AMBIENTE DE LEITURA DE LITERATURA EM MEIO DIGITAL - REALISMO Shisleny Machado Lopes (PIBIC/CNPq – Ações Afirmativas) e Saulo Cunha de Serpa Brandão (Orientador, Depto.de Letras - UFPI) Introdução Com o avanço do computador e da internet, cada vez mais ferramentas têm seduzido leitores a optarem por consumir informações diretamente da tela de um computador ao invés da leitura tradicional impressa. Logo, a utilização de novos recursos digitais demanda a compreensão de fenômenos relacionados à percepção do efeito que a inserção de tecnologias pode gerar no processo de leituras de textos, especialmente aquelas exigidas em estudos acadêmicos. Para isso, segundo Cavalcanti (1989) o hipertexto surge como a possibilidade de discutir a textualidade à luz de teorias textuais e também cognitivas. Nesta pesquisa a página hipertextual em construção por este projeto atuará como facilitador da quebra de fronteiras entre as mais diversas formas de expressão literária, pois segundo Todorov (2009) A literatura não nasce no vazio, mas no centro de um conjunto de discursos vivos, compartilhando com eles numerosas características. Metodologia No início da pesquisa selecionamos no sítio da Biblioteca Digital de Literatura - Nupill e digitalizamos onze textos (“No Moinho” de Eça de Queirós e “Quincas Borba”, “Uma Senhora”, “D. Paula”, “Capítulo dos Chapéus”, “Missa do Galo”, “O Alienista”, “Noite de Almirante”, “O espelho”, “A carteira” e “A igreja do Diabo” de Machado de Assis) escolhemos estas obras por pertencerem ao movimento literário do Realismo, que foi o obejto de estudo escolhido para este trabalho. O segundo passo foi a realização de leituras aprofundadas sobre realismo e hipertexto, para isso utilizamos livros de estudiosos como Gomes, Cavalcanti, Maussaud, Burbules, Todorov, Coscarelli e, além disso, consultamos estudos e artigos publicados acerca dos supracitados temas, pois, este trabalho objetivou contribuir para uma melhor e mais acessível leitura de textos literários pertencentes ao movimento realista para estudantes universitários, disponível por uma ferramenta de leitura digital e hospedada no site do Núcleo de Pesquisa em Literatura Digitalizada da Universidade Federal do Piauí (NUPLID/UFPI). Procedemos com a leitura e inserção de lexias para os verbetes que mais dificultam o entendimento da leitura de cada um dos textos com o auxílio de dicionários eletrônicos como o Caldas Aulete e Houaiss da Língua Portuguesa e da crítica canônica. A esse processo denominamos de mapeamento do texto. Em seguida, buscamos via internet todos os possíveis dados relacionados aos textos realistas, como fotos, músicas, filmes e outros. Além disso, transportamos todo esse acervo acumulado para o ambiente digital que ainda está em construção com o intuito de antes, durante e depois da leitura possibilitar ao leitor através dos links várias trajetórias que de alguma forma facilitem a compreensão do texto e contexto pertencente ao realismo. Resultados e Discussão Constatamos que cada verbete de difícil entendimento encontrado durante o processo de mapeamento das obras estavam intrisicamente ligados ao contexto histório do período de publicação da obra, pois de 1886 a 1891, anos de publicação original em folhetins “A Estação” do livro Quincas Borba, ainda usava-se chambre. Termo esse que pode ser visto na obra supracitada como evidencia a ilustração abaixo: Imagem 1: Um dos textos (Quincas Borba) em processo de mapeamento por este projeto O realismo, segundo Maussaud (2001), surgiu da necessidade do contato com a realidade imediata. Nas palavras do autor: A íntima contradição em que flutuava a arte romântica pressupunha a necessidade de um movimento dialético para se efetivar, aparecendo na tese o sentimento e idealidade, e na antítese o apelo à missão altruísta que se impunham os homens de letras, e, portanto, o contacto com a realidade imediata. (MAUSSAUD, 2001, p. 13). Contrariando os ideais romancistas os realistas evidenciavam uma representação mais objetiva e fiel da vida social. Negavam‐se a encarar a literatura apenas como uma forma de entretenimento e fazem dela um instrumento de denúncia dos vícios e da corrupção da sociedade burguesa. Denunciavam as péssimas condições de vida do povo, a exploração dos operários, a