Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Núcleo de Desenvolvimento em Saúde Grupo de Saúde Popular - GSP O PAPEL DA CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE NA FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE: CUIABÁ – MATO GROSSO Fátima Aparecida Ticianel Schrader¹; Júlio Strubing Müller Neto²; Maria José Vieira Silva Pereira³; Aline Paula Motta4; Maria Salete Ribeiro5, Ilva Félix Nascimento6 1. INTRODUÇÃO A experiência faz parte de um estudo mais amplo denominado “Incorporação das Demandas Populares às Políticas de Saúde em 16 Municípios de Mato Grosso”, referente ao período de 2003 a 2006 que identificou estratégias para a qualificação da gestão participativa no Sistema Único de Saúde (SUS). Questão: os atores/sujeitos sociais representados nas conferências estão conseguindo influenciar a construção da agenda política municipal de saúde? 2. OBJETIVOS Analisar se as demandas e as diretrizes aprovadas na 6ª Conferência Municipal de Saúde (CMS) de Cuiabá foram priorizadas pelo Conselho e pela equipe gestora na formulação e planejamento, implementação e avaliação da política de saúde; Estimular a equipe dirigente e os profissionais da saúde a incorporar conceitos e práticas inovadoras de gestão participativa 3. MATERIAL E MÉTODO Estudo de caso apoiado em análise documental e aplicação de entrevistas semi-estruturadas com atores das instituições (SMS, Conselho Municipal de Saúde e Legislativo). Campo de análise da pesquisa - 6ª CMS de Cuiabá, realizada em 02 e 03 de dezembro de 2004, etapa da 12ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), o contexto político-institucional da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e seus processos de gestão e planejamento, o Conselho Municipal de Saúde, o Legislativo e as relações dessas instituições entre si e com os atores sociais. Eixos de análise: caracterização institucional; processo decisório; percepções dos atores e conteúdo das agendas. As deliberações aprovadas na CMS e as ações incluídas no plano e no relatório de gestão foram classificadas de acordo com os termos de referência dos 10 eixos temáticos da 12ª CNS (BRASIL, 2004). 4. RESULTADOS Cuiabá realizou seis conferências de saúde (bianuais) até 2004, caracterizando um processo já instituído com dinâmica própria, independente da agenda nacional. A 6ª CMS realizada em 2004 teve seu regimento interno aprovado em reunião do CMS e referendado na Conferência. Houve realização de pré-conferência nas regiões para a eleição dos delegados. Participaram os delegados eleitos, natos, indicados (gráfico 1) garantindo a paridade entre os segmentos conforme Resolução 333/03 do Conselho Nacional de Saúde. O relatório da Conferência não foi publicado na imprensa oficial, mas foi encaminhado ao Prefeito, ao gestor de saúde e sua equipe dirigente e ao Pleno do CMS. Dentre as questões debatidas na 6ª CMS, 201 foram transformadas em deliberações. Constatou-se maior concentração das deliberações referentes à organização da atenção à saúde (45,8%) e ao trabalho na saúde (14,4%) (tabela 1). O Plano Operativo Anual da Saúde 2005 apresenta 44 ações semelhantes às deliberações aprovadas na conferência (21,3%) sem nenhuma referência ao relatório final da mesma. O Relatório de Gestão 2005 não informa se as ações realizadas guardam relação ao programado no Plano de Metas. A maioria das deliberações da atenção à saúde são referentes à média e alta complexidade (43,5%). As reivindicações trabalhistas representaram 45,8% do eixo do trabalho e as relativas à educação na saúde, 54,2%, o que evidencia a importância dada pelos conferencistas aos dois temas. Os atores entrevistados do Conselho, do Legislativo e da SMS valorizaram o papel da Conferência e afirmam que a mesma influenciou a atuação das respectivas instituições. Na percepção dos conselheiros usuários, o Conselho tomou medidas para operacionalização das deliberações da 6ª CMS. Para os representantes dos trabalhadores, este não tomou medidas para operacionalizar suas deliberações. Na percepção dos Vereadores, o Legislativo não adotou medidas para operacionalização das deliberações da 6ª CMS de Cuiabá. O resultado deste estudo foi apresentado durante a 7ª CMS realizada em 2007 com sugestões e recomendações: 1. Fortalecer o processo de realização das pré-conferências; 2. Estimular o CMS a deliberar sobre as políticas de saúde, com base no relatório da Conferência para elaboração dos planos municipais (art. 37 da lei 8.080/90); 3. Sugerir ao Gestor que apresente aos participantes da conferência a análise da situação de saúde do município e o relatório com o cumprimento das deliberações da conferência anterior; 4. Integrar mecanismos de gestão participativa ao planejamento com a criação de comissão municipal, eleita na conferência, com atribuições de promover o debate sobre as deliberações e fazer o monitoramento de sua implementação; 5. Sugerir ao Prefeito Municipal que encaminhe o relatório final da conferência ao legislativo para ser debatido em audiência pública; 6. Dar publicidade ao relatório da conferência em órgãos de comunicação oficial e outros meios de divulgação local e fazer a divulgação para a sociedade em geral; 8. Fazer a conferência coincidir com os momentos de elaboração do Plano de Saúde e o Plurianual (PPA), como mecanismo de garantir sua incorporação. Em 2009, dando continuidade a experiência, o GSP e o NDS/ISC estão desenvolvendo junto ao Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá estratégias e instrumentos para permitir o monitoramento da implementação das deliberações das conferências pela gestão municipal e pelo Conselho de Saúde. Realização: Grupo de Saúde Popular (GSP), ONG que atua desde 1986 em projetos de educação e promoção da saúde e cidadania. Parceria: Núcleo de Desenvolvimento em Saúde (NDS) do Instituto de Saúde Coletiva ISC/UFMT Financiamento: Secretaria de Gestão Participativa do Ministério da Saúde. ¹Enfermeira, mestre em saúde coletiva, NDS/ISC/UFMT, [email protected]. ²Professor do ISC/UFMT, doutorando em saúde pública ENSP/FIOCRUZ, [email protected]. ³Enfermeira, especialista em Saúde Pública, NDS/ISC/UFMT, [email protected]. 4Discente em Direito, NDS/ISC/UFMT, [email protected]. 5Professora da UFMT, Assistente Social, mestre em serviço social PUC-RS, COSEMS/MT, [email protected]. 6Assistente Social, especialista em Saúde Pública, NDS/ISC/UFMT.