LEVANTAMENTO E CATALOGAÇÃO DAS FONTES PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS NOS CAMPOS GERAIS. “O PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR DA CIDADE DE PALMEIRA PR”. Lucia Mara de Lima Padilha Maria Isabel Moura Nascimento UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA INTRODUÇÃO Este projeto de pesquisa tem como objetivo a catalogação das fontes primárias e secundárias das Instituições Escolares nos Campos Gerais, contribuindo assim para a compreensão das transformações históricas da educação na região. O debate histórico das instituições escolares no país tem gerado profundos debates e direcionamentos importantes no interior dos grupos de pesquisa uma [...] vez que o significado da educação está intimamente entrelaçado ao significado de História. E no âmbito da investigação histórico-educativa essa implicação é duplamente reforçada do ponto de vista do objeto, em razão da determinação histórica que exerce sobre o fenômeno educativo, e do ponto de vista do enfoque, dado que pesquisar em história da educação é investigar o objeto educação sob a perspectiva histórica. (SAVIANI, 1998:11-12). O projeto Levantamento e Catalogação das Fontes Primárias e Secundárias: Instituições Escolares nos Campos Gerais-Pr (1904-1950) tem como um dos seus objetivos a organização, a catalogação, digitalização das fontes primárias, e secundárias e o estudo de fontes da História da Educação, em busca da compreensão do processo de constituição de Instituições Escolares nos Campos Gerais. Nos Campos Gerais o primeiro grupo escolar, “Dr. Vicente Machado” foi inaugurado em 1904 na cidade de Castro, acompanhando “[...] os moldes de excelência de Colégio Republicano, de modernização da sociedade castrense e o compromisso de melhorar as condições de ensino da população que não podia pagar para seus filhos estudarem na escola privada” (NASCIMENTO, 2004, P.33). As pesquisas e estudos sobre este tema vêm sendo desenvolvidos por grupos organizados em cada GT do HISTEBR. A investigação com fontes primárias e secundárias da educação busca, também, preservar o acervo de documentos que embasam a história das Instituições Escolares. Este projeto iniciou no ano de 2004 no processo de divulgação das informações existentes e, sobretudo, convidar e incentivar cada uma dessas Instituições Escolares a rever e divulgar sua história. Esta pesquisa vem buscando compreender as transformações históricas da sociedade e como a educação relaciona-se nesta pesquisa de forma dialética, sendo, portanto, fundamental considerar o contexto sócio-político-econômico no quais as políticas educacionais são organizadas na região dos Campos Gerais, cuja sociedade foi formada com características próprias, oriundas particularmente do processo de imigração. Até o final do século XVII, quase não havia moradores na região dos Campos Gerais. Suas terras eram utilizadas apenas como passagem, caminho percorrido pelos viajantes que vinham de Curitiba com destino à São Paulo. “Já antes de 1704 havia caminho entre as vilas de Curitiba e Sorocaba, usado para transportar o gado que ia dos Campos Gerais para São Paulo e as minas de ouro”. (Lopes, 2000, p. 25) Com a descoberta de ouro em Minas Gerais o rei de Portugal ordenou que fossem abertas sesmarias1 na região sul para a criação do gado, proibindo assim a comunicação entre as capitanias canavieiras e mineiras evitando assim o desvio do ouro. A primeira sesmaria solicitada nos Campos Gerais foi em 1704, do Jaguaricatu até Itaiacoca nela falando no caminho que ia da vila de Sorocaba para a vila de Curitiba. Este caminho já devia existir no final do século XVII, e não passava pelos locais onde estão hoje as cidades de Castro, Ponta Grossa e Palmeira. [...] (Lopes, 2000, p. 5) O povoamento da cidade de Palmeira está ligado a João Rodrigues França último governador da capitania de Paranaguá, que “esteve em Curitiba quando a bandeira comandada por Antônio Luís Tigre descobriu as minas de Itambé e por ocasião arrematou uma carta de data [...]” (Idem, 