APLICAÇÃO DE TIACLOPRIDE E FENTIÃO NA GERAÇÃO ANTÓFOGA DA TRAÇA DA
OLIVEIRA, PRAYS OLEAE (BERN.), EFICÁCIA E EFEITOS SECUNDÁRIOS NA FAUNA AUXILIAR
Carla LOUSÃO (1)
RESUMO
Com o presente trabalho pretendeu-se contribuir para o conhecimento da eficácia da substância
activa tiaclopride (Calypso – Bayer CropScience), não homologada para a traça da oliveira, em
comparação com a substância activa fentião (Lebacyd – Bayer CropScience), bem como verificar os
efeitos secundários de ambas as substâncias activas na fauna auxiliar do olival e na geração seguinte
de P. oleae. O estudo decorreu num olival situado em Salselas (Macedo de Cavaleiros) onde se
efectuou um tratamento com as substâncias activas referidas contra a geração antófoga da traça da
oliveira. A eficácia dos produtos foi avaliada um (T1) e três (T3) dias após o tratamento, os efeitos
sobre a fauna auxiliar foram avaliados através da colocação de telas debaixo da copa das árvores e
pela técnica das pancadas em várias datas após tratamento.
Os resultados obtidos mostram que o fentião apresentou maior eficácia, atingindo o máximo de
95,8% de mortalidade comparativamente ao tiaclopride com 90,5%. A taxa de vingamento das flores
foi significativamente superior nas parcelas tratadas, 6,8% no fentião e 6,4% no tiaclopride
comparativamente à parcela testemunha com 2,8% de vingamento. Por sua vez o efeito do tratamento
fitossanitário parece também fazer-se sentir na redução das populações e no número de posturas na
geração carpófoga.
O número de indivíduos recolhidos após tratamento nas telas foi superior no fentião, enquanto
que no tiaclopride a recolha de exemplares pela técnica das pancadas foi superior, o que indica uma
maior toxicidade do fentião comparativamente ao tiaclopride.
Palavras chave: Olival, Prays oleae, tiaclopride, fentião, eficácia, efeitos secundários, fauna auxiliar.
INTRODUÇÃO
A oliveira (Olea europea L.) é uma cultura perfeitamente adaptada às condições edafo-climáticas
de Portugal, onde apresenta uma grande importância sócio-económica. Actualmente, o mercado
altamente competitivo obriga à ponderação de todos os factores que possam influenciar directa ou
indirectamente na produção e em especial a qualidade do azeite, entre os factores que é necessário
ter em conta encontra-se a protecção fitossanitária da cultura.
A traça da oliveira, Prays oleae Bern, representa uma das principais pragas da oliveira em
Portugal, sendo dos inimigos da cultura que maiores prejuízos pode causar. Trata-se de um pequeno
lepidoptero que apresenta três gerações, cada uma associada a um órgão específico da oliveira,
folhas, flores e frutos. A geração antófaga, ou geração da flor, causa prejuízos importantes, na medida
em que as lagartas destroem os botões florais e dificultam a deiscência das anteras e a alimpa dos
cachos que ficam cobertos de teia, comprometendo o vingamento dos frutos. A geração carpófaga, é
a que causa os prejuízos mais visíveis pois é responsável por uma elevada queda dos frutos, por sua
vez à geração filófaga estão associados pequenos estragos, podendo ser problemáticos em
plantações novas (Bento, 1994; Bento et al., 1997).
Os prejuízos causados quer pela geração antófaga, quer pela carpófaga de P. oleae em Trás-osMontes, podem ser elevados, justificando a realização de tratamentos fitossanitários. Numa
perspectiva de protecção integrada da cultura, os insecticidas disponíveis para o combate a P. oleae,
são em geral bastante tóxicos para a fauna auxiliar, à excepção do Bacillus thurigiensis.
_________________________________________________________________________
(1)
Associação de Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro
Rua Roque de São Paulo. Apartado 130. 5370 Mirandela
[email protected]
1
Assim, com este trabalho pretendeu-se avaliar a eficácia sobre a geração antófoga de uma
substância activa não homologada para a traça da oliveira, o tiaclopride (Calypso – Bayer
CropScience), pertencente à família dos cloronicotilinos, que é utilizada no combate a outras
pragas, nomeadamente o bichado das pomóideas, e pode ser aplicado durante a floração, em
comparação com o fentião (Lebacyd – Bayer CropScience), tratando a testemunha com água. Por
outro lado pretendeu-se verificar o efeito das diferentes substâncias activas na geração seguinte
(carpófoga), no vingamento das árvores, bem como os efeitos na fauna auxiliar do olival.
