UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA ANA LUCIA CORREIA DE CERQUEIRA A INTERTEXTUALIDADE NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO CAMAÇARI NOVEMBRO DE 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA ANA LUCIA CORREIA DE CERQUEIRA A INTERTEXTUALIDADE NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Letras. Prof. Margarete Von MuhlenPoll, orientadora CAMAÇARI NOVEMBRO DE 2013 ANA LUCIA CORREIA DE CERQUEIRA A INTERTEXTUALIDADE NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Letras. Data de aprovação: ____/____/____ Banca examinadora ______________________________________________________________________ Orientador: Margarete Von Muhlen Poll ______________________________________________________________________ Examinador ______________________________________________________________________ Examinador RESUMO Este trabalho propõe discutir e analisar a intertextualidade nas aulas de língua portuguesa do Ensino Médio, abordando a intertextualidade como recurso para trabalhar com leitura e produção textual nas aulas de Língua Portuguesa, centradas na compreensão e interpretação de textos. Partimos do entendimento de que a intertextualidade serve de porta de acesso para o aluno conhecer os diversos tipos de leituras, ativando e reiterando constantemente o seu conhecimento por meio de indagações e pesquisas. Sugerimos exemplos de como trabalhar a intertextualidade por meio da análise comparativa entre textos como músicas, sonetos, poemas, texto bíblico, propaganda, obra de arte. Palavras – chave: Intertextualidade, Texto, Leitura, Práticas Pedagógicas SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 7 2.1 Leitura...................................................................................................................... 7 2.2 Texto e intertextualidade ......................................................................................... 9 2.3Os tipos de intertextualidade .................................................................................. 11 3. METODOLOGIA E PROPOSTA DE TRABALHO COM A INTERTEXTUALIDADE ............................................................................................... 13 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 16 REFÊRENCIAS ............................................................................................................... 17 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo através de fundamentos teóricos e metodológicos da Linguística Aplicada, apresentando o texto e a intertextualidade como estratégia de viabilizar o processo de leitura e produção textual em sala de aula e tem como tema a intertextualidade nas aulas de língua portuguesa do Ensino Médio. Partimos do pressuposto de que a intertextualidade abre um leque para o mundo das mais variadas leituras. Além disso, a intertextualidade faz com que o aluno ative o seu conhecimento prévio, no momento em que fizer suas leituras e reconhecer que há presença de outro texto no texto que está lendo e procurará lembrar a que texto este se remete, por meio de indagações e pesquisas. Fundamentamo-nos nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) e nas concepções da Linguística Aplicada e da Linguística Textual, esclarecendo os principais conceitos do texto e da intertextualidade. A intertextualidade será abordada como meio de possibilitar ao aluno o diálogo com diversos tipos de textos, sejam eles verbais ou não verbais, literários ou não literários. Na primeira seção, abordaremos os aspectos relacionados ao ensino da leitura em sala de aula considerando as reflexões de Freire (2006), Antunes (2003), Bakhtin (1997), Val (1999), Paulino, Walty e Cury (1995) Marcuschi (2003) e o PCNEM (2000). Além disso, abordaremos o uso da linguagem nos diversos contextos. Na segunda seção, conceituaremos texto e intertextualidade e destacaremos a intertextualidade como forma de expandir e diversificar a leitura, além de abordar a importância dos gêneros textuais. Na terceira seção, classificaremos e conceituaremos os tipos de intertextualidade, seguindo as concepções de Paulino, Walty e Cury, ressaltando sobre a utilização do pastiche, da paródia, da paráfrase, da