CRISTIANE XAVIER MELO FERREIRA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE DIFERENTES MEDICAMENTOS INTRACANAIS CONTRA ISOLADOS ENDODÔNTICOS DE ENTEROCOCCUS FAECALIS 2010 i CRISTIANE XAVIER MELO FERREIRA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE DIFERENTES MEDICAMENTOS INTRACANAIS CONTRA ISOLADOS ENDODÔNTICOS DE ENTEROCOCCUS FAECALIS Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Estácio de Sá, visando a obtenção do grau de Mestre em Odontologia (Endodontia). Orientador: Prof. Dr. Julio Cezar Machado de Oliveira UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RIO DE JANEIRO 2010 ii ÍNDICE PÁG RESUMO iv ABSTRACT v INTRODUÇÃO 02 REVISÃO DE LITERATURA 05 PROPOSIÇÃO 48 MATERIAIS E MÉTODO 49 RESULTADOS 52 DISCUSSÃO 53 CONCLUSÃO 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 60 iii RESUMO A busca pela eliminação de bactérias presentes no interior dos canais radiculares infectados é um dos principais objetivos da terapia endodôntica. Enterococcus faecalis é um bactéria fortemente resistente às substâncias químicas utilizadas nos procedimentos de limpeza e desinfecção dos canais submetidos ao tratamento endodôntico. Este microrganismo é responsável pelo desenvolvimento e persistência de periodontite apical de origem endodôntica. Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito antimicrobiano de diferentes pastas preparadas à base de hidróxido de cálcio e/ou clorexidina, freqüentemente descritas na literatura para serem utilizadas como medicamento intracanal. Para isso, diferentes cepas de E. faecalis, sendo quatro cepas obtidas de amostras clínicas, foram expostas às diferentes formulações com medicamentos intracanais através do método de Difusão em Agar. Os resultados mostraram que as pastas compostas por clorexidina nas diferentes concentrações de 0,12 e 0,2% não mostraram diferença estatisticamente significativa entre si. Já quando se avaliou a ação contra E. faecalis das pastas contendo clorexidina a 2%, observou-se que a pasta associada ao hidróxido de cálcio apresentou uma ação antibacteriana significativamente inferior à pasta de clorexidina associada ao óxido de zinco, sugerindo que a associação de clorexidina com hidróxido de cálcio não oferece utilidade na terapia contra infecção endodôntica por E. faecalis. Palavras-chaves: tratamento endodôntico, medicamentos Enterococcus faecalis, clorexidina, hidróxido de cálcio. iv intracanais, ABSTRACT v INTRODUÇÃO Apesar de a diversidade microbiana ter um importante papel na patogenicidade das lesões perirradiculares, resultados recentes têm sugerido que diferentes formas de doenças perirradiculares podem apresentar etiologias bacterianas específicas. De um total de mais de 500 espécies microbianas já isoladas da cavidade oral, um grupo de aproximadamente 15-30 espécies têm sido freqüentemente detectadas em canais radiculares infectados. Estas espécies podem ser responsáveis pela maioria das doenças perirradiculares em humanos (GOMES, 2002). Enterococos estão envolvidos em uma ampla variedade de infecções em seres humanos, incluindo infecções do trato urinário, sangüíneo, endocárdio, abdômen, vias biliares, feridas e dentro de dispositivos externos (como cateteres intravasculares). Eles também podem se estabelecer como patógeno nosocomial (LIMA et al., 2001). A infecção endodôntica causada por Enterococcus faecalis costuma tornar-se um problema no tratamento de dentes comprometidos endodonticamente, pois este microrganismo é de difícil eliminação, sendo considerada a espécie bacteriana mais comumente isolada nos casos de fracasso do tratamento endodôntico (LIN et al., 2003; GOMES et al., 2008). Reconhecendo o papel dessa bactéria no fracasso da terapia do canal radicular, torna-se importante desenvolver estratégias que promovam o controle das infecções causadas por este microrganismo. 1 Muito interesse existe sobre a influência das bactérias que conseguem permanecer no interior dos canais radiculares pós-tratamento endodôntico (PETERS et al., 1995; PETERS et al., 2000; GOMES et al., 2003b). Durante a invasão tecidual, os enterococos normalmente são hábeis em lidar com condições ambientais adversas, incluindo a disponibilidade limitada de nutrientes e de acolhimento das moléculas e células de defesa. Para causar uma infecção, enterococos expressam genes favorecendo sua sobrevivência sob certas condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento. E. faecalis apresenta um elevado nível de resistência a uma vasta gama de agentes antimicrobianos e está entre as poucas bactérias facultativas associadas com a persistência da periodontite apical (LIMA et al., 2001). Estudos têm mostrado uma alta proporção de enterococcus (29 a 77%) em canais radiculares com doença perirradicular persistente. (MOLANDER et al.,1998; MÖLLER, 1996; PECIULIENE et al., 2001; HANCOCK et al., 2001; PINHEIRO et al., 2003; ROÇAS & SIQUEIRA, 2004). E.faecalis foi encontrado em alta proporção em canais que foram submetidos a longos períodos de tratamento, como 10 ou mais sessões (SIREN et al., 1997). E. faecalis apresenta grande resistência ao hidróxido de cálcio em função de sua capacidade de suportar elevada alcalinidade, resistindo a pH em torno de 11,5 (BYSTRÖM et al., 1985; HAAPASALO & ORSTAVIK, 1987; SAFAVI et al., 1990; SIQUIERA & UZEDA, 1997: EVANS et al., 2002). Por estes aspectos, sua elevada resistência e sua forte correlação com o fracasso do tratamento endodôntico, E. faecalis foi escolhido como modelo 2 microbiano neste estudo com o intuito de avaliar a atividade antimicrobiana de diferentes preparados utilizados como medicação intracanal. A clorexidina é utilizada mundialmente no controle da placa dental e recentemente tem sido sugerida como uma opção de medicação intracanal. A clorexidina é reconhecida pela sua ampla atividade antimicrobiana e sua baixa citotoxicidade, tendo sido por estes motivos, também proposta para utilização na irrigação de canais radiculares durante o tratamento endodôntico. A clorexidina é uma molécula catiônica que exerce os seus efeitos antibacterianos por perturbar a integridade da membrana citoplasmática, causando vazamento do conteúdo intracelular (ZEHNDER, 2006). O uso da clorexidina tem sido proposto em duas formas de apresentação: líquida e gel. Alguns estudos demonstram que a atividade antimicrobiana da clorexidina na forma líquida é igual ou superior a da forma gel quando utilizadas sob contato direto (FERRAZ et al., 2001; GOMES et al., 2001; VIANNA et al., 2004). O hidróxido de cálcio também é um eficaz agente antimicrobiano, sendo muitas vezes empregado como medicamento intracanal, devendo seu efeito a sua elevada alcalinidade. Entretanto alguns estudos revelaram que o curativo intracanal composto apenas por hidróxido de cálcio é ineficaz na eliminação de E. faecalis do interior do sistema de canais radiculares (BASRANI et al., 2003; LIN et al., 2003). 3 REVISÃO DA LITERATURA Um dos principais objetivos da terapia endodôntica é a eliminação de bactérias do sistema de canais radiculares. Buscamos obter a desinfecção do sistema de canais radiculares durante o tratamento endodôntico por meio da instrumentação mecânica, ação química das soluções irrigadoras e da terapia medicamentosa intracanal realizada durante as sessões do tratamento endodôntico. Apesar desses procedimentos, microrganismos, especialmente E. faecalis, podem persistir no seio do sistema de canais radiculares e sustentar a presença de periodontite apical (KOMOROWSK et al., 2000). No interior dos canais radiculares ocorre uma seleção dos microrganismos, e esta seleção se deve a fatores como: disponibilidade de nutrientes, baixo potencial de óxido redução, pH, temperatura, interações positivas e negativas entre os microrganismos, além dos mecanismos de defesa do hospedeiro e presença de agentes antimicrobianos e inibidores do crescimento. Estes fatores presentes no sistema de canais radiculares tendem a favorecer o crescimento de espécies anaeróbias estritas (GOMES et al., 1996 a; GOMES, 2002). O sucesso do tratamento endodôntico está diretamente relacionado à eliminação de microrganismos presentes nos canais infectados. Sendo assim, o uso de substâncias que auxiliem na eliminação desses microrganismos vão influenciar no alcance do sucesso do tratamento (ESTRELA et al., 2003). As bactérias são as grandes responsáveis pelo desenvolvimento de doenças pulpares e perirradiculares. Entretanto a sua eliminação através do preparo químico-mecânico e medicação intracanal tem sido um fator de 4 fundamental importância para garantia do sucesso do tratamento endodôntico (ASGARY & KAMRANI, 2008). A periodontite apical também pode se desenvolver subseqüentemente ao tratamento devido à contaminação do canal radicular por bactérias de origem coronal (KOMOROWSK et al., 2000). O propósito terapêutico da Endodontia está em atingir o nível ideal de desinfecção de raízes com necrose pulpar. A exclusão do processo patológico e sua reparação ocorrem devido à ação de diferentes agentes usados como medicamentos, tanto durante o preparo químico-mecânico quanto nos intervalos entre as sessões. Microrganismos podem colonizar espaços vazios, inacessíveis à instrumentação e aos agentes irrigadores. Embora o preparo químico-mecânico do canal radicular seja a principal forma de combate à infecção endodôntica, algumas bactérias alojadas nessas áreas podem não ser afetadas, justificando o emprego da medicação intracanal entre as sessões do tratamento para potencializar a desinfecção do sistema de canais radiculares. Sendo assim, tem sido proposto o emprego de medicação intracanal entre as sessões do tratamento para eliminar ou, pelo menos, reduzir o número de microrganismos sobreviventes, favorecendo, desta maneira, o reparo dos tecidos perirradiculares (HALIM et al., 2007). ENTEROCOCCUS FAECALIS A microbiota anfibiôntica da cavidade oral é constituída de aproximadamente 800 espécies bacterianas. Um grande número de diferentes espécies tem sido isolado de infecções endodônticas. Bactérias anaeróbias 5 estritas predominam dentro dos canais infectados, seguidas de algumas anaeróbias facultativas e, raramente, aeróbias. Um estudo analisando 100 casos de retratamento de dentes com periodontite apical detectou E. faecalis em 35% dos dentes analisados (PECIULIENE et al., 2000). Bactérias e seus produtos são considerados agentes etiológicos primários para os casos de necrose pulpar e lesão perirradicular. A sua eliminação é um dos mais importantes passos na terapia endodôntica. Os debris são considerados importantes substratos para necrose pulpar, podendo ser removidos através de procedimentos rotineiros de instrumentação e irrigação do espaço pulpar, seguido do uso de uma medicação intracanal com atividade antimicrobiana. Porém, a eficácia dessas medidas depende da vulnerabilidade das espécies envolvidas. Bactérias facultativas como E.faecalis tem sido frequentemente relatadas nos casos de fracasso da terapia endodôntica (GOMES et al., 2002). O E. faecalis apresenta uma prevalência discreta nos diagnósticos de necrose pulpar incipiente, ou seja, casos sem comprometimento patológico crônico do periodonto apical. Porém, é encontrado com alta prevalência nos casos de fracasso dos tratamentos endodônticos. Além disso, o E. faecalis está correlacionado a uma série de patologias sistêmicas importantes, o que indica a priorização do tratamento dessas infecções endodônticas e o retratamento dos casos de insucesso clínico (STUART et al., 2006; SIQUEIRA et al., 2007 b). E. faecalis tem sido um dos poucos microrganismos anaeróbios facultativos associados à flare-ups 6 (MATUSOW, 1995), às infecções secundárias e aos casos de insucesso do tratamento endodôntico (ENGSTRÖM et al., 1964; SUNDQVIST et al., 1998). SUNDQVIST em 1992 (a) enfatizou que o E. faecalis é capaz de causar e manter infecções de difícil tratamento, pois são microrganismos resistentes a uma ampla variedade de agentes antimicrobianos. Por isso, a eliminação ou a máxima redução dos microrganismos e seus subprodutos e a prevenção de reinfecção do sistema de canais radiculares têm sido os principais objetivos da prática endodôntica moderna. E. faecalis é frequentemente avaliado como indicador biológico. Alguns fatores podem explicar a grande preocupação com esse patógeno nas infecções endodônticas. Sua alta prevalência nos casos com doenças póstratamento associados com fatores de virulência (substância de agregação, proteína de superfície enterocócica – ESP, gelatinase, toxina citolisina, produção de superóxido extracelular, cápsulas de polissacarídeos, resistência a determinados antibióticos) podem facilitar a aderência à célula hospedeira e a matriz extracelular, a invasão tecidual, efeito de imunomodulação e danos causados por toxinas mediadoras (ESTRELA et al., 2008). MOLANDER et al. (1998) examinaram microbiologicamente 100 dentes com tratamento endodôntico e que apresentavam lesões perirradiculares. Os autores observaram que os microrganismos anaeróbios facultativos foram os mais prevalentes, correspondendo a 68% das cepas bacterianas isoladas. Dentre as bactérias presentes, E. faecalis correspondeu a 32% desse total, sugerindo que este microrganismo exerce um importantíssimo papel no insucesso do tratamento endodôntico. 