MATERIAL E MÉTODOS
Zona de estudo
O presente estudo decorreu em 2003 num olival situado na localidade de Salselas, concelho de
Macedo de Cavaleiros. É um olival vocacionado para a produção de azeite, com 3 ha de superfície,
tem aproximadamente 30 anos de idade e a cultivar dominante é a Cobrançosa, seguida da
Santulhana e Negrinha. O compasso de plantação é cerca de 7 por 7 metros, é um olival não regado,
podado cada dois a três anos, sendo a manutenção da superfície do solo realizada através de
mobilizações superficiais com escarificador.
Determinação da oportunidade de tratamento e sua realização
Para uma melhor identificação da data de tratamento acompanhou-se a evolução da parte final
da geração filófaga e antófaga, através da contagem dos adultos capturados em 3 armadilhas tipo
Delta, com feromona sexual (INRA, Antibes-France), instaladas a um de Maio, mudando a feromona
mensalmente. Para a estimativa do risco procedeu-se à observação de 25 cachos florais por cada
uma das dez arvores seleccionadas aleatoriamente em cada parcela. A aplicação das diferentes
substâncias activas foi feita imediatamente após o final da eclosão dos ovos da geração antófoga de
P. oleae, o que corresponde com o estado fenológico F da escala de Colbrant & Fabre (1972), isto é
no inicio da floração com menos de 10% das flores abertas o que coincidiu com 10 de Junho de 2003.
Os produtos utilizados foram o Calypso (Bayer CropScience) – com a substância activa
tiaclopride na dose de 0,2 l/ha de produto e o Lebacyd (Bayer CropScience) - com a substância activa
fentião na dose 1 l/ha de produto, a parcela testemunha foi pulverizada com água. O tratamento foi
efectuado em cerca de 1 ha/modalidade. A aplicação foi feita através de um pulverizador de jacto
projectado, com duas pistolas.
Figura 1 - Armadilha tipo delta usadas no
acompanhamento da curva de voo de P. oleae.
Figura 2 – Pormenor da pulverização do olival.
2
Avaliação do efeito sobre P. oleae e fauna auxiliar
A avaliação da eficácia do tratamento foi feita através de duas amostragens que tiveram lugar a
11 e 13 de Junho, isto é um e três dias após o tratamento (T1, T3). As amostragem incidiram em 4
ramos com aproximadamente 15cm em cada uma de 5 árvores, provenientes de diferentes alturas,
exposições e quer do interior quer do exterior da copa. Os cachos florais foram observados em
laboratório, á lupa binocular para quantificação do número e estado das lagartas (vivas ou mortas). Os
exemplares vivos foram incubados em laboratório, registando-se diariamente a sua evolução. A
eficácia dos tratamentos foi determinada pela equação de Abbot, de acordo com a qual a
percentagem de redução da população devida ao tratamento é dada pela expressão: % = ((x – y) / x)
* 100, onde x representa a percentagem de lagartas vivas na testemunha e y a percentagem de
lagartas vivas na modalidade tratada com insecticida (Schaub et al., 1999; Sutherland et al., 2002).
A avaliação do tratamento na geração seguinte foi efectuada através da contagem do
número de adultos capturados em 3 armadilhas/tratamento e através da observação de 25 frutos por 5
árvores em cada uma das modalidades. Em três datas distintas 25 Junho, 03 e 11 de Julho foi
contado o número de posturas nos frutos e registado o seu estado (eclodida, não eclodida, predada
ou parasitada).
A avaliação dos efeitos secundários do tratamento na fauna auxiliar do olival foi feita através
da técnica de pancadas em 10 árvores, 2 ramos por arvore e 5 repetições em diferentes datas: antes
do tratamento (07 Junho) e após o tratamento (11, 13, 25 de Junho e 11 de Julho), e da colocação de
três telas com uma área de 1m2 por modalidade de tratamento, (adaptado de Lozano et al.; 2001).