resenha, do texto de opinião e outros, como forma de instigar a criatividade do aluno, construindo o conhecimento expresso no texto, ao realizar trabalhos de leitura e escrita em sala de aula. Na quarta seção, apresentaremos algumas sugestões de como trabalhar com a intertextualidade através da análise comparativa entre a propaganda da “Bom Bril” e a obra de arte “Mona Lisa”, de Leonardo Da Vinci. Além disso, apresentaremos uma análise comparativa entre a música “Monte Castelo” de Renato Russo, o texto bíblico 6 “Coríntios 13” (Novo Testamento) e o soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões. Essa pesquisa pretende demonstrar de que modo a intertextualidade contribui para que haja compreensão do texto e criação de sentido com os textos lidos em sala de aula, evidenciando a relação que existe entre os diversos tipos de textos e suas relações estabelecidas por meio da intertextualidade. Pretendemos mostrar o quanto este recurso pode transformar as aulas em momentos de descontração e interação de conhecimento. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Leitura De acordo com Freire (2006, p.11) ”A leitura de mundo precede a leitura da palavra“. Isto é, o aluno, quando chega à escola, já possui conhecimento linguístico, interage no seu meio social, possui entendimento do espaço ao seu redor, cria e conta histórias. Então o trabalho de leitura na escola deve consistir na ideia de que leitura é um meio para o aluno expandir seu conhecimento, suas ideias, interagir com novos conhecimentos e não como apenas uma atividade escolar que consta no currículo. O PCNEM tem como objeto de estudo a linguagem em suas diversificadas situações, seja verbal, não verbal, verbo-visual, audiovisual, áudio-verbo-visual, etc. A linguagem é de natureza transdisciplinar, por isso deve ocupar uma posição especial nas aulas de português, pois é através da linguagem que o indivíduo interage no meio social, se comunica com o outro. Segundo o PCNEM (2000, p. 5), Produto e produção cultural, nascida por força das práticas sociais, a linguagem é humana e, tal como o homem, destaca-se pelo seu carácter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, a um só tempo. Assim o PCNEM apresenta competências e habilidades que o aluno do Ensino Médio deve dominar quanto ao estudo da Língua Portuguesa, que são o domínio de leitura e escrita, interpretação, compreensão, criação de sentido. Para tanto, as aulas de português devem proporcionar ao aluno uso da linguagem em suas várias formas de uso e contexto. 7 No entanto, consideremos as reflexões de Antunes (2003, p.27) que apontam uma série de problemas no ensino da leitura como: “leitura centrada na decodificação do signo linguístico; uma pratica de leitura sem consideração dos elementos envolvidos no processo (autor – textoleitor), uma atividade de leitura desmotivadora, voltada para a avaliação; uma atividade de leitura que não desenvolve as capacidades de inferência, de crítica, uma leitura alienante”. Os problemas apresentados por Antunes revelam a necessidade de mudança no processo de ensino aprendizagem de leitura, já que essa pratica pedagógica, como vem sendo realizada, segundo a autora, não permite a formação de leitores capazes de usar sua própria língua com domínio, nem sujeitos capazes de escrever algum tipo de produção textual. O discurso está presente em todas as esferas da sociedade seja oral ou escrito, formal ou informal, mas, no que diz respeito ao ensino de leitura e escrita, geralmente foca-se apenas nas tipologias textuais como descrição, dissertação e narração. Nesse processo, muitas vezes, esquece-se que a comunicação se dá por meio de gênero do discurso, tais definidos por Bakhtin (1997, p. 280), como tipos de enunciados, relativamente estáveis e normativos, que estão vinculados a situações típicas da comunicação social. O autor nos afirma que os gêneros devem ter uma relação intrínseca com os enunciados e não uma dimensão linguística formal propriamente dita, desvinculada da atividade social. Ainda de acordo com Bakhtin (1997, p. 281), Cumpre salientar de um modo especial a heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos), que incluem indiferentemente: a