LAURENTIS VL; VIANA CLTP; OTUKA AK; VEIGA ACP; DE BORTOLI AS; FERRAUDO AS. Efeito de Kluyvera
Efeito de Kluyvera ascorbata no desenvolvimento do repolho sobre as lagartas de Plutella xylostella.
ascorbata no desenvolvimento do repolho sobre as lagartas de Plutella xylostella. 2010. Horticultura Brasileira 28:
S767-S772.
Efeito de Kluyvera ascorbata no desenvolvimento do repolho sobre as lagartas
de Plutella xylostella.
Valéria Lucas de Laurentis1; Cácia Leila Tigre Pereira Viana1; Alessandra Karina Otuka1;
Ana Carolina Pires Veiga1; Sergio Antonio De Bortoli1; Antônio Sérgio Ferraudo1.
1
FCAV/Unesp – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane
s/n, 14884-990, Jaboticabal-SP; e-mail: [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
RESUMO
O isolado endofítico EN4 de BPCP,
obtido da coleção na Universidade Federal
Rural de Pernambuco, foi utilizado no
tratamento de sementes do híbrido de repolho
verde ‘Midori’ por imersão em suspensão, na
10
concentração de 9x10 UFC/mL. Foram
retiradas folhas de plantas inoculadas e
plantas testemunhas, nos períodos de 20, 30,
40, 50 e 60 dias após o transplantio para
vasos. As folhas foram oferecidas para
lagartas de Plutella xylostella em condições
de laboratório. As características biológicas
avaliadas foram: duração e viabilidade larval
e pupal, peso das pupas e razão sexual.
Dentre os tratamentos pode-se observar que
o utilizando as folhas retiradas de plantas
provenientes de sementes bacterizadas aos
50 dias após o transplantio (L_E_50) e o com
folhas de planta testemunha com 30 dias
(L_T_30) foram os que proporcionaram maior
duração larval e menor viabilidade pupal. Os
tratamentos com folhas de planta testemunha
aos 60 dias (L_T_60) e com folhas de plantas
com sementes bacterizadas aos 20 dias
(L_E_20) causaram maior duração pupal,
viabilidade pupal e razão sexual, que os
demais, afetando positivamente essas
características, o que não é desejável em
cultivos de brássicas, porque dá condições
para os insetos sobreviverem por um período
maior no campo. A planta tratada com BPCP
apresentou aos 50 dias de crescimento
vegetativo uma condição de resistência ao
ataque do herbívoro, fato este comprovado
pela redução da viabilidade e peso pupal dos
insetos. Assim, a planta oriunda de sementes
inoculadas apresenta condições fisiológicas
alteradas tornando-a um substrato alimentar
impróprio à biologia da traça, principalmente
no início da formação da cabeça de repolho
(50 dias). Também é importante ressaltar que
a planta testemunha apresentou esta mesma
condição com 30 dias. Esta época do ciclo
do vegetal é representada por pequenas
folhas, e com disposição para realização de
um controle de insetos-praga com
pulverizações direcionadas, o que não é
favorecido no fim do ciclo do repolho devido
as folhas estarem fechadas formando a
cabeça, e uma vez o furo feito pela lagarta
inviabiliza o produto para o comércio.
Palavras-chave: traça-das-crucíferas;
entomopatógenos; indução de resistência.
ABSTRACT
Effect of Kluyvera ascorbata in the
development of cabbage on the larvae
of Plutella xylostella.
The BPCP endofitic strain EN4, gotten
from the Universidade Federal Rural de
Pernambuco collection, was used in the green
cabbage ‘Midori’ hybrid seed by immersion in
standardized suspensions at the
10
concentration of 9x10 CFU/mL. Leaves in
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
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Efeito de Kluyvera ascorbata no desenvolvimento do repolho sobre as lagartas de Plutella xylostella.
treatment and check plants had been
removed, at 20, 30, 40, 50 and 60 days after
transplant to flowerpots. The leaves were
offered to larvae of Plutella xylostella at
laboratory conditions. The biological
characteristics evaluated were: larvae and
pupae length period and viability, pupae
weight and sex ratio. Among the treatments,
it was observed that using the leaves of plants
from seeds bacterized 50 days after
transplanting (L_E_50) and leaves of control
plants within 30 days (L_T_30) were the ones
who provided a major larvae length and less
pupa viability. The treatments with plant
leaves witness to 60 days (L_T_60) and
leaves of plants with seeds bacterized to 20
days (L_E_20) caused longer pupae length,
pupae viability and sex ratio than the other
ones,
affecting
positively
those
characteristics, what is not desirable in a
brassica culture, because it creates conditions
to extend the survival of the insects in the field.