Figura 3 – Á esquerda, Aspecto das telas colocadas para a recolha dos exemplares caídos das
arvores após tratamento e á direita foto do interior da tela.
Os indivíduos recolhidos foram separados e identificados até à família no caso dos Formicidae,
Chrysopidae e Coccinelidae e identificados até à ordem nos casos de Aranea, Coleoptera,
Heteroptera, Hymenoptera e Neuroptera, por serem consideradas as de maior interesse na limitação
das populações de espécies fitófagas da oliveira, (Alrouedchi, 1980; Arambourg & Pralavorio, 1983;
Campos & Ramos, 1983; Cabanas et al., 1999).
O vingamento foi avaliado através da marcação de 2 ramos, com aproximadamente 25cm de
comprimento, em cada uma de 5 árvores por modalidade e contados o número de cachos e botões
florais existentes antes da floração, sendo posteriormente feita a contagem dos frutos vingados a 21
de Junho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise da estimativa de risco efectuada antes do tratamento, ou seja pela contagem do
número de indivíduos capturados nas armadilhas tipo Delta (Figura 4), e pela observação das
amostras de cachos florais nas quais os níveis de ataque variaram entre 38,4 e 45,2% (Quadro 1), e
de acordo com as Normas de Protecção Integrada para a cultura da oliveira em Portugal (Gonçalves &
Teixeira, 1999), a intensidade de ataque justifica a intervenção fitossanitária.
3
testem uha
250
média/armadilha/semana
tiac lopride
fentião
200
150
100
50
19
-0
720
03
12
-0
720
03
05
-0
720
03
28
-0
620
03
21
-0
620
03
14
-0
620
03
07
-0
620
03
31
-0
520
03
24
-0
520
03
17
-0
520
03
10
-0
520
03
0
Figura 4 – Curva de voo de Prays oleae Bern, onde se indica a data do tratamento (⇓) e a média de
indivíduos capturados por armadilha/semana em cada uma das modalidades. Salselas,
2003.
Apesar de o número de indivíduos capturados nas armadilhas ser diferente nas modalidades
ensaiadas, e haver uma redução das populações com o tratamento, tais diferenças não são
estatisticamente significativas quando comparadas com a testemunha. Na parcela tratada com fentião
foi onde a curva de voo apresentou uma maior redução, principalmente na semana que se seguiu ao
tratamento (Figura 4).
Quadro 1 – Percentagem de cachos florais atacados, número de ovos, percentagem de eclodidos e
predados, antes do tratamento. Salselas, 2003.
Data
% cachos
%
%
amostragem
atacados
Nº ovos
eclodidos
predados
25/05/03
38,4
135
57,8
14,1
06/06/03
45,2
149
85,9
2,7
O tratamento foi efectuado quando mais de 85% dos ovos se encontravam eclodidos (Quadro
1). A taxa de predação variou entre 2,7 e 14,1%, sendo esta ultima bastante elevada, uma vez que
Bento (1999), na região de Mirandela observou valores de predação para esta geração situados entre
4,84 e 6,68%. Ramos & Ramos (1990), num estudo de 20 anos na região de Granada, referem que
em 90% dos caso não atingem mais do que 5% de ovos predados.
No que diz respeito ao efeito dos tratamentos na mortalidade das larvas verificou-se que esta foi
maior no fentião, a qual após incubação atingiu 95,8% em T1 e 85,7 em T3. Enquanto que na
modalidade tratada com tiaclopride a mortalidade foi de 90,5 em T1 e 71,4 em T3 (Quadro 2). Embora
se tenha verificado uma maior mortalidade nas lagartas colhidas na parcela tratada com fentião, não
podemos deixar de salientar que enquanto nesta parcela a taxa de parasitismo foi nula, na parcela
tratada com tiaclopride esta foi de 14,3 em T3
É de salientar que o número de lagartas recolhido na testemunha foi bastante superior às
restantes modalidades, o que é indicativo de uma maior mortalidade nas substâncias activas
ensaiadas, visto que algumas lagartas depois de morrerem caem ao chão, como se comprovou pelas
telas colocadas.
4
Quadro 2 –Número de lagartas recolhidas um e três dias após o tratamento (T1 e T3), mortalidade
registada após colheita e período de incubação, e parasitismo observado nas modalidades
ensaiadas.
