0 UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA Bruna Morais de Moura Charlene de Oliveira Fonseca Taynã Feliz Paixão RELAÇÃO QUANTITATIVA ENTRE O PESO DA MOCHILA ESCOLAR X O PESO DA CRIANÇA E SUAS POSSÍVEIS ALTERAÇÕES POSTURAIS E ALGIAS BELÉM 2009 1 Bruna Morais de Moura Charlene de Oliveira Fonseca Taynã Feliz Paixão RELAÇÃO QUANTITATIVA ENTRE O PESO DA MOCHILA ESCOLAR X O PESO DA CRIANÇA E SUAS POSSÍVEIS ALTERAÇÕES POSTURAIS E ALGIAS Monografia apresentada à Universidade da Amazônia para a obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia. Orientadora: Prof. Dra. Angélica Homobono Nobre. BELÉM 2009 2 Bruna Morais de Moura Charlene de Oliveira Fonseca Taynã Feliz Paixão RELAÇÃO QUANTITATIVA ENTRE O PESO DA MOCHILA ESCOLAR X O PESO DA CRIANÇA E SUAS POSSÍVEIS ALTERAÇÕES POSTURAIS E ALGIAS Monografia apresentado à Universidade da Amazônia para a obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia. Orientadora: Prof. Dra. Angélica Homobono Nobre. Banca Examinadora __________________________________ Prof. Dra. Angélica Homobono Nobre Orientadora __________________________________ Prof. Esp. Erielson Bossini __________________________________ Prof. Esp. Said Kalif Kalume __________________________________ Prof. Esp. Nelson Higino de Oliveira Filho Apresentado em: _____/____/____ Conceito: ____________________ BELÉM 2009 3 Aos nossos pais, pelo amor, paciência, compreensão e apoio nas horas difíceis; Às nossas famílias que sempre estiveram ao nosso lado durante todos os dias de nossas vidas, nos momentos de felicidade e nos momentos de dificuldade; Aos nossos amigos que incentivaram nesta jornada com palavras de apoio; E todos aqueles que torceram por nós, que acreditaram em nosso potencial e que hoje vibram com nosso sucesso. 4 AGRADECIMENTOS Aos professores do curso de Fisioterapia, que com paciência e dedicação souberam transmitir o conhecimento para que pudéssemos chegar onde estamos e por saber usar o lado humano e profissional em todos os momentos, nossa eterna gratidão. Aos professores que apresentavam obstáculos durante o curso, ficamos gratas por nos ensinar a superá-los, em especial os professores Erielson Bossini e Nelson Higino. Aos nossos pais: Oceanira e José (Bruna), Maria Celina e José Maria (Charlene) e Maria das Dores e Carlos Natanael (Taynã), por tudo o que fizeram, pelos sacrifícios realizados, pelo amor dedicado e por contribuírem para formação de nossas personalidades, nossa sincera homenagem. Gostaria (bruna) de oferecer um agradecimento em especial aos meus avós Ernesto (In memorian) e Brasília, e aos meus tios Virgínia e Venícios por todo o apoio e dedicação nesses anos de jornada. Às nossas famílias (tios, tias, primos, primas, avós e animais), amigos e colegas, que muitas vezes ouviam nossos desabafos de maneira compreensiva e sempre nos deram força para continuar. A Deus, por colocar em nosso caminho tantas pessoas maravilhosas e fazer acontecer todos os nossos objetivos. A nossa orientadora Prof. Drª. Angélica Homobono Nobre pela dedicação durante o desenvolvimento desse estudo. À equipe do Colégio CESEP, aos pais dos alunos e as crianças que foram de fundamental importância para a realização deste trabalho. 5 Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela. Albert Einstein 6 RESUMO Muitos desvios posturais e algias são adquiridos na fase de desenvolvimento corporal do indivíduo. Um dos fatores contribuintes está relacionado ao ambiente escolar, visto que crianças transportam mochilas muito pesadas. Devido tal problemática, realizamos este estudo com o objetivo de correlacionar o sobrepeso das mochilas escolares a possíveis alterações posturais e algias nos estudantes do Centro de Serviços Educacionais do Pará (CESEP) na cidade de Belém-PA. A pesquisa aconteceu com a participação voluntária de 40 estudantes, do sexo feminino e masculino, na faixa etária de 9 a 11 anos. Os materiais utilizados para coletar os dados foram: uma ficha de avaliação postural, uma balança e um questionário. Os resultados obtidos foram: o desvio postural mais prevalente foi a hiperlordose, seguido de escoliose e hipercifose. A hiperlordose e a hipercifose não aumentou significativamente a sensação de dor, diferentemente da escoliose. A hiperlordose associada à sobrecarga da mochila escolar foi evidenciada, diferentemente da hipercifose e da escoliose. Os desvios hiperlordose e escoliose estão associados ao hábito de carregar a mochila pela lateral. Não existe real associação entre a sobrecarga da mochila e níveis de dor. A hiperlordose e hipercifose não estão associados à dor, diferentemente da escoliose. O peso da mochila tem influência somente no aparecimento da hiperlordose. Concluímos com este estudo que é fundamental adotarmos medidas educativas e preventivas em torno deste problema a fim de minimizar os efeitos deletérios da sobrecarga das mochilas sobre a coluna vertebral dos escolares e evitar disfunções posturais na vida adulta dos mesmos. Palavras-chave: Crianças. Peso da Mochila Escolar. Alterações Posturais. Algias. 7 ABSTRACT Many postural deviations and localized pains are acquired during the development of the individual body. One of the contributing factors is related to the school environment, as children carry backpacks too heavy. Because of this problem, we conducted this study in order to correlate the overweight school bags to possible localized pains and postural changes in the students of the Centro Centro de Serviços Educacionais do Pará (CESEP) in Belém-PA. The research took place with the voluntary participation of 40 students, female and male, aged 9 to 11 years. The materials used to collect data were: a summary of postural evaluation, a scale and a questionnaire. The results were the most prevalent postural deviation was concavity, followed by scoliosis and kyphosis. The concavity and kyphosis did not significantly increase the sensation of pain, unlike the scoliosis. Deviations concavity and scoliosis are associated with the habit of carrying a backpack from the side. There is no real association between the burden of the backpack and levels of pain. The concavity and kyphosis are not associated with pain, unlike the scoliosis. The weight of the backpack has influence only in the appearance of the concavity. We conclude from this study it is essential we adopt preventive measures and education around this problem in order to minimize the deleterious effects of overloading the backpack on the spine of school and avoid postural dysfunctions in adult life the same. Key-words: Children. School Bag Weight. Postural Changes. Localized Pains. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Coluna Vertebral........................................................................................ 17 Figura 2 - Atlas e Áxis................................................................................................ 19 Figura 3 - Sacro Cóccix.............................................................................................. 20 Figura 4 - Hipercifose Torácica.................................................................................. 27 Figura 5 - Hiperlordose Lombar................................................................................. 28 Figura 6 - Escoliose.................................................................................................... 29 Figura 7 - Testes de verificação de presença de escoliose........................................ 30 Figura 8 - Desenvolvimento Postural........................................................................ 37 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Prevalência de hiperlordose, hipercifose e escoliose.................................... 55 Gráfico 2 - Variação e tendência de dor conforme os desvios posturais: hiperlordose, hipercifose e escoliose.................................................................................... 56 Gráfico 3 - Percentuais de hiperlordose e a sobrecarga da mochila escolar................... 57 Gráfico 4 - Percentual de hipercifose associada à sobrecarga da mochila escolar........ 58 Gráfico 5 - Percentual de escoliose associado à sobrecarga da mochila escolar............. 59 Gráfico 6 - Distribuição dos desvios posturais conforme a maneira de carregar a mochila......................................................................................................... 60 Gráfico 7 - Diagrama de dispersão da dor em relação à sobrecarga da mochila............. 61 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Prevalência de hiperlordose, hipercifose e escoliose.................................... 55 Tabela 2 - Variação e tendência de dor conforme os desvios posturais: hiperlordose, hipercifose e escoliose.................................................................................... 56 Tabela 3 - Presença de hiperlordose associada à sobrecarga da mochila escolar............ 57 Tabela 4 - Presença de hipercifose associada à sobrecarga da mochila escolar.............. 58 Tabela 5 - Presença da escoliose associada à sobrecarga da mochila escolar................ 59 Tabela 6 - Formas de carregar a mochila e os desvios posturais.................................... 60 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO……………………………………………….……...…………..... 13 2 COLUNA VERTEBRAL E AS DESORDENS POSTURAIS………......……......16 2.1 COLUNA VERTEBRAL E A IMPORTÂNCIA DE SUAS FUNÇÕES…..…...... 16 2.1.1 Evolução histórica………………………......……………..…...……………..... 16 2.1.2 Sistema esquelético: osteologia da coluna vertebral ........................................ 16 2.1.3 Tecidos moles não contráteis e ligamentos da coluna vertebral...................... 20 2.1.4 Grupos musculares: manutenção e estabilidade da coluna vertebral............ 24 2.1.5 Os desvios da coluna vertebral............................................................................26 2.1.5.1. Hipercifose.................................................................................................. 27 2.1.5.2 Hiperlordose.................................................................................................. 28 2.1.5.3 Escoliose............................................................................................................. 29 2.1.6 Biomecânica da coluna vertebral antes das alterações posturais................... 31 2.2 POSTURA................................................................................................................ 33 2.2.1 Definição............................................................................................................... 33 2.2.2 Boa e má postura................................................................................................. 34 2.2.3 Fatores que alteram a postura.............................................................................35 2.2.4 Desenvolvimento postural infanto-juvenil......................................................... 36 2.3 DESARRANJOS E DESCONFORTOS POSTURAIS............................................ 38 2.3.1 Dor: consequências na musculatura estabilizadora da coluna.........................40 2.3.1.1 Cervicalgia........................................................................................................ 41 2.3.1.2 Dorsalgia............................................................................................................ 42 2.3.1.3 Lombalgia.......................................................................................................... 42 2.4 AMBIENTE ESCOLAR.......................................................................................... 43 2.5 AMBIENTE ESCOLAR X POSTURA NA INFÂNCIA......................................... 44 2.6 MOCHILA ESCOLAR E AS LEIS......................................................................... 46 3 OBJETIVOS............................................................................................................... 49 3.1 GERAL.................................................................................................................... 49 3.2 ESPECÍFICO........................................................................................................... 49 4 DELINEAMENTO DA PESQUISA........................................................................ 50 4.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................... 50 4.2 POPULAÇÃO / AMOSTRA.................................................................................. 50 12 4.2.1 Critérios de inclusão e exclusão........................................................................... 50 4.3 INSTRUMENTOS E COLETA DE DADOS......................................................... 51 4.4 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS..............................51 52 4.5 CLASSIFICAÇÃO DOS RESULTADOS.................................................................. 5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS......................................................................... 54 5.1 RESULTADOS....................................................................................................... 54 5.2 DISCUSSÃO........................................................................................................... 61 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 68 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 69 APÊNDICES.............................................................................................................. 77 ANEXOS..................................................................................................................... 79 13 1 INTRODUÇÃO As afecções posturais não são um problema recente, acometem o homem há milhares de anos. Desde 5.000 anos atrás, existem relatos dos antigos egípcios sobre o assunto e no ano de 1.600 era a maior preocupação do fundador da medicina ocupacional, Bernardino Ramazzini. (SNOOK apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000) A postura bípede, adotada pelo homem, foi conquistada a partir de várias adaptações no corpo humano. Essas adaptações facilitaram, de certo modo, as habilidades de um homem que vivia em habitat primitivo, para trabalhos mais específicos que desenvolveriam habilidades complexas. Porém, com isso alguns agravantes surgiram e as chamadas alterações posturais começaram aparecer e com elas suas alterações secundárias, como os desconfortos corporais. (NASCIMENTO, 2005) Atualmente, as doenças nas costas, mais especificamente as dores na região lombar (lombalgia), são muito prevalentes na população adulta (WEBB et al., 2003) e também na população adolescente (HAKALA et al., 2002). Muitas vezes, a ocorrência da lombalgia precede ou é concomitante às alterações da postura corporal. Essa associação pode ser explicada pelo fato de que muitas posturas corporais adotadas no dia-a-dia são inadequadas para as estruturas anatômicas, pois aumentam o estresse total sobre os elementos do corpo, especialmente sobre a coluna vertebral, podendo gerar desconfortos, dores ou incapacidades funcionais. (GROSS et al., 2000) Muitos problemas posturais, em especial aqueles relacionados com a coluna vertebral, têm sua origem no período de crescimento e desenvolvimento corporais, ou seja, na infância e na adolescência (BUNNEL, 2005 e NISSINEN et al., 2000). Além disso, durante o período de desenvolvimento motor/físico, os indivíduos estão sujeitos a comportamentos de risco para a coluna, principalmente aqueles relacionados à utilização de mochilas e à postura sentada (para assistir à televisão e utilizar o computador, por exemplo) (SHEHAB et al., 2005). Tais comportamentos podem acarretar alterações posturais tanto laterais como ântero-posteriores. (DETSCH et al., 2001) Crianças são indivíduos em crescimento e desenvolvimento, por isso, as rápidas mudanças que ocorrem durante a adolescência fazem com que seus tecidos sejam estruturalmente mais frágeis à ação deletéria de cargas mecânicas quando comparados a indivíduos maduros. Por conseguinte, as cargas impostas durante o período de crescimento podem modelar o tamanho, o formato e a estrutura da coluna vertebral e levar ao 14 aparecimento de curvaturas posturais anormais na coluna vertebral do indivíduo jovem quando aplicadas rotineiramente. (WINTER et al., 1994; WATKINS, 1999; HONG e CHEUNG, 2003) As alterações posturais e dores na coluna vertebral em crianças são apontadas como multicausais. Isto é, um dos fatores mais destacados em relatos científicos refere-se aos hábitos relacionados às atividades escolares. Embora, a comunidade científica não tenha ainda identificado a quantidade de carga crítica por criança acima da qual ela estaria sujeita a problemas na coluna vertebral e a melhor maneira de transporte, vários autores concordam que a quantidade de carga transportada não deve exceder a 10% da massa corporal do indivíduo, que o transporte deve acontecer com apoio nos dois ombros e que as crianças devem ser orientadas sobre o uso correto das mochilas. (CATTALORDA et al.; SIAMBANES et al., 2004) Desta forma, ao relacionar ambiente escolar e postura percebe-se que os problemas são diversos, desde dificuldades ergonômicas, como as encontradas no transporte do material escolar, arquitetura desfavorável do imóvel, disposição e proporções inadequadas do mobiliário, as quais, provavelmente, serão responsáveis pela manutenção, aquisição ou agravamento de hábitos posturais inapropriados. (BRACCIALLI; VILARTA, 2000) Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o peso de mochilas, pastas e similares não deve ultrapassar 5% do peso de crianças da pré-escola e 10% do peso do aluno de ensino fundamental. (WHO, 2009) Mochilas são utilizadas para transportar cargas e habitualmente usadas pelos estudantes para carregar materiais pessoais e escolares; essa atividade representa a forma mais comum de esforço físico relacionado ao manuseio e transporte de peso pelo indivíduo jovem. (FORJUOH, 2003; MACKIE et al., 2003) Segundo Braccialii e Vilarta (2000), aqueles alunos que transportam seu material escolar em mochilas apresentam maior tendência a desequilíbrios do tronco levando a desequilíbrios musculares e sobrecargas indevidas em determinados pontos da coluna. O excesso de peso e o transporte inadequado do material escolar, a ausência de atividade física específica e posturas incorretas adotadas durante as aulas e em período extra-escolar, são fatores que contribuem ou até mesmo agravam desvios posturais nos escolares. Acima de tudo, a Fisioterapia atua neste ponto, analisando tanto as posturas, desconfortos corporais, flexibilidade, estudando aspectos ergonômicos do ambiente escolar, sugerindo melhoras e/ou adaptações nestes ambientes, como também orientando os adolescentes e crianças em seus hábitos posturais, podendo não só desvendar quais os 15 desarranjos encontrados como também intervir não invasivamente nessas alterações tratando desordens osteomioarticulares, para assim evitar, que cerca de 80% das pessoas de todo o mundo tenham ou terão um problema de dor relacionado com a coluna. (CAILLIET apud KNOPLICH, 1984) Considerando que, as crianças e os adolescentes passam em média a 4 a 6 horas no ambiente escolar, torna-se importante uma intervenção neste período, preventivo, para que essas alterações não se tornem agravantes e possam prejudicar sua qualidade de vida. Portanto, é baseado nestes preceitos que buscamos por meio deste estudo verificar a possibilidade das variáveis analisadas serem capazes de indicar a ocorrência de dor na coluna e de alterações posturais em crianças de nove a 11 anos da 4ª série do Ensino Básico avaliadas, para que possíveis intervenções sejam tomadas, entre elas: palestras educativas sobre hábitos posturais. 