2000, p.6). ________________________________________________________________ 1 – Sesmaria: Terreno inculto ou abandonado, maninho, que os reis de Portugal distribuíam aos colonos ou cultivadores; antiga medida agrária; légua de sesmaria: medida itinerária, equivalente a 3000 braças ou 6600 metros. Em 1707, D. Fernando Mascarenhas, governador do Rio de Janeiro, passou a João Rodrigues França a patente de capitão-mor, onde permaneceu até sua morte em 1715 deixando muitos bens para seus herdeiros, dentre os quais as fazendas de Palmeira e Papagaios. As terras da cidade de Palmeira, pertencentes ao Doutor Antonio dos Santos Soares e transferidas a sua enteada Antonia da Cruz França, neta de João Rodrigues França, “foram obtidas em sesmaria pelo guarda-mor Francisco Luís de Oliveira no dia 22 de outubro de 1783” (Idem, 2000, p.89) que alegava ser morador na vila de Curitiba e se achava arranchado nos campos da Palmeira, sendo vendidas ao seu suposto cunhado o Tenente José de Araújo. Manoel José de Araújo no dia 7 de abril de1819 (considerada a data oficial da fundação de Palmeira) doou para Nossa Senhora da Conceição representada pelo vigário Antônio Duarte dos Passos, um terreno para edificar uma igreja que seria a Matriz de uma nova freguesia dos Campos GeraisSomente no dia 05 de julho de 1820, após o bispo de São Paulo atender a petição do vigário da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Tamanduá, foi concedida a permissão da edificação da igreja. Após o começo da construção da igreja, começaram a ser edificadas as primeiras casas da freguesia. As obras da Igreja Matriz foram concluídas em 1837 com a freguesia da Palmeira já bastante desenvolvida “[..] era composta de seis quarteirões: bairro Da Freguesia, Santa Quitéria, Papagaios Novos, Ferrador (e Caiacanga), bairro dos Matos e Santa Cruz dos Matos [..} (Idem, 200, p.193). Em 15 de fevereiro de 1870 a freguesia é levada à condição de Vila de Nossa Senhora da Conceição da Palmeira. A partir da elevação de Palmeira à condição de Vila, adquiriu o direito de ter autoridades executivas e legislativas municipais. A freguesia da Palmeira foi povoada por ricos fazendeiros portugueses, antigos Bandeirantes Paulistas que se fixaram na região, caboclos e negros descendentes de escravos. A partir de 1878, por iniciativa dos governos provincial e imperial começam a se estabelecer na região várias colônias de imigrantes, dentre elas: Colônia dos Russos Alemães; dos Poloneses; Italianos Anarquistas; Alemães Menonitas; Russos Brancos; Sírio-Libaneses e dos Japoneses. Nesse contesto histórico originou-se o Grupo Escolar ''Conselheiro Jesuíno Marcondes'‘, primeiro Grupo Escolar oficializado da cidade de Palmeira, construído em um terreno com frente para a Praça Marechal Floriano Peixoto e para a Rua Conceição. Esse terreno, totalmente abandonado devido ao desconhecimento ou desinteresse por parte dos donos, foi doado pela prefeitura ao Estado para a construção de um prédio para o funcionamento de uma escola. Através do decreto Estadual Lein° 407, de 03 de dezembro de 1904, o Governo concebeu uma verba para a construção do Grupo que deveria ter a denominação perpétua de “Jesuíno Marcondes”. A construção do prédio do Colégio iniciou-se em 1904, tendo sido concluída em 1906. Sua inauguração foi realizada no primeiro trimestre de 1907 com a presença de várias autoridades locais. As aulas eram em tempo integral, seus horários eram divididos em dois turnos: o primeiro turno começava às 08h00minh da manhã até às11: 00h e o segundo começava ao meio dia e terminava às 16h00minh, para somente então os alunos serem liberados. Nessa época estudavam cerca de 100 alunos, todos do sexo masculino, onde os mais adiantados ajudavam os mais novos ensinando as primeiras letras, iniciando assim o processo da alfabetização. Em agosto de 1938 o colégio passou a funcionar no endereço atual localizado na Rua Jesuíno Marcondes n°200. Deixando o prédio antigo onde atualmente funciona a Escola Municipal Imaculada Conceição. A reorganização da escola