1 Leitura Proficiente... É aquela capaz de depreender diversos tipos de significados na mesma leitura – o que, em outras palavras, significa ler nas entrelinhas. Sem essa habilidade, o leitor passará por cima de significados importantes ou, o que é bem pior, concordará com ideias e pontos de vista que rejeitaria se os percebesse. 2 Por exemplo: Eu ainda não conheço a Europa. Nessa frase a informação explícita é que o enunciador não tem conhecimento do continente europeu. O advérbio ainda deixa pressuposta a possibilidade de ele um dia conhecê-la. 3 Portanto... As informações explícitas podem ser questionadas pelo receptor, que pode ou não concordar com elas. 4 Os significados implícitos costumam ser classificados em duas categorias: os pressupostos e os subentendidos. Ambos exigem do ouvinte/leitor o conhecimento e o reconhecimento de alguns índices no texto, que auxiliam na tarefa de interpretação de alguns tipos de informação. 5 Pressupostos O que significa? Uma tese básica, implícita, necessária para que uma determinada representação faça sentido. No âmbito dos sistemas de linguagem, uma afirmação que precisa ser verdadeira para que uma outra afirmação tenha sentido. 6 Ou ainda... ...pressupostos são ideias implícitas que estão implicadas logicamente no sentido de certas palavras ou expressões explicitadas na superfície da frase. 7 ...ou seja, Pressuposto – ideia não expressa de maneira explícita, mas pode ser compreendida logicamente a partir do significado de certas palavras ou expressões contidas no texto. Recurso argumentativo que tem por objetivo levar o receptor a aceitar certas ideias. Transforma o receptor em cúmplice. Aprisiona o receptor ao sistema do pensamento do emissor. 8 Por exemplo: André tornou-se um antitabagista convicto. A informação explícita é que hoje André é um antitabagista convicto. Do sentido do verbo ser/estar, decorre logicamente o entendimento de que antes André não era antitabagista convicto. Essa informação está pressuposta. Ninguém se torna algo que já era antes. 9 As informações explícitas podem ser questionadas pelo receptor, que pode ou não concordar com elas. Os pressupostos, porém, devem ser verdadeiros ou, pelo menos, admitidos como tais, porque esta é uma condição para garantir a continuidade do diálogo e também para fornecer fundamento às afirmações explícitas. 10 Isso significa que, se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não falta nunca a aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer Até Maria compareceu à aula de hoje. Até estabelece o pressuposto da inclusão de um elemento inesperado. 11 Vejamos o seguinte exemplo prático: “Ademir parou de beber.” Para se aceitar o fato de Ademir ter deixado de beber, toma-se, como verdadeira, outra informação que, embora não dita na frase, é logicamente pressuposta pelo verbo parar de, ou seja, se Ademir parou de beber, é porque antes ele bebia. Por outro lado, a informação deixa de ser válida se Ademir nunca bebeu. 12 O Novo Dicionário Aurélio (Ferreira, 1986) assim define pressuposto: “circunstância ou fato considerado como antecedente necessário a outro.” De forma mais abrangente, Ilari e Geraldi (1994: 90) explicam que a pressuposição é um “conteúdo implícito, sistematicamente associado ao sentido de uma oração, tal que a oração só pode ser verdadeira ou falsa se o conteúdo em questão for reconhecido como verdadeiro”. 13 Ao analisar as relações de sentido em enunciados, algumas palavras ou expressões introduzem pressuposição. Entre os indicadores linguísticos de pressuposição, podem-se citar certos adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivo, verbos que indicam mudança ou permanência de estado, advérbios, orações adjetivas e conjunções, os quais, ao serem identificados, contribuem para uma leitura mais aprofundada do texto. 14 Quando se diz, por exemplo: “Frequentei as aulas de pintura, mas aprendi algumas coisas.”, o falante transmite duas informações de maneira explícita: 15 a) que ele frequentou as aulas de pintura, e b) que ele aprendeu algumas coisas. Ao ligar essas duas informações com um mas comunica também, de modo implícito, sua crítica às aulas de pintura, pois passa a transmitir a ideia de que pouco se aprende nessas aulas. 16 Marcadores de pressupostos 17 Adjetivos ou palavras similares modificadoras dos substantivos Julinha foi minha primeira filha. Primeira pressupõe que tenho outras filhas e que as outras nasceram depois de Julinha. Destruíram a outra igreja do povoado. Outra pressupõe a existência de pelo menos uma igreja além da usada como referência. 18 Certos verbos Renato continua doente. O verbo continua indica que Renato já estava doente no momento anterior ao presente. Nossos dicionários já aportuguesaram a palavra copydesk. O verbo aportuguesar estabelece o pressuposto de que copidesque não existia em português. 19 Certos advérbios A produção automobilística brasileira está totalmente nas mãos das multinacionais. O advérbio totalmente pressupõe que não há no Brasil indústria automobilística nacional. -Você conferiu o resultado da loteria? -Hoje não. A negação precedida de um advérbio de tempo de âmbito limitado estabelece o pressuposto de que apenas nesse intervalo (hoje), é que o interrogado não praticou o ato de conferir o resultado da loteria. 