16 2 COLUNA VERTEBRAL E AS DESORDENS POSTURAIS 2.1 COLUNA VERTEBRAL E A IMPORTÂNCIA DE SUAS FUNÇÕES 2.1.1 Evolução histórica A coluna vertebral ou esqueleto axial do homem, o torna a espécie mais evoluída. (VILADOT; COHI; CLAVELL apud NASCIMENTO, 2005) Com isso, diferenciando-se dos demais animais, o homem assume a postura ereta e marcha bípede, da qual provém de várias alterações no eixo da coluna vertebral. Sendo assim, Palastanga, Field e Soames (2000), descrevem quatro alterações fundamentais que ocorreram na coluna vertebral e no tórax durante a evolução humana para uma postura ereta: Primeiro, os corpos vertebrais aumentam em tamanho em direção à região lombar, devido às forças de compressão ao longo do tronco aumentaram de cima a baixo deixando de ser constantes; Segundo, os processos espinhosos são mais ou menos igualmente desenvolvidos ao longo da coluna vertebral, porque a tendência à flexão não é mais restringida às cinturas dos membros, mas distribuídas uniformemente. Terceiro, o efeito enrijecedor do esterno e dos músculos abdominais sobre a coluna vertebral tornou-se menos importante. Desse modo, o esterno veio a situar-se mais perto da coluna vertebral, de modo que o tórax é mais largo e menos profundo. E por último, a transmissão aumentada de peso através da pelve e das pernas produziu um aumento do sacro, tal que o sacro humano usualmente é composto de cinco segmentos fundidos. Ele também é relativamente largo e mais convexo na sua superfície pélvica. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) 2.1.2 Sistema esquelético: osteologia da coluna vertebral Segundo Knoplich (2004) relata que a coluna vertebral do ponto de vista da engenharia é de uma constituição perfeita. E ainda faz uma comparação entre a coluna de um prédio que tivesse que suportar toda a estrutura e ao mesmo tempo tivesse que movimentar esse prédio. Seria “impossível”. Mas a coluna faz isso. A coluna vertebral é composta por 33 vértebras e estão divididas em quatro regiões: cervical (sete vértebras), torácica ou dorsal (dose vértebras), lombar (cinco vértebra), sacro 17 (cinco vértebras) e cóccix (três ou quatro vértebras) (KNOPLICH, 2004). Conforme ilustração da figura 1: Figura 1: Coluna vertebral. Fonte: Netter, 1999. As vértebras têm formas diferentes conforme a região, mas de uma maneira geral são semelhantes, pois todas têm uma região posterior formada por três asinhas duas chamadas apófises transversas e uma apófise espinhosa. A região anterior ao orifício por onde passa a medula desempenha a função de sustentação. (KNOPLICH, 2004) No entanto, com a exceção da primeira e segunda vértebras cervicais, todas as demais possuem um grande corpo que sustenta peso anteriormente e um arco vertebral posteriormente, o qual consiste em uma série de processos ósseos. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) Sendo assim, o corpo vertebral consiste em uma fina camada externa de osso cortical. Em virtude disto, o corpo vertebral tenderia a permanecer colapsado, se não fosse seu recheio de osso esponjoso, cujas trabéculas agem como apoio sem torná-lo excessivamente pesado. (WAINWRINGHT et al, apud OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998) 18 Watkins (2001) realça que a incisura vertebral inferior da vértebra inferior forma um orifício chamado forame intervertebral, na qual é ocupado por um nervo periférico. Este originado da junção de cada pedículo e lâmina, além disso, há três processos: o processo transverso, que se projeta lateralmente, e os processos articulares, um dirigido para cima e outro para baixo. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000). E projetando-se posteriormente a partir da junção das duas lâminas encontram-se os processos espinhosos (HAMILL; KNUTZEN, 2007). Contudo, tanto o processo espinhoso quanto o transverso servem como locais de inserção para os músculos espinhais que correm pela coluna. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) Todas as vértebras cervicais (C1 a C7) têm um buraco chamado forame transverso, dentro de cada processo transverso. Aliás, esta é uma característica dessas vértebras. (WATKINS, 2001) A sétima vértebra cervical, que apresenta o maior processo espinhoso na área cervical, não é bífido, é denominada vértebra proeminente, mas geralmente não é o processo espinhoso mais proeminente. (MC MINN apud GOULD III, 1993) Já as vértebras torácicas são em número de doze, sendo que o tamanho das estruturas é intermediário entre os da cervical e lombar, com a característica de terem processos transversos maiores e duas semifacetas no corpo vertebral para a articulação das costelas. (KNOPLICH, 1986) Além disso, os corpos das vértebras torácicas são mais altos e mais quadrados no plano transverso. Entretanto, os corpos das vértebras torácicas médias geralmente apresentam uma forma semelhante a um coração em função da aorta descendente. (GOULD III, 1993) As vértebras lombares são em número de cinco, sendo as de maior tamanho (KNOPLICH, 1986). Deste modo, elas não possuem nem forames transversários nem facetas articulares para as costelas. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) As vértebras lombares são caracterizadas por grandes corpos vertebrais ovóides, com pedículos largos, pilares articulares, processos transversos relativamente pequenos, e processos espinhosos quadrangulares. (GOULD III, 1993) Neste sentido, a principal característica diferenciadora da vértebra lombar é a orientação das facetas nos processos articulares, superior e inferior. Desta forma, as facetas nos processos articulares superior orientam-se medial e posterior, e as facetas nos processos articulares inferior estão viradas, lateral e anterior. (WATKINS, 2001) 19 Deste modo, a quinta vértebra lombar possui o maior corpo, o qual é mais acentuadamente cuneiforme (mais achatado na frente do que atrás). (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998) Falando sobre as vértebras atípicas, Warwick e Willians (apud Gould III,1993) salienta que: às vértebras cervicais atípicas (C1 e C2) são caracterizadas pela ausência de corpo em C1 (atlas) e pela fusão embriológica do corpo de C1 com C2 (áxis), formando um pilar proeminente na superfície de C2, denominado processo odontóide ou dens. Conforme ilustração da figura 2: Figura 2: Atlas e áxis Fonte: Netter,1999. O atlas é também caracterizado por grandes superfícies articulares semelhantes a um disco, para se articular superiormente com o occipício e inferiormente com o áxis. (GOULD III, 1993) Hamill e Knutzen (2007), descrevem o atlas como tendo um processo transverso largo com forame transverso pelo qual passa a suprimento sangüíneo. Também não tem processo espinhoso. Superiormente, tem uma fores, ou depressão em forma de prato, para receber o occípito do crânio. Para Viladot, Cohi e Clavell apud Nascimento (2005), o áxis ou segunda vértebra cervical, apresenta um corpo em cuja face superior eleva-se a apófise odontóide. Na sua face anterior encontra-se uma superfície articular para o atlas, enquanto que na face posterior acha-se uma outra superfície articular para o ligamento transverso. (VILADOT; COHI; CLAVELL apud NASCIMENTO, 2005). 20 Não há disco intervertebral entre o atlas e o áxis. A espinha do áxis é bastante curta, e sua ponta é bífida, ou seja, dividida em dois ramos. (WATKINS, 2001) O sacro é formado pela fusão ou junção parcial das vértebras sacrais. (WATKINS, 2001) Figura 3: Sacro e Cóccix Fonte: Netter,1999. O sacro consiste em cinco vértebras fundidas sendo alargado pela incorporação de grandes elementos costais e processos transversos dentro das pesadas massas laterais. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000). Desta maneira, o sacro está prensado entre os nossos direito e esquerdo do quadril e, assim, fornece uma firme base para o resto da coluna vertebral. (WATKINS, 2001) Assim, o sacro e os ossos direito e esquerdo do quadril formam um anel ósseo completo chamado pelve ou cintura pélvica. Conseqüentemente, o sacro é uma parte importante da coluna vertebral e pelve. (WATKINS, 2001) Entretanto, o cóccix geralmente consiste em quatro vértebras fundidas formando uma peça única ou duas peças de osso, as quais representam principalmente os corpos. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) 2.1.3 Tecidos moles não contráteis e ligamentos da coluna vertebral Os ligamentos são estruturas fibrosas não contráteis que se encontram ao longo de toda a coluna. Todos os ligamentos apresentam um suprimento sanguíneo pobre, mas um bom 21 nervoso. E são comuns a todas as áreas da coluna: ligamento longitudinal anterior e ligamento longitudinal posterior, ligamento amarelo, e os ligamentos interespinhoso e supra espinhoso. (GOULD III, 1993). A seguir serão descritos alguns desses ligamentos: As estruturas finais da porção anterior do segmento vertebral são os ligamentos longitudinais que correm por toda a extensão da coluna desde a base do occípito até o sacro. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) Além disso, o ligamento longitudinal anterior suporta a face anterior da coluna vértebra, incluindo os discos intervertebrais. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000). Este ligamento limita a hiperextensão da coluna e restringe o movimento para frente de uma vértebra sobre a outra, além de manter uma carga constante na coluna vertebral e suporta a porção anterior do disco durante um levantamento. (HAMILL; KNUTZEN, 2007). De outro lado, o ligamento longitudinal posterior, de acordo com Dângelo e Fattini (1998), situa-se na parede anterior do canal vertebral, alongando-se sobre o contorno posterior dos discos intervertebrais, aos quais está firmemente aderido. No entanto, este ligamento começa como uma faixa relativamente longa na região cervical. E à medida que desce, ele gradualmente se estreita, tornando-se tão estreito na região lombar, que durante os levantamentos de peso, apresenta um valor de proteção aos discos lombares pequenos. (GOULD III, 1993) Ademais, o ligamento amarelo é um ligamento elástico que atravessa as vértebras adjacentes (GOULD III, 1993). E seu aspecto amarelado deve-se à presença de uma grande quantidade de tecido elástico dentro dele (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000). Esses ligamentos amarelos auxiliam a refrear o movimento de flexão e dão assistência aos músculos paravertebrais para restaurar a postura ereta do tronco (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998). Além disto, ele se deforma e retorna ao comprimento original, alonga-se na flexão do tronco e contrai-se na extensão, quando na posição neutra, fica sob tensão constante, impondo uma tensão contínua sobre o disco. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) E ainda, nos intervalos intervertebrais há dois ligamentos, um direito e um esquerdo. Cada um fixa-se na frente do bordo inferior da lâmina acima e passa para baixo a para trás para o dorso do bordo superior da lâmina de baixo (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000). Assim, eles são contínuos com os ligamentos amarelos anteriormente e com os supraespinhosos posteriormente. (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998) 22 O ligamento interespinhoso não é considerado um ligamento elástico, mas, a menos que tenha alguma condição patológica, é frouxo o suficiente para permitir a flexão completa. (GOULD III, 1993) Já o ligamento supra-espinhoso está localizado entre ou acima dos processos espinhosos adjacentes, e é considerado o mais superficial dos ligamentos da coluna e o mais distante do eixo de flexão, devido a isso possui um maior potencial de estiramento. (GOULD III, 1993) Os ligamentos intertransversos, que ligam um processo transverso ao outro, resistem à inclinação lateral do tronco (HAMILL; KNUTZEN, 2007). Tendem a ser ausentes nos níveis cervicais e óbvios na região lombar, na parte superior da coluna vertebral são muitas vezes substituídos pelos músculos intertransversos. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) O ligamento costotransversal estende-se do dorso do colo da costela à face anterior do processo transverso (DÂNGELO; FATTINI, 1998). Desta maneira, o ligamento costotransversal lateral liga a extremidade do processo transverso à porção articular rugosa do tubérculo da costela. Este ligamento reforça a região póstero-lateral da cápsula articular (OLIVER; MEDDLEDITCH, 1998). No entanto, o ligamento costotransverso superior consiste em uma faixa anterior que passa a partir da costela para cima e lateralmente e uma faixa posterior que passa para cima e medialmente a partir da costela. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) A região lombar apresenta dois ligamentos principais: o ligamento iliolombar e a fáscia toracolombar (GOULD III, 1993). Este forte ligamento inferior origina-se lateralmente desde a ponta do processo transverso da quinta vértebra lombar à parte posterior do lábio interno da crista ilíaca. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) Além disso, cinco porções do ligamento iliolombar foram identificadas: ligamento iliolombar anterior, ligamento iliolombar superior, iliolombar posterior, iliolombar inferior, e ligamento iliolombar vertical. (SHELLSHEAR; MACINTOSH apud OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998) Os ligamentos iliolombares que estão localizados posterior, inferior e lateralmente servem para estabilizar os segmentos L4 e L5 durante a flexão e rotação (GOULD III, 1993). Apesar de não ser um ligamento do ponto de vista técnico, a fáscia toracolombar apresenta uma tensão significante sendo uma das mais importantes estruturas não contráteis na região lombar. (GOULD III, 1993) Os ligamentos da região sacral são descritos a seguir: 23 O ligamento sacroilíaco anterior é largo e chato, constituindo em numerosas faixas finas que residem no lado pélvico da articulação. Este se estica da asa à superfície pélvica do sacro, acima e a baixo rebordo pélvico, à margem adjacente da superfície auricular do ílio. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) Assim, o ligamento sacroilíaco interósseo, formado pro feixes de colágenos espessos, situa-se póstero-superiormente à área sinovial auricular (DÂNGELO; FATTINI, 1998). Já, o ligamento sacroespinhoso tem forma triangular, residindo profundamente ao ligamento sacrotuberoso. E sua base larga está fixada ao bordo dos segmentos sacros inferiores e coccígeos superiores na frente do ligamento sacrotuberoso. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) No entanto, a articulação sacrococcígea é completamente rodeada e reforçada por filamentos fibrosos, chamados coletivamente ligamentos sacrococcígeos. Por consequência, esses filamentos formam o limite lateral do forame de onde parte o ramo anterior do quinto nervo sacro. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) Concomitantemente, fazendo parte das estruturas não contráteis da coluna vertebral as cápsulas envolvem todas as articulações zigapofisárias, e a articulação da cabeça com o atlas, funcionando com ligamentos para orientar e limitar os movimentos articulares, servindo ainda como suporte e proteção para membrana sinovial. Por conseguinte, as cápsulas são também integrantes da formação das posições de impactação total e parcial das facetas articulares da coluna. (GOULD III, 1993) Contudo, separando os corpos vertebrais adjacentes, encontramos o disco intervertebral, uma estrutura que une uma vértebra à outra e, ao mesmo tempo, permite que ocorra movimentação entre as estruturas. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) Ademais, há pelo menos 24 discos intervertebrais interpostos entre os corpos vertebrais: seis na região cervical, doze na torácica e cinco na lombar, com um entre o sacro e o cóccix (Discos adicionais podem estar presentes entre segmentos sacros fundidos). (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) Knoplich (1986) cita que os discos intervertebrais contribuem com cerca de um terço de todo o comprimento da coluna lombar, constituindo, mais ou menos, um quinto do comprimento cervical. Analogamente, Palastanga, Field e Soames (2000), completam dizendo que os discos responsabilizam se por aproximadamente um quarto do comprimento total da coluna vertebral e são primordialmente responsáveis pela presença das várias curvaturas. Todavia, para Dângelo e Fattini (1998), são coxins compressíveis de fibrocartilagem que absorvem as forças 24 de tração muscular, gravidade e carga que, de outro modo, tenderiam a esmagar uma vértebra contra outra. Certamente, o disco é tanto avascular quanto aneural, exceto por algum impulso sensorial nas camadas externas do anel fibroso (HAMILL; KNUTZEN, 2007). Contudo, os mesmos autores supracitados relatam que um disco intervertebral saudável funciona hidrostaticamente, respondendo com flexibilidade sob baixas cargas e respondendo com rigidez quando é sujeito a altas cargas. Portanto, o disco é constituído de duas porções: anel fibroso e o núcleo pulposo. (GOULD III, 1993) Neste sentido, quando o disco é sobrecarregado em compressão, o núcleo pulposo distribui uniformemente a pressão pelo disco e age como um amortecedor. Neste caso, o disco achata-se e alarga-se e o núcleo pulposo expande-se lateralmente à medida que o disco perde líquido. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) Knoplich (1986) comprovou que um aumento súbito da força de compressão pode produzir uma ruptura do corpo vertebral, mas dificilmente produzirá o rompimento do anel fibroso, (annulus), haja vista que, os discos intervertebrais são sujeitos a compressão, torção, cisalhamento. Entretanto, os esforços de cisalhamento estão mudando constantemente, sendo dependentes do centro instantâneo de rotação entre as vértebras adjacentes. (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000) 2.1.4 Grupos musculares: manutenção e estabilização da coluna vertebral Baseados no relato de Willian, Bandy e Sander (apud Martarello, 2004), há alguns músculos que estão envolvidos na coordenação da estabilidade postural, seja no movimento ou apenas para ficar em pé, e reações posturais. Logo, para ficarmos em pé e não termos um desequilíbrio postural dependemos, basicamente, dos sinergismos dos músculos entre o tronco e os membros inferiores, o equilíbrio envolve as ações musculares em torno do quadril, músculos da coluna e abdômen. “Os músculos abdominais participam em contração para estabilizar as vértebras para resistir ao peso, aplicado as contrações nas extremidades e as forças de reação do solo, mas a sua primordial ação é de sustentação do conteúdo abdominal.” (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997) 25 Pires et al. (1990), afirma que a fraqueza do músculo reto do abdômen resulta em uma diminuição da capacidade de fletir a coluna vertebral, ou seja: trazer de encontro à pelve, na posição supina; já na posição ereta permite a Antero - versão de pelve e uma postura lordótica (convexidade anterior aumentada da coluna lombar). Uma Ressonância Magnética demonstrou que durante a contração inferior do abdômen, o transverso do abdômen (TrA) contrai bilateralmente para formar um banda musculofascial que aperta (colete) e estabiliza a região lombopélvica. (HOGDES et al.., 2003) Em estudos realizados por Hodges et al. (1999), descobriram que o TrA tem ação antecipada quando são realizados movimentos naturais e rápidos, unilateral e bilateral, dos membro em qualquer direção e essa ativação é independente dos músculos do tronco. Embora, a extensão do tronco seja um movimento importante pra levantar o tronco e manter a postura ereta, os músculos usados ativamente para estender o tronco também têm papéis dominantes na flexão de tronco. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) Os mesmos autores citados acima afirmam que vários músculos fazem parte do grupo muscular extensor, porém, podem ser classificados em dois grupos: os eretores da espinha (iliocostal, longo, espinhal) e os posteriores profundos ou paravertebrais (intertransversais, interespinhais, rotadores, multifídio). Os dois grupos musculares correm duplamente para e para baixo na coluna vertebral e agem estendendo quando ativados bilateralmente rodam ou fletem lateralmente quando são ativados em apenas um lado. Segundo Hamill e Knutzen (2007), os três eretores da espinha constituem a maior massa de músculos contribuindo para extensão do tronco. No entanto, o movimento de extensão também é produzido pelas contribuições dos músculos vertebrais profundos e outros músculos específico de cada região. Esses músculos profundos contribuem para a geração de extensão de tronco e outros movimentos de tronco e também servem para suportar a coluna vertebral, manter sua rigidez e produzir alguns movimentos finos no segmento móvel. Segundo Wike et al. (1995) os multífidos são responsáveis por 2/3 da estabilidade articular em L4/L5. Eles têm ativação tônica em posição de bípede e caminhando, são ativos na postura ereta, e tem ativação diferente das fibras profundas e superficiais durante o movimento dos membros inferiores. (MOSELEY et al., 2002) Só para especificar, pacientes com dor lombar crônica têm multífidos significativamente menor que em assintomáticos nos níveis de L4/L5. E esses pacientes têm redução da amplitude de atividade do multífido durante atividades funcionais, do dia-a-dia. (HOGDES et al., 2003) 26 Para Hamill e Knutzen (2007), os músculos eretores da coluna e multífido possuem de 57% a 62% de fibras musculares Tipo I, mas tem também proporções de fibras do Tipo IIa e Tipo IIb, tornando-os versáteis funcionalmente, podendo gerar movimentos rápidos forçados e, ao mesmo tempo, serem resistentes à fadiga para manutenção de posturas por longos períodos. Neste sentido, Lippert (1996) descreve o músculo grande dorsal como um forte agonista na extensão, adução e rotação interna do ombro, devido ao fato de atravessar a articulação do ombro inferior medialmente em direção do eixo articular. Gold III (1993), afirma que este músculo se insere no úmero, conjuntamente com o trapézio e agem para posicionar o ombro e retraí-lo durante levantamento de cargas. Contudo, a contribuição do transverso do abdômen na estabilização depende da contração do diafragma e do assoalho pélvico (AP) para manter as vísceras na cavidade abdominal. (SAPSFORD et al., 2001) Os mesmo autores supracitados afirmam que, há um aumento na atividade do TrA durante a contração do AP, logo há um aumento da contração do músculo pubococcígeo durante a contração voluntária do TrA e quando a pelve está em posição neutra, aumenta a atividade isolada do TrA. E que durante os exercícios deve realizar uma respiração diafragmática relaxada, pois se for realizado uma respiração muito apical, a tendência é usar a musculatura acessória na expiração, forçando a compressão abdominal e causando a descida do AP. Assim, o AP apresenta atividade tônica durante os movimentos repetitivos do membro superior. (HODGES et al., 2003) Entretanto, a função do glúteo mínimo é: estabilizador primário durante a fase intermediária e final do ciclo da marcha (HODGES et al., 2003). Desse modo, o glúteo médio possui a função de controlar a rotação e deslocamento lateral da pelve na cabeça do fêmur em funções de cadeia fechada, previne queda lateral, em posição neutra é rotador externo, com 40° começa a mudar sua função para rotador interno e a parte mais profunda relacionada com a estabilidade diminui atividade com presença de disfunção. (HODGES et al., 2003) 2.1.5 Os desvios da coluna vertebral Os estudos de Bricot (2001) relatam que, o desequilíbrio postural pode ser considerado uma desarmonia do sinergismo das cadeias musculares que pode acontecer por 27 falha da função dos captadores sensitivos responsáveis por enviar informações ao sistema nervoso central para manutenção da postura. O mesmo autor, ainda afirma que os captadores que intervêm prioritariamente no ajustamento postural estático e dinâmico são principalmente, os pés e os olhos. Além disso, as alterações posturais são definidas por Bricot (2001) como sendo resultado das forças contrárias que agem nas superfícies articulares e pelo excesso de solicitação dos músculos e ligamentos. Isto porque a postura não é regida apenas por um músculo isolado e sim por um conjunto de músculos, ou seja, depende da harmonia dos mesmos. Afirma também, que as alterações posturais são significativamente numerosas em decorrência da desarmonia muscular e, dentre elas podemos citar a hiperlordose, hipercifose, escoliose, e como sintomatologias em conseqüência das alterações posturais temos: lombalgias, cervicalgias e dorsalgias. 2.1.5.1. Hipercifose Entende-se por hipercifose o aumento da curva convexa, para trás da região dorsal da raque (OCHOA apud NASCIMENTO, 2005). Figura 4: Hipercifose torácica Fonte: RICHARDSON, 2009. Pela sua origem, a hipercifose pode ser classificada em quatro grupos: posturais ou atitudes cifóticas; essenciais ou idiopáticas; congênitas e adquiridas (OCHOA apud NASCIMENTO, 2005). 28 No grupo das cifoses adquiridas podemos considerar como mais importantes as traumáticas, infeccionais; inflamatórias e neoplásicas que alteram ou destroem a parte anterior discossomática de um ou mais corpos vertebrais provocando por seu afundamento cuneiforme e curvatura da coluna para frente, com gibosidade dorsal secundárias (OCHOA apud NASCIMENTO, 2005). Já na região lombar não é raro haver uma lombar retificada, ou cifose lombar, que pode ser desenvolvida pelo posicionamento pélvico ou rigidez na coluna (HAMILL; KNUTZEN, 2007). Dessa forma, a cifose cervical é uma curvatura retificada e dobrada posteriormente, e pelas idéias do autor supra-citado é uma condição menos comum. Para Magee (2002), é um distúrbio de crescimento vertebral que afeta aproximadamente 10% da população, e na maioria dos casos várias vértebras são afetadas. A região mais comum de ocorrência da doença é entre T10 e L2. 2.1.5.2 Hiperlordose A hiperlordose é o resultado de uma hiperextensão espinhal excessiva, mais comumente vista na área lombar. “Ela é acompanhada por uma protusão anterior do abdômen e uma protusão posterior das nádegas [...]” (ALTER, 1999). Assim sendo, a hiperlordose é um exagero permanente da curva fisiológica das colunas cervical e lombar, mas é uma correção da curva na região dorsal (BIENFAIT, 1995). Figura 5: Hiperlordose lombar Fonte: RICHARDSON, 2009. 29 As curvas de lordose aumentada incluem: deformidade postural; músculos frouxos, especialmente os abdominais; um abdômen pesado, resultado de gravidez ou peso em excesso; mecanismos compensadores que resultam de outra deformidade como cifose; contratura em flexão do quadril; espondilolistese; problemas congênitos, como luxação congênita bilateral do quadril; falta de segmentação do arco neural ou de um segmento da articulação facetaria; ou moda como o uso de sapatos de salto alto. (MAGEE, 2002) No entanto, a lordose lombar é responsável por uma anteversão pélvica de compensação em um processo descendente. (BIENFAIT, 1995) Porém, na lordose cervical a tensão dos semi-espinhais da cabeça, que sempre estão envolvidos, puxa o occipital e faz seus côndilos deslizarem para frente, em posição fletida. Essa flexão leva o queixo e a linha do olhar para frente e pra cima, (BIENFAIT, 1995). Portanto, uma lordose cervical geralmente está associada a uma anteriorização da cabeça. (HAMILL; KNUTZEN, 2007) 2.1.5.1.3 Escoliose A palavra escoliose tem origem no grego e significa curvatura. Apesar de, a escoliose ser uma deformidade complexa que deve ser avaliada tridimensionalmente, podemos defini-la como uma curvatura da coluna vertebral no plano frontal. Ao contrário da cifose e da lordose que dentro de certos limites, são curvaturas fisiológicas da coluna, a escoliose é sempre patológica. (BONETTI apud BARROS FILHO; BASILE JÚNIOR, 1997) Figura 6: Escoliose. Fonte: RICHARDSON, 2009. 30 As diversas etiologias da escoliose estão relacionadas às diferenças históricas naturais. Essas histórias naturais variáveis influenciam profundamente o efeito da curvatura na vida do paciente, e as indicações para tratamento. (WEINSTEIN; BUCKWALTER, 2000) Figura 7: Testes de verificação de presença de escoliose. Fonte: Delfino apud Nascimento, 2005. Bienfait (1995) considera a escoliose como uma afecção de crescimento, e relata que a gravidade da escoliose geral não está em sua causa inicial, mas em seu grau de evolução. De acordo com Bonetti (apud BARROS FILHO; BASELI JÚNIOR, 1997), do ponto de vista de sua flexibilidade a escoliose pode ser classificada em não estrutural e estrutural. Enquanto, a escoliose estrutural é definida por Weinstein e Buckwalter (2000) como “uma curvatura lateral fixa com rotação.” A escoliose estrutural é uma deformidade da coluna vertebral em que ocorrem alterações estruturadas de seus elementos. (BONETTI apud BARROS FILHO; BASILE JÚNIOR, 1997) Do ponto de vista etiológico podemos classificar as escolioses pelos tipos a seguir, baseando-se na classificação de Scoliosis Research Society: escoliose estrutural idiopática, neuropática, miopática; congênitas; neurofibromatose, doenças do mesenquima, doenças reumáticas, traumáticas, contraturas extra-espinhais; osteocondrodistrofias, infecções, doenças metabólicas, alterações lombo-sacras, e tumores constituem esse grupo. (BONETTI apud BARROS FILHO; BASILE JÚNIOR, 1997) 31 A escoliose idiopática é o tipo mais comum de escoliose estrutural. Desse modo, esse tipo de escoliose tem predisposição genética, e embora muitas teorias etiológicas tenham sido propostas sua causa permanece desconhecida. (WEINSTEIN, BUCKWALTER, 2000) Por conseguinte, a escoliose idiopática é o tipo estrutural de escoliose mais importante. Inicia-se na infância ou na adolescência e tende a aumentar progressivamente até cessar o crescimento ósseo. Embora, às vezes provoque deformidades severas e feias, especialmente quando a região torácica é afetada. (ADAMS; HAMBLEN, 1994) Sob o mesmo ponto de vista, Weinstein e Buckwalter (2000), a escoliose idiopática é subclassificada em três grupos, pela idade de surgimento do problema: infantil (0 a 3 anos de idade), juvenil (3 a 10 anos de idade) e adolescente (mais de 10 anos de idade mas antes da maturidade). Entretanto, Mathias e Romero (2009) relatam: “a escoliose idiopática em adolescentes atinge 75 a 85% dos casos, geralmente adolescentes do sexo feminino. Teoria das possíveis causas: má formação óssea durante o desenvolvimento, fraqueza muscular assimétrica, má postura”. Os fatores que influenciam a probabilidade de progressão da curva no paciente imaturo são fatores potenciais do crescimento (idade, sexo, maturidade) e fatores da curva dupla têm maior tendência para progressão que padrões de curvas simples. Em síntese, quanto maior a magnitude da curva por ocasião da detecção, maior a possibilidade de progressão. Quanto mais baixo o grau de Risser por ocasião da detecção da curva maior o risco de progressão. (WEINSTEIN; BUCKWALTER, 2000). 2.1.6 Biomecânica da coluna vertebral A coluna vertebral tem três funções mecânicas bem definidas: é o eixo de suporte do corpo; protege a medula e as raízes nervosas; é o eixo de movimentação do corpo. (KNOPLICH, 1986). O mesmo autor menciona que os movimentos podem ser mais bem obtidos com uma estrutura de múltiplas articulações com vários graus de liberdade e eixos de movimentação, as duas primeiras funções mecânicas da coluna, que são mais estáveis, podem ser melhor obtidas por uma estrutura sólida. 