7 Enterococos causam uma ampla variedade de infecções em humanos e comumente podem afetar o trato urinário (FELMINGHAM et al., 1992); causar bacteremia (GRANINGER & RAGETTE, 1992); infectar o endocárdio (ELIOPOLOUS, 1992), o trato biliar (KHARDORI et al., 1991), queimaduras (JONES et al, 1986) e próteses (RICHET et al., 1990). Esse gênero bacteriano também pode estar correlacionado a infecções endodônticas, embora, participe em menor proporção da microbiota inicial, a qual é predominantemente composta por espécies Gram-negativas (SUNDQVIST, 1992a; LE GOFF et al., 1997). Em contrapartida, os enterococos são freqüentemente isolados de canais de dentes obturados que apresentam patologia perirradicular crônica. E. faecalis é o responsável por 80-90% das infecções enterococais humanas (RUOFF et al., 1990). Além de ser a espécie enterococal dominante, é comumente a única espécie encontrada em casos de retratamento dos canais radiculares (DAHLEN et al., 2000). LOVE (2001) verificou que a capacidade das células do E. faecalis em causar doença perirradicular em um dente tratado endodonticamente pode depender da competência dessas bactérias em invadir túbulos dentinários e permanecerem viáveis em seu interior. O autor conseguiu demonstrar em suas pesquisas que as células desta bactéria permanecem viáveis, mantêm a capacidade de invadir túbulos dentinários e se aderem ao colágeno na presença de soro humano. ENGSTRÖM, em 1964, verificou que Enterococcus spp. estavam presentes em 20,9% das amostras de dentes com tratamento endodôntico prévio, enquanto representavam 12,1% das amostras de polpas necrosadas. O 8 autor relatou a dificuldade de eliminação destes microrganismos do interior dos canais radiculares. PINHEIRO et al. (2003), através de coletas microbiológicas de canais radiculares tratados e fracassados, verificaram que a espécie bacteriana mais freqüentemente isolada foi o E. faecalis, sendo encontrado em 52,94% dos canais radiculares com crescimento microbiano. Neste mesmo estudo, dos 27 casos com a presença deste microrganismo, E.faecalis foi encontrado isoladamente em 18 casos. PECIULIENE et al. (2000, 2001) encontraram cultura pura de E. faecalis em 5 dos 14 casos e em 11 dos 21 casos em que este microrganismo estava presente. Estes achados vão ao encontro de trabalhos como o de MOLANDER et al. (1998) e SUNDQVIST et al. (1998) que, respectivamente, encontraram o E.faecalis em 47% e 38% dos casos de retratamentos endodônticos com cultura positiva. Em estudos usando a técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), RÔÇAS et al. (2004) observaram que E. faecalis esteve mais associado aos casos assintomáticos de infecções primárias do que nos casos sintomáticos, estando a sua presença correlacionada a infecções persistentes. A prevalência deste microrganismo em infecções primárias obteve índices altos quando comparado a estudos utilizando técnicas de identificação através dos métodos de cultura bacteriana ou hibridização de DNA –DNA pelo checkerboard. Em um de seus estudos, ESTRELA et al. (2008) avaliaram 229 artigos, sendo 6 referentes a revisão de literatura, 39 relacionados a estudos in vivo (27 9 deles em humanos e 12 em animais) e 189 relacionados a estudos in vitro. Dos 39 estudos in vivo, de um total de 159 dentes com infecção endodôntica primária ou secundária, E. faecalis foi detectado em 10% dos casos pela técnica de PCR e em 26,4% dos casos pelo método de cultura. Após o processo de desinfecção (mecanismo de instrumentação associado à ação das soluções irrigadoras), E.faecalis foi identificado em 6,9% dos casos via técnica de PCR e em 7,5% dos casos pela técnica de cultura. Os autores relatam não ter encontrado nenhum estudo longitudinal em humanos investigando a eficácia de hipoclorito de sódio e clorexidina contra E.faecalis nas infecções endodônticas. Considerando estudos anteriores, SUNDQVIST et al. (1998) estudaram a microbiota presente em canais radiculares com necessidade de retratamento endodôntico. Os autores selecionaram 54 dentes obturados e que apresentavam lesão perirradicular persistente. Após remoção do material obturador, foram realizados testes microbiológicos avançados. Os dentes foram retratados e proservados por 5 anos. Os resultados mostraram que a microbiota era principalmente de espécies únicas de microrganismos Grampositivos, sendo que a bactéria que foi isolada e recuperada com maior freqüência foi o E. faecalis. Outro dado apresentado no estudo foi a taxa de sucesso nos retratamentos de 74%. Buscando investigar in vitro a invasão bacteriana no interior dos túbulos dentinários da dentina radicular, AKPATA E BLECHMAN (1982) inocularam 40 dentes extraídos com E. faecalis. Após 1, 2 e 3 semanas de incubação, cortes transversais das raízes foram realizados e avaliados histologicamente. Os 10 autores puderam observar que quanto maior o tempo de incubação, maior a invasão do E. faecalis nos túbulos dentinários, sendo essa invasão mais efetiva no terço cervical, menos no terço médio e ainda menos no terço apical. Os resultados evidenciaram a relação existente entre tempo e invasão bacteriana, bem como, o modo de distribuição dos microrganismos nos diferentes segmentos da dentina radicular. No estudo desenvolvido por GOMES et al. (2008), E. faecalis foi a espécie mais freqüentemente identificada nos canais de dentes com lesões perirradiculares, tanto quando utilizando o método de cultura como por método molecular, provavelmente, segundo os autores, por esta espécie bacteriana apresentar uma elevada capacidade de sobreviver aos efeitos do tratamento do canal radicular e à escassez de nutrientes, persistindo como um patógeno em canais radiculares e túbulos dentinários tratados. Estes autores procuraram investigar a presença de nove espécies bacterianas nas raízes de dentes associados às lesões parirradiculares, utilizando-se da técnica da PCR, correlacionando a clínica dos casos com a presença dessas bactérias nas raízes dos dentes avaliados. E. faecalis foi a espécie mais prevalente, sendo detectada em 35 dos 45 casos avaliados (77,8%). Os resultados deste estudo indicaram que E. faecalis foi a espécie mais freqüentemente identificada pelo teste PCR em dentes com ou sem tratamento endodôntico. Todos estes dados relatados indicam que o E. faecalis possui um papel patogênico no insucesso de tratamentos endodônticos. Alguns estudos sugerem que a virulência dessa bactéria pode estar relacionada à resistência a certos medicamentos e à capacidade de sobrevivência no interior dos canais 11 radiculares como um microrganismo simples e sem a necessidade de outras bactérias para sua subsistência (FABRICIUS et al., 1982). CLOREXIDINA A clorexidina foi desenvolvida no final de 1940 nos laboratórios da Imperial Chemical Industries Ltd. (Macclesfield, Inglaterra). Inicialmente, uma série de polibiguanidas foram sintetizadas para a obtenção de substâncias antivirais. No entanto, como tinham pouca eficácia, foram postos de lado, sendo redescobertos alguns anos mais tarde como agentes antibacterianos. A clorexidina é composta estruturalmente por dois anéis fenólicos nas extremidades, ligados a um grupamento biguanida de cada lado. Esta bisbiguanida catiônica (carregada positivamente) é uma base forte, sendo considerada a mais potente das biguanidas. A forma de sal oferece maior solubilidade e os primeiros sais apresentados foram os de acetato e cloridrato de clorexidina, entretanto ambos relativamente pouco solúveis em água. O sal digluconato em solução aquosa tem sido o mais utilizado na Odontologia. (LOPES & SIQUEIRA, 1999; ZEHNDER, 2006). Figura 1: Estrutura Química da Clorexidina 12 A clorexidina é um antimicrobiano de largo espectro. O mecanismo de ação da clorexidina está relacionado à sua estrutura molecular de bisbiguanida catiônica. A molécula catiônica é absorvida para o interior da membrana celular (carregada negativamente), causando fuga dos componentes intracelulares. Em baixas concentrações, apresenta função bacteriostática. Em concentrações mais elevadas provocará a coagulação e precipitação do citoplasma, apresentando, portanto, função bactericida (LIN et al., 2003). A clorexidina, por ser um agente catiônico, é capaz de se conectar aos componentes aniônicos da superfície bacteriana (grupos fosfatos do ácido teicóico de bactérias Gram-positivas e lipopolissacarídeos de bactérias Gramnegativas), desenvolvendo dessa forma intensa atividade antibacteriana. Essa alteração da permeabilidade da membrana citoplasmática promove precipitação de proteínas citoplasmáticas, altera o balance osmótico, interfere no metabolismo, crescimento, divisão celular, inibe a enzima ATPase e o processo de anaerobiose. Uma outra vantagem é poder ser indicada para pacientes que apresentam alergia a outras substâncias, como ao hipoclorito de sódio, por exemplo, (ESTRELA et al., 2003). A clorexidina é classificada como um composto halogenado, sendo aplicado na odontologia como solução aquosa nas concentrações de 0,2 a 2,0%, compondo a formulação de diferentes tipos de colutórios bucais. Essa substância é incolor e inodora, com uma maior estabilidade em pH de 5 a 8. O soluto mais comum das soluções de clorexidina é o sal digluconato de clorexidina (PÉCORA, 2004). 13 Em 1973, FOULKES relatava que o digluconato de clorexidina na forma líquida já era utilizado desde 1957, com boa aceitação entre as concentrações de 0,2% a 2% sobre tecidos cutâneos. A clorexidina é uma base mais estável como sal (gluconato, acetato ou hidrocloreto). Para o uso oral é indicada na forma de sal digluconato, pois é solúvel em água e em pH fisiológico possui a capacidade de dissociar-se em moléculas carregadas positivamente. A aplicação da clorexidina pode ser feita nas formas tópica, imersão e bochechos. Quando em contato com a cavidade oral, a clorexidina sofre adsorção nos dentes, língua e mucosa oral. A ligação aos mucopolissacarídeos salivares e a hidroxiapatita é reversível, de forma que, quando baixa a concentração da substância no meio oral, a clorexidina é liberada. Esta propriedade é chamada de efeito residual ou substantividade. (RÖLLA et al., 1974; RÖLLA et al., 1975; HULL, 1980; ROSLING et al., 1983). Um dos primeiros estudos sugerindo a utilização da solução de clorexidina no tratamento endodôntico foi o trabalho de PARSONS et al. (1980). Neste estudo, os autores buscaram observar a adsorção e liberação da solução de clorexidina por polpas bovinas e amostras de dentina assim como suas propriedades antibacterianas após uma contaminação proposital por E. faecalis. Como resultado, foi observado que as amostras, após serem tratadas com clorexidina, não evidenciaram contaminação depois de 48 e 72 horas de exposição à bactéria. Confirmaram, com isso, que a clorexidina oferece um efeito residual, abrindo caminho para estudos futuros dessa substância como um irrigante endodôntico. 14 A substantividade, ou seja, o efeito residual da clorexidina ocorre no interior dos canais radiculares, assim como na cavidade oral (KOMOROWSKY et al., 2000). Devido a sua substantividade, quando a clorexidina é usada como medicação intracanal, tanto em solução pura quanto em associação com hidróxido de cálcio, mantém um íntimo contato com tecidos perirradiculares por um longo período. Entretanto, o conhecimento do seu comportamento sobre esses tecidos é de fundamental importância. Por esse motivo, SEMENOFF et al. (2008) realizaram um estudo para mostrar a resposta tecidual da submucosa bucal de ratos Wistar frente à solução de clorexidina 2%, hidróxido de cálcio e a associação de ambos os produtos. Para esse experimento, 30 espécies foram randomizadamente implantadas com filtros contendo as substâncias distribuídas da seguinte forma: solução de clorexidina 2%, hidróxido de cálcio e solução de clorexidina 2% (grupo teste), hidróxido de cálcio de água destilada e água destilada como grupo controle. Os ratos foram avaliados nos intervalos de 7, 15 e 30 dias. As seções histológicas foram coradas com hematoxilina e eosina. A análise foi realizada em microscopia ótica de 100X, 200X e 400X. Os autores fazem algumas citações de estudos anteriores que revelaram que a clorexidina, em baixa concentração, foi capaz de causar ligeiro aumento na migração de neutrófilos, enquanto que em alta concentração, realizou uma redução dessa migração. Baseado em seus resultados, os autores concluíram que não houve diferença estatisticamente significante entre os materiais testados, entretanto, todos os materiais mostraram uma redução da severidade da reação inflamatória ao longo do tempo de intervalo. 15 KHADEMI et al (2006) avaliaram a substantividade do digluconato de clorexidina 2%, hipoclorito de sódio 2,6% e doxicilina em dentes que foram contaminados por período de 14 dias com cepas de E.faecalis. A efetividade das substâncias foi mensurada imediatamente ao início do experimento e após 7, 14, 21 e 28 dias. No estudo, os autores relataram que no período imediato todas as substâncias apresentaram maior atividade antimicrobiana e que esta atividade foi diminuindo com o passar do tempo. Dentre as substâncias avaliadas, a clorexidina apresentou efeito residual superior às demais substâncias testadas. O digluconato de clorexidina vem demonstrando ter propriedades antimicrobianas de longa duração (ação residual) devido à sua capacidade de se ligar reversivelmente às superfícies dentais, hidroxiapatita e mucinas salivares, podendo se desligar dessas estruturas mediante a elevação do gradiente de concentração. Portanto, o digluconato de clorexidina adsorve-se nos tecidos dentais, sendo liberado quando a concentração no meio se reduz. Essa atividade resultante da adsorção e da subseqüente liberação da clorexidina no meio pela dentina é denominada de substantividade. Essa capacidade antimicrobiana de longa duração é demonstrada, especialmente, contra o E. faecalis. (ZAMANY et al., 2003; KOMOROWSKI et al., 2000; BASRANI et al., 2002; SOARES et al., 2007, GOMES et al., 2006). PARSONS et al. (1980) analisando a ação da clorexidina como solução química auxiliar ao preparo químico mecânico dos canais radiculares, observaram a adsorção e liberação da solução de clorexidina em polpas bovinas e em amostras de dentina. No mesmo experimento, eles também 16 verificaram as propriedades antibacterianas da clorexidina contra E. faecalis. Os autores relataram que as amostras que foram tratadas com clorexidina, não evidenciaram contaminação depois de 48 e 72 horas de exposição à bactéria. LENET et al. (2000) compararam a substantividade da clorexidina gel e líquida com a pasta de hidróxido de cálcio, pela variação de densidade óptica. Canais radiculares bovinos foram preparados segundo técnica padronizada e, preenchidos com as substâncias citadas, por um período de 7 dias. Decorrido este período, as medicações foram removidas e foi realizada a inoculação de E. faecalis no interior dos canais radiculares por 21 dias. Os resultados demonstraram que os canais radiculares bovinos preenchidos com gel de clorexidina 2%, mesmo depois de removida a medicação, permaneceram apresentando atividade antimicrobiana. Vários estudos têm apontado para a potencial vantagem do uso de gluconato de clorexidina como um medicamento antimicrobiano na terapia endodôntica. A clorexidina possui um largo espectro antimicrobiano podendo, portanto, ser usada efetivamente como solução irrigadora, desinfetando os túbulos dentinários (LOPES & SIQUEIRA, 1999; ZEHNDER, 2006). Os canais radiculares que apresentam uma anatomia complexa, que limitam a ação mecânica dos instrumentos endodônticos necessitam do auxílio de substâncias que apresentem atividade antimicrobiana com amplo espectro de ação, baixa toxicidade, e não sejam alergênicas, de forma a trabalharem como adjunto na redução da carga bacteriana presente nos canais infectados. (FERRAZ et al., 2007) 17 Diversos estudos têm relatado que bactérias podem permanecer viáveis em ramificações, istmos e túbulos dentinários no sistema de canal radicular mesmo depois de completado o preparo químico-mecânico. Portanto, tem sido recomendado durante o tratamento do canal o uso de medicamento intracanal com ação antibacteriana, tais como gluconato de clorexidina e hidróxido de cálcio. Devido às suas propriedades antimicrobianas, estes medicamentos buscam também minimizar uma possível reinfecção do sistema de canais radiculares (MORRIER et al., 2003). HELING et al. (1992 b) procuraram avaliar o efeito da solução de clorexidina como medicação intracanal, por meio de estudo in vitro, utilizando cilindros de dentina bovina inoculadas com E. faecalis. Os medicamentos testados foram: solução de gluconato de clorexidina 0,2%, gluconato de clorexidina num dispositivo de liberação controlada (1,2 mg) e paramonoclorofenol canforado. Após análise microbiológica das raspas de dentina coletadas, eles observaram que tanto a solução de clorexidina 0,2% quanto o dispositivo de liberação lenta contendo 1,2 mg de clorexidina a 20% e o paramonoclorofenol canforado se mostraram efetivos em dentina até a profundidade de 0,5 mm nos tempos experimentais de 24, 48 horas e 7 dias. Um novo estudo foi realizado para analisar o efeito antimicrobiano da clorexidina a 2% e do paramonoclorofenol a 2%, ambos em veículo gel, frente ao E. faecalis. Discos de dentina bovina com canais padronizados foram inoculados com E. faecalis. Após aplicação da medicação, clorexidina veiculada em natrosol ou paramonoclorofenol veiculado em carbopol, os espécimes foram incubados a 37 °C por 24 horas. Raspas de dentina foram 18 coletadas para realização do teste de cultura. A partir dos resultados, eles puderam concluir que o digluconato de clorexidina a 2% apresentou-se mais eficaz na eliminação do microrganismo que o paramonoclorofenol a 2% (GUIMARÃES et al., 2001). Estudos prévios demonstraram a ação antimicrobiana da clorexidina em dentina de canal radicular tratado após um período de até sete dias póstratamento. Este estudo avaliou in vitro a ação antimicrobiana da clorexidina, que foi usada como um medicamento intracanal, por um período de uma semana em raízes de dentes bovinos. Tais resultados mostraram que os elementos tratados com clorexidina por sete dias demonstraram significativamente menos colonização de E. faecalis que os outros espécimes. A clorexidina quando aplicada intracanal tem potencial ação medicamentosa, devendo ser aplicada por um período de pelo menos sete dias (KOMOROWSK et al., 2000). LIMA et al. (2001) buscaram mostrar a eficácia da clorexidina na eliminação de E. faecalis presente em biofilmes induzidos por períodos de um e três dias em filtros de membrana de nitrato de celulose. Os resultados mostraram que de todos os medicamentos testados, apenas o medicamento contendo solução de clorexidina a 2% foi capaz de eliminar completamente o biofilme de um e três dias de indução. Sendo assim, os resultados deste estudo indicaram que a clorexidina pode exercer um importante papel na erradicação da infecção endodôntica associada com dentes que eram refratários à terapia endodôntica convencional. 19 Os casos de retratamento requerem o uso de medicamentos intracanal que eliminem ao máximo o número de bactérias, previna sua proliferação, aja como barreira contra a reinfecção e oferta de nutrientes. Alguns autores comentam sobre estudos anteriores que mostraram bons resultados em dentes anteriores que foram retratados usando pasta de hidróxido de cálcio. Alguns estudos mostraram que o uso de hidróxido de cálcio na forma de pasta aplicado em intervalos de 7 dias foi capaz de eliminar e/ou reduzir o número total de bactérias sobreviventes ao preparo químico-mecânico. Já a clorexidina tem sido proposta tanto como irrigante quanto medicação intracanal nos casos de tratamento endodôntico em função da sua eficácia como agente antimicrobiano de largo espectro. O seu uso é muito comum na Odontologia, fazendo parte da rotina dos procedimentos de terapia periodontal e prevenção de cáries (ERCAN et al., 2007). Buscando comprovar sua capacidade antimicrobiana, estudo de DELANY et al. (1982) avaliaram a solução de clorexidina 0,2%, empregando-a em 40 dentes com polpa necrosada e recém extraídos. Os canais foram preparados utilizando solução salina ou clorexidina como solução irrigadora. Após o período de 24 horas, foram realizadas coletas microbiológicas dos canais radiculares. Os autores concluíram que a clorexidina colaborou com a redução da quantidade de microrganismo após preparo químico-mecânico. O grande objetivo da Endodontia é atingir a anti-sepsia dos canais radiculares com a instrumentação e a irrigação. Busca-se a desinfecção e o saneamento, reduzindo ao máximo o número de microorganismos presentes tanto na luz do canal principal como no sistema de canais radiculares. Porém, a 20 presença dos microrganismos em locais inacessíveis do sistema de canais e nas profundezas da massa dentinária faz com que eles persistam mesmo após um cuidadoso preparo químico-mecânico. Assim, o uso de substâncias antisépticas como medicamentos intracanais para o combate de microrganismos persistentes ao preparo químico-mecânico tem sido recomendado por muitos pesquisadores. Contudo, tem-se constatado, ainda, resistência de alguns microrganismos, principalmente do E. faecalis, frente à ação anti-séptica de muitos medicamentos intracanais (DUARTE et al., 1997). Os medicamentos intracanais são utilizados como agentes antibacterianos para eliminar bactérias residuais de um canal radicular após a sua instrumentação e irrigação. Tais medicamentos buscam tornar inertes os conteúdos restantes do canal, dissolver tecidos, atuar como uma barreira física e controlar a infiltração apical persistente de fluidos para o sistema de canais radiculares. A clorexidina demonstrou ser mais eficaz contra microrganismos Gram-positivos do que microrganismos Gram-negativos. Estudos compararam in vitro a ação antimicrobiana de Dermacyn, Biopure MTAD, solução de clorexidina a 2% e solução de NaOCl a 5,25% sobre cultura de E. faecalis. Os resultados indicaram que Biopure MTAD apresentou uma maior zona de inibição nas amostras microbianas aeróbias e anaeróbias quando comparado com clorexidina 2% e NaOCl 5,25%. As zonas de inibição para NaOCl 5,25% e clorexidina 2% não foram diferentes entre si, mas ambos resultaram em maiores zonas de inibição que as apresentadas por Dermacyn e o controle, que por sua vez não mostraram diferenças entre si em relação ao halo de inibição (DAVIS et al., 2007). 21 A primeira referência ao emprego do hidróxido de cálcio é atribuída a Nygren, em 1838, para o tratamento da fístula dentalis. Somente em 1975 o hidróxido de cálcio passou a ser empregado com curativo de demora em dentes com necrose pulpar. O hidróxido de cálcio é uma base forte (pH 12,8) que se apresenta na forma de um pó branco. Suas propriedades são derivadas dos íons de cálcio e hidroxila, formados a partir de sua dissociação (LOPES & SIQUEIRA, 1999). Segundo ESTRELA (1997), a variação do pH reflete no crescimento bacteriano, uma vez que influencia a atividade enzimática. A velocidade das reações químicas favorecidas pelas enzimas é influenciada pelo substrato. Estas enzimas podem estar presentes tanto extra como intracelularmente. As enzimas extracelulares atuam sobre os nutrientes, carboidratos, proteínas e lipídeos que, por meio das hidrolases, favorecem a digestão. As enzimas localizadas na membrana citoplasmática estão relacionadas com o transporte de substâncias para dentro e para fora da célula, com a atividade respiratória e com a estruturação da parede celular. O transporte pela membrana é fundamental, pois, para suas complexas reações metabólicas, crescimento e reprodução, há necessidade do controle do fluxo de nutrientes (BAZIN & PROSSER, 1988; NEIDHART, 1990; NISENGARD & NEWMAN, 1994). Especula-se que o hidróxido de cálcio quando colocado no interior do canal radicular, em contato direto com a dentina e em presença de água, realize, através da ionização do cálcio e da hidroxila, a alcalinização do meio. Ao alcançar o interior dos túbulos dentinários, os íons hidroxila mudam o pH da dentina deixando o ambiente inadequado à sobrevivência da maioria dos 22 microrganismos. A variação do pH em função do tempo foi estudada por NERWICH et al. (1993). O hidróxido de cálcio foi empregado como medicação intracanal em dentes humanos extraídos e os valores de pH foram mensurados por um período de 4 semanas. As alterações de pH observadas permitiram concluir que são necessários de 1 a 7 dias para que o hidróxido de cálcio alcance a dentina radicular externa. Os valores mais altos de pH foram encontrados no terço cervical. A pasta de hidróxido de cálcio é frequentemente utilizada na Endodontia em função da sua capacidade de atuar como barreira física, prevenindo a reinfecção do canal, interrompendo o suprimento de nutrientes para as bactérias remanescentes (SIQUEIRA et al., 1999). O hidróxido de cálcio apresenta ótima ação biológica, ação anti-séptica pelo pH elevado e inibição enzimática microbiana, neutralizador de LPS bacteriano e promove a reparação tecidual por meio da ativação enzimática do hospedeiro. No entanto, não é eficiente à distância e apresenta rendimento razoável contra E. faecalis. Já o digluconato de clorexidina possui ações complementares ao do hidróxido de cálcio. Ela age à distância, mostra efeito antimicrobiano residual, substantividade e é eficaz contra E. faecalis (ESTRELA et al., 2001; SIQUEIRA et al., 2007b). O hidróxido de cálcio tem seu uso defendido como uma medicação intracanal devido as suas propriedades bactericidas. A clorexidina tem sido defendida como uma eficaz solução irrigadora devido a sua atividade antimicrobiana contra microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos. Alguns estudos têm investigado a eficácia de uma mistura de hidróxido de 23 cálcio e clorexidina para utilização como um agente antibacteriano contra microrganismos persistentes nos túbulos dentinários. Um desses estudos procurou avaliar a atividade antimicrobiana de vários medicamentos em dentina de canais infectados com E. faecalis. Neste estudo foi avaliado e comparado o efeito antimicrobiano de hidróxido de cálcio e de uma preparação comercial de gluconato de clorexidina 0,12% após um período de 24 horas. Os medicamentos foram testados isoladamente e em combinação, em diferentes profundidades nos túbulos dentinários infectados com o microrganismo. A hipótese era de que a combinação do hidróxido de cálcio e do gluconato de clorexidina pudesse produzir um maior efeito bactericida sobre E. faecalis do que qualquer medicação por si só, entretanto os autores encontraram uma atividade mais pronunciada na formulação que continha apenas hidróxido de cálcio (LYNNE et al, 2003). Muitos estudos demonstraram que hidróxido de cálcio não exerce apenas um efeito antimicrobiano. Também é capaz de neutralizar endotoxina bacteriana. Para facilitar a sua aplicação, guta-percha contendo hidróxido de cálcio foi desenvolvida recentemente. Já a clorexidina é conhecida pela capacidade de se vincular aos tecidos duros e exercer um efeito residual. Apesar de não ser capaz de neutralizar endotoxina bacteriana, a clorexidina é capaz de eliminar bactérias Gram-negativas e Gram-positivas. Muitos estudos avaliam a utilização de clorexidina como solução irrigadora como um suplemento para instrumentação mecânica. As propriedades antimicrobianas da clorexidina sugerem que esta poderia ser uma boa opção para uso como curativo, desde que um adequado sistema de emprego seja utilizado. 24 Recentemente, guta-percha contendo clorexidina foi introduzida, permitindo fácil inserção em canais radiculares. Inicialmente, um total de 70 raízes estéreis acessadas foram acompanhadas durante uma semana na cavidade oral de dois voluntários. As raízes foram removidas e as amostras foram obtidas a partir do canal radicular para realização da análise microbiana. As raízes foram medicadas com pasta de hidróxido de cálcio, gel de clorexidina a 5% e uma mistura de clorexidina-hidróxido de cálcio. Os acessos foram fechados com material de colagem e as raízes incubadas durante 1 semana. Após a remoção dos agentes antimicrobianos, as raízes foram novamente marcadas para o crescimento bacteriano. Um papel embebido com tioglicolato foi introduzido em cada canal, e as raízes foram incubadas por mais 1 semana para observar o crescimento bacteriano. Após 1 semana com medicação, houve resultado satisfatório, com redução do crescimento bacteriano em 71% dos casos que usaram gel de clorexidina, 86% dos casos com hidróxido de cálcio e em 21% dos casos para mistura de clorexidina e hidróxido de cálcio, sugerindo que o hidróxido de cálcio poderia interferir com a capacidade antibacteriana da clorexidina quando da sua associação a esta na medicação intracanal (BARTHEL et al., 2002). Em 1993, um estudo foi realizado por VAHDATY et al. (1993) para avaliarem in vitro o efeito desinfetante da clorexidina 0,2% e 2%, de hipoclorito de sódio 0,2% e 2%, e o soro fisiológico sobre os túbulos dentinários infectados com E. faecalis. Raízes de incisivos bovinos foram preparadas em forma cilíndrica, esterilizadas e infectadas com E. faecalis. Os canais radiculares foram irrigados com as substâncias testadas e amostras de dentina foram 25 removidas nas profundidades de 100, 100-300 e 300-500 µm, para verificar a presença e a quantidade dos microrganismos resistentes. Os resultados revelaram que a clorexidina e o hipoclorito de sódio foram igualmente eficazes como agentes antimicrobianos contra E.faecalis em concentrações similares até uma profundidade de 100µm no interior dos túbulos dentinários. JUNG et al. (1999) conduziram um estudo para avaliação da eficiência da solução de clorexidina em comparação ao hipoclorito de sódio na prevenção de reinfecção coronária de dentes submetidos a tratamentos endodônticos. Foram utilizados canais de dentes bovinos, instrumentados, autoclavados e imersos em clorexidina, solução de hipoclorito de sódio ou solução salina, por 5 minutos, antes de serem obturados. As raízes foram montadas de tal forma que a porção coronária pudesse ser colocada em contato com as bactérias e o ápice radicular ficasse imerso em meio de cultura. Como resultado, os autores observaram uma turbidez do meio em 80% dos espécimes tratados com solução salina e 70% dos tratados com solução de hipoclorito de sódio após 24 horas. O tratamento com solução de clorexidina apresentou a turbidez do meio após o mesmo período estabelecido em apenas 20% dos espécimes, demonstrando assim uma maior eficiência na prevenção da infiltração bacteriana. CHANG et al. (2001) estudaram o efeito do hipoclorito de sódio e da clorexidina em cultura de células. Os autores observaram que o hipoclorito de sódio é lesivo aos tecidos quando em alta concentração e a intensidade dessa ação é dependente do tempo de exposição sobre os tecidos. Somente a clorexidina inibiu a síntese de proteína, mas ambas a substâncias interferiram 26 na atividade mitocondrial. Com isso, os autores concluíram que tanto o hipoclorito de sódio quanto a clorexidina, dependendo da concentração e do tempo de exposição dos tecidos, são prejudiciais aos tecidos vivos. FERRAZ et al. (2001) compararam in vitro a atividade antimicrobiana e a capacidade de limpeza do gluconato de clorexidina 2% líquida e em gel, hipoclorito de sódio 5,25% e água destilada. Por meio da microscopia eletrônica de varredura, observaram que a clorexidina em gel promoveu melhor limpeza das paredes dos canais radiculares. A sua incapacidade de dissolver tecido orgânico foi superada pela ação mecânica do instrumento. Os resultados mostraram que não houve diferença na atividade antimicrobiana das substâncias avaliadas. Portanto, os autores concluíram que a clorexidina em gel tem potencial para ser utilizada na Endodontia, pois apresenta ação antimicrobiana significativa. Uma pesquisa semelhante foi realizada por GOMES et al (2001) onde eles avaliaram in vitro a eliminação do E. faecalis utilizando várias concentrações de hipoclorito de sódio (0,5%; 1%; 2,5%, 4% e 5,25%) e clorexidina gel e líquida (0,2%; 1% e 2%). Foram misturados 2 ml de suspensão bacteriana com os irrigantes estudados e colocados em contato por 10, 30 e 45 segundos; 1, 3, 5, 10, 20 e 30 minutos; 1 e 2 horas. Após a análise microbiológica, eles constataram que todos os irrigantes possuem ação antimicrobiana contra o E. faecalis. O tempo necessário para a clorexidina gel 2%, 1% e 0,2% promover culturas negativas foi de 1 minuto, 15 minutos e 2 horas, respectivamente. A clorexidina na forma líquida, em todas as concentrações testadas (0,2%, 1% e 2%), e o hipoclorito de sódio 5,25% foram 27 os irrigantes mais efetivos, demorando 30 segundos ou menos para inativarem o E. faecalis. TANOMARU FILHO et al. (2002) compararam o grau de inflamação de alguns irrigantes endodônticos injetados no interior da cavidade peritonial de ratos. Foram utilizados 60 ratos, os quais receberam 0,3 ml de: hipoclorito de sódio 0,5%, clorexidina 2% ou PBS (solução controle). Os animais foram sacrificados após 4h, 24h, 48h, 7dias e o líquido da cavidade peritonial de cada animal foi coletado para quantificação da inflamação. Os resultados demonstraram que o hipoclorito de sódio 0,5% causou irritação tecidual e intensa resposta inflamatória, enquanto que a clorexidina 2% mostrou-se biocompatível, podendo sugerir alternativa ou complemento ao hipoclorito de sódio durante a irrigação. Já GOMES et al. (2003 a) realizaram um estudo in vitro para verificar o tempo necessário para a recontaminação coronária em dentes que tiveram como medicação intracanal hidróxido de cálcio, clorexidina gel 2% ou a associação de ambos. No grupo controle, sem medicação intracanal e selamento coronário, a contaminação aconteceu no dia seguinte à incubação. No grupo dos dentes sem selamento coronário, a recontaminação ocorreu após 3 dias. Foram necessários 7 dias para recontaminar na presença de clorexidina, 1,8 dias para o hidróxido de cálcio e 2,6 dias para o grupo do hidróxido de cálcio + clorexidina gel 2%. Já nos dentes que foram selados com IRM, a recontaminação ocorreu em 13,5 dias com a presença de clorexidina, 17,2 com o hidróxido de cálcio e 11,9 dias com a associação hidróxido de cálcio + clorexidina gel 2%. Os autores concluíram que o selamento coronário 28 não previne totalmente a microinfiltração coronária e não houve diferença estatisticamente significativa entre os diferentes tipos de medicamentos utilizados. SOUSA (2000) avaliou a eficácia antibacteriana do digluconato de clorexidina em gel a 2%, do hidróxido de cálcio (Calen®) e da associação de ambos quando utilizados como medicação intracanal. As substâncias foram testadas em cilindros contendo dentina bovina contaminada com E. faecalis. A análise microbiológica revelou que a clorexidina em gel a 2% foi mais efetiva sobre esse microrganismo e que sua ação antibacteriana é dependente do tempo que ela permanece no interior do canal. Em 2002, ALMYROUDI et al. compararam in vitro a efetividade de quatro substâncias químicas usadas como medicação intracanal: hidróxido de cálcio, gel de clorexidina, PerioChip (uma fórmula de clorexidina em pastilha) e uma mistura de gel de clorexidina com hidróxido de cálcio. Solução salina foi usada como grupo controle. As substâncias foram testadas em 3 diferentes períodos (3, 8 e 14 dias), utilizando dentes humanos previamente contaminados por E. faecalis. Os resultados mostraram que o hidróxido de cálcio eliminou os microrganismos em 3 e 8 dias, mas não foi eficaz no grupo de 14 dias, provavelmente devido a uma queda de pH. A clorexidina, nas diferentes formulações, foi eficaz na eliminação de E. faecalis dos túbulos dentinários, sendo observado um melhor resultado com a utilização da clorexidina na forma de gel. SUKAWAT & SRISUWAN (2002) realizaram um estudo comparando a eficácia antibacteriana de 3 diferentes formulações de hidróxido de cálcio 29 usando dentina humana infectada com E. faecalis. Esse material foi exposto às três apresentações de hidróxido de cálcio (hidróxido de cálcio misturado com água destilada, hidróxido de cálcio misturado com 0,2% de clorexidina, e hidróxido de cálcio misturado com paramonoclorofenol canforado), durante um período de 7 dias. A quantidade de dentina infectada obtida passou por uma análise espectrofotométrica. Verificou-se que o hidróxido de cálcio misturado com paramonoclorofenol canforado eliminou E. faecalis presente no interior dos túbulos dentinários. Este resultado foi melhor do que o obtido com hidróxido de cálcio misturado com água destilada ou com clorexidina 0,2%. Hidróxido de cálcio misturado com água destilada e hidróxido de cálcio misturado com 0,2% de