20 Orações adjetivas Os brasileiros, não se importam com a coletividade, só se preocupam com seu bem-estar, e por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos, etc. O pressuposto é que todos os brasileiros não se importam com a coletividade. 21 Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se preocupam com o seu bem-estar, e por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos, etc. Nesse caso, o pressuposto é outro: alguns brasileiros não se importam com a coletividade. 22 No primeiro caso, a oração é explicativa; no segundo é restritiva. As explicativas pressupõem que o que elas expressam se refere à totalidade dos elementos de um conjunto. As restritivas, que o que elas dizem concerne apenas a parte dos elementos de um conjunto. 23 Portanto, o produtor do texto escreverá uma restritiva ou uma explicativa segundo o pressuposto que quiser comunicar. 24 Vale lembrar que: O advérbio é uma categoria gramatical invariável que modifica verbo, adjetivo ou outro advérbio, atribuindo-lhes uma circunstância de tempo, modo, lugar, afirmação, negação, dúvida ou intensidade. 25 Por exemplo... “Ontem, ela não agiu muito bem.” Temos, nessa frase quatro advérbios: ontem, de tempo não, de negação muito, de intensidade bem, de modo. 26 As circunstâncias podem também ser expressas por uma locução adverbial - duas ou mais palavras exercendo a função de um advérbio. Por exemplo, a frase: “Ele, às vezes, age às escondidas.” Temos duas locuções adverbiais: às vezes, de tempo; às escondidas, de modo. 27 Classificação dos Advérbios 01) Advérbios de Modo: assim, bem, mal, acinte (de propósito, deliberadamente), adrede (de caso pensado, de propósito, para esse fim), debalde (inutilmente), depressa, devagar, melhor, pior, bondosamente, generosamente e muitos outros terminados em mente. Locuções Adverbiais de Modo: às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão. 28 02) Advérbios de Lugar: abaixo, acima, adentro, adiante, afora, aí, além, algures (em algum lugar), alhures (em outro lugar), nenhures (em nenhum lugar), ali, aquém, atrás, cá, dentro, embaixo, externamente, lá, longe, perto, aqui, dentro, fora. Locuções Adverbiais de Lugar: a distância, à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta. 29 03) Advérbios de Tempo: afinal, agora, amanhã, amiúde (de vez em quando), ontem, breve, cedo, constantemente, depois, enfim, entrementes (enquanto isso), hoje, imediatamente, jamais, nunca, outrora, primeiramente, tarde, provisoriamente, sempre, sucessivamente, já. Locuções Adverbiais de Tempo: às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia. 30 04) Advérbios de Negação: não, tampouco (também não). Locuções Adverbiais de Negação: de modo algum, de jeito nenhum, de forma nenhuma. 31 05) Advérbios de Dúvida: acaso, casualmente, porventura, possivelmente, provavelmente, talvez, quiçá, certamente, decerto, certo. Locuções Adverbiais de Dúvida: por certo, quem sabe. 32 06) Advérbios de Intensidade: assaz (bastante, suficientemente), bastante, demais, mais, menos, muito, quanto, quão, quase, tanto, pouco. Locuções Adverbiais de Intensidade: em excesso, de todo, de muito, por completo. 33 07) Advérbios de Afirmação: certamente, certo, decididamente, efetivamente, realmente, (realmente), decerto, indubitavelmente. deveras Locuções Adverbiais de Afirmação: sem dúvida, de fato, por certo, com certeza. 34 Advérbios Interrogativos: Usados em interrogações diretas ou indiretas. São as palavras: onde? aonde? donde? quanto? quando? como? por que? para que? 35 O advérbio “onde” pode combinar-se com a preposição “a” (aonde) e com a preposição “de” (donde) e o uso de cada uma das formas pode ser descrita assim: Onde: Indica o lugar em que se situa a ação verbal: Onde você mora? Aonde: Indica o lugar para o qual se dirige a ação verbal: Aonde você quer chegar? Donde: Indica o lugar do qual parte a ação verbal: Donde você veio? Quanto custa isto? Diga-me quanto custa isto. Quando voltas? Querem saber quando voltas. Como sabes isto? Ignoro como sabes isto. Por que choras? Não sei por que choras. Para que estudas? Pergunto para que estudas. 36 Locução Adverbial Quando há duas ou mais palavras que exercem função de advérbio tem- se a locução adverbial que podem expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinariamente por uma preposição. De lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para dentro, para fora, por aqui, por ali, por aí... De afirmação: por certo, sem dúvida... De modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em geral, frente a frente, de soslaio, de chofre, de viva voz. De tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje em dia, nunca mais, passo a passo, por miúdo. 