32 A estabilização dinâmica depende dos sistemas musculares, capsular e ligamentar e sua inter-relação com as facetas para permitir movimento, e ainda permanecer estáveis durante a descarga de peso. (GOULD III, 1993) Assim, pode-se definir que a função de sustentação é realizada pelos elementos anteriores (corpo vertebral, disco, ligamentos longitudinais anteriores e posteriores), enquanto os elementos posteriores dos arcos neurais e articulações são responsáveis pela movimentação. (KNOPLICH; 1986) As curvas cervical, torácica e lombar têm sido descritas como funcionamentos para aumentar a capacidade da coluna em suportar a compressão axial. (GOULD III, 1993) As curvas fisiológicas permitem que a coluna aumente a sua flexibilidade e capacidade de absorver os choques, enquanto mantém a tensão e estabilidade adequada das articulações intervertebrais. (KNOPLICH, 1986) Neste sentido, a mecânica da coluna é específica, comparada com quaisquer outras mecânicas do corpo, pelo fato de que 24 vértebras são conectadas por discos que servem como eixo semielástico para os movimentos de coluna, bem como transmissores e absorvedores de forças. (GOULD III, 1993) O mesmo autor supracitado relata que os discos localizados entre cada vértebra de C2 até o sacro consistem em duas porções: o núcleo pulposo, e o anel fibroso agem em conjunto com uma força associada para transmitir, dispensar e absorver forças axiais que adentram a coluna. A força da flexão é uma das mais agressivas do disco, podendo causar herniações do núcleo pulposo. No entanto, as forças de torção ou rotação são mais danosas para o anel fibroso. E as forças inclinadas, que são forças de compreensão que encontram a estrutura discal na posição inclinada, atuam causando diversas alterações. (KNOPLICH, 1986) Knoplich (1986), ainda menciona que se podem identificar mais duas funções mecânicas da coluna, sendo que a coluna transfere o peso e o movimento de flexão da cabeça e do tronco para a pélvis; e permite o suficiente movimento entre a cabeça, o tronco e a pélvis. Sendo assim, a coluna pode ser considerada como uma vara elástica modificada por causa da flexibilidade da medula espinhal, comportamento de absorção de choque das vértebras e discos, função estabilizante dos ligamentos longitudinais e da elasticidade dos ligamentos amarelos. (NORDIN; FRANKEL, 2003) 33 2.2 POSTURA Termo derivado do italiano positura, com significado original: posição, atitude ou hábitos posturais (TRIBASTONE, 2001). A coluna vertebral, peça mestra do eixo corporal, evidentemente encontra-se consideravelmente implicada nos fenômenos posturais. (GAGEY; 2000) 2.2.1 Definição Segundo o comitê de postura da American of Orthopaedic Sugerious (apud Kendall, 2003): “Postura define-se geralmente como o arranjo relativo das partes do corpo”. Neste sentido, FERNANDES; AMADIO; MOCHIZUKI (apud MARTARELLO, 2004, p. 27) afirmam que “A postura é uma posição ou atitude do corpo, formada por meio de arranjo relativo de suas partes para uma atividade específica, ou ainda uma maneira individual de sustentação orientada em função da força de gravidade. Desse modo, postura é a posição assumida pelo corpo, quer seja por meio da ação integrada dos músculos operando para contra-atuar com a força da gravidade, quer seja quando mantida durante inatividade muscular. (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998) Roaf (apud KNOPLICH, 1986) define a postura dinamicamente, afirmando que é a posição que o corpo assume na preparação do próximo movimento. A posição de pé, estática não seria uma verdadeira postura para o autor. De acordo com Knoplich (1986), postura envolve o conceito de balanço (equilíbrio), coordenação neuromuscular e adaptação e deve ser aplicado a um determinado momento corporal e para uma determinada circunstância – postura para andar, postura para jogar tênis ou dar a partida para uma disputa de natação. Conforme Kendall (2003), é a posição do corpo que envolve o mínimo de estiramento e de “stress” das estruturas do corpo, e com menor gasto de energia para se obter o máximo de eficiência. Sendo assim, o principal fator da postura é o tônus muscular, que não é somente a base da acomodação postural, mas também a expressão das emoções e dos movimentos ou atitudes. (TRIBASTONE, 2001) 34 Logo a postura normal é mantida por músculos equilibrados, fortes e flexíveis; articulações funcionando apropriadamente; uma linha de gravidade equilibrada; e bons hábitos posturais. (GROSS; FETTO; ROSEN, 2000) 2.2.2 Boa e má postura Para Magee (2002), a postura correta é a posição na qual mínimo estresse é aplicado em cada articulação. De certo, a postura ereta é a postura em pé normal dos humanos. Se esta postura for correta, uma atividade muscular mínima mantém essa posição. Dessa maneira, para desenvolver uma simetria corporal e uma boa postura, a pessoa deve engajar-se em grandes atividades motoras em vez de especializar-se em uma atividade que desenvolva somente uma área do corpo. (ALTER, 1999) Segundo Kendall (2003), quando há um alinhamento ideal de determinadas estruturas anatômicas, o corpo apresenta sua eficiência máxima com um mínimo de estresse e esforço. Por conseguinte, as alterações no alinhamento postural podem ser secundarias à má formação estrutural, degeneração articular, uma mudança no centro de gravidade, maus hábitos posturais, ou dor. (GROSS; FETTO; ROSEN, 2000) Todavia, alguma posição incorreta assumida pelo indivíduo pode causar a expressão de esquemas motores errados e estes, por sua vez, a anunciação de movimentos incorretos. (TRIBASTONE, 2001). Qualquer posição que aumenta o estresse sobre as articulações pode ser denominada postura defeituosa. (MAGEE, 2002) Os problemas posturais podem ter início numa idade precoce e um número crescente de crianças parece apresentar dores na região dorsal, sendo a principal causa indicada, a inadequação das carteiras escolares (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998). Por fim, se uma pessoa tiver músculos fortes, flexíveis, posturas defeituosas podem não afetar as articulações, porque elas podem mudar facilmente de posição, fazendo com que o estresses não sejam excessivos. No entanto, se as articulações forem rígidas ou demasiado móveis ou os músculos forem fracos ou encurtados, a postura não pode ser facilmente alterada para o alinhamento correto e o resultado pode ser alguma forma de patologia. (MAGEE, 2002). 35 2.2.3 Fatores que alteram a postura Brito (2001), divide os fatores que interferem na postura em cinco grupos distintos: fatores mecânicos, fatores orgânicos secundários a doenças, hereditariedade, raça e fatores emocionais. Às vezes, o problema não está na estrutura física da coluna, mas sim na flexibilidade limitando os movimentos da mesma. Em virtude disto, deformidades podem ter origem hereditária ou se desenvolver a partir de influências ambientais, padrões culturais da civilização moderna e sobrecargas sobre o corpo humano, principalmente quanto às atividades repetitivas, especializadas e excessivas. (KENDALL, 2003) Diversas características anatômicas podem afetar a postura correta. Por isso, estes fatores podem ser intensificados ou causar problemas adicionais quando combinados com estados patológicos ou congênitos. (MAGEE, 2002) Magee (2002), ainda cita como fatores que alteram a postura: desequilíbrio muscular ou contratura muscular (Ex.: músculo iliopsoas encurtado aumenta a lordose lombar); dor (Ex.: pressão sobre uma raiz nervosa); condições respiratórias (Ex.: enfisema), fraqueza geral, excesso de peso, perda de propriocepção ou espasmo muscular. A coluna vertebral além dos problemas que ela mesma pode conhecer, é então, o depósito preferencial de todas as agressões ou desequilíbrios, de qualquer proveniência. Mas ela deve ser capaz de adaptar-se, sempre salvaguardando o equilíbrio e, se possível, sem sofrer ela própria com essas torções compensatórias. (SOUCHARD; OLLIER, 2001) Por todo o complexo da coluna vertebral, atuam cadeias musculares, onde uma tensão inicial é responsável por uma sucessão de tensões associadas. Cada vez que um músculo se encurta, ele aproxima suas extremidades e desloca os ossos sobre as quais ele se insere, assim, as articulações se bloqueiam e o corpo se deforma. Por outro lado, todos os outros músculos que se inserem sobre esse osso, vão ser alterados pelo deslocamento que se propagará a outros ossos e músculos e assim sucessivamente. (SOUCHARD; OLLIER, 2001) Assim, as deformidades estruturais podem ser: o resultado de anomalias congênitas, problemas de desenvolvimento, trauma ou doença, envolvem principalmente alterações musculoesqueléticas e não são tão fáceis de correção. (MAGEE, 2002) Segundo Tribastone (2001), a postura é expressão somática de emoções, impulsos e regressões. Cada um reflete, inconscientemente, no movimento exterior, a condição interior e a sua personalidade. “[...] a postura exprime o que experimenta um organismo na situação 36 atual, como ele a vive, e é, por isso, uma resposta global da acomodação a certo ambiente, uma correlação entre aspectos corporais e mentais do comportamento.” Quando na fase se estirão de crescimento, por exemplo, a criança não quer parecer mais alto que os colegas e tem uma tendência a deixar-se encurvar para não salientar diferença (MAGEE, 2002). Desta maneira, a consciência corporal está associada à autoconsciência mental e psíquica. E em certas desordens mentais, o indivíduo dissocia a sua consciência de seu corpo e passa como se fosse outrem. (KNOPLICH, 1986) Outro fator que aumenta a incidência de dores nas costas está relacionado com a quantidade de anos que a pessoa chega a viver. E toda atividade a qualquer tempo poderá danificar os componentes da coluna, produzindo dores nas costas. O cuidado com a coluna deve ser perpétuo. (KNOPLICH, 1986) Desse modo, a postura não se altera, constrói-se a partir da vivência corporal e da modificação da atitude de cada um perante a vida. (BRACCIALLI; VILARTA, 2000) Dentre os fatores de risco se destacam principalmente a sobrecarga sobre a coluna vertebral como as mochilas escolares, onde as mesmas contêm material escolar as quais a maioria dos escolares carregam no dia-a-dia para o colégio. Noone et al (apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000), descrevem que o transporte de uma carga externa assimétrica, durante um tempo significativo, por crianças e pré-adolescentes, seria um dos fatores para o aparecimento de curvas escolióticas. Mostram ainda que crianças podem ter uma resultante força muscular ineficiente para equilibrar a carga externa, recorrendo à inclinação lateral da coluna para suportar a carga. 2.2.4 Desenvolvimento postural infanto-juvenil Após o nascimento, no primeiro dia de vida, a coluna lombar é côncava para frente, evidenciando uma pequena curva lordótica compensatória na região cervical, que capacita a criança a erguer a cabeça. Esta curva, também é responsável junto com a musculatura do pescoço pela manutenção e movimentação da cabeça do bebê. Com cinco meses a curvatura continua sendo ligeiramente côncava para frente; e somente aos treze meses a coluna lombar se torna retilínea. A partir dos três anos pode-se observar uma pequena lordose lombar que aumenta gradativamente até aos 8 anos e adotará sua curvatura definitiva entre 10 e 12 anos quando esta terá sido amenizada pelo crescimento óssea da criança e pela maior distribuição de seu peso corporal. (KAPANDJI, 2000) 37 A coluna lombar da criança tem uma curva lombar exagerada. Essa curva acentuada é causada pela presença do grande conteúdo abdominal, da fraqueza da musculatura abdominal e da pelve pequena, características das crianças nessa idade. Por volta dos 10 – 12 anos de idade, esse fator que se modifica quando a musculatura do abdome passa a realizar uma contenção melhor do conteúdo abdominal. (KENDALL, 2003) FIGURA 8: Desenvolvimento Postural Fonte: Avaliação musculoesquelética. Magee, 2002. Na criança, de acordo com Magee (2002), o centro de gravidade encontra-se no nível da 12ª vértebra torácica. À medida que a criança cresce, o centro desloca-se para baixo, acabando por se localizar no nível da segunda vértebra sacral nos adultos. A criança fica em pé com uma base mais larga e com os joelhos flexionados para manter o equilíbrio. Os desvios laterais da articulação dos joelhos estão presentes nas crianças pequenas, e desaparecem progressivamente durante o crescimento. (KAPANDJI, 2000) O eixo do membro inferior se desenvolve dinamicamente através da primeira década de vida (YANIV et al., 2006). O joelho valgo ou varo pode ser normal ou anormal, dependendo da magnitude da angulação e da idade da criança. Assim que a criança começa a aprender a andar, o varo é habitualmente percebido, havendo então uma diminuição deste por volta dos 18 – 24 meses passando para o valgismo dos joelhos. A angulação progride, com pico de amplitude por volta dos 3 – 4 anos e regredindo até o alinhamento com valgismo fisiológico de 5º a 6º, por volta dos 6 – 7 anos. (MAGEE, 2002) Durante a adolescência, a postura modifica em virtude das mudanças hormonais com o início da puberdade e do desenvolvimento musculoesquelético. Os seres humanos apresentam 38 dois estirões de crescimento, um na infância e outro na adolescência. Este segundo estirão de crescimento dura 2,5 a 4 anos. (MAGEE, 2002) O aparecimento da puberdade está relacionado com o aumento rápido da velocidade de crescimento vertebral. (RICHARDS, 2002) Durante este período, o crescimento é acompanhado por maturação sexual. As mulheres desenvolvem-se mais rapidamente e mais cedo que os homens. Elas entram na puberdade entre 8 e 14 anos de idade e dura cerca de 3 anos. (MAGEE, 2002) Geralmente a partir dos dez anos a menina cresce vários centímetros em pouco tempo, sua cintura se afina, os quadris se alargam, os seios começam a avolumar-se e surge uma leve pilosidade no púbis e nas axilas. (BALLONE, 2009) Os homens entram na puberdade entre 9,5 e 16 anos de idade, e ela dura até 5 anos. É durante este período que se originam as diferenças corporais entre homens e mulheres, com os homens tendendo a maior comprimento das pernas e braços, ambos mais largos, menor largura de quadril, e maior tamanho esquelético global e altura que as mulheres. (MAGEE, 2002) Em virtude do estirão de crescimento rápido, indivíduos, especialmente homens, podem parecer desajeitados, e maus hábitos e alterações posturais tendem a ocorrer com mais freqüência nesta idade. (MAGEE, 2002) Deste modo, Sacco et al. (apud CAMPOS; SILVA; FISBERG, 2009), observaram a associação da obesidade com alterações ósteo-articulares pelo excesso de peso corporal, diminuição da estabilidade e aumento das necessidades mecânicas para adaptação corporal. 2.3 DESARRANJO E DESCONFORTO POSTURAL O desconforto postural, o qual é caracterizado por dor ou perda de conforto decorrente de diversos fatores, entre eles, sobrecarga mecânica e condições patológicas. (LÉO apud MORAES, 2002) Rash (1991) descreve como sendo a posição que o indivíduo assume no espaço em função de um equilíbrio osteomusculotendinoso, e ainda completa, que é este equilíbrio de forças que mantém o corpo na posição desejada evitando danos às estruturas corporais, pois só assim o indivíduo é então capaz de se sustentar em pé por um longo período de tempo, sem apresentar dor ou cansaço. 39 Hábitos posturais inadequados, como impostos pela posição sentada, agindo sobre o organismo humano de forma repetitiva, são capazes de levar seus vários mecanismos de defesa e ação compensatórias. (MUNHOZ; BRENZIKOFER; VILARTA apud MORAES, 2002). Para Kisner (1998), muitas algias da coluna são resultado de sobrecargas em áreas sensíveis a dor, devido à má postura. Por sua vez, Cailliet (2001), comenta que além da coluna vertebral ser bastante suscetível à incidência de problemas musculares e distúrbios álgicos, a região cérvico-dorsal, as extremidades superiores e inferiores, e as demais partes do sistema corporal, também podem vir a sofrer com os problemas citados, já que estas regiões estão compostas de numerosos tecidos moles. Portanto, a maioria destes tecidos está concentrada em áreas sujeitas a sofrer numerosos movimentos, tensões e deformações. Este autor ainda cita que a dor pode se originar, principalmente pela redução do aporte sanguíneo (isquemia) resultante da tensão muscular decorrente da manutenção de determinada postura. As contrações mantidas por longos períodos podem acumular catabólitos no tecido muscular e ao mesmo tempo prejudicar a irrigação intrínseca. A dor e a hiperestesia podem ocorrer dentro da massa muscular, como resultado de uma contração, aguda, repetida ou constante. A contração muscular cria pressão intramuscular, seja esta contração isométrica ou estática, quando um músculo desenvolve tensão, porém não há movimento e contração isotônica ou dinâmica, quando há tensão e o movimento ocorre. Para Gonçalves (apud Nascimento, 2005), quando se estabelece uma relação de desequilíbrio entre as diversas partes do corpo, uma solicitação excessiva dos elementos de apoio e uma diminuição do perfeito arranjo das estruturas corporais sobre a base de sustentação, uma alteração postural começa e se estabelecer. Já Bienfait (1995) menciona que o aparecimento dos desvios e deformidades na coluna é causado por erros na funcionalidade das entidades funcionais globais do corpo humano, de modo que todos os elementos constitutivos são indissociáveis: aponeuroses, tendões e tecidos musculares contráteis. Este “esqueleto mole”, formado por um imenso tecido conjuntivo fibroso, quando em desequilíbrio, leva ao surgimento de deformidades e desvios no esqueleto passivo rígido, formado por ossos interligados por articulações. A inadequação de posturas adotada principalmente em casa e na escola leva a um desequilíbrio na musculatura global do corpo, produzindo alterações posturais. (PIRES et al., 1990). 40 A conscientização precoce da postura e o desenvolvimento de programas de exercícios em termos de força e flexibilidade contribuem para prevenção de síndromes dolorosas e desvios da coluna. Na criança, bons hábitos posturais são importantes para evitar sobrecargas anormais em ossos em crescimento e alterações adaptativas em músculos e tecido mole. (MONTEIRO apud NASCIMENTO, 2005). 