The plant treated with PGPR presented at 50
days of vegetative growth a condition of
resistance P. xylostella attack, what is proved
through the reduction of both viability and
pupae weight. Thus, the plant whose seeds
were inoculated presents alterations in
physiological conditions, becoming itself
inadequate substrate to the P. xylostella
biology, mainly at the beginning of the
formation of the cabbage’s head (50 days).
Also it is important to highlight that the witness
plant check presented the same condition with
30 days. This period of the vegetable cycle is
represented by small leaves, and with
disposition to realize a control of insect-pests
with directed sprays, what is not favored with
the end of the cabbage cycle because the
leaves are closed forming the head, and once
the damage made by the larvae unfeasible
the product commercialization.
Keywords:
diamondback
moth;
entomopathogens; induction of resistance.
A traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (Linnaeus, 1758) (Lepidoptera: Plutellidae),
é considerada a principal praga das brássicas por ocasionar danos em plantios comerciais.
Pode ser encontrada durante todo o ano nos campos de cultivo, porém períodos quentes e
secos proporcionam melhores condições para o aumento populacional (Castelo Branco et
al., 2003).
Os maiores danos causados pelo inseto ocorrem na fase larval; após a eclosão, a
lagarta penetra nas folhas alimentando-se do parênquima foliar. Depois desse período, ela
passa a consumir toda a superfície foliar, caules e brotos vegetativos de repolhos, couve e
ainda as inflorescências, no caso de couve-flor e couve-brócolis (Medeiros, 2004). No estado
de São Paulo, a P. xylostella causa danos variáveis, reduzindo em até 60% a produção de
repolho (Imenes et al., 2002). Já em ataques mais severos, pode inviabilizar as áreas de
cultivo (Morató, 2000).
Seu controle é realizado basicamente por agrotóxicos que trazem resultados de forma
rápida e prática. Porém, além de apresentar riscos de contaminação ao ambiente, aos animais
e até mesmo ao homem, o uso de forma contínua e inadequada desses produtos pode
ocasionar a seleção de populações de insetos mais resistentes, tornando esse método
ineficaz. Para minimizar problemas de resistência aos produtos químicos, o uso deve ser
integrado aos demais métodos de controle existentes, como, por exemplo, métodos culturais
e também o uso de agentes de controle biológico.
Outra estratégia para o controle de pragas é a resistência de plantas, que pode ser
causada por diversos fatores, entre eles injúrias causadas pelos insetos e a infecção por
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microrganismos (resistência induzida). Esses fatores podem desencadear processos
metabólicos nas plantas, levando à produção de compostos, muitas vezes envolvidos na
resistência das plantas a pragas (Ramamoorthy et al., 2001).
Grande parte dos relatos de resistência induzida mediada por microrganismos está
relacionada às bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP). Estes organismos
colonizam epifítica ou endofiticamente qualquer parte dos vegetais, proporcionando resultados
positivos, como maior desenvolvimento de plantas, resistência a doenças e artrópodes, e
adaptação a estresses ambientais.
As BPCP agem nas rotas bioquímicas ligadas a metabólitos secundários das plantas,
e podem promover alterações em algumas dessas substâncias, quando utilizadas em
processos que resultem na colonização interna da planta, ou ainda, causar repelência pela
alteração promovida nas substâncias que atuam como indicadoras no processo de
identificação hospedeira pelos insetos fitófagos.
Assim, este trabalho teve como objetivo verificar a influência de Kluyvera ascorbata
em diferentes períodos de desenvolvimento do repolho sobre as lagartas da traça-dascrucíferas.
MATERIAL E MÉTODOS
As lagartas de P. xylostella utilizadas foram obtidas da criação-estoque do
Laboratório de Biologia e Criação de Insetos, do Departamento de Fitossanidade da
FCAV/UNESP, Campus de Jaboticabal, de acordo com procedimentos recomendados
por Thuler (2009).
O isolado endofítico EN4 da BPCP Kluyvera ascorbata é proveniente da coleção do
Laboratório de Fitobacteriologia da Área de Fitossanidade do Departamento de Agronomia
da UFRPE, Recife, PE.
As sementes da variedade ‘Midori’ de repolho verde foram bacterizadas por meio de
10
imersão na suspensão do isolado EN4 na concentração de 9x10 UFC/mL e em água
destilada esterilizada (testemunha), por 30 minutos. As sementes bacterizadas foram secadas
à temperatura ambiente, por 12h.
As sementes foram plantadas em bandejas de poliestireno de 200 células e as mudas
foram transplantadas após 55 dias para vasos em casa de vegetação.
