo, surgem outros fenômenos. A partir de 70km até 700km em direção ao centro da Terra o manto ainda continua esfriando.. Isto causa uma constante modificação do volume e um conseqüente enrugamento da crosta. Tal enrugamento produz fraturamentos e dobramentos das rochas da crosta. Ainda pelas fraturas , o magma sobe até a superfície originando os vulcões. As variações de temperatura das diferentes camadas do planeta são as responsáveis pela instabilidade da crosta e mesmo pelo movimento dos continentes. Resumindo, estima-se que a formação do Sistema Solar teve início há 6,0 bilhões de anos (B.a.), quando uma enorme nuvem de gás vagava pelo Universo começou a se contrair. A poeira e os gases dessa nuvem se aglutinaram pela força da gravidade e, há aproximadamente 4,5 B.a., formaram várias esferas que giravam em torno de uma esfera maior de gás incandescente, que deu origem ao sol. As esferas menores formaram os planetas, dentre os quais a Terra. Logo, o nosso planeta formou-se há cerca de 4,5 B.a atrás, a partir da agregação de parte da poeira constituinte da nuvem originária de todo o Sistema Solar. Pequenos fragmentos de silicatos e metais atraíram-se inicialmente e pedaços maiores foram aumentando a massa e, conseqüentemente, a gravidade do pequeno planeta. Inicialmente a matéria original que formou o planeta era fria mas, devido à atração gravitacional e à desintegração dos elementos radioativos, desenvolveuse um forte calor interno. A partir daí, o planeta começou a sofrer diferenciação Apostila de Geociências – capítulo 2 -5- interna por densidade, onde os elementos químicos mais pesados como o ferro e o níquel concentraram-se no seu centro formando o NÚCLEO metálico e um MANTO com silicatos, com perda de água e de gases que formaram a atmosfera. Por fim, solidificou-se uma fina camada de rochas, denominada de CROSTA. O calor gerado no interior de nosso planeta pelo decaimento radioativo de elementos químicos como tório, urânio e potássio, originando outros elementos químicos, é a fonte de energia responsável por todos os eventos tectônicos assistidos na crosta do Planeta Terra. 2.2 - ESTRUTURA INTERNA DA TERRA O planeta Terra é constituído por diversos ambientes, alguns dos quais permitem acesso direto como a atmosfera, a hidrosfera, a biosfera e a superfície da parte rochosa. As profundezas da Terra são inteiramente inacessíveis à observação direta do homem; dessa forma para se obter informações a respeito deste interior, existem métodos indiretos de investigação: a sismologia e a comparação com meteoritos. Sismologia Sismologia é o estudo do comportamento das ondas sísmicas ao atravessar as diversas partes internas do planeta. Estas ondas propagam-se em todas as direções e podem ser geradas por explosões artificiais e, sobretudo, pelos terremotos. A melhor fonte de informação até agora é, decididamente, o estudo das ondas geradas por terremotos. Estudando a propagação das ondas registradas nos sismógrafos espalhados pelo mundo inteiro, pode-se até certo ponto, inferir muitas características do interior da Terra. As ondas sísmicas mudam de velocidade e de direção de propagação com a variação das características do meio atravessado (Fig.1), sendo assim, as informações sobre a velocidade das ondas sísmicas no interior da Terra, geradas a cada terremoto, permitiram reconhecer três camadas principais. - Crosta, - Manto e - Núcleo (externo e interno). Comparação com meteoritos Pressupondo-se que os meteoritos tiveram a mesma origem e evolução dos outros corpos do Sistema Solar, pode-se comparar seus diferentes tipos com as diferentes camadas internas da Terra: - condritos - meteoritos provenientes da fragmentação de corpos pequenos, que não sofreram diferenciação. Não existem materiais geológicos, ou seja, terrestres, semelhantes aos condritos. - sideritos - meteoritos compostos por ferro metálico com cerca de 8% de níquel. Provenientes da fragmentação de corpos maiores, como a Terra, que sofreram a diferenciação interna. Considera-se que a sua composição química seja a mesma do núcleo terrestre. - acondritos – meteorito que também sofreu diferenciação interna como a Terra e são compostos principalmente por silicatos e quantidade variável de ferro e Apostila de Geociências – capítulo 2 -6- ainda outros tipos. Pela sua densidade e composição, faz-se a correlação com a composição do manto. Figura 1 – Modelo da estrutura interna da Terra 2.3 – CARACTERÍSTICAS Assim, com estas duas ferramentas indiretas (a sismologia e a comparação com os meteoritos), foi estabelecido um modelo para a constituição interna do globo terrestre. Cada uma das camadas da Terra tem suas características próprias de densidade, estado físico, temperatura, pressão e espessura (TABELA 1). Tabela 1- Características principais da crosta, manto e núcleo terrestres.(obs: 1 kba≅1000 atm)(adaptado de Leinz & Amaral, 1985). densidade (g/cm3) 2,7 Temp. (0C) 800 Crosta continental Profundidade (km) 25 a 90 Manto oceânica superior inferior 5 a 10 200 a 900 900 a 2900 3,0 3,3 5,5 1000 2000 2000 externo interno 2900 a 5100 5100 a 6370 9-11 12-14 3000 5000 Núcleo pressão 1atm a 100kbar idem 2000kbar 3000kbar 3000kbar Constituição química Si, Al estado físico sólido Si, Mg Mg, Fe, Si Sulfetos, óxidos Fe, Ni Fe, Ni sólido sólido sólido líquido sólido É importante ressaltar que todo material no interior da terra é sólido, com exceção do núcleo externo, onde o material líquido metálico se movimenta gerando correntes elétricas e, consequentemente, o campo magnético da terra. Assim o material do manto também é sólido e só se torna líquido se, encontrando uma ruptura na crosta, escapa para cima, entrando num ambiente Apostila de Geociências – capítulo 2 -7- com pressão bem mais baixa. Só nesta situação é que o material silicático do manto se liquefaz, e pode, então ser chamado de magma. As crostas oceânica e continental apresentam diferenças entre si. A primeira ocorre sob os oceanos, é menos espessa e mais densa, e é formada principalmente por extravasamentos vulcânicos ao longo de imensas faixas no meio dos oceanos, que geram rochas basálticas (ricas em silício e magnésio, por isso chamadas de Sima). A segunda é mais espessa e menos densa, podendo emergir até alguns milhares de metros acima do nível do mar, e é formado por vários processos geológicos, tendo uma composição química granítica, isto é, mais rica em Si e em Al (Sial). A crosta oceânica e continental, junto com a parte mais superior do manto, forma uma camada rígida com 100 a 350 km de espessura. Esta camada se chama LITOSFERA e constitui as placas tectônicas. Abaixo da Litosfera encontra-se a ASTENOSFERA, que é a parte do manto que possui um estado particular, fruto da sua temperatura e pressão permitindo uma certa mobilidade, muito lenta, mas sensível numa escala de tempo muito grande, como é a escala do tempo geológico. Apostila de Geociências – capítulo 2 -8-