2.3.1 Dor: consequências na musculatura estabilizadora da coluna A dor é uma sensação em que uma pessoa experimenta desconforto, angustia ou sofrimento, devido à provocação dos nervos sensitivos. (O’SULLIVAN, 1993) Todo processo de dor de alguma região do corpo implica necessariamente na presença de um nervo local e receptor, e da integridade do cérebro como analisador. (KNOPLICH,1986) O mesmo autor explica que o caminho da dor segue pelas terminações locais, passa pela medula espinhal e vai ao cérebro, que registra a sua intensidade, a sua localização, a sua característica (se é cólica, em queimação ou outro tipo) ou se piora com movimento ou repouso. Segundo Cailliet (2001), a contração muscular sustentada descrita como “espasmo” ou “tensão” é causada por tensão emocional, estímulos dolorosos e trauma. O resultado imediato é isquemia por compressão dos vasos sanguíneos internos, com acumulação de metabólitos e consequentemente mais dor que aumenta mais a contração. As sequelas a longo prazo são: a limitação do movimento articular, atrofia muscular e contratura. Como resultado final ocorre à incapacidade funcional. No organismo humano, se todos os movimentos não são executados com equilíbrio adequado (postura) as estruturas anatômicas sofrem um desgaste precoce que irá criar condições especiais para que os nervos que saem da coluna, próximos a essas estruturas desgastadas, sejam agredidos, surgindo as “dores nas costas” tão incômodas às pessoas. (KNOPLICH, 1986) Com a dor, há uma diminuição da área seccional transversa da musculatura estabilizadora, o que deixa mais suscetível a lesões recorrentes, que por sua vez, causa dor, e essa musculatura não se recupera espontaneamente, portanto, necessita de um trabalho específico como: a técnica de estabilização segmentar, que tem uma abordagem para tratamento da dor de origem somática, a qual envolve a restauração da habilidade dos 41 músculos do tronco, incluindo os músculos profundos, para realizar o controle da estabilidade vertebral dinâmica protegendo a coluna de lesões. (FALLA et al., 2004) A dor causa uma série de compensações musculares, entre elas podemos citar: - aumento da fadigabilidade e diminuição da endurance; - alteração da composição das fibras musculares, alteração da estrutura interna do músculo tipo I; - musculatura flexora superficial, a qual apresenta fadiga ipsilateral em paciente com cervicalgia unilateral e insuficiência na ativação de programas de contração antecipada das musculaturas cervicais; - mudança na coordenação muscular, alteração no suporte, potencial para sobrecarga sobre as estruturas, ou seja, acontece uma força muscular exacerbada, que vai comprimir as vértebras (FALLA et al.; 2004). - perda da antecipação do transverso do abdômen em pacientes com dor lombar; - diminuição da assistência do multífido em pacientes com dor lombar aguda (HODGES et al., 2003). - alteração da cinestesia do posicionamento lombar em pacientes com dor lombar; - diminuição da endurance dos eretores espinhais; - ameaça ou presença de dor altera ativação muscular; - o medo da dor pode inibir o transverso do abdômen quando há uma antecipação de choques (MOSELEY et al., 2002). 2.3.1.1 Cervicalgia A cervicalgia é uma entidade que se caracteriza pela dor ao nível da coluna cervical alta, sendo aí incluída a nucalgia (cefaléia da nuca). (KNOPLICH, 1986) A cervicalgia é caracterizada por limitação funcional e por forte dor na coluna cervical irradiada, frequentemente, na região da nuca, na região escapular, nas costas e nos ombros. (TRIBASTONE, 2001) Greve e Amatuzzi (1999) relatam que a cervicalgia pode ser devido a degeneração do disco cervical, artrose das articulações uncovertebrais cervicais e se desenvolve a partir uma combinação hereditária constitucional e ambientais. As alterações de forame intervertebral, canal vertebral ou artérias vertebrais podem causar a sintomatologia. 42 A dor é despertada por movimentos do pescoço, fortemente limitados. Na cervicalgia, a coluna torácica é normalmente desviada em uma módica cifose e os músculos paravertebrais estão quase sempre contraídos. (TRIBASTONE, 2001) De acordo com o autor supracitado, a cervicalgia crônica é causada por contratura muscular dos extensores do pescoço, isto é, trapézio superior, os esplênios e a musculatura posterior da nuca. Junto com a dor, pode-se observar uma retificação da lordose fisiológica e limitação moderada da mobilidade do pescoço. 2.3.1.2 Dorsalgia A região dorsal, por apresentar menos mobilidade, é a que tem menor número de casos de artrose. Entretanto, as dores na região dorsal são frequentemente associadas às patologias mais raras, como: tumores (principalmente metastáticos), tuberculose, herpes zóster, achatamento de vértebras, etc. (KNOPLICH, 1986) Ela também é uma causa frequente da dor abdominal, devido ao espasmo do psoas e da dor na articulação costovertebral das últimas duas costelas, devido a um ponto gatilho no quadrado lombar que se insere nesse local. É excepcional que a disfunção toracolombar seja sentida no seu próprio local. A dor no processo xifóide pode ser secundária à lesão da sétima ou oitava costela, mas com mais frequencia à tensão dos músculos abdominais. (LEWIT apud NASCIMENTO, 2005) Poderão ser causas de dorsalgia: a frouxidão ligamentar, as posturas mantidas por muito tempo (seja em flexão de tronco, como acontece nos agricultores, ou nas datilografas, seja com braços elevados, como no caso das cabeleireiras), a sobrecarga (por transporte de peso, em especial quando não se repartem as cargas), e aos fatores psicossociais (estados de ansiedade e personalidades emocionalmente lábeis contribuem para que o paciente somatize seu estado de ânimo através de uma dorsalgia. (GABRIEL; PETIT; CARRIL apud NASCIMENTO, 2005). 2.3.1.3 Lombalgia Cailliet (2001), afirma que a dor lombar é uma aflição comum, cuja causa específica e tratamento preciso, ainda frustram a profissão médica. Há outras doenças do corpo que podem 43 e devem causar dor lombar. Estas condições incluem doenças renais, gástricas, pancreáticas e intestinais, doenças malignas e outras deformidades ósseas, metabólicas e sistêmicas. Esses distúrbios devem ser sempre considerados pelo médico se a dor lombar for diferente, associada a outros sintomas, estranhamento persistente, ou ainda, se não responder aos tratamentos-padrões recomendados. Cailliet (2001), afirma que a coluna vertebral é uma estrutura mecânica que sustenta o indivíduo durante toda sua vida, desafiando a gravidade ou, pelo menos, estando em equilíbrio com ela, permitindo que o ser humano fique de pé e sente-se, incline-se, abaixe-se, fique de cócoras, balanceie, volte-se, além disso, funcione durante as atividades da vida diária. É preciso compreender a função normal da coluna vertebral para entender a função anormal, que podem causar dor e incapacitação. Em algum local dos tecidos da coluna lombar há um ponto ou uma parte que está sendo ou foi irritada, estressada, ofendida, lesada, utilizada de forma inadequada, deteriorada ou, até mesmo, doente. A dor pode ter origem nesta lesão dos tecidos. Pode-se avaliar, compreender e reduzir a dor, se for possível esclarecer sua localização. A lombalgia consiste em uma dor no trato lombar inferior ou na passagem lombossacral, às vezes, associada a algumas irradiações à nádega ou a face posterior da coxa. (TRIBASTONE, 2001) O segmento lombar, em bipedestação, forma uma lordose fisiológica que mantém seu equilíbrio as expensas da pélvis. A anteversão pélvica, portanto, trará como consequência um aumento da lordose lombar, enquanto a retroversão a retificará. (GABRIEL; PETIT; CARRIL apud NASCIMENTO, 2005) O mesmo autor acima citado relata ainda que a hiperlordose com a conseguinte anteversão da pelve provocará uma contratura da musculatura posterior. A retificação dolorosa do segmento lombar poderá ocorrer devido ao espasmo da musculatura eretora da coluna ou paravertebral. A experiência dolorosa na região lombar pode ser suscitada por compressão direta das raízes nervosas, como nos casos de hérnia de disco. (GREVE; AMATUZZI, 1999) 2.4 AMBIENTE ESCOLAR A incidência dos problemas relacionados aos desequilíbrios posturais é tão frequente e usual, que a orientação à população para um programa de educação postural, objetivando a 44 consciência corporal, prevenção e compensação dos desequilíbrios do nosso corpo, torna-se cada dia menos pertinentes. (VERDERI apud BARBOSA, 2002) Entre 7 e 12 anos, a postura da criança sofre grande transformação na busca do equilíbrio compatível com as novas proporções do seu corpo. As crianças na fase escolar podem apresentar problemas posturais, pois passam várias horas em uma posição sentada e, muitas vezes, em carteiras e cadeiras inadequadas a sua estatura. (PEREIRA; ÁVILA, 2004) Os hábitos posturais incorretos, adotados desde o ensino fundamental, são motivos de preocupação. Pelo fato de serem crianças, o esqueleto está em fase de formação, sendo mais suscetível a processos de deformação e às estruturas musculoesqueléticas, suportando assim, menos carga. É fundamental lembrar que as estruturas que compõem a unidade vertebral (ligamentos e disco intervertebral) sofrem um processo de degeneração ao longo da vida e não possuem mecanismos de regeneração. Sendo assim, o conjunto de alterações de prejuízos significativos ao sistema musculoesquelético aos escolares, particularmente as estruturas que compõem a coluna vertebral. (ZAPATER et. at., 2004) O problema não se encontra apenas nas dimensões do mobiliário e do ambiente escolar; enfrentam-se, também, dificuldades relacionadas ao transporte do material escolar. Observando-se que, constantemente, a carga transportada é excessiva e a maneira como se transporta é ineficiente, Bracciali e Vilarta (2000), relatam que existe uma crescente preocupação em relação aos problemas posturais de crianças e adolescente, pois a mídia constantemente coloca em discussão tais problemas, como o transporte de material escolar e modelos inadequados de carteiras escolares. Ao mesmo tempo, a indústria anualmente lança novos modelos de mochilas e carrinhos para o transporte do material escolar, em que todos se preocupam em enfatizar os aspectos ergonômicos de seu produto e os benefícios para a coluna da criança. No entanto, crianças e adolescente continuam utilizando mobiliário inadequado e transportando uma carga exagerada em suas mochilas. 2.5 AMBIENTE ESCOLAR X POSTURA NA INFÂNCIA Kendall et al. (2003), considera importante as observações e a identificação de desvios posturais em indivíduos em crescimento. Desta maneira, devemos reconhecer que a criança não se enquadra ao alinhamento ideal estabelecido para os adultos, pois ela encontra-se em desenvolvimento, exibindo maior mobilidade articular e flexibilidade. 45 Outro ponto a ser considerado é que suas estruturas crescem em velocidades diferentes, em que a maioria das alterações posturais observadas em crianças, se enquadra na categoria de desvios do desenvolvimento, que podem melhorar ou mesmo desaparecer sem qualquer necessidade corretiva. No entanto, quando os desvios tornam-se estáticos, ou aumentam, temos uma alteração postural típica. Se o desvio vai ou não se tornar permanente, só podemos determinar por avaliações repetidas e continuas, e não por um único exame. Nas crianças, bons hábitos posturais são importantes para evitar sobrecargas anormais nos ossos em crescimento e, também, alterações adaptativas em músculos e outros tecidos moles, como a fáscia muscular. (KISNER; COLBY, 1998) Verderi (apud BARBOSA, 2002), afirma que o conhecimento do corpo deve iniciar na infância, quando a criança está em desenvolvimento e seu corpo sujeito a transformações. Desequilíbrios articulares, musculares e tendíneos, são todos decorrentes de forças anormais agindo sobre o corpo, tais como as compressões, torções e rotações. Os danos são grandes quando não detectados precocemente. Muitos sintomas como dores de cabeça, formigamento nos braços, dores em diferentes locais do corpo, têm origem nos desequilíbrios posturais. Para Kendall (2003), as atividades diárias do indivíduo terão influencia favorável ou adversa na postura. A natureza das atividades e o tempo gasto nelas são fatores determinantes. Verderi (Idem), afirma que vícios de postura, durante o manuseio do material escolar e nas atividades diárias na escola, nas quais o corpo do aluno permanece em uma só posição por tempo prolongado, são observadas em criança em idade escolar. O assento e a mesa escolar são fatores ambientais importantes para o desenvolvimento sadio das crianças. Kendall (2003), descrevem que na posição sentada, as coxas devem posicionar-se horizontalmente, com flexão dos joelhos a 90º e pés com as face plantar inteira no chão. Ao sentar-se é preciso manter as curvas da coluna, para isso, o encosto deve apoiar a região intermediária entre a torácica e a lombar. A mesa deve ser levemente inclinada e próxima o suficiente para os braços apoiarem-se nela. (VERDERI, op. cit.). Além dos cuidados em sala de aula, a maneira como a criança permanece fora da escola é de extrema importância para seu desenvolvimento postural. Verderi (Idem), orienta que as crianças devem evitar sentar em cadeiras sem encostos, sofás muito fofos e fundos, utilizar mesas muito baixas e sentar no chão ao fazer as tarefas de casa. Algumas considerações sobre a maneira mais adequada dos alunos levarem o material escolar são pertinentes. A mochila deve ser carregada na altura do dorso, apoiada nos ombros, distribuindo o peso entre o lado direito e o esquerdo da coluna. Deve estar posicionada próxima as costas com as alças bem ajustadas, sem folgas, pois assim evitam a sobrecarga na 46 região dorsal que pode levar a uma hipercifose torácica. Como compensação da hipercifose torácica o corpo desenvolve hiperlordose lombar e cervical, com a projeção da cabeça para frente (VERDERI, Idem). Com base em dados epidemiológicos, fisiológicos e biomecânicos o peso da mochila nunca deve ultrapassar 10 a 15% do peso da criança. Quando a carga da mochila é superior à capacidade de sustentação dos grupos musculares, ocorre sobrecarga para a coluna vertebral, podendo determinar alterações posturais, dor ou disfunção da mesma (RODRIGUES; MONTEBELO e TEODORI, 2008). Barbosa et al. (2002), percebem que os problemas posturais são diversos. As posturas adotadas pelas crianças, necessárias às atividades, sofrem influências diversas como a manutenção da postura por grande período de tempo, arquitetura desfavorável do imóvel, dificuldades ergonômicas no transporte do material escolar, disposição e proporções inadequadas no mobiliário e atividades desenvolvidas em sala de aula e no lar. Essa influência pode ser responsável pela manutenção, aquisição ou agravamento de alterações posturais na criança em idade escolar. A identificação de posturas erradas permite a inserção de atividades compensatórias, prevenindo as alterações posturais dentro do ambiente escolar. 2.6 MOCHILA ESCOLAR E AS LEIS O transporte do material escolar é um dos grandes problemas enfrentados pelos alunos que transportam diariamente uma carga de 4,33 Kg até 7,60 Kg, equivalente ao material escolar em suas mochilas. (REBELLATO; CALDAS; VITTA apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000). Os mesmos autores supracitados, em seus estudos, sugeriram que as crianças deveriam transportar, no máximo, cargas que fossem iguais à força dos grupos musculares, de acordo com a idade e com o tipo de equipamento que utilizam para o transporte de carga. Noone (apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000) menciona que o transporte de uma carga externa assimétrica, durante um tempo significativo, por crianças e pré-adolescentes, seria um dos fatores que contribuem para o aparecimento de curvas escolióticas. Mostraram ainda que crianças podem ter uma resultante de força muscular ineficiente para equilibrar a carga externa, recorrendo à inclinação lateral da coluna para suportar a carga. Os mesmos autores demonstram ainda que o transporte de um peso assimétrico de 250N equivale ao 47 transporte de um peso simétrico de 1000N em relação à compressão exercida na região inferior da coluna. Segundo especialistas, o peso da mochila não deve ultrapassar 10% do peso do usuário. A assembléia legislativa estadual derrubou um veto do governo catarinense e promulgou a Lei nº 10.759/98, a qual determina que o peso de mochilas, pastas e similares não deve ultrapassar 5% do peso de criança da pré-escola e 10% do peso do aluno de 1º Grau, percentual, inclusive, indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). (IDEC, apud NASCIMENTO, 2005). Em um estudo realizado em Milão, Itália, por Negrini (apud MORAL; SÁNCHEZ; MARÍN, 2004) constatou-se que o transporte do material escolar em mochila ocasiona, em alunos de escola primária, dor na coluna em 46,1%. Os autores do estudo concluem que levar peso diariamente é uma causa de desconforto para os alunos, recomendando, portanto, a redução de peso carregado nas mochilas levadas pelos alunos, porque excede proporcionalmente os limites legais estabelecidos para os adultos. Deve-se, ainda, considerar que os escolares fazem trajetos relativamente curtos com a mochila em sua coluna, com uma media estimada de meia hora de duração. Incluindo em casos de carga excessiva, este tempo é insuficiente para provocar lesões ou problemas na coluna. (FERRANTE apud MORAL; SÁNCHEZ; MARÍN, 2004) No entanto, no transporte de cargas os músculos se vêm obrigados a uma série de ajustes posturais, que exigem contrações isométricas que, se repetem ou se mantêm no tempo, ocasionando distúrbios circulatórios e químicos a nível intramuscular que terminarão por ocasionar as chamadas contraturas. Outro aspecto a ser observado é a modificação da postura que meninos e meninas realizam para compensar as cargas da mochila. Contudo, ao efetuar essa manobra se desloca mais adiante, aumentando a lordose fisiológica, acrescentando por sua vez o ângulo sacro alterado. Como resultado, esta modificação ocasiona um aumento de estresse no deslizamento das vértebras L5-S1. (MORAL; SÁNCHEZ; MARÍN, 2004). Atualmente, as pesquisas indicam a prevalência de crianças com problemas posturais, quadro álgico, sobrecarga nas mochilas escolares, tendo início no Ensino Básico e se prolonga na adolescência e na vida adulta. Este tipo de preocupação, felizmente, chegou aos nossos governantes, que entenderam a importância de se criar uma lei que tem como objetivo, prevenir as possíveis alterações posturais causadas pela sobrecarga no transporte da mochila escolar. Sendo assim, os mesmos elaboram uma lei dispondo sobre o peso máximo tolerável do material escolar a ser transportado, cada Estado possui suas próprias leis: 48 - Rio Grande do Sul rege a Lei nº 42/48, 1998; - Rio de Janeiro, Lei de nº 2772, de 25 de Agosto de 1997; - Santos, com a Lei de nº 2.084, de 17 de Fevereiro de 2003; - Santa Catarina rege a Lei de nº 10.759, de 16 de Junho de 1998. 49 3 OBJETIVOS 3.1 GERAL Verificar a relação entre a ocorrência de dor e desvios posturais da coluna e a sobrecarga das mochilas escolares em crianças do Ensino Básico. 