curta réplica do diálogo cotidiano (com a diversidade que este pode apresentar conforme os temas, as situações e a composição de seus protagonistas), o relato familiar, a carta (com suas variadas formas), a ordem militar padronizada, em sua forma lacônica e em sua forma de ordem circunstanciada, o repertório bastante diversificado dos documentos oficiais (em sua maioria padronizados), o universo das declarações públicas (num sentido amplo, as sociais, as políticas). O diálogo das linguagens não se esgota em um só tipo de discurso (texto), pelo fato da sua heterogeneidade, que lhe permite variar de acordo com a necessidade de cada situação comunicativa e esfera social, seja no diálogo antigo, nos atuais, no formalismo, no informalismo, no passado, no presente e no futuro, se fundem numa diversidade de linguagens. Assim o processo cultural jamais se interrompe e que 8 qualquer texto pode ser considerado como textos a serem lidos, interpretados e reconstruídos. 2.2 Texto e intertextualidade Conceituaremos texto, seguindo a definição de Val (1999, p.3), que nos diz que o texto é uma “unidade linguística comunicativa básica”. Então seja ele escrito ou falado, o texto é considerado como um meio que as pessoas utilizam a todo momento, para se comunicar, em uma conversa informal, numa entrevista, numa carta, num documento judicial ou romance. Entretanto, a autora chama a atenção para o uso da coesão e coerência como forma de aprimorar o entendimento do receptor do texto. No entanto Paulino, Walty e Cury (1995, p.21-22) nos informam que todo texto é: “é um mosaico de citações, todo texto é uma retomada de outros textos. Tal apropriação pode-se dar desde a simples vinculação a um gênero, até a retomada explícita de um determinado texto”. A definição de texto apresentada pelas autoras nos remete ao conceito de intertextualidade, que nada mais é que a retomada de outros textos, isto é, quando um texto fala de outro texto, faz referência, dialoga com o outro. O que nos leva de certa forma, por meios destes intertextos, conhecer novos textos, procurar novas leituras e até mesmo produzir novos textos e novas leituras. Entretanto, para reconhecer um texto dentro do outro, precisamos ter conhecimento do texto citado e, para isto, necessitamos diversificar as nossas leituras e fonte de busca. A intertextualidade está presente em todas as formas de textos, seja ele literário ou não literário, verbal ou não verbal, e até mesmo nas artes. Então é possível notar que todo texto é originado de outro texto de forma direta ou indiretamente. E isto é notório quando se tem o hábito da leitura, quando se está constantemente lendo os diversos tipos de textos , seja ele antigo, atual, literário, cientifico ou teatral. Quem está sempre lendo, percebe que um texto referencia, dialoga constantemente com outro texto, seja em citação direta ou indireta. Assim, toda leitura que fazemos de certa forma é intertextual, pois quando lemos fazemos associações a outras leituras. 9 A comunicação pode se dar por meio de manifestações linguísticas, como a escrita, a oralidade, os sons. Segundo Bakhtin, essas manifestações são bastante variadas pelo fato de estarem presente em todas as classes sociais. Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana (...). A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas (...) cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 1997, p. 280) Diante dos avanços dos estudos da linguagem, notamos que as aulas de língua portuguesa necessitam explorar mais o trabalho com a intertextualidade, pois é uma forma de incentivar os alunos a diversificar a leitura, interagir com vários autores, aprendendo a selecionar o que quer ler, discordar ou concordar com o que está escrito. Além de o aluno estar sempre buscando novas leituras como complemento para entender o que lhe foi apresentado. Assim, percebemos que utilizar, em sala de aula, os gêneros textuais como música, poema, jornal, charges, filmes, imagens, carta, romance etc., ajudará bastante na aprendizagem, pois possibilitará aos alunos o acesso a vários tipos de textos, e que proporcionará melhor entendimento ao se trabalhar com a intertextualidade, ajudando na interpretação, compreensão