A ABEP Salud y larga vida!
Carmen A. Miró G.
Membro do Conselho Superior da FLACSO
Diretora do CELADE, 1958-1976
Presidente da IUSSP, 1973-1977
Desde o Primeiro Encontro, em Campos do Jordão, a ABEP tem crescido em tamanho e
prestígio, tendo se tornado uma testemunha permanente do interesse brasileiro no estudo
dos processos populacionais e suas dinâmicas ao longo do tempo.
Axel I. Mundigo
Diretor de Programas Internacionais, Center for Health and Social Policy
Officer da Fundação Ford, 1976-1978
Os primeiros 30 anos da
Associação Brasileira de
Estudos Populacionais
Paula Miranda-Ribeiro
Fernandes Antônio Benedito Marangone Daniel Joseph Hoga
Sérgio Odilon Nadalin Laura R. Wong Juarez de Castro Oliveir
Taís de Freitas Santos Fernando Fernandes Maria Cél
Formiga Claudete Ruas Paulo Saad Eduardo Luiz Gonçalve
Rios-Neto Celso Cardoso da Silva Simões Morvan de Mell
Moreira Marta Rovery de Souza Rosana Baeninger Laura Líd
Rodríguez Wong Juarez de Castro Oliveira Duval Magalhãe
Fernandes Marisa Valle Magalhães Moema Gonçalves Buen
Fígoli Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto Mary Garcia Castr
Duval Magalhães Fernandes Suzana M. Cavenaghi Antôni
Tadeu Ribeiro de Oliveira Taís de Freitas Santos Antôni
Benedito Marangoni Ana Maria Peres França Boccuci Maria d
Paula Miranda-Ribeiro é bacharel em
Lourdes Teixeira Jardim Ciências
Marley
Vanice
Deschamps Jos
Econômicas
pela Universidade
Federal do
de Minas
Gerais (1989), mestre
em
Marcos Pinto da Cunha Roberto
Nascimento
Rodrigues
Lu
Demografia pelo Cedeplar, Universidade
Antônio Pinto de Oliveira Federal
Mariade Coleta
Oliveira
Minas GeraisF.A.
(1993)
e PhD em Ricard
Sociologia/Demografia
pela University
of
Antônio Wanderley Tavares
Simone Wajnman
Suzana
Mart
Texas at Austin (1997). Atualmente, é
Cavenaghi Ângela de Oliveira
Belas
José
Irineu Rangel
Rigot
professora
adjunta
do Departamento
de
de
Marley Vanice DeschampsDemografia
Cecíliada Universidade
PolidoroFederal
Mameri
Afons
Minas Gerais, pesquisadora do Cedeplar,
César Coelho Ribeiro Sandra
Mara Garcia Celso Cardoso d
chefe do Departamento de Demografia e
sub-coordenadora
do GT População
Silva Simões Daniel Joseph
Hogan Eduardo
Luize Gonçalve
Gênero da ABEP - Associação Brasileira de
Rios-Neto José Irineu Rangel
Rigotti Kaizô Iwakami Beltrã
Estudos Populacionais. No primeiro
Sérgio Odilon Nadalin George
Simone
semestre deMartine
2006, foi visiting
scholar no Wajnma
Population Research Center da University of
Rosana Baeninger José Eustáquio
Diniz Alves José Ribeir
Texas at Austin.
Soares Guimarães Fernando Marcel Kowalski Maria Rejan
Souza de Britto Lyra Lára de Melo Barbosa Maria de Lourde
Teixeira Jardim Haroldo da Gama Torres Jair Lício Ferreir
Santos Laura L. Rodríguez Wong Maria Coleta F. A. Oliveir
Maria Teresa Sales de Melo Suarez Nadja Loureiro Pernes d
Silva João Lyra Madeira Maria Helena T. Henriques Maria Luiz
Marcílio Elza S. Berquó Jair Lício Ferreira Santos Manoe
Foto de 1976, aos 9 anos
Paula Miranda-Ribeiro
Los demógrafos de América Latina tenemos una tremenda deuda de gratitud con la
Asociación Brasileña de Estudios Poblacionales (ABEP), establecida en 1976 bajo la
Presidencia del Profesor e insigne Maestro Dr. Lyra Madeira.
Desde el Primer Encuentro Nacional, llevado a cabo en 1978, se pudo apreciar el alto nivel que
para entonces ya había alcanzado la demografía en Brasil. Los numerosos trabajos relativos a
cuatro temáticas recogidos en el volumen de 854 páginas no dejaban lugar a dudas de que
ABEP había surgido en momento muy oportuno para dar a conocer a nuestra región y al
mundo, los valiosos estudios que sus profesionales venían desarrollando.
Contar con los Anales de los Encuentros Nacionales que ABEP realiza cada dos años es contar
con una valiosa biblioteca que contiene, no solo documentos de demografía propiamente tal,
sino también de políticas sociales relativas a los más diversos grupos humanos en Brasil.
Desde hace muchos años me he preguntado cómo podríamos hacer los demógrafos de otros
países de América Latina para contar con textos en español de por lo menos una selección de
los valiosos trabajos publicados en los Anales de los Encuentros de ABEP, lo que beneficiaría a
los que tienen dificultades de leer el Portugués.
Al cumplir los 30 años de su fundación, hacemos votos por que siga benefiándonos con su
valiosa producción y que encontremos una fuente financiera para traducir al español algunos
de esos valiosos documentos.
Os primeiros 30 anos da Associação Brasileira de Estudos Populacionais
oão Lyra Madeira Maria Helena T. Henriques Maria Luiza Marcílio Elza S. Berquó Jair Lício
Ferreira
Santos
Augusto
de fazer
Mello
Moreira George Martine Luiz
A ABEP
é um raro Manoel
exemplo do que
as associaçõesCosta
nacionais deMorvan
população podem
em
termos de fortalecer a nossa disciplina. Os esforços vão além da organização de encontros biArmando
de Medeiros Frias José Alberto Magno de Carvalho Valéria da Motta Leite Juan
anuais e incluem, ainda, as atividades de incentivo à pesquisa na fronteira do conhecimento,
além
de oferecerem
próximaSawyer
geração de especialistas
em população
uma José
excelente
Carlossocialização
Lerda
Dianaà Oya
João Lyra
Madeira
Alberto Magno de Carvalho Maria
científica.
Helena T. Henriques Valéria da Motta Leite Elza S. Berquó
Hélio Augusto Moura Maria Coleta
Wolfgang Lutz
Líder do Programa
de População Mundial,
IIASAEtges
International
Institute for
Applied Systems
Analysis Luiz Armando de Medeiros Frias
F. A de Oliveira
Norberto
Jacob
Altiva
Pilatti
Balhana
Diretor do Vienna Institute of Demography
IUSSP, 1998-2001Suzana da Cunha Holder Helena
Diana Oya Sawyer José Carlos PereiraSecretário-Geral
Peliano daCarmem
LewinOJosé
Alberto
Carvalho
Valéria
Motta
aniversário
de 30 anosMagno
da ABEP é de
motivo
de orgulho para
todos nós,da
acadêmicos
em Leite George Martine Ana Maria
economia.
Associação
co-irmã da
ANPEC, a ABEP
foi também
criadaEster
nos anos setenta,
num Altiva Pilatti Balhana Maria Stella
Goldani
Altmann
Hélio
Augusto
Moura
Rosa
Rossini
momento importante de estruturação da área de ciências sociais aplicadas no Brasil. Sua
liderança
é inconteste
na introdução
e difusão,
no Brasil,Cardoso
do estado da arte
de métodos
Ferreira
Levy
Ricardo
Rossato
Celso
Simões
Guaraci Adeodato Alves de Souza
analíticos, fundamentais para o entendimento da relação entre população e economia.
Carmen Suzana Holder Carlos Eugênio Carvalho Ferreira Elza S. Berquó George Martine
Mauro Borges Lemos
Neide Patarra Diana Oya Sawyer Ivonete BatistaUFMG/Cedeplar
Xavier Celso Cardoso Simões Ricardo
Secretário Executivo da ANPEC, 2004-2006
Rossato Ana Maria Canesqui Nadya Castro Sérgio Odilon Nadalin Edila Moura Paulo Paiva
Roberto
Neide
Patarra
Guaraci A.se Souza Letícia Borges Costa Luiz
ComoRodrigues
resultado de umPaulo
trabalho Paiva
coletivo de
vários anos,
a ABEP progressivamente
fortaleceu e se consolidou, nacional e internacionalmente, como um espaço plural e
Antônio
P. de Oliveira
O. de
Nadalin
Tânia
Roberto
N. Rodrigues Célia Diogo A. da
democrático,
receptivo aosSérgio
muitos debates
ponta e novos
desafiosBacelar
que dizem respeito
às
constantes mudanças na dinâmica demográfica brasileira. Mudanças nos padrões de
Costa urbanização,
Martin aO.
Smolka Lúcia Bógus Carmem Suzana Holder Ricardo Tavares Paulo Paiva
instigante incorporação do debate ambiental, as múltiplas relações entre
facetas
das migrações,
o constante
desafioAna
de buscar
Maria território
Coletae sociedade,
F. A. deas cambiantes
Oliveira
Hélio
Augusto
Moura
Amélia Camarano Nadya Araújo de
políticas públicas justas e inclusivas são algumas das temáticas cuja compreensão tem se
da trajetória
comum percorrida
ABEP e pela
ANPUR ao longo
Castrobeneficiado
Sérgio
O. Nadalin
RosapelaMaria
Ribeiro
da destas
Silvaúltimas
Edila Arnaud Ferrari Moura Duval
décadas. Esta publicação simboliza, portanto, um momento de comemoração entre
Magalhães
Fernandes
Maria
Silvia
C.temos
B. Bassanezi
Iracema Brandão Guimarães Sílvio Possali
pesquisadores
e programas de
pós-graduação,
do qual
a satisfação de partilhar.
Sônia Regina Perillo Neide Lopes Patarra
Donald
RolfCosta
Sawyer Nadya Araújo Castro Ana
Heloisa
Soares de Moura
UFMG/IGC
Amélia Camarano Leonardo Guimarães Neto
Marisa
Valle Magalhães André Cezar Médici
Presidente da
ANPUR, 2003-2005
osé Flávio Mota Maria Beatriz Afonso Lopes Claudio Caetano Machado Sheila Pincovsky de
Meu primeiro Encontro da ABEP foi o de Olinda, em 1988. Gostei tanto da experiência, da
Lima José
Antônio Silva Maria Graciela G. Morell Neide Lopes Patarra Diana Oya Sawyer
qualidade dos trabalhos, do intercâmbio de idéias e do ambiente social que eu continuo vindo
aos
Encontros,Nadalin
apesar de estar,
já há algum tempo,
geograficamente
tão distante.de
Não Mello
me
Sérgioimporto
Odilon
Elisabete
Dória
Bilac Morvan
Moreira André Cezar Médici
de viajar mais de 12 horas para ter a oportunidade de apresentar meus trabalhos,
aprender
mais sobre aGuimarães
Demografia brasileira
e rever os velhos
amigos. Torres
Desde que os
Encontros
racema
Brandão
Haroldo
Gama
Odeibler
Guidugli Roberto Nascimento
da ABEP mantenham este sentimento especial de intimidade, completamente distinto de outras
Rodrigues
Lizete Emília
detendem
Freitas
Santos
John
grandes conferências
acadêmicas,Prata
nas quais Taís
as pessoas
a se perder
na multidão,
eu Sydenstricker Neto Diana Oya
pretendo continuar participando.
Sawyer Daniel Hogan Felícia Reicher Madeira Kaizô Iwakami Beltrão Haroldo
Gama Torres
ISBN 85-85543-16-7
Franklin W. Goza
Rosana Baeninger Nádia Loureiro
Pernes
Luiz
Patrício
Flores Ortiz Lilibeth Cardoso Roballo
Professor
Associado,
Bowling
Green State University
Rockefeller Fellow no Cedeplar, 1987-1989
gnez Helena Oliva Perpétuo Daniel
Senior Joseph
Fullbright FellowHogan
no Cedeplar, Sérgio
1992-1993 Odilon Nadalin Laura R. Wong
9 788585 543167
Kaizô Beltrão Tânia Franco Neir Antunes Ana Maria Nogales Simone Wajnman Fernando
Os primeiros 30 anos da
Associação Brasileira de
Estudos Populacionais
Associação Brasileira de Estudos Populacionais
Diretoria de 2005-2006
Presidente: George Martine
Vice-Presidente: Simone Wajnman
Secretária-Geral: Rosana Baeninger
Tesoureiro: José Eustáquio Diniz Alves
Suplente: José Ribeiro Soares Guimarães
Conselho Fiscal: Fernando Marcel Kowalski
Maria Rejane Souza de Britto Lyra
Lára de Melo Barbosa
Suplente: Maria de Lourdes Teixeira Jardim
Conselho Consultivo: Haroldo da Gama Torres
Jair Lício Ferreira Santos
Laura L. Rodríguez Wong
Maria Coleta F. A. Oliveira
Maria Teresa Sales de Melo Suarez
Nadja Loureiro Pernes da Silva
Os primeiros 30 anos da
Associação Brasileira de
Estudos Populacionais
Paula Miranda-Ribeiro
Associação Brasileira de Estudos Populacionais
Belo Horizonte
Setembro de 2006
Miranda-Ribeiro, Paula.
ABEP 30+ os primeiros 30 anos da
Associação Brasileira de Estudos
Populacionais / Paula Miranda-Ribeiro.
– Campinas: Associação Brasileira de
Estudos Populacionais–ABEP, 2006.
144p.
ISBN: 85-85543-16-7
1.Fundação da ABEP. 2.Demografia no
Brasil. 3.Futuro da Demografia. I.Título.
Índice para Catálogo Sistemático
1.Demografia – 301.32
Para João Lyra Madeira,
primeiro Presidente da ABEP,
cuja voz, ainda que hoje silenciosa,
fez-se ouvir ao longo destes 30 anos.
A lua foi companheira
Na Praia do Vidigal
Não surgiu, mas mesmo oculta
Nos recordou seu luar
Teu ventre de maré cheia
Vinha em ondas me puxar
Eram-me os dedos de areia
Eram-te os lábios de sal.
Na sombra que ali se inclina
Do rochedo em miramar
Eu soube te amar, menina
Na Praia do Vidigal...
Havia tanto silêncio
Que para o desencantar
Nem meus clamores de vento
Nem teus soluços de água.
Minhas mãos te confundiam
Com a fria areia molhada
Vencendo as mãos dos alísios
Nas ondas da tua saia.
Meus olhos baços de brumas
Junto aos teus olhos de alga
Viam-te envolta de espumas
Como a menina afogada.
E que doçura entregar-me
Àquela mole de peixes
Cegando-te o olhar vazio
Com meu cardume de beijos!
Muito lutamos, menina
Naquele pego selvagem
Entre areias assassinas
Junto ao rochedo da margem.
Três vezes submergiste
Três vezes voltaste à flor
E te afogaras não fossem
As redes do meu amor.
Quando voltamos, a noite
Parecia em tua face
Tinhas vento em teus cabelos
Gotas d’água em tua carne.
No verde lençol da areia
Um marco ficou cravado
Moldando a forma de um corpo
No meio da cruz de uns braços.
Talvez que o marco, criança
Já o tenha lavado o mar
Mas nunca leva a lembrança
Daquela noite de amores
Na Praia do Vidigal.
Balada da Praia
do Vidigal
Vinícius de Moraes
Sumário
11
Prefácio
17 Recordações sobre o nascimento da ABEP, por Tom Merrick
21
13 Prefácio e agradecimentos
19 Memórias da ABEP, por Charles H. Wood
ABEP 30+. Os primeiros 30 anos da Associação Brasileira de Estudos Populacionais
23 Antes dos últimos 30 anos
41 O nascimento
47 Durante os primeiros 30 anos
89 Os próximos 30 anos
101 Linha do tempo
125 Anexos
131 Ata da fundação da ABEP
137 Os bastidores das entrevistas
129 As diretorias da ABEP
141 Presidentes da ABEP
Prefácio
“V
ocê está com uma tarefa importante”. Foi assim que, no dia 26
de maio de 2006, ao saber um pouco mais sobre o livro, Jair Lício
Ferreira Santos encerrou sua entrevista. Concordo plenamente
com o Jair. Registrar a história de uma associação científica é, por si só, uma
tarefa importante. Mais ainda, esta é uma tarefa de enorme responsabilidade.
Afinal, o livro registra os primeiros 30 anos da nossa associação. Para aqueles que
vivenciaram estes 30 anos, o livro relembra o passado e reaviva as recordações.
Para aqueles que “pegaram o bonde andando”, como eu, esta é a oportunidade
de conhecer o que ocorreu no início da viagem. Para aqueles que ainda virão, será
uma forma de entender a trajetória da ABEP através dos olhos daqueles que
a presidiram – mulheres e homens que tive não apenas o prazer de entrevistar,
mas, sobretudo, com quem tive o privilégio de conviver.
Este livro se baseia em pesquisa documental, feita nas atas das
assembléias e nos boletins; em dez entrevistas em profundidade, realizadas
com nove dos dez presidentes da ABEP e com um de seus fundadores;
em uma breve entrevista telefônica, realizada com um abepiano de longa
data; e em uma entrevista por e-mail, feita com um demógrafo estrangeiro,
abepiano de primeira hora que, há 30 anos, participou ativamente da
fundação da ABEP.
Apesar de ser um livro institucional, não pude me furtar de colocar aqui
um pouco das minhas lembranças, uma vez que participei, de alguma forma,
dos últimos 16 anos desta história. A minha maior lembrança, ainda que sem
nenhuma relação com a história da ABEP, está na capa. A Praia do Vidigal,
no Rio de Janeiro, onde hoje fica o Hotel Sheraton, foi pintada por Victor
de Miranda Ribeiro, meu avô, em abril de 1949. Esta imagem faz parte das
Prefácio e
agradecimentos
minhas recordações desde a mais tenra infância e é uma alegria imensa poder
compartilhá-la.
No 1o semestre de 2006, foi lançado o segundo número do volume 22
da Revista Brasileira de Estudos de População (Rebep), referente ao período
julho/dezembro de 2005. A edição especial, comemorativa dos 20 anos da
Revista, traz onze artigos escritos por autores convidados, entre os quais
nove dos dez presidentes da ABEP. Ao entrevistar cada um dos presidentes
para este projeto, temi não ter muito que acrescentar, além do que já estava
fartamente documentado nas páginas da Rebep. Decidi, então, fazer uma
espécie de livro de “causos”, bem ao estilo mineiro – um livro que dá voz
aos entrevistados, como faz a pesquisa qualitativa, em cujos mares eu navego
com certo conforto e tranqüilidade. Em nome da confidencialidade, deixei
anônimas as falas que, na minha opinião, pudessem soar comprometedoras.
Desta forma, o texto está entremeado por transcrições literais daquilo que
ouvi, com muito interesse, durantes os últimos meses.
Não foram todos os entrevistados que me contaram casos anedóticos. Os
problemas de memória são responsáveis por apenas uma pequena parte desse
suposto esquecimento. A verdade é que muitos desses casos são, pelas mais
variadas razões, incontáveis. Eu também sei de vários que não gostaria de ver
publicados aqui, alguns por uma simples questão de delicadeza. Aproveito,
então, para narrar aqui um caso que me foi contado por Ana Maria Goldani,
por email. Ana soube que eu estava escrevendo este livro porque me encontrei
com ela no Rio, durante suas férias, no dia em que fui entrevistar Neide
Patarra.
Eu acho que é meio incontável.
Principalmente porque os casos
divertidos, sempre me contaram,
eu não fazia parte. Então, se eles
não contaram, eu acho que não
posso.
Diana Sawyer
14
Ana Maria Goldani – Para poder fechar os Anais [do encontro de Vitória],
liguei para o José Serra e disse que o office boy estava indo pegar o artigo
dele, pois era o único que faltava e a gráfica do SEADE tinha me dado como
deadline aquele dia. Ele me disse que ainda estava na colagem. Eu disse “não
tem importância, mande como tal que minha secretária datilografa”. O menino
ficou toda a tarde sentado na porta da casa do Serra lá em Pinheiros, mas voltou
com o artigo. O troco que o Serra me deu, publicamente, foi dizer em Vitória
que os Encontros da ABEP poderiam ser feitos em SP, Rio ou BH, sem riscos
de que o público fosse de compras ou à praia, sempre e quando colocassem a
Ana Goldani na organização ou na porta do evento. Em outras palavras, me
chamou de “generala”. Foi um riso geral, claro.
É uma honra estar à frente deste projeto. Gostaria de agradecer à atual
diretoria da ABEP (George Martine, Simone Wajnman, Rosana Baeninger,
José Eustáquio Diniz Alves e José Ribeiro Soares Guimarães), dona da idéia
original do livro, pelo convite e, acima de tudo, pela confiança e pelo apoio
incondicionais.
Gostaria de agradecer, também, aos meus entrevistados “ao vivo e
em cores” – Elza Berquó, Daniel Hogan, Jair Lício Ferreira Santos, José
Alberto Magno de Carvalho, Maria Coleta Oliveira, Neide Patarra, Paulo
Paiva, Diana Sawyer, George Martine e Eduardo Rios-Neto, nesta ordem
–, pela disponibilidade de conversar comigo, apesar das agendas apertadas.
Sei que foi um enorme esforço de puxar pela memória, como bem traduziu
Coleta Oliveira: “Eu não sei mais, com a minha memória de mico, o que veio
primeiro...” Estejam certos de que passei horas maravilhosas ao lado de cada
um de vocês e que aprendi muito.
Não me lembro um caso. Eu
precisaria estar muito inspirada.
(...) [Para contar] Casos, eu
acho que preciso estar tomando
qualquer coisa...
Elza Berquó
Agradeço, também, a Sérgio Nadalin, tão solícito e gentil, com quem
tive a oportunidade de conversar por telefone, ainda que brevemente, sobre
alguns detalhes da ABEP. Com ele, aprendi um pouquinho sobre Demografia
Histórica.
Um enorme “muito obrigada” a Axel Mundigo, Tom Merrick e Chuck
Wood, por terem respondido prontamente aos meus emails e pela disposição
em colaborar. Apesar de atualmente distantes da ABEP, eles participaram
dela ativamente no passado e estiveram nos bastidores da sua fundação.
Muito obrigada a Bel Baltar, que gentilmente abriu seus arquivos,
certamente muito organizados. Graças a eles, pude registrar aqui os dias
exatos da famosa reunião do Hotel Sheraton, informação que eu não havia
conseguido de nenhuma outra fonte.
Obrigada, ainda, àqueles que aceitaram meu convite tão em cima da
hora para participar da quarta capa – Carmen Miró, Wolfgang Lutz, Mauro
Borges Lemos, Heloisa Soares de Moura Costa, Franklin Goza e, novamente,
Axel Mundigo. Tão ilustres presenças tornam o livro ainda mais especial.
Darlene Vieira e Maria Ivonete Teixeira cuidaram dos muitos detalhes
operacionais por trás dessa empreitada. Ana Paula Pyló, além de cuidar dos
detalhes, foi uma excelente assistente de pesquisa. Este livro não teria sido
15
Tem outros [casos] que são
meio comprometedores. O problema é que a minha gestão
foi recente. Casos da minha
diretoria, talvez eu até tenha um
ou outro, mas é tão recente, que
acho que não é prudente contar.
Quem sabe [quando a ABEP
estiver] com 60 anos, (...) se
eu ainda estiver vivo, eu possa
contar. Agora não.
Eduardo Rios-Neto
possível sem Maria Auxiliadora de Faria e Lígia Maria Leite Pereira, da Códice
Consultoria e História, cuja experiência e sabedoria tornaram meu caminho
menos tortuoso. Fabiana Grassano e Flávia Fábio, da Traço Publicações e
Design, ampliaram todos os meus prazos e fizeram o inimaginável para que
o livro ficasse pronto a tempo. O Unfpa – Fundo de População das Nações
Unidas garantiu os recursos necessários, desde as viagens para a realização
das entrevistas até a impressão final. Devo a Maria Cecília Brandi, que
gentilmente atendeu aos meus pedidos insistentes, a belíssima foto do Hotel
Sheraton nos dias de hoje.
Além de importante e de muita responsabilidade, devo confessar que
esta foi uma tarefa árdua. Árdua por ter sido esta mais uma, somada às muitas
que fazem parte da vida de uma professora universitária – aulas, orientações,
pesquisas, administração. Árdua por eu não ser nem historiadora, nem poeta e
nem escritora. Apesar de não ser historiadora, espero ter conseguido resgatar o
passado da forma mais fidedigna possível, a fim de ajudar na compreensão do
presente. Apesar de não ser poeta, espero ter conseguido captar e reproduzir as
emoções e os sentimentos, às vezes explícitos, às vezes manifestos apenas nas
entrelinhas. Finalmente, apesar de não ser escritora, espero que a leitura deste
livro seja agradável e que reflita, minimamente, o prazer que tive em escrevê-lo.
O livro está dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo traz
um breve relato do que ocorreu antes da fundação da ABEP – o início da
demografia no Brasil, o surgimento das instituições, o contexto político da
época. Em seguida, há um capítulo mais curto, dedicado ao nascimento da
ABEP, numa tentativa de transportar para aquele momento todos aqueles
que não participaram dele, entre os quais eu me incluo. O terceiro capítulo
descreve os 30 anos propriamente ditos – o funcionamento interno da ABEP,
as fontes de financiamento, os encontros, a revista, as relações com associações
de demógrafos no resto do mundo – e traz, ainda, algumas memórias sobre
cada uma das quinze gestões. Finalmente, o quarto capítulo trata dos próximos
30 anos. Como será o mercado de trabalho para os demógrafos? Como será
a ABEP no futuro?
(...) eu acho que você precisava juntar
os presidentes, por exemplo, numa
mesa. Um estimulando o outro, os
causos vão aparecer.
Daniel Hogan
16
P
arabéns aos demógrafos brasileiros e aos demais cientistas sociais pelo
30o aniversário de fundação da ABEP. Durantes estas três primeiras
décadas, os membros da ABEP avançaram no conhecimento de
questões brasileiras e mundiais em várias frentes, inclundo gênero, saúde,
fecundidade, mortalidade, migração, pobreza, relações raciais e estudos
regionais. Os brasileiros tiveram um papel fundamental no redirecionamento
das políticas populacionais na direção da saúde e dos direitos reprodutivos
durante as grandes conferências internacionais dos anos 90, incluindo a
Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, ocorrida no
Cairo, em 1994. Meu envolvimento nesta história impressionante começou
em 1971, quando a Fundação Ford me convidou para vir ao Brasil, a fim de
ajudá-la no seu esforço de expandir a capacitação de profissionais para que se
dedicassem aos estudos populacionais no País. Juntei-me ao corpo docente
do Cedeplar, em Belo Horizonte, e freqüentemente viajava ao Rio de Janeiro,
onde coordenava o programa de bolsas da Ford, que se constituiu no principal
alicerce durante os primeiros anos do programa da Ford.
Desde o início, os esforços foram guiados por um Comitê de seleção local,
formado por um time de demógrafos brasileiros de alta categoria, os quais
insistiram para que a Ford iniciasse um programa de estudos de população.
A Ford fez uso da experiência deste Comitê, inicialmente composto por
Elza Berquó, Isaac Kerstenetzky, Hélio Moura e Procópio Camargo, e que
posteriormente ganhou membros adicionais.
Com o retorno da primeira leva de bolsistas ao Brasil, o Comitê decidiu
ajudá-los a continuar seus projetos de pesquisa, o que levou ao estabelecimento
de um programa de financiamento para pesquisadores em nível de mestrado e
Recordações sobre
o nascimento da
ABEP
doutorado, que seguia os moldes do bem sucedido programa global de bolsas
da Fundação Ford. O papel do Comitê passou a ser o de selecionar bolsistas,
bem como de expandir o próprio papel da Ford em aumentar a capacitação
para os estudos populacionais no Brasil.
Como membro do corpo docente do Cedeplar, também tive a
oportunidade de dar aulas de demografia e trabalhar com colegas de
lá, muitos dos quais ex-bolsistas Ford, na criação de um programa de
Demografia. Permaneci no Cedeplar até 1974, quando a direção do programa
da Ford passou para as mãos de Charles Wood e Axel Mundigo. Os dois
também trabalharam na expansão da comunidade de demógrafos e cientistas
sociais, de forma a tornar sustentável o esforço de capacitação. Foram eles,
juntamente com o Comitê, que recomendaram a realização de uma reunião
sobre pesquisa em população no Brasil. Durante a plenária de encerramento
desta reunião, realizada no Hotel Sheraton, em 1976, foi proposta a fundação
de uma associação brasileira de estudos populacionais.
1980
O último alicerce do programa da Fundação Ford foi um endowment,
uma dotação de recursos que, aliada a recursos adicionais, permitiria à diretoria
da ABEP sustentar as atividades de pesquisa em população no Brasil. A
partir daí, a ABEP continuou a se expandir com suas conferências bi-anuais,
sua revista e seu engajamento em uma série de questões de interesse para as
políticas públicas. Estou ansioso pelo Encontro que comemorará os 30 anos
da ABEP, a fim de aprender mais sobre os retornos impressionantes, frutos
daquele investimento inicial.
Washington, DC, julho de 2006.
Tom Merrick
The World Bank Institute
18
R
econstruir a história da fundação da ABEP é um esforço nobre, mas
que se depara com os mesmos problemas que afligem a reconstrução
de qualquer memória distante: as pessoas têm versões conflituosas
sobre o mesmo processo, dependendo do papel que elas tiveram, e dependendo
dos seus hábitos de memória. Para aqueles com inclinações pessimistas, com
os quais eu (relutantemente) me identifico, são os problemas, os desafios e
as incertezas com os quais nos deparamos no passado que permanecem, de
maneira mais nítida, na memória.
O contexto político daquela época foi um momento difícil na história
política do país, como bem se lembram todos os brasileiros de uma certa
idade. Foi ainda mais difícil para um estrangeiro como eu, recém-saído da
pós-graduação, e cujo conhecimento do Brasil era tão frágil quanto o domínio
do português. Eu logo aprendi o verdadeiro significado do famoso ditado do
Roberto DaMatta, “o Brasil não é para iniciantes”.
Lembro-me de uma tarde, durante a reunião no Sheraton, quando fui
entrevistado por um jovem jornalista (tão jovem quanto eu) que, inflamado,
insistia em saber porque os Estados Unidos tinham a intenção de fazer
um “genocídio no Brasil”, através da promoção do uso de contracepção e
de outras políticas para reduzir a fecundidade. Diante da minha hesitação,
ele fez uma palestra sobre o papel contra-revolucionário do controle da
natalidade, citando passagens obscuras de Marx e Engels, as quais – confesso
– eu nunca tinha lido. Até aquele momento, meu papel na conferência era
organizar os painéis e fazer de tudo para que o café fosse servido no horário.
Desnecessário dizer que as minhas respostas ao jornalista foram estranhas e,
no mínimo, imprecisas. O artigo publicado na mídia, no dia seguinte, dava a
Memórias da ABEP
entender que eu certamente era agente da CIA e, pior ainda, daqueles pouco
brilhantes.
Os debates acadêmicos daquele momento não eram menos polarizados.
Nos anos seguintes à Conferência de População das Nações Unidas, realizada
em Bucareste, em 1974, parecia que o mundo estava polarizado entre
aqueles (sobretudo no norte) que diziam que a contracepção promoveria o
desenvolvimento, e aqueles (sobretudo no sul) que acreditavam que o melhor
contraceptivo seria o desenvolvimento. A reunião do Hotel Sheraton era, sem
dúvida, um microcosmo demográfico do debate maior entre as pessoas que
endorsavam o “paradigma da modernização” e as céticas de que a expansão do
capitalismo traria, necessariamente, resultados positivos.
Do ponto de vista atual, a forma e o conteúdo do discurso político e
do debate intelectual parecem toscos e sem sofisticação, mas eles eram
extremamente significantes naquele momento. No meio daquilo tudo, havia
uma idéia incipiente de se criar uma organização formal de pessoas que faziam
pesquisa em população, apesar do campo da demografia propriamente dita
não ser sequer reconhecido como uma especialização legítima no contexto
das universidades. Aquele era o momento adequado para a criação de uma
associação? Ou era prematuro? Mesmo com uma agenda acadêmica, como
poderíamos evitar de nos tornarmos defensores ou alvos de um campo
ideológico ou de outro?
1988
Não tenho dúvida de que a coragem e a visão daqueles que, mais tarde,
se tornaram presidentes da ABEP, juntamente com muitas outras pessoas,
tornaram a associação uma realidade. Trabalhar com elas durante aquele
período de tantos desafios foi não apenas um privilégio, mas a experiência
mais gratificante e educativa da minha vida. No final das contas, as minhas
memórias daqueles dias não são, de forma alguma, pessimistas, apesar de que,
até hoje, como diria DaMatta, eu continuo sendo um “iniciante”.
Parabéns, ABEP, pelos seus 30 anos.
Gainesville, Flórida, julho de 2006
Charles H. Wood
University of Florida
Center for Latin American Studies
20
ABEP 30+
Os primeiros 30 anos da Associação
Brasileira de Estudos Populacionais
Q
uando começa a demografia no Brasil? Apesar do primeiro censo
nacional ter ocorrido ainda no século XIX, em 1872, dificilmente seria
possível reconhecer, já naquele momento, indícios de uma demografia
brasileira, mesmo que incipiente. Um marco importante foi, sem dúvida, o
Censo de 1940, precedido pela criação do IBGE, na década de 1930. Assim,
o IBGE foi o ponto de partida da demografia brasileira. Cabe ressaltar, ainda,
a chegada ao Brasil, em outubro de 1939, do italiano Giorgio Mortara. Com
uma enorme produção acadêmica, mesmo sem ter criado escola, Mortara
deixa sua marca nos censos dos quais cuida, todos de qualidade indiscutível.
José Alberto Magno de Carvalho, meu eterno professor, gosta de dizer que o
tempo atribuiu ao Mortara uma série de inovações introduzidas no Censo de
1940. No entanto, sua chegada, às vésperas da realização do Censo, sugere que
o IBGE já possui, naquele momento quadros de enorme competência, que
pensam a demografia de uma forma então inovadora. Este fato, obviamente,
não tira o brilho de Giorgio Mortara, cuja contribuição é fundamental
para o sucesso dos censos demográficos deste País e, consequentemente, da
demografia brasileira.
Antes dos últimos
30 anos
“(...) O concurso anual de pesquisas em Demografia patrocinado
pela Fundação Ford será doravante administrado pela ABEP,
com o apoio do Comitê de Assessoria da Fundação Ford
para Estudos de População (CAEP). O concurso continuará
contemplando propostas destinadas à obtenção de financiamento
para a elaboração de teses de mestrado e para a realização
de pesquisas de nível profissional.” (Informativo Abep,
n°2, abril-junho/1979, p.1).