deu-se com o Decreto n°4631 de 14 de fevereiro de 1978, quando passou a se chamar: Escola Estadual “Jesuíno Marcondes – Ensino de 1° Grau”. Nesse ano de 2007, a escola completa seus 100 anos de existência. Para comemoração de seu centenário o Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira, fundado em 16 de fevereiro de 1955 com a finalidade de estudar e investigar a História e a Geografia de Palmeira e do Paraná, está organizando a publicação de um livro que contemplará os dados sobre a trajetória da escola. Acreditamos que esse estudo possa contribuir para as pesquisas em História da Educação Brasileira e principalmente na região dos Campos Gerais-Pr. Para isso buscamos como: Objetivo geral: Resgatar o processo histórico de constituição e de institucionalização do primeiro Grupo Escolar do Município de Palmeira, no início da Primeira República, e sua importância para a região dos Campos Gerais. Objetivos específicos: Compreender o contexto histórico de formação da região de Palmeira – PR. Catalogar as Fontes Primárias e secundárias. Analisar a criação do grupo escolar. Metodologia Para alcançar os objetivos propostos para esta pesquisa, serão analisados documentos particulares, como a documentação dos imigrantes e descendentes que moram na região. Também estão sendo catalogados e digitalizados leis, pareceres, jornais, relatórios que tratam da educação em Palmeira, Museu da cidade, Casa da Memória de Ponta Grossa, Museu Campos Gerais - PR, Fontes Iconográficas e Fontes Documentais (Leis, Decretos, Regulamentos, Portarias, Atas de reuniões, projeto pedagógico e Jornais da época). Buscamos também mapear o espaço de poder (diretoria, secretaria, sala dos professores), a organização do uso do tempo, a seleção de conteúdos escolares, a origem social da clientela escolar e seu destino provável, os professores, a legislação, as normas e a administração da escola, e também realizar o levantamento das fontes iconográficas. A pesquisa utiliza-se dos seguintes recursos gráficos para a identificação do tipo de fonte (primária ou secundária) que está sendo utilizada: “itálico” - para as fontes primárias. As citações de fontes primárias mantiveram a redação original, sem qualquer atualização ortográfica. “Sem itálico” - para as fontes secundárias (NASCIMENTO, 2004). Juntamente com todo esse processo de trabalho, será realizada a catalogação das fontes em um banco de dados digital onde estão sendo digitalizadas as fontes primárias para serem disponibilizados os resultados alcançados. Nessa fase, todas as informações levantadas alimentarão uma base de dados nacional que servirá para elaboração de um catálogo nacional das instituições escolares do país. Considerações Finais O levantamento e a catalogação das fontes primárias e secundárias dos primeiros Grupos Escolares na região dos Campos Gerais, será de grande valia para pesquisadores da área. Através desse banco de dados todos poderão ter acesso a informações sobre as primeiras instituições escolares da nossa região. Outro fator de suma importância é o despertar das crianças com relação a escola de sua cidade, de seu bairro. Pois através da curiosidade em saber qual é a trajetória de sua escola elas estarão contribuindo para que esta história seja transmitida, não simplesmente esquecida como se fosse algo antigo que não mereça ser preservado. Acreditamos também que este estudo contribuirá para aumento do acervo educacional dos Campos Gerais-PR, e fortalecendo a linha de pesquisa da História das Instituições Escolares Nos Campos Gerais-PR. BIBLIOGRAFIA: BACH, Arnoldo Monteiro. Carroções. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2003. LOPES, José Carlos Veiga. Raízes de Palmeira. Paraná: Academia Paranaense de Letras, 2000. NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. A primeira escola de professores dos Campos GeraisPR. Tese de Doutorado 2004. UNICAMP SAVIANI, Dermeval, LOMBARDI, José Claudinei, SANFELICE, José Luis (orgs). História e História da educação. Campinas, SP: Autores Associados/ HISTEDBR, 1998