Datas
Modalidade
Lagartas
observadas
Mortalidade (%)
Após colheita
Após
incubação
Parasitadas
(%)
T1
testemunha
tiaclopride
fentião
64
42
24
0,0
66,7
83,3
7,8
90,5
95,8
14,1
0,0
0,0
T3
testemunha
tiaclopride
fentião
71
7
7
0,0
28,6
85,7
2,8
71,4
85,7
19,7
14,3
0,0
A eficácia dos tratamentos determinada pela fórmula de Abbot mostou que o fentião apresentou
uma eficácia de 95,4% em T1 e 85,3% em T3, enquanto o tiaclopride apresentou um valor máximo de
89,7% em T1 diminuindo em T3 para 70,6%. Para melhor visualização apresenta-se em seguida a
figura 5 com os respectivos resultados.
Tiaclopride
Fentião
100
% mortalidade
80
60
40
20
0
T1
T3
Figura 5 – Eficácia das substâncias activas ensaiadas calculada através da formula de Abbot.
No que diz respeito à taxa de vingamento esta foi superior no fentião (6,8%), seguida, sem
grande distância, do tiaclopride (6,4%), enquanto que na testemunha foi apenas de 2,1% (Figura 6). A
taxa de vingamento foi significativamente diferente entre as modalidades tratadas e a testemunha
(P=0,0018), não havendo diferenças entre as parcelas tratadas (P= 0,4008).
6,8
6,4
7,0
% de vingamento
6,0
5,0
4,0
2,1
3,0
2,0
1,0
0,0
fentião
tiaclopride
testemunha
Figura 6 – Percentagem de vingamento registado nas três modalidades ensaiadas. Salselas
2003.
5
Os efeitos dos produtos testados no combate à geração antófoga, fez-se sentir na geração
carpófoga, uma vez que a percentagem de frutos atacados na testemunha foi de 93,9% contra 16,8 no
tiaclorpide e apenas 12,8 no fentião (Figura 7).
fentião
tiaclopride
12,8
16,8
93,9
testemunha
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
Figura 7 - Percentagem média de frutos atacados na geração carpófoga nas modalidades
tratadas com fentião tiaclopride e na modalidade testemunha.
Estatisticamente os resultados obtidos apresentam diferenças altamente significativas (P<0,001)
quando comparamos os tratamentos com a testemunha, mas essa diferença deixa de ser significativa
quando se compara os resultados dos dois tratamentos entre si (P>0,05).
O número médio de ovos por fruto também foi superior na testemunha (3,4), comparativamente
ao tiaclopride e fentião com 1,2 (média de ovos/fruto) em ambos os tratamentos.
Efeitos na fauna auxiliar
A valorização da acção dos factores de limitação natural dos inimigos das culturas é um dos
princípios essenciais da protecção integrada e agricultura biológica, nomeadamente os predadores e
parasitoides.
No que diz respeito ao efeito das substâncias activas sobre a entomofauna do olival, os
exemplares recolhidos ao nível das telas foram identificadas as seguintes ordens: Aranea, Coleoptera,
Heteroptera, Hymenoptera, Homoptera, Neuroptera, e as famílias: Coccinelidae e Formicidae (Quadro
3)
6
Quadro 3 – Número de Auxiliares recolhidos nas telas (média ± dp), um e três dias após o tratamento
(T1 e T3), nas modalidades ensaiadas.