As folhas utilizadas foram obtidas das plantas de repolho e levadas ao laboratório. As
folhas foram retiradas da planta aos 20 dias após o transplantio e cortadas em círculos (8 cm
de diâmetro). Dez lagartas de 2º ínstar de P. xylostella foram confinadas em placas de Petri
plásticas (9 cm de diâmetro) contendo os círculos de repolho. As lagartas foram mantidas
nas placas até a formação das pupas, para determinação da duração e viabilidade larval. As
®
pupas foram individualizadas em placas tipo ELISA , até a emergência dos adultos, quando
foram determinadas a duração e viabilidade pupal, peso das pupas e razão sexual pelos
adultos emergidos.
O procedimento foi repetido aos 30, 40, 50 e 60 dias após o transplantio para os
vasos, utilizando plantas diferentes para cada tratamento, sendo 10 repetições por tratamento
e 10 repetições para testemunha, em cada etapa.
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Este bioensaio foi realizado em condições controladas no laboratório, com temperatura de
25±1ºC, umidade relativa de 70±10% e fotofase de 12h. Na discussão, os tratamentos chamados
de L_E são referentes ao experimento realizado em laboratório com plantas formadas a partir de
sementes bacterizadas com EN4; os denominados L_T se referem às plantas testemunhas.
Realizou-se uma análise exploratória de dados (multivariada), aplicando-se a análise de agrupamento
e a análise das componentes principais, utilizando-se o programa computacional “STATISTICA”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os tratamentos, pode-se observar que o L_E_50 e o L_T_30 (Figura 2 e Figura
3) foram os que apresentaram maior duração larval e menor viabilidade pupal. L_T_60 e
L_E_20 (Figura 2) mostraram maior duração pupal, viabilidade pupal e razão sexual, que os
demais. Esses tratamentos afetaram positivamente essas características biológicas dos
insetos, o que não é desejável em cultivos de brássicas porque dá condições para os insetos
sobreviverem por um período maior no campo. Entretanto, esses insetos apresentaram menor
peso pupal, o que pode ocasionar a emergência de adultos inviáveis.
As características fisiológicas da planta oriunda de semente não tratada aos 30 dias
após o transplantio foram semelhantes às da planta proveniente de semente inoculada com
o isolado EN4 aos 50 dias. Isso demonstra que a bactéria estimulou na planta a síntese de
algumas substâncias ou ativou alguma via metabólica de compostos secundários, como os
glucosinolatos que, segundo Reichelt et al. (2002), desempenham papéis proeminentes em
interações herbívoros-planta e patógenos-planta, que ocorreu naturalmente na planta aos
30 dias. Portanto, essa síntese é provavelmente atrasada por ação da bactéria numa planta
oriunda de semente inoculada. Essa característica da planta alterou a duração larval,
proporcionando um aumento no período da fase jovem do inseto. Em contra partida, essa
mesma planta proporcionou uma redução na viabilidade pupal, na duração pupal e na razão
sexual. Isso significa que a lagarta ficou maior tempo exposta ao substrato alimentar, porém
não acumulou nutrientes necessários para proporcionar maior número de pupas viáveis.
A planta tratada com BPCP apresentou, aos 50 dias, resistência ao ataque do herbívoro,
por apresentar condições fisiológicas alteradas, o que a torna um substrato alimentar impróprio
à biologia da traça, principalmente no início da formação da cabeça de repolho (50 dias). A
testemunha apresentou estas condições aos 30 dias após o transplantio, que é a época do
ciclo do vegetal representada por pequenas folhas com disposição ou com arquitetura propicia
para realização de um controle de insetos-praga com pulverizações direcionadas. Isso não
é favorecido no fim do ciclo do repolho devido as folhas estarem fechadas formando a cabeça,
e uma vez o dano feito pela lagarta, o produto é inviabilizado para o comércio. Portanto, o
período efetivo do isolado EN4 contra P. xylostella após a bacterização das sementes de
repolho é de aproximadamente 50 dias após o transplantio.
REFERÊNCIAS
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S 770
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Figura 1. Dendrograma dos grupos formados pelos tratamentos com o isolado de BPCP e a testemunha,
em relação à ação sobre Plutella xylostella, em laboratório, utilizando folhas de plantas provenientes da
casa de vegetação (L_T_20: testemunha aos 20 dias; L_T_30: testemunha aos 30 dias; L_T_40: testemunha aos 40 dias; L_T_50: testemunha aos 50 dias; L_T_60: testemunha aos 60 dias; L_E_20: EN4
aos 20 dias; L_E_30: EN4 aos 30 dias; L_E_40: EN4 aos 40 dias; L_E_50: EN4 aos 50 dias; L_E_60:
EN4 aos 60 dias).
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S 771
Efeito de Kluyvera ascorbata no desenvolvimento do repolho sobre as lagartas de Plutella xylostella.
Figura 2. Componentes principais para os tratamentos com os isolados de BPCP.
Figura 3. K-MEANS baseado nos grupos formados no dendograma.
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S 772
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