e construção de sentido, como também o desenvolvimento de habilidades de leitura e produção textual. E em virtude da importância de se trabalhar com gêneros textuais próximos da realidade do aluno, Marcuschi (2003, p.35) afirma que: [...] o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Pois nada do que fizemos linguisticamente estará fora de ser feito em algum gênero. E há muitos gêneros produzidos de maneira sistemática com grande incidência na vida diária, merecedores de nossa atenção. Inclusive e talvez de maneira fundamental, os que aparecem nas diversas mídias hoje existentes, sem excluir a mídia virtual, tão bem conhecida dos internautas ou navegadores da internet. Dessa forma, o texto em sala de aula será usado com função comunicativa, e o aluno perceberá que ao ler ele dialoga com alguém e, quando ele escreve, ele escreve para alguém ler, logo passa a ter conhecimento de que há alguém do outro lado para ler 10 o texto que ele produzir. Além de perceber que um texto sempre se remete a outros textos. Assim, trabalhar com a intertextualidade em sala de aula significa abrir a porta para as mais variadas leituras, seja verbal ou não verbal, literária ou não literária. Com isso, o aluno estará sempre em constante busca por novas leituras, além de ativar o conhecimento prévio por meio de indagações e pesquisas. 2.3 Os tipos de intertextualidade A intertextualidade pode ocorrer num texto de forma explícita, quando o autor informa o texto e a fonte a que recorreu para fazer a sua citação, ou implícita, quando o autor oculta, não indica que texto utilizou em sua citação. Paulino, Walty e Cury (1995, p. 25-42) classificam oito formas de intertextualidade, “a epígrafe, a citação, a referência, a alusão, paráfrase, a paródia, o pastiche e a tradução”. Isto é, a intertextualidade é apresentada no texto de diversas formas, pelo fato de ser decorrente do uso da linguagem, sempre recorrendo a outros textos, o que permite a constante revelação da intertextualidade. Assim, entendemos por paródia 1 uma forma de apropriação de um texto em que há rompimento sutil ou abertamente com o texto de origem, é uma inversão proposital do sentido de um texto, por meio da ironia, da sátira. Como exemplo, podemos citar o poema “Meus oito anos”, de Oswald de Andrade, onde Oswald de Andrade estabelece uma relação intertextual com o poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu, por meio da construção de uma paródia em que ele cria outro texto totalmente inverso do original, retratando a realidade existente, as condições políticas, sociais e econômicas pelas quais o Brasil passava naquela época como o crescimento desordenado, enquanto Casemiro de Abreu camufla a realidade com um toque de magia, beleza e encantamento, sempre exaltando a natureza do Brasil. A paráfrase2 é a reprodução da ideia de um texto com o emprego de outras palavras, sem abandonar a ideia principal do texto original, como acontece no poema 1 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade teoria e prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 28 2 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade teoria e prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 30 11 “Europa, França e Bahia” de Carlos Drummond de Andrade, que Carlos Drummond de Andrade, parafraseia com o poema “Canção de exílio” de Gonçalves Dias, fazendo somente uma recriação do poema de Gonçalves Dias. A epígrafe3 faz uso de um fragmento de texto de outro autor, para apoiar sua visão pessoal, utiliza uma passagem de um texto já existente para dá início ao seu próprio texto. Citação4 é um tipo de intertexto que utiliza trechos de outros textos de forma direta transcrevendo as palavras do texto de origem entre aspas duplas, normalmente acompanhada pelo nome do autor ou indireta em que o autor utiliza as suas próprias palavras, mas sem abandonar as ideias do texto original. Este tipo de recurso é muito utilizado em trabalhos científicos como forma de comprovar ou negar um ponto de vista de determinado assunto abordado em uma pesquisa ou dissertação científica. Um exemplo seria quando utilizamos um trecho de Freire (2006, p.69), para expressar uma citação direta “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo”. Referência5 é uma forma de intertexto utilizada para citar outros autores em trabalhos acadêmicos, ou como forma de comparar a obra de um autor com a de outro. No romance “Dom Casmurro”, Machado de Assis faz referência a “Otelo”, personagem de uma das obras de Shakespeare, para chamar a atenção do leitor sobre o drama de Bentinho. A alusão faz “uma leve menção a um texto ou a um de seus componentes em um segundo texto”, (PAULINO, WALTY E CURY, 1995, p. 29). Como exemplo nós temos uma expressão muito utilizada que é a expressão “presente de grego”, que significa presente ou oferta que só traz prejuízo, mas que ao ser utilizada só fará sentido para quem conhece a história da Guerra de Tróia. Pastiche6 é considerado como uma imitação estilística, que reporta-se a todo um gênero textual assumindo os traços de um estilo. 3 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 25-26 4 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 28 5 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 29 6 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 40 teoria e teoria e teoria e teoria e 12 Tradução7 é o tipo de intertextualidade que se reporta ao ajustamento de um texto escrito em outro idioma à língua falada no país onde a obra é traduzida. Por exemplo, quando um livro em francês é traduzido para o português. Para as autoras, estamos em constante movimento intertextual, sempre dialogando e inferindo com outros textos. Então, partindo dessa classificação, podemos propor um trabalho de leitura e escrita em sala de aula utilizando o pastiche, a paródia, paráfrase, resenha, texto de opinião e outros, instigando a criatividade do aluno, construindo o conhecimento expresso no texto. Sendo assim, nesta pesquisa, sustentamos que o texto é o elemento básico com que devemos trabalhar no processo de ensino de leitura e produção textual, pois é através do texto que os alunos desenvolverão sua capacidade de organizar o conhecimento, aprenderá argumentar, transmitir suas idéias e emitir opiniões diante de uma situação comunicativa. 3. METODOLOGIA E PROPOSTA DE TRABALHO COM A INTERTEXTUALIDADE A presente pesquisa faz parte do trabalho de conclusão de curso e é uma pesquisa bibliográfica sobre como poderia ser abordada a intertextualidade nas aulas de língua portuguesa de Ensino Médio. Como já foi relatado na fundamentação teórica, tomamos por base os Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio), além de seguir os aportes teóricos do campo da linguística e da linguística textual. Assim, entendemos que a intertextualidade é um excelente suporte para o trabalho com leitura, pelo fato de ser um meio de se perceber um texto no outro, ativando o conhecimento prévio do aluno, fazendo com que procure novos conhecimentos e, a partir daí, construa e reconstrua novos objetos de discurso, novos objetos de conhecimento. Constantemente nos deparamos com a intertextualidade no nosso cotidiano, através de músicas que falam de algum poema ou remetem a algum texto bíblico, um outdoor que cita algum filme, uma propaganda que referencia 7 PAULINO, Graça; WALTY Ivete e CURY Maria Zilda. Intertextualidade teoria e prática. 2ª edição. Belo Horizonte/ MG: Editora Lê, 1995, p. 41 13 diretamente alguma obra de arte ou música, mas, para que o leitor os perceba e os entenda, é necessário um conhecimento dos textos a que a intertextualidade se refere. Agora, traremos alguns exemplos de como trabalhar a intertextualidade em sala de aula. Para tal, baseamo-nos no livro de Koch e Elias, intitulado “Ler e Compreender: os sentidos do texto” e no site portal do professor. Sugerimos aulas com o tema intertextualidade, selecionando textos próximos da realidade do aluno para, depois, partir para os outros textos. Em sala de aula, pode-se, por exemplo, convidar os alunos para ouvir a música de Renato Russo “Monte Castelo”8, e distribuir o texto a eles e informar-lhes que esta música é de uma banda brasileira de rock Legião Urbana, composta por Renato Russo. Em seguida, fazer leitura da música, expondo que o tema amor na música é tratado como ideia de verdade, que o amor está presente em qualquer situação, que o amor pode ser