37 OBS: Não confundir a locução adverbial com a locução prepositiva. Nesta última, a preposição vem sempre depois do advérbio ou da locução adverbial: Ex: perto de, antes de, dentro de... 38 Conjunção É uma das dez classes de palavras definidas pela gramática. As conjunções são palavras invariáveis que servem para conectar orações ou dois termos de mesma função sintática, estabelecendo entre eles uma relação de dependência ou de simples coordenação. São exemplos de conjunções: portanto, logo, pois, como, mas, e, embora, porque, entretanto, nem, quando, ora, que, porém, todavia, quer, contudo, seja, conforme. 39 Quando duas ou mais palavras exercem função de conjunção dá-se-lhes o nome de locução conjuntiva. São exemplos de locuções conjuntivas: à medida que, apesar de, afim de que. As conjunções ditas "essenciais" (isto é, palavras que funcionam somente como conjunção) são as seguintes: e, nem, mas, porém, todavia, contudo, entretanto, ou, porque, porquanto, pois, portanto, se, ora, apesar e como. 40 Subentendidos Borba ( 1998: 253): “insinuações semânticas que se acrescentam à significação dada pelo componente lingüístico”. No dizer de Maingueneau (2004: 33): o subentendido é um “tipo de implícito que se evidencia pelo confronto do enunciado com o contexto de enunciação.” 41 Os subentendidos são insinuações contidas em uma frase ou um grupo de frases. Supondo que uma pessoa estivesse em visita à casa de outra num dia de frio glacial e que uma janela, por onde entrassem rajadas de vento, estivesse aberta... ...se o visitante dissesse “Que frio terrível!”, poderia estar insinuando que a janela deveria estar fechada. 42 Existe, portanto, uma diferença marcante entre pressuposto e subentendido... O pressuposto é uma informação estabelecida como indiscutível tanto para o emissor quanto para o receptor, uma vez que decorre necessariamente do sentido de algum elementos linguístico colocado na frase. Ele pode ser negado, mas o emissor coloca-o implicitamente para que não o seja. 43 Já o subentendido é de responsabilidade do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha dito o que o receptor depreendeu de suas palavras. Assim, no exemplo do frio, se o dono da casa disser que é muito pouco higiênico fechar todas as janelas, o visitante pode dizer que também acha e que apenas constatou a intensidade do frio. 44 O subentendido, serve, muitas vezes, para o emissor proteger-se, para transmitir a informação que deseja dar a conhecer sem se comprometer. Imaginemos, por exemplo, que um funcionário recémpromovido numa empresa ouvisse de um colega o seguinte: -Competência e mérito continuam não valendo nada como critério de promoção nesta empresa... 45 Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita: -Você está querendo dizer que eu não merecia a promoção? O funcionário, poderia então, recorrer a subentendido, respondendo: -Absolutamente!! Estou falando em termos gerais. um 46 Ao articular as noções de pressuposto e de subentendido, Koch (1996: 69) diz que “a pressuposição é parte integrante dos enunciados; o subentendido, por sua vez, diz respeito à maneira como este sentido deve ser decifrado pelo destinatário.” 47 Enquanto os pressupostos estão relacionados a um componente linguístico – presente no próprio enunciado – independente das condições de ocorrência, os subentendidos estão previstos por um componente retórico que leva em conta as circunstâncias da enunciação, estando, portanto, ausentes no enunciado. 48 Assim, o pressuposto é uma informação estabelecida como indiscutível ou evidente tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois a estrutura linguística oferece os elementos necessários para depreender o sentido do enunciado. Já o subentendido, por possibilitar dizer alguma coisa, aparentando não dizer ou não dizendo, passa a ser de responsabilidade do ouvinte/leitor. 49 Resumindo: O pressuposto é uma informação estabelecida como verdade tanto para o emissor quanto para o receptor – ela está no enunciado e vem marcada linguísticamente no texto. O pressuposto é uma extensão do dito e não pode ser negado. O subentendido está presente na enunciação e é de responsabilidade do receptor. Abre-se a possibilidade de o emissor negar que tenha comunicado aquilo que o receptor disse entender. 50 EXERCÍCIO: ESCOLHA O SEU SONHO E A CASA FEITA DE SONHOS. 51 Referências bibliográficas ANDRADE, Maria Margarida de, HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: noções básicas para curso superiores. 7ªed. – São Paulo. Atlas, 2004. CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa. Produção de textos & Usos da Linguagem – Curso de redação. 2ª edição (1999). 4ª tiragem (2002). São Paulo. Editora Saraiva, 2002. FIORIN, José Luiz & PLATÃO, Francisco. Lições de Texto: leitura e redação. – São Paulo. Editora Ática, 2005. KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender: os sentidos do texto. São Paulo. Contexto, 2006. 52 Fontes Apostilas Anglo Vestibulares – Savioli, Francisco Platão, FIORIN, José Luiz. Gráfica e Editora Anglo Ltda, 2004. ATTENDER – autores diversos. Dicionário de Comunicação – Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa – Elsevier Editora e Novo Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa Século XXI, apud MATOS. Apostilas de Comunicação e Expressão U NIP on-line. 53