1 dia
Testemunha
Fentião
3 dia
Tiaclopride
Testemunha
Fentião
Tiaclopride
Formicidae
0,0 ± 0,00
0,3±0,47
0,3±0,47
0,0±0,00
0,0±0,00
0,3±0,47
Cocinelidae
0,7±0,94
4,0±1,41
4,0±2,83
0,0±0,00
1,1±2,94
3,3±0,47
Neuroptera
0,0±0,00
2,0±2,16
5,3±2,49
0,0±0,00
1,7±1,70
3,7±0,47
Heteroptera
0,7±0,94
11,0±0,82 18,0±7,87
0,3±0,47
5,0±0,82
8,3±1,25
Outros Himenoptera 0,7±0,47
12,0±6,38 27,7±6,34
0,0±0,00
12,7±6,65 35,0±8,83
0,0±0,00
1,0±0,00
Aranhas
0,0±0,00
4,0±0,82
4,7±2,87
Outros coleoptera
3,3±1,25
61,7±6,18 34,7±10,34
5,0±2,45
60,3±7,32 32,0±16,87
Forficulidae
0,0±0,00
0,0±0,00
0,0±0,00
0,0±0,00
0,3±0,47
2,0±0,85
0,0±0,00
Da análise do quadro 3 verifica-se que o tiaclopride apresentou maior toxicidade para algumas
ordens às quais pertencem um grande número de auxiliares da cultura da oliveira, como é o caso da
ordem Heteroptera, Hymenoptera e Neuroptera. O fentião apresentou-se mais tóxico para a família
Coccinelidae, o que está de acordo com a lista das substâncias activas aconselhadas em protecção
integrada (DGPC, 2003) e ordens Aranea e Coleoptera, no entanto também apresentou maior
mortalidade na praga a combater (P. oleae), bem como na espécie Euphylura olivina e ordem
Thysanoptera (Quadro 4), ambas consideradas pragas secundárias da cultura da oliveira (Pereira et
al., 2003).
Quadro 4 – Número de fitófagos (média ± dp) recolhidos nas telas, um e três dias após o tratamento
(T1 e T3), nas modalidades ensaiadas.
1 dia
3 dia
Fentião
Prays oleae
Testemun
1,3±1,89
Euphylura olivina 2,0±2,83
Thysanoptera
0,3±0,47
Tiaclopride
Fentião
Tiaclopride
24,0±9,80
4,3±3,09
Testemun
0,0±0,00
66,0±16,27
2,3±2,05
0,0±0,00
3,7±2,05
0,0±0,00
150,7±16,78 83,3±18,21
135,0±33,44 90,7±14,08
14,7±2,05
11,0±7,35
1,7±1,25
Do total de indivíduos recolhidos nas telas, apenas 89 (2%) o foram na parcela testemunha.
Como esta parcela foi tratada com água, a queda de insectos deveu-se provavelmente, à acção
mecânica exercida pela água aplicada e não a qualquer possível efeito tóxico. Na parcela tratada com
tiaclopride recolheram-se 1615 exemplares enquanto que na tratada com fentião 2123, o que
representa um acréscimo de 14% de indivíduos recolhidos. O aumento do número de indivíduos
recolhidos nas telas é indicativo de uma maior toxicidade do fentião comparativamente ao tiaclopride
(Figura 8).
7
testemunha
fentiaõa
tiaclopride
2%
42%
56%
Figura 8 – Percentagem de indivíduos recolhidos nas telas nas diferentes modalidades ensaiadas.
Salselas, 2003.
No que respeita à técnica de pancadas, foram recolhidos 5947 indivíduos agrupados pelos
grupos anteriormente referidos. De uma maneira geral, e ao longo de todo o período de amostragem
(T1 a T30 após o tratamento) foi na parcela tratada com fentião que se recolheu o menor número de
indivíduos, seguida da tratada com tiaclopride (Figura 9). Estes resultados encontram-se concordantes
com os obtidos nas telas onde o fentião se apresentou a substância activa capaz de causar maior
mortalidade. É de realçar o facto de na parcela testemunha o número de indivíduos recolhidos, pela
técnica de pancadas, ser cerca de seis vezes superior ao número de indivíduos recolhidos na parcela
tratada com o fentião (3791 na testemunha contra 635 no fentião). No que respeita à parcela tratada
com tiaclopride a redução do número total de indivíduos recolhidos foi cerca de duas vezes e meia
inferior á testemunha (1521 indivíduos recolhidos).