Em termos do ensino de Demografia, neste momento já havia, segundo
Elza Berquó, uma ou outra disciplina na Faculdade de Filosofia da USP
que tratava, ainda que superficialmente, de alguns aspectos ligados ao
crescimento populacional. Muitos anos mais tarde, Elza Berquó, já professora
na Faculdade de Saúde Pública da USP, identifica uma enorme lacuna em
termos da compreensão da dinâmica demográfica e de seus componentes,
elementos fundamentais para as suas aulas na área de Bioestatística. É a
partir desta lacuna que Elza Berquó decide solicitar à Organização PanAmericana de Saúde a vinda, a São Paulo, de um consultor para que, juntos,
pudessem elaborar uma proposta para o ensino e a pesquisa em Demografia,
que envolveria a formação de jovens demógrafos no exterior. A consultora
enviada ao Brasil é a eminente demógrafa americana e professora Irene
Tauber. Os jovens escolhidos para ir aos Estados Unidos são a socióloga
Neide Patarra, o físico Jair Lício Ferreira Santos e o médico João Yunes, além
do economista Paul Singer.
Elza Berquó – Isso tudo é quando está na verdade se pensando no que
resulta no Cedip. A gente, com isso, tem as bases para criar, na Faculdade de
Saúde Pública, um centro de estudos de população. E que já era um centro
interdisciplinar, porque tinha ficado bem claro que demografia só se fazia à
Hélio Moura, Tom Merrick, Coleta
Oliveira, Elza Berquó e José Alberto
Magno de Carvalho, II Encontro
Nacional de Estudos Populacionais,
Águas de São Pedro, São Paulo, 1980
24
custa de um enfoque interdisciplinar. Então, nós precisaríamos ter, integrando
este novo ente que a gente estava a fim de criar, sociólogos, antropólogos,
estatísticos, médicos. E preparar essa gente na área de demografia, porque não
tinha ainda como você preparar no Brasil. Aí foi que a gente conseguiu com a
Organização Mundial de Saúde que haveria um convênio, que durante cinco
anos esse grupo de pesquisadores, [alguns] recém (...) formados, que eles iriam
para fora do Brasil, para universidades que um pouco ela [Irene Tauber] nos
ajudou a escolher, para fazer um doutorado, ou uma preparação, pelo menos
inicial, para depois terminar um doutorado no Brasil. Essas pessoas foram Neide
Patarra, que estava na área de ciências sociais; o João Yunes, médico, (...); o Jair
Lício Ferreira Santos, estatístico, que foi também; o Paulo Singer, economista,
que integrou esse grupo. Então você tinha um economista, tinha um sociólogo,
tinha um médico, tinha um estatístico (...). E tínhamos o Cândido Procópio
Ferreira de Camargo, sociólogo também, mas que já era uma pessoa de notório
saber, e que, portanto, não iria fazer um doutorado ou uma pós-graduação no
exterior, como os outros foram. Mas ele teve a incumbência de visitar centros
na Europa, nos Estados Unidos etc, centros de demografia e população, para
um pouco entender como isso se dava, vários centros, perspectivas, estratégias,
áreas de cobertura etc. Com isso foi criado o Cedip. E o compromisso da
universidade, através da Faculdade de Saúde Pública, que nós teríamos um
recurso para cinco anos, para preparar quatro pessoas no exterior, mais um
que iria dirigir esse novo centro, que era o Procópio, que estaria viajando para
colher visões, e colher produções a respeito do assunto. Além disso haveria uma
pesquisa, que começaria a ser iniciada, e que, na volta desses pesquisadores,
nós teríamos uma pesquisa definida e pesquisadores preparados. A Neide e
o Jair foram a Chicago. O João Yunes foi a Michigan. O Paulo Singer foi a
Princeton. E o Cândido Procópio, como falei, ficou viajando. Com isso, quando
eles estão voltando, e esse projeto começa a se materializar, vem 69 e vem o Ato
Institucional nº 5, e eu sou aposentada compulsoriamente pela USP. (...) o Cedip
continua funcionando, as pessoas já tinham voltado. Aí eu já não podia mais
participar, mas cria-se, quase que imediatamente, o Cebrap. O Cebrap é criado
muito em seguida. Nós fomos aposentados em 31 de março de 69, o Cebrap é
fundado ainda em 69. Aí vem para cá, o Paulo Singer e eu, para o Cebrap, e
ficam lá Cândido Procópio, Neide, Jair, João Yunes, e alguns satélites, que já
estavam se desenvolvendo. Nós já tínhamos a pesquisa nacional de reprodução
humana, que já era uma pesquisa moldada para caracterizar a criação desse
centro e essa interdisciplinaridade. E ela tinha recebido um financiamento
25
muito grande da Fundação Ford. Quando eu venho para cá, logo depois que eu
saio, o diretor da faculdade, o mandato dele [termina], o professor Mascarenhas
também sai da direção. E a nova direção não honra o compromisso de assumir
esses professores e pesquisadores, passados os cinco anos. Então praticamente
acabam, na Faculdade de Saúde Pública, com o Cedip. O João Yunes vai para
a Faculdade de Medicina, o Cândido Procópio vem para cá – aliás, ele é o
primeiro presidente do Cebrap –, o Jair fica na própria faculdade, integrando
um departamento de epidemiologia, e a Neide vai, já com o grupo que estava
junto com ela, Coleta é dessa época também, eles acabam indo para a Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, e criam lá o Prodeur, um pequeno programa lá.
(...). Concomitantemente às coisas que estou contando aqui, surge o Cedeplar.
O Cedip, com seus cursos de especialização, é o primeiro centro a formar
demógrafos no Brasil. Pelas salas de aula do Cedip, passam nomes ilustres da
Demografia brasileira, incluindo dois presidentes da ABEP, Coleta Oliveira
e Paulo Paiva.
Financiamento
de pesquisas
sobre migrações
internacionais
“A Fundação Ford (Nova Iorque)
está anunciando o lançamento de
um programa de financiamento de
pesquisas no campo da migração
internacional.” (Informativo Abep,
n° 2, abril-junho-1979, p.1).
26
Neide Patarra – (...) no Cedip (...) inauguraram os cursos de tempo integral,
de especialização. Você sabe que nessa época a pós-graduação ainda não estava
sistematizada, o que existia eram cursos de especialização. O que havia na pósgraduação eram cursos de especialização. Você fazia, tinha aquele diploma de
especialização. (...). No Cedip, a Elza [Berquó] e a equipe toda, essa, começaram
com aqueles cursos de especialização. E foi um sucesso. Vinham pessoas das
mais diferentes áreas (...) com laboratório, com seminários. E nós lá, estudando.
Quando a gente está voltando, o Jair [Santos] ficou um ano em Chicago,
ele foi pra Berkeley. Eu continuei em Chicago. Quando nós terminamos o
mestrado, tínhamos que voltar, (...) [aposentaram vários] professores da USP,
que atingiu diretamente a Elza e o Paulo [Singer], e não atingiu diretamente o
Procópio [Camargo], mas envolveu o Procópio num compromisso muito forte
na formação do Cebrap junto com os aposentados (...). Então, nós voltávamos
para segurar isso e nos preparar. Mas [éramos] muito jovens. E a Elza e o Paulo
saindo, principalmente a Elza. Eles vão para o Cebrap.
Paulo Paiva – O meu contato com Demografia foi ainda em 1967, quando eu
fui fazer o curso do Cedip. Na época, a Faculdade, Escola de Saúde Pública de
São Paulo criou um curso de demografia de curta duração, era a Elza que dirigia,
com os professores (...) Juarez Brandão Lopes, o pessoal da saúde pública de
São Paulo. Eu e Clotilde [Paiva] decidimos... Nós tínhamos uns amigos que
estavam na Escola de Saúde Pública (...). Nós nos casamos em julho de 67. No
dia do casamento, (...) trouxe um formulário para esse curso, que me interessou,
porque eu tinha estudado Geografia. Me interessei. Foi quando tivemos o
primeiro contato com a demografia, e com esse grupo de São Paulo, que depois,
com a cassação da maioria deles da USP, foi para o Cebrap.
Além do Cedip, no final da década de 1960, surge também o Cedeplar,
com sua pós-graduação em Economia, com uma área de concentração em
planejamento regional.
José Alberto Carvalho – No caso do Cedeplar, na verdade [a Demografia] se
iniciou logo no começo do centro, que era dedicado principalmente à análise
regional urbana, mais regional, e se chegou à conclusão de que se deveria
dar uma atenção especial à demografia, dada a importância dos movimentos
populacionais na economia regional. E como eu era um dos poucos, então, do
pequeno grupo de fundadores do Cedeplar, eu fui incentivado a me dedicar
à demografia. Coincidentemente, a Fundação Ford estava começando a
incentivar a demografia no Brasil, e teve um programa especial de bolsas no
exterior para jovens que quisessem se especializar em demografia. Na verdade,
eu fui o primeiro a ir para o exterior para fazer o doutorado em demografia, em
70. E quando retornei, em final de 73, já tinha sido criada aqui [no Cedeplar]
uma área de concentração em demografia econômica, de novo com o apoio
da Fundação Ford, que já tinha garantido a estadia aqui, por 2 ou 3 anos, do
Thomas Merrick, que retornou aos Estados Unidos logo depois que eu voltei
da Inglaterra. E logo em seguida também enviou o professor Charles Wood,
que também ficou aqui 3 ou 4 anos.
Teresópolis II
“Realizou-se de 13 a 18 de maio,
em Teresópolis, o encontro
denominado Teresópolis II que
teve como objetivo principal o
exame e discussão do ‘Relatório
Preliminar’ sobre os padrões,
níveis e tendências da mortalidade
na infância, da mortalidade
adulta e da fecundidade no Brasil
de 1950 a 1976.” A ABEP foi uma
das instituições patrocinadoras do
evento. (Informativo Abep, n° 2,
abril-junho/1979, p.1).
Ensino e pesquisa caminham lado a lado. Entre 1965 e 1966, o Cedip leva
a campo, no município de São Paulo, uma pesquisa domiciliar longitudinal
sobre reprodução humana, na qual são entrevistadas 3 mil mulheres em
idade reprodutiva. O Cedeplar, na década de 1970, concentra seus esforços de
pesquisa na Amazônia.
Neide Patarra – No Brasil, você também sabe disso, as atividades [de pesquisa]
começaram com uma pesquisa da doutora Elza Berquó na Faculdade de Saúde
Pública, onde ela havia se tornado, um pouco antes, catedrática. E foi no
Só em 1985, o Cedeplar passa a ter um programa de Pós-Graduação em Demografia, mas ainda ligado
ao Departamento de Ciências Econômicas. Em 1992, é criado o Departamento de Demografia, cujo
primeiro chefe é José Alberto Magno de Carvalho.
27
município de São Paulo, numa pesquisa muito inovadora, com financiamento
alto, e aonde, se de um lado a gente tinha o modelo (...) para fazer o (...), do
outro lado, a gente também tinha uma postura crítica em relação a esse modelo.
Era um equilíbrio entre um financiamento que já trazia um questionário pronto,
que o Celade tinha usado, e a gente tentar reformular, ou colocar dimensões
nesse modelo que fossem mais condizentes com a nossa postura. (...). Então, o
que estava por trás? Era o fato de ser (...) de área rural? Era o nível de educação?
Era a religião, que tinha muito a ver com isso? Era a ocupação? Essas dimensões
todas foram sendo levantadas nessa pesquisa. E ela era muito inovadora, porque
contou desde o começo com uma psicóloga, Arakcy Martins Rodrigues, que
introduziu uma metodologia muito refinada em captar a percepção da mulher
sobre aborto, sobre controle da natalidade, que eram as técnicas projetivas (...).
E era o recurso para entrar nessa questão de (...) valores de uma forma mais
sofisticada e mais coerente com a visão de mundo que a gente tentava trazer.
Elza Berquó – (...) a pesquisa floresce aqui no Cebrap, mas mantendo, na
verdade, a participação desses pesquisadores [que permanecem na USP]. É a
primeira pesquisa de cunho nacional, chamada de Reprodução Humana, onde,
na verdade, você tem os vários componentes, estão lá, mas se esgota a história
de vida, a história reprodutiva das pessoas e tal.
Diana Sawyer – [Em meados da década de 70], aqui [Cedeplar] já estava
começando a concentração em demografia. Já estava começando a se consolidar.
Eles estavam também com interesse em pesquisas na Amazônia.
No meio deste processo, acontece o AI 5 e os planos mudam radicalmente.
Elza Berquó é aposentada compulsoriamente e, sem ela, o Cedip não resiste
por muito tempo. Apesar disso, quase 40 anos depois, pode-se dizer que a
Demografia sai fortalecida. Alguns aposentados da USP, incluindo Elza
Berquó, criam o Cebrap, que se torna um elemento crucial na história da
Demografia no Brasil. O que dizer de um centro de pesquisa dotado de
recursos e que, além disso, reúne um time de primeiríssima linha, não só de
demógrafos, mas de cientistas sociais? A existência de recursos para pesquisa
faz com que todos se envolvam com a Demografia.
Neide Patarra – (...) [o] Cebrap era uma coisa fantástica, porque todo mundo
virou demógrafo. Fernando Henrique, Juarez Brandão Lopes, Octávio Ianni,
[ José Arthur] Gianotti, Procópio [Camargo], Paulo Singer, Elza Berquó. (...) ela
28
DIVULGAÇÃO DA AMOSTRA DE 1% DO CENSO DEMOGRÁFICO DE 1970
“Em sua última reunião, decidiu a Diretoria da ABEP sugerir à Fundação IBGE
que, no sentido de ampliar as facilidades de acesso dos pequenos usuários à fita
computadorizada de uma mostra de 1% extraída do Censo Demográfico de 1970,
sejam depositadas cópias da referida fita em centros e institutos universitários de
pesquisa localizados em vários pontos do País. A ABEP assumiria os custos relativos
à elaboração dessas cópias. (...)” (Informativo Abep, n° 3, julho-setembro/1979,
p. 19).
era o esteio, mas como agregou os economistas e os cientistas sociais, perseguidos
politicamente e que estavam na resistência, no Cebrap. E chegávamos nós,
[ João] Yunes, Jair [Santos], eu (...). Nós éramos três jovenzinhos, perdidos, era
daquilo que a gente se alimentava (...).
Além do Cebrap, do Cedeplar e do IBGE, há, naquele momento,
outros grupos ou indivíduos trabalhando em temas demográficos em
outras partes do Brasil. Há toda uma área de produção e divulgação de
dados e estatísticas, a cargo das fundações estaduais. Hélio Moura é sempre
mencionado como uma liderança importante no Nordeste. No final da
década de 1960, surge o CRH, da UFBA. A UFPR dá início ao seu mestrado
com área de concentração em Demografia Histórica já no início da década
de 1970. Em 1974, há disciplinas de introdução à Demografia no mestrado
em Ciências Sociais da Unicamp.
Apesar de já haver este número relativamente grande de grupos e
indivíduos trabalhando em demografia, há um certo isolamento.
Daniel Hogan – (...) o meu trabalho era cada vez mais na direção de uma
sociologia urbana do que de uma demografia. Isso, para mim, só ia mudar no
momento da criação do Nepo, em 82. (...) estava pensando, vindo para cá, na
diferença, quando a gente está chegando nos 30 anos, da demografia antes e
depois da pós-graduação. Porque em 76 (...). Tinha esse grupo [na Economia],
com área de concentração [em Demografia] em Minas [Cedeplar]. Tinha alguns
ainda na saúde pública de São Paulo, depois que a Elza e outros foram expulsos,
em 68, 69. Tinha, nesse período, Neide e Coleta, criando, consolidando uma
área na FAU, na USP, de demografia urbana também. Tinha a Maria Luiza
O Nepo só é criado 8 anos mais tarde, em 1982.
29
GRUPOS DE TRABALHO PREPARATÓRIOS AO II ENCONTRO DA ABEP
1. Expansão da Fronteira Agrícola e População ;
2.Crescimento Urbano e População;
3. Evolução Recente das Variáveis Demográficas: mortalidade, fecundidade, nupcialidade
e migração-avaliação crítica das fontes e das técnicas;
4. Aspectos Metodológicos da Utilização de Dados de ‘Surveys’ na Análise do Ciclo
Vital. (Informativo Abep, n° 4 outubro/79-janeiro/80, p.4).
Marcílio na história, tinha um pessoal do Paraná. Mas o que tinha eram grupos
relativamente pequenos, espalhados pelo território. Então, a criação da ABEP
veio criar um ponto de encontro, e um ponto de consolidar uma disciplina.
Elza Berquó – (...) era uma vinculação meio distante (...) as comunicações
não eram tão simples como são agora. Você não tinha internet, não tinha nada
disso. Então, era uma vivência muito distante de cada um dos poucos grupos
que estavam por aqui.
Neide Patarra – Quando todo esse movimento se dá, a gente tem que
reconhecer que a demografia histórica tinha um desenvolvimento relativamente
paralelo. Maria Luiza Marcílio, já o Cedip produzia muito, [tinha o] Ipardes
em Curitiba. Depois vem Sérgio [Nadalin na UFPR] (...) posteriormente,
tinha alguma coisa do Cedhal, na USP.
Em parte devido a esse isolamento, surge a necessidade de se fazer uma
maior articulação desses grupos. Além disso, há, por parte da Fundação Ford,
um esforço de reparação de uma política adotada anteriormente, no sentido
de contemplar todos os estudiosos de uma determinada área de uma maneira
geral, e não apenas aqueles oriundos de centros de excelência apoiados pela
Fundação Ford.
No entanto, a situação política da década de 1970 parece desfavorável
ao desenvolvimento das atividades científicas – ditadura, repressão, falta de
liberdade de expressão. Não para vários grupos de acadêmicos que, em plena
ditadura, se unem para criar associações, com o apoio da Ford. Entre elas está
a ABEP.
30
George Martine, José Albero Magno de Carvalho, Coleta
Oliveira (ao fundo), Elza Berquó e Daniel Hogan,
Encontro da IUSSP, Florença, Itália, 1985
Elza Berquó – Porque, quando eu fui escrever esse artigo [para o volume
comemorativo da Rebep], eu me perguntava assim: Meu Deus, nunca tinha
parado para pensar que a gente nasceu durante o período autoritário, a ABEP.
As coisas vão acontecendo, e você só pára para pensar quando você tem que
escrever.
Uma diferença importante entre a ABEP e outras associações criadas na
mesma época – por exemplo, Anpec, Anpocs e Anped – é que a ABEP é uma
associação de indivíduos, enquanto as demais são associações que reúnem
programas de pós-graduação. Dadas as especificidades da demografia, cujos
profissionais encontravam-se pulverizados em várias instituições, e o fato de
que a pós-graduação na área estava apenas engatinhando, não poderia ter
sido diferente.
Daniel Hogan – A verdade é que nos anos 70 foi um período em que as
disciplinas de todas as nossas áreas criaram as suas associações científicas.
Antes o SBPC foi o grande guarda-chuva, e foi muito importante durante um
bom tempo. Depois dos anos 70, se cria a Anpocs, Anpec etc., se cria a ABEP.
Mas olha a diferença entre as outras e a ABEP. Não é a associação nacional de
pós-graduação e pesquisa em demografia.
SEMINÁRIO TERESÓPOLIS
III
“Desta vez, o referido encontro
será dedicado ao estudo das
migrações internas, notadamente
no que concerne a técnicas e
métodos de mensuração desse
fenômeno.” (Informativo Abep,
n° 4. outubro/79-janeiro/80, p. 5).
31
OCORRERÁ, NO BRASIL,
REUNIÃO DE GRUPO DE
TRABALHO DO CLACSO
“A ABEP co-patrocinará a Sexta
Reunião do Grupo de Trabalho
do CLASCSO (Comitê Latino
Americano de Ciências Sociais)
sobre o ‘Processo de Reprodução da
População” (Informativo Abep, n°
4, outubro/79-janeiro/80, p.8).
Eduardo Rios-Neto – (...) apesar de não ser uma associação de centros, a
maioria das outras são associação de centros, uma das riquezas da ABEP é que
ela é uma associação de pessoas.
As entrevistas deixam claro que a iniciativa da criação da ABEP é da
Fundação Ford. Fica evidente, também, que a Ford jamais teria feito tal
proposta caso não houvesse profissionais capacitados e uma massa crítica
que permitisse a continuidade desta iniciativa, através da consolidação da
associação.
Coleta Oliveira – (...) na minha cabeça, toda iniciativa da reunião, toda
correspondência, eu fui incluída no mailing list e convocada porque era uma
ex-bolsista, não porque eu estava na Faculdade de Saúde Pública. Foi porque
eu era ex-bolsista da Ford, estava chegando, e tinha recebido bolsa da Ford para
estudar fora.
José Alberto Carvalho – (...) a criação da ABEP, eu até diria que a primeira
idéia surgiu entre aqueles da Fundação Ford que ou trabalhavam no Brasil ou
tinham tido experiência no Brasil, como é o caso do Tom Merrick, que então
estava nos Estados Unidos, como uma maneira de dar auto-sustentação para o
estudo demográfico no Brasil, porque já preocupava à Ford essa dependência
muito grande nossa dos recursos deles. Eu diria, ainda que eu tenha sido
procurado antes da criação da ABEP, para ver se apoiava o projeto, a criação
da associação, a Elza também foi, mas tenho quase certeza que a idéia original
partiu da Fundação Ford. (...). Na verdade, a questão que você está colocando,
eu mesmo me perguntei quando fui procurado, não sei se foi pelo Tom
Merrick, ou pelo Charles Wood, para discutir a idéia da fundação [da ABEP].
É claro que nesse universo havia necessidade, mas nós éramos muito poucos,
distribuídos em alguns centros, principalmente localizados em Belo Horizonte,
São Paulo e o Rio, IBGE. E com algumas outras pessoas, mas espalhadas por
esse Brasil afora, como é o caso do Hélio Moura, do Nordeste. A associação
seria o locus em que essas pessoas se encontrariam de tempos em tempos, seria
uma maneira de manter uma rede informativa continuada entre os membros.
Não nos esqueçamos de que naquela época essa parafernália [internet] não
estava tão desenvolvida. Eu acho que houve, na análise retrospectiva, me parece
que a criação da associação era imprescindível. Eu confesso que não era dos
mais convictos, pelo menos na minha primeira reação, mas isso hoje parece
muito claro. Aliás, foi uma época também em que foram criadas as diversas
32
associações científicas no Brasil, nas áreas mais próximas da gente, Anpec, no
caso da economia, Anpocs, Ciências Sociais, e assim por diante.
Elza Berquó – Pela experiência de ver associações internacionais, de viajar e tudo
mais, a gente sentia nitidamente que era preciso juntar. Mas o que acontece – é
o que eu mostro nesse artigo aqui [da Rebep], com a Bel [Baltar] – é que havia,
na Fundação Ford, um interesse muito grande. Como a Fundação Ford havia
investido em vários países, inclusive aqui, em grupos de excelência, ela percebeu
que, ao fazer isso – isso está naquele trabalho do Sérgio Miceli, na comemoração
da Fundação Ford –, ela percebeu que, ao privilegiar grupos de excelência, havia
ficado uma certa massa que não pertencia. Ficou como a periferia da excelência,
vamos dizer assim, sem menosprezar nada. Isso em várias áreas. Fazendo
um estudo retrospectivo, ela achava que era através da criação de associações
que você poderia reunir tanto as massas críticas de excelência, como todos os
demais que ainda estavam (...). Agregar tudo isso num projeto maior, que uma
associação científica seria capaz de fazer. (...). E essa política da Fundação Ford
se expressou não só ajudando na criação da ABEP, como da Anpocs, da Anpec
e da outra de educação, (...). Anped. São quatro que são criadas ao mesmo
tempo, praticamente.
Diana Sawyer – Depois que o Robert McLughlin, que era o representante
(...) [da Ford] saiu, veio o Axel [Mundigo] como representante. E ao
mesmo tempo veio para o Cedeplar [o Charles Wood]. E os dois estavam
sempre em discussão sobre o que fazer. Porque a Ford dava apoio, tinha um
programa de pesquisa, de apoiar pesquisas etc. Depois você pode olhar nos
relatórios quantas pesquisas em população eles realizaram. Eu me lembro
até que morava ainda em São Paulo, eu já estava para vir para cá, estava em
São Paulo quando o Axel e o (...) foram lá em casa para conversar sobre o
que fazer para tornar essa coisa mais permanente aqui. Nós começamos a
ABEP LANÇA II CONCURSO DE PESQUISAS SOBRE ASSUNTOS
POPULACIONAIS NO BRASIL.
“A ABEP lançará o seu II Concurso para Bolsas de Pesquisas sobre Assuntos
Populacionais, o qual sucede ao antigo Programa de Pesquisas sobre Assuntos
Populacionais no Brasil da Fundação Ford. (...).” (Informativo Abep, n° 4,
outubro/79-janeiro/80, p.1).
33
falar que teria que ter uma associação. Eles perguntaram qual era a minha
opinião. “Eu acho ótimo, mas vocês têm que fazer parecer que a idéia nasceu
da gente, que não seja uma imposição da Fundação Ford, porque não fica
muito bem, por ser uma associação científica.” E acho que assim eles levaram
adiante. Houve aquele encontro lá no IBGE, que foi o primeiro encontro da
fundação, quando foi fundada a ABEP. Eu não estava nesse encontro, porque
eu estava nos Estados Unidos. Eu passei um período nos Estados Unidos e
não participei. (...). Então, eu participei de todas as discussões. (...). E assim
foi fundada a ABEP. E certamente eram as pessoas que fundaram, ou que
começaram a disseminação da demografia aqui no Brasil, que seriam a Elza
[Berquó] e o Zé Alberto [Carvalho], fortes candidatos à presidência, naturais
candidatos à presidência, mais o Lyra Madeira.
Diante de tanta luta antiimperialista e de brigas ideológicas contra os
Estados Unidos, não soa contraditório aceitar o apoio exatamente de uma
fundação norte-americana?
Coleta Oliveira – Fico às vezes pensando, a gente vai contar a história da
ABEP, a ABEP foi criada pela Fundação Ford. Que mico nós vamos pagar
(...). Mas a fundação americana financiou o Cebrap, que eram os supostamente
comunistas, expulsos da universidade. Eu acho que a Ford, não sei se ela ainda
tem esse perfil, mas ela tinha o perfil muito pluralista. Eu não sei se é aquela
coisa americana, aquele princípio liberal da liberdade de expressão, é muito
diferente dessa linha bushiana que está no topo hoje, nos Estados Unidos. Mas
aquela coisa dos intelectuais americanos, de uma certa ingenuidade até, mas que
tem compromisso com a pluralidade. (...). Então, eu acho que a Ford tinha esse
perfil. Assim como a Ford financiou a esquerda (...), ela financiou a ABEP.
EDITORIAL
“A ABEP, com seus cinco anos
de vida, 250 associados, várias
reuniões científicas e em sua
terceira Diretoria, representa hoje
uma instituição importante e de
grande responsabilidade no campo
dos Estudos de População no
Brasil. (...)” (Informativo Abep,
n°7, outubro-dezembro/80, p. 1).
34
José Alberto Carvalho – Alguns estudos, inclusive essa última publicação
da Revista da ABEP [comemorativa dos 20 anos] cita, discutem um pouco
esse ponto. Eu acho que há duas coisas. Primeiro, a Fundação Ford, na época,
passou a ser dirigida por ex-membros do famoso grupo do Kennedy no
governo americano, que eram pessoas mais liberais. Mas, por outro lado, e há
até um relatório preparado pelo famoso (...), que veio aqui ao Brasil fazer um
diagnóstico para a Fundação Ford, parece que eles chegaram à conclusão que,
no médio e longo prazo, a melhor maneira de influenciar a opinião pública no
Brasil seria investir nos melhores centros de pós-graduação e de pesquisa do
Brasil, obviamente centros universitários. Então, não parece contraditório do
SEGUNDO ENCONTRO NACIONAL ABEP
Áreas Temáticas em torno das quais foi organizado o programa do Encontro
-Expansão da Fronteira Agrícola e População;
-Evolução Recente das Variáveis Demográficas: mortalidade, fecundidade,
nupcialidade e migração (Avaliação Crítica das Fontes e das Técnicas);
-Aspectos Metodológicos na Análise do Ciclo Vital
-População e Crescimento Urbano (Informativo Abep, s/n, 80).
lado deles, e a bem da verdade eu posso dizer, como presidente da ABEP que
fui, que recebeu endowment da Fundação Ford, e também como membro do
Cedeplar, que a Fundação Ford nunca tentou interferir nas nossas linhas de
trabalho.
Elza Berquó – (...) [A Ford] é uma Fundação, assim como a MacArthur, são
fundações muito éticas. Pelo menos no nosso país.
O contexto político daquele momento teve um papel fundamental na
definição das temáticas mais dominantes nas discussões e nos encontros, bem
como nas posturas políticas e ideológicas, posturas estas que, vistas aos olhos de
hoje, em muitos momentos ideologizaram o debate. Analisando o momento
e as dificuldades políticas, tudo isso parecia absolutamente necessário.
José Alberto Carvalho – Na verdade, como a gente está se referindo ao início,
pelo menos da minha participação, início dos anos 70, obviamente era um
período de guerra fria, ditadura militar no Brasil, um tremendo maquiavelismo
entre os bons e os maus, entre a direita e a esquerda, entre a esquerda e a direita,
dependendo o lado bom, de que lado você se incluía. E o tema população se
encaixou inteiramente nesse mundo maquiavélico, absolutamente polarizado.
Então, de uma certa maneira, nós, os primeiros demógrafos brasileiros, fomos
sujeitos, mas também vítimas dessa situação. Na realidade, mais diretamente
ligado aos problemas de população, o grande tema então discutido era o
crescimento populacional ligado, como a gente sabe, antes de tudo, aos níveis
de fecundidade. Havia, de um lado, aqueles chamados neomalthusianos, que
defendiam o controle da natalidade. E como uma reação automática, porque
no mundo polarizado sempre é o nosso adversário, para não dizer o nosso
inimigo, que vai definir a posição da gente. A gente identifica primeiro a
posição do outro. O que nos leva até, de uma certa maneira, a perder o direito
35
EDITORIAL
“(...) Nesse momento, quando a ABEP organiza seu III Encontro Nacional, (...),
vem a público os primeiros resultados do Censo Demográfico de 80, e por exemplo,
as taxas de crescimento populacional diferenciadas entre as regiões, sugerindo
uma importante redistribuição da população, nesta década de 80, e confirmase uma acentuada queda da fecundidade. Tudo isto se liga ao outro tema de
grande atualidade, que são as propostas de políticas de população e práticas de
planejamento familiar. (...)”(Informativo Abep, n°12, janeiro-março/1982, p.1).
ao exercício do livre arbítrio. Como havia grupo e compromissos, inclusive se
recebia forte apoio dos países europeus, principalmente dos Estados Unidos,
que então temiam que a explosão demográfica levaria o mundo ao caos social,
o que provavelmente, pensavam eles, facilitaria o domínio comunista da União
Soviética, os poucos demógrafos brasileiros de então, aqueles que tinham
alguma liderança, que se encontravam mais do lado esquerdo daquele mundo
polarizado, de certa maneira meio cegamente, se postaram diametralmente
oposto não somente ao controle. E, enquanto controle, até hoje eu acho que
a gente tem que ser contra, porque na realidade o controle de natalidade
tem objetivos na área de fecundidade, e direta ou indiretamente os impõe à
população, mas a gente era não somente contrário ao controle, mas também
contrário a qualquer oferecimento de serviço de planejamento familiar. E era
muito interessante, porque tanto os neomalthusianos, como nós, o nosso lado, a
gente concordava em um aspecto, ainda que nunca tenhamos concordado que a
gente concordava sobre aquilo. Ambos os lados negavam que pudesse haver no
Brasil então uma demanda significativa por contracepção. Os neomalthusianos
afirmavam que, como a maioria da população era constituída de pessoas pobres,
elas nunca seriam capazes, dada uma certa irracionalidade, e isso seria peculiar,
nunca seriam capazes de controlar o número de filhos. E, do nosso lado, a
gente afirmava que, como o que estava havendo no país, naquela época, não
era o verdadeiro desenvolvimento econômico, mas um simples crescimento
econômico, taxa anual de 10, 12% de aumento do produto por ano, a gente negava
que pudesse haver uma demanda. A gente afirmava que só haverá demanda de
contracepção no Brasil o dia em que houver o verdadeiro desenvolvimento
econômico. (...) a ABEP foi criada exatamente nesse período. [Para] Todos
nós, dos dois lados da contenda, quando ficou claro que estava havendo um
rápido declínio da fecundidade no Brasil. Era um ambiente de ditadura militar,
vários de nossos colegas tinham sido aposentados à força das universidades, dos
36
institutos de pesquisa. E como a ditadura brasileira era apoiada pelos Estados
Unidos, todos nós éramos profundamente antiimperialistas. E como o governo
americano apoiava o programa de controle de natalidade, uma reação normal a
isso era negar qualquer demanda de contracepção, ser contra qualquer serviço
de planejamento familiar. E esse clima, obviamente, permeava a ABEP nos
seus primeiros anos. (...) seria um anacronismo a gente analisar o que aconteceu
naquela época com os olhos de hoje, dentro da realidade de hoje. Então, quando
eu faço autocrítica, de falar que a gente às vezes chegou a ser dogmático demais,
ou maniqueísta em excesso, mas há de se reconhecer que o mundo realmente era
dividido nessa área, em dois campos, independentemente da nossa vontade.
George Martine – (...) tem que situar isso em meados da ditadura, 1976.
Evidentemente que a maioria dos intelectuais da área social tinham uma postura
mais progressista do que o governo militar que estava aí. Quase tudo se tornava
uma reivindicação social, política, de alguma forma. Eu acho que a questão
populacional era parte essencial, ou seja, a nossa reação às questões populacionais,
particularmente com relação a crescimento populacional, era muito um produto
de uma reação a uma postura do governo militar, que naquele momento, até
1976, era pró-natalista, posteriormente começou a ter maiores divergências. Eu
acho que nós provavelmente tenhamos sido um pouco, eu diria até exagerados,
um pouco radicais em algumas posturas, a ponto, por exemplo, de achar que
uma pesquisa a ser realizada, patrocinada pela USAID era um instrumento do
imperialismo. Eu acho que esse tipo de coisa se situa historicamente, embora
tenhamos que fazer um pouco de autocrítica dessas atitudes. E na medida em
que saímos da ditadura, nasceram naturalmente outras posturas. Por exemplo,
eu acho que a postura com relação à sexualidade, formação de família, tem
sido muito mais, como eu diria, progressista e abrangente do que tinha sido no
passado, porque essas questões vieram à tona com muito mais ênfase do que
quando o mundo era preto e branco. Nós éramos todos a favor, todos contra.
Politicamente, hoje em dia cada um trilha mais ou menos a sua direção. Embora
no meu entender pessoal, não tem nada a ver com a ABEP, eu acho que nós
CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E
TECNOLÓGICO (CNPq) E DEMOGRAFIA
“Pela primeira vez, o Comitê Assessor de Economia, Administração e Demografia
do CNPq passou a contar entre seus membros com um especialista em Demografia.
Foi nomeado como membro do Comitê, o professor José Alberto Magno de
Carvalho”. (Informativo Abep, n°12, janeiro-março/1982, p.12).
