Publicação mensal da construção civil . ano 6 . nº 64 . Junho 2009
Sistemas eletrônicos
de segurança
Tecnologia aplicada à construção civil
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Engenharia
Arte: Gabriel Campos
PORQUE NÃO
DEVEMOS
ADICIONAR
MAIS ÁGUA
AO CONCRETO
ecentemente, tivemos o prazer
de orientar os alunos Rafael Araújo
Moreira de Andrade e Helberth
Francisco Lopes na confecção de
trabalho de conclusão do curso de
pós-graduação em Gestão de Projetos de Engenharia, oferecido pelo
IEC/PUC Minas. Eles se inspiraram
na palestra inaugural do curso, proferida pelo conceituado Prof. Paulo
Helene.
O concreto é o segundo material
mais consumido pelo homem em
obras, perdendo apenas para a água.
Feita com uma mistura de areia, pedra, cimento e água, a estrutura de
concreto armado é a mais comum
na construção civil. A água na mistura do concreto é, provavelmente,
o seu componente menos dispendioso, mas é também, seguramente,
um dos mais importantes.
Porém, muitos cuidados devem
ser tomados para que o concreto tenha a durabilidade desejada. Alguns
estão relacionados à presença, ou
não, em grande ou pequena quantidade, de água na pasta de cimento
ou no meio em que o concreto está
exposto. É imperativo entender que
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desde o momento da hidratação
até a deterioração, a quantidade
de água presente no meio externo
e interior do concreto, endurecido
ou no estágio plástico, tem grande
influência na definição de suas propriedades físicas, o que futuramente
influenciará na sua durabilidade.
Hidratação da pasta de cimento
O que faz o concreto endurecer,
adquirindo resistência, é um processo químico que acontece quando
o cimento, na presença de água,
reage aos silicatos e aluminatos que
compõem a sua estrutura, formando produtos de hidratação que, com
o transcorrer do tempo, dão origem
a uma massa firme e resistente, chamada pasta de cimento endurecida.
Há duas maneiras da pasta de cimento reagir com a água: por meio
da hidratação ou por hidrólise.
Influência da água na trabalhabilidade do concreto
Um concreto trabalhável pode
ser entendido, grosso modo, como
um concreto que possui uma plasticidade. Esta deve proporcionar
Junho de 2009
um fácil lançamento, manuseio e
adensamento. Porém, com o passar
dos minutos, se o concreto ainda
não tiver sido lançado, começa a
perder sua trabalhabilidade. Isso
acontece devido a reações químicas
do contato do cimento com a água.
Nesta ocasião, resta menos água
para “lubrificar” o movimento das
partículas de mistura do concreto,
além de parte da água perdida por
evaporação, para o meio externo.
Quando acontece esta perda
de trabalhabilidade do concreto,
não se deve acrescentar mais água
à mistura. Com a adição de mais
água, ocorre a diminuição de suas
resistências mecânicas.
Porosidade
O concreto é um material
naturalmente poroso, tendo em
vista que, para tornar possível sua
produção, utiliza-se uma quantidade de água maior que a necessária
à hidratação do cimento. Essa água
que sobra, poderá formar uma rede
de canais capilares ou poros que,
somada aos vazios presentes na mistura, devido ao ar aprisionado ou
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incorporado ao concreto, definirão
a porosidade do material.
A relação água/cimento tem participação importante neste fenômeno.
Quanto maior essa relação, maior
a quantidade de água no concreto, aumentando a possibilidade de formação dos canais capilares e, conseqüentemente, de se obter um concreto
mais poroso que o recomendável.
Permeabilidade
É de fundamental importância
para a durabilidade do concreto, a
dificuldade enfrentada quando o ar,
alguns gases e a água (vapor d’água)
conseguem penetrar no interior do
concreto. Esta penetração ocorre
por dois processos: pela diferença de
pressão entre o interior do concreto
e o meio externo e pela igualdade de
pressão e temperatura nos dois lados,
com dois gases diferentes, em movimentação nos dois lados, deslocando
através do concreto por difusão.
A permeabilidade do concreto
está relacionada à sua porosidade.
Se ela for grande, com poros interligados, há grande contribuição para
o deslocamento dos fluidos através
do concreto. Desse modo, a permeabilidade também é elevada. Mas se
os poros forem descontínuos ou, de
alguma outra forma, ineficazes no
deslocamento de fluidos, a permeabilidade do concreto será baixa,
mesmo com a porosidade alta.
Podemos concluir que a água é
um material imprescindível às estruturas de concreto e sua utilização
nas proporções certas é fundamental para garantir uma estrutura de
boa qualidade e longa durabilidade.
A sua utilização incorreta poderá
acarretar grandes transtornos futuros. Não existe uma fórmula exata
para determinarmos a quantidade
de água que o concreto deve ter.
Esta quantidade varia em cada caso
e de acordo com a necessidade dos
construtores.
Desse modo, recomendamos que
antes de comprar ou fabricar qualquer tipo de concreto, um estudo
do traço seja realizado em conjunto
com uma empresa de consultoria,
com o calculista do projeto e até
mesmo com a concreteira. Inicialmente, isso trará algum custo
adicional ao empreendedor, mas os
ganhos futuros com a utilização de
um concreto de qualidade, durável
e que atenda às necessidades do
empreendimento, são altamente
compensatórios.
Eng. Clémenceau Chiabi Saliba Júnior
Coordenador de pós-graduação do IEC/PUC Minas
e diretor do Instituto Mineiro de Avaliações e
Perícias de
Engenharia (Ibape-MG)
E-mail: [email protected]
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Edição número 64