Heteroptera
Formicidade
Testemunha
4
Tiaclopride
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
6
Testemunha
5
Fentião
Tiaclopride
Fentião
m é d ia in d ív id u o s /r e p e tiç ã o
média indíviduos/repetição
3,5
T1
T3
T15
T30
4
3
2
1
0
T1
Coccinelidae
T30
Neuroptera
Tiaclopride
Fentião
4
3,5
3
2,5
2
1,5
T1
T3
T15
T30
Testemunha
14
m é d ia in d ív id u o s /r e p e tiç ã o
média indíviduos/repetição
T15
Testemunha
5
4,5
1
0,5
0
T3
Tiaclopride
12
Fentião
10
8
6
4
2
0
T1
T3
T15
T30
8
Outros himenoptera
Outros coleoptera
Testemunha
12
Tiaclopride
40
Fentião
35
média indív iduos /repetiç ão
m é d ia in d ív id u o s /r e p e tiç ã o
14
10
8
6
4
2
0
T3
T15
Tiaclopride
Fentião
30
25
20
15
10
5
0
T1
Testemunha
T30
T1
T3
T15
T30
Figura 9 – Número médio de indivíduos dos diferentes grupos de auxiliares recolhidos pela técnica de pancadas
um, três, quinze e trinta dias após o tratamento, Salselas, 2003.
De uma forma geral, no dia seguinte ao tratamento (T1) o número de indivíduos recolhidos nas
modalidades tratadas foi muito inferior ao da testemunha. Por exemplo nos Neuropteros, um dos
grupos de predadores mais importantes do olival, enquanto que na testemunha foram capturados
cerca de 5 indivíduos por amostra no tiaclopride apenas cerca de 0,2 enquanto que no fentião não foi
capturado nenhum indivíduo, o que indica uma elevada toxicidade quer do fentião quer do tiaclopride
para estes auxiliares. De qualquer forma a recuperação das populações de auxiliares parece fazer-se
sentir mais rápido na parcela tratada com tiaclopride que na tratada com fentião, facto que pode ser
observado em T3 na maioria dos grupos (Figura 9) houve uma aproximação do número de indivíduos
no tiaclopride ao da testemunha. Passados 15 dias e um mês após tratamento o efeito nefasto parece
ainda fazer-se sentir uma vez que as populações de auxiliares nas parcelas tratadas
comparativamente com a testemunha são ainda muito inferiores.
A toxicidade do fentião e do tiaclopride sobre a fauna auxiliar é também facilmente observada
pela taxa de predação ocorrida nas posturas da geração carpófaga. Assim, na testemunha, a taxa de
predação de ovos foi elevada (53,5%) e significativamente superior (P<0,001) às parcelas tratadas.
Na parcela tratada com fentião a taxa de predação de ovos foi ligeiramente superior ao tiaclopride, no
entanto não houve diferenças estatisticamente significativas entre as duas modalidades (Figura 10).
53,5
% ovos predados
60
50
40
30,6
27,6
30
20
10
0
te
st
un
em
ha
p
clo
tia
rid
e
fe
nt
o
iã
Figura 10 – Percentagem de ovos predados na geração carpófaga de Prays oleae Bern. nas
diferentes modalidades ensaiadas. Salselas, 2003.
9
CONCLUSÕES
Quer o fentião, quer o tiaclopride apresentaram bons níveis de eficácia contra a geração
antófaga da traça da oliveira, registando-se uma maior mortalidade de larvas na parcela tratada com
fentião. A redução das populações de traça reflectiu-se positivamente na taxa de vingamento de
frutos, sendo esta superior em cerca de três vezes nas parcelas tratadas comparativamente à
testemunha. Os efeitos dos tratamentos nas reduções das populações de traça fizeram-se sentir ainda
na geração carpófaga, onde a percentagem de frutos atacados nas modalidades tratadas foi inferior à
testemunha.
No que respeita ao efeito das substâncias activas na fauna auxiliar do olival, o fentião foi o
produto que se apresentou mais toxico, embora o tiaclopride apresentasse maior mortalidade,
registada pelo número de indivíduos recolhidos nas telas, nas ordens Heteroptera, Hymenoptera e
Neuroptera.
Podemos ainda afirmar que o tiaclopride pode apresentar-se como uma possível alternativa ao
fentião e a outros produtos de elevada toxicidade uma vez que apresenta resultados de eficácia
elevados, sendo capaz de controlar os ataques da traça da oliveira, e que apresenta menor toxicidade
para a fauna auxiliar.
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AGRADECIMENTOS:
Ao Eng.º José Eduardo Cabanas e Eng.ª Susana Pereira, pela ajuda, ensinamentos e amizade;ao
Mestre José Alberto Pereira pela revisão crítica do trabalho; ao Dr. Vilas Boas pela cedência do olival
e ao Sr. José Ribeiro pela disponibilidade e realização do tratamento fitossanitário.
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