clorexidina se mostraram ineficazes contra estas bactérias. Já o estudo de LIN et al. (2003) também comparando o efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio, clorexidina e a combinação de ambos contra E. faecalis, relata que quando comparada ao hidróxido de cálcio, a clorexidina mostrou melhor efeito antibacteriano. A combinação de hidróxido de cálcio e clorexidina apresentou melhor efeito antimicrobiano que o hidróxido de cálcio sozinho, mas esta combinação não mostrou melhor efeito antibacteriano que o da clorexidina sozinha, corroborando os achados de BARTHEL et al. (2002) de que o hidróxido de cálcio além de não aumentar a eficácia da clorexidina teve o efeito de diminuir sua atividade antibacteriana. O efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio é obtido principalmente a partir de sua elevada alcalinidade. Com a presença de agentes tamponantes, apesar do hidróxido de cálcio se difundir muito bem através do Agar, o valor do pH pode 30 não ter sido suficiente para permitir a realização de uma atividade antibacteriana semelhante à da clorexidina. Um estudo foi realizado por ESTRELA et al. (2003) para testar o efeito antimicrobiano de 2 soluções irrigadoras: clorexidina a 2% e hipoclorito de sódio na mesma concentração. Os efeitos apresentados por ambas as soluções foi analisado através de dois métodos: difusão em Agar e teste de exposição direta de microrganismos com diferentes características estruturais. Dentre os microrganismos testados, foi incluída cepa de E. faecalis. Os resultados mostraram que tanto a clorexidina quanto o hipoclorito, ambos na concentração de 2%, apresentaram efeito antimicrobiano contra os indicadores biológicos testados. Porém o hipoclorito de sódio apresentou uma melhor performance do seu efeito no teste de exposição direta, enquanto que a clorexidina desenvolveu melhor resultado no teste de difusão em Agar. Os autores especularam se o resultado se deveu ao fato de que no teste de difusão em Agar, o tamanho da zona de inibição depende tanto da solubilidade quanto da difusibilidade da substância testada. Já no teste de exposição direta, o resultado está correlacionado à eficácia da substância e ao contato direto com o microrganismo. Os autores fazem citações de outro trabalho realizado também por eles, onde se buscou determinar a ação mínima inibitória de hipoclorito de sódio a 1% e clorexidina a 2% contra alguns microrganismos, dentre eles, E. faecalis. Os resultados mostraram que o hipoclorito de sódio foi capaz de inibir E. faecalis a 0,1% e que a clorexidina mostrou efeito inibitório para E. faecalis a 0,02%. 31 Novamente um estudo foi realizado para avaliar a efetividade antibacteriana da clorexidina gel 2% e do hidróxido de cálcio sobre E. faecalis. Segundo GOMES et al. (2003 b), a clorexidina inibiu completamente o crescimento bacteriano nos períodos de 1, 2, 7 e 15 dias, já o hidróxido de cálcio permitiu o crescimento bacteriano em todos os períodos. A associação de ambos mostrou-se efetiva nos 2 períodos iniciais apenas (1 e 2 dias). ESTRELA et al. (2003) avaliaram o efeito antimicrobiano do hipoclorito de sódio 2% e da clorexidina 2% por meio de dois métodos: difusão em Agar e exposição direta. Cinco microrganismos, dentre eles E. faecalis, foram utilizados. As cepas foram inoculadas em BHI e incubadas a 37ºC por 24 h. Para o teste de difusão em Agar, placas de Petri foram inoculadas com as suspensões microbianas, discos de papel foram imersos nas substâncias experimentais durante 1 min e, a seguir, discos de papel contendo uma das substâncias irrigadoras foram colocados sobre a superfície do BHI. As placas foram mantidas por 1 h em temperatura ambiente, e incubadas a 37ºC por 48 h. Para o teste de exposição direta, pontas de papel absorvente foram imersas na suspensão experimental por 5 min., colocadas sobre uma placa de Petri e cobertas com 10 ml de uma das substâncias irrigantes, ou com a água destilada. Em intervalos de 5, 10 e 30 min, as pontas de papel foram removidas do contato com as substâncias teste e individualmente transportadas, imersas em Letheen Broth e incubadas a 37ºC for 48 h. O crescimento microbiano foi avaliado pela turbidez do meio de cultura. Um inóculo obtido do Letheen Broth foi transferido para o BHI e incubado nas mesmas condições descritas. O crescimento microbiano foi novamente avaliado pela turbidez do meio de 32 cultura. Os resultados mostraram efetividade antimicrobiana para as duas substâncias irrigadoras testadas. A magnitude do efeito antimicrobiano foi influenciada pelo método experimental, pelos microrganismos e pelo tempo de exposição. VIANNA et al. (2004) avaliaram a ação antimicrobiana da clorexidina gel e líquida nas concentrações de 0,2%, 1%, e 2% sobre diferentes cepas e compararam o resultado com a ação do hipoclorito de sódio em concentrações de 0,5%, 1%, 2,5%, 4%, e 5,25%. A clorexidina na forma de gel necessitou de 1 minuto para eliminar o E. faecalis. Os autores ainda ressaltaram que a clorexidina líquida 1% e 2% levaram o mesmo período de tempo para eliminar os diferentes tipos de microrganismos que o hipoclorito de sódio na concentração de 5,25%. Baseados nesses resultados, os autores concluíram que a ação antimicrobiana está diretamente relacionada à concentração, forma de apresentação e à espécie de microrganismo utilizada. ERCAN et al. (2004) avaliaram microbiologicamente in vivo a atividade antimicrobiana proporcionada pela clorexidina 2% e o hipoclorito de sódio 5,25%, em dentes portadores de necrose pulpar e lesão perirradicular. Foram empregados 30 canais de incisivos e pré-molares de 20 pacientes, os quais foram instrumentados e submetidos à ação das substâncias testadas. Coletas microbiológicas foram realizadas antes e após o preparo químico-mecânico dos canais com o uso dessas substâncias. Baseado nos resultados, os autores concluíram que tanto a clorexidina 2% quanto o hipoclorito de sódio 5,25% foram eficazes na redução do número de microrganismos presente no interior 33 dos canais, confirmando assim a capacidade antimicrobiana dessas substâncias. Em um ensaio clínico randomizado sobre a redução da microbiota intracanal após a irrigação com solução de hipoclorito de sódio a 2,5% ou clorexidina a 0,2%, ZEHNDER (2006) verificou que o hipoclorito de sódio apresentou resultado significativamente mais eficaz que a clorexidina. Este resultado foi constatado especialmente no caso das bactérias anaeróbias. Além disso, reversões da cultura de negativo para positivo foram encontradas mais com o uso da clorexidina do que com o uso do hipoclorito de sódio. O autor atribuiu esse fenômeno à incapacidade da clorexidina em dissolver o tecido necrótico remanescente no sistema de canais radiculares. SENA et al. (2006) investigaram a atividade antimicrobiana do hipoclorito de sódio 2,5% e 5,25% e da clorexidina 2% tanto na forma gel como na forma líquida, ambos empregados como substância química auxiliar durante o preparo químico-mecânico frente à biofilmes simples contendo E. faecalis e outros microrganismos. Os biofilmes formados foram imersos nas substâncias químicas por 30 segundos, 5, 10, 15, 30 e 60 minutos com ou sem agitação mecânica, sendo em seguida transferidos para meios de cultura contendo neutralizadores das substâncias químicas. Foram realizadas diluições em série, alíquotas foram inoculadas em placas de Agar sangue, incubadas e após crescimento, as unidades formadoras de colônias foram quantificadas. O hipoclorito de sódio 5,25% eliminou todos os microrganismos testados em 30 segundos de contato. Frente aos microrganismos anaeróbios estritos, todas as substâncias químicas obtiveram o mesmo desempenho, sendo efetivas em 30 34 segundos. A solução salina permitiu o crescimento microbiano de todas as cepas. Concluiu-se que o hipoclorito de sódio 5,25% foi a substância química testada mais efetiva, seguido pela clorexidina líquida 2%. WANG et al. (2007) avaliaram a eficácia clínica do gel de clorexidina 2% em reduzir a população bacteriana no interior dos canais radiculares durante a instrumentação. No mesmo estudo também foi avaliado o efeito antibacteriano adicional de uma medicação intracanal de hidróxido de cálcio misturado ao gel de clorexidina 2%. Foram selecionados 43 pacientes com periodontite apical. Quatro pacientes com pulpite irreversível foram incluídos como controle negativo. Os canais foram instrumentados com sistema rotatório auxiliado pelo gel de clorexidina 2% como substância química auxiliar. Foram realizadas coletas microbiológicas após acesso (S1), após instrumentação (S2), e 2 semanas após o uso da medicação intracanal (S3). Os autores observaram que, das amostras cultivadas positivamente em S1, 10.3% (4/39) e 8.3% (4/36) continuaram positivas em S2 e S3, respectivamente. Eles concluíram que existe diferença entre S1 e S2, mas não entre S2 e S3. Os autores ainda mencionam que os resultados encontrados sugerem que a clorexidina gel 2% seja uma substância química auxiliar efetiva e que a medicação empregada após o preparo químico-mecânico não se justifica, pois não diminuiu a quantidade de culturas positivas. MONTAGNER et al. (2007) avaliaram, em diferentes períodos, a ação antimicrobiana de medicações intracanais retiradas de dentes de cães, frente a cepas de E. faecalis. Após o preparo químico-mecânico, 36 raízes foram preenchidas com hidróxido de cálcio + soro fisiológico (1:1) (HC+SF) ou com 35 hidróxido de cálcio + clorexidina gel 2% (1:1) (HC+CHX 2%) e posteriormente restauradas. As medicações foram coletadas dos canais radiculares com limas tipo #40 esterilizadas, imediatamente após a manipulação e depois de 7, 15, 30 e 60 dias. As limas foram dispostas sobre meios de cultura inoculados com cepas de E. faecalis. Após incubação, as zonas de inibição de crescimento bacteriano foram mensuradas. Conclui-se que HC+CHX 2% tiveram ação antimicrobiana em todos os períodos e cepas testados. Já o HC+SF demonstraram ação antimicrobiana apenas nos períodos de 30 a 60 dias. Grande discussão tem surgido quanto ao número de visitas necessárias para a realização do tratamento de canais infectados. Uma visita somente pode oferecer grandes vantagens tanto para o paciente quanto para o profissional. Em função da grande discussão sobre o fato de ser favorável ou não o tratamento de um canal radicular infectado em uma ou mais sessões que, SILVEIRA et al. (2007) realizaram um estudo para analisar, em cães, a resposta dos tecidos perirradiculares ao tratamento endodôntico de canais infectados em 1 ou 2 consultas, usando diferentes medicamentos entre as sessões. As lesões foram induzidas pela inoculação de E. faecalis nos canais e, após a confirmação da lesão, esses dentes foram tratados em 1 ou 2 sessões, usando como medicamento intracanal óleo ozonizado ou hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol canforado. Após o período de 6 meses, esses dentes foram avaliados através de exame histológico e histobacteriológico e foi possível constatar que o uso da medicação intracanal influenciou em torno de 75% no sucesso do tratamento. Os canais tratados em uma visita apresentaram uma taxa de sucesso de 46% dos casos. Esses 36 achados demonstraram que o tratamento em 2 sessões associado ao uso de medicação intracanal oferece uma taxa de sucesso mais alta quando comparado à terapia em 1 sessão. Outro estudo semelhante aos citados anteriormente foi realizado por GURGEL-FILHO et al. (2007) para avaliar in vitro o efeito do preparo químicomecânico seguido ou não do uso de medicação intracanal, contra E. faecalis após 1 ou múltiplas visitas no tratamento endodôntico. Os canais foram contaminados com E. faecalis e, após um período de 60 dias, foram preparados utilizando uma técnica coroa-ápice, associada à irrigação com gel de clorexidina a 2%. Os dentes foram divididos em dois grupos: um tratado em 2 sessões e que recebeu medicação intracanal de hidróxido de cálcio por 14 dias (Calen®) e o outro, de sessão única, que não recebeu medicação. Como resultado foi observado que a utilização da clorexidina em gel a 2% sem emprego da medicação intracanal reduziu em 100% a contaminação por E. faecalis. O grupo que recebeu a medicação intracanal de hidróxido de cálcio por 14 dias permitiu o crescimento de pequeno número de bactérias entre as sessões, mas sem diferença estatística entre os grupos. Baseado nessas informações, FERRAZ et al. (2007) buscaram avaliar in vitro a atividade antimicrobiana da clorexidina em gel, comparando-a ao hipoclorito de sódio e a clorexidina na forma líquida, todos utilizados como solução irrigadora. A atividade antimicrobiana das substâncias testadas foi avaliada pelo teste de difusão em Agar. A susceptibilidade das 9 espécies foi testada contra 5 concentrações do hipoclorito de sódio (0.5%, 1%, 2.5%, 4% e 5.25%) e 3 concentrações de clorexidina em gel ou na forma líquida (0.2%, 1% 37 e 2%). Todos os microrganismos testados foram afetados por diferentes concentrações da clorexidina, tanto na forma de gel quanto na forma líquida. As maiores zonas de inibição foram produzidas quando as bactérias testadas ficaram em contato com a clorexidina a 2% em gel (11,79 mm), apresentando diferença estatisticamente significante quando comparados às zonas de inibição de crescimento bacteriano produzidas por todas as concentrações avaliadas de NaOCl, incluindo 5,25% (9,54 mm). E. faecalis tolera ambientes altamente alcalinos. O pH exato necessário para matar E. faecalis ainda não é conhecido. E. faecalis são anaeróbios facultativos Gram-positivos que têm sido freqüentemente associados a infecções endodônticas persistentes. Uma característica distintiva do E. faecalis é a sua capacidade de crescer em um pH alcalino (9,6), que normalmente inibe o crescimento de outras bactérias. O hidróxido de cálcio é um medicamento antimicrobiano alcalino com um pH superior a 12. Esse pH é considerado inibitório para a maioria dos microrganismos. Baseado nessa condição, um estudo foi realizado para testar o crescimento dessas bactérias em condições de pH variando entre 9,5 e 12. Doze tubos de cultura foram utilizados em cada grupo. O crescimento positivo foi avaliado através de turbidez, escala visual e espectrofotômetro. Após 24 horas, houve crescimento em todos os tubos em pH 9,5 e 10. Após 48 horas, todos os tubos mostraram crescimento em pH 10,5. Após 72 horas, 6 tubos mostraram crescimento em pH 11. Após 7 dias, 5 tubos restantes mostraram resultado positivo em pH 11. Não houve crescimento em nenhum tubo em pH 11,5. Vários estudos mostraram que hidróxido de cálcio pode atingir níveis críticos de pH dentro do 38 canal. Em conclusão, este estudo apresenta dados in vitro que sugerem que um pH alcalino intracanal pode matar ou suprimir o crescimento de E. faecalis (MCHUGH et al., 2004). ERCAN et al. (2007) resolveram propor um estudo que avaliasse in vivo a eficácia da combinação de hidróxido de cálcio e clorexidina a 1% como medicamento intracanal nos casos de retratamento endodôntico com presença de patologia perirradicular. Foram selecionados 70 pacientes com patologia perirradicular (36 homens e 34 mulheres, com idade entre 18 e 60 anos) que haviam recebido tratamento endodôntico anteriormente. Após procedimento de rotina, incluindo reinstrumentação e irrigação com clorexidina a 2%, todos receberam medicação intracanal contendo pó de hidróxido de cálcio e solução de clorexidina a 1%. Após período de 6 semanas, a medicação foi substituída periodicamente até o quadro tornar-se assintomático. Os pacientes foram avaliados clinica e radiograficamente nos períodos de 3, 6 e 12 meses. Como resultado, foi encontrada uma cura completa em 64% dos casos, cura incompleta em 14% dos casos e fracasso em 22% dos casos. A cura completa dos casos ocorreu numa variação de tempo entre 6 e 36 meses. Baseado nesses resultados, os autores sugerem que a associação do hidróxido de cálcio e clorexidina pode ser seguramente usada para desinfecção nos casos de retratamento endodôntico com presença de patologia perirradicular. O efeito antibacteriano da clorexidina associado à ação do hidróxido de cálcio pode ser muito eficiente no tratamento de certos tipos de infecção persistente primária e, particularmente, em casos de retratamento. 39 SOARES et al. (2007) procuraram avaliar a atividade antibacteriana do hidróxido de cálcio em pasta, colocados em canais radiculares de dentes de cães com lesões perirradiculares crônicas induzidas. Foi possível concluir que, independentemente do veículo e anti-séptico associados, todas as pastas de hidróxido de cálcio apresentaram diferentes graus mensuráveis de atividade antibacteriana. Além disso, a clorexidina aumentou significativamente a atividade antibacteriana do hidróxido de cálcio. Portanto, independentemente do veículo utilizado, todas as pastas à base de hidróxido de cálcio determinaram, em diferentes magnitudes, atividade antibacteriana mensurável. Infecções endodônticas resistentes têm sido associadas à presença de bactérias facultativas. E.faecalis tem desempenhado um papel patogênico nos casos de fracasso dos tratamentos endodônticos. Portanto, um controle antimicrobiano efetivo deve ser alcançado através do uso de substâncias auxiliadoras empregadas como medicação intracanal. Sendo assim, um novo estudo foi realizado com objetivo de analisar o tempo necessário para que o hidróxido de cálcio elimine microrganismos em canais infectados. Um total de 168 dentes humanos anteriores foram preparados e devidamente esterilizados. Cento e sessenta e dois dentes foram inoculados com suspensões de algumas bactérias, dentre elas E. faecalis. Três dentes foram usados como controle negativo e três como controle positivo. Os canais radiculares foram irrigados com solução fisiológica e preenchidos com pasta de hidróxido de cálcio. Em intervalos de 1, 7, 15, 21, 27, 30, 45, 60 e 90 dias, a pasta foi removida, amostras foram coletadas e imersas em Letheen Broth. O crescimento microbiano foi analisado pelos métodos de turvação do meio de cultura e 40 subcultura em caldo (BHI). Todos os ensaios foram feitos em triplicata, obedecendo à técnica asséptica. Os resultados indicaram que o efeito antimicrobiano sobre as culturas analisadas ocorreu após período de 60 dias (ESTRELA et al., 2003). Com o objetivo de determinar até que ponto a medicação intracanal a base de hidróxido de cálcio poderia eliminar as bactérias dos canais radiculares, SATHORN et al. (2007) compararam estudos que analisaram amostras obtidas de canais radiculares antes e após a colocação de medicação intracanal, sendo medido o número de culturas positivas desenvolvidas do material colhido dos dentes de pacientes com periodontite apical. Oito estudos foram identificados e incluídos na revisão, abrangendo um total de 257 casos. O tamanho da amostra variou entre 18 e 60 casos; 6 estudos demonstraram uma diferença estatisticamente significativa entre pré e pós-medicação dos canais, enquanto que 2 estudos não mostraram diferença significativa. Houve considerável heterogeneidade entre os estudos, mesmo assim, os autores concluíram que o hidróxido de cálcio tem eficácia limitada na eliminação de bactérias nos canais radiculares quando avaliado pela técnica de cultura. Considerando os estudos já realizados, DAMETTO et al. (2005) avaliaram in vitro a atividade de antimicrobiana da clorexidina gel 2% frente ao E. faecalis comparada à clorexidina líquida 2% e ao hipoclorito de sódio 5,25%. Oitenta raízes de pré-molares humanos foram preparadas, esterilizadas e contaminadas durante 7 dias com E. faecalis. As raízes foram divididas em 5 grupos de acordo com o irrigante empregado. Foram realizadas 3 coletas 41 microbiológicas: antes, imediatamente após e 7 dias depois do preparo. Os autores observaram que o gel de clorexidina a 2% e a clorexidina líquida reduziram significativamente as Unidades Formadoras de Colônias (UFC) imediatamente após o preparo. O hipoclorito de sódio 5,25% também proporcionou redução microbiana imediatamente após preparo, entretanto, não foi capaz de manter a redução após 7 dias. Os resultados comprovam, mais uma vez, o efeito residual proporcionado pela clorexidina, tanto na forma líquida quanto na forma de gel. SCHAFER & BOSSMANN (2005) investigaram a eficácia da clorexidina e hidróxido de cálcio contra o E. faecalis in vitro. Os elementos dentários foram instrumentados até um preparo apical com 0,4 mm de diâmetro. Após a remoção da smear layer, um inóculo de E. faecalis foi inserido no canal radicular. Após a incubação, o inóculo foi removido e os canais radiculares foram preenchidos com uma das 3 diferentes preparações desinfetantes: hidróxido de cálcio, clorexidina e uma mistura de hidróxido de cálcio com clorexidina (n=10 em cada grupo). Os dentes controles foram preenchidos com água de dureza padronizada (n=10). Os dentes foram então incubados por 3 dias. Após a incubação, cada canal radicular foi reinstrumentado, e a dentina removida foi examinada microbiologicamente. A clorexidina foi significativamente mais eficaz que o hidróxido de cálcio e que a mistura de clorexidina e hidróxido de cálcio contra o E. faecalis. Não houve aumento na eficiência do hidróxido de cálcio quando adicionada a clorexidina. Desta forma, assim como nos estudos de BARTHEL et al. (2002) e LIN et al. (2003), os resultados deste estudo sugerem que a clorexidina é eficaz na eliminação de E. 42 faecalis de túbulos dentinários nas condições deste estudo e que o hidróxido de cálcio pode diminuir a eficiência antimicrobiana da clorexidina. A clorexidina possui várias propriedades que sugerem que ela seja uma alternativa adequada para o hidróxido de cálcio como um medicamento intracanal. Quando comparada ao hidróxido de cálcio, apresenta um vasto espectro antimicrobiano. Mesmo em altas concentrações, tem baixa toxicidade. Devido às suas propriedades catiônicas, a clorexidina é absorvida em hidroxiapatita na dentina e pode ser posteriormente liberada. Este processo de absorção e liberação pode proteger a raiz contra a colonização microbiana. Aplicada em solução ou como uma fina camada de gel, a clorexidina pode chegar a irregularidades do canal radicular de uma maneira melhor que a pasta de hidróxido de cálcio. O hidróxido de cálcio combinado com 0,5% de clorexidina tem se mostrado eficaz para eliminar Candida albicans e tem sido sugerido como uma alternativa ao uso de hidróxido de cálcio sozinho (BASRANI et al., 2003). BASRANI et al. (2003) procuraram avaliar a eficácia da clorexidina e hidróxido de cálcio quando aplicados como um curativo intracanal em diferentes concentrações e modo de aplicação contra o E. faecalis in vitro. Os efeitos da clorexidina (0,2% e 2% em gel ou solução) e hidróxido de cálcio (sozinho ou com gel de clorexidina a 0,2%) foram avaliados utilizando o teste de difusão em Agar e um método de ensaio in vitro com a inoculação de raízes de dentes de humanos, medindo a zona ou a inibição de crescimento bacteriano com análise da densidade óptica. Para a densidade óptica, foram coletadas amostras de canais radiculares infectados após 7 dias de medicação 43 e foram cultivadas por 24 horas para detecção de bactérias viáveis. Como resultado foi observado no teste de difusão em Agar que a clorexidina foi eficaz e que o hidróxido de cálcio sozinho não apresentou nenhum efeito. No teste de inoculação do canal radicular, a clorexidina foi eficaz contra E. faecalis numa concentração-dependente, mas hidróxido de cálcio sozinho não apresentou nenhum efeito. Concluindo, clorexidina é eficaz contra E.faecalis in vitro, porém os autores sugerem que outros estudos sejam realizados para confirmar a concentração de clorexidina para uso em tratamento clínico. Neste estudo os autores não encontraram diferença estatisticamente significativa entre a clorexidina e a associação desta com o hidróxido de cálcio. SIQUEIRA et al. (1998) realizaram um estudo in vitro buscando determinar a capacidade de alguns medicamentos evitarem a recontaminação dos canais radiculares por bactérias da saliva. O estudo teve como objetivo avaliar a duração do tempo necessário para que bactérias da saliva humana penetrassem e recontaminassem canais radiculares não selados coronariamente. As medicações testadas foram paramonoclorofenol canforado, aplicado via mecha de algodão na câmara pulpar; hidróxido de cálcio / solução salina e hidróxido de cálcio / paramonoclorofenol canforado / glicerina, ambos preenchendo todo o canal radicular. Após exposição desses canais à saliva, foi observado que o tempo necessário para que ocorresse a recontaminação desses canais foi de 6,9 dias para canais medicados com paramonoclorofenol canforado e de 14,7 e 16,5 dias para canais medicados com hidróxido de cálcio / solução salina e hidróxido de cálcio / paramonoclorofenol canforado, respectivamente. 44 Outro estudo foi realizado para avaliar a atividade antibacteriana dos medicamentos contra bactérias anaeróbias facultativas comumente encontradas em infecções endodônticas que atuam por meio de contacto e não por liberação de vapor. E. faecalis estava entre as bactérias anaeróbias facultativas utilizadas nesse experimento. Os medicamentos utilizados foram gel de clorexidina a 0,12%, gel de metronidazol a 10%, hidróxido de cálcio dissolvido em água destilada, hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol canforado e hidróxido de cálcio dissolvido em glicerina. Os medicamentos foram testados no teste de difusão em Agar e as zonas de inibição de crescimento bacteriano foram avaliadas. Os resultados revelaram que o hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol canforado foi eficaz contra todas as cepas testadas. A clorexidina também agiu inibindo todas as cepas. Metronidazol também causou inibição do crescimento. Hidróxido de cálcio misturado com água destilada ou glicerina não conseguiu mostrar zonas de inibição bacteriana, provavelmente devido às limitações do teste de difusão em Agar. Pressupõe-se que a ação do hidróxido de cálcio em apresentar grande área de inibição contra todas as cepas utilizadas neste experimento se deu em função da ação do paramonoclorofenol canforado que foi liberado da pasta preparada com o hidróxido de cálcio, aumentando assim a difusibilidade do hidróxido de cálcio. Como os compostos fenólicos apresentam menor tensão superficial, quando comparada à água, acredita-se que essa característica determinou uma maior penetrabilidade e disseminação dessas drogas. Sendo assim, quando se 45 misturou hidróxido de cálcio ao paramonoclorofenol canforado, houve uma maior difusão dessas drogas (SIQUEIRA et al., 1997). BARBOSA et al. (1997) compararam a atividade antibacteriana do paramonoclorofenol canforado, clorexidina, e hidróxido de cálcio numa avaliação clínica e laboratorial. Na experiência clínica, os canais radiculares que produziram culturas positivas uma semana após completar o preparo químico, foram medicados com uma das 3 substâncias testadas. As amostras dos canais foram retiradas uma semana após a medicação dos canais. O teste de difusão em Agar foi utilizado para avaliar a atividade inibitória desses medicamentos. Os resultados mostraram que todos os medicamentos foram eficazes na redução ou eliminação da microbiota endodôntica. Não houve diferença estatisticamente significante entre os medicamentos testados. Já na avaliação laboratorial, o paramonoclorofenol canforado apresentou as maiores zonas de inibição bacteriana contra todas as cepas testadas. O hidróxido de cálcio tem sido amplamente utilizado na Odontologia devido à sua capacidade de estimular a mineralização e por sua excelente ação antimicrobiana. A fim de verificar a atividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio, um estudo foi realizado para avaliar in vitro a atividade antimicrobiana de duas pastas experimentais a base de extrato de própolis associada ao hidróxido de cálcio contra culturas polimicrobianas coletadas de 16 molares decíduos necrosados e com fístulas, extraídos de crianças entre 4 e 6 anos de idade de ambos os sexos. A técnica de difusão em Agar foi utilizada para determinar a atividade antimicrobiana das seguintes pastas: (1) 11,0% extrato etanólico de própolis + hidróxido de cálcio e (2) 11,0% extrato de 46 própolis sem álcool + hidróxido de cálcio. A associação de hidróxido de cálcio com propilenoglicol foi utilizada como o grupo de controle positivo. O objetivo era verificar se a adição de extrato de própolis melhoraria a propriedade antimicrobiana do hidróxido de cálcio. Os resultados mostraram que as duas pastas experimentais foram capazes de inibir o crescimento de um pool de microrganismos coletados dos canais radiculares necrosados dos dentes decíduos. Estes resultados foram melhores que os obtidos com hidróxido de cálcio misturado ao propilenoglicol. Sendo assim, este estudo confirmou que a associação do hidróxido de cálcio com própolis pode ser benéfica (REZENDE et al., 2008). Vários pesquisadores têm estudado as associações do hidróxido de cálcio com outras substâncias antimicrobianas. A associação entre hidróxido de cálcio e gel de clorexidina a 2% busca aumentar a eficácia antimicrobiana, particularmente contra microrganismos resistentes, tais como E. faecalis, que são freqüentemente encontradas nas raízes de dentes infectados. Portanto, um estudo foi realizado com o objetivo de avaliar in vitro a efetividade antimicrobiana da clorexidina em gel a 2% e hidróxido de cálcio, isoladamente e associados com iodofórmio e pó de óxido de zinco, utilizando-os como medicamentos intracanais frente a microrganismos selecionados. A adição de iodofórmio e óxido de zinco foi realizada a fim de reforçar a radiopacidade dessa mistura. A presença de um radiopacificador, como iodofórmio ou óxido de zinco, permite uma melhor visualização da medicação após o preenchimento do canal radicular com o remédio. As alterações de pH provocadas por estes medicamentos também foram avaliadas. A atividade 47 antimicrobiana foi determinada pelo método de difusão em Agar. As áreas de inibição de crescimento foram medidas e os resultados estatisticamente analisados. O pH das pastas foi mensurado após a manipulação, após 24 h e após uma semana. Os resultados mostraram que a maior zona de inibição foi da clorexidina em gel a 2%, seguida pelo hidróxido de cálcio + clorexidina em gel a 2%, hidróxido de cálcio + clorexidina em gel a 2% + iodofórmio, hidróxido de cálcio + clorexidina em gel a 2% +óxido de zinco, hidróxido de cálcio + água. A média de pH de todos os medicamentos intracanais foi de 12 durante todo o experimento, exceto com clorexidina em gel a 2% (pH=7,0). Estes resultados permitiram concluir que todos os medicamentos tiveram atividade antimicrobiana, no entanto, a maior atividade foi atribuída ao gel de clorexidina a 2%, seguido da associação com o hidróxido de cálcio e iodofórmio (SOUZA FILHO et al., 2008). 48 PROPOSIÇÃO Este estudo se propõe a: - mensurar a ação antimicrobiana da clorexidina em forma de gel e em diferentes concentrações associadas ou não ao hidróxido de cálcio contra isolados clínicos de E. faecalis. - procurar indícios que reforcem a hipótese de que a associação com o hidróxido de cálcio diminui a efetividade antibacteriana da clorexidina contra E. faecalis. 49 MATERIAIS E MÉTODOS Diferentes cepas de E. faecalis serão expostas a diversas formulações propostas na literatura como medicamentos intracanais através do método de Difusão em Agar. Serão utilizadas nos ensaios experimentais cinco diferentes cepas de E. faecalis, sendo uma cepa padrão (ATCC 29212) e quatro cepas isoladas de amostras clínicas de infecções endodônticas obtidas durante tratamento de rotina na Clínica Odontológica da Universidade Estácio de Sá (cepas MB04, MB12, MB35 e MB44). As culturas bacterianas armazenadas como liófilos ou congeladas em leite desnatado serão ativadas pela suspensão em caldo de cultura estéril contendo proteínas de soja (Tryptcase Soy Broth - TSB-Difco, Detroit, MI, EUA). As suspensões em caldo serão mantidas em estufa a 37ºC por 24 horas para permitir a multiplicação celular de forma a obter massa de células em fase log suficiente para a realização do experimento. Após esta fase inicial de ativação dos microrganismos, as diferentes cepas serão semeadas em placas de Petri contendo meio de cultura sólido com proteínas de soja (Tryptcase Soy Agar – TSA-Difco). Após este período de cultivo, uma massa de células bacterianas será suspensa em solução salina até se obter uma turbidez correspondente a 0,5 na escala McFarland (aproximadamente 1,5 x 108 unidades formadoras de colônia/ml) para cada diferente cepa bacteriana, de forma a se obter concentrações de células semelhantes com as cinco 50 diferentes cepas e ao se realizar a semeadura para a realização dos experimentos obter-se um “tapete” de colônias semelhante (em quantidade) entre todos os passos do experimento. Desta forma, inóculos correspondentes a 0,5 ml desta suspensão obtida serão semeados com alça de Drigalsky no mesmo meio de cultura antes utilizado (TSA). A utilização da alça de Drigalsky visa obter um crescimento homogêneo e uniforme das colônias bacterianas sobre o meio de cultura. Orifícios com 5mm de profundidade com 6mm de diâmetro serão realizados em cada placa de Agar e preenchidos com os materiais a serem testados. Todos os procedimentos serão realizados em triplicata sendo depois feita uma média dos resultados de cada medicamento sobre cada cepa de E. faecalis. As formulações de medicamentos intracanal a serem testados serão as seguintes: - Formulação 1: óxido de zinco associado à glicerina (GOZ): servindo como controle negativo - Formulação 2: hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol canforado e à glicerina (HPG) - Formulação 3: gluconato de clorexidina a 0,12% associado ao óxido de zinco (CLX 012 + OZ) - Formulação 4: gluconato de clorexidina a 0,2% associado ao óxido de zinco (CLX 02 + OZ) - Formulação 5: gluconato de clorexidina a 2% associado ao óxido de zinco (CLX 2 + OZ) 51 - Formulação 6: gluconato de clorexidina a 0,12% associado ao hidróxido de cálcio (CLX 012 + HC) - Formulação 7: gluconato de clorexidina a 0,2% associado ao hidróxido de cálcio (CLX 02 + HC) - Formulação 8: gluconato de clorexidina a 2% associado ao hidróxido de cálcio (CLX 2 + HC) - Formulação 9: hidróxido de cálcio associado à glicerina (HG) As placas de Petri semeadas com as diferentes cepas de E. faecalis e com os medicamentos posicionados serão deixadas em estufa a 37ºC por 48 horas. O efeito antibacteriano de cada material será determinado mensurandose os diâmetros das zonas de inibição em milímetros, utilizando-se como medida de corte os 6 mm do diâmetro do orifício realizado para a colocação do medicamento a ser testado, sendo os valores dos resultados a serem apresentados já subtraídos do valor de corte. A análise estatística dos dados será realizada através dos métodos de Anova e Teste Mann Whitney. 52 RESULTADOS A avaliação dos halos de inibição de crescimento bacteriano para cada grupo de medicamentos foi efetuada em triplicata e a média dos resultados foi analisada estatisticamente. Tabela 1: Média e desvio padrão (dp) dos diâmetros das zonas de inibição de crescimento para cada associação de medicamentos utilizados. Fonte: Ferreira, CXM Os resultados observados na tabela 1 mostram que não houve diferença estatística de comportamento entre as diferentes cepas testadas (p>0,05). A placa contendo óxido de zinco não mostrou halo de inibição de crescimento em nenhuma das cepas utilizadas. A pasta HPG, utilizada como controle positivo, foi a mais eficaz, apresentando resultados estatisticamente significativos (p<0,05). A pasta de hidróxido de cálcio e glicerina se apresentou mais eficaz que o óxido de zinco, porém menos eficaz que todas as outras pastas avaliadas. Esse resultado foi considerado estatisticamente significativo (p<0,05). 53 As pastas compostas por clorexidina não mostraram diferença estatística entre si nas concentrações de 0,12 e 0,2% (p>0,05). Só houve resultado diferente na concentração a 2% e, nesta concentração, a pasta com óxido de zinco foi mais eficaz que a pasta com hidróxido de cálcio (estatisticamente significativo – p<0,05). 54 DISCUSSÃO E. faecalis foi o microrganismo de escolha para realização dos nossos experimentos por possuir uma considerável resistência a substâncias químicas auxiliares e medicações comumente utilizadas em Endodontia além de estar freqüentemente associado à presença de lesões perirradiculares persistentes e ao insucesso no tratamento endodôntico. É um microrganismo anaeróbio facultativo, relativamente fácil de ser cultivado e de alta relevância clínica. (LOVE 2001, PINHEIRO et al., 2003). Pode ser comumente isolada de amostras clínicas e do trato intestinal humano, apresenta peculiar resistência ao hidróxido de cálcio, em especial, aos níveis elevados de pH resultante da dissociação dos íons hidroxila que ocorre em meio aquoso (ESTRELA et al., 1998; ESTRELA et al., 1999; SIQUEIRA et al., 2007 b). O E. faecalis apresenta, em função dos seus fatores de virulência, grande resistência às defesas do hospedeiro e aos quimioterápicos, ressaltando sua resistência a elevados níveis de pH, o que o torna refratário às medicações intracanais contendo hidróxido de cálcio. Portanto, as medicações intracanais contendo hidróxido de cálcio como único elemento ativo são ineficazes em eliminar o E. faecalis do canal (ERCAN et al., 2007; STUART et al., 2006; GOMES et al., 2006; SIQUEIRA et al., 2007 b). Vários estudos foram encontrados na literatura sobre a avaliação dos modos de infecção e desinfecção do E. faecalis, possibilitando assim a comparação deste estudo a outros já relatados. 