verdadeiro, entre qualquer pessoa. Após, pode-se fazer com que os alunos percebam que há momentos em que o autor utiliza o pronome “eu” com dois sentidos, um para se auto representar, e outro momento remetendo a um narrador. Depois apresentar aos alunos o texto “Coríntios 13” 9, informando-os de que é um texto que faz parte da bíblia (do Novo Testamento) em que fala que o amor é supremo, sagrado, que não é invejoso, que é paciente, referindo todas essas qualidades ao amor de Deus. Em seguida, pode-se apresentar o texto o “Amor é fogo que arde sem se ver” 10, de Luís Vaz de Camões, onde o autor mostra as contradições do amor, um amor que causa felicidade e infelicidade, ao mesmo tempo, em que é positivo e negativo, sempre utilizando o jogo das oposições, como forma de representar o Barroco. A partir das leituras realizadas, questionar aos alunos sobre a que texto a música se remete. Os próprios alunos irão dizer que o trecho se refere a um texto bíblico. Então, o professor poderá dizer que a música traz citações do poeta português Luís Vaz de Camões, em seu soneto 11, além do capítulo 13 de Coríntios, livro da Bíblia. O 8 RUSSO, Renato. Monte Castelo. Disponível em: <http://letras.mus.br/legiaourbana/22490/>. Acesso em: 23 outubro 2013. 9 ALMEIDA, João Ferreira. O Novo Testamento: de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Edição Revista e Corrigida. 1983, p. 346-347 10 CAMÕES, Luis Vaz. O amor é fogo que arde sem se ver. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/biografias/amor_e_fogo.htm>. Acesso em: 23 outubro 2013. 14 professor deve deixar claro que os três textos falam do amor, mas cada autor retrata o amor de maneira diferente, com objetivos diferentes, mas um texto dialogando um com o outro. Outro exemplo que podemos utilizar é a propaganda da “Bom Bril”, que fez referência direta à obra “Mona Lisa” , obra de arte de Leonardo Da Vinci, em que compara a eficiência do produto com a beleza da obra prima. Apresentando a imagem de Mona Lisa (ou La Gioconda), falar que é uma famosa obra de arte feita pelo italiano Leonardo da Vinci. Ela retrata a figura de uma mulher com um sorriso tímido e uma expressão introspectiva. Além disso, o professor explicaria que atualmente, o quadro fica exposto no Museu do Louvre, em Paris (França). Mona Lisa11 é, quase que certamente, a mais famosa e importante obra de arte da história, sendo avaliada, na década de 1960, em cerca de 100 milhões de dólares americanos, conferindo-lhe também, o título de objeto mais valioso, segundo o Guinness Book. Em seguida, apresentar a figura da propaganda da “Bom Bril”, chamando a atenção para os detalhes da figura (a roupa, o meio sorriso da pessoa e o cenário de fundo), indagar se os alunos já conhecem a propaganda, depois perguntar se a figura tem alguma relação com a imagem apresentada anteriormente. Com isso, os alunos perceberiam que há intertextualidade entre as imagens apresentadas. Ao apresentar um intertexto, seja imagem, poesia, charges, texto bíblico ou música, o professor deverá propor ao aluno o uso de estratégias de leitura, como nos orienta Solé (1998, p. 73) “definição dos objetivos da leitura, atualização de conhecimentos prévios, previsão, inferência e resumo”. Assim, o professor conduzirá o aluno a ler, analisar, interrogar e projetar objetivos sobre a leitura que fará, para que o aluno possa interpretá-lo e compreendê-lo e poderá também estimulá-lo a pesquisar sobre o texto, imagem ou poesia, original. Além de produzir textos como paródia, pastiche, paráfrase e outros aguçando o conhecimento e a criatividade do aluno. Reforçamos a ideia de que qualquer texto pode estabelecer relações intertextuais com outro texto, não apenas textos literários, mas a publicidade, a pintura, o filme, o outdoor. O texto também recorre à intertextualidade como estratégia de persuasão, isto é, está sempre utilizando recursos que chamem a atenção do receptor facilitando a interpretação e compreensão. 11 DANTAS, Tiago. Mona Lisa. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/artes/mona-lisa.htm>. Acesso em: 23 outubro 2013. 