influência da religião e das práticas supersticiosas que ela apoia, e a hipocrisia do relacionamento humano no casamento burguês. São características do realismo: engajamento social, compromisso com a sociedade, retrato da sociedade e das suas relações sem idealização. Exclui‐se da obra tudo o que vier da sorte, do acaso, do milagre. Tudo é regido por leis naturais, Cientificismo, uso de teorias científicas e filosóficas, como o determinismo, o evolucionismo, a psicologia, o positivismo, Personagens caricaturados das pessoas do dia‐a‐dia, retratando‐se ou o aspecto psicológico ou o biológico desses, entre outros, conforme é exposto por Maussaud (2001). No Brasil, o movimento realista surgiu em 1881 com a publicação de dois romances: O mulato de Aluísio Azevedo, e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e influenciou outros campos expressionista como arquitetura, pintura e escultura que retratavam cenas do cotidiano das camadas mais pobres da sociedade temas contemporâneos, assumindo muitas vezes uma intenção política em suas obras, segundo Maussaud (2001). Para ele o realismo possui como representantes: Machado de Assis, Raul Pompéia, Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Gustave Flaubert, Eça de Queiroz e outros. Esses autores escreveram obras realistas que exigem maior compreensão do vocabulário da época, pois hoje naturalmente são vistas com raridade e, por muitas vezes, dificultam a leitura dos apreciadores desse movimento literário. A partir da reflexão sobre realismo, constatamos também a necessidade de disponibilizar para leitores um significativo acervo de textos pertencentes a esse movimento literário em um único manual online que ofereça através de um clique um universo de informações. Onze textos do realismo foram concluídos (“No Moinho” de Eça de Queirós e “Quincas Borba”, “Uma Senhora”, “D. Paula”, “Capítulo dos Chapéus”, “Missa do Galo”, “O Alienista”, “Noite de Almirante”, “O espelho”, “A carteira” e “A igreja do Diabo” de Machado de Assis) e podem ser encontrados no site ilustrado abaixo e ainda em contrução por esse projeto juntamente com um vasto acervo pictórico e sonórico sobre cada uma das obras supracitadas. Imagem 2: Página inicial do site do NUPLID (www.ufpi.br/nuplid) na qual os textos após mapeados são inseridos e disponibilizados. Conclusão Tanto conhecer a história e o propósito do site como aprender a manusear e a dar continuidade a construção do mesmo foram subsídios importantes para imergir o mundo da literatura brasileira, especialmente de obras realistas, permitindo trabalhar a criatividade na construção e alimentação de ferramentas telemáticas. Além disso, fizemos um significante levantamento pictórico e sonoro para enriquecer o ambiente em criação e aprendemos como sistematizar e sintetizar informações importantes de textos pertencentes ao realismo abrangendo assim o nosso conhecimento acerca desse movimento brasileiro. Apoio: UFPI, NUPLID e CNPq Referências BURBULES, N.C. “Rhetorics of the Web: hyperreading and critical literacy”. In.SNYDER, I. (org). Page to Screen: talking literacy into the electronic era. London, Routledge, 1998. CAVALCANTE, Marianne C. B. Mapeamento e produção de sentido: os links no hipertexto. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio. XAVIER, Antônio Carlos (orgs.). Hipertexto e Gêneros Digitais. 1a ed., Rio de Janeiro, RJ Lucerna, 2004, p. 163-169. CAVALCANTI, Marilda do Coutro. Interação leitor-texto. Campinas: Editora da Unicamp, 1989. COSCARELLI, C. V. O texto x hipertexto na teoria e na prática. Belo Horizonte: UFMG. 2002. GOMES, Luiz Fernando. Hipertexto no cotidiano escolar. São Paulo : Cortez, 2011. p. 15. KOOGAN, André; HOUAISS, Antonio ed). Enciclopédia e dicionário digital 98. Direção geral de André Koogan Brelkmam. São paulo: Delta: Estadão, 1998. 5 CD-ROM. LACERDA, Carlos Augusto. Aulete Digital. Lexikon Editora Digital. Disponível em:< http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital >. Acessado de agosto de 2011 a janeiro de 2012. MAUSSAUD, Moisés. História da Literatura Brasileira: Realismo e simbolismo. São Paulo. Ed. Cultrix, 2001. TODOROV, Tzvetan. A Literatura em Perigo. 2ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. Palavras- chave: Realismo. Hipertexto. Literatura.