55 Os canais que apresentam sinais clínicos como exsudato, sangramento, perfuração e reabsorção radicular necessitam do auxílio da medicação intracanal na intenção de aumentar a eficácia antimicrobiana das soluções irrigadoras utilizadas anteriormente ao preparo químico-mecânico (CAMÕES et al., 2003). Mesmo depois de realizado um adequado preparo químico-mecânico, seguindo todos os protocolos de limpeza e desinfecção dos canais radiculares, há uma grande dificuldade em eliminar microrganismos que permanecem nos sistemas de canais radiculares, túbulos dentinários, demonstrando a necessidade de se complementar a terapêutica endodôntica com o emprego de uma medicação intracanal entre as seções. A utilização da medicação intracanal vem sendo sugerida e utilizada sob diferentes apresentações: liquida gel ou pasta. As razões para a utilização da medicação intracanal são (1) eliminar a infecção endodôntica, (2) neutralizar as endotoxinas, (3) prevenir a proliferação de microrganismos entre as seções e (4) agir como uma barreira mecânica que evite a re-infecção do canal radicular e o aporte de nutrientes para microrganismos remanescentes do preparo químico-mecânico (SIQUEIRA, LOPES & UZEDA, 1998). TROPE et al., em 1999, relatam que a taxa de sucesso clínico é elevada em 10% com a utilização do hidróxido de cálcio como medicação intracanal. Além disso, acredita-se que os microrganismos capazes de sobreviverem ao preparo químico-mecânico têm seu número reduzido pela utilização da medicação intracanal entre as seções (YOLDAS et al., 2004). 56 O hidróxido de cálcio apresenta algumas limitações, como por exemplo, uma baixa solubilidade e baixa difusibilidade que dificultam a chegada dessa substância aos locais de difícil acesso em dentes que apresentam variações anatômicas, como istmos, deltas apicais, reentrâncias, locais estes onde as bactérias se encontram protegidas da ação das medicações intracanais. A solução de digluconato de clorexidina a 2,0% quando aplicada por 10 minutos, previamente à obturação endodôntica, é capaz de penetrar no tecido dentinário e manter a ação antimicrobiana por mais de 12 semanas, embora essa capacidade seja reduzida em função do tempo. A utilização do digluconato de clorexidina a 2,0% como medicação intracanal pode ser vantajosa em casos com infecção primária. Nos casos de retratamento, a utilização da clorexidina pode ser ainda mais importante, podendo ser realizada alternadamente como solução irrigadora durante o preparo químico-mecânico ou como medicação intracanal entre as sessões. (ZAMANY, SPANGBERG; SAFAVI, 2003). Um dos objetivos de se associar o hidróxido de cálcio à clorexidina é aumentar a capacidade antimicrobiana do hidróxido de cálcio, melhorando sua capacidade de penetrabilidade nos túbulos dentinários. Outra vantagem apresentada por esta associação é o fato do hidróxido de cálcio poder atuar como barreira física enquanto que a clorexidina, em função da sua substantividade, mantém o canal livre de microrganismo (KOMOROWSKI et al., 2000). O efeito residual da clorexidina foi comprovado por DAMETTO et al. (2005) quando compararam in vitro a atividade antimicrobiana da clorexidina 57 nas formas gel e líquida e do hipoclorito de sódio sob raízes de dentes contaminados por 7 dias com E. faecalis. Mesmo proporcionando redução microbiana imediatamente após o preparo das raízes, o hipoclorito de sódio, diferentemente da clorexidina em ambas as formas, não foi capaz de manter essa redução microbiana 7 dias após o preparo. Alguns estudos sugerem o uso da clorexidina como medicação intracanal na forma de gel devido ao seu amplo espectro de ação antimicrobiano (FERRAZ et al., 2001; GOMES et al., 2003). Porém, esta substância apresenta como desvantagem a incapacidade de atuar como barreira física. A sua apresentação na forma de gel também dificulta a visualização de sua introdução dentro do canal radicular. Em nossos experimentos optamos por acrescentar um radiopacificador, como óxido de zinco, que permite uma melhor visualização radiográfica da medicação após o preenchimento do canal radicular. Essa mesma técnica foi incorporada aos experimentos de SOUZA-FILHO et al. (2008) que avaliaram, também pelo método de difusão em Agar, a atividade antibacteriana de medicamentos a base de hidróxido de cálcio e clorexidina. Os autores observaram que a maior zona de inibição foi apresentada pela clorexidina em gel a 2%, seguida pelo hidróxido de cálcio + clorexidina em gel a 2%, hidróxido de cálcio + clorexidina em gel a 2% + iodofórmio, hidróxido de cálcio + clorexidina em gel a 2% +óxido de zinco, hidróxido de cálcio + água. Com estes resultados os autores concluíram que todos os medicamentos tiveram atividade antimicrobiana, no entanto, a maior atividade foi atribuída ao gel de clorexidina a 2%, seguido da associação com o hidróxido de cálcio e o radiopacificador. 58 Como a clorexidina apresenta maior estabilidade em pH entre 5 e 8, acredita-se que a sua associação ao hidróxido de cálcio tenha alterado sua eficácia, reduzindo seu potencial antimicrobiano, visto que, o hidróxido de cálcio é uma substância básica e que promove elevação do pH no meio em que se encontra. Este fenômeno foi mostrado por SOUZA FILHO et al. (2008) que avaliaram a atividade antibacteriana de pastas a base de hidróxido de cálcio e clorexidina, controlando a variação de pH apresentado pelas formulações. Os autores informaram que as pastas contendo em sua formulação o hidróxido de cálcio mantiveram uma média de pH 12 durante todo experimento, já o medicamento composto apenas por clorexidina permaneceu com pH 7,0. Esse fenômeno se assemelha ao resultado encontrado por BARTHEL et al. (2002) que sugeriram que o hidróxido de cálcio poderia interferir na capacidade antibacteriana da clorexidina quando associados numa formulação para uso como medicação intracanal. Em seus estudos, BARTHEL et al. (2002) mostraram que a combinação do hidróxido de cálcio com a clorexidina apresentou efeito antimicrobiano melhor que o hidróxido de cálcio sozinho, porém essa combinação não apresentou melhores resultados que a clorexidina isoladamente, ressaltando a hipótese de que o hidróxido de cálcio seja capaz de interferir na atividade antibacteriana da clorexidina. Já LYNNE et al. (2003), ao compararem os efeitos da associação da clorexidina ao hidróxido de cálcio, encontraram uma atividade antibacteriana mais pronunciada na formulação contendo apenas hidróxido de cálcio. 59 GURGEL-FILHO et al. (2007) procuraram avaliar o efeito da clorexidina em gel, utilizada como solução irrigadora, seguida do uso do hidróxido de cálcio como medicação intracanal contra E. faecalis. Os autores observaram que apenas a clorexidina foi capaz de reduzir em 100% a contaminação por E. faecalis, porém a presença do hidróxido de cálcio por um período de 14 dias promoveu o crescimento de um pequeno número de bactérias nos canais previamente descontaminados pela clorexidina. Neste trabalho não é possível avaliar o efeito promovido pelas duas substâncias associadamente. Os autores apenas afirmam que o hidróxido de cálcio não foi capaz de manter o canal descontaminado após o uso da clorexidina. Porém, ESTRELA et al. (2003) mostraram que o hidróxido de cálcio necessitou de 60 dias para eliminar os microrganismos de canais infectados com algumas bactérias, dentre elas E. faecalis. Podemos citar ainda os estudos de REZENDE et al. (2008) que mostraram a atividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio associado a duas pastas experimentais a base de própolis. Os autores confirmaram a eficácia dessa associação com a inibição do crescimento de um pool de microrganismos coletados de dentes decíduos necrosados. Nossos experimentos se basearam nos estudos de BASRANI et al. (2003), FERRAZ et al. (2007), REZENDE et al. (2008) e SOUZA-FILHO et al. (2008) que escolheram o método de difusão em Agar para realização de seus experimentos. BASRANI et al. (2003) que avaliaram, através do teste de difusão em Agar e de um método de ensaio in vitro com a inoculação de dentes humanos, 60 a eficácia antibacteriana da clorexidina e do hidróxido de cálcio, utilizados como medicação intracanal, em diferentes concentrações e modos de aplicação contra E. faecalis. Os resultados mostraram que em ambos os testes a clorexidina foi eficaz contra E. faecalis e que o hidróxido de cálcio sozinho não apresentou nenhum efeito. Em estudos posteriores, FERRAZ et al. (2007) avaliaram in vitro a atividade antimicrobiana da clorexidina em duas formas de apresentação (gel e líquida), comparando-a ao hipoclorito de sódio, avaliando as ações de ambos como solução irrigadora. Os autores também optaram por realizar seus experimentos através do teste de difusão em Agar. Os resultados mostraram que todos os microrganismos testados foram sensíveis à ação da clorexidina em ambas as apresentações e nas diferentes concentrações utilizadas, evidenciando, assim como nos nossos experimentos, uma maior zona de inibição para as bactérias que estiveram em contato com a clorexidina em gel a 2%. Em nosso experimento, as formulações contendo clorexidina na forma de gel e/ou hidróxido de cálcio também foram avaliadas pelo teste de difusão em Agar. As zonas de inibição de crescimento apresentadas pela clorexidina foram superiores as apresentadas pela associação da clorexidina ao hidróxido de cálcio. Assim como em outros trabalhos já citados, nossos melhores resultados foram obtidos com a formulação contendo clorexidina em gel a 2%. SOARES et al. (2007) procuraram avaliar a atividade antibacteriana do hidróxido de cálcio associado à clorexidina em canais radiculares com lesões perirradiculares crônicas induzidas. Os autores concluíram que o hidróxido de 61 cálcio apresentou diferentes graus de atividade antibacteriana em função dos diferentes veículos utilizados para sua dissolução. Porém, todos os efeitos do hidróxido de cálcio foram aumentados pela presença da clorexidina. Esses resultados se assemelham aos nossos que também evidenciaram uma maior atividade antibacteriana do hidróxido de cálcio quando associado à clorexidina. Assim como nos nossos experimentos, SCHAFER & BOSSMANN (2005) mostraram que a clorexidina foi significativamente mais eficaz que o hidróxido de cálcio e que a mistura de clorexidina e hidróxido de cálcio contra o E. faecalis. Nas condições deste estudo foi possível constatar que o hidróxido de cálcio pode diminuir a eficiência antimicrobiana da clorexidina. CONCLUSÂO Considerando que tanto o hidróxido de cálcio quanto a clorexidina, quando empregados isoladamente como medicação intracanal entre as sessões, não apresentam atributos suficientes para conter a infecção endodôntica de maneira satisfatória, torna-se considerável a busca de estratégias que contemplem os objetivos do tratamento endodôntico. Observase com alguns resultados apresentados nos trabalhos citados anteriormente que a clorexidina é capaz de aumentar a atividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio. Nos atuais experimentos, considerando a metodologia empregada, foi possível constatar que: O hidróxido de cálcio teve seu potencial de inibição de crescimento aumentado quando associado à clorexidina. 62 A clorexidina isoladamente apresentou efeito antimicrobiano maior que quando associada ao hidróxido de cálcio. A maior eficácia da clorexidina está diretamente relacionada à sua concentração, ou seja, as formulações contendo clorexidina a 2% apresentaram resultado melhor que as demais formulações contendo clorexidina a 0,12 e 0,2%. A presença de óxido de zinco em algumas formulações não influenciou no resultado químico final da preparação, visto que essa substância foi acrescentada com o objetivo de promover radiopacidade à formulação, facilitando dessa maneira a visualização desta quando de uso clínico (radiografias). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Akpata ES, Blechman H (1982). Bacterial invasion of pulpal dentin wall in vitro J Dent Res 61: 435-8 Almyroudi A, Mackenzie D, McHugh S, Saunders WP (2002). The effectiveness of various disinfectants used as endodontic intracanal medications: an in vitro study. J Endod 28(3): 163-7 63 Asgary S. e Kamrani F.A (2008). Antibacterial effects of five different root canal sealing materials. 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