15 Partimos do pressuposto que o aluno, tendo acesso aos detalhes do texto, poderá fazer suas inferências e perceberá as intenções dos autores, e a partir daí, fazer suas interpretações e criação de sentido, por meio do conhecimento que possui da língua, do mundo, da sua vivência comunicativa. Sendo assim, para que haja um melhor aproveitamento do trabalho com texto, é preciso que fique claro ao professor e ao aluno que deve haver planejamento, leitura, escrita e reescrita em sala de aula. Estes passos devem ser rotina em sala de aula, para que o trabalho com leitura e produção de texto tenha significação, coerência e importância para o aluno e o professor. Dessa forma, estará contemplado nesse processo o trabalho com leitura para fins comunicativos e interativos, ou seja, o aluno estará fazendo uso da língua dentro do seu contexto social de comunicação. Assim, o aluno saberá por que está lendo, por que está escrevendo, quem irá ler seu texto. Para que haja a interação e função social de sua escrita e para que esses procedimentos sejam mais dinâmicos, é recomendável o uso dos diversos gêneros textuais. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, apresentamos os conceitos de texto e intertextualidade, próprios da área da Linguística Textual. Realizamos análise em alguns textos, estabelecendo relação intertextual entre os textos apresentados, ao mesmo tempo que apresentamos proposta de como trabalhar a intertextualidade em uma turma de Ensino Médio. Além disso, abordamos a importância do ensino da intertextualidade nas aulas de língua portuguesa, pelo fato de esta conseguir inserir os alunos nos mais variados tipos de textos e seus intertextos. Esclarecemos que a intertextualidade estabelece relações entre textos, tornando claro qual a intenção do autor ao retomar um texto original. Através desta pesquisa bibliográfica podemos mostrar algumas formas de como a intertextualidade acontece em vários gêneros textuais. Verificamos que, para identificar um intertexto, é preciso ter conhecimento prévio de outros textos, para entender o que o novo texto quer dizer, a que texto se refere. Entendemos que a intertextualidade é um recurso valioso para o estudo de textos em sala de aula, já que em geral um texto cita outro com diversas finalidades, saber 16 identificá-las e utilizá-las é um recurso que melhorará a aprendizagem de leitura através do aprimoramento de estratégias e práticas de interpretação e compreensão de textos. Esperamos com este trabalho contribuir com a prática pedagógica do professor no ensino de leitura, despertando-o para redimensionar os seus saberes, proporcionando aulas, através das quais seus alunos aprendam o conceito de texto, intertextualidade, ou seja, que percebam presença de outros textos nos textos que leem, interpretam quer seja eles textos religiosos, textos literários, de humor, propaganda, jornalístico, charges e outros. Assim, o aluno realizará o processo de construção de sentido do texto, a partir do seu conhecimento sobre o autor, sobre o assunto abordado no texto, sobre o objetivo do texto e sobre outros textos. Através deste estudo, percebemos que o trabalho efetivo com a intertextualidade em sala de aula contribui para melhorar a interpretação e construção de sentido, ao mesmo tempo em que possibilita que os alunos criem novos textos a partir dos textos estudados em sala de aula. Além de ampliar, enriquecer e transformar a experiência de leitor dos alunos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, João Ferreira. O Novo Testamento: de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Edição Revista e Corrigida. 1983, p. 346-347 ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio - língua portuguesa. Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC/ SEB, 2000. CAMÕES, Luis Vaz. O amor é fogo que arde sem se ver. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/biografias/amor_e_fogo.htm>. Acesso em: 23 outubro 2013. 17 DANTAS, Tiago. Mona Lisa. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/artes/mona-lisa.htm>. Acesso em: 23 outubro 2013. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 48ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender: os sentidos do texto. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2010. 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