3.2 ESPECÍFICOS 1) Identificar a prevalência dos desvios posturais (hiperlordose, hipercifose e escoliose) das crianças de 9 a 11 anos da 4ª série do Ensino Básico avaliadas; 2) Relacionar a ocorrência de dor com os desvios posturais na coluna das crianças avaliadas; 3) Correlacionar a sobrecarga da mochila escolar (> 10% do peso da criança) com os desvios posturais dos escolares; 4) Correlacionar os desvios posturais com a forma de carregar a mochila; 5) Correlacionar a sobrecarga da mochila escolar com possíveis casos de algias; 50 4. DELINEAMENTO DA PESQUISA 4.1 TIPO DE PESQUISA O presente estudo se caracteriza por ser uma pesquisa de campo do tipo Inquérito Transversal Quantitativo Analítico. Em virtude disto, foi utilizado como instrumentos de coleta de dados um questionário de autoria das próprias autoras e uma ficha de avaliação postural. 4.2 POPULAÇÃO / AMOSTRA A população foi constituída por alunos do Centro de Serviços Educacionais do Pará (CESEP), na faixa etária de 9 a 11 anos de ambos os sexos da 4ª série do Ensino Básico, que se inscreveram para o estudo, e a amostra foi constituída daqueles que dentro da população, apresentaram-se em todas as etapas e que entregaram o termo de consentimento livre e esclarecido assinados pelos responsáveis. Optou-se por essa idade devido à maioria dos estudantes, nesta faixa etária, serem aptos a fornecer informações fidedignas ao questionário. Desse modo, foram selecionados 62 alunos dos quais 40 deles preencheram os critérios de inclusão e trouxeram os termos de consentimento livre e esclarecido assinados pelos responsáveis. Dos 40 alunos componentes da amostra, 25 eram do sexo feminino, e 15 dos alunos eram do sexo masculino. 4.2.1 Critérios de inclusão e exclusão Foram inclusos no estudo, estudantes da 4ª série do Ensino Básico do Colégio CESEP com idade entre 9 a 11 anos que utilizavam mochila na lateral ou nas costas de duas alças, munidos do termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos responsáveis. Assim, foram excluídos, os indivíduos que não se enquadraram nos critérios de inclusão. 51 4.3 INSTRUMENTOS E COLETA DE DADOS Foi utilizado para coleta de dados: questionários elaborados pelas próprias autoras, fichas de avaliação postural básica e uma balança calibrada. O questionário é composto de dados pessoais (nome, idade, sexo, série, data de nascimento, peso da mochila e da criança, formas de carregar a mochila e a Escala Visual Analógica – EVA (Apêndice A). Uma balança da marca Health Scale, máximo 150 kg / 330 lb – d = 0.1 kg / 0.2 lb. Digital ping Na Chen. Qc 06. Turno n auto & Switch by shake, para verificar o peso dos escolares e das mochilas. A ficha de avaliação postural, baseada na Avaliação Postural do Instituto Polestar Pilates Estúdio e Reabilitação (Anexo C). Foi entregue aos alunos o Termo de Concentimento Livre e Esclarecido (TCLE) apresentando informações sobre a pesquisa, seu objetivo e sua importância (Anexo B). 4.4 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Amazônia (CEP - UNAMA) por meio do Protocolo Nº. 293984/09, sob a orientação da Pesquisadora Angélica Homobono Nobre, e está de acordo com os princípios éticos adotados pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (CONEP) em cumprimento à Resolução CNS Nº 196/96 referente à pesquisa envolvendo seres humanos. O primeiro momento da pesquisa refere-se à seleção da amostra, composta por alunos do Ensino Básico do Colégio CESEP, que foram notificados e esclarecidos por meio da psicóloga da instituição, a qual entregou um informativo confeccionado pelas pesquisadoras juntamente com o termo de consentimento livre e esclarecido, expondo os objetivos da pesquisa e de sua importância, para que os alunos entregassem aos responsáveis. Ao se interessarem, os pais assinaram o TCLE, permitindo que seus filhos participassem de todas as etapas da pesquisada (avaliação postural, questionário e pesagem das mochilas e dos alunos). Dessa forma, as crianças deveriam trazer este documento assinado pelos responsáveis, para participar do processo de coleta de dados. 52 O segundo momento foi a coleta de dados, realizada no Colégio CESEP, onde foram cedidas salas para a realização da pesquisa, sendo que meninas e meninos foram avaliados separadamente, para evitar possíveis constrangimentos para as crianças. Assim sendo, na primeira etapa da coleta de dados, foram colhidos os dados pessoais e aplicado o questionário, logo após foi solicitado a todos os alunos que ficassem descalços. Os alunos do sexo feminino participaram da avaliação postural vestidos de “short” e “top” e os alunos do sexo masculino, de bermuda. Pouco depois, a pesquisadora realizou a avaliação postural com o aluno na posição anatômica, nos planos anterior, posterior e lateral. Após a avaliação postural foi verificado o peso da criança e da mochila, e o cálculo de sobrecarga foi feito posteriormente no programa Microsoft Excel 2000. Deste modo, cada etapa da avaliação (questionário/avaliação postural/verificação do peso da criança e da mochila) foi realizada por uma pesquisadora específica, evitando assim possíveis vieses. Ao final da pesquisa foi realizada uma palestra esclarecendo sobre a melhor forma de carregar a mochila, como melhorar a postura, os efeitos da sobrecarga à coluna e como evitar desvios posturais, para alunos, pais e professores. 4.5 CLASSIFICAÇÃO DOS RESULTADOS Os dados colhidos do questionário foram digitados numa planilha de dados eletrônicos do programa Microsoft Excel 2000. Para avaliar a associação entre sobrecarga da mochila e alterações posturais foram aplicados métodos estatísticos descritivos e inferenciais. De fato, a estatística descritiva constou das medidas de tendência central e variação. No entanto, a parte inferencial constou de testes de hipóteses. A prevalência foi determinada a partir do cálculo das proporções de desvios posturais na amostra de 40 crianças. A associação de níveis de dor com os desvios posturais foi avaliada pelo teste de Mann-Whitney. A presença de desvios posturais associados à sobrecarga foi avaliada pelo teste Exato de Fisher. (AYURES, 2007) 53 A avaliação da associação entre as formas de carregar a mochila e os desvios posturais foi avaliada pelo teste do Qui-Quadrado. A correlação entre a sobrecarga da mochila e os níveis de dor foi avaliada pelo método de Pearson. O qual foi previamente fixado o nível de significância alfa = 0.05 para rejeição da hipótese de nulidade. Os testes de hipótese foram efetuados pelo software BioEstat versão 5. 54 5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS 5.1 RESULTADOS A partir desse capítulo, procuramos descrever os dados colhidos em nossa pesquisa. Como objetivo, priorizamos traçar um perfil das alterações posturais encontradas, dos desconfortos corporais (algias), formas de carregar as mochilas escolares e suas relações. Para maiores esclarecimentos estes dados são descritos a seguir em forma de gráficos e tabelas, e correlacionando os achados com dados bibliográficos. A partir da análise dos dados coletados por meio do questionário, da avaliação postural e da pesagem das mochilas e dos escolares do Colégio CESEP, em Belém-PA, os resultados obtidos serão descritos abaixo. A amostra foi composta por 40 escolares do sexo feminino e masculino, com idade entre nove e 11 anos, estudantes da 4ª série do ensino básico. Dos 40 alunos avaliados, 62.5% apresentavam hiperlordose, 57.5% apresentavam escoliose e 22.5% apresentavam hipercifose. Dentre aquelas crianças que apresentavam hiperlordose e hipercifose, a sensação de dor não foi significante. Porém, nas crianças que apresentavam escoliose, os níveis de dor eram significativamente maiores do que naquelas que não apresentavam esse desvio postural. A relação entre a sobrecarga da mochila escolar e a presença de hiperlordose ficou evidente pelo fato de que 80% das crianças com esta alteração postural usavam mochila com sobrecarga (maior que 10% do seu próprio peso). Entretanto, a relação entre a sobrecarga da mochila escolar e as alterações posturais hipercifose e escoliose, não se mostrou real, visto que entre as crianças com hipercifose, havia 55.6% que usavam mochilas com sobrecarga, contudo, entre as crianças sem tal alteração de postura, a proporção de sobrecarga da mochila aumentava para 71%. Semelhante à alteração postural anteriormente mencionada, entre as crianças com escoliose havia 65.2% que usavam mochilas com sobrecarga, por outro lado entre as crianças sem escoliose a proporção de sobrecarga da mochila aumentava para 70,6%. Em relação ao modo de carregar a mochila escolar, pode-se afirmar que a escoliose e a hiperlordose estão associadas ao hábito de utilizar a mochila lateralmente ao corpo. O trabalho em questão mostrou, ao final, que a sobrecarga da mochila escolar não tem relação com quadros álgicos. As prevalências foram determinadas a partir do cálculo das proporções em amostra de 40 crianças. O resultado apurado evidenciou que o desvio postural hiperlordose (62.5%) é o 55 mais prevalente, seguido de escoliose (57.5%) e hipercifose (22.5%), conforme mostram a tabela 1 e a figura 1. Tabela 1 - Prevalências de Hiperlordose, Hipercifose e Escoliose, (n=40). CASOS PREVALÊNCIA HIPERLORDOSE 25 62.5% HIPERCIFOSE 9 22.5% ESCOLIOSE 23 57.5% Fonte: Protocolo da pesquisa, 2009. 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Hiperlordose Hipercifose Escoliose Gráfico 1 - Prevalências de Hiperlordose, Hipercifose e Escoliose, (n=40). 56 Entre as 40 crianças avaliadas, a presença de hiperlordose (n=25) não aumentou significativamente a sensação de dor (p-valor = 0.8015). por sua vez, as crianças que apresentavam hipercifose (n=9) não apresentavam níveis diferenciados de dor (p-valor = 0.1089). Entretanto, as crianças portadoras de escoliose (n=23) apresentaram níveis de dor significativamente maiores (mediana = 7) em relação às que não apresentavam aquele desvio postural (mediana = 4), observe que o p-valor = -0.0389* é estatisticamente significante, conforme mostram a tabela 2 e a figura 2. Tabela 2 - Variação e tendência de dor conforme os desvios posturais: Hiperlordose, Hipercifose e Escoliose, (n=40) HIPERLORDOSE HIPERCIFOSE ESCOLIOSE Presente Ausente Presente Ausente Presente Ausente Ocorrências 25 15 9 31 23 17 Mínimo 2 1 2 1 2 1 Máximo 10 9 9 10 10 9 Amplitude total 8 8 7 9 8 8 Mediana 5 5 8 5 7 4 Primeiro quartil 3 4 5 3 5 2 Terceiro quartil 7 8 8 7 8 7 Fonte: Protocolo da pesquisa, 2009. p-valor (hiperlordose) = 0.8015, Teste de Mann-Whitney p-valor (hipercifose) = 0.1089, Teste de Mann-Whitney p-valor (escoliose) = 0.0389*, Teste de Mann-Whitney Escala de Dor 10 8 * 6 4 2 0 Presente Ausente Hiperlordose Presente Ausente Hipercifose Presente Ausente Escoliose Gráfico 2 - Variação e tendência de dor conforme os desvios posturais: Hiperlordose, Hipercifose e Escoliose, (n=40). 57 A avaliação da presença de hiperlordose associada à sobrecarga da mochila escolar foi evidenciada pelo fato que, entre as crianças com hiperlordose, havia 80% que usavam mochilas com sobrecarga, por outro lado entre as crianças sem hiperlordose, a proporção de sobrecarga da mochila caía para 46.7%. Para avaliar essa diferença foi aplicado o teste exato de Fisher o qual evoluiu para o p-valor = 0.0412* que é estatisticamente significante, indicando que existe uma real associação entre o peso excessivo da mochila e a presença do desvio postural, conforme mostram a tabela 3 e a figura 3. Tabela 3 - Presença de Hiperlordose associada à sobrecarga da mochila escolar. COM HIPERLORDOSE SEM HIPERLORDOSE TOTAL n % n % COM SOBRECARGA 20 80.0% 7 46.7% 27 67.5% SEM SOBRECARGA 5 20.0% 8 53.3% 13 32.5% TOTAL 25 100.0% 15 100.0% 40 100.0% p-valor = 0.0412*, teste Exato de Fisher ComSobrecarga Sem Sobrecarga 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Com Hiperlordose Sem Hiperlordose Gráfico 3 - Percentuais de Hiperlordose e a sobrecarga da mochila escolar. 58 Na avaliação da presença de hipercifose associada à sobrecarga da mochila escolar foi mostrado que entre as crianças com hipercifose, 55.6% delas usavam mochilas com sobrecarga. Por outro lado, entre as crianças sem hipercifose, a proporção de sobrecarga da mochila aumentava para 71%. Essas proporções foram comparadas pelo teste Exato de Fisher, o qual evoluiu para o p-valor = 0.4371, que não é significante, indicando que não existe uma real associação entre o peso excessivo da mochila e a presença desse desvio postural, conforme mostram a tabela 4 e a figura 4. Tabela 4 - Presença de Hipercifose associada à sobrecarga da mochila escolar. COM HIPERCIFOSE SEM HIPERCIFOSE TOTAL n % n % COM SOBRECARGA 5 55.6% 22 71.0% 27 67.5% SEM SOBRECARGA 4 44.4% 9 29.0% 13 32.5% TOTAL 9 100.0% 31 100.0% 40 100.0% p-valor = 0.4371, teste Exato de Fisher Com Sobrecarga Sem Sobrecarga 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Com Hipercifose Sem Hipercifose Gráfico 4 - Percentual de Hipercifose associada à sobrecarga da mochila escolar. 59 Na avaliação da presença de escoliose associada à sobrecarga da mochila escolar foi mostrado que, entre as crianças com escoliose, havia 65.2% que usavam mochilas com sobrecarga. Por outro lado, entre as crianças sem escoliose, a proporção de sobrecarga da mochila aumentava para 70.6%. Essas proporções foram comparadas pelo teste Exato de Fisher o qual evoluiu para o p-valor = 0.7479, que não é significante, indicando que não existe uma real associação entre o peso excessivo da mochila e a presença desse desvio postural, conforme mostram a tabela 5 e a figura 5. Tabela 5 - Presença de Escoliose associada à sobrecarga da mochila escolar. COM ESCOLIOSE SEM ESCOLIOSE TOTAL n % n % COM SOBRECARGA 15 65.2% 12 70.6% 27 67.5% SEM SOBRECARGA 8 34.8% 5 29.4% 13 32.5% TOTAL 23 100.0% 17 100.0% 40 100.0% p-valor = 0.7479, teste Exato de Fisher Com Sobrecarga Sem Sobrecarga 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Com Escoliose Sem Escoliose Gráfico 5 - Percentual de Escoliose associada à sobrecarga da mochila escolar. 60 Para avaliar a associação entre as formas de carregar a mochila e os desvios posturais foi utilizado o teste do Qui-Quadrado, o qual apontou que os desvios hiperlordose (p-valor = 0.0003*) e escoliose (p-valor = 0.0123*) estão associados ao hábito de carregar a mochila para o lado, conforme mostram a tabela 6 e a figura 6. Tabela 6 - Formas de carregar a mochila e os desvios posturais. HIPERLORDOSE HIPERCIFOSE ESCOLIOSE Como carrega a mochila n % n % n % PRA TRÁS 22 88.0% 6 66.7% 18 78.3% LATERAL 3 12.0% 3 33.3% 5 21.7% TOTAL 25 100.0% 9 100.0% 23 100.0% p-valor (hiperlordose) = 0.0003*, Qui-Quadrado p-valor (hipercifose) = 0.5032, Teste G p-valor (escoliose) = 0.0123*, Qui-Quadrado Gráfico 6 - Distribuição dos desvios posturais conforme a maneira de carregar a mochila. 61 A análise de correlação entre a sobrecarga da mochila e os níveis de dor foi avaliada pelo método de Pearson, o qual obteve p-valor = 0.8086 e um coeficiente de correlação (r=0.0399) que não tem significância estatística indicando que não existe real associação entre esses dois fatores, conforme mostra a figura 7. Gráfico 7 - Diagrama de dispersão da Dor em relação à sobrecarga da mochila. 5.2 DISCUSSÃO A partir da análise dos dados coletados em nossa pesquisa, observou-se que a hiperlordose (65.5%) é a mais prevalente, seguida de escoliose (57.5%) e hipercifose (22.5%). O mesmo, também, foi observado em um estudo realizado no município de Guaraniaçu com 40 escolares na faixa etária de 10 a 12 anos, estudantes de 5ª a 6ª série do ensino fundamental. Nesta pesquisa, o autor realizou uma avaliação postural, na qual 45% apresentaram uma lordose lombar aumentada e 25% com presença de escoliose (MIORANZA, 2007). Portanto, percebe-se que esta pesquisa apresenta um percentual próximo ao encontrado no presente estudo. 62 Outro dado significativo para nossa pesquisa foi encontrado em um levantamento de dados preexistentes em fichas de avaliação postural arquivadas de 2004, aplicadas em escolares do 2º ao 5º ano do ensino fundamental das escolas municipais da cidade de Porto Ferreira – SP. Nesse estudo foram analisadas 465 fichas de avaliação postural de crianças com idades entre sete a doze anos de ambos os sexos. Do total de fichas avaliada, observou-se que em 50% houve alteração na coluna torácica, 68% mostraram alteração na coluna lombar e 28% apresentaram gibosidade. A presença de gibosidade não pode ser indicativa de escoliose, pois não foram realizados exames de imagem nesse estudo, mas sugere tendência para alteração da curvatura lateral da coluna vertebral (CONTRI et al., 2009). Ao contrário ao nosso estudo Carneiro et al.. (2005), em pesquisa realizada com escolares de uma escola do sudoeste da Bahia foram encontrados para hiperlordose 17,4%, hipercifose 30,5% e escoliose 69,6%, sendo a escoliose de maior índice. Jassi; Pastre (2004), em estudo com 169 crianças da 1ª a 6ª do ensino fundamental da cidade de Adamantina-SP, com idades entre seis a 11 anos, realizou uma avaliação postural em cada criança. O resultado coletado nesta pesquisa mostrou que: hipercifose torácica 25.4%, seguida pela escoliose tóraco-lombar 24.3% e a hiperlordose lombar 15,4%. Diante de todo esse dado vale apena entender que entre sete a 14 anos de idade, a postura da criança sofre grande transformação na busca do equilíbrio compatível com as novas proporções de seu corpo. Nessa idade, em que sua mobilidade é extrema, associada ao surgimento dos hormônios sexuais, a postura se adapta às atividades que ela está desenvolvendo (PEREZ, 2002). Correa; Perreira; Silva (apud CONTRI et al.,2009), relata que os desvios posturais que ocorre em crianças, na fase de crescimento, podem aumentar durante as atividades escolares e que não existe conhecimento específico por parte dos educadores sobre esse assunto. As alterações posturais na infância podem ser um dos fatores que predispõe a condições degenerativas da coluna no adulto, manifestadas geralmente por um quadro álgico, tornando necessário estabelecer mecanismos de intervenção como meio profilático (BRACCIALLE; VILARTA 2000). Detsch; Candoti (2001), comentam que até os nove anos de idade, a presença da hiperlordose lombar é considerada como alteração do desenvolvimento, uma vez que não há estabilidade postural, gerando a necessidade de busca pelo equilíbrio corporal por meio da protusão abdominal e aumento da inclinação pélvica anterior. A partir dos nove anos de idade, este processo não é mais necessário, e a hiperlordose lombar passa a ser mesmo uma alteração 63 postural patológica, que deve receber intervenção terapêutica a fim de evitar agravação do problema. Em relação à dor com desvio postural nossa pesquisa apresentou que as crianças com hiperlordose e hipercifose não apresentaram valores significativos quando relacionados com o relato de dor. Entretanto, as crianças com escoliose apresentaram níveis significantes de dor estatisticamente. Na literatura não foram encontrados dados com referencias à dor e desvio postural. No entanto, todos os estudos pesquisados relataram presença de dores em crianças do ensino fundamental, como demonstra um estudo realizado por Ritter; Souza (2006), com 86 crianças do ensino fundamental da cidade de Porto Alegre, onde foi verificado que à dor era a terceira causa mais frequente á afetar as crianças e adolescente em suas atividades escolares e de Lazer. Segundo Cailliet (1976), a dor pode originar-se na área da coluna devido a uma das três maneiras básicas: 1- tensão anormal sobre uma coluna normal; 2- esforço normal sobre uma coluna anormal; e 3- esforço normal sobre uma coluna normal, porém, despreparada para o esforço. Sabemos que vários são os fatores que influem no aparecimento de algias e desvios na coluna vertebral, que a adoção de medidas de prevenção de agravos posturais incluem a orientação de posturas adequadas de forma que o indivíduo possa ter um menor gasto energético e proteja sua coluna. A coluna sofre quando nos mantemos muito tempo numa mesma posição, ou quando adotamos posições que aumentam as curvas fisiológicas, quando realizamos grandes esforços ou pequenos esforços repetidos, ou quando realizamos movimentos bruscos ou adotamos posturas muito forçadas (MANGUEIRA, 2004). Analisando os problemas relacionados às dores na região da coluna vertebral, segundo Bankoff et al.. (2004), procurou caracterizá-las e defini-las a partir da observação de sua intensidade e frequência, identificando as principais causas para as dores e indicando dois fatores que incidem diretamente no problema, sedentarismo e posturas inadequadas. No entanto, Mangueira (2004), de acordo com sua pesquisa, comenta em relação à presença de dor, que 72,9% dos estudantes referiram dor na coluna. Estas dores estavam mais localizadas na região torácica (40,4%) e lombar (41,0%). Já Lee (apud CARVALHO; PAMATO, 2008), associa que técnicas incorretas de carregar objetos pesados muitas vezes são responsáveis pela instalação de dor aguda na região lombar, pélvica e do quadril. Contudo, Mangueira (2004) contribui para essa problemática, que é considerado correto conduzir o material numa mochila (quando as duas alças estão devidamente nos dois ombros), 64 na bolsa universitária, por dividir o peso do material nos dois lados e na mochila com carrinho, por livrar o peso do material do tronco do indivíduo. Entretanto, para Lovato; Silva (apud MIORANZA, 2007), os problemas de deformidades na postura são causados por inúmeros fatores, mas sem dúvida alguma o peso das mochilas é um fator extremamente evidente. Dessa forma, os mesmos acrescentam que a fase mais crítica é no período em que a criança está na fase de maior crescimento, quando dizemos que ela “esticou”. Ela ainda ressalta que o agravante é o ato repetitivo, uma vez que a criança carrega o material cinco vezes por semana, ao longo de muitos anos. Ainda, os autores acima lembram que o peso excessivo da mochila faz com que a criança ou adolescente incline seu corpo para o lado ou para frente. Uma vez que, as consequências vão desde uma escoliose – inclinação lateral da coluna; hiperlordose – aumento da curvatura lombar (concavidade localizada na região da cintura) ao hipercifose – aumento da curvatura localizada na região dorsal (corcunda). Da mesma forma, Bardini (apud ALEMEIDA 2006), afirma que “[...] o esforço excessivo nas costas pode ocasionar o desvio postural, levando a doenças como a escoliose ou sobrecarga ou desgaste de disco lombar”. Com relação à sobrecarga da mochila escolar associado a alterações posturais nossa pesquisa mostra que entre as crianças com hiperlordose, havia 80% que usavam mochilas com sobrecarga, por outro lado entre as crianças sem hiperlordose a proporção de sobrecarga da mochila caia para 46.7% o qual é estatisticamente significante, indicando que existe uma real associação entre o peso excessivo da mochila e a presença do desvio postural. Já na hipercifose a pesquisa nos mostrou que entre as crianças com este tipo de desvio postural havia 55.6% que usavam mochilas com sobrecarga e as crianças sem hipercifose a proporção da sobre cargo da mochila escolar aumentava para 71%, indicando que não existe uma real associação entre o peso excessivo da mochila e a presença desse desvio postural. Na avaliação da presença de escoliose associado à sobrecarga da mochila escolar mostra que, entre as crianças com escoliose havia 65.2% que usavam mochilas com sobrecarga e nas crianças sem escoliose essa proporção de sobrecarga aumentou para 70.6%, identificando também que não existe uma real associação entre o peso excessivo da mochila e a presença de escoliose. Ferst (2003), em um estudo objetivando a relação do uso da mochila escolar com o surgimento e⁄ou aumento de desvios posturais na coluna vertebral em 105 alunos da 5ª série do Ensino Fundamental do Colégio Militar de Curitiba, sob duas avaliações posturais comparativas, com um intervalo de aproximadamente um ano e quatro meses, e também um controle semanal das mochilas, por meio de uma pesagem, concluiu que os desvios posturais que podem surgi são a escoliose, a lordose e a cifose; o surgimento e⁄ou aumento dos desvios 65 posturais na segunda avaliação em relação à primeira foi significante; quanto maior for o peso da mochila, maior será a possibilidade do aluno, tanto masculino como feminino, de desenvolverem algum tipo de desvio postural; existe um aumento no peso das mochilas com a evolução das séries e que é significante o surgimento e⁄ou aumento dos desvios posturais na coluna vertebral, porém é importante um acompanhamento do crescimento corporal do aluno, tanto familiar quanto escolar, pois as mochilas, conforme os cálculos estatísticos, conforme seu peso pode oferecer risco à saúde postural do aluno. Rebelatto; Caldas; Vitta (1991), examinaram 197 estudantes, de ambos os sexos, com idade entre oito e 14 anos e constataram que os indivíduos do sexo masculino transportavam entre 4,33 e 5,47 kg, enquanto que o sexo feminino transportava de 4,43 a 4,63 kg em suas mochilas. Tais autores encontraram como valor máximo de transporte de carga 7,60 kg na idade entre 11 e 12 anos. Os autores concluíram que aqueles que utilizavam mochilas com fixação dorsal apresentavam um pronunciamento da flexão anterior do tronco, provocando um aumento da demanda da musculatura lombar e um aumento no nível de compressão intradiscal entre a 5ª vértebra lombar e a 1ª vértebra sacral. Os meninos realizavam uma inclinação anterior média de 4,77º e as meninas, de 5,02º. Já os indivíduos que usavam mochilas com fixação escapular, apresentaram modificações no plano látero-lateral, observando alterações no deslocamento torácico e lombar, na linearidade do ombro e na distância cotovelo-tronco, desenvolvendo curvaturas laterais. Em outros estudos realizados na Suécia, EUA, Itália e Brasil demonstram que a mochila provoca um deslocamento do centro de gravidade do corpo para trás, quanto mais pesada, maior será a deslocação. Esse desequilíbrio é compensado com a projeção do corpo para frente, o que pode provocar o desvio da coluna, além de sobrecarga nas articulações e nos músculos das pernas (PEREZ, 2002). Os desequilíbrios posturais gerados quando se transporta uma sobrecarga são agravados pelo fato do peso carregado ser freqüentemente desproporcional ao peso do próprio corpo e pelo uso inadequado da mochila, como no caso do apoio em um único ombro (SACCO; MELO apud AINHAGNE; SANTHIAGO, 2009). Rebelatto, Caldas e De Vitta (1991), descrevem ainda que o excesso de material transportado por meio de mochilas pode causar alterações na postura da criança. Deste modo, considera-se excesso, quando o peso transportado extrapola os 10% do peso corporal, o que pode provocar uma maior inclinação do tronco a fim de alcançar um melhor equilíbrio (HONG; BRUEGGEMANN apud VIEIRA, 2009). 66 Tais informações oferecem uma interessante compreensão do porque a cidade de Santa Catarina elaborou a Lei n° 10.795, 1998 que “Dispõe sobre o peso máximo tolerável do material escolar transportado diariamente por alunos do Pré-Escolar e 1° Grau da Rede Escolar Pública e Privada do Estado de Santa Catarina.” Existem inúmeros fatores ambientais que influenciam no desenvolvimento e manutenção da boa postura. Após uma criança iniciar na escola, a quantidade de tempo gasto na posição sentada aumenta consideravelmente devendo tanto a cadeira como a carteira ser ajustada á criança segundo Kendall et al.. (2003). É então a parti desse ajuste ergonômico prolongado que muitas das alterações surgem e se fixam pela ação muscular, resultando em exageros de curva e deslocamentos laterais que prejudicam a função, levando a processo degenerativo na coluna vertebral. Nesse estudo, embora a maioria dos participantes não tenha sida acometida por alterações da postura, observou uma elevada taxa das mesmas em todos os grupos, atentando para a necessidade de observação, controle e tratamento dessas afecções. De acordo com a nossa pesquisa, os desvios posturais hiperlordose e escoliose estão relacionados ao hábito de transportar a mochila lateralmente, isto estar parcialmente de acordo com o estudo realizado por Noone et al.. (apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000), em que os mesmos sugeriram que o transporte de uma carga externa assimétrica, durante um tempo significativo, por crianças e pré-adolescentes, seria um dos fatores para o aparecimento de curvas escolióticas. Tais estudos mostraram que crianças podem ter uma resultante de força muscular insuficiente para equilibrar a carga externa, recorrendo à inclinação lateral da coluna para suportar a carga. Noone et al.. (apud BRACCIALLI; VILARTA, 2000), argumentam que as crianças deveriam ser encorajadas a usarem mochilas com fixação nas costas que são menos prejudiciais do que as transportadas em uma das mãos ou no ombro. Ainda em relação ao quadro de escoliose que pode ser provocado pelo transporte da mochila na lateral, neste sentido, Ferst (2003), afirma que a maioria dos alunos que transportam os materiais em apenas um dos lados contribui para o desenvolvimento de curvaturas laterais, ou seja, escolioses. Estudos realizados por Rebelatto, Caldas e Vitta (1991), mostram que a mochila com fixação dorsal é o equipamento mais utilizado para o transporte de material escolar, semelhante a nossa pesquisa, onde, dos 40 alunos avaliados, 31 transportavam a mochila da mesma forma. Em contrapartida, estudos feitos por De Vitta, Madrial e Sales (2003), mostraram que carrinho é uma nova forma de transportar o material. 67 Ferst (2003), em estudo com 105 alunos de ambos os sexos do Colégio Militar de Curitiba egresso na 5ª do ensino fundamental no ano de 2000, evidenciou que quanto maior é o peso da mochila, maior é a possibilidade do aluno, tanto masculino quanto feminino, de desenvolverem algum tipo de desvio postural. Em relação à sobrecarga da mochila escolar e presença de dor em crianças do ensino básico, em nossa pesquisa não foram encontrados dados significativos, indicando que não existe real associação entre o peso excessivo da mochila escolar com a presença de algias. O mesmo resultado foi encontra em um estudo realizado com 194 alunos de duas escolas publicas de Portugal, de 5º á 7º do ensino básico, onde os valores registrados não pareceram estar associados a uma possível relação entre a dor e o transporte de mochilas com peso maior ou igual a 10% do peso corporal. Para Rego; Scartoni (2007), em estudo com alunos de 5º e 6º série do ensino fundamental na cidade do Rio de Janeiro, constatou que o transporte de mochila com material escolar de peso excessivo, gera dor constante na coluna. Estas dores podem ter diversas origens, mas para De Vitta; Madrigal; Sales (2003), ela pode estar relacionada ao excesso de peso do material escolar, uma vez que já se conhece que estas cargas provocam um aumento na compressão intradiscal e sobrecarga nos músculos eretores da coluna. 68 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo atingiu parcialmente as metas esperadas, pois a instituição onde foi realizada a pesquisa, Centro de Educação Tecnológica do Estado do Pará (CESEP), por motivos de provas e atividades escolares, disponibilizou pouco tempo para a coleta dos dados. Por meio da análise dos dados obtidos em nossa pesquisa, pode-se concluir que a maioria dos escolares carrega a mochila com sobrecarga, ou seja, a mochila tem um peso maior que 10% do peso dos escolares, além disto, o transporte do material é realizado de maneira inadequada, exigindo um esforço adicional da coluna vertebral e dos músculos que a auxiliam no equilíbrio corporal. Tais fatores podem estar associados à presença de alterações posturais, como foi observado em 36 dos 40 escolares avaliados e a quadros álgicos, encontrados em todos os escolares. Entretanto, é importante lembrar que o dia-dia de crianças bem como os ambientes frequentados pelas mesmas, favorecem o aparecimento destas alterações de postura. Alguns hábitos como, ficar horas em frente à televisão jogando vídeo game em postura inadequada, padrões de postura errados ao sentar, andar inadequado, sedentarismo e obesidade infantil são fatores que vem a contribuir para o aparecimento e evolução deste desalinhamento corporal. Para evitar o agravamento de tal problemática, bem como prevenir as futuras gerações, se faz necessária uma conscientização de pais, alunos e das próprias instituições de ensino por meio de palestras e campanhas educativas. Neste caso, a adoção de novas medidas como, o implemento de armários nas escolas, o uso do carrinho como meio de transportar a mochila e a adequação das cadeiras escolares, são também fundamentais para a resolução ou minimização do problema. A escola e a família têm grande importância na construção e consolidação de conhecimento, capazes de atuar na prevenção de doenças, bem como em anormalidades músculoesqueléticas, preparando crianças e adolescentes para cuidar da sua própria saúde e bem estar. Sendo assim, o fisioterapeuta, profissional capaz de atuar na prevenção e reabilitação, tem o papel de repassar de forma simples algumas das diversas condutas profiláticas aos meios familiar e escolar. Por tanto, cuidar da postura e prevenir deformidades à coluna vertebral são hábitos que devem ser adotados desde a infância, reduzindo assim os riscos de adquirir problemas posturais permanentes e melhorando significativamente a qualidade de vida de crianças, adolescentes e adultos. 69 REFERÊNCIAS ADAMS, John Crawford; HAMBLEN, David L. Manual de ortopedia. 11 ed. São Paulo: Artes Médicas, 1994. AINHAGNE, Mônica; SANTHIAGO, Vanessa. Cadeira e mochila escolares no processo de desenvolvimento da má postura e possíveis deformidades em crianças de 8-11 anos. Colloquium Vitae, 2009. ALMEIDA, Tiago Blasius. Análise do peso corporal em relação ao peso da mochila escolar em uma escola privada no município de Tubarão/SC. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel em Fisioterapia) – Universidade do Sul de Santa Catarina, 2006. ALTER, Michael J. Ciência da flexibilidade. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. AYRES, Manuel; AYRES JR, Manuel; AYRES, Daniel Lima; SANTOS, Alex de Assis Santos Dos. BioEstat 5: Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Biológicas e Médicas. 5. ed. Belém-PA: Publicações Avulsas do Mamirauá, 2007. 361 p. BALLONE, G. J. Depressão na adolescência. In: Psiqweb. Disponível em <http://www.sites.uol.com.br/gballone/infantil/adolesc2.html>. Acesso em: 19 set. 2009. BANKOFF, Antonia Dalla Pria; et. al. Estudo das alterações morfológicas do sistemalocomotor:postura corporal X obesidade, 2003. Disponível em: <http://periodicos. uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/viewFile/3468/2474>. Acesso em: 22 set 2009. BARBOSA, Luis Guilherme et al. Intervenção fisioterapêutica preventiva em alunos de 5ª a 8ª série do colégio de aplicação da Universidade Iguaçu. Fisioterapia Brasil. V.3, n.1, p.42-45, jan/fev. 2002. BARROS FILHO, Tarcisio; BASILE, Roberto. Coluna vertebral: diagnóstico e tratamento das principais patologias. São Paulo: Sarvier, 1997. BIENFAIT, Marceei. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia e tratamento fisioterápico. 2 ed. São Paulo: Summus, 1995. BRACCIALLI, Ligia Maria Presumido, VILARTA, Roberto. Aspectos a serem considerados na elaboração de programas de prevenção e orientação de problemas posturais. Revista Paulista de Educação Física, v.02, n.14, p. 159-171, jul/dez. 2000. 70 BRICOT, Bernard. Posturologia. 2 ed. São Paulo: Ícone, 2001. BRUECKNER, Jennifer K.; et al. Atlas de anatomia Humana.4 ed. Elsevier, 2008. BUNNELL, William P. Selective screening for scoliosis. Clin Orthop Relat Res. 2005. CAILLIET, René. Escoliose. São Paulo: Editora Manole, 1979. CAILLIET, René. Síndrome da dor lombar. Porto Alegre: Artmed, 2001. CAMPOS, Flávia de Souza; SILVA, Alexandre Sabbag da; FISBERG, Mauro. Descrição fisioterapêutica das alterações posturais de adolescentes obesos. Disponível em <http://www.brazilpednews.org.br/junh2002/bnp06021.htm>. Acesso em: 19 set. 2009. CONTRI, Douglas Eduardo; PETRUCELLI, Amanda; PEREA, Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno. Incidência de Desvios Posturais em Escolares do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. ConScientia e Saúde, 2009. CARNEIRO, José Ailton Oliveira; SOUZA, Lucas Matos; MUNARO, Hector Luiz Rodrigues. Predominância de desvios posturais em estudantes de educação física da universidade estadual do sudoeste da Bahia. Revista Saúde Com, 2005; 1(2):118-123. CARVALHO, Carla Aparecida; PAMATO, Luiz Arthur Lisboa. Manipulação do osso ilíaco na dor lombar. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel em Fisioterapia) – Universidade do sul de Santa Catarina, 2008. COTTALORDA, Jeréme et al. Backpack and spinal disease: myth or reality?. Rev Chir Orthop Reparatrice Appar Mot. 2004. DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia básica dos sistemas orgânicos: com a descrição dos ossos, junturas, músculos, vasos e nervos. São Paulo: Atheneu, 1998. DETSCH, Cíntia; CANDOTTI, Cláudia Tarragô. A Incidência de Desvios Posturais em Meninas de 6 a 17 anos da Cidade de Nova Hamburgo. Revista Movimento, ano VIII, n.15,p.43-56,2001. DE VITTA, Alberto; MADRIGAL, Cynthia; SALES, Vanessa Silva. Peso corporal e peso do material escolar transportado por crianças em idade escolar. Fisioterapia Movimento; 16 (2):55-60, abr.-jun. 2003. 71 FALLA, Deborah , JULL, Gwendolen, HODGES, Paul. Patients with neck pain demonstrate reduced electromyographic activity of the deep cervical flexor muscles during performance of the craniocervical flexion test. Spine. 2004. Disponível em: <http://journals.lww.com/spinejournal/Abstract/2004/10010/Patients_With_Neck_Pain_Dem onstrate_Reduced.5.aspx>. Acesso em: 15 out. 2009. FERST, Nilton Cesar. O Uso da Mochila Escolar e suas Implicações Posturais no Aluno do Colégio Militar de Curitiba. Dissertação de Mestrado do Curso de Pós Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2003. GAGEY, Pierre-Marie. Posturologia: regulação e distúrbios da posição ortostática. 2 ed. São Paulo: Manole, 2000. FORJUOH, Samuel N.;LANE, Bryan; SCHUMANN, Jonh A . Percentage of body weight carried by students in their school backpacks. American Journal of Physical Medicine & rehabilitation, v.82, n. 4, p. 261-266, 2003. GOULD III, James A. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. 2 ed. São Paulo: Manole, 1993. GREVE, Júlia Maria D’Andréa; AMATUZZI, Marco Martins. Medicina de Reabilitação Aplicada à Ortopedia e Traumatologia. São Paulo: Manole, 1999. GROSS, Jeffrey, FETTO, Joseph, ROSEN, Elaine. Exame musculoesquelético. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 2000. GUERINO, Christiane S; et. al. Avaliação Postural Estática e dinâmica: um estudo comparativo. Revista Fisioterapia em movimento, v. XIII, n. 2 out. 2000/mar.2001, p 15-20. HAKALA, Paula; et. al. And shoulder pain in Finnish adolescents: National cross sectional surveys. BMJ, 2002. HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kathlenn M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 2007. HODGES, Paul W. Changes in motor planning of feedforward postural responses of the trunk muscles in low back pain. Exp brain res, 2001. HODGES, Paul W.; HUNGERFORD, Barbara; GILLEARD, Wendy. Evidence of altered lumbopelvic muscles recruitment in the presence of SIJ pain. Spine, 2003. 72 HODGES, Paul W.; RICHARDSON, Carolyn A.; JULL, Gwendolen. Therapeutic exercises for spinal segmental stabilization in low back pain. Scientific Basis and clinical approach. Churchil Livigston, Edinburg, 1999. HONG, Youlian, CHEUNG, C. Gait and Posture response to backpack load during level walking in children. Gait and posture, v. 17, p. 28-33, 2003. JASSI, Fabrício José; PASTRE, Carlos Marcelo. Alterações Posturais na Coluna Vertebral em Escolares do Ensino Fundamental da Cidade de Adamantina SP. Disponível em: <http://www.fai.com.br/fisio/resumos2/13.doc> Acesso em: 20 set. 2009. KAPANDJI, Adalbert I. Fisiologia articular 3: Tronco e Coluna Vertebral. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. KENDALL, Florence Peterson. Músculos: provas e funções. São Paulo: Manole, 2003. KISNER, Carolyn; COLBY, Lynn A. Exercícios Terapêuticos: Fundamentos e Técnicas. 3. ed. São Paulo: Manole, 1998. KNOPLICH, José. Enfermidades da coluna vertebral. 2 ed. São Paulo: Panamed, 1986. _______________.Viva bem com a coluna que você tem. 31 ed. São Paulo: Ibrasa, 2004. LIPPERT, Lynn. Cinesiologia clínica para fisioterapeutas: incluindo testes para autoavaliação. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1996. MACKIE, H. W., LEGG. S. J., BEADLE, J., HEDDERLEY, D. Comparison of four different backpack intended for school use. Applied Ergonomics. v. 34, p. 257-264, 2003. MAGEE, David J. Avaliação musculoesquelética. 2 ed. São Paulo: Manole, 2002. MANGUEIRA, J. O. Prevalência de desvios na Coluna Vertebral ao exame físico em Estudantes de 11 a 16 anos em uma Escola do Bairro Sinhá Sabóia. Sobral – CE, 2004. Dissertação Monografia para especialista em Saúde da Família – Universidade Estadual Vale do Acaraú. Disponível em: <www.sobral.ce.gov.br⁄saudedafamilia⁄downloads⁄monografias⁄ jorgiana.pdf>. Acesso em: 21 set 2009. 73 MARTARELLO, Vanessa; TEODOROSKI, Rita Cassia Clark. O equilíbrio do sistema tônico postural em atletas do time de futsal da Unisul. Santa Catarina, Tubarão, 2004. Disponível em: < http://www.fisio-tb.unisul.br/Tccs/04b/vanessa/artigovanessamartarello. pdf>. Acesso em: 29 set. 2009. MATHIAS, Raquel P.; ROMERO, Wilson. Escoliose. Disponível em: <http://geocities. yahoo.com.br/fisioterapiabcb/artigos/e003.html>. Acesso em: 19 out. 2009. MIORANZA, Giovana. O Uso da Mochila Escolar e as Possíveis Implicações Posturais nos Alunos do Colégio Estadual Desembargador Antônio Franco Ferreira da Costa Ensino 1º e 2º Grau. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Fisioterapia) – Faculdade Assis Gurgacz de Cascavel, 2007. MORAES, Luci Fabiane Scheffer. Os princípios das cadeias musculares na avaliação dos desconfortos corporais e constrangimentos posturais em motoristas do transporte coletivo. 118f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. MORAL, Ramon Cruz del; SÁNCHEZ, Maria Luiza Sagalaz.; MARÍN, Inmaculada Rodrigues. Estudio descriptivo sobre el uso de La mochila escolar: propuesta de contextualización de um programa de compensación desde El área de educación. Disponível em: <http://www.trasgo.es/sede/Recursos/Articulos/art052/pagina2.asp>. Acesso em: 19 set. 2009. MOSELEY, G. Lorimer, HODGES, Paul W., GANDEVIA, Simon. Deep and superficial fibres of the lumbar multifidus muscles are differentially active during voluntary arm movement. Spine, 2002. NASCIMENTO, Bárbara Maurício. A influência da mochila escolar nos distúrbios músculoesqueléticos em adolescentes do ensino médio. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) - Universidade Do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2005. NISSINEN, Maunu J.; et. al. Development of trunk asymmetry in a cohort of children ages 11 to 22 years. Spine, 2000. NORDIN, Margareta; FRANKEL, Victor H. Biomecânica básica do sistema musculoesquelético. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. OLIVER, Jean; MIDDLEDITCH, Alison. Anatomia funcional da coluna vertebral. Rio de Janeiro: Revinter, 1998. 74 O’SULLIVAN, Susan B.; SCHMITZ, Thomas J. Fisioterapia avaliação e tratamento. 2 ed. São Paulo: Manole, 1993. PALASTONGA, Nigel; FIELD, Derik; SOAMES, Roge. Anatomia e movimento humano: estrutura e função. 3 ed. São Paulo: Manole, 2000. PEREIRA, V.; ÁVILA, V. A. C. Análise Biomecânica da Postura Sentada em Escolares. Disponível em: <http://fisiomagazine.fisioterapiasalgado.com.br/artigos/fm2/fm2_analiseda postura.ht>. Acesso em: 19 set. 2009. PEREZ, V. A Influência do mobiliário e da mochila escolar nos distúrbios músculosesqueléticos em crianças e adolescentes. [Dissertação de Mestrado]. Florianópolis: Faculdade de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina; 2002. PIRES, Ana Cristina; Silva, Paula Cristina Fernandes da; Silva, Pérside Miriam de Paula e; Medeiros, Sandra Mara de; Gasparin, Vanessa. Prevenção fisioterápica da escoliose em crianças da primeira série do primeiro grau. Revista Fisioterapia em Movimento, n.2, Curitiba-PR: Educa, 1990. REGO, Adriana Ribeiro de Oliveira Napoleão; SCARTONI, Fabiana Rodrigues. Alterações Posturais de Alunos de 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental. 2007. Fitness Performance Journal, 2008. RIBELATTO, José Rubens; CALDAS, Maria; VITTA, Alberto. Influência do transporte do material sobre a ocorrência de desvios posturais em estudantes. Revista Brasileira de Ortopedia e Tramatoogia, v.26; n. 11-12,p. 403-410,1991. RITTER, Alexandre Luiz; SOUZA, Jorge Luiz. Instrumento para conhecimento da percepção de alunos sobre a postura adotada no ambiente escolar – Poster. Movimento, Porto Alegre, v.12, n. 03, p.249-262, set/dez 2006. SAPSFORD, Ruth; et. al. Co-activation of the abdominal and pelvic floor muscles during voluntary exercises. Neurology and Neurodynamics, 2001. SHEHAB, Dia K.;Al-JARALLAH, Khaked .F. Nonspecific low-back pain in Kuwaiti children and adolescents: associated factors. J Adolesc Health. 2005. SIAMBANES, David; et. al. Influence of school backpacks on adolescent back pain. J Pediatr Orthop. 2004. 75 SMITH, Laura K.; WEISS, Elizabeth L.; LEHMKUHL, L. Don. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 5. ed. São Paulo: Manole, 1997. SOUCHARD, Philippe; OLLIER, Marc. As escolioses: seu tratamento fisioterapêutico e ortopédico. São Paulo: É realizações, 2001. RASH, Philip J. Cinesiologia e anatomia aplicada. 7 ed. Rio de janeiro: Guanabara koogan, 1989. RICHARDS, Stephens. Atualização em conhecimento ortopédicos: pediatria. Rio de Janeiro: Actínia, 2002. RODRIGUES, S.; MONTEBELO, M. I. L.; TEODORI, R. M. Distribuição da força plantar e oscilação do centro de pressão em relação ao peso e posicionamento do material escolar. Rev. bras. fisioter., São Carlos, v. 12, n. 1, fev. 2008 . TRIBASTONE, Francesco. Tratado de exercícios corretivos aplicados à reeducação motora postural. São Paulo: Manole, 2001. VIEIRA, Marco Antônio. Avaliação postural da coluna vertebral de escolares associada à massa das mochilas escolares proporcionais às suas respectivas massas corporais. Revista Eletrônica de Educação Física, 2009. Disponível em: <http://www.uniandrade. edu.br/links/menu3/publicacoes/educacao_fisica/revista2005II/artigos/marco/resumo.pdf>. Acesso em: 23 set. 2009. WATKINS, James. Estrutura e função do sistema musculoesquelético. Porto Alegre: Artmed, 2001. WEBB, Roger; et. al.. Prevalence and predictors of intense, chronic, and disabling neck and back pain in the UK general population. Spine. 2003. WEINSTEN, Stuart L.; BUCKWALTER, Joseph A. Ortopedia de Turek: princípios e sua aplicação. 5 ed. São Paulo: Manole, 2000. WHO. Saúde da Criança e Adolescente. 2003. Disponível em: <http://www.who.int/en/>. Acesso em: 19 set. 2009. WIKE, Hans-Joachim; WOLF, Steffen; CLAES, Lutz E.; ARAND, Markus D; WIESEND, Alexander. Stability increase of the lumbar spine with different muscles groups: A biomechanical in vitro study. Spine. 1995. 76 WINTER, Robert B., BRADFORD, David S., LONSTEIN, John E. Moe’s textbook of scoliosis and other Spinal Deformities. 3 ed. Philadelphia: W. S. SAUDERS, 1994. YANIV, Moshed; et. al. Prevalence of bowlegs among child and adolescent soccer players. Clin J Sport Med, 2006. ZAPATER, André. Rocha. et al. Postura sentada: a eficácia de um programa de educação para escolares. Ciência & Saúde Coletiva, 2004. 77 APÊNDICE 78 APÊNDICE A – FICHA DE AVALIAÇÃO DE DOR E DO MATERIAL ESCOLAR. AVALIAÇÃO DE DOR E DO MATERIAL ESCOLAR Dados Pessoais Nome: Série: Sexo: F( ) M( ) Avaliação do material escolar Peso da criança: Idade: Data de nascimento:____/____/____ Peso da mochila: 1. Como você transporta o material escolar? ( ( ( ( ( ( ) mochila de 2 alças posterior ao tronco ) mochila de 2 alças anterior ao tronco ) mochila de 2 alças apoiada no ombro esquerdo ) mochila de 2 alças apoiada no ombro direito ) mochila de 1 alça no ombro esquerdo ) mochila de 1 alça no ombro direito ESCALA VISUAL ANALÓGICA – EVA ( )0 ( )5 ( )1 ( )6 ( )2 ( )7 ( )3 ( )8 ( )4 ( )9 ( ) 10 79 ANEXOS 80 ANEXO A – CARTA DE ACEITAÇÃO 81 ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 1. Identificação do Projeto de Pesquisa Título do projeto: RELAÇÃO QUANTITATIVA ENTRE O PESO DA MOCHILA ESCOLAR X PESO DA CRIANÇA E SUAS POSSÍVEIS ALTERAÇÕES POSTURAIS E ALGIAS. Área de conhecimento: Ciências da saúde Curso: Fisioterapia Instituição onde será realizada: colégio CESEP ensino básico 4ª série. Nomes das pesquisadoras: - Bruna Morais de Moura - celular: 81840295 - Charlene de Oliveira Fonseca - celular: 91842557 - Taynã Feliz Paixão - celular: 82688284 Seu(sua) filho(a) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima identificado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que será realizada. Sua colaboração nesse estudo será de extrema importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não lhe causara nenhum prejuízo. 3. Identificação do pesquisador responsável: Nome: Angélica Homobono Nobre Profissão: Fisioterapeuta Nº do registro no conselho: 13649 Endereço: Av. Alcindo Cacela Telefone: 81113766 E-mail: angé[email protected] Eu,......................................................................................., responsável pelo menor ............................................................................., autorizo a sua participação, como voluntário no presente projeto de pesquisa. Estou ciente que: a) Os objetivos desta pesquisa são realizar avaliação posturais dos alunos que utilizam mochilas, mensurar o peso das mochilas e dos alunos, avaliar a presença de quadro álgico e analisar os problemas ocasionados pelo excesso de peso. b) Os procedimentos de coletas de dados serão através de avaliação postural, pesagem das mochilas escolares e dos alunos e questionário. c) Não está prevista nenhuma forma de remuneração para a participação de meu filho (a) no presente estudo. d) Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração de meu filho (ou do menor sobre minha responsabilidade) nesta pesquisa no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação. e) A desistência não causará nenhum prejuízo á saúde ou bem estar de meu filho (ou do menor sobre minha responsabilidade). Não causará danos materiais, efeitos colaterais e nem reações adversas. 82 f) Os dados obtidos durante este estudo serão mantidos em sigilo, sendo que as imagens serão utilizadas somente para a realização da pesquisa, mas concordo que sejam divulgadas em publicações científicas, desde que meus dados pessoais não sejam mencionados; g) Poderei consultar o pesquisador responsável (acima identificado) sempre que necessário para obter informações ou esclarecimento sobre o projeto de pesquisa e a participação de meu filho no mesmo. h) Tenho a garantia de tomar conhecimento, pessoalmente, do (os) resultado (os) parcial (is) e final (is) desta pesquisa. i) Os desconfortos e riscos esperados são: os alunos se sentirem constrangidos por serem avaliados, os meninos de bermuda e as meninas de ”short” e “top”, sendo que para minimizá-los será realizada a avaliação em um ambiente fechado e a avaliação dos meninos não será no mesmo dia da avaliação das meninas. Os benefícios esperados são de orientar os alunos quanto à melhor forma de carregar as mochilas para diminuir a sobrecarga e assim evitar maiores complicações posturais e algias no futuro. Declaro que obtive todas as informações necessárias e esclarecimento quanto as duvidas por mim apresentadas e, por estar de acordo, assino o presente documento em duas vias de igual teor (conteúdo) e forma, ficando uma em minha posse. __________,____ de ______________ de __________ _____________________________ Responsável pelo sujeito da pesquisa 83 ANEXO C – FICHA DE AVALIAÇÃO POSTURAL BÁSICA. AVALIAÇÃO POSTURAL Referência Anatômica Avaliação Altura da orelha . . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Altura do ombro. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Ângulo inferior da escápula. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Espaço entre braços e cintura. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Crista Ilíaca. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ EIAS. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ EIPS. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Posição do joelho. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Posição do tornozelo. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ Posição do pé. . . . . . . Simétrico _____E______ D ______ 84 AVALIAÇÃO POSTURAL BÁSICA Referência Anatômica Avaliação Posição da cabeça. . . . . . . Normal ____ Protusão; min ____mod ____max ____ Coluna cervical. . . . . . . . . Normal ____ Lordose; aumentada____ diminuída ____ Posição do ombro. . . . . . .Normal ____ Protusão; min ____ mod_____ max ___ Coluna torácica. . . . . . . . . Normal ____ Cifose; aumentada ____ diminuída ____ Coluna lombar. . . . . . . . . .Normal ____ Lordose; aumentada____ diminuída ____ Posição pélvica. . . . . . . . .Normal ____ Anterior ____ Posterior ____ Trôcanter maior. . . . . . . . .Simétrico ___ E ____ D ____ 85 ANEXO D – ACEITE DO ORIENTADOR 86 ANEXO E – CERTIFICADO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA (CEP)