37
ABEP RECEBE FUNDOS DA
FORD PARA MANUTENÇÃO
DE ATIVIDADES
“Com satisfação a Diretoria da
ABEP traz ao conhecimento
de seus associados dos termos
do documento ‘Memorando de
Entendimento’, assinado por
ABEP e Fundação FORD. Este
documento especifica as cláusulas
do endowment, ou seja, como
deverá ocorrer a constituição
de um patrimônio destinado a
gerar fundos para a manutenção
da ABEP.” (Informativo Abep,
n°12, janeiro-março/1982, p.15).
ainda temos algum caminho que caminhar para nos libertar desse certo ranço
ideológico, que se explica no seu contexto histórico, mas que hoje em dia nós
ganharíamos tendo maior objetividade.
Neide Patarra – (...) eu não gosto muito quando o George Martine e o Zé
Alberto [Carvalho] começam a fazer cobrança de mea culpa, dos erros. Eu acho
que não são erros, acho que são momentos específicos. E aquele momento era
de exacerbação nacionalista, era de um confronto ideológico muito forte com
os Estados Unidos, inclusive com a academia norte-americana. Eram visões
de mundo que se contrapunham. Isso era um pouco o nosso ethos naquele
momento, e formava a nossa prática. Teve desdobramentos muito difíceis,
porque depois, nos anos posteriores, na batalha contra o neomalthusianismo,
chega um momento em que a gente tinha alianças terríveis, porque estávamos
nós, a esquerda da demografia, os militares defendendo a soberania nacional,
e a Igreja Católica. Eram esses três ganchos que defendiam o crescimento
populacional, etc. Naquele contexto, e era ideológico sim, era o nosso
compromisso inclusive com a academia, com a produção de conhecimento. É
neste momento, na metade dessa década, ainda ditadura, que o pessoal monta a
ABEP. Foi uma confluência de cabeças boas. Mas com o apoio da Ford, a idéia
de formar a associação.
Paulo Paiva – (...) no âmbito nosso, do grupo dos intelectuais, você tinha
uma resistência muito grande à possibilidade de transformar o conhecimento
demográfico em política de controle da população, com objetivo econômico, de
meta de crescimento populacional. Esse era um pouco o conteúdo da discussão.
E esses temas todos nos levavam para o debate ideológico. Me vem à cabeça a
questão da educação, e da distribuição da renda. O Langoni, quando foi fazer
sua tese em Chicago, apontava que a concentração de renda era por falta de
investimento em educação etc. (...). Isso foi ideologizado de tal forma que a
esquerda tinha uma resistência grande ao conceito de capital humano, todo
conceito de investimento em educação (...).
PMR – Parece uma grande contradição.
Paulo Paiva – Exatamente. Você vê hoje o esforço que se faz. (...). Mas você
estava ideologizando o debate acadêmico (...). Não que não tivessem idéias
interessantes, não que não tivessem idéias importantes, não que não fosse o
início para a formação do conhecimento do que veio depois, mas era (...) um
38
momento diferente. As reuniões da SBPC eram reuniões políticas. Havia esse
espaço, que eram também os espaços de fazer reunião política. (...). Enfim,
você estava diante de um regime militar, que é difícil para as gerações novas
entenderem, porque tiveram a felicidade de não viver sob esse contexto. (...) a
manifestação política aparecia no espaço que lhe permitia aparecer. Então, uma
reunião científica era a possibilidade de ter uma manifestação política. Um
show da Elis Regina, era a possibilidade para ter uma manifestação política.
Isso, nós temos que entender dessa forma. (...) o que podia ser feito era aquilo.
Se, eventualmente, pudéssemos refazer a história, voltando lá, nós iríamos fazer
tudo da mesma forma.
Daniel Hogan – (...) o que tinha importância para a demografia naquele
momento era a resistência generalizada dos acadêmicos ao controlismo barato
que estava tomando conta da grande mídia nos anos 60-70. Tanto é que quando
eu vim para o doutorado, de fato era com recursos da USAID, e me escolheram
justamente por não trabalhar com fecundidade, para poder apoiar a demografia
no país sem tocar nesse ponto sensível. Mas acabou sendo vetado qualquer
apoio da USAID nesse campo, mesmo para estudar migração. Então, vim com
outro recurso. Mas isso era muito freqüente ainda, durante muito tempo, e
certamente isso marcou o discurso político da ABEP. (...) todo aquele primeiro
período, é muito claro que quem fundou a ABEP tinha uma visão crítica da
demografia latino-americana. Isso era importante na época. Essa fragilidade
institucional da demografia – ainda não tinham cursos de pós-graduação, ainda
não tinham centros consolidados – era geral na América Latina. E outra coisa
geral, era que todos estavam alvos da mesma ideologia controlista da parte das
USAIDs da vida.
O Zé Alberto (..) fazia pouco que tinha chegado da bolsa [doutorado em
Londres], era jovem. Ele tinha um olhar neomalthusiano, eu achava que
ele era agente neomalthusiano, o Zé Alberto. (...) e já tinha uma tensão
nessa coisa. Era claramente dividido, os pró-neomalthusianos e o pessoal
de São Paulo, que era visto como mais crítico. O Zé Alberto estava ali
no meio.(...) eu tinha desconfiança de que ele era neomalthusiano. Mas
eu, enfim, nem tinha informação. Nem o conhecia.
Coleta Oliveira
39
Esse caso é clássico (...). Esses seminários que nós tivemos em Teresópolis, foi na época da criação da
ABEP, ou um pouco antes. Mas isso já fazia parte da pré-ABEP. O saudoso Bill Brass (...) tinha sido meu
professor e co-orientador do doutorado em Londres. Ele veio, inclusive um pouco por sugestão minha,
duas ou três vezes ao Brasil, para a gente passar uma semana em Teresópolis, onde ele expunha, discutia
com os jovens demógrafos brasileiros. Durante uma semana, a gente discutia as técnicas dele, num
ambiente muito bom. Vários jovens do IBGE, alguns do Cedeplar, outros do Cebrap. E eu lembro que
meus colegas estavam admirando, gostando tanto do Brass, que comentaram comigo que iam convidá-lo
para tomar um uísque. Era uma época em que uísque no Brasil era caríssimo. É como se hoje um litro de
uísque custasse 400, 500 reais [pouco menos de 1,5 salários mínimos de maio de 2006]. (...) na realidade,
eu avisei para eles, primeiro, que o Brass, como bom escocês, gostava demais de uísque. Mas que ele,
como bom escocês também, era extremamente pão-duro. Então, que tivessem cuidado, porque o uísque
era muito caro. Eles convidaram o Brass. Na realidade nós consumimos, naquela noite, 4 litros de uísque,
dos quais 80% foi o Brass quem tomou. Na hora de pagar o uísque, o Brass não pôs a mão no bolso. Nós
tivemos que amealhar todo o dinheirinho que a gente tinha, e talão de cheque, para poder pagar a conta:
Jair [Santos], Luiz Armando [Frias], eu (...).
José Alberto Carvalho
E assim, nesse contexto político específico e complexo, com o
envolvimento de vários atores, tanto individuais quanto institucionais, e com
apoio da Fundação Ford, nasce a ABEP.
Neide Patarra – (...) a ABEP surge num momento de transição. Transição de
financiamentos; transição política, começávamos a ter mais abertura; transição
demográfica, que entra em outro momento; transição no sistema de ciência e
tecnologia do país. Esse é um momento muito forte.
40
N
asce a ABEP. Diferentemente de outros recém-nascidos, a ABEP
tem duas datas de nascimento. Se, em tese, este fato cria enormes
problemas para os demógrafos, pensando no lado festivo, duas datas
de nascimento oferecem duas oportunidades para comemorações.
A primeira data é o período de 7 a 9 de junho de 1976, quando foi
realizado no Hotel Sheraton, no Rio de Janeiro, o Simpósio sobre o Progresso
da Pesquisa Demográfica no Brasil. Nesta reunião, os vários estudiosos
de população, muitos deles bolsistas e ex-bolsistas da Fundação Ford,
apresentam seus trabalhos.Carmen
Miró, uma das convidadas da
reunião, fica muito impressionada
com a qualidade dos trabalhos e
com a capacidade de pesquisa dos
demógrafos brasileiros. Ao final
do simpósio, é discutida a criação
de uma associação de população. É
nomeado um comitê encarregado
de elaborar um ante-projeto de
estatuto, composto por João Lyra
Madeira, Maria Luiza Marcílio,
Maria Helena Trindade Henriques
Lerda, Manoel Augusto Costa,
Elza Salvatori Berquó, Morvan
de Mello Moreira e Jair Lício
Ferreira Santos.
O nascimento
Cartas da Fundação Ford à ABEP.
42
43
Elza Berquó – Então, tem a célebre reunião no Hotel Sheraton, no Rio de
Janeiro, para criar a ABEP. Foi um momento de muita confraternização. O
Lyra Madeira estava lá, tanto que ele foi o primeiro presidente da ABEP.
José Alberto Carvalho – [Tinha] tanta gente, eu não me lembro de todos.
Uma figura fundamental, o professor Isaac Kerstenetzky, que sempre deu muito
apoio à ABEP, inclusive foi um dos fundadores. O professor Lyra Madeira,
que se tornou o primeiro presidente, a Elza [Berquó], Manoel Augusto Costa,
Neide [Patarra]. Eu não sei se a Coleta [Oliveira] também estava presente.
Era um grupo relativo, quer dizer, quando falo muita gente, mas comparado
com os encontros da ABEP de hoje era um grupo diminuto. Eu me lembro
da Ana Maria Goldani, recém-chegada do México, não sei se ela já tinha
começado a trabalhar no Seade. O grupo do IBGE, Luiz Antônio [Oliveira],
Luiz Armando [Frias], Valéria [Leite]. Tinha até uma ata, a ata de fundação da
ABEP. Provavelmente tem muitos nomes lá que nem mais me lembro deles.
Coleta Oliveira – Eu fui, tenho imagens dessa reunião. Aquele auditório do
Sheraton era chiquíssimo, o Sheraton era um hotel novo no Rio (...), eu nunca
tinha entrado num hotel daquele. Estudante, eu era menina, muito jovem.
Eu me lembro do Axel Mundigo, que estava na Ford, me lembro muito dele,
sempre aquela figura incrível. Me lembro da Carmen Miró, da Elza [Berquó],
do Jair [Santos] e do Zé Alberto [Carvalho]. (...). Era uma discussão, na mesa,
o Axel estava na frente, acho que o [Tom] Merrick estava também. (...). Estava
o Procópio [Camargo], me lembro muito da gente tomar uns vinhos com o
José Alberto Magno de Carvalho, Carmen Miró e Coleta Oliveira,
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 1998
44
Procópio, de ser convidada. Porque, obviamente, eu não participava daquelas
reuniões, das mesas dos vinhos. (...) tinha a Ana Maria Silva Dias (...). Me
lembro do [ João] Yunes lá, lembro da Stella [Levy], (...) Ana Lúcia Garcia,
[que] também tinha sido bolsista da Ford. A Neide [Patarra] estava lá também.
(...) Manoel Costa estava lá. (...). Certamente tinha mais gente, mas eu conhecia
poucos.
Daniel Hogan – Eu imagino que a Elza e Zé Alberto, e quem estava ajudando,
fizeram um vasculhar das instituições. Eu já conhecia a Elza, já [tinha estado]
no Cebrap. (...) por isso, com certeza, acabou entrando o meu nome na lista dos
convidados. (...) A verdade é que eu não conhecia muito as pessoas, naquela
época. (...) eu imagino que o Luiz Mott estivesse lá, da Unicamp também,
porque ele estava estudando naquela época a demografia histórica, usando os
registros de alguns casos do nordeste, parentesco, família. Acho que éramos os
únicos da Unicamp no encontro.
(...) eu lembro [de algo que] é
absolutamente irrelevante para a
história da demografia. (...) Maria
Helena Henriques (...) estava grávida
na época, vinha descendo, como rainha,
aquela escada do Hotel Sheraton.
Uma mulher linda.
Autor anônimo
George Martine – Na época eu era consultor, trabalhava com a OIT e era o
perito internacional na área de migrações internas, num programa grande que
o Ministério do Interior, junto com o IPEA, estava executando com a intenção
de formular uma política de migrações internas. Então eu trabalhei com muitos
demógrafos da época. O Hélio Moura, por exemplo, é uma pessoa que eu
trabalhava. E com as várias regiões do Brasil. Através desses conhecimentos,
eu acho que alguém falou no meu nome quando teve a primeira reunião na
Fundação Ford, para organizar a primeira reunião da ABEP. (...) eu acho que
já nessa primeira reunião [no Sheraton] nasceu o espírito ABEP. Porque eu
não tinha nenhuma experiência nesse tipo, uma reunião acadêmica, séria,
com toda a seriedade do caso, com uma série de trabalhos muito bons sendo
apresentados. E nas horas de folga, então, um espírito de energia, inclusive um
primeiro baile, que terminou acho que às 4 horas da manhã. E no dia seguinte,
como sempre, as pessoas firmes lá na reunião, às 9 horas da manhã. Então,
eu acho que já semeou com várias figuras, que depois continuaram sendo do
núcleo da ABEP, continua esse espírito, essa energia, essa capacidade de ficar de
bem com a vida, ao mesmo tempo em que estão produzindo e estão avançando
no conhecimento científico.
A segunda data de nascimento da ABEP é 19 de abril de 1977, data do
surgimento legal da associação, quando se reúnem em assembléia aqueles
que foram signatários da famosa ata da fundação da Associação Brasileira
45
Tenho lembranças mais da parte social. (...) lembro que descemos um dia
para jantar com o professor Procópio e mais algumas pessoas, eu não sei
te especificar quem. O Procópio fez questão de escolher um dos melhores
vinhos que havia no menu do restaurante, sem saber, acho que ninguém
sabia, nem eu sabia nem ele, que na verdade o jantar estava sendo pago, não
éramos nós que íamos pagar. Ele escolheu o melhor vinho.
Jair Santos
Me lembro muito da Elza [Berquó] conversando com o Zé Alberto
[Carvalho], o Zé Alberto era um jovenzinho, me lembro dele subindo os
degraus do Sheraton. Era um auditório chique, todo acarpetado, as paredes
acarpetadas, inclinado, tipo anfiteatro. Me lembro do Zé Alberto subindo
a escada, para fazer qualquer coisa, não sei, no meio da reunião. (...) mas
incrível, o Zé Alberto saltando degraus. Coisa que o Zé Alberto, nunca
mais, aquele jeito dele, nunca mais o vi saltando degraus. Eu me lembro
dele subindo, com aquela costeleta incrível. Era nos anos 70.
Coleta Oliveira
de Estudos Populacionais. Na reunião, é aprovado o estatuto da ABEP e
realiza-se a eleição da sua primeira diretoria. João Lyra Madeira é o primeiro
presidente da ABEP, eleito por aclamação.
Jair Santos – Elza Berquó era secretária geral da primeira diretoria, eu era o
[primeiro] secretário. (...) a primeira ata, a redação é minha. Responsabilidade
da Elza, como secretária geral. Eu lembro de ter comprado uma caneta tinteiro
Sheaffer para escrever a ata.
46
A ata da fundação da ABEP e a lista de signatários está no Anexo.
Para a lista completa das diretorias da ABEP, vide o Anexo.
D
urante esses primeiros 30 anos, como tem funcionado a ABEP?
A diretoria, entre 1976 e 1992, era composta por 8 membros. A
partir de 1993, a diretoria vem em versão mais enxuta, com apenas
5 membros, e certamente mais econômica do ponto de vista dos gastos
necessários para reuni-la. O conselho fiscal, inicialmente, tem 3 membros
titulares e 3 suplentes. Também a partir de 1993, são apenas 2 suplentes.
Durante os
primeiros 30 anos
Coleta Oliveira – Do ponto de vista do desenho institucional da ABEP, hoje
a diretoria é menor, a gente fez, não me lembro quando foi, a gente enxugou
os cargos. Na verdade, era muito caro fazer reunião de diretoria, essa foi uma
grande motivação. Eu acho que a ABEP não perdeu com esse enxugamento, ao
contrário, acho que ganhou.
Criado em 1992, o conselho consultivo sofre mudanças em 1998, quando
passa a ter 3 membros eleitos e 3 membros indicados pela diretoria. Em seu
novo formato, o conselho consultivo gera dúvidas quanto à forma como ele
tem funcionado. Muitas vezes dispensável no dia-a-dia da associação, sua
existência parece fundamental no caso de grandes decisões.
Eduardo Rios-Neto – Eu tenho minhas dúvidas quanto ao conselho
[consultivo]. (...) a primeira vigência do conselho foi na [minha] primeira
diretoria. A gente quase que esqueceu de convocar o conselho. Foi uma gafe,
tivemos que correr atrás porque houve protestos. (...) mas tem um custo
operacional alto, porque para você reunir o conselho, são pessoas de vários
locais. E tem uma temporalidade que não se coaduna com a temporalidade
da associação. Na associação, dois anos é muito pouco tempo. (...) talvez
num momento de crise institucional grave, ele possa ser uma instância que
CONCURSO DE PESQUISA
DA ABEP
“A ABEP está promovendo agora
seu IV Concurso de Bolsas de
Pesquisa sobre Assuntos Populacionais.” (Informativo Abep, n° 15,
outubro-dezembro/1982, p.20).
EDITORIAL
“Não cabe nenhuma dúvida de que ressurge na pauta de preocupações do Estado brasileiro a questão do crescimento
populacional, visto como uma das causas básicas dos grandes males que enfrenta hoje a sociedade brasileira. A
‘desenfreada’ reprodução dos pobres continua a ser olhada como um dos responsáveis decisivos pelo futuro negro
que nos espreita cada vez mais de perto, pelo aumento crescente do desemprego”. No momento em que o Senado
institui uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o ‘aumento da população’ em nosso país, e parlamentares do
partido da situação chegam mesmo a propor a criação, de forma vertical, de um Instituto Nacional de Planejamento
Familiar, é justa a preocupação de que medidas estejam sendo elaboradas no planalto brasileiro. Esta preocupação se
justifica em face aos pacotes cada vez mais pesados que, da noite para o dia, vão sendo colocados sobre os ombros das
classes média e trabalhadora, já curvadas pela falta de recursos para o atendimento de suas necessidades mínimas.
Muito é dito sobre tudo fazer para que o direito de cada mulher e de cada homem de terem os filhos que quiserem
seja respeitado. A tônica atual aqui, bem como nos demais países do bloco dos ‘em desenvolvimento’ é aparelhar os
serviços de saúde materno-infantil de recursos para o planejamento familiar, a fim de garantir tal direito. No nível
do discurso, esta posição encontra adeptos, mas os mais avisados preocupam-se com o nível da ação, isto é, como a
operacionalização de tais recursos para que os parcos disponíveis sejam canalizados para este setor em detrimento de
outros mais importantes para a saúde da população.” (Informativo Abep, n°17, abril-junho/1983, pp.1,2).
ajude. (...) a gente faz eleição de dois em dois anos. Se você não der um voto
de confiança na diretoria para realizar as coisas, você burocratiza, impõe
uma amarra, que eu acho que mais prejudica a associação do que beneficia.
(...) quer dizer, eu acho que sou bem mais crítico do conselho, não tenho
receio em falar. Eu confio mais na assembléia e em delegar poder efetivo
para a diretoria em dois anos, porque dois anos é um prazo muito curto. Se
você não delegar poder para ela, e ela não tiver liberdade de se organizar
nesses dois anos, fica muito complicado. Você tem que ficar pegando bênção
de muita gente. Não funciona, porque o prazo é exíguo e as pessoas não se
mobilizam. Sempre quem se mobiliza são os mesmos.
Coleta Oliveira – (...) talvez as novas diretorias, ou as novas chapas, ou as
novas articulações tenham que dar mais atenção ao conselho consultivo. Não
só do ponto de vista da sua composição, mas do ponto de vista do seu papel
na ABEP. (...) nessa gestão [do George Martine], o conselho consultivo opina
muito pouco, eu acho. Na minha gestão, também opinou pouco. Enfim, o
papel do conselho consultivo ainda é um papel de vaca de presépio. E para a
instituição crescer e para a demografia crescer no Brasil, e essas coisas terem
um pouco de harmonia, eu acho que esse conselho consultivo tem que ter um
papel. Porque é uma forma de você acomodar grupos e vozes institucionais.
48
George Martine – Hoje em dia nós temos um conselho consultivo grande,
com uma diretoria menor, o que facilita, eu acho, juntar as pessoas a um preço
mais módico do que naquela época. Por outro lado, dificulta um pouco isso,
uma coisa que até quero conversar com as pessoas, sobre a redução do tamanho
do conselho consultivo, porque fica um pouco..., incomoda um pouquinho a
logística das reuniões do que deveria existir, da interação que poderia existir
com o conselho consultivo.
Neide Patarra – Quando o Martine me ligou agora para falar da gestão do
conselho, ele insinuou que está pensando em abolir o conselho. (...) eu me
lembro que (...) foi a Elza [Berquó que falou] (...), a gente precisa ter um
conselho. Quando você enxuga [a diretoria], tem que ter um conselho. E certas
decisões, a ABEP tem patrimônio, a ABEP tem compromissos internacionais,
a ABEP tem, de repente, (...) conjuntural que de repente até por imaturidade,
desconhecimento e tal. O conselho é o respaldo para essas grandes decisões. E
esse conselho vai trazendo uma mistura da experiência dos ex-presidentes com
pessoas de outras gerações.
Um ponto que merece destaque no funcionamento interno da ABEP é
relativo aos GTs – assunto polêmico...
Coleta Oliveira – (...) uma questão com os GTs, que é a idéia de um certo
loteamento da ABEP, no sentido de ter coisas fixas na ABEP. A Anpocs
também enfrentou isso, não é uma coisa só nossa (...). É complicado mesmo,
porque quando surge um espaço, se configura um espaço, esse espaço tende a
se cristalizar como espaço definitivo. (...) significa que as pessoas reagem um
pouco como “eu estou perdendo espaço”. Eu acho isso uma coisa complicada.
De um lado, tem a coisa de como a gente lida com o fato de que existe uma
multiplicidade de objetos, de interesses temáticos na associação, e, ao mesmo
tempo, que a gente preserve, ou estimule, uma conversa entre essas diversas
problemáticas, ou áreas de interesse. É muito ruim quem trabalha com
mortalidade ficar só falando com quem trabalha com mortalidade; quem
trabalha com fecundidade só falar com quem trabalha com fecundidade, e a
gente perder essa visão mais do todo, da dinâmica social e demográfica. (...)
acho que é um desafio, o modelo de funcionamento. E não virar, cada GT, cada
espaço, uma ABEPinha.
49
Eduardo Rios-Neto – (...) eu sou oriundo de GT. Na minha trajetória, eu falei,
eu vim do GT. Então, eu sou basista nesse sentido, eu sou de GT. Eu tinha muita
dificuldade, porque realmente há muitas críticas aos GTs, como ingerência
nas diretorias. E algumas delas, eu acho que fazem sentido. Depois que passei
pelos dois lados, eu sou obrigado a reconhecer que a diretoria da ABEP não
pode ser uma federação de GTs. Mas, por outro lado, eu acho que os GTs
são uma capilaridade essencial na ABEP. Então, é uma coisa contraditória. É
uma relação de tensão grande, mas que tem que ter respeito mútuo. (...) uma
das coisas que geralmente é difícil é o coordenador do GT ter uma noção de
restrição orçamentária, quando ele propõe uma atividade. Então, o calo aperta na
diretoria. O tesoureiro é o primeiro. O maior inimigo, geralmente, dos GTs, é o
tesoureiro. Depois, é o secretário. Porque o GT quer fazer um encontro paralelo,
fora, etc. Essa é uma tensão natural, porque, por outro lado, é disso que sai a vida
da associação. (...) é uma coisa meio dupla. Tanto [eu sou] basista, que além dos
GTs, eu criei vários comitês. Quer dizer, se tem uma coisa que marcou a minha
gestão, foi uma força muito grande que eu dava aos comitês, além dos GTs. (...)
então foi muito profícua essa criação de comitês, mas a ponto de muita gente
depois achar que isso daí acabou, que perdemos o controle. Quer dizer, era uma
coisa grande demais. Eu tenho minhas dúvidas, acho que só o tempo vai dizer.
Criação da ALAP. Eduardo Rios-Neto, Neide Patarra e
Fernando Lozaro, Ouro Preto, 2002
50
Daniel Hogan – Eu acho que tem uma tensão natural aqui, que todas as
diretorias deverão cuidar, é parte da natureza humana de se proteger, proteger
os amigos e ampliar o seu tema, mesmo se às vezes às custas da qualidade. A
diretoria vai ter que se preocupar, sim, com a inclusão, com a incorporação
de pessoas na ABEP, mas ao mesmo tempo fazer um esforço de defender a
qualidade. Às vezes isso vai exigir uma cortada de asas dos GTs. Também
porque eu acho que tem alguns temas que não são devidamente atacados pela
demografia brasileira, no âmbito da ABEP.
Uma mudança importante e relativamente recente na forma
de funcionamento da ABEP está diretamente ligada à expansão das
comunicações e da disseminação de informações via rede mundial de
computadores. Originalmente utilizada pelo GT de População e Gênero,
então sob a coordenação de Sonia Corrêa e José Eustáquio Diniz Alves, a
lista de discussão é um enorme sucesso. Atualmente, há uma segunda lista,
igualmente bem sucedida, que ultrapassa o âmbito de um único GT e discute
questões relativas ao tema população e pobreza.
Eduardo Rios-Neto – (...) as redes de discussão que a ABEP gerou, que têm
funcionado a contento. Quando uma coisa dessas dá certo, é de soltar foguete.
Eu parabenizo, por exemplo, a gestão do George [Martine]. Talvez tenha
começado na da Coleta [Oliveira], não sei precisar bem, esse novo mecanismo,
que é uma nova atividade.
Quem paga as contas das muitas atividades realizadas pela ABEP?
A Fundação Ford teve um papel inicial fundamental, que culmina com o
endowment, dotação de recursos com a qual são adquiridos imóveis em São
Paulo. Aos poucos, foram sendo incorporadas outras fontes de financiamento,
tanto nacionais quanto internacionais. Há três estratégias básicas na captação
de recursos: financiamento para as várias atividades da ABEP como um todo,
financiamento específico para GTs e recursos captados especificamente para
os encontros – os quais, se poupados, viabilizam atividades futuras. Até o
Encontro de 2002, a ABEP ainda financiava todos os seus participantes.
Atualmente, somente os convidados têm sua hospedagem paga pela ABEP
e os demais participantes devem se auto-financiar, como ocorre em outras
associações.
51
José Alberto Carvalho – No início, basicamente todas as nossas atividades,
encontros, etc., foram apoiados pela Fundação Ford (...). É claro que a partir
daí, mas muito devagar, dentro de uma estratégia muito bem definida, eles
passaram a diminuir os recursos, como pouco a pouco a gente procurou fontes
alternativas, inclusive junto às próprias agências brasileiras, como o CNPq.
Mais tarde, mas não foi de imediato, passou-se também a receber apoio do
Fundo das Nações Unidas de População, FNUAP. Mas não foi de imediato.
Diana Sawyer – Quando a ABEP foi fundada, a Fundação Ford deu um
endowment muito grande. E foi na gestão da Elza que recebe esse endowment, e
eu me lembro dela ter dito: eu fiz um investimento de viúva, um investimento
seguro, que foi comprar imóveis. A ABEP tem propriedades por conta desse
endowment, e recebe aluguéis. Eu me lembro que um dos imóveis, uma sala, que
compramos na área nobre, hoje não é mais área nobre, é lá naquela região de
Higienópolis, que virou uma área conturbada.
George Martine – Que eu saiba, os primeiros grupos foram os de gênero e meio
ambiente, que receberam financiamento especial da Fundação MacArthur.
SEXUALIDADE E REPRODUÇÃO
“Na maioria dos estudos sobre fecundidade da população brasileira vêm sendo utilizados dados provenientes dos
Censos Demográficos e mais recentemente se lança mão de informações procedentes do Registro Civil.
Porém, nos últimos anos, pode-se observar que a ABEP está se preocupando gradualmente com a abordagem
das variáveis intermediárias no estudo do comportamento reprodutivo. No II Encontro Nacional de Estudos
Populacionais, realizado em Águas de São Pedro, 1980, se fez alusão à redução da libido ou a mudanças no
comportamento sexual dos brasileiros como um possível fator, dentre outros, da queda da fecundidade no
Brasil. Por ocasião do III Encontro Nacional da ABEP, ocorreu uma sessão complementar intitulada ’Mulher,
Família e Reprodução’ (...) nesta, foi colocado que a maior parte dos estudos e pesquisas sobre o comportamento
reprodutivo no Brasil não tem se preocupado com o comportamento sexual do qual resulta a fecundidade.
Ainda se criticou que os estudos pretendem estabelecer relações diretas entre as variáveis sócio-econômicas e o
comportamento reprodutivo.
No momento, dentre os grupos de trabalho constituídos para o IV Encontro Nacional de Estudos Populacionais,
existe um sob a epígrafe ’Sexualidade e Reprodução’. O Comitê do Grupo de Trabalho organizou o seguinte
temário: a) as relações entre os sexos em questão; b) a constituição da sexualidade; c) sexualidade e identidade;
d) casamento e outras formas de relacionamento sexual-afetivo; e) planejamento familiar.” (Informativo
Abep, n° 18, julho-setembro/83).
52
XIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais,
Ouro Preto, Minas Gerais, 2002
Paulo Paiva – (...) eu acho que a minha contribuição até foi maior do ponto
de vista de gestor, de organizar, de captar recursos. Organizamos um encontro,
com uma certa facilidade de recursos. Eu brincava, na época, que os encontros
me permitiam gerar renda para a ABEP. Fazia os projetos, captava os recursos
e acabava gastando menos, então você tinha uma certa facilidade. Financiava
todo mundo. (...) bons tempos, exatamente. Eu me lembro que nós conseguimos
recursos, o João Sayad era ministro de Planejamento, conseguimos recurso no
Ministério de Planejamento também para a ABEP. (...) eu tenho a impressão
que mais ou menos foi o fim desse ciclo de uma certa bonança financeira.
Depois a crise atingiu o setor público e foram cortando os financiamentos.
A ABEP teve depois que se ajustar e reduzir a diretoria. Mas foi um período
muito interessante.
Eduardo Rios-Neto – (...) eu consegui captar um recurso para a ABEP, ou
seja, para o encontro da IUSSP, por intermédio da ABEP, internacional, que foi
uma grant, que a gente conseguiu da Hewlett Foundation, a gente submeteu, eu
fiz a consulta, a gente submeteu à Califórnia, e a Hewlett financiou parte dessa
assembléia, e financiou (...) um pouco da troca era que a gente usaria o recurso
da Hewlett para pagar passagens e diárias de latino-americanos no encontro
de Salvador. Acabou que o recurso, nós conseguimos poupar um pouco, porque
53
houve muito recurso, nós fomos muito bem sucedidos por esse encontro de
Salvador. E parte desses recursos foram usados para o encontro de Ouro Preto,
em 2002, onde foi de fato criada a ata, assinada a ata de criação da ALAP. E foi
aí o pontapé inicial para a ALAP.
Coleta Oliveira – Mas a Anpur, que é uma entidade mais nova, faz encontros
quase que do tamanho da ABEP, ou maiores. Com uma estrutura bem menor,
não financiando quase ninguém. E nós ainda temos a coisa do financiamento,
tem que estar sempre nos projetos de financiamento com amplos recursos
para financiar, apesar de a gente já ter apertado um pouco essa história do
financiamento, mas a gente tenta encaixar, na verdade. E a gente não passa de
500, 600.
Eduardo Rios-Neto – (...) eu me surpreendi muito com o encontro da Anpur,
realizado em Salvador, com o crescimento do encontro da Anpur, o número
de jovens, a diversidade temática, e o fato que a Anpur não subsidia ninguém.
Todo mundo que estava lá, estava pagando.
Ah, os encontros! Os encontros da ABEP, que ocorrem a cada dois
anos, são momentos de grande efervescência na demografia brasileira.
Aguardados com ansiedade, tanto por estudantes quanto por profissionais,
os encontros são um período de intensa e profícua discussão acadêmica.
São, ainda, momentos para rever velhos amigos. Mas por que a cada dois
anos?
Eu me lembro aqui de um fato
interessante. Não sei se no terceiro
ou quarto encontro da ABEP,
alguém ousou indicar o nome de
alguém da Bemfam para o conselho
fiscal da ABEP. Houve um tremendo
rebuliço, e essa pessoa não pôde ficar
no conselho fiscal, que não manda
coisa nenhuma, (...) mas era algo que
a gente entendia de vida ou de morte
para nós.
Autor anônimo
54
José Alberto Carvalho – Eu não me lembro exatamente [o porquê dos
encontros a cada dois anos], mas na verdade havia um de problema de recursos.
Primeiro, não se deve esquecer que, contrariamente à economia, a demografia
tinha muito poucos centros e instituições nas quais se ancorar. Na realidade o que
havia? Havia o IBGE, um pouco, um pouco Fundação Seade. No caso o Cedip
já tinha sido fechado há muito tempo, inclusive antes da fundação da ABEP,
ainda não havia sido criado o Nepo, e havia o Cedeplar. Não se tratava apenas
de um problema de recursos financeiros (...). E havia, obviamente, o Cebrap.
Então era muito difícil organizar os encontros. A Anpec sempre organizou os
encontros dela anualmente. Nós não tínhamos condição, e na realidade nunca
se chegou a defender, pelo que eu possa me lembrar, que os nossos encontros
fossem anuais. Existiam poucos centros, nós não éramos muito numerosos em
termos de pessoas, poucos centros, isso exigia um esforço muito grande. (...)
e como começou a funcionar bem, cada vez com mais trabalhos, de melhor
qualidade, os encontros sempre funcionaram não apenas como um lugar para
discussões acadêmicas, mas de convivência, de reencontro. (...) eu não me
lembro de qualquer proposta para que se passassem a encontros anuais.
Os encontros do passado eram pequenos, sem sessões simultâneas. Hoje,
com a expansão da demografia através dos cursos de pós-graduação e das
temáticas tratadas, os encontros reúnem algumas centenas de participantes.
Desde o início, os encontros são um fórum privilegiado de discussão.
Diana Sawyer – Obviamente, você vê aquela ABEP que foi fundada, que
nasceu pequena, o grupo de demógrafos era bastante limitado e (...) tudo era
festa, era tudo muito divertido. A gente se conhecia, e conhecia todo mundo
que participava [dos encontros]. Não tinha uma pessoa que aparecia, que a
gente não soubesse quem era. (...) hoje, você vai para a ABEP, eu acho que não
conheço 90% das pessoas que estão lá.
No 4º Encontro, em Águas de São
Pedro, era a Elza a presidente, e a
escolha da capa amarela, tinha um 4,
porque era o 4º Encontro. Mas a capa
era amarela, e isso era o símbolo das
Diretas Já. Era amarelo por causa das
Diretas Já, era o ano das Diretas Já. O
que mostra que a atividade da ABEP
estava imersa na vida política do país.
Isso era muito forte. Os discursos, os
homenageados, era muito presente
esse nosso compromisso com a vida
política, com as ideologias e tal.
Neide Patarra
George Martine – Nas primeiras cinco, sei lá quantas reuniões [Encontros],
talvez até mais, talvez primeiras 7 ou 8 reuniões, todo mundo assistia tudo. Não
tinha muita alternativa. A não ser eventualmente um cursinho sobre como usar
o WordPerfect, na época era o WordPerfect. Fora isso, você tinha obrigação de
assistir e aprender alguma coisa sobre temas sobre o qual não era especialista.
Hoje em dia, dado esse crescimento, dado o êxito da ABEP de sair de um
grupinho, que na primeira vez, eu não sei quantos éramos, creio que (...) são 52
pessoas que assinaram o documento de fundação da ABEP. Hoje em dia temos,
facilmente, várias centenas de pessoas. Então, até por causa disso é muito difícil
ter todo mundo no mesmo evento ao mesmo tempo, e é necessário dividir. E
com isso, pode ser que se perca um pouquinho da capacidade de dialogar entre
disciplinas e de aprender uns dos outros. Mas isso é praticamente inevitável.
Acho que ninguém lidou com isso perfeitamente nas outras instituições,
associações que eu vejo.
Coleta Oliveira – Era uma coisa muito menor. Não tinha essa partição que tem,
daqui a pouco, a especialidade é o meu dedinho do pé (...). Eram os grandes
componentes da dinâmica populacional, fecundidade, mortalidade, migração,
com alguma abertura para nupcialidade, que sempre foi o patinho feio, porque
não tinha muitos estudos nessa área. Então, família entrava em fecundidade,
os temas iam indo por aí. Depois, a coisa da força de trabalho surge como
55
ORGANIZAÇÃO IV ENCONTRO
Comitês de Trabalho (Responsáveis pela coordenação e acompanhamento dos trabalhos a serem apresentados e
discutidos durante a realização do Encontro)
1. A dinâmica Demográfica em situação de crise;
2. Processos sócio-econômico e demográfico numa perspectiva histórica;
3. Técnicas de análise demográfica;
4. Diferenciais demográficos regionais e seus determinantes;
5. Sexualidade e reprodução. (Informativo Abep, n° 18, julho-setembro/83).
uma subdivisão. Eram grandes divisões. Os encontros eram menores, mas a
gente não tinha ainda essa coisa dos alunos participarem, a gente não tinha
pós-graduação. Talvez o Cedeplar já tivesse, nessa época, mas não tinha grande
participação dos estudantes. Eram mais pesquisadores, titulados ou não, porque
muita gente não tinha titulação ainda, a pós-graduação no Brasil ainda era
incipiente. Muitas vezes as pessoas iam fazer mestrado e doutorado já mais
velhas, já tendo tido atividade profissional antes.
Daniel Hogan – Eu acho que os Encontros, em primeiro lugar, são um fórum
importante, talvez mais ainda numa área como a demografia. Importante porque
conseguiram manter a coesão, em torno de pessoas que estavam, todos da ABEP,
desde sempre, e outras pessoas, que podem mudar de encontro em encontro. Tem
período de participação maior ou menor, mas era preciso manter essa coesão. Por
que eu digo mais na demografia? Porque as pessoas, fora aquelas que estavam nos
dois departamentos [Cedeplar e Nepo], estavam nos departamentos de história,
departamento de estatística, faculdades de medicina, ou no órgão de estatística
do Estado, do município. E era muito fácil as demandas institucionais tirarem
as pessoas dessa central de demografia. (...) sem a associação, sem o encontro de
dois em dois anos, para motivar as pessoas a continuar a manter essa identidade
de estudos de população, eu acho que não teria acontecido. Então, o encontro é
muito importante nesse sentido. É interessante, você já participou o suficiente
nos encontros da ABEP, para saber o alto astral que são os encontros da ABEP.
Não sei se você vai poder captar nas suas entrevistas alguma pista que explique o
alto astral nos encontros da ABEP.
PMR – Qual é a sua hipótese?
Daniel Hogan – Não sei. Mas a verdade, talvez por ser pequeno, ajuda. Por
ser, não digo marginal, mas por não ser uma área central, é mais importante
56
para nós estar lá, porque não era só apresentar o paper, era reafirmar a entidade,
encontrar as pessoas. Acreditar que aquilo que você está fazendo é importante,
que vale a pena e estávamos todos ali, acreditando que é importante. A verdade
é que, sem ter todos os elementos para explicar, o encontro da ABEP tem um
alto astral. E a prova disso são os não-abepianos, os participantes ocasionais.
Você fala com eles, eles notam isso, chama atenção.
Eduardo Rios-Neto – O fato é que a área de demografia cresceu muito. O meu
temor é que, fechando a ABEP, há uma volta às origens, o risco é de você excluir
o próprio demógrafo que nós estamos formando. Porque a diversidade da área
de demografia que nós estamos formando cresceu o suficiente para ter encontros
grandes. Em outras áreas profissionais, esses encontros grandes estão ocorrendo.
Quer dizer, eu não vejo porque a demografia deveria ser diferente. (...) a pósgraduação no Brasil está crescendo. Se a associação se fechar a essa realidade, eu
acho arriscado. Eu acho que se tem algum sinal que o encontro de Ouro Preto
[em 2002] mostrou, é que a demografia e a temática dos encontros da ABEP são
atrativos o suficiente para mobilizar mais de 500 pessoas. (...) eu não acho que
você ter 500, 600 pessoas no encontro da ABEP, hoje, seja populismo. Eu acho
que é a realidade da complexidade temática da demografia.
De fato, uma especificidade da demografia é o seu caráter interdisciplinar.
Como reflexo disso, cada uma das instituições de ensino é ligada a uma
determinada vertente, a uma determinada disciplina.
Elza Berquó – O Cedeplar teve inicialmente uma marca ligada à economia. Você
tem a demografia, mas tem uma marca. A nossa lá [no Cedip] era uma marca
ligada mais às ciências sociais. Por quê? Porque [tinha] o Cândido Procópio, a
Neide etc., a marca era essa. É muito interessante você ver como os grupos de
demografia vão se desenvolvendo, e cada um com as suas marcas. Por exemplo,
se você olhar para a ENCE, por exemplo, a ENCE já tem uma marca de escola
de governo. Por quê? (...) é muito mais, ou era, muito mais voltada, digamos,
para essa parte de políticas públicas, administração, (...) preparação de quadros
para o governo. Porque o seu nascedouro se dá aí. É muito interessante porque
a disciplina vai se ampliando, felizmente, e vai guardando as suas marcas.
Paulo Paiva – A outra dimensão disso, que eu acho interessante, é uma certa
especialização em alguns centros. Por exemplo, é natural que no Cedeplar a
CONGRESSOS SEMINÁRIOS
CONFERÊNCIAS - Seminário
Metodológico
“A ABEP promoverá nos dias 6,
7, e 8 de junho de 1984, em Ouro
Preto (MG), o III Seminário
Metodológico sobre os Censos Demográficos.” (Informativo Abep,
n° 20, janeiro-março/1984).
57
especialização se concentrasse mais nas relações da demografia com economia,
a inserção no centro, diferentemente no Nepo, uma relação mais com ciências
sociais, ou com políticas públicas, que a Unicamp tem um centro interessante
nesse campo.
Voltando aos encontros, na perspectiva da diretoria, eles vêm
acompanhados de enorme responsabilidade.
Eduardo Rios-Neto – (...) o grande desafio e o grande pesadelo [de todo
presidente] é conseguir fazer o encontro. O abepiano coloca tanto peso no
encontro, que se você não fizer nada, mas conseguir realizar o encontro, você
pelo menos sai inteiro. Esse foi sempre meu lema. Quer dizer, se não fizer nada,
mas saiu o encontro, pelo menos você não vai para a fogueira.
(...) se eu não me engano, já no
primeiro encontro depois de fundada
a ABEP, em Campos de Jordão, a
gente levou os anais antes. Eu me
lembro da Carmen Miró dizer: isso é
fantástico, eu nunca vi isso, a não ser
com os europeus, americanos. Mas
nós, os cucarachos? E aqueles anais, a
gente tirava xerox, a gente juntava na
véspera as folhinhas, grampeava.
Neide Patarra
A verdade é que os encontros da ABEP têm uma magia especial, que faz
com que seus participantes se sintam bem. O depoimento de Frank Goza, na
4a capa do livro, ilustra bem esse sentimento. Além dessa magia, existe todo
um carinho com que as diretorias preparam seus encontros, carinho este que
se reflete em cores, sabores e muita diversão nos bailes.
Neide Patarra – E ao mesmo tempo o cuidado estético, vamos publicar (...).
Não só [fazer a publicação], mas tem que vir bonita. As faixas são bonitas,
o baile é bonito. É uma coisa que vem desde o começo e que marca muito a
ABEP.
José Alberto Carvalho – (...) sempre se procurou também dar uma certa
atenção não apenas à alma, mas também ao corpo, através dos nossos bailes
(...).
Daniel Hogan – É muito legal chegar num encontro da ABEP e ver essas
pessoas que se gostam, se respeitam. Não é a mesma coisa que ir para um
encontro da Anpocs ou de outro congresso qualquer. É um relacionamento
que você se sente em casa, eu acho que muita gente sente isso. Acho muito
positivo.
Neide Patarra – (...) ele [Paulo Paiva] sempre dizia: a ABEP é a associação
mais charmosa. Chamava de charmosa.
58
É impossível pensar nos encontros da ABEP sem que a minha memória
me leve de volta ao VII Encontro, o primeiro realizado em Caxambu e o
primeiro do qual participei, em 1990. Afinal, o primeiro encontro a gente
nunca esquece. Na mesa de abertura, me lembro nitidamente da Ana Amélia
Camarano, secretária da ABEP, vestida de vermelho, decote canoa, dando
as boas-vindas aos participantes. No enorme quarto do Hotel Glória, havia
quatro camas de solteiro, ocupadas por mim e pelas outras três bolsistas
do Eduardo Rios-Neto – Denise Campos, Emília Paiva e Mônica Vieira,
carinhosamente apelidadas por Edson Nunes de “eduardetes”. Neste
Encontro, eu – formada em Economia havia um ano, já tendo aplicado
para o mestrado em Demografia do Cedeplar – fiz a minha estréia na vida
acadêmica, apresentando meu primeiro trabalho, em co-autoria com meu
(então) orientador. Na noite da véspera da apresentação, passei algumas horas
recostada dentro da banheira vazia, a treinar exaustivamente a minha fala,
enquanto minhas amigas dormiam. Meu grande temor eram as perguntas
que por ventura fossem feitas, para as quais eu não me sentia preparada.
Quando Jorge Jatobá, coordenador da mesa, abriu a palavra para a platéia,
me lembro do frio na barriga que senti quando o Paulo Paiva levantou a mão
e disse “Eu tenho uma pergunta para a Paula”. Houve, ainda, uma segunda
pergunta, feita pelo Carlos Pacheco. Não me lembro do teor das perguntas
e, muito menos, das respostas, mas a sensação daquele momento continua
muito viva na minha memória.
VI Encontro Nacional de Estudos Populacionais,
Olinda, Pernambuco, 1988
59
Eduardo Rios-Neto, o único presidente que não viveu a fundação da
ABEP, também tem recordações do seu primeiro Encontro. Sua fala remete
ao relato de Tom Merrick, na introdução deste livro, quando ele fala da
importância do programa de bolsas da Fundação Ford para a capacitação
de demógrafos no País. Eduardo Rios-Neto é, sem dúvida, um exemplo de
sucesso daquele programa.
Eduardo Rios-Neto e filhos
60
Eduardo Rios-Neto – (...) a ABEP não existiu para mim até meu retorno
[do doutorado, em dezembro de 1986]. Eu praticamente conheci a ABEP no
doutorado, talvez no mestrado já, em termos de leitura de anais, leitura dos
clássicos. Mas havia pessoas famosas, como a Elza [Berquó], a Neide Patarra,
que eu conhecia de nome. A Elza, no caso da fecundidade, a Neide no caso
da migração. Eu conhecia de nome, de referência. Mas, no fundo, eu conhecia
só o pessoal do Cedeplar. (...) a outra pessoa que eu tive referência rápida (...)
foi com a Coleta [Oliveira]. (...) mas eu nem conhecia a Coleta. (...) quando
eu retornei, a ABEP para mim era um mistério. Eu conhecia muito pouco
da ABEP. Tinha alguns contatos no IBGE, mais por causa da minha tese de
mestrado, particularmente com o Luiz Antônio [Oliveira]. (...) era um trio
quase inseparável, eu conhecia o Celsinho [Simões] e o André Médici, que
faziam parte lá do Depis, qualquer que fosse o código na época. Mas nunca
no ambiente ABEP. (...) conhecia praticamente todo mundo do Cedeplar,
mas conhecia pouco da demografia paulista e carioca. (...) o primeiro encontro
que fui foi o de 88, em Olinda. (...) o encontro foi fantástico. Para mim foi
um encontro marcante, porque foi o primeiro, foi o contato que eu tive. Eu
retornei em dezembro de 86, praticamente comecei a dar aula em 87. E fiz
a minha primeira pesquisa de campo em 88, com o Franklin Goza, que era
Rockfeller Fellow no Cedeplar. Nós fomos estudar a migração sazonal do corte
de cana, do pessoal do Médio Jequitinhonha para a região de Ribeirão Preto.
No primeiro encontro da ABEP que fui, que era esse de Olinda, em 88, a gente
já tinha resultados da primeira parte da pesquisa empírica, que foi a parte que
nós fizemos no Vale do Jequitinhonha, em 87. (...) então, minha participação foi
muito marginal, foi de migração. Eu era o “júnior” do Cedeplar. O Zé Marcos
[Pinto da Cunha] talvez tivesse começando. Eu lembro da Rosana [Baeninger]
e da Marta [Rovery], mas como alunas, eu já não era mais aluno. O Zé Marcos,
acho que já não era aluno também, mas eu e Zé Marcos tivéssemos mais ou
menos essa mesma data de inserção, não conhecia muito o Zé Marcos. Outro
episódio que eu lembro é que participei, talvez até de uma forma um pouco
imatura, discutindo alguns resultados, da avaliação de alguns trabalhos de
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS DE POPULAÇÃO
“A proposta de criação de uma Revista da ABEP foi aprovada por ocasião da Assembléia Geral,
no III Encontro Nacional.”
(...) A idéia da criação de tal tipo de periódico, consubstanciada na mencionada proposta, vem se
expressando no seio da ABEP, há algum tempo e, pode-se dizer de maneira sucinta, que deriva
das seguintes considerações:
1) A ausência de uma publicação periódica, especializada, de âmbito nacional, versando sobre
assuntos populacionais;
2) A relevância da produção científica brasileira na área de população, como atestam os Anais
do I, II e III Encontros Nacionais da ABEP;
3) A importância da divulgação de assuntos e questões populacionais num momento de mudanças
acentuadas da dinâmica demográfica no Brasil;
A importância didática e de subsídios a órgãos públicos que tal divulgação deverá representar.”
(Informativo Abep, n°21, junho-abril/1984, p.5).
relatórios de andamento do programa ABEP-Ford. Eu acho que talvez tenha
sido o último ano do programa ABEP-Ford. E eu tinha sido beneficiado por
esse programa ABEP-Ford. A minha única interação com a ABEP antes desse
evento foi uma interação importantíssima. Eu tive uma bolsa da Fundação
Ford, no programa ABEP-Ford, para a minha dissertação de mestrado. Talvez
tenha sido a primeira grant da minha vida, fora a bolsa do CNPq. Eu lembro,
pelas fofocas, o professor que teria avaliado o meu projeto teria sido o professor
Cândido Procópio, que tinha gostado muito. Eu nem tive o prazer de conhecêlo, ele faleceu antes de eu retornar ativamente para a demografia. Mas houve
controvérsias se o meu projeto era mesmo de demografia, ou se não era de
economia do trabalho. Então minha bolsa ficou em suspenso até que o professor
Kerstenetzky me entrevistasse. O professor Kerstenetzky foi ao Cedeplar, me
entrevistou, e eu tive que convencê-lo de que minha tese não era economia,
era demografia. Eu acho que ele teve uma certa boa vontade comigo (...), mas
então a ABEP entrou na minha vida, primeiro, via ABEP-Ford. (...) deve ter
sido em 80, 81. (...) eu acho que a última versão do programa ABEP-Ford foi
exatamente em 88. Essa coincidência eu nunca tinha pensado.
O Encontro de 1992, na Academia de Tênis, em Brasília, também foi
memorável para mim. Naquele ano, eu era aluna do 2º ano do mestrado e a
minha turma estava lá – a famosa coorte 91, turma do mestrado e doutorado
do Cedeplar, que reuniu não apenas jovens iniciantes como eu, mas também
61
Teve o caso da diarréia generalizada
no Encontro de Vitória. E olha que
estávamos num hotel do Senac. Dizem
as más línguas que foi vingança contra
a secretária [Ana Maria Goldani], que
reclamava demais com o pessoal do
hotel.
Autor anônimo.
demógrafos já famosos e estabelecidos, do calibre de Morvan de Mello
Moreira e Celso Simões. Entre outras coisas, fizemos uma excursão ao chalé
que costumava servir de moradia à já ex-ministra Zélia Cardoso de Mello.
“Nos acabamos” no baile, mas nenhuma de nós conseguiu fazer com que
o Morvan sequer levantasse da cadeira. Junto com duas colegas, levei uma
bronca feia do José Alberto – ainda consigo vê-lo sentado numa mesa redonda,
na hora do almoço, com várias pessoas, entre as quais me recordo apenas da
Marisa Magalhães. O motivo foi o fato de termos saído da assembléia antes
que ela terminasse, já bem tarde da noite. Também me lembro do pedido
de desculpas – da parte dele, obviamente – e das minhas lágrimas. Foi nesse
encontro que conheci Suzana Cavenaghi, na recepção da Academia de Tênis
– quem diria que, anos depois, nos tornaríamos grandes companheiras de
alegrias e tristezas durante o doutorado, em Austin.
Desde o meu primeiro Encontro, nunca perdi nenhum. Tive a sorte
de ter financiamento internacional para vir, no período em que estive no
doutorado – graças a Joe Potter, meu orientador. Nesse sentido, também o
destino foi camarada comigo, uma vez que meu filho Hugo e minha filha
Alice nasceram em anos ímpares.
Quem são os participantes dos encontros? Além dos associados, há uma
proporção importante de não-associados – sinal de que os temas discutidos nos
encontros atraem também os não-demógrafos. Uma característica marcante
da ABEP é a sua pluralidade. Nela encontram abrigo os profissionais das
mais diversas áreas.
(...) em todos os encontros a gente
fica até tarde, a gente bebe, a gente
canta, a gente dança, faz piada, fica até
tarde, toca, e no dia seguinte, na hora
de começar a reunião, a gente está lá
na hora certa. Nem que seja de óculos
escuros, mas está lá. Isso eu acho
uma coisa (...). E os bailes passam
a ser tradicionais. Todas as outras
associações copiaram a ABEP.
Neide Patarra
62
Coleta Oliveira – (...) uma parte das pessoas que vêm ao encontro não são
sócios da ABEP. É uma parte significativa, não são poucos. Isso tem um lado
muito legal, porque significa que o que a ABEP faz tem repercussão.
Neide Patarra – A ABEP se abria incrivelmente. Ela chamava antropólogos,
sociólogos, economistas, abria para os geógrafos, fortemente. Psicologia, medicina,
medicina social, (...) era como se (...) em torno das questões populacionais, que
compareciam ao encontro para alimentar essa concepção ampla, interdisciplinar,
aberta, sempre muito atenta às mudanças. E os temas. Por exemplo, eu me lembro
Também eram da coorte 91 Moema Fígoli, Cibele Comini César, Iúri da Costa Leite, Irineu Rigotti,
Márcia Caldas de Castro, Marília Brasil, Virgínia Pastor, Camilo Adalton Mariano da Silva, Carlos
Augusto dos Santos (o Carlão), Eleonora Santos (a Buró), Angela Oliveira, Maxwell Moreira e os
dominicanos Carmem Júlia Gómez Carrasco e Zenon Ceballos.
IV ENCONTRO DA ABEP
“Nos dias 7 a 11 de outubro de 1984 a ABEP realizou em Águas de São Pedro,
São Paulo, o seu IV Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Participaram
do Encontro 206 estudiosos da temática populacional. Entre os participantes,
destacamos a presença de profissionais vinculados a órgãos de governo e outras
instituições nacionais e internacionais de ensino e pesquisa.” (Informativo Abep,
n°23, outubro-dezembro/1984, p. 1).
que a questão de gênero entrou muito prematuramente na ABEP, como um
tema absolutamente inerente à demografia. Depois, até mesmo comportamento
reprodutivo, transformação dos arranjos familiares, homossexualismo. Esses
temas mais delicados socialmente, numa perspectiva conservadora, e que eram
inovadores também na antropologia e nas ciências sociais em geral, encontraram
na ABEP um campo fértil, um espaço de envolvimento dos próprios associados
e de um acercamento com colegas de outras áreas.
Jair Santos – Uma coisa que precisa ser dita, a ABEP nasceu no seio da
demografia, com preocupação demográfica, mas num contexto político muito
específico. A própria demografia passava por uma discussão político-ideológica
grande, entre os que a gente dizia neomalthusianos e os não-controlistas, de sorte
que os temas, eu não saberia especificar, mas os temas centrais eram voltados
para focos de discussão social, e abrigava, além dos demógrafos, abrigava um
pessoal que não encontrava espaço em outras instâncias, para suas discussões.
Minorias étnicas, enfim, organizações de homossexuais, o próprio estudante.
Isso marcou sempre os encontros da ABEP, acho que desde a primeira vez.
Ana Amélia Camarano, uma das
editoras da Rebep
Eu me lembro muito do Encontro de Campos do Jordão, acho que foi o primeiro, no Grande Hotel. (...) era noite já,
chega a Helena Lewin, que tinha sido minha professora na PUC [Rio] e era chefe do departamento da PUC. (...) ela
chega, eu não tinha visto a hora que ela chegou, e ela desceu, mas já desceu (...) rodando a baiana. Como tinham posto
ela com um homem no quarto? Ela, uma senhora, dessas pessoas que jamais sua presença seria não notada, uma mulher
enérgica, muito legal. Ela estava na época das passeatas, eu me lembro que fui suspensa, aquela coisa do movimento
estudantil. Era sempre ela que ia (...) tirar fulano da cadeia, uma mulher incrível. Mas ela desceu espumando, rodando
a baiana. Porque ela chegou à noite, em Campos do Jordão, deram a chave, ela entrou no quarto e encontrou sapatos
masculinos, num canto, uma pasta e um paletó. Então, ela estava num quarto com um homem. Como, uma mulher dessa
idade, ela, que era chefe do departamento disso ou daquilo? E fomos ver o que era, tinham posto ela com o Andréa
Calabi. Porque ninguém conhecia as pessoas. (...) O Andréa Calabi, que era um economista da USP, se inscreveu.
Andréa, mulher. Estavam no quarto Andréa Calabi e Helena Lewin. E toca a arranjar quarto para Helena Lewin, aí ela
queria um quarto só para ela. Começou assim o primeiro Encontro.
Coleta Oliveira
63
A Revista Brasileira de Estudos de População, carinhosamente conhecida
como Rebep, é mais um sinal de pujança da ABEP. Criada legalmente em
1982, a Rebep lançou seu primeiro número em 1984, sob os cuidados de sua
primeira editora, Neide Patarra. Treze anos depois, a Rebep lançaria seu
primeiro volume em inglês, durante a gestão de Ana Amélia Camarano na
editoria. Uma outra grande conquista, recentemente, foi a entrada da Rebep
no SciElo, graças ao empenho de sua editora Elisabete Bilac.
Teresa Sales, uma das editoras
da Rebep
José Alberto Carvalho – [No início] A ABEP não tinha ainda a revista, que
passou a ser um canal muito importante dentro da associação.
Daniel Hogan – [A Rebep] Foi um passo natural no esforço de consolidar a
presença de uma disciplina. Porque, ao mesmo tempo em que a gente teve que
se posicionar e crescer frente à demografia internacional, e ao mesmo tempo
em que era preciso uma certa visão crítica do neomalthusianismo, também
tinha as outras áreas de conhecimento. A demografia era uma nova área de
conhecimento. Nós somos uma área muito especializada, a demografia. Ao
contrário da sociologia, economia, filosofia ou história, que são áreas básicas
que têm que existir em qualquer universidade. Demografia não, é uma área
muito especializada. Então, a gente precisava se afirmar também nas nossas
instituições, e nesse conjunto da academia brasileira. E, ter uma revista, era um
sinal de maturidade, um sinal de atividades de vida, de nível acadêmico.
Eduardo Rios-Neto – (...) na medida em que o Nepo cresce, o Cedeplar
cresce, a ENCE cresce, e que os concursos públicos dependem de publicação
científica, eu considero que o cargo de editor da Rebep é um cargo de diretoria,
um cargo talvez até, sob o ponto de vista científico, mais honorário ou tão
honorário quanto o de presidente.
A gestão de uma associação envolve uma complicada engenharia
política. Além da preocupação com a representação regional e institucional
nas chapas que concorrem à diretoria e aos conselhos, é preciso, muitas vezes,
administrar conflitos, crises e rivalidades internas.
Carlos Eugenio, atual editor da Rebep
64
José Alberto Carvalho – Na realidade, eu acho que, dentro da ABEP, as divisões
foram muito pequenas. (..) tanto que, até hoje, nas eleições, nunca houve duas
chapas. Houve uma eleição, aliás, com uma segunda chapa, mas que morreu em
uma semana. Na minha interpretação, a maioria, para não dizer a totalidade das
grandes divergências, a não ser aquelas do início, entre o pessoal ligado mais
ao controle ou não-controle – essa era muito objetiva, era substantiva – mas as
demais, como aliás boa parte das divergências do nosso dia-a-dia, tiveram, por
origem, problemas pessoais, que às vezes tomam a dimensão institucional, mas
sem substância alguma que pudesse justificar essas dissociações. E a prova é
que, passado o auge dessas briguinhas pessoais, depois as coisas se acomodam,
sem maiores problemas.
Elza Berquó – Na minha visão, eu acho que às vezes é mais difícil lidar com as
vaidades [do que com as rivalidades]. De uma maneira geral, nunca houve uma
cisão do ponto de vista estratégico-ideológico. Nós nunca tivemos alguém que
se definisse “eu sou controlista e acho que o Brasil tem que ter uma política de
controle da natalidade”, de uma forma assim explícita. Nunca houve. Aí não sei
como nós iríamos fazer. Se houvesse duas candidaturas com posições totalmente
antagônicas desse ponto de vista, seria até muito interessante, vamos fazer o
teste. Mas eu acho que a gente teve mais conflitos de vaidade. Isso é diferente.
E talvez algum ressentimento dessa hierarquia natural que foi surgindo, São
Paulo - Minas Gerais. Eu acho que tem um sentimento de que isso precisa
mudar, em alguns ambientes. Esses grupos, às vezes até pessoas, precisam
apresentar propostas que convençam o eleitorado. Isso é política. Se convencer,
tudo bem, isso é democracia. Estamos abertos a isso. Mas é preciso que isso se
coloque, que cresça e que venha a público, de uma forma transparente, correta,
enfrentando, e colocar isso num processo eleitoral democrático. Eu acho que
tudo bem. A fogueira de vaidades é muito grande, mas ela existe em qualquer
lugar. Qualquer instância, qualquer lugar. De um lado, é até uma coisa positiva,
quando isso é construtivo. Mas quando é destrutivo, é lamentável. Mas isso
nunca abalou a ABEP. Aí que está, eu acho que temos mesmo que pensar,
que estrutura, que envolvimento, que irmandade, que solidariedade é essa que
existe, pelo menos num grupo grande de pessoas-chave para a ABEP, que não
permitiu que essas pequenas coisas invadissem o mais importante.
Eduardo Rios-Neto – Eu tive uma crise grande. A minha primeira gestão,
além da minha inexperiência, eu herdei crises políticas, que eu não tinha muito
a ver com elas, mas tudo bem, paguei o preço. Não tenho do que reclamar.
Essas coisas são processos políticos. Uma delas foi o pedido de demissão da
Ana Amélia [Camarano] da coordenação, da editoria da revista da ABEP. Isso
quebrou um fluxo da revista da ABEP (...). Publiquei a carta que a Ana Amélia
Maria Coleta de Oliveira, uma das
editoras da Rebep
CONCURSO ABEP
“A ABEP promove o VI Concurso
de Bolsas de Pesquisa sobre
Assuntos Populacionais no Brasil,
com apoio financeiro da FINEP.
O concurso visa incentivar a
análise dos diversos tipos de
fenômenos populacionais, através
de financiamento de projetos de
pesquisa.” (Informativo Abep,
n°24, janeiro-abril/1985, p.6).
65
EVENTOS - Mesa Redonda na
SBPC
“Na próxima reunião da SBPC,
que se realizará em Belo Horizonte,
no mês de julho, a ABEP terá
uma mesa redonda. O prof José
Alberto M. de Carvalho será seu
coordenador.” (Informativo Abep,
n°24, janeiro-abril/1985, p.7).
me enviou na época, tentei ser o mais honesto possível. Mas isso, para mim,
gerou um contratempo grande, (...) a revista da ABEP chegou no fundo do
poço. Ela já estava num fluxo, e essa ruptura de continuidade, até uma solução,
causou um atraso. O CNPq não renovou o processo. Enfim, foi uma luta muito
grande. Aí, a Bete Bilac teve um papel fundamental. Eu não tinha, a não ser
uma amizade cordial de encontro da ABEP com a Bete, não tinha uma relação
política com ela, ela não era do meu grupo. Ela topou pela associação. Foi
muito franca comigo, e eu dei toda liberdade para ela. Eu acho que a gente
conseguiu reerguer a revista da ABEP, no patamar que estava antes, pelo menos
para o patamar que estava antes, regularizar o fluxo. E acho que hoje ela está
muito bem. E já no final da minha segunda gestão, ela já estava muito bem, já
estava regularizada.
Um dos conflitos que vez por outra se torna mais visível é a questão
da alternância da presidência entre Minas e São Paulo, numa reedição da
política do café com leite. Na visão dos entrevistados, essa alternância é, em
certa medida, conseqüência da maior concentração de demógrafos nestes
dois estados, em grande parte explicada pelos cursos de pós-graduação lá
existentes. São exatamente as instituições que sediam as pós-graduações que
oferecem maior possibilidade de apoio institucional. Com o fortalecimento
da ENCE, esse cenário deverá mudar. No entanto, há divergências com
relação a essa necessidade de apoio atualmente.
José Alberto Carvalho – Primeiro, você tem que ter uma base institucional.
Tanto que, na sucessão da Elza, se não me engano, foi oferecida ao Hélio Moura
a presidência. Ele então, não sei se estava no (...) nordeste, ou já na (...), ele
declinou o convite. E o argumento era a falta exatamente de uma base. Em algum
momento foi oferecido também a alguém do IBGE, também declinaram. Tem
que se reconhecer que há uma boa concentração da produção, tanto de recursos
humanos quanto de pesquisas, nesses dois centros, Cedeplar e Nepo, então há um
peso político maior, mas também como programa de apoio institucional.
Elisabete Bilac, uma das editoras da
Rebep
66
Coleta Oliveira – Eu acho que isso reflete ainda o poder institucional. Não só
poder no sentido bom de controle, mas no sentido de adensamento da massa
crítica na área, porque você tem dois programas. O leite é mais forte do que o
café, até, porque mais consolidado. Mas tem uma outra tradição, que não tem a
ver só com a consolidação do programa na Unicamp, mas as pessoas que estão
lá têm história, que estão fora dela e tal. Eu acho que isso é meio inevitável. Eu
acho que não é à toa que a ENCE propôs a criação de um mestrado. Eu acho
que parte da motivação, e legítima, teve a ver com o repaginar de um espaço
institucional para a demografia no Rio de Janeiro. (...) eu acho que a tendência
(...) é do Rio novamente ser um pólo. Então, o café-com-leite vai se romper, ou
vai se flexibilizar com a consolidação [do programa da ENCE].
PMR – Colocar cana-de-açúcar e fazer um café-com-leite docinho.
Coleta Oliveira – É. Ou pôr o carnaval. (...) eu costumo dizer que não existe
assento garantido, cadeira cativa na diretoria da ABEP. Mas é claro, se não
tiver alguém do Cedeplar, não tiver alguém do Nepo, é esquisito. Parece que o
Cedeplar e o Nepo têm cadeira cativa na ABEP. Eu acho que não têm.
Daniel Hogan – Nós tentamos muitas vezes, eu pessoalmente tentei muito,
tanto no IBGE quanto na Fundação Seade, convencer alguém a ser candidato
a presidente. Porque eu achava que esse ressentimento com foco no troca-troca,
tinha uma base legítima também. Eu não consegui, mas não foi por falta de
tentar. O que me disseram foi que eles não tinham, se chegasse algum momento
que precisasse tomar uma posição, não tinham grau de autonomia para agir.
Diana Sawyer – Hoje, com essa coisa de internet, você pode fazer reuniões,
você pode fazer reuniões à distância. Eu acho que esse apoio institucional não
é fundamental. Pode ter sido no início da ABEP, essa coisa de correio. O apoio
que eu recebi do Cedeplar foi zero. Zero, não quero dizer zero, eu tinha sala,
eu tinha as coisas todas. Mas a ABEP contratou secretária, a ABEP comprou
computador, a ABEP comprou isso. O Jacques [Schwarzman, diretor da FACE
fez o] (...) acordo de correio. Foi assim.
Daniel Hogan – (...) alguns anos atrás, teve um movimento de interromper
essa política do café-com-leite (...) era um presidente fora do eixo (...) MinasSão Paulo, São Paulo-Minas. De certa forma, é um saudosismo de um período
quando todos eram mais iguais, em termos de quantos não eram consolidados
enquanto centros de pesquisa, um certo ressentimento da predominância de
dois centros. Isso é inevitável. Quando se começa a produzir demógrafos, você
amplia a produção de pesquisa, publicação, é um círculo virtuoso. Você consegue
começar, consegue garantir mais vagas, vai crescendo, vai consolidando. E isso
não aconteceu em outros lugares, ao contrário. Se a gente olhar os centros que
eram importantes nos anos 70, a gente vê que Paraná nem área de concentração
EDITORIAL
“(...) No próximo ano estaremos
comemorando os 10 nos da ABEP.
Faremos nossas comemorações através de um intenso programa de
seminários e publicações, que culminará com a realização do V
Encontro, em outubro, em Águas
de São Pedro. O eixo condutor deste
programa será a ampla discussão
da nova constituinte brasileira.”
(Informativo Abep, n°26, setembro-dezembro/1985, pp. 1,2).
67
tem mais, na História. Na Saúde Pública, a Stella [Levy] e o Jair [Santos]
saíram de lá. Bahia agora vai segurando, mas Guaraci [Souza está sozinha]
(...) todos os nossos formandos – nossos, do Cedeplar e do Nepo – ainda não
fincaram pé para criar os programas e criar uma densidade parecida nas várias
instituições. Eu acho que talvez no futuro isso vá mudar.
O momento da sucessão é quando, em geral, as diferenças se manifestam.
Neide Patarra – Quando eu fui lançada candidata, era para ser o [George]
Martine. (...) era a sucessão do Paulo [Paiva]. Era para ser o Martine. Por uma
série de avaliações, naquele momento, tinha uma coisa assim: o Martine era
representante de uma associação internacional; o Martine não era brasileiro.
Então, foi uma coisa delicada (...). Mas era uma decisão, todo mundo explicou
para ele.
Daniel Hogan – Aquele momento da minha sucessão, acho que foi no meu
segundo mandato, que o Jair [Santos] foi candidato. (...) naquele momento,
naquela pressão para ter presidente fora de Cedeplar e Nepo, havia um grupo
que propôs uma outra candidatura, Jair. (...) Jair é um amor de pessoa, muito
inteligente, um amor de pessoa.
V ENCONTRO – Prêmio ABEP
10 anos
“Estabeleceu-se, como parte das
comemorações do décimo aniversário da ABEP, este prêmio para
trabalho inédito ou publicado,
de caráter científico teórico ou
empírico, qualquer tema da área
de estudos populacionais, e se autor
deverá ser associado à ABEP.”
(Informativo Abep, n° 28 setembro-dezembro/1986, p. 3).
68
Jair Santos – (...) me dispus, uma certa ocasião, a ser porta-voz de um grupo
que, sem inimizades ou sem críticas pessoais, mas que tentava ampliar um pouco
essa prática. Isso foi (...) 1996, eu acho. Acabei me candidatando à presidência,
acho que foi a primeira vez que teve (...) duas chapas. Tenho a impressão de
que foi a primeira vez. Acabou não se consumando, porque afinal eu acho
que, eu pelo menos não estava na disputa de poder, estava na disputa de um
princípio, de uma causa. Então houve um acordo político, (...) acabei retirando
minha candidatura. Mas devo confessar para você que parte da moçada que me
apoiava veio reclamar da [retirada da] candidatura. Eu acho que tinha lá uma
juventude que queria (...) mudanças. Eu não sei, não sei se seria conveniente.
Aliás, é muito difícil dizer, já dizia o filósofo, difícil dizer como seria, se não
fosse.
Eduardo Rios-Neto – (...) houve o risco de sair uma chapa de oposição a mim,
no final da minha primeira gestão [2000]. A mim, que eu digo, é à diretoria.
Que estava associado (...) com uma série de insatisfações, mas de grupos que
eu mesmo não julgava que fazia parte. (...) talvez seja o maior momento de
Reunião de criação da ALAP (XIII Encontro Nacional de
Estudos Populacionais, Ouro Preto, 2002). Da esquerda para a
direita: Raúl Oddone (Paraguai), Fernando Lozano (México),
Jorge Bouzá (Paraguai), Ricardo Tavares (Brasil), Magdalena
Chú (Peru), Adela Pellegrino (Uruguai), Alejandro Giusti
(Argentina).
instabilidade meu nesses quatro anos, porque eu fui diretamente atingido,
pessoalmente, sem saber porquê, achando que estava tentando fazer o certo.
E por causa de brigas seculares, que eu mesmo nunca fiz nenhum esforço para
tentar entender muito, e não estava muito interessado. (...) a política não é
neutra, isso obviamente eu sempre soube, (...) acaba você comprando as brigas
de quem te apoiou. Eu achei que era superior a isso, e nesse episódio ficou
muito claro que eu não era superior a isso.
Elza Berquó – A sucessão, pelo menos até agora, não tem sido feita com
traumas. Eu não vejo traumas. Não vejo.
Além da política interna, há que cuidar também da política externa. A
ABEP tem relações com associações de população internacionais, participa,
enquanto instituição, de forma ativa em conferências internacionais e tem o
reconhecimento e a liderança não apenas regional, mas internacional.
Coleta Oliveira – (...) a ABEP foi a primeira associação a ser formada. A
gente tinha uma interlocução latino-americana através do Clacso, dos grupos
de trabalho do Clacso, em que eu também entrei. Eu me lembro, grávida,
participando de uma reunião do Clacso no Guarujá. Foi nesse início. Teve
algumas reuniões, eu não ia muito a essas reuniões. A primeira reunião fora do
69
Grupos de Trabalho
Foram definidos três grupos de
trabalho para este ano:
-Panorama da população brasileira;
-População e Constituinte;
-Censo Demográfico de 1990.
(Informativo Abep, nº 29, janeiro-abril/1987).
Carmen Miró e Daniel Hogan em passeio
com as famílias
70
Brasil que eu fui, foi a do México, em 74, eu acho. Eu estava nos Estados Unidos,
fui dos Estados Unidos. Foi uma reunião que foi o [ José Arthur] Gianotti, um
trabalho sobre família. Porque na verdade, o que eu digo naquele artigo também
para o número especial da revista, era uma área de financiamento que tinha
dinheiro, a Ciências Sociais não tinha dinheiro, então uma série de expoentes
das Ciências Sociais, ou da (...), tiveram que entrar nesse tema. O Fernando
Henrique [Cardoso], por exemplo, estava no projeto da pesquisa nacional de
reprodução humana. Porque era a forma de financiamento da subsistência
dessas pessoas. Até o Gianotti, leva um trabalho sobre família – eu me lembro
que não entendi nada – para o México. Eu me lembro de ir a Cancun com o
Gianotti. A Helena Lewin estava nessa reunião também. Enfim, a Ciências
Sociais do Brasil, e acho que da América Latina, com toda a onda das ditaduras
na América Latina, foram absorvendo pessoas, que foram sendo instigadas a
pensar nas questões demográficas como um recurso de sobrevivência. A Ford
fez isso, o Procópio teve um papel muito importante no Brasil, como a Carmen
Miró teve no Chile, pegando outros países da América Latina.
Paulo Paiva – A comunidade científica, na área de ciências sociais no Brasil,
sempre teve uma relação muito forte com a América Latina. Hoje eu falo
desse tema até com mais conhecimento porque, depois de passados quase
seis anos cuidando da América Latina, eu pude entender bem, ter hoje um
coração muito mais latino-americano do que eu tinha no passado. Nós tivemos,
por várias razões, uma ligação muito forte, na comunidade acadêmica, que é
diferente da sociedade brasileira como um todo. Nós, talvez por questões de
língua, nós sempre demos as costas para a América Latina. Mas a comunidade
acadêmica não. Por algumas razões. Acho que a Fundação Ford ajudou um
pouco, porque ela atuou aqui em alguns países, num período em que os regimes
militares afetaram esses países simultaneamente. (...) e a América Latina tem
uma instituição, que outras regiões do mundo não têm, que é a Cepal. A Cepal
teve a capacidade de congregar cientistas sociais latino-americanos, não só
economistas, mas também outros cientistas sociais, que de alguma forma criou
uma teia de relação, que depois foi se desenvolvendo. E foi criado também
o Pispal, que era uma tentativa de organizar os centros de pesquisa latinoamericanos, para coordenar e definir a política de investimento de pesquisas
em ciências sociais na América Latina. Então você tinha várias instituições:
Fundação Ford, no caso população, Population Council, Nações Unidas etc.
A idéia era criar tipo um consórcio para garantir que nós definiríamos, nós,
latino-americanos, quais eram as prioridades, não definidas de fora para dentro.
Isso, eu acho que tem um pouco origem e inspiração no papel que a Cepal
teve na definição da política econômica para a região. E também, além da
Cepal, tínhamos o Celade. Instituições não são feitas do abstrato, são feitas por
pessoas. E a América Latina teve a felicidade de ter pessoas muito fortes. Na
demografia, certamente Carmen Miró teve um papel fundamental nessa coisa
toda. Com Elza Berquó, aqui no Brasil, essa articulação latino-americana pôde
se construir.
Daniel Hogan – Era interessante ver que, nesse momento [de preparação para
a Conferência do Cairo, em 1994], a demografia brasileira já era conhecida,
no âmbito dos que se preocupavam com população. Quer dizer, não só o
mundo acadêmico, que já conhecia, já sabia o que era a demografia brasileira,
mas também os órgãos nacionais e internacionais. Tinha o retorno para a
demografia brasileira. Eu acho que inclusive um dos critérios que a gente teve,
quando a gente estava procurando o presidente depois de mim, era justamente
ter uma pessoa que soubesse dialogar com a demografia internacional, alguém
que tivesse o respeito da demografia internacional, porque estava num
período entre o encontro de Cairo e o encontro de Salvador. Eu acho que esse
período, os anos 90, marca entre o encontro das Nações Unidas e o encontro
SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA: COMISSÃO DE
ESTUDOS PARA A CONSTITUINTE.
“A SBPC organizou uma comissão especial para elaborar propostas para a Constituinte,
referentes à Ciência e Tecnologia. O âmbito da proposta é amplo, incluindo o ensino, a saúde,
o espaço territorial e o meio ambiente, as populações indígenas e Ciência e Tecnologia stricto
sensu. Antes, porém de encaminhar o referido documento, a SBPC deseja ouvir os vários
setores da comunidade científica quanto ao conteúdo.
Posição da ABEP.
A 1ª Vice-Presidente, Maria Coleta Albino Ferreira, foi designada pela ABEP para fazer
sugestões à SBPC quanto ao referido documento.
Com relação ao item Direito à Saúde, julgamos oportuna a inclusão de um tópico explicitando
que o direito à saúde envolve o acesso a métodos seguros e eficazes se planejamento da prole,
garantindo meios de controle da fecundidade e da infertilidade como parte das ações de
assistência integral à saúde da mulher. Nesse sentido, secundamos as proposições do documento
sobre ‘A Mulher na Constituinte’, elaborado pelo Conselho Estadual da Condição Feminina
de São Paulo.” (Informativo Abep, nº 29, janeiro-abril/1987, p.7).
71
da IUSSP em Salvador, é o momento em que não há mais dúvidas de que
institucionalmente a ABEP amadureceu. Era uma participante à altura das
demandas. E se cumpriu nos dois eventos, como precisava. Não era mais aquela
história do subdesenvolvido, não tinha mais isso. (...) me lembro do encontro
da IUSSP na Bélgica em 73, quando Maria Helena [Henriques], na grande
assembléia no fim do encontro, Maria Helena se levanta e oferece a UnB
como a sede do próximo encontro. Maria Helena era muito jovem naquele
momento, e talvez não sentisse bem o que era país com ditadura, instabilidade
política, para arcar com a responsabilidade de fazer um encontro quatro anos
distante. Os outros sabiam perfeitamente, nossos líderes sabiam que não era
o momento. Mas nos anos 90 era o momento sim, tanto individualmente,
quanto institucionalmente. Não são tantas associações científicas no campo
de população no mundo. A ABEP eu acho que é uma das mais sucedidas, e
as pessoas reconheceram isso.
Diana Sawyer – Hoje, no cenário internacional, a ABEP tem uma certa
projeção, ela é conhecida, é respeitada. (...) [Não é] uma associaçãozinha dum
país da América do Sul.
Daniel Hogan e Neide Patarra, Nova Déli, 1989
É uma história tão incrível, foi no encontro da IUSSP em Nova Déli [em 1989]. Um grupo de brasileiros resolveu
aproveitar e passar uns 4 dias em Kathmandu, no Nepal. Foi uma experiência fantástica, porque o Nepal naquela
época, havia pouco tempo, só em meados dos anos 50, abriu suas fronteiras. Então, é uma população que viveu
totalmente separada do mundo. E ainda vivia, no final dos anos 80, num estado de pureza inimaginável. [Estavam
nesse grupo, além de mim e da Nazaré, minha mulher,] o Eduardo [Rios-Neto] e a mulher dele; a Léa [Melo
Silva]; o Duval [Fernandes]; acho que o Carlos Eugênio [Ferreira] (...) nós entramos no avião de uma companhia
aérea chamada Royal Nepal Airline, ainda estávamos sóbrios, graças a Deus. Já tinha sido distribuído o cardápio da
refeição, aquela moda oriental, cardápios lindos, quando, ainda no solo, começaram a sair chamas da turbina do avião.
O Eduardo me chamou atenção sobre o problema do avião, eu ainda xinguei o Eduardo, porque tenho pavor de avião.
O comandante, quando acelerou as turbinas, mas ainda no chão, começaram a sair chamas e mais chamas da turbina,
o comandante gritou no microfone para todos saírem do avião. Pelo que eu me lembre, ele foi o primeiro a sair. Como
eu disse, já tinha distribuído o cardápio. Eu fui um dos últimos a sair, porque a minha mulher fez questão de não
deixar nenhum [pacote de compras para trás]. E a hora que estou descendo a escada, o Eduardo estava subindo a
escada do avião, para entregar o cardápio de volta à aeromoça. Os nomes mais cabeludos que xinguei na minha vida,
foram naquele momento.
José Alberto Carvalho
72
Eduardo Rios-Neto – (...) acho que a ABEP já é uma líder global. Nós tivemos
uma sessão na PAA, que ninguém conseguiu. Nós tivemos um presidente da
IUSSP. Nós tivemos papel fundamental na criação da ALAP.
A ALAP é um capítulo recente na história da ABEP, apesar da idéia
da criação de uma associação regional ser antiga. Representantes das várias
associações de população dos países latino-americanos se reúnem em Ouro
Preto, em 2002, quando é assinado o documento de fundação, e a ALAP faz
seu primeiro encontro em 2004, em Caxambu, precedendo o encontro da
ABEP. Não há dúvidas sobre a liderança da ABEP neste processo.
Eduardo Rios-Neto – (...) havia um certo clamor por aproveitar Salvador
[IUSSP 2001] para tentar reorganizar, ou organizar pela primeira vez uma
sociedade latino-americana. Um pouco isso começou, justiça seja feita, no
encontro da ABEP de 2000, quando o Fernando Lozano, do México, veio
representando a Somede na ABEP. Aí tinha a “máfia de Austin”. O Fernando
veio, cantou lá, tocou piano, cantou com a Simone, o pessoal lá nas boemias. Ele
falou: não, precisamos organizar uma associação latino-americana. E ele era o
representante internacional da Somede. Um pouco esse clamor do Fernando,
EDITORIAL
“A ABEP, no seu décimo primeiro
ano de vida, conta com 450
associados, assim distribuídos pelo
território nacional: 3% na Região
Norte; 21% na Nordeste; 50% na
Sudeste; 7% na Centro-Oeste e 6%
no exterior. (...) O perfil técnico
destes associados caracteriza-se
pela multidisciplinaridade e pelo
pluralismo.” (Informativo Abep,
n°30, maio-agosto/1987, p. 1).
I Congresso de la Associación Latinoamericana de Población
(ALAP) - 18 a 20 de setembro de 2004 – Hotel Glória
– Caxambu - MG
73
SUGESTÕES PARA O CENSO
DE 1990
Conforme já foi noticiado, (...)
a proximidade do período de
preparação do Censo Demográfico
de 1990 levou a Diretoria da
ABEP a nomear uma comissão
para elaborar um documento a ser
encaminhado a Fundação IBGE,
contendo sugestões para o referido
Censo. (...) as contribuições deverão
ser feitas a partir de uma avaliação
das informações levantadas e
divulgadas pelo Censo de 1980,
pretendendo-se que elas não se
limitem apenas à investigação,
mas aborde, também, o processo dos
resultados.” (Informativo Abep,
n°30, maio-agosto/1987, p.1).
e a mobilização que ele fez com a Somede e essa ligação, ABEP-Somede,
é que botou fogo da gente tentar aproveitar o encontro de Salvador e fazer
uma assembléia inaugural para dar um primeiro chute para a criação de uma
associação latino-americana. O Fernando Lozano foi fundamental mesmo na
criação dessa reunião. E por causa dessa motivação, eu consegui captar um
recurso para a ABEP, ou seja, para o encontro da IUSSP, por intermédio da
ABEP, internacional, que foi uma grant, que a gente conseguiu da Hewlett
Foundation, a gente submeteu, eu fiz a consulta, a gente submeteu à Califórnia,
e a Hewlett financiou parte dessa assembléia, e financiou (...) um pouco da
troca era que a gente usaria o recurso da Hewlett para pagar passagens e diárias
de latino-americanos no encontro de Salvador. Acabou que o recurso, nós
conseguimos poupar um pouco, porque houve muito recurso, nós fomos muito
bem sucedidos por esse encontro de Salvador. E parte desses recursos foi usada
para o encontro de Ouro Preto, em 2002, onde foi de fato criada a ata, assinada
a ata de criação da Alap. E foi aí o pontapé inicial para a Alap. Então, tanto
a assembléia quanto a reunião de Ouro Preto, e o encontro de 2002, foram
resultados dessa mobilização, que começou com a vinda do Fernando. Ou seja,
foi muito uma parceria Somede-ABEP. Começou com essa vinda do Fernando
em 2000, passamos pela reunião de IUSSP e culminamos com Ouro Preto.
Além da política interna e da política externa, há um terceiro elemento
de políticas envolvido nesta história: as políticas públicas. Será que a ABEP
tem algum papel nas políticas públicas?
Daniel Hogan – Eu acho que a ABEP, enquanto instituição, sempre tentou
manter uma posição apartidária. Não vou dizer apolítica, porque as pessoas
reconhecem isso, reconheceram sempre, que a matéria-prima do nosso
trabalho, desenvolvimento populacional, tem uma dimensão política, não se
pode ignorar.
Aí começaram as várias reuniões [dos GTs da Clacso] nos anos 70. A gente se reunia anualmente.
(...) em 73, foi no Celade, no Chile. A gente esteve lá 5 dias antes do Allende cair. (...) e nós fomos
passar na alfândega, e não sei porquê, no papelzinho tinha a profissão, e o cara perguntou: qual é a
profissão mesmo? E nós falamos: demógrafos. Demócrata? Naquele momento, era um perigo você
dizer que você era demógrafo. Estava nas vésperas do golpe.
Neide Patarra
74
Numa das reuniões do comitê internacional da IUSSP, em Salvador, veio o pessoal todo. Um pessoal
muito crítico, se Salvador teria condições de hospedar o encontro, etc. Particularmente, uma secretária,
que não me lembro o nome, inglesa, da IUSSP, daquelas austeríssimas, que estava brava, mandando em
todo mundo (...) aí, nós saímos para jantar num daqueles restaurantes baianos, daqueles que têm dança
folclórica, essas coisas todas. E o Zé Alberto, como um bom mineiro, entrou na caipirinha. E a mulher
resolveu acompanhar o Zé Alberto na caipirinha. O Zé Alberto tomou uma, tomou duas, tomou três,
tomou quatro, tomou cinco, e continuou na mesma sobriedade. E a mulher foi encarando, foi encarando.
Na hora que ela levantou, ela desmontou, quase caiu. Chegou a cair, ficou toda bamba, com a língua torta,
falando umas coisas esquisitas. Aí entramos na van para voltar para o hotel. Cinco minutos que a van
andou, ela bateu na porta, o cara teve que parar, para ela ir para a rua e dar aquela vomitada. E voltou numa
sarjeta total, a auto-estima no chão. O Zé Alberto fingindo que não tinha acontecido nada com ele; de fato,
não tinha acontecido, porque mineiro quando é bom de cachaça agüenta bem. No outro dia, na reunião, ela
foi uma luva. A mulher não falou nada, só ficava tomando água, e calada lá no canto. Acho que esse caso
foi interessante, ajudou para o encontro de Salvador. Acompanhar o Zé Alberto não é fácil, não.
Eduardo Rios-Neto
Encontro da IUSSP, Beijing, China, 1997
75
PRÊMIO ABEP 10 ANOS
Trabalho: Propriedade da terra
e saúde infantil no Rio Grande
do Sul: as relações entre produção
agrícola, desnutrição e mortalidade.
Autores: César G. Victora e J. Patrick
Vaughan. (Informativo Abep, n°31
setembro-dezembro/1987).
Elza Berquó – Eu acho que ela nunca se propôs a isso [ajudar os tomadores
de decisão nas suas decisões com relação a políticas públicas]. Eu acho que
não era uma proposta da ABEP. Ela ficou muito mais como uma associação
de pessoas que são pesquisadores. Eu acho que ela nunca colocou para ela,
e acho que até acertadamente, ou seja, nós vamos fazer um programa para
apresentar ao governo. Mas, nos trabalhos, nos encontros da ABEP, o impacto,
a pertinência ou não de certas políticas públicas, seu impacto com relação ao
que se destinava, e o seu impacto também para o bem-estar da população, isso
aparece nos trabalhos da ABEP. Esteve sempre presente. Eu creio, a ABEP
nunca se propôs: nós vamos fazer uma plataforma aqui para levar. Ela trouxe,
em vários encontros dela, pessoas que ocupavam postos-chaves no governo
para debater, para apresentar trabalhos em mesas. Isso sempre aconteceu. Aí
você tem um público para debater ou não. Mas não era o papel da ABEP, e não
acredito que seja agora também.
José Alberto Carvalho – Então, ela sempre exerceu um papel político, como até
hoje exerce, à medida que ela diretamente ou indiretamente batalha para que as
políticas públicas levem em consideração o novo padrão demográfico, à medida
que ela ajuda a investir em recursos humanos etc. Basta olhar a programação
dos nossos encontros desse ano. Num deles isso é mais óbvio ainda. Hoje
estamos continuamente preocupados com políticas públicas, e dividir o que o
nosso conhecimento na nossa área específica possa contribuir para isso.
Eduardo Rios-Neto – Eu entendo a ABEP como associação científica. Talvez
eu seja elitista nisso, seja voto vencido. Eu acho que ela tem que ter um papel
na política pública, como toda associação científica na área de humanas tem
que ter. (...) mas se a ABEP virar advocacy, alguém que tentar fazer da ABEP
advocacy terá em mim o maior inimigo. A ABEP não é advocacy, a ABEP é
uma associação científica. Ela pode até fazer um lobby pela política pública,
mas dentro do contexto de uma associação científica. Não uma associação
de advocacy. Quem quiser uma associação de advocacy, tem que criar outra
associação.
Diana Sawyer – Eu acho que a ABEP, como uma associação de classe, ela
tem um papel político no que concerne a assuntos que sejam de população.
Tanto é que a ABEP foi quem conduziu a preparação dos documentos para
Cairo, Conferência do Cairo. A ABEP montou a comissão específica para a
Conferência do Cairo, participou das discussões. (...) Eu não acho que ela deva
76
José Alberto Carvalho, Coleta Oliveira
e Daniel Hogan, Encontro da IUSSP,
Florença, Itália, 1985
ter um papel político (...) então, eu acho que ela não deve se imiscuir, mas
não deve se omitir. (...) eu acho que a ABEP deveria trabalhar muito mais
perto da CNPD, porque ali que estão definidas as linhas gerais das políticas
relativas à população. Não sei se porque eram as mesmas pessoas de um lado e
de outro, e as pessoas queriam separar o que era CNPD e o que era ABEP, mas
acho que a gente tem que trabalhar mais em conjunto. Então, eu acho que a
ABEP pode montar grupos de trabalho, grupos de estudos, para ter uma massa
crítica. Mas eu acho que, enquanto associação de classe, ela deve dar pareceres
científicos. Em um momento, (...) se vai começar a ter uma política de controle
de natalidade, obviamente a ABEP não pode ficar quieta. É um pouco por aí.
Eu acho que existe uma instância, que é a CNPD, e existe a ABEP.
Coleta Oliveira – Eu acho que a ABEP não pode perder o seu aspecto plural.
Acho que isso é uma grande riqueza. Nós somos uma associação científica.
Então, conflitos e tensões são bem-vindos, eu acho. E a gente se moveu até hoje,
eu acho que a gente tem que continuar se movendo. É claro que os conflitos
vão ser diferentes, as questões vão ser diferentes, elas vão mudando de figura,
mas é bom que a gente as tenha. Então, o papel político da ABEP tem que ser
OUTRAS ATIVIDADES PARA
1988
1.Curso de Informações e Técnicas
Demográficas para o Planejamento
Local: Recife-PE
Período: 11 a 29/04/88
2. Seminário sobre a Avaliação das
Pesquisas Nacionais por Amostras
Domiciliares- PNAD da Década
de 1980.
Local: Ouro Preto-MG
Período 13 a 16/06/88
(Informativo Abep, n°32, janeiroabril/1988).
77
um papel político que respeite essa pluralidade. Portanto, ter uma visão da
ABEP em questões de política, eu acho difícil. Mas acho que a gente tem que
insistir naquilo que é a nossa competência: mostrar os prós e os contras de
soluções, de propostas, de avaliações, enfim, ser capaz de ser crítico, crítico no
sentido construtivo, no sentido dos termos de política que a gente enfrente.
Eu gostaria que a gente pudesse encontrar um caminho, seria de que a ABEP
pudesse ser, ou os demógrafos pudessem ser interlocutores privilegiados em
temas que são os temas da nossa competência. Toda vez que se discute, por
exemplo, planejamento familiar, vão procurar um demógrafo ou vão procurar
o presidente da ABEP. É possível que o presidente da ABEP tenha uma
opinião formada sobre aquilo, e que não represente a opinião geral da ABEP,
porque ela é plural. Mas ele deve ser ouvido, assim como os economistas são
ouvidos quando o Copom divulga a ata baixando meio ponto percentual a
taxa de juros. (...) eu não acho que você tem que atrelar toda a produção de
uma área à solução dos problemas que estão na agenda de hoje. A agenda tem
que ter um espaço, agenda social, política, econômica, tem que ter um espaço.
Ela pode até ter um espaço privilegiado no financiamento, mas não pode ser
exclusiva, porque você cerceia a capacidade daquela área dar respostas para a
vida, porque a vida muda. A vida do país, a vida das pessoas, a vida do mundo,
a vida muda.
George Martine e netos
Quem são os homens e as mulheres que presidiram a ABEP nesses
30 anos? À exceção de Eduardo Rios-Neto, que é de uma outra geração, os
demais presidentes fazem parte dessa história desde o seu início.
Neide Patarra – (...) na verdade, é um grupo que vem
junto desde o começo. Então, tem uma identidade com o
momento do início demografia no Brasil, e depois a sua
institucionalização numa associação científica, que é a
prática da ABEP.
Conduzir uma associação científica é, na verdade, um
trabalho de equipe e, na experiência de alguns presidentes,
muitas vezes, resulta em relações de amizade.
Daniel Hogan – A importância do trabalho da diretoria
não é só dividir o trabalho, isso é relativamente fácil, isso
é mecânico, mas é ter um espaço que troque idéias, que
78
EDITORIAL
Transcrição de um telegrama enviado ao Presidente José Sarney em 29/07/88 pelos dirigentes da ABEP,
Anpec, ANPUR, na ocasião da saída do Ministro Luís Henrique, quando se cogitava a extinção do
ministério da Ciência e Tecnologia.
Exmo Sr.Dr. José Sarney
D.D Presidência da República
Palácio do Planalto
Brasília-DF
“Alardeados com a notícia da possível extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia, viemos
respeitosamente à presença de V. Exma. extremar nossa forte preocupação. Como dirigentes de
Associações Científicas Nacionais e como cientistas, estamos certos de que a criação do MCT constitui
importantíssima obra de seu governo. Permita-nos dizer que seria de estranhar e representaria enorme
retrocesso nos caminhos da Ciência Brasileira, se tal viesse a ocorrer, especialmente durante o governo
que o implantou. Apelamos, pois, a Vossa Excelência para que preserve o MCT, e que, ao invés de
extingui-lo, o fortaleça em benefício da sociedade brasileira e seu futuro.” (Informativo Abep, n°33,
maio-agosto/1988, p. 1).
vá amadurecendo o assunto antes de tomar uma decisão, mudar alguma coisa,
fazer um convite, ou organizar isso ou aquilo, reagir dessa ou daquela forma. E
quando não se faz sozinho, eu acho que faz melhor.
Elza Berquó – Cada vez que você entra numa nova função, existem marcas
próprias de cada um, de cada qual. Às vezes marcas que são indeléveis, outras
marcas que você não vê a hora de o tempo apagar.
Eduardo Rios-Neto – (...) eu fiz grandes amizades. Acho que uma das coisas
boas em participar da diretoria da ABEP é que você consolida amizades.
Coleta Oliveira – Foi uma experiência que resultou na construção de amizades,
uma coisa de muita cumplicidade, muita confiança, apesar das divergências.
George Martine – A ABEP tem sido uma parte essencial da minha vida,
inclusive por isso que atendi a um chamado de voltar à ativa, quando na
realidade eu estava disposto a pegar no pijama. Eu acho que é uma coisa assim,
uma sensação de muita energia, de muita amizade. Uma trajetória fantástica.
79
ATIVIDADES REALIZADAS: 1987-1988
1. Seminários Promovidos
Como de praxe, o ponto alto das realizações da Diretoria da ABEP tem sido os seus encontros nacionais.
Neste ano, esta associação conseguiu satisfazer um seu desejo antigo de promover um encontro no Nordeste.
Este foi realizado no Hotel Quatro Rodas, em Olinda-PE, no período de 16 a 20 de outubro e contou com a
participação formal de 235 pessoas. Um dos principais objetivos para que este evento acontecesse no Nordeste
foi o de disseminar a área de Estudos Populacionais na Região. Esperava-se atingir esse objetivo através
de uma maior participação de sócios nordestinos no VI Encontro, o que, em relação aos eventos anteriores,
foi atingido. Além desse objetivo, a realização desse evento no Nordeste, teve outro maior que foi de deixar
claro a preocupação desta associação com as desigualdades sociais, regionais, raciais, que marcam a sociedade
brasileira. Com esta preocupação, foi homenageada neste Encontro, a raça negra e, mais particularmente, a
população brasileira de origem africana.” (Informativo Abep, n° 34, setembro-dezembro/1988, p. 2).
As memórias sobre as diferentes gestões revelam lembranças, acertos e
erros cometidos ao longo desses 30 anos.
Gestão João Lyra Madeira
Coleta Oliveira – (...) o primeiro presidente [da ABEP] era o Lyra Madeira,
porque ele era o responsável pela área de Demografia na maior instituição
demográfica, que era o IBGE. O Lyra Madeira era o chefe lá. Então, ele teve
um papel simbólico, importante. Mas ele faleceu pouco depois (...). Na verdade,
quem tocava era o Luiz Armando [Frias], que foi o primeiro tesoureiro da
ABEP.
Gestão José Alberto Magno de Carvalho
José Alberto Carvalho – [Sobre a minha gestão] Talvez o primeiro ponto,
até por características próprias da diretoria, dos membros da diretoria, nós
conseguimos somar muito num período em que éramos poucos, e ainda não
estávamos totalmente agregados. Eu acho que esse foi um ponto importante. O
segundo é que nós conseguimos, eu não tenho certeza, se não me engano foi no
meu segundo mandato, um endowment da Fundação Ford que permitiu à ABEP
adquirir aqueles imóveis em São Paulo, o que deu uma certa tranqüilidade
financeira para a associação. Claro que os aluguéis não mantinham a associação,
mas tinha aquela garantia do mínimo que permitia a associação sobreviver nos
momentos de maior dificuldade. (...) me lembro que [no meu primeiro mandato]
a secretária era a Elza [Berquó], com todo o dinamismo dela. Na verdade, eu
80
tive duas secretárias muito energéticas. No meu segundo mandato, foi a Ana
Maria Goldani. Na primeira diretoria, a Coleta [Oliveira] foi a tesoureira, ela
organizou muito bem as finanças da ABEP. No segundo mandato, foi (...) Rosa
Ester Rossini. Você vê que eu tive que conviver com mulheres de personalidades
as mais variadas. Mas funcionava bem.
Coleta Oliveira – Na gestão do Zé Alberto [Carvalho], a Elza [Berquó] era
secretária geral e eu era a tesoureira. Era tesoureira assim, para fazer as coisas
que me mandavam, porque eu era muito jovem. (...) eu me lembro que dei um
salto, porque contratei uma empresa de contabilidade, então a contabilidade
não era eu que fazia. Eu tinha um check list de providências que tinha que
tomar, de procedimentos que tinha que adotar. Eu vivia brigando com a Elza
e com o Zé Alberto, queria botar na linha, botar um cabresto. É impossível
encabrestar os dois. (...) porque quando eu era tesoureira, foi na gestão do
Zé Alberto [Carvalho na presidência] e Elza [Berquó na secretaria], que
foi feito um endowment para a ABEP, tentando seguir o modelo que tinha
sido feito com o Cebrap. A idéia era criar a sustentabilidade na associação,
para ela não ficar dependente da Ford. Obviamente foi um endowment muito
menor do que o endowment para o Cebrap, a gente ainda tem esses imóveis
dessa época, mas a gente gerenciou muito mal, eu acho, esse recurso. Eu acho
que tinha que ter alguém mais financista, para fazer essas coisas melhor. E
a gente negociou, foi na época que eu era tesoureira que a gente negociou o
endowment.
HOMENAGEM À RAÇA NEGRA - Hélio Augusto de Moura
“(...) por ocasião da solenidade de abertura dos Encontros Nacionais, tem sido de praxe a ABEP prestar
homenagem a personalidades que, por seus elevados dotes intelectuais (...) granjearam o justo e merecido
respeito e administração dos que integram sua diretoria.(...).
Este ano, porém, essa praxe está sendo rompida. Ao ensejo do transcurso do primeiro centenário da Abolição da
Escravidão no Brasil, não se trata de explicitar aqui nenhum tributo a uma personalidade envolvida com esse
fato histórico, nem muito menos de simplesmente comemorar a efeméride. Homenageia-se, neste Encontro,
a raça negra e, mais particularmente, população brasileira de origem africana, como símbolo de uma causa
maior à qual a ABEP, desde sua fundação, tem dado mostras sobejas de se achar indissoluvelmente ligada e
associada. É a própria causa da democratização e avanço da sociedade brasileira. (...) De fato, a natureza
criou diferenças; a sociedade é que as transformou em desigualdades.” (Informativo Abep, n° 34, setembrodezembro/1988, p.4).
81
Gestão Elza Berquó
Elza Berquó – (...) eu entro na diretoria da ABEP não como presidente, mas
como secretária geral. Isso foi uma opção minha, quando morre o Lyra Madeira.
Para mim, o cargo de secretária geral era muito mais importante do que o
de presidente. Eu achava que ali era o motor propulsor. (...) então, eu falei:
não quero, quero ficar na secretaria geral. Foi uma escolha minha de ficar ali.
Trabalhei muito bem junto com o José Alberto [Carvalho]. Logo em seguida,
depois entrei eu [na presidência].
Gestão Paulo Paiva
Paulo Paiva – Normalmente, talvez se você olhar um pouco a história dos
membros da diretoria, você começa a ter um cargo, depois outro. É uma coisa
normal. Eu não tinha nenhuma participação na diretoria da ABEP, o Zé
Alberto [Carvalho] foi presidente por dois mandatos, a Elza [Berquó] ficou
um mandato só. Então o Zé Alberto me procurou, que havia essa idéia, que
eles gostariam que eu a substituísse, que fosse presidente da ABEP. Isso não
tinha passado pela minha cabeça. (...) fiquei até surpreso com isso, mas aceitei
com muita satisfação. E foi um período para mim muito interessante, do ponto
de vista de trabalhar com um grupo heterogêneo. Naquela época, a diretoria
era maior do que hoje, você tinha representações regionais na diretoria. Foi um
período também que nós íamos celebrar 10 anos da ABEP, e a ABEP estava
também se tornando independente dos fundos de apoio etc. (...) durante a
EDITORIAL
Consciente de que as transformações desencadeadas por uma queda sem precedentes nos níveis de fecundidade
são de importância fundamental para a sociedade brasileira, a ABEP tem tido, desde 1979, uma preocupação
constante não só com a mensuração desse fenômeno, mas também com suas implicações para as políticas
públicas. Os dados da PNAD de 1976 e, posteriormente, do Censo Demográfico de 1980, foram analisados
em diversas reuniões técnicas que confirmaram a existência e a magnitude da queda de fecundidade. Em
seguida, o delineamento das implicações desse fenômeno para o perfil das demandas sociais passou a ser uma
preocupação central da comunidade. (...) Em, 1987, a ABEP foi convidada pelo Ministro da Educação- para
discutir a elaboração de um programa de planejamento familiar- para prestar seu depoimento. Em seguida, a
TV Educativa levou ao ar um programa de quatro horas de duração, onde se discutiu com todo o Brasil essas
transformações. A ABEP também participou de discussões, a convite do Ministério da Previdência Social,
sobre as repercussões do envelhecimento na demanda por benefícios previdenciários. (Informativo Abep,
n°36,maio-agosto/1989).
82
minha administração, por dois anos, a secretaria ficou na Fundação Seade, com
Letícia [Costa] (...) e nos outros dois anos, com a Ana Amélia [Camarano], foi
no Ipea, em Brasília. (...) [a minha gestão] foi uma experiência interessante,
uma experiência de integração. A ABEP sempre teve essa coisa. Embora a
direção, presidência, estava sempre em Minas e São Paulo, mas compunha,
fazia uma composição regional, tinha uma preocupação de levar a ABEP, de
difundir a demografia nas outras regiões do Brasil. Tínhamos uma preocupação
com o Centro-Oeste. O Nordeste já tinha uma certa conexão, porque tinha
na Bahia um grupo, o grupo da Guaraci, que era muito forte, tinha em
Pernambuco a Fundação Joaquim Nabuco. (...) Morvan [de Mello Moreira]
e Ana Amélia [Camarano] foram para lá. Então tinha no Nordeste algumas
âncoras importantes. Mas no Norte era mais difícil, e também no CentroOeste.
CONCURSO ABEP 1989
A ABEP está promovendo o X
Concurso de Bolsas de Pesquisa sobre
Assuntos Populacionais no Brasil,
com apoio financeiro da Fundação
Ford. (Informativo Abep, n°36,
maio-agosto/1989, p. 4).
Neide Patarra – (...) eu fui vice do Paulo [Paiva]. (...) o Paulo tinha um estilo
diferente. Economista, mineiro. O Paulo deixou a ABEP numa situação
financeira muito boa, mas foi já o fim daquele programa de bolsas, foi o fim
do financiamento da Ford, a gente tinha que passar para outras formas de
financiamento.
Gestão Neide Patarra
Neide Patarra – Na primeira gestão, o Paulo já tinha deixado a ABEP com
uma situação financeira boa. Nós nos gerenciamos com muita tranqüilidade
(...) foi uma gestão promissora do ponto de vista das atividades que a gente
queria expandir. Só que, na passagem para a segunda [gestão], teve o Collor
(...) e o nosso dinheiro foi todo embora. (...) foi muito penosa essa gestão. (...)
uma outra coisa que eu traria, eu também não fui consenso, ao contrário, fiquei
numa minoria, a gente queria que a ABEP tivesse uma sede própria. A ABEP
tinha os imóveis alugados, um dos imóveis tinha ficado vazio, a gente tinha
uma idéia de que um dos imóveis podia ser a sede, que usasse uma parte – era
um apartamento comercial -, e a outra parte podia até ser uma sala de aula
para esses encontros, compensaria a entrada do aluguel. Mas que ela tivesse
uma sede própria. (...) a gente funcionou, na passagem de uma gestão para
outra, (...) num dos imóveis da ABEP que ficaram vazios. A gente ajeitou o
mobiliário que tinha. Eu acho que talvez não seja o caminho correto, mas eu
tenho disso uma lembrança muito interessante. Tinha uma sala para reunião,
para 40 pessoas, tinha a secretaria. (...) as atas da fundação em 76, e que a gente
EDITORIAL
“Chegamos ao final do ano de
1989. Foi um ano bastante difícil
para todos os setores da população,
inclusive para as instituições.
Sofremos o impacto do acirramento
da crise, o que nos impediu de
realizar tudo o que gostaríamos.
Mas, apesar disto, podemos dizer,
que continuamos caminhando
no sentido de uma consolidação
cada vez maior do papel da
nossa Associação no cenário
nacional.” (Informativo Abep,
n°37,setembro-dezembro/1989,
p. 1).
83
EDITORIAL
“A preocupação com a especificidade da ABEP vis a vis outras associações científicas e o
papel da Demografia, enquanto disciplina no contexto atual, foi o elemento norteador da
escolha da programação científica do VII Encontro Nacional. As recentes transformações
demográficas suscitam novos temas e devem trazer alterações significativas na produção
científica da comunidade. Este processo torna necessária uma reflexão conjunta no sentido de
discutir e organizar novos indicadores demográficos, novas técnicas de mensuração e novas
modalidades de análise e o Encontro parecer ser um ‘locus’ apropriado para tal propósito.
(...) um outro elemento importante a ser considerado neste momento é a nova Constituição
e as leis complementares.” (Informativo Abep, n°38, janeiro-abril/1990, p. 1).
mandou enquadrar. Eram quatro quadrinhos com os dizeres da ata, e depois as
assinaturas de todos os sócios fundadores. A gente pendurou no corredor, (...)
naquela entrada.
Gestão Diana Sawyer
Diana Sawyer – Eu fiquei só uma gestão. Eu entrei, porque eu tinha que
cumprir em algum momento, uma vez que cumpri, está cumprido. Eu acho que
minha gestão foi justamente na época da preparação do Cairo, (...) montou essa
comissão, trabalhou bastante nessa questão da preparação. Eu fiz um rearranjo
de grupos de trabalho. A gente tinha um grupo de trabalho aqui, um grupo
de trabalho lá, fiz um rearranjo, acho que ela ficou mais ou menos no formato
que é hoje, depois (...) grupos de trabalho da ABEP. E um pouco definiu dar
uma certa autonomia aos grupos de trabalho, para que eles procurem fontes
de financiamento, (...). para a montagem do encontro. Uma coisa que eu criei
também foram comissões, que depois acho que foi abandonado. Tinha uma
comissão que era essa comissão do Cairo, obviamente, e tinha uma comissão
que era comunicação, que estava encarregada de levar a imagem da ABEP para
fora.
Daniel Hogan –A diretoria da Diana foi a primeira mais enxuta, como é
hoje.
Gestão Daniel Hogan
Daniel Hogan – Eu acho que as três gestões [das quais participei – vicepresidente na gestão da Diana Sawyer e, em seguida, duas como presidente]
84
eram gestões muito participativas, em termos de diretoria. Também não tenho
a visão da “diretoria da Diana”, ou da “diretoria do Daniel”. Acho que não dá
para fugir da responsabilidade de ser sua, mas era um momento que, eu acho,
a diretoria realmente escutava e tomava as decisões. (...) acho que esse período,
entre a gestão da Diana e o fim da minha gestão, foi o período em que esses
dois pontos, político e acadêmico em termos da penetração internacional da
ABEP, não que começou lá, mas que ficou claro, ficou marcado, registrado e
reconhecido que a ABEP estava à altura dessa discussão toda.
Gestão Eduardo Rios-Neto
Eduardo Rios-Neto – (...) um dos grandes desafios, além de realizar o encontro,
foi exatamente nessa parte internacional, porque em 97, dois anos antes da gente
assumir, o Brasil ofereceu a candidatura para a IUSSP em Pequim, e ganhou.
E eu, como membro da sociedade civil, usando a agência de propaganda do
meu pai, se não me engano, arrumei um sticker, nós arrumamos um sticker que
era “Brasil 2001”, que nós pregamos na roupa de todo mundo em Pequim, para
fazer a campanha. Então eu já era comprometido com isso, mesmo antes de
qualquer coisa. Quando eu assumi, já assumi havendo um compromisso da
ABEP com a CNPD, na presidência da Elza, e com o governo brasileiro, de
organizar o encontro da IUSSP de 2001. Estava muito longe ainda. A minha
gestão foi de 99-2000, mas o encontro era em 2001, e essas coisas são tipo Copa
EDITORIAL
“A Diretoria da ABEP vem, neste boletim, expressar a sua grande preocupação ante a possibilidade da não
realização do Censo Demográfico de 1990. Esta possibilidade está traduzida no atraso do cronograma de
execução do referido Censo. Enviamos um telex ao Presidente da República, pedindo sua especial atenção
para a questão.”
Texto do telex:
Exmo. Sr. Presidente Fernando Collor de Mello
Manifestamos preocupação pela ameaça de não realização do Censo de 1990, evidenciada pelo conhecimento
do atraso no cronograma previsto para a sua execução.
Solicitamos especial atenção de V. Excia. para as implicações desastrosas da lacuna de informações advindas
e que poderão comprometer o planejamento do nosso cotidiano em todas as esferas da vida coletiva.
Dados os compromissos já assumidos com organismos internacionais especializados, tal ameaça poderá
comprometer componentes, no sentido de sensibilizá-las sobre a gravidade desta questão.” (Informativo
Abep, n°39, junho-julho/1990, p. 1).
85
do Mundo. Você tem que começar a organização, angariar fundos, definir o sítio
com uma antecedência muito grande. Então, todo processo de definir Salvador,
de ir a Salvador, se ia ser Salvador ou Rio, de formar um comitê nacional,
formar um comitê internacional, foi uma experiência fantástica. Eu acho que
foi o que marcou para mim e, no caso, as minhas duas gestões, porque uma
teve continuidade com a outra, foi essa parte internacional. E essa importância
de realizar o encontro em Salvador. Na época, as pessoas devem lembrar, o Zé
Alberto [Carvalho] era o presidente da IUSSP, era uma honra para a gente. E
era crucial que o encontro não falhasse. Exatamente na gestão do presidente da
IUSSP, que é brasileiro, e realizando o encontro no Brasil.
Gestão Coleta Oliveira
Coleta Oliveira – Olhando agora, que já passou, eu acho que o que marcou
foi a articulação, a continuidade da articulação latino-americana. Na verdade, eu
peguei o bonde super andando. Confesso – vai ficar gravado isso aí, mas confesso
– que eu não estava muito animada, porque eu sentia como reeditar uma coisa do
passado, e ter que investir tempo. A gente fez uma divisão de tarefas. O Ricardo
[Tavares, vice-presidente] ficou com essa articulação. O Ricardo é uma pessoa
muito jeitosa. E precisava de muito jeito para lidar com todas as idiossincrasias
nacionais, os diversos grupos envolvidos. Não era um desenho fácil. Eu estava
substituindo, na presidência, o Eduardo [Rios-Neto], que tem um perfil que lida
bem, muito bem com essas coisas. Então, a gente fez uma divisão de trabalho e
quem cuidou da articulação da ALAP, eu participei e tudo, mas quem cuidou foi
o Ricardo. O Ricardo é muito jeitoso. Realmente, ele costurou coisas, às vezes a
coisa furava, mas ele teve muita habilidade e muita paciência. Eu devo muito ao
Ricardo nisso. E a gente fez uma dobrada legal, porque a dificuldade do Ricardo
é finalizar as coisas, concretizar os resultados das articulações. Eu acho que essa
EDITORIAL
“(...) Não podemos deixar passar a oportunidade de expressar a nossa preocupação com a não
realização neste ano, do Censo Demográfico. É desnecessário listar aqui, a série de danos que
o adiamento deste recenseamento acarretará para a sociedade brasileira especialmente par o
planejamento econômico e social. Não pretendemos nos estender em lamentações diante do
fato consumado e passamos a nos preocupar com a realização do Censo em 1991. Solicitamos
às autoridades competentes e aos colegas envolvidos neste processo que não meçam esforços
para que o Censo Demográfico desta década possa ser realizado em 1991, sem maiores
problemas.” (Informativo Abep, n°40, agosto-setembro/1990, p. 1).
86
EDITORIAL
Chegamos ao final de 1990, também final de nossa gestão com a certeza de, apesar de ter
sido um ano cheio de dificuldades financeiras, políticas e institucionais, termos avançado
mais um pouco na ampliação do espaço de atuação da ABEP. Esta ampliação se deu via
incentivo das atividades regionais, internacionais e de docência.” (Informativo Abep,
n°41, setembro-dezembro/1990, p. 1).
gestão, isso eu fiz, e faço bem. A gente trabalhou numa dobrada muito legal, e
acho que o resultado da reunião da ALAP, junto com o encontro da ABEP foi
legal, acho que marcou. Aqueles que na América Latina ainda tinham resistência
ao modelo ALAP, que ainda não disse muito a que veio, ainda está uma coisa
que precisa (...) Vamos ver como vai ser esse encontro da ALAP, agora no
segundo semestre, com a Somede. Mas acho que foi bem sucedido, teve uma boa
acolhida, veio bastante gente da América Latina, a gente teve adesão das diversas
associações, conseguimos lidar com as diferenças, de forma positiva. A parte das
sessões temáticas, latino-americanas, acho que também foram bem sucedidas.
Foi uma coisa que marcou. Uma segunda coisa que marcou, isso certamente se
manifesta externamente, foi o funcionamento da diretoria. Funcionou muito
bem, funcionava realmente, todo mundo fazendo tudo. Claro que cada um tinha
sua especialização, mas todo mundo sabia de tudo. Isso gerou muito conflito,
nós tivemos muito conflito, no sentido positivo, quer dizer, divergências, mas
sempre as divergências tratadas sem botar debaixo do tapete, foi uma coisa muito
legal. Foi uma experiência que resultou na construção de amizades, uma coisa
de muita cumplicidade, muita confiança, apesar das divergências. Não eram
divergências essenciais, no sentido do estilo de condução das coisas. Foi muito
legal, eu aprendi muito, nessa convivência com as pessoas. (...) Do ponto de vista
da relação da diretoria com a comunidade interna, nós enfrentamos a coisa dos
comitês. Olhando para trás, eu não me arrependo da forma como a gente se
conduziu, a responsabilidade é só minha, porque eu que dei a linha da forma de
condução. Não me arrependo, mas acho que houve alguns equívocos, eu poderia
ter feito diferente.
George Martine e neta
Gestão George Martine
George Martine – Eu gostaria que [a minha gestão] fosse marcada pelo que
a gente escolheu como nosso lema – a ABEP de bem com a vida. Pelo menos
na diretoria, eu acho que isso valeu. Nós nos divertimos bastante. E mesmo as
87
GRUPOS DE TRABALHO
“Em sua última reunião, a Dire-toria aprovou a constituição de seis Grupos de Trabalho temáticos no interior
da ABEP:
GT Sistema de Avaliação das Informações Demográficas
GT Metodologia Recente na Análise da Fecundidade
GT Migrações
GT População e Meio Ambiente
GT Aspectos Demográficos da Questão da Mulher
GT População e Saúde
GT População e História”
(Informativo Abep, número es-pecial, janeiro-junho/1991).
EDITORIAL
“Mais um ano que se finda. Apesar
das inúmeras dificuldades financeiras, acreditamos que, em termos
de realizações, 1991 apresentou um
saldo positivo para a ABEP.” (Informativo Abep, número especial,
julho-dezembro/1991, p. 1).
88
pessoas que tiveram cargo mais pesado, como secretária e tesoureiro, eu acho que
têm agüentado, em parte, porque tem sido levado com muito bom humor. Eu
acho que isso é absolutamente essencial. Em termos do que nós pretendíamos
fazer, acho que talvez o mais importante não é mérito nosso, senão o fato de que
as gestões anteriores nos deixaram recursos que nos permitiram fazer com que
todos os GTs tivessem oportunidade de se encontrar no período entressafra, ou
seja, no período entre encontros. Pessoalmente, eu avalio que essa possibilidade
do encontro, da reunião entre os encontros é absolutamente essencial para a
própria dinâmica dos GTs, para poder continuar e aprofundar a dinâmica. Eu
acho que isso foi uma coisa muito positiva. Uma outra, que se deve muito
ao Taquinho e a você [Paula], é a força e o dinamismo das discussões pela
internet. Eu acho que essas discussões mantêm uma porta aberta para o diálogo
franco, e sem grandes ônus. Não precisa preparar um paper, não precisa passar
dois dias imaginando o que você vai apresentar, mas se você tem alguma coisa
para contribuir, ou alguma informação, bota no grupo. Eu acho que isso é
uma decorrência natural, não tem nada a ver com nossa diretoria, mas é uma
decorrência natural do acesso que os associados têm, cada vez maior, à internet,
e as possibilidades que isso gera. E, definitivamente, eu acho que isso é uma
coisa a ser explorada mais ainda no futuro.
O
que fazer para garantir a sobrevivência da ABEP, para que ela possa
comemorar 60 anos? Em primeiro lugar, é preciso garantir, do ponto
de vista demográfico, a reprodução dos associados.
Os próximos 30
anos
José Alberto Carvalho – (...) há algo absolutamente notável, e isso foi muito
bem chamado à atenção pela Carmen Miró no último encontro, que são as
gerações novas. Na maior parte dos países da América Latina, principalmente
depois da desativação do ensino no Celade, a comunidade de demógrafos é uma
comunidade de terceira idade. Hoje, a pirâmide tem aquele pico, só tem lá em
cima, nada para baixo, muito pouca gente. O México é melhor nesse sentido,
mas eu acho que as comunidades brasileiras, os nossos encontros mostram
bem isso, os jovens hoje são maioria. O que significa isso? Significa, primeiro, a
capacidade da comunidade de se reproduzir. Isso, para o demógrafo, nós sabemos
que é absolutamente fundamental. Segundo, não somente formalmente são
ATIVIDADES ABEPIANAS
- Reunião Técnica sobre o Censo de 1991. Belo Horizonte, 4 de fevereiro de 1992.
“Organizada por iniciativa da ABEP, com o decisivo apoio da Secretaria de Planejamento
de Minas Gerais, essa reunião, realizada na Fundação João Pinheiro, teve por objetivos:
- dialogar com representantes do IBGE, a fim de se obter informações mais objetivas e
detalhadas sobre o andamento dos trabalhos do Censo 91;
- ouvir a opinião dos demógrafos presentes sobre os resultados parciais já divulgados pela
imprensa;
- reunir subsídios para alicerçar uma eventual tomada de posição da ABEP em relação
às notícias divulgadas pela imprensa sobre o Censo.” (Informativo Abep, n°42, janeiroabril/1992, p. 10).
AGENDA PARA A CONFERÊNCIA DO CAIRO- 1994
Outubro de 1993: Diana Sawyer
e Neide Patarra entregaram ao
Itamaraty o Relatório Síntese
dos resultados dos seminários
preparatórios para o Documento
Brasileiro para a Conferência do
Cairo. (Informativo Abep, n°42,
janeiro-abril/1992, p. 3).
distribuídos títulos de mestres, doutores, essas pessoas se formam e a grande
maioria continua envolvida na área. E é um pessoal que faz questão de ir aos
encontros, e deles participar a todo vapor. Isso, para mim, é o mais fundamental
de tudo. Por quê? Significa que nós vamos garantir o futuro. Há países em que a
situação é absolutamente lamentável. Eu acho isso extremamente importante.
Coleta Oliveira – (...) hoje eu vou à ABEP, metade das pessoas que estão lá,
ou mais da metade, eu não conheço. O que é fantástico, porque antes você
conhecia cada qual. Os encontros da ABEP eram momentos, a cada dois anos,
de encontrar os amigos. Hoje em dia não, eu não conheço aqueles jovens todos,
animadíssimos. É fantástico.
Para que esta reprodução possa acontecer, é preciso formar jovens
demógrafos. Desde os tempos do Cedip e dos cursos de curta duração
oferecidos pela ABEP, sobretudo nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, tem
havido capacitação de novos quadros. Atualmente, os três programas de pósgraduação em Demografia – Cedeplar, Nepo e ENCE – têm feito a sua parte.
Há, ainda, o curso de especialização em Demografia da UFRN, criado em
2004. Há, ainda, os especialistas na área de Demografia Histórica, no Cedhal
e na UFPR. Além destes, é preciso também difundir a demografia através
de disciplinas ofertadas em cursos de graduação. Afinal, são os bacharéis que
avançam rumos às pós-graduações. Mais ainda, disciplinas de graduação são
uma forma de sensibilizar os futuros profissionais das mais diversas áreas
sobre a importância de se levar em consideração os aspectos demográficos, o
que pode motivar, no futuro, uma maior contratação de demógrafos, a fim de
suprir esta demanda.
Paulo Paiva – Creio, se me lembro um pouco ainda, que na segunda metade
dos anos 70, início dos anos 80, foi feito um esforço de fazer cursos de
especialização em diferentes regiões do Brasil. Era um pouco treinar as pessoas
PRIMEIRA EDIÇÃO INTERNACIONAL DA Rebep
“Durante a realização da XXIII Conferência Mundial da IUSSP, em outubro passado,
foi distribuído o número inaugural do Brazialian Journal of Population Studies. Esta
publicação é iniciativa da Diretoria da ABEP, que tem publicado a Revista Brasileira
de Estudos Populacionais- Rebep, desde 1984, com a importante colaboração do IBGE.”
(Informativo Abep, n°53, setembro-dezembro/1997, p. 2).
90
das universidades e no setor público para que utilizassem os instrumentais
da demografia para suas análises, principalmente no caso do planejamento
no setor público, na definição de políticas públicas, desenvolvimento urbano,
desenvolvimento regional etc., que teve um desenvolvimento. E que perdeu um
pouco o seu momento com a crise dos anos 80, em que planejamento deixou
de ter papel importante, passou a uma preocupação mais de curto prazo, de
ajuste, de crise da economia e de ajuste. Acho que essas coisas se perderam um
pouco.
O XI ENCONTRO
Segundo mensagem da sessão de
abertura do XI Encontro, este
fora, até aquele momento, o maior
da história da ABEP, com 350
inscritos até a solenidade inicial.
(Informativo Abep, n°55, maioagosto/1998).
Neide Patarra – Uma coisa vocês [Cedeplar] estão fazendo, o Nepo começou
a fazer também, que é a inserção da demografia nas graduações das Ciências
Sociais. Isso, eu acho que é o caminho a ser explorado. Tem que fazer parte
da formação de (...) Geografia, da Economia, da Sociologia, de repente até na
Antropologia. Isso eu não tenho a menor dúvida.
Jair Santos – Eu estava mudando da USP de São Paulo para a USP de
Ribeirão Preto, para a Faculdade de Medicina, foi em 2002 que eu assumi.
Essa mudança começou em 2001, assumi em 2002. Pouco antes de assumir,
XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais,
Caxambu, Minas Gerais, 2004
91
EDITORIAL
“A avaliação do XIII Encontro da ABEP, realizado em novembro último, é destacada neste
informativo através do relatório dos GTs e Comitês. O informativo inclui também outras
notícias referentes aos pré-eventos realizados, o componente internacional do evento, além
da prestação de contas substantiva desta gestão, lida na assembléia geral. Mesmo aceitando
a máxima de que quantidade não significa necessariamente qualidade, o significativo
número de 470 participantes inscritos, além da diversidade temática, refletiu uma proposta
deliberada desta gestão na direção da abertura de novas frentes de atuação para a associação.
Também merece especial atenção a elaboração do documento de Ouro Preto durante o XIII
Encontro, propondo a criação da Associação Latino-Americana de População (ALAP). O
documento é publicado neste informativo. Outro ponto de destaque foi a elaboração de uma
Mini-Plenária conjuntamente com a Population Association of America (PAA), contando
com a coordenação do Joe Potter e a participação de dois presidentes da PAA (Philip Morgan
e Paul Demeny)”. (Informativo Abep, n°68, setembro-dezembro/2002).
perto da época que já estava tudo aprovado, eu estava muito preocupado porque
iam começar vários cursos novos na faculdade de medicina, na faculdade para
onde eu ia, curso de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição
e metabolismo, informática biomédica. E mais tarde ia começar ciência da
informação e documentação. Eu estava muito preocupado, querendo influir
na grade curricular desses cursos novos, para que tivesse pelo menos uma
disciplina parecida com demografia. A minha surpresa, quando cheguei na
comissão de graduação para pedir a grade curricular, para poder sugerir, já estava
a demografia. Eles nem tinham professor ainda. Não tiveram que contratar,
porque eu cheguei, mas estava a demografia, com uma ementa um pouco feita
por leigo, mas já estava lá. Eu acho isso muito marcante, numa escola que está
começando cursos novos, nunca teve uma tradição em demografia, nem na
medicina, enfim, eu acho que a gente acaba vendendo o peixe.
O ensino de demografia nos leva a pensar no passo subseqüente: o
mercado de trabalho. Haverá trabalho para todos os demógrafos que vêm
sendo formados nos cursos de pós-graduação? Há divergências de opinião.
Daniel Hogan – (...) nós [as universidades públicas] não vamos poder absorver essas
pessoas [doutores que estamos formando]. Nem os mais brilhantes deles. Então,
eles vão, uma parte para o setor privado, infelizmente, mas também vão para outras
universidades, outros departamentos. Vão começar a criar grupos mais densos, um
demógrafo na estatística, outro demógrafo na história, outro demógrafo...
92
Sessão da PAA no XIII Encontro Nacional de Estudos
Populacionais, 2002. Ouro Preto. André Caetano, Phil
Morgan, Paul Demeny e Joe Potter.
Paulo Paiva – Esse é um tema realmente mais complicado. Empregabilidade
aqui no Brasil é um fenômeno muito complicado. Felizmente, hoje eu não tenho
mais tanta responsabilidade pública com essa questão. Acho que o demógrafo,
puro e simples, que tenha uma formação simplesmente com os instrumentais
da demografia, sem complemento com outras disciplinas, possivelmente tem
um mercado de trabalho muito mais restrito, porque o mercado de trabalho
acaba sendo ou em instituições estatísticas, como IBGE, Seade, Fundação
João Pinheiro, ou na academia. A capacidade de ter uma formação um pouco
mais erudita, que utiliza a análise demográfica com economia ou com ciências
sociais, eventualmente isso te abre um campo de mercado maior. Por exemplo,
eu acho que o economista, com formação econômica e com uma formação
demográfica, tem alguns nichos de mercado, principalmente com relação à
possibilidade de trabalhar com instituições financeiras que têm preocupações
com fundos de pensão, questões dessa natureza.Eu acho que do ponto de
vista do mercado de trabalho, nosso mercado de trabalho requer profissionais
mais polivalentes. Acho que aí frustra um pouco a pessoa, que vai à escola,
aprende todo um instrumental, e acha que vai no mercado e o mercado vai te
absorver dessa forma. Não é desse jeito que funciona o mercado. O mercado
hoje está mais, existe um mercado com mais facilidade para o trabalhador
polivalente, para quem chega no mercado e seja capaz de trabalhar com várias
coisas simultaneamente, e seja flexível para se ajustar às soluções, às demandas
93
e às alterações que ocorrem dentro da empresa ou dentro (...) pensando
especificamente no mercado de trabalho no setor privado. Penso um pouco
dessa forma. No setor público também hoje ainda os concursos para o setor
público seguem as profissões tradicionais. Tem mais vaga para economistas, ou
para cientistas sociais, do que para demógrafos ou para alguma posição de uma
área com escopo mais restrito.
Diana Sawyer – Até agora, eu acho que ninguém teve problema de
empregabilidade depois (...) da universidade. Eu acho que durante, ainda, esse
período, até a população do Brasil se estabilizar, estacionar, porque vai estacionar
lá para 2050, acho que o demógrafo vai ser uma criatura necessária em quase
todos os setores de políticas públicas. Acho que é o momento mesmo (...) agora,
depois que estabilizar, não sei o que vai ser. Mas nos próximos 50 anos, eu tenho
certeza que um demógrafo, com formação em demografia, vai ter emprego. A
gente vê pelas demandas. (...) a hora que a gente menos espera, pede projetos
para a gente relacionados com a demografia, em termos de demanda, do que vai
acontecer. Essa parte, eu não me preocupo.
Neide Patarra – Quando você coloca uma reflexão para frente, eu digo para
você que essa coisa me preocupa muito. (...) Me preocupa muito o mercado de
trabalho, (...) me preocupa muito a ausência da demografia no delineamento
das grandes políticas. Eles usam o trabalho da gente. (...) adoidado. Mas
[demógrafo] não é parte constitutiva do organograma oficial (...) nem na
academia, nem nos órgãos de ciência e tecnologia. Eu acho que foi o Eduardo
que levantou essa coisa da demografia na empresa privada. Eu acho que tem
algum espaço na empresa privada, mas o conhecimento que eles querem (...)
dinâmica populacional (...) melhor projeção é essa, agora você faz o que quiser
com ela. Não é (...) nós temos compromissos. E como vamos fazer.
EDITORIAL
“Iniciamos hoje uma etapa de nossa jornada, utilizando os meios eletrônicos à nossa
disposição para lançarmos o Informativo Eletrônico ABEP. Esta iniciativa acolhe críticas e
sugestões feitas por nossos associados que de um lado, apontavam para a necessidade de um
instrumento de comunicação ágil e, de outro, que fôssemos capazes de transmitir informações
relevantes, em tempo hábil, para que todos pudessem fazer o melhor uso delas”. ( Informativo
Eletrônico- Ano 1, n.01/03, p. 1).
94
Encontro Regional e ALAP
“É com enorme satisfação que anunciamos o sucesso de nossa chamada de resumos para o
XIV Encontro Nacional. Tivemos nada menos que 488 resumos submetidos! Isto coloca
nosso Encontro na lista dos mais concorridos entre as associações científicas com eventos
desse porte. (...) O Congresso da ALAP será realizado em Caxambu, nos dias 18 a 20 de
setembro, ou seja, imediatamente antes do nosso Encontro Nacional, portanto uma ótima
oportunidade para a participação em ambos os eventos.” (Informativo Eletrônico - Ano
2, n.01/04, p. 1).
Como os presidentes vêem o futuro da ABEP?
Diana Sawyer – A ABEP hoje já é uma associação consolidada, grande, não é
aquela coisa que a gente ia. (...) hoje a ABEP é um lugar para você discutir o
que está acontecendo na demografia. Acho que daqui a 30 anos vai continuar
assim.
Daniel Hogan – O que eu vejo é que nós vamos, em 10 anos, 20 anos, vamos
ter uma ABEP muito mais diversa, em termos das participações institucionais.
E não só porque aquela antropóloga da Unicamp, que estuda família, acha
interessante participar da ABEP, porque tem uma interlocução aqui sobre
família, que é interessante, mas o demógrafo do departamento de antropologia
de qualquer universidade, de não sei onde, vai para lá. Eu acho que isso é fatal.
O que vão fazer todas as pessoas que estão se formando? Não vão largar a
demografia. Fazem doutorado na área, é um investimento forte. A ABEP vai
servir de ponto de apoio, identidade profissional para essas pessoas, mesmo se
estiverem num departamento isolado (...).
George Martine – É muito difícil dizer. Mas eu esperaria ter um período
dentro do qual realmente haverá uma maior integração das atividades do
dia-a-dia dos associados com, digamos, a essência da atividade econômica e
social do país. Comprometimento com a melhoria das condições de vida da
população. Certamente a questão ambiental vai estar no centro, cada vez mais.
Inevitavelmente. Até agora, a gente não percebeu muito a gravidade do assunto,
mas é inevitável. (...) e outras questões, relacionadas com a desigualdade, a
redução da desigualdade. Eu acho que também é um tema. Raça, etnia, religião.
Acho que tudo isso inevitavelmente vai fazer parte da preocupação social, e
portanto do núcleo, da essência das atividades da instituição.
95
Comentário sobre os encontros Regionais e ALAP
“(...) Aprendemos com a maturidade da comunidade de estudos da população. Dadas as
crescentes e conhecidas dificuldades, consideramos um grande êxito o cumprimento de nossa
programação científica que contou com 75 trabalhos apresentados nas 19 Sessões Temáticas
no Congresso da ALAP e 198 trabalhos nas 48 Sessões Temáticas da ABEP. (...) Apesar da
complexidade que a realização conjunta dos dois eventos trouxe, pudemos tirar proveito dela
do ponto de vista do intercâmbio com nossos colegas da América Latina. Além da intensa
troca intelectual que o Congresso da ALAP nos permitiu, foi também nesta oportunidade
que teve lugar a Assembléia Constitutiva da Associação Latino-Americana de População,
a qual elegeu sua primeira Diretoria e aprovou seu Estatuto. Desse modo, termos hoje
uma associação Latino-Americana de estudos sócio-demográficos plenamente constituída
e reconhecer o papel crucial da ABEP nesse processo é o retorno de todo o esforço adicional
na realização dos dois eventos simultâneos.” (Informativo Eletrônico - Ano 2, n.09/04,
p. 2).
Coleta Oliveira – Eu vejo a ABEP [daqui a 30 anos] ainda como um núcleo
institucional. Mas eu tenho a impressão, isso é um palpite, que a gente vai
ter que evoluir para um modelo de rede. (...) que, no fundo, essas forças
centrífugas, que são os GTs, ou as áreas de interesse na verdade, ganhem mais
autonomia, não no sentido de que dependem da ABEP como um todo, mas
no sentido de serem o nó de uma rede mais ampla, esses grupos. Quer dizer,
dentro de uma mesma associação, de um mesmo organismo institucional, mas
que elas mesmas sejam o nó de outras redes. E que tenham seus programas
de atividade, ainda que com a chancela da ABEP, mas que tenham mais
autonomia. Se a área crescer, eu acho que é por aí. Eu acho que será um
modelo de rede.
Eduardo Rios-Neto – Difícil imaginar. (...) Provavelmente, daqui a 30 anos
a ABEP vai ser cada vez mais virtual. Como tem essas redes de discussão
agora. Talvez eu imagine uma ABEP com mega encontros virtuais, redes
de discussão, todo mundo com telões, ou da própria casa, uma coisa mais
interativa. Eu consigo imaginar uma coisa assim. Nesse contexto, se a ABEP
for bem sucedida, porque isso não tem como ter limite de estado-nação, a não
ser o da língua, provavelmente a ABEP será uma líder global nisso, como acho
que a ABEP já é uma líder global. (...) Então, nesse mundo virtual, eu acredito
que a ABEP, e pela força que eu vejo na demografia brasileira, independente
da força que o Brasil tenha, que é diferente, em termos geopolíticos, eu sou
menos otimista em relação a isso. Eu sou mais otimista com a consciência de
96
demografia do que com a força geopolítica do Brasil. E acho que a ABEP
pode ser um líder global. Talvez você tenha encontros virtuais, muito mais
do que encontros reais, em 30 anos. Mas eu não tenho dúvida que a ABEP,
qualquer que seja o resultado, a ABEP vai estar forte. Se os encontros forem
no molde dos atuais, vão continuar sendo encontros fortes.
Elza Berquó – Quanto mais ela [a ABEP] preservar o caráter plural que
ela tem, ela sobreviverá. No momento em que ela se transformar num braço
político, seja lá de quem for, ou de que partido for, ou de que ideologia for,
aí ela está perdida. A meu ver, o que garante a sobrevivência da ABEP, e
outras associações, é o fato dela não se transformar em braço absolutamente
de coisa nenhuma, a não ser o conhecimento. A divulgação do conhecimento,
a difusão do conhecimento, a incorporação cada vez mais desse grupo jovem
que vai entrando para o campo, lutar para dar condições para que as pesquisas
(...) tudo bem, a ABEP tem o papel de cobrar do CNPq, da Capes, isso sim.
É o papel dela. Por quê? Porque esses recursos são fundamentais para que
a pesquisa sobreviva. E ela sempre tem que lutar, como está lutando, para
ter recursos para seus encontros. E esses recursos, as origens dos recursos
não podem de forma alguma comprometer a sua performance. Se isso for
preservado, cada vez mais o futuro dela será ampliado. Porque esse tema,
população, não sai da agenda. Pelo contrário, ele se torna cada vez mais
complexo, e não há dúvida nenhuma que a associação tem que estar aberta
para incorporar toda essa complexidade. Mas jamais perder a pluralidade.
Jamais.
Ao final de cada entrevista, solicitei aos presidentes que deixassem
uma mensagem para os jovens demógrafos. Apesar de terem sido pegos de
surpresa diante de tanta responsabilidade, eles não decepcionaram.
Paulo Paiva – Não havia pensado nessa coisa. Eu acho que, primeiro, como
é fascinante, através da dinâmica demográfica, você conhecer a história das
transformações que ocorreram com a sociedade nos últimos, pelo menos nos
últimos 200 anos. Mudanças interessantes, porque demografia, o estudo da
população, (...) a longo prazo, te permite ver processos mais longos, que o
nosso horizonte não nos permite. Você ter uma visão mais de longo prazo. E
da relatividade de algumas coisas que a gente acredita que são mais definitivas.
Exceto nas duas primeiras, Elza Berquó e Daniel Hogan, nas quais esta pergunta, lamentavelmente,
não foi feita.
97
A segunda, eu acho que nós temos grandes desafios pela frente no nosso país,
e que o conhecimento da relação de crescimento populacional, dinâmica e
transformações da população, e a economia e as políticas públicas podem te
ajudar a buscar soluções para melhorar o bem-estar da população brasileira.
(...) Eu acho que conhecer a inter-relação entre a dinâmica demográfica e esses
processos de crescimento econômico e de políticas públicas, eu creio que te
ajuda muito a tentar procurar intervir nas decisões, no sentido de melhorar o
nosso país.
Diana Sawyer – Que mensagem a gente pode dar para o jovem demógrafo? Eu
acho que é importante para o jovem demógrafo é que eles se sintam demógrafos.
Eu acho que esse é o ponto principal. Não perder perspectivas, seu objeto de
estudo, com essa ramificação toda que tem aí.
Eduardo Rios-Neto – O que eu deixo de mensagem para os jovens demógrafos
é nunca deixar de praticar os fundamentos. Se eles tiverem os fundamentos bem
feitos, sejam eles na base demográfica pura ou na interface com qualquer das
áreas de ciências humanas, eles sempre vão ter uma questão interessante para
tratar. Esse é o lado interessante da demografia. Como a demografia se refere
à população, ou seja, se refere ao ser humano na sociedade, isso irrita as outras
áreas, o demógrafo é como se fosse um oportunista, porque muda a temática, o
primeiro a chegar lá é o demógrafo. Se a temática é criança, é o demógrafo. Se
a temática é o idoso, é o demógrafo. Se a temática é família, é o demógrafo. Se
é ruptura de família, é o demógrafo. Se é HIV, é o demógrafo. Então, eu acho
que um demógrafo bem preparado no fundamento, ele consegue sobreviver à
moda e agüentar o tempo. Isso que é o futuro.
Coleta Oliveira – Duas coisas eu acho importantes. Uma, não buscar e nem
pretender unanimidade. Isso não existe, e cada vez menos existirá. O que
não quer dizer que não haja propostas vencedoras, propostas bem sucedidas.
EDITORIAL
A ABEP vai completar 30 anos em 2006 e a atual Diretoria tem centralizado seus esforços
para dar continuidade às atividades da Associação e, simultaneamente, fazer um balanço
da trajetória dessas três décadas de vida. (...) Como parte de nossa agenda abepiana, e em
meio a essas reflexões, decidimos, conjuntamente com o nosso Conselho Consultivo, que o XV
Encontro Nacional de Estudos Populacionais está centrado em torno do tema ‘Desafios do
Crescimento Zero’”. (Informativo Eletrônico- Ano 3, n.01/05, p. 1).
98
Revista Brasileira de Estudos da População-REPEB
Nota do Editor
“Este número especial da Revista Brasileira de Estudos de População- cuja apresentação
é motivo de muita satisfação para nós - resulta de uma idéia concebida por ocasião da
comemoração do 20º aniversário da publicação”.(...) O projeto editorial contemplou uma
pauta dedicada à evolução do campo da demografia no Brasil, buscando o testemunho de
estudiosos especialmente convidados, incluindo todos os presidentes da Associação Brasileira
de Estudos Populacionais-Abep.” (Informativo Eletrônico- Ano 4, n.03/06, pp. 1,2).
Mas não buscar unanimidade. Segundo, a articulação fora da ABEP, fora da
demografia, no sentido de aprender com os outros e trazer para dentro. Eu acho
que isso é super importante.
George Martine – Eu acho que não deve haver preocupação com o political
correctness [politicamente correto]. Acho que tudo tem que ousar, enfrentar os
conservadorismos, as velharias. E não ter medo de se expressar.
José Alberto Carvalho – A mensagem que posso deixar a eles é a seguinte: as
gerações mais velhas conseguiram, ainda que muitas vezes por razões fortuitas,
criar uma área de conhecimento da demografia no Brasil, a associação, as
instituições. E nós estamos passando para eles essa herança, que vai depender
totalmente deles. Muitas vezes, para o jovem isso pode parecer fácil, as coisas
estão construídas. Mas foi com muito sacrifício, dedicação, e principalmente
com muita solidariedade, lealdade entre nós. Cabe a eles continuar esse legado,
a responsabilidade agora é deles. Eu espero que aproveitem os ensinamentos do
passado, as críticas que fiz aqui, que procurem não repetir [os erros].
Neide Patarra – (...) a gente não deixou para eles tudo que as nossas batalhas
sonharam em deixar. Porque nessa luta, em muitos momentos nós fomos
perdedores. Perdedores como sociedade, perdedores como país, perdedores
num contexto internacional difícil. Se isso é verdade, por outro lado (...) uma
trajetória institucional brasileira, nas ciências sociais, na estatística, (...) de uma
qualidade humana, intelectual, científica, que é específica do Brasil. (...) o nível
da produção dos intelectuais da academia nessas áreas. Não só nessas áreas,
nós somos ótimos em física, nós somos ótimos em biologia. Mas nas ciências
sociais a gente também (...) juntando ciências exatas (...) a gente criou um
caldo de cultura, e nesse caldo de cultura (...) tinha um nível de excelência, uma
99
busca de um nível de excelência intelectual, mas um compromisso (...) como
cidadãos (...). A ABEP concentrou na trajetória de profissionais, de pessoas
absolutamente comprometidos com as questões sociais, políticas do país. (...)
eu acho que eles [os jovens] vão, seguramente, [continuar esta trajetória] (...).
A ABEP, no fundo, nada mais é do que uma expressão do que é a
demografia brasileira hoje.
Jair Santos – Talvez usando uma certa nostalgia, na verdade eu tenho
a impressão de que a gente não sabia, mas tinha a intuição de que estava
construindo realmente uma coisa grande e duradoura, que é a nossa demografia
brasileira de hoje.
Fachada do Sheraton
Rio Hotel & Towers,
no Leblon.
100
Linha do Tempo
102
1820 A população mundial atinge 1 bilhão de habitantes.
1872 Primeiro censo realizado no Brasil. O País tem 9.930.478 habitantes.
1890 Segundo o censo, o Brasil tem 14.333.915 habitantes.
1895 Realizada no Brasil a primeira partida de futebol.
1900 O Censo Demográfico mostra que há 17.438.434 habitantes no Brasil.
1908
Os primeiros imigrantes japoneses desembarcam no Brasil.
1914 Agosto – tem início a Primeira Guerra Mundial, após o assassinato do Arquiduque Francisco
Ferdinando, herdeiro do trono Austro-Húngaro.
1918 Novembro – termina a Primeira Guerra Mundial, que redefine o mapa geo-político mundial.
1920 Segundo o Censo Demográfico, o Brasil tem 30.635.605 habitantes.
A esperança de vida ao nascer é de 42 anos.
1928 Fundação da IUSSP – International Union for the Scientific Study of Population, então
chamada International Union for the Scientific Investigation of Population Problems.
1930 A população mundial atinge 2 bilhões de habitantes.
1932 Em abril, na cidade de Nova York, acontece a primeira reunião anual da PAA – Population
Association of America.
1934 Criação do Instituto Nacional de Estatística - INE.
1937 Golpe do Estado Novo
Criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
104
1939 Em 19 de janeiro, chega ao Brasil o italiano Giorgio Mortara, um marco na demografia no
Brasil.
Em março, tem início o pontificado de Pio XII.
O mundo entra novamente em conflito: começa a Segunda Guerra Mundial.
1940 Segundo o Censo Demográfico, o Brasil tem 41.236.315 habitantes.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 6,2 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 42 anos.
A população urbana corresponde a 31,3% da população total.
O Código Penal estabelece que aborto é crime no Brasil, a não ser quando a gravidez é
resultado de estupro ou quando oferece risco de vida à mulher.
1945 Em agosto, os EUA lançam bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Dias depois, o
Japão se rende. É o fim da Segunda Guerra Mundial.
1946 Posse de Eurico Gaspar Dutra na Presidência da República. É o inicio da chamada
redemocratização.
1947 Reconstituição da IUSSP, agora com o nome de International Union for the Scientific Study
of Population.
1950 Segundo o Censo Demográfico, o Brasil tem 51.944.397 habitantes
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 6,2 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 46 anos.
A população urbana corresponde a 36,2% da população total.
1951 Posse de Getúlio Vargas na Presidência da República.
15 de janeiro – é criado o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, então Conselho Nacional de Pesquisa.
Julho – é criada a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
1952 Criação do BNDE (atual BNDES)
Nos EUA, a IBM lança o primeiro computador comercial de porte, o 701.
1953 Getulio Vargas sanciona a Lei que cria a Petrobrás.
1954 Agosto – Getulio Vargas mata-se com um tiro no coração, o que significa uma ruptura no
processo histórico brasileiro.
Criação da ENCE – Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do IBGE.
31 de agosto a 10 de setembro – Primeira Conferência Mundial de População, em Roma,
Itália.
1955
Realiza-se, no Rio de Janeiro, a X Conferência da IUSSP – International Union for the
Scientific Study of Population.
1956 Juscelino Kubitschek de Oliveira toma posse na Presidência da República e lança seu
arrojado Plano de Metas. O ano termina com inflação de 24,4%, contra 12,4% do ano
anterior.
1957 Criação do CELADE – Centro Latinoamericano de Demografía.
1958 Tem início o pontificado de João XXIII.
A seleção brasileira de futebol ganha sua primeira Copa do Mundo (Brasil 5 X 2 Suécia).
O ano termina com outra boa notícia: a indústria de bens de produção supera pela primeira
vez a de bens de consumo.
João Gilberto grava Chega de saudade. É o início da Bossa Nova.
1960 JK inaugura Brasília em 21 de abril.
Nos EUA, é lançada comercialmente a pílula anticoncepcional.
De acordo com o Censo Demográfico, o Brasil tem 70.070.457 habitantes
A população mundial atinge 3 bilhões de habitantes.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 6,3 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 52 anos.
A população urbana corresponde a 44,7% da população total.
1961 Jânio Quadros assume a Presidência da República em janeiro e renuncia em agosto do
mesmo ano.
Em setembro, João Goulart aceita o regime parlamentarista e assume a Presidência.
Tancredo Neves torna-se o primeiro ministro.
Roberto Carlos lança seu primeiro disco, Louco por você.
1962 Criação do Ministério do Planejamento. A nova pasta é entregue a Celso Furtado, que
anuncia o Plano Trienal e promete derrubar a inflação para o patamar de 10% em 1965. O ano termina com inflação de 52% e com o crescimento do PIB de 8,6%.
O Brasil torna-se bicampeão de futebol no Chile. Na final, contra a Tchecoslováquia, o Brasil
ganha de 3 a 1.
O jornalista Carlos Leonam cunha a expressão “esquerda festiva”.
Chega ao Brasil a pílula anticoncepcional.
1963 Em 22 de julho, na TV Excelsior de São Paulo, estréia 2-5499 Ocupado, a primeira novela
diária exibida no Brasil, estrelada por Tarcísio Meira e Glória Menezes.
Betty Friedan publica Feminine Mystique, um clássico do feminismo.
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1964 O ano se inicia sob forte tensão política. Na virada do dia 31 de março para 1º de abril, é
dado o golpe militar. João Goulart é deposto da Presidência e, no dia 11 de abril, o Marechal
Humberto de Alencar Castelo Branco assume a Presidência da República. Estava inaugurado
o regime militar, que se sustentará por meio dos atos institucionais.
Em junho, é criado do SNI – Serviço Nacional de Informações, cuja chefia é entregue ao
General Golbery do Couto e Silva. O Congresso prorroga o mandato de Castelo Branco até
março de 1967 e aprova o Plano de Ação Econômica do Governo – PAEG, cujo objetivo é
derrubar a inflação.
Criação de nova fórmula para calcular reajustes salariais e surgimento da expressão “arrocho
salarial”.
Criação do BNH – Banco Nacional de Habitação do Banco Central do Brasil.
O ano termina com inflação de 92,1% e a economia cresce 3,4%.
Roberto Campos é o Ministro do Planejamento.
1965
Otacílio Negrão de Lima e Israel Pinheiro, considerados de oposição, são eleitos
Governadores de Estado da Guanabara e de Minas Gerais, respectivamente. Irado,
o Governo baixa o Ato Institucional nº 2, que dissolve os partidos políticos, cria o
bipartidarismo e institui a eleição indireta para Presidente da República e Governadores de
Estado. Os crimes políticos passam a ser julgados pela Justiça Militar.
30 de agosto a 10 de setembro – segunda Conferência Mundial de População, organizada
conjuntamente pelas Nações Unidas e pela IUSSP.
1966 O Congresso elege o general Arthur da Costa e Silva para a Presidência da República.
Criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS. Os serviços da Previdência
são unificados, dando surgimento ao INPS.
O ano termina com 39,1% de inflação e 6,7% de crescimento.
Chico Buarque lança A Banda e ganha o festival de música da Record.
Em 24 de março, é fundado o MDB.
É criado o Cedip – Centro de Estudos de Dinâmica Populacional, ligado à então Faculdade
de Higiene da USP.
1967 Em janeiro, é lançada a nova Constituição. Em março, Costa e Silva toma posse na
Presidência.
Muda-se a moeda para Cruzeiro Novo. Um NCr$ vale mil cruzeiros.
Frank Sinatra e Tom Jobim gravam um disco juntos.
Che Guevara é assassinado na Bolívia.
Os EUA já têm cerca de 500 mil homens no Vietnã.
Delfim Netto é o Ministro da Fazenda, cargo que ocupa até 1974.
É criada a Finep – Financiadora de Estudos e Projetos.
Vai a campo a primeira PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.
Outubro: é oferecido, no Cedip, o primeiro Curso de Especialização em Dinâmica
Populacional.
É criado o Cedeplar – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, ligado à
Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.
É criado o Clacso – Conselho Latino-americano de Ciências Sociais.
1968 Greves de trabalhadores em Contagem, São Bernardo do Campo e em outras cidades. Clima
político tenso. Em junho, ocorre a célebre passeata dos 100 mil, no Rio de Janeiro.
Violência, repressão e centenas de prisões. Em outubro, são presos 920 estudantes em Ibiúna,
no Congresso da UNE.
Em 13 de dezembro, o governo baixa o famigerado Ato Institucional nº5, o AI5. A imprensa
é censurada, fecha-se o congresso e centenas de pessoas são presas, inclusive JK, Carlos
Lacerda, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
O ano termina com um crescimento de 9,8% do PIB e uma expansão de 15% na indústria e
nas exportações. Recorde na produção de automóveis e cimento e o maior nível de emprego
já registrado. A inflação fecha o ano em 25,5%. É o início do “milagre” brasileiro.
Feministas em Nova York protestam contra o concurso de Miss América e jogam numa lata
de lixo os símbolos da opressão, tais como sutiãs, ligas, perucas e cílios postiços. Apesar de
não ter havido fogo, o episódio ficou conhecido como a “queima dos sutiãs”.
Tem início a construção do Hotel Sheraton, na Praia do Vidigal, Rio de Janeiro, onde antes
ficava o Hotel Colonial e uma vila de pescadores, removida durante a obra.
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1969 Fundação, em São Paulo, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Cebrap, que
abriga em seus quadros professores universitários aposentados compulsoriamente pelo regime
militar.
Criação do CRH – Centro de Recursos Humanos da UFBA, como um Programa
Interdisciplinar de Pesquisa (PRH), vinculado ao gabinete do Reitor
Costa e Silva sofre uma isquemia cerebral e uma junta militar assume o governo. Em outubro,
o congresso é reaberto e elege o general Emílio Garrastazu Médici para a Presidência da
República. Iniciam-se, para valer, os anos de chumbo no Brasil. Jornais do porte de O Estado
de São Paulo publicam poemas no espaço destinado aos editoriais.
Neil Armstrong é o primeiro homem a pisar na lua.
Em 1o de setembro, vai ao ar, pela primeira vez, o Jornal Nacional, apresentado por Hilton
Gomes e Cid Moreira.
Realiza-se em Londres, Inglaterra, a XVI International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
O ano termina com um crescimento de 9,5% do PIB e inflação de 20,1%.
O ano é marcado pela exacerbação da violência, tanto do governo quanto dos militantes de
esquerda. A maioria dos militantes políticos age na clandestinidade.
1970 O ano termina com um crescimento de 11,3% do PIB e a inflação em 19,5%.
O Brasil conquista o tricampeonato mundial de futebol, no estádio Azteca, no México,
vencendo a Itália, com uma vitória arrasadora: 4 a 1. A música que empolga o país fala em 90
milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção.
É realizado o Censo Demográfico. Somos 93.139.037 habitantes.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 5,8 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 54 anos.
A população urbana ultrapassa a rural e corresponde a 55,9% da população total.
1971 No futebol, é disputado, pela primeira vez, o Campeonato Brasileiro, conhecido como
“Brasileirão”. Em 9 de dezembro, no Maracanã, o Atlético Mineiro sagra-se campeão
vencendo o Botafogo, com um gol de Dadá Maravilha.
Terminam as obras de construção do Hotel Sheraton, na praia do Vidigal, Rio de Janeiro. São
110 quartos, distribuídos em torno de estacionamento, e mais 486 unidades com vista para o
mar, distribuídas em 18 pavimentos. 1972 Em 14 de julho, num acidente de avião, morre, aos 27 anos, Leila Diniz, uma mulher à frente
do seu tempo.
Outubro – criação do Programa de Pós-graduação em História da UFPR, com duas opções
para o mestrado: História Demográfica e História Econômica.
Em agosto, o IBGE informa que o Brasil bateu a marca dos 100 milhões de habitantes. O
ano termina com um crescimento de 11,9% do PIB e 15,7% de inflação.
Desenvolvidos os primeiros sistemas para interligar computadores em rede mundial.
1973 Termina a Guerra do Vietnã.
2 de agosto – o seqüestro do menino Carlinhos, ocorrido na Rua Alice, no Rio de Janeiro,
choca o país. O “Caso Carlinhos”, como ficou conhecido, marca toda uma geração.
Na Rede Globo, estréia O Bem-Amado, primeira novela em cores da televisão brasileira.
Realiza-se em Liège, Bélgica, a XVII International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
Criação do PISPAL – Programa de Investigaciones sobre Población en América Latina.
Institucionalização do CRH – Centro de Recursos Humanos da UFBA, como Órgão
Suplementar vinculado à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, e com funções
pesquisa, extensão e ensino.
1974 O Congresso Nacional elege o General Ernesto Geisel para a Presidência da República.
Geisel promete “lenta, gradativa e segura distensão do regime”.
Nas eleições para cargos legislativos, realizadas em novembro, o MDB obtém 72,75% dos
votos e aumenta sua bancada de deputados federais de 87 para 160 deputados.
Inaugura-se a ponte Rio-Niterói. O Ministro do Planejamento Mario Henrique Simonsen
promete baixar a inflação e aumentar o crescimento da economia.
De 19 a 30 de agosto, acontece a terceira Conferência Mundial de População, em Bucareste,
Romênia.
A população mundial atinge a marca de 4 bilhões de habitantes.
1975 USP, PUC-SP e FGV entram em greve. Sorrateiramente, a sociedade civil começa a se
organizar em prol da anistia e do fim do regime militar.
Em outubro, o jornalista Wladimir Herzog apresenta-se ao DOI-CODI de SP e, horas
depois, está morto. Os militares insistem na tese do suicídio, mas o país inteiro sabe que foi
assassinato.
O ano termina com um crescimento de 5% do PIB e inflação de 30%. A dívida externa é de
22 bilhões de dólares. O “milagre econômico” caminhava para o fim.
109
1976
Em janeiro, o operário Manuel Fiel Filho morre no DOI-CODI de São Paulo. Novamente,
fala-se em suicídio. No entanto, seu corpo apresenta sinais evidentes de tortura.
Em abril, morre a estilista Zuzu Angel, cuja batalha incansável para reaver o corpo do filho
Stuart Angel Jones, desaparecido nos porões da ditadura, custou-lhe a própria vida. O carro
de Zuzu foi abalroado propositalmente e a estilista teve morte instantânea.
Em agosto, JK morre num acidente de automóvel. Seu funeral traz, de novo, o povo às ruas.
O governo se assusta com a popularidade de JK.
No decorrer do ano, inúmeras bombas são explodidas. As mais célebres foram a da residência
do jornalista Roberto Marinho, a da sede da Editora Civilização Brasileira e as das sedes da
OAB e ABI.
Em dezembro, João Goulart morre em seu exílio, no Uruguai.
Em dezembro, Fidel Castro assume a presidência de Cuba.
O livro Feliz ano novo, de Rubem Fonseca, lançado em 1975, é proibido, após 3 edições e 30
mil exemplares vendidos.
O Cruzeiro conquista a Taça Libertadores, após vitória de 3 a 2 sobre o River Plate.
Em 30 de dezembro, Ângela Diniz é assassinada por seu namorado, Doca Street. Julgado
e absolvido 3 anos depois, alegando legítima defesa da honra, Doca Street deixa o tribunal
aplaudido. Em novo julgamento, em 1981, feministas protestam contra a tese da defesa e
Doca Street acaba condenado a 15 anos de prisão.
Vai a campo a PNAD 76, cujo suplemento inclui uma questão aberta sobre a classificação
racial/por cor.
A PEA é composta por 28,8% de mulheres e 71,2% de homens.
O PIB cresce 10,2% e a inflação chega a 46%.
7 a 9 de junho – durante o Simpósio sobre o Progresso da Pesquisa Demográfica no Brasil,
realizado no Hotel Sheraton, no Rio de Janeiro, é delegada a um grupo de pesquisadores
a tarefa de propor as bases para a constituição da futura Associação Brasileira de Estudos
Populacionais - ABEP.
110
1977
Março – estudantes voltam às ruas. É a primeira passeata desde 1968.
Em 24 de julho, Cláudia Lessin Rodrigues, de 21 anos, é encontrada morta num rochedo
da Avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro. Depois de doze anos foragido da justiça brasileira,
Michel Frank, o autor do crime, é assassinado na Suíça.
Em setembro, a polícia invade a USP e 1.700 estudantes são detidos.
Em dezembro, o governador de Minas, Aureliano Chaves, defende a anistia parcial. A dívida
externa é de 32 bilhões de dólares e o PIB cresceu 4,9%. A inflação é de 38,9%.
Chico Buarque compõe a música Angélica, em homenagem a Zuzu Angel.
Tem início, na China, a política do filho único, uma tentativa de conter o crescimento
populacional.
Em 28 de junho, após 26 anos de luta, o Senador Nelson de Souza Carneiro, então do
MDB do Rio de Janeiro, finalmente obtém a aprovação, no Congresso Nacional, da Lei
6515/77, que institui o divórcio no Brasil. A Lei do Divórcio é sancionada pelo presidente da
República, Ernesto Geisel, em 26 de dezembro.
Em 19 de outubro, na sede da Fundação Ford, na Praia do Flamengo, número 100, Rio de
Janeiro, realiza-se a Assembléia Geral que funda a ABEP. A primeira diretoria é eleita por
aclamação e o primeiro presidente da ABEP é João Lyra Madeira.
Realiza-se, na Cidade do México, a XVIII International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
1978 Início dos movimentos grevistas no meio operário. Do ABC paulista, espalha-se para outras
regiões do país, notadamente as que apresentam um parque industrial mais desenvolvido.
6 de agosto – Morre o Papa Paulo VI.
26 de agosto – Tem início o pontificado de João Paulo I
28 de setembro – Morre o Papa João Paulo I
16 de outubro – Tem início o pontificado de João Paulo II
Realização do I Encontro da ABEP, em Campos do Jordão.
12 de outubro: Assembléia geral da ABEP, que elege, por calorosa aclamação, João Lyra
Madeira como presidente de honra da ABEP. José Alberto Magno de Carvalho é eleito
presidente da ABEP.
111
1979 José Alberto Magno de Carvalho assume a presidência da ABEP.
É lançado o primeiro número do “Informativo da ABEP” – publicação trimestral.
Morre João Lyra Madeira, primeiro presidente da ABEP.
O General João Figueiredo assume a Presidência da República. Seu governo amplia a política
de liberalização iniciada em 1974. A mobilização que toma conta da sociedade civil a partir
dessa época estende-se dos setores de elite para os setores médios, populares e sindicais.
Delfim Netto assume o Ministério do Planejamento.
Em junho, o governo apresenta ao congresso o projeto de Lei de Anistia. Em agosto, é
sancionada a Lei de Anistia.
Reforma partidária e fim do bipartidarismo.
Em junho, no seriado Malu Mulher, da Rede Globo, a atriz Regina Duarte protagoniza a
primeira cena de orgasmo na televisão brasileira. A câmera focaliza a mão fechada da atriz,
que se abre num espasmo.
É criado o PMDB, a partir da regularização do antigo MDB, segundo as regras da recéminstituída Lei dos Partidos Políticos.
1980 Em 10 de fevereiro, no Colégio Sion, em São Paulo, é fundado o PT – Partido dos
Trabalhadores.
O primeiro caso de AIDS no mundo é notificado nos EUA.
Recrudescimento dos atentados terroristas no país. Atentado à sede da OAB, no Rio de
Janeiro, mata a funcionária Lydia Monteiro.
Setembro: tem início da primeira Guerra do Golfo, que só terminaria 8 anos depois. Segundo
o censo de 1980, a população brasileira é de 119.002.706 habitantes.
A população urbana corresponde a 67,6% da população total.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 4,4 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 54 anos.
Realização do II Encontro Nacional da ABEP, em Águas de São Pedro, SP.
13 de outubro: na Assembléia Geral, Tamás Szmrecsányi e Guaraci Adeodato Alves
de Souza encaminham a seguinte moção: “Tendo em vista a indefinição do Governo
Brasileiro em termos de política demográfica, considerando as contínuas pressões
externas e internas no sentido da adoção de um programa governamental de controle
da natalidade das classes trabalhadoras; tendo em vista as iniciativas em andamento
no sentido da próxima adoção sob título de planejamento familiar ou assemelhados, de
uma política desse tipo, tendo em vista que os grandes problemas brasileiros não são
demográficos mas de caráter social e econômico, dizendo respeito fundamentalmente
à distribuição de renda, da riqueza e do poder, a ABEP resolve: 1. solicitar ao Governo
que vários estudos ora em curso sejam tornados públicos, a fim de possibilitar uma ampla
discussão antes de adotar a referida política, e 2. repudiar a adoção de políticas desse tipo
por pressão de organismos internacionais e/ou estrangeiros.”
112
1981
José Alberto de Carvalho inicia seu segundo mandato como presidente da ABEP.
Em 30 de abril, acontece o atentado do Riocentro.
Fundada a BITNET, uma rede cooperativa de universidades americanas que permite o envio
de mensagens e arquivos através de computador.
Realiza-se em Manila, Filipinas, a XIX International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
1982
Eleições diretas para governadores dos Estados. Candidatos da oposição vencem em 3 dos
maiores Estados brasileiros: Tancredo Neves em Minas, Leonel Brizola no Rio de Janeiro e
Franco Montoro em São Paulo. O regime militar está nos seus estertores.
O primeiro caso de AIDS no Brasil é notificado na cidade de São Paulo.
Maio – Fundação, na Unicamp, do Núcleo de Estudos de População – Nepo.
A UFPR cria o Doutorado em História, com uma única opção: História Demográfica.
Realização do III Encontro Nacional na Ilha do Boi, Vitória, ES.
A Assembléia Geral, realizada em 11 de outubro, aprovada a proposta de criação da
Revista Brasileira de Estudos de População (Rebep), a partir de moção encaminhada por
Ana Maria Goldani. Outra moção, encaminhada pelo associado Luís Roberto de Barros
Mott, solicita que a ABEP se manifeste contra a discriminação sexual.
1983 Elza Berquó assume a presidência da ABEP.
Em 15 de março, tomam posse os governadores eleitos diretamente.
Fundação da CUT.
Surgem os primeiros telefones celulares.
A Compac lança o seu primeiro microcomputador.
O primeiro caso feminino de AIDS no Brasil é notificado na cidade de São Paulo.
1984 Efervescência política. A população sai às ruas na luta por eleições diretas para presidente
da República. O movimento conhecido como “Diretas Já” mobiliza milhares de pessoas na
maioria das cidades brasileiras. A despeito da pressão popular, a emenda do deputado Dante
de Oliveira, que propõe eleições diretas, não consegue a votação necessária.
De 6 a 14 de agosto, acontece a Conferência Internacional sobre População, realizada na
Cidade do México.
Criação do Cedhal – Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina, da
USP.
Neide Patarra é a primeira editora da Rebep.
A ABEP publica “Censos, consensos e contrasensos”.
Realiza-se o IV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Águas de São Pedro,
SP. Na Assembléia Geral, realizada em 9 de outubro, é lançado o primeiro volume da
Rebep. É aprovada, por unanimidade, moção sobre a questão demográfica indígena,
apresentada na sessão Etnia e Demografia, para ser encaminhada à Presidência da
República.
113
1985 Paulo Paiva assume a presidência da ABEP.
Em 24 de janeiro, é fundado o PFL – Partido da Frente Liberal.
Tancredo Neves é eleito pelo Colégio Eleitoral Presidente do Brasil e morre antes de tomar
posse. O vice-presidente José Sarney assume a Presidência e tem início a chamada Nova
República.
Realiza-se em Florença, Itália, a XX International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
Criação do Prolap – Programa Latino-americano de Actividades en Población, cujo objetivo
é a criação e o fortalecimento de uma rede de centros de pesquisa e docência em população
na América Latina.
A PEA é composta por 33,5% de mulheres e 66,5% de homens.
1986 Começa a era dos pacotes econômicos. Em fevereiro, o Presidente José Sarney anuncia
o Plano Cruzado. No final do mesmo ano, o Plano é dado como fracassado, com o
ressurgimento da inflação.
Outubro – eleição dos deputados que iriam compor a Assembléia Nacional Constituinte.
Novembro – é decretado o Plano Cruzado II.
Vai a campo a Pesquisa Nacional sobre Saúde Materno-Infantil e Planejamento Familiar,
coordenada pela BEMFAM.
Realiza-se o V Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Águas de São Pedro, SP.
Como parte das comemorações do décimo aniversário da ABEP, estabelece-se o Prêmio
ABEP 10 anos. Na Assembléia Geral, realizada em 14 de outubro, é feita uma revisão no
estatuto.
1987 Paulo Paiva inicia seu segundo mandato como presidente da ABEP.
Abril – Instalação da Assembléia Nacional Constituinte.
Junho – É lançado o Plano Bresser, outra tentativa sem êxito de estabilização econômica.
1988 É promulgada, a 5 de outubro, a nova Carta Constitucional.
Fundação do Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, em assembléia realizada no dia
25 de junho, quando foram aprovados o manifesto, programa e estatuto do novo partido.
A população mundial atinge 5 bilhões de habitantes.
A ABEP publica Primeira Década, organizado por Elza Berquó, e PNADs em foco: Anos 80,
organizado por Diana Sawyer.
Realiza-se o VI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Olinda, PE. Na
Assembléia Ordinária, realizada em 18 de outubro, Neide Patarra é eleita presidente da
ABEP.
114
1989 Neide Patarra assume a presidência da ABEP.
6 de janeiro – O país pára para saber quem matou Odete Roitman, no último capítulo da
novela Vale tudo, da Rede Globo.
15 de janeiro: é instituído o Plano Verão, outra tentativa frustrada de dar cabo da inflação.
Foi criado o cruzado novo, com 3 zeros a menos que o seu antecessor, o cruzado. Seu impacto
foi ainda mais breve que o dos planos anteriores.
Treze anos após sua proibição, é reeditado o livro Feliz ano novo, de Rubem Fonseca.
Outubro – Fernando Collor de Melo é eleito Presidente da República, na primeira eleição
direta depois de quase trinta anos.
Outubro – Cai o muro de Berlim.
Realiza-se em Nova Déli, Índia, a XXI International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
1990
Fernando Collor de Mello toma posse e anuncia o plano “Brasil Novo”, pelo qual a poupança,
as contas correntes e as aplicações financeiras são bloqueadas, com o efeito mais imediato de
uma forte redução na liquidez do país. A ABEP sofre com o confisco de seus recursos.
O Governo Collor dá início a um processo de liberalização, que iria continuar na década de
noventa com o processo de privatização e abertura da economia.
Em 7 de julho, aos 32 anos, morre Cazuza, o primeiro artista brasileiro que admite
publicamente ter AIDS.
Em 13 de julho, é promulgada a Lei N° 8.069, que estabelece o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Agosto – Tem início a segunda Guerra do Golfo, que dura 18 meses.
Surgem os primeiros modems de 300, 600 e 1200 kbps.
A PEA é composta por 35,5% de mulheres e 64,5% de homens.
Maria Coleta Oliveira assume a editoria da Rebep.
Realiza-se o VII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Caxambu, MG.
Em 16 de outubro, na Assembléia Geral, a moção apresentada por Elza Berquó coloca
a ABEP em estado de vigília permanente. “A realização do Censo Demográfico de 1990
trará certamente grandes dificuldades para o prosseguimento da pesquisa demográfica com
efeitos evidentes para o avanço do conhecimento da área e implantação de políticas sociais.
A fim de evitar que estas dificuldades se agravem ainda mais, a ABEP mantém-se em vigília
permanente no sentido de garantir que o Censo se realize em 1991. A ABEP, em conjunto
com as demais associações científicas conscientes da gravidade da situação, vem manifestar
esta preocupação junto ao governo federal, devendo, ainda fazer uso de todos os meios ao
seu alcance para esclarecer a sociedade civil a respeito deste direito”. Uma segunda moção,
apresentada por Maria Helena P. de Mello Jorge e Maria Lúcia Sokoll, reivindica a abolição
dos custos referentes ao Registro Civil, para que o Estatuto da Criança possa, efetivamente,
ser cumprido. Finalmente, uma terceira moção, proposta por Paulo Paiva, protesta contra as
mudanças implementadas no CNPq, à revelia das representações da comunidade científica.
Ainda na Assembléia, decide-se reduzir o número de cargos na diretoria da ABEP. São
eliminados os cargos de 2° vice-presidente, 2° Tesoureiro e1° Secretário, em vigor a partir da
eleição seguinte. Neide Patarra é reeleita presidente da ABEP.
115
1991 Neide Patarra inicia seu segundo mandato como presidente da ABEP.
Com 1 ano de atraso, é realizado o Censo Demográfico. A população brasileira é de
146.825.475.
Vai a campo, na região Nordeste, a Pesquisa sobre Saúde Familiar no Nordeste (PSFNe),
coordenada pela BEMFAM.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 2,7 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 60 anos.
A população urbana corresponde a 75,6% da população total.
1992 É aprovado pelo Congresso Nacional o impeachment de Collor, que renuncia ao cargo. O
vice-presidente, Itamar Franco, assume a Presidência do Brasil.
Em acidente de helicóptero, morre Ulysses Guimarães, o senhor Diretas.
George Bush e Boris Yeltsin anunciam, oficialmente, o fim da Guerra Fria.
Acontece, no Rio de Janeiro, a Rio92, conferência mundial sobre meio ambiente.
Em 1992, após 23 anos no ar, a bancada do Jornal Nacional é ocupada por uma mulher, a
jornalista Valéria Monteiro.
A escolaridade média da população brasileira é de 4,9 anos de estudo – 4,9 anos entre as
mulheres e 4,8 anos entre os homens.
Realiza-se o VIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Brasília, DF. Durante
o Encontro, os associados se reúnem em Assembléia Extraordinária na noite do dia 26
de outubro, na qual é criado o Conselho Consultivo, órgão de assessoria da Diretoria, e
reformado o Estatuto. No dia seguinte, ocorre, no mesmo local, a Assembléia Ordinária
da ABEP, na qual é eleita, pela primeira vez, uma diretoria mais enxuta, com apenas cinco
membros. Diana Sawyer é eleita presidente da ABEP.
1993 116
Diana Sawyer assume a presidência da ABEP.
Em maio, assume o quarto Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Fernando
Henrique Cardoso. Em dezembro, é proposto um novo programa de estabilização.
Termina o apartheid na África do Sul.
Realiza-se em Montreal, Canadá, a XXII International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
1994 Em fevereiro, é introduzido um novo sistema de indexação que consistia na implantação da
Unidade Real de Valor – URV, vinculada ao dólar em uma base de um para um.
Em meados do mesmo ano, é introduzida a nova moeda, cuja unidade era igual à URV. Em
1o de maio, morre o piloto Ayrton Senna, no circuito de Imola, na Itália.
Em 1º de julho, é introduzido o Real igual a uma URV.
O Brasil é tetracampeão na Copa do Mundo dos Estados Unidos. A final, entre Brasil e
Itália, pela primeira vez na história, é decidida nos pênaltis.
A inflação baixa de uma taxa mensal de cerca de 47% em junho para 1,5% em setembro.
Fernando Henrique Cardoso é eleito Presidente do Brasil pelo PSDB, partido do qual foi um
dos fundadores.
A ABEP publica o primeiro e o segundo volumes de seus Textos Didáticos, Introdução a
alguns Conceitos Básicos e Medidas em Demografia, de José Alberto Magno de Carvalho,
Diana Oya Sawyer e Roberto do Nascimento Rodrigues; e A Demografia numa Perspectiva
Histórica, de Sérgio Odilon Nadalin.
De 5 a 13 de setembro, é realizada, no Cairo, Egito, a CIPD – Conferência Internacional
sobre População e Desenvolvimento. Houve enormes avanços no sentido de tentar garantir
uma maior igualdade de gênero, eliminar a violência contra as mulheres e assegurar que elas
possam controlar sua própria fecundidade. José Alberto Magno de Carvalho assume a vice-presidência da IUSSP – International Union
for the Scientific Study of Population.
Teresa Salles é a nova editora da Rebep.
Em outubro, realiza-se o IX Encontro
Nacional de Estudos Populacionais, em
Caxambu/ MG. Na Assembléia Ordinária,
realizada em 12 de outubro, a presidente da
ABEP, Diana Sawyer, propõe a anulação do
processo eleitoral , indicando o dia 15 de
dezembro para a realização da Assembléia
Extraordinária, em Belo Horizonte, quando
será realizada a eleição da nova diretoria. A
ata da referida Assembléia não menciona
o motivo da anulação. A Assembléia
Extraordinária elege Daniel Hogan para a
presidência da ABEP.
117
1995 Daniel Hogan assume a presidência da ABEP.
Em Pequim, acontece a IV Conferência Mundial sobre a Mulher.
É criada a CNPD – Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, ligada ao então
Ministério do Planejamento e Orçamento, sob a presidência de Elza Berquó.
Após uma reestruturação no programa do curso de pós-graduação em História da UFPR, a
História Demográfica deixa de ser uma opção curricular.
A PEA é composta por 40,4% de mulheres e 59,6% de homens.
1996 Em 12 de janeiro, é promulgada a Lei nº 9.263, que regulamenta o § 7º, do art. 126, da
Constituição Federal, que trata do planejamento familiar e da esterilização voluntária.
Chegam ao Brasil os primeiros provedores de internet.
O IBGE realiza a Contagem Populacional. Somos 157.070.163 habitantes.
Vai a campo a PNDS – Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, coordenada pela
BEMFAM.
A ABEP publica o terceiro volume de seus Textos Didáticos, Fontes de Dados Demográficos, de
Ralph Hakkert.
Em outubro, realiza-se o X Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Caxambu,
MG. Na Assembléia Ordinária, realizada em 09 de outubro, Daniel Hogan é reeleito
presidente da ABEP.
1997 Daniel Hogan assume seu segundo mandato como presidente da ABEP.
Em fevereiro, morre Darcy Ribeiro, antropólogo e escritor, cassado em 1964.
Em 31 de agosto, morre a Princesa Diana, em trágico acidente de carro, em Paris.
Realiza-se em Beijing, China, a XXIII International Population Conference, da IUSSP
– International Union for the Scientific Study of Population.
É lançada no Brasil a camisinha feminina.
I Encontro Nacional sobre Migrações, Curitiba.
Ana Amélia Camarano assume a editoria da Rebep.
Primeira edição internacional da Revista Brasileira de Estudos Populacionais, Rebep. A
publicação Brazilian Jounal of Population Studies é iniciativa da Diretoria da ABEP.
1998 Fernando Henrique Cardoso é reeleito presidente da República.
Central do Brasil é indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro e Fernanda
Montenegro, para o de melhor atriz
José Alberto Magno de Carvalho assume a presidência da IUSSP – International Union for
the Scientific Study of Population.
A ABEP publica Saúde Reprodutiva na América Latina e no Caribe: temas e problemas,
organizado por Elisabete Dória Bilac e Maria Isabel Baltar da Rocha
Outubro: realiza-se o XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Caxambu/
MG. Em 21 de outubro, realiza-se a Assembléia Ordinária, que reorganiza a composição
do Conselho Consultivo. Eduardo Rios-Neto é eleito presidente da ABEP.
118
1999 Eduardo Rios-Neto assume a presidência da ABEP.
Em fevereiro, o Ministério da Saúde publica a Portaria no 048, que normatiza a realização de
cirurgias de esterilização.
É realizado o II Encontro Nacional sobre Migrações, Ouro Preto.
De 30 de junho a 2 de julho, é realizada, em Nova York, a 21a sessão especial da Assembléia
Geral da ONU, celebrando o Cairo +5.
A escolaridade média da população brasileira é de 5,8 anos de estudo – 5,9 anos entre as
mulheres e 5,6 anos entre os homens.
2000 Comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, com a exposição Brasil +
500, em São Paulo.
Chega ao Brasil o Mirena, contraceptivo que, além de atuar como o DIU tradicional,
barrando o caminho dos espermatozóides ao útero, acumula a função de pílula
anticoncepcional, ao liberar, diariamente, doses do hormônio levogenestrel.
Setembro: A Declaração do Milênio, aprovada e assinada por 189 países membros da ONU,
estabelece as metas do milênio, a serem alcançadas em 2015.
A população mundial atinge 6 bilhões de habitantes.
População brasileira, segundo o Censo Demográfico: 169.799.170.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) é de 2,4 filhos por mulher.
A esperança de vida ao nascer é de 68 anos.
A população urbana corresponde a 81,3% da população total.
Elisabeth Dória Bilac é a nova editora da Rebep.
A ABEP publica Trabalho e Gênero: mudanças, permanências e desafios, organizado por
Maria Isabel Baltar da Rocha
Outubro: realiza-se o XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Caxambu,
MG. Na Assembléia Ordinária, realizada em 25 de outubro, Eduardo Rios-Neto é
reeleito presidente da ABEP.
119
2001 Eduardo Rios-Neto inicia seu segundo mandato como presidente da ABEP.
De 31 de agosto a 7 de setembro, é realizada em Durban, na África do Sul, a III Conferência
Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de
Intolerância.
Em 11 de setembro, terroristas atacam as torres do World Trade Center, em Nova York, e o
Pentágono, em Washington, DC.
A escolaridade média da população brasileira é de 6,1 anos de estudo – 6,2 anos entre as
mulheres e 5,9 anos entre os homens.
A ABEP publica O envelhecimento da população brasileira e o aumento da longevidade:
subsídios para políticas orientadas ao bem-estar do idoso, organizado por Laura L. Rodríguez
Wong.
Agosto – realiza-se, em Salvador, BA, a XXIV International Population Conference, da
IUSSP – International Union for the Scientific Study of Population Em novembro, morre Vilmar Evangelista Faria.
Morre Luiz Armando de Medeiros Frias.
2002
Setembro – realização, no Rio de Janeiro, da Rio + 10 – Cúpula Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável.
Luiz Inácio Lula da Silva é eleito Presidente da República.
Brasil é pentacampeão da Copa do Mundo de Futebol.
José Alberto Magno de Carvalho se torna presidente emérito da IUSSP – International
Union for the Scientific Study of Population.
A PEA é composta por 42,5% de mulheres e 57,5% de homens.
A ABEP publica Rio+10: population and environment in Brazil, organizado por Daniel
Hogan.
Novembro – realiza-se o XIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Ouro
Preto/MG. Na Assembléia Ordinária, realizada em 6 de novembro, acontece um grande
debate sobre a criação da ALAP – Associação Latino-americana de População. “Neide
Patarra informa que os esforços para a criação da ALAP foram uma iniciativa da atual
gestão e que já houve dois encontros, em Cuba e outro na Argentina, e que neste XIII
Encontro da ABEP, foi feita uma reunião dos Presidentes das associações populacionais
de países latino-americanos com o intuito expresso e específico de criar a ALAP”. Maria
Coleta F. A. de Oliveira é eleita presidente da ABEP.
Durante o Encontro, em Ouro Preto, é criada a ALAP – Associação Latino- americana de
População.
Em setembro, morre João Yunes.
23 de novembro: 33 anos após a estréia, pela primeira vez um jornalista negro, Heraldo
Pereira, ocupa a bancada do Jornal Nacional.
120
2003 Maria Coleta Oliveira assume a presidência da ABEP.
É lançado o Informativo Eletrônico ABEP.
Novembro – realizado o Encontro Transdisciplinar População e Espaço, em Campinas.
Novembro – realizado o Seminário de Demografia dos Povos Indígenas no Brasil, São
Paulo.
Realizado o III Encontro Nacional sobre Migrações, em Campinas.
Março: os Estados Unidos invadem o Iraque, dando início à terceira Guerra do Golfo.
Outubro: é publicado, no Diário Oficial, o Estatuto do Idoso.
2004 Cairo+10 – em reunião realizada em Santiago do Chile em 11 e 12 de março, os princípios
do Cairo são reafirmados por delegações de 40 países.
Tem início o curso de especialização em Demografia na UFRN.
Em 21 de junho, morre Leonel Brizola.
Agosto – Eduardo Rios-Neto assume a presidência da CNPD – Comissão Nacional de
População e Desenvolvimento.
Maio – realizado o Seminário Tendências da Fecundidade e Direitos Reprodutivos no
Brasil, em Belo Horizonte.
Setembro – Realização do I Encontro da ALAP e do XIV Encontro Nacional de Estudos
Populacionais, em Caxambu, MG. Na Assembléia Ordinária, George Martine é eleito
presidente da ABEP. Em nome do Comitê de Demografia dos Povos Indígenas, Marta
Azevedo propõe moção de apoio ao censo indígena. José Alberto Magno de Carvalho
encaminha moção de apoio às pesquisas sócio-demográficas do IBGE, para que não
haja comprometimento da Contagem Populacional, prevista para 2005. A coordenadora
do GT População e Gênero, Sonia Corrêa, propõe moção sobre Direitos Reprodutivos.
Ela pede que a mesma seja encaminhada ao Congresso Nacional, através das comissões
nas quais os projetos estão sendo apresentados, à CNPD, ao Ministério da Saúde e à
Presidência do Congresso Nacional.
A ABEP publica Dez anos do Cairo: tendências da fecundidade e direitos reprodutivos no
Brasil, organizado por André Junqueira Caetano, José Eustáquio Diniz Alves e Sônia
Corrêa, e Introdução à Demografia da Educação, organizado por Eduardo L. G. Rios-Neto
e Juliana de Lucena Ruas Riani.
A ABEP publica os dois primeiros volumes da Série Demographicas, História e
Demografia: elementos para um diálogo, de Sérgio Odilon Nadalin, e Gênero nos estudos de
população, organizado por Sonia Corrêa e José Eustáquio Diniz Alves.
Em 26 de dezembro, um tsunami varre o Oceano Índico e provoca tragédia na Ásia.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) no Brasil atinge o nível de reposição: 2,1 filhos por
mulher. Entre as mulheres com 12 ou mais anos de estudo, a TFT já é de apenas 1,4 filhos
por mulher.
121
2005 George Martine assume a presidência da ABEP.
O novo editor da Rebep é Carlos Eugênio de Carvalho Ferreira.
A ABEP publica Bioética: reprodução e gênero na sociedade contemporânea, organizado por
Maria Andréa Loyola
Agosto – realizado o II Seminário Internacional de Demografia e Saúde dos Povos
Indígenas, em SãoPaulo.
Setembro: A ABEP promove o Workshop Demografia dos Negócios, em Salvador/BA.
Outubro – I Simpósio Nacional de História da População, em Curitiba.
Outubro – realizado o Seminário O Processo de Envelhecimento Populacional no Brasil
do Século XXI, em São Paulo.
Novembro – realizado o Workshop População e Meio Ambiente: metodologias de
abordagem, em Campinas.
Novembro – realiza-se o IV Encontro Nacional sobre Migrações, no Rio de Janeiro.
Novembro – realiza-se o Seminário As Famílias e as Políticas Públicas no Brasil, em
BeloHorizonte.
Abril – Morre o Papa João Paulo II depois de 26 anos de pontificado.
Consternado, o mundo se reverencia nos funerais do Papa-Pop. O Conselho
de Cardeais elege o novo papa, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, que adota o
nome de Bento XVI.
Maio – No dia 14, estréia a novela América, de Glória Perez, cujo tema central é
a imigração ilegal para os Estados Unidos.
Junho – O Deputado Federal pelo PTB Roberto Jefferson denuncia, da tribuna
da Câmara, um esquema de propinas pagas pelo PT, partido do Governo, a
parlamentares, em troca de apoio político. O escândalo, logo denominado
“mensalão”, abre, com uma profusão de novas denúncias de corrupção, a maior
crise política da história recente do país. Na seqüência, caem os membros da
diretoria executiva do PT e o Ministro da Casa Civil, José Dirceu, tido como
homem forte do Presidente Lula.
Dezembro – De volta à Câmara, o mandato do Deputado e ex-ministro José
Dirceu é cassado por 293 votos a favor e 192 contra. A despeito da grave crise
política, a economia do país não é afetada. Entretanto, o crescimento econômico
é pífio e, na América Latina, o desempenho brasileiro só é superior ao do Haiti.
122
2006 Março – Cai o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acusado de atos incompatíveis com o
cargo. Em seu lugar, assume Guido Mantega que promete não fazer alterações substantivas
na política econômica.
Maio – No Dia do Trabalho, imigrantes latinos param os Estados Unidos, mostrando sua
importância para a economia do país, aos gritos de sí, se puede”.
Junho – No centenário do primeiro vôo de Santos Dumont, o astronauta brasileiro Marcos
Pontes passa 10 dias no espaço a bordo da nave russa Soyuz. De volta ao Brasil, afirma que
“quer se aventurar na política”.
Junho – A seleção brasileira de futebol cai nas quartas de final, diante da França, e não
consegue o tão sonhado hexa campeonato.
População brasileira estimada pelo IBGE: 186.703.277.
Vai a campo a PNDS – Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, coordenada pelo
CEBRAP.
6 de julho – Morre Dante de Oliveira, autor da emenda constitucional que propôs eleições
diretas para Presidência da República, em 1985.
31 de julho – operado de urgência, Fidel Castro passa o poder a seu irmão mais novo, Raúl.
Agosto – 30 anos depois de sua morte, estréia um filme sobre a vida de Zuzu Angel, vivida
na telona por Patrícia Pillar.
A ABEP publica o terceiro volume da Série Demographicas, Demografia dos negócios:
campo de estudo, perspectivas e aplicações, organizado por José Ribeiro Soares Guimarães.
Setembro: Realiza-se o XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em Caxambu,
MG, no qual a ABEP comemora 30 anos.
George Martine é candidato à reeleição como presidente da ABEP.
123
Anexos
“A
os dezenove dias do mês de abril de um mil, novecentos de setenta
e sete, na Praia do Flamengo, nº 100, 12º andar, nesta cidade do Rio
de Janeiro, reuniram-se sem Assembléia Geral os signatários da
presente ata, fundando a Associação Brasileira de Estudos Populacionais.”
(...)
Elza Salvatori Berquó, João Lyra Madeira, Maria Luiza Marcílio, Jair
Licio Ferreira Santos, Manoel Augusto Costa, Maria Helena Trindade
Henriques Lerda, Morvan de Mello Moreira, Isaac Kerstenetzky, Valéria
da Motta Leita, Luiz Armando de Medeiros Frias, Maurício Simões
Gonçalves, Lúcia Maria Bello Feitosa, João Yunes, Diana R.T. Oya Sawyer,
Andréa Sandro Calabi, Mary Garcia Castro, Speridião Faissol, José Alberto
Magno de Carvalho, Charles Howard Wood, Maria do Carmo Fonseca do
Vale, Lea Melo da Silva, Paulo Roberto Haddad, Ana Amélia Camarano de
Mello Moreira, Axel Mundigo, Henrique Levy, Luiz Roberto de B. Mott,
Raimar Richers, Tarcísio della Senta, Letícia Borges Costa, Carmem Suzana
da Cunha Holder, Daniel J. Hogan, Norberto Jacob Etges, Líscio Fábio
de Brasil Carmago, Elisabete Dória Bilac, Aidil Sampaio, Robert Thurber
McLaughlin, Rubens Murilo Marques, Ana Maria Goldani Altmann, Paul
Israel Singer, Geoge Martine, José Carlos Pereira [Pessano], Valdecir Lopes,
Robert Robichez Cassinelli, Jayme Antonio Cardoso, Oksana Bosruszenko,
Altiva Pilatti Balhana, David Michael Vetter, Amaro da Costa Monteiro,
Sabina Lea Davidson Gotlieb, Maria Coleta F.A. de Oliveira, Vilmar
Evangelista Faria, Bolívar Lamounier, Rosa Ester Rossini, Candido Procópio
F. de Carmargo, Helena Lewin, Antonio Costa Valença, Anna Luiza Osório
de Almeida, Helio Augusto de Moura, Carlos de Souza Pinto, Pedro Calderan
Ata da fundação da
ABEP
Beltrão, José Maria Arruda, Pedro [Pinchas] Geiger, Rubens Costa, Thomas
Merrick, Neide Patarra, João Carlos Duarte, Ana Maria Machado Cortez,
Ruy Christovam Wachowicz, Celso Cardoso da Silva Simões, Eurico de
Andrade Neves Borba.
128
Diretoria de 1977-1978
Presidente: João Lyra Madeira
1o Vice-Presidente: Maria Helena T. Henriques
2o Vice-Presidente: Maria Luiza Marcílio
Secretário-Geral: Elza S. Berquó
1o Secretário: Jair Lício Ferreira Santos
1o Tesoureiro: Manoel Augusto Costa
2o Tesoureiro: Morvan de Mello Moreira
Conselho Fiscal: George Martine
Luiz Armando de Medeiros Frias
José Alberto Magno de Carvalho
Suplentes: Valéria da Motta Leite, Juan
Carlos Lerda e Diana Oya Sawyer
Diretoria de 1979-1980
Presidente de Honra: João Lyra Madeira
Presidente: José Alberto Magno de Carvalho
1o Vice-Presidente: Maria Helena T. Henriques
2o Vice-Presidente: Valéria da Motta Leite
Secretário-Geral: Elza S. Berquó
1o Secretário: Hélio Augusto Moura
1o Tesoureiro: Maria Coleta F. A de Oliveira
2o Tesoureiro: Norberto Jacob Etges
Conselho Fiscal: Altiva Pilatti Balhana
Luiz Armando de Medeiros Frias
Diana Oya Sawyer
Suplentes: José Carlos Pereira Peliano,
Carmem Suzana da Cunha Holder e
Helena Lewin
As diretorias da
ABEP
Diretoria de 1981-1982
Presidente: José Alberto Magno de Carvalho
1 Vice-Presidente: Valéria da Motta Leite
o
2o Vice-Presidente: George Martine
Secretário-Geral: Ana Maria Goldani Altmann
1o Secretário: Hélio Augusto Moura
1o Tesoureiro: Rosa Ester Rossini
2o Tesoureiro: Altiva Pilatti Balhana
Conselho Fiscal: Maria Stella Ferreira Levy
Ricardo Rossato
Celso Cardoso Simões
Suplentes: Guaraci Adeodato Alves de
Souza, Carmen Suzana Holder e Carlos
Eugênio Carvalho Ferreira
Diretoria de 1983-1984
Presidente: Elza S. Berquó
1o Vice-Presidente: George Martine
2o Vice-Presidente: Neide Patarra
Secretário-Geral: Diana Oya Sawyer
1o Secretário: Ivonete Batista Xavier
1o Tesoureiro: Celso Cardoso Simões
2o Tesoureiro: Ricardo Rossato
130
Conselho Fiscal: Ana Maria Canesqui
Nadya Castro
Sérgio Odilon Nadalin
Suplentes: Edila Moura, Paulo Paiva e
Roberto Rodrigues
Diretoria de 1985-1986
Presidente: Paulo Paiva
1 Vice-Presidente: Neide Patarra
o
2o Vice-Presidente: Guaraci A. Souza
Secretário-Geral: Letícia Borges Costa
1o Secretário: Luiz Antônio P. de Oliveira
1o Tesoureiro: Sérgio O. Nadalin
2o Tesoureiro: Tânia Bacelar
Conselho Fiscal: Roberto N. Rodrigues
Célia Diogo A. da Costa
Martin O. Smolka
Suplentes: Lúcia Bógus, Carmem Suzana
Holder e Ricardo Tavares
Diretoria de 1987-1988
Presidente: Paulo Paiva
1 Vice-Presidente: Maria Coleta F. A. de Oliveira
o
2o Vice-Presidente: Hélio Augusto Moura
Secretário-Geral: Ana Amélia Camarano
1o Secretário: Nadya Araújo de Castro
1o Tesoureiro: Sérgio O. Nadalin
2o Tesoureiro: Rosa Maria Ribeiro da Silva
Conselho Fiscal: Edila Arnaud Ferrari Moura
Duval Magalhães Fernandes
Maria Silvia C. B. Bassanezi
Suplentes: Iracema Brandão Guimarães,
Sílvio Possali e Sônia Regina Perillo
131
Diretoria de 1989-1990
Presidente: Neide Lopes Patarra
1 Vice-Presidente: Donald Rolf Sawyer
o
2o Vice-presidente: Nadya Araújo Castro
Secretário-Geral: Ana Amélia Camarano
1o Secretário: Leonardo Guimarães Neto
1o Tesoureiro: Marisa Valle Magalhães
2o Tesoureiro: André Cezar Médici
Conselho Fiscal: José Flávio Mota
Maria Beatriz Afonso Lopes
Claudio Caetano Machado
Suplentes: Sheila Pincovsky de Lima,
José Antônio Silva e Maria Graciela G.
Morell
Diretoria de 1991-1992
Presidente: Neide Lopes Patarra
1 Vice-Presidente: Diana Oya Sawyer
o
2o Vice-Presidente: Sérgio Odilon Nadalin
Secretário-Geral: Elisabete Dória Bilac
1o Secretário: Morvan de Mello Moreira
1o Tesoureiro: André Cezar Médici
2o Tesoureiro: Iracema Brandão Guimarães
132
Conselho Fiscal: Haroldo Gama Torres
Odeibler Guidugli
Roberto Nascimento Rodrigues
Suplentes: Lizete Emília Prata, Taís de
Freitas Santos e John Sydenstricker Neto
Diretoria de 1993-1994
Presidente: Diana Oya Sawyer
Vice-Presidente: Daniel Hogan
Secretária Geral: Felícia Reicher Madeira
Tesoureiro: Kaizô Iwakami Beltrão
Suplente: Haroldo Gama Torres
Conselho Fiscal: Rosana Baeninger
Nádia Loureiro Pernes
Luiz Patrício Flores Ortiz
Suplentes: Lilibeth Cardoso Roballo e
Ignez Helena Oliva Perpétuo
Diretoria de 1995-1996
Presidente: Daniel Joseph Hogan
Vice-Presidente: Sérgio Odilon Nadalin
Secretário-Executiva: Laura R. Wong
Tesoureiro: Kaizô Beltrão
Suplente: Tânia Franco
Neir Antunes
Ana Maria Nogales
Conselho Fiscal: Simone Wajnman
Fernando Fernandes
Antônio Benedito Marangone
133
Diretoria de 1997-1998
Presidente: Daniel Joseph Hogan
Vice-Presidente: Sérgio Odilon Nadalin
Secretário-Geral: Laura R. Wong
Tesoureiro: Juarez de Castro Oliveira
Suplente: Taís de Freitas Santos Conselho Fiscal: Fernando Fernandes
Maria Célia Formiga
Claudete Ruas
Paulo Saad
Diretoria de 1999-2000
Presidente: Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto
Vice-Presidente: Celso Cardoso da Silva Simões
Secretário-Geral: Morvan de Mello Moreira
Tesoureiro: Marta Rovery de Souza
Suplente: Rosana Baeninger
Conselho Fiscal: Laura Lídia Rodríguez Wong
Juarez de Castro Oliveira
Duval Magalhães Fernandes
Suplentes: Marisa Valle Magalhães e
Moema Gonçalves Bueno Fígoli
134
Diretoria de 2001-2002
Presidente: Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto
Vice-Presidente: Mary Garcia Castro
Secretário-Geral: Duval Magalhães Fernandes
Tesoureira: Suzana M. Cavenaghi
Suplente: Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira
Conselho Fiscal: Taís de Freitas Santos
Antônio Benedito Marangoni
Ana Maria Peres França Boccuci
Suplentes: Maria de Lourdes Teixeira
Jardim e Marley Vanice Deschamps
Conselho Consultivo: José Marcos Pinto da Cunha
Roberto do Nascimento Rodrigues
Luiz Antônio Pinto de Oliveira
Diretoria de 2003-2004
Presidente: Maria Coleta F.A. Oliveira
Vice-Presidente: Ricardo Antônio Wanderley Tavares
Secretária-Geral: Simone Wajnman
Tesoureira: Suzana Marta Cavenaghi
Suplente: Ângela de Oliveira Belas
Conselho Fiscal: José Irineu Rangel Rigotti
Marley Vanice Deschamps
Cecília Polidoro Mameri
Suplentes: Afonso César Coelho Ribeiro
e Sandra Mara Garcia
Conselho Consultivo: Celso Cardoso da Silva Simões
Daniel Joseph Hogan
Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto
José Irineu Rangel Rigotti
Kaizô Iwakami Beltrão
Sérgio Odilon Nadalin
135
Diretoria de 2005-2006
Presidente: George Martine
Vice-Presidente: Simone Wajnman
Secretária-Geral: Rosana Baeninger
Tesoureiro: José Eustáquio Diniz Alves
Suplente: José Ribeiro Soares Guimarães
Conselho Fiscal: Fernando Marcel Kowalski
Maria Rejane Souza de Britto Lyra Lára de Melo Barbosa
Suplente: Maria de Lourdes Teixeira
Jardim
Conselho Consultivo: Haroldo da Gama Torres Jair Lício Ferreira Santos
Laura L. Rodríguez Wong
Maria Coleta F. A. Oliveira
Maria Teresa Sales de Melo Suarez
Nadja Loureiro Pernes da Silva
136
M
inha conversa com Elza Berquó, minha primeira entrevistada,
aconteceu no dia 12 de maio de 2006, numa tarde chuvosa, na
sala de reuniões do 2o andar do Cebrap, em São Paulo. Aliás, devo
comentar que o subir e descer as escadas do Cebrap me pareceu uma aventura
perigosa, quase um esporte radical. Enquanto aguardava, tomei um delicioso
chá de manga, que me aqueceu naquela tarde fria. Apesar da chuva e do frio,
eu não poderia ter tido recepção mais calorosa. Durante pouco mais de uma
hora, aprendi muito sobre a história de vida desta mulher impressionante,
cuja trajetória se confunde com a história da demografia brasileira. Hoje,
eu entendo o porquê de tanta reverência à figura de Elza Berquó. Ouso
dizer que, se não fosse por ela, não estaríamos celebrando estes 30 anos, pois
dificilmente a ABEP teria se tornado uma realidade.
Entrevistei Daniel Hogan numa tarde de chuva no Nepo, em Campinas,
no dia 22 de maio. Homem do meio ambiente, Daniel logo me chamou a
atenção de que, para as plantas que moram nos jardins do Nepo e em tantos
outros lugares, aquele era um lindo dia. A partir de então, passei a ver os dias
chuvosos com outros olhos, mais próximos aos das crianças, dos poetas e
daqueles com preocupações ambientais, que sabem dar o devido valor à água
enquanto fonte de vida. Ao final da entrevista, Daniel me levou à sua sala e
me mostrou fotos maravilhosas. Deliciei-me ao vê-lo sentado num elefante,
ao lado de Neide Patarra, na Índia. Graças à sua generosidade, algumas destas
fotos estão aqui.
Meu terceiro entrevistado foi completamente ao acaso e não fazia parte
dos meus planos iniciais. Era uma 5a feira, 26 de maio, e eu, na condição de
chefe do Departamento de Demografia da UFMG, estava às voltas com um
Os bastidores das
entrevistas
concurso para professor adjunto – evento raro e, por isso mesmo, cercado de
enorme cuidado e atenção. Um dos membros da banca era Jair Lício Ferreira
Santos, fundador da ABEP, a quem eu conhecia superficialmente, mas de
quem eu me sentia quase amiga íntima depois de ouvir muitas histórias sobre
ele nas duas entrevistas anteriores. Logo após a cerimônia de abertura do
concurso, tive uma idéia que me pareceu sensacional: por que não aproveitar a
presença do Jair e entrevistá-lo? Para minha alegria, ele aceitou. Conversamos
na minha sala, a 818, e infelizmente a filmadora tinha ficado em casa. Portanto,
só há o registro da voz.
Três dias depois, foi a vez de entrevistar José Alberto Magno de
Carvalho, meu chefe no Cedeplar, meu eterno professor de Demografia
desde a graduação. Já havíamos marcado a entrevista para uma data anterior,
mas problemas internos nos obrigaram a mudar o rumo da conversa daquela
primeira vez. Sentados na sala 901, chamada por Eduardo Rios-Neto de
confessionário, ele me contou casos e “causos”, apesar de ter dito, no início da
conversa, que não estava muito inspirado naquele dia. Imagine se estivesse!
Minha ida a São Paulo num domingo, dia 11 de junho, para entrevistar
Coleta Oliveira, foi a mais pitoresca de todas as viagens. Pitoresca porque era
um domingo? Definitivamente, não. Fui eu quem propôs este dia, na tentativa
de me encaixar entre as muitas viagens da Coleta enquanto representante da
área de Planejamento Urbano e Regional/Demografia da CAPES. A viagem
foi pitoresca porque ela quase foi em vão. Após várias trocas de emails,
marquei com a Coleta às 10:30, um horário que me parecia minimamente
decente para um domingo. Por causa dos horários dos vôos – e também
porque sou mineira, e mineiro não perde o trem –, cheguei a São Paulo bem
mais cedo que isso, em torno de 9 horas da manhã. Fiz hora em Congonhas,
para não correr o risco de chegar cedo demais em pleno domingo. Às 10:30
em ponto, estava na porta do prédio da Coleta. Anunciei-me ao porteiro,
que interfonou várias vezes, depois telefonou, e nada. “Ninguém atende”, ele
me disse. “Eu aguardo.” Fiquei em pé, na calçada, esperando. Com pena de
mim, minutos depois o porteiro interfonou e telefonou novamente, e nada.
“A senhora falou com ela hoje?”, ele me perguntou. “Hoje não, mas falei essa
semana e combinamos que eu viria hoje. Eu vim de Belo Horizonte só para
conversar com ela”. Foi aí que o porteiro percebeu que eu devia ser gente boa.
Afinal, ninguém viria de tão longe para um assalto ou algo parecido. Sendo
assim, ele me deixou entrar no prédio. Fiquei cerca de meia hora sentada no
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jardim, sentindo uma brisa gostosa e apreciando a paisagem, quando resolvi
telefonar mais uma vez, do meu celular. “Alô?”, disse uma voz feminina, do
outro lado. “Coleta? É a Paula!” “Oh, eu me esqueci completamente!!! Acabei
de acordar”. Cerca de 20 minutos depois, começamos um papo delicioso
– sem imagem, por razões óbvias.
Não foi fácil marcar a entrevista com Neide Patarra. Em duas ocasiões,
tivemos que desmarcar na véspera de eu viajar, já com a passagem comprada.
Só na segunda vez é que fui entender exatamente o que estava ocorrendo.
Para quem já leu o livro, este caso se encaixa exatamente em comentários
feitos pelos entrevistados a respeito de problemas alheios, nos quais entramos
por tabela e sem saber o porquê. Mas nada como uma conversa franca para
desfazer qualquer mal-entendido. Valeu a pena ter esperado tanto! A entrevista,
realizada na Ence, no Rio de Janeiro, no dia 5 de julho, foi a mais longa
de todas: 2 horas e 40 minutos. Foi tanto tempo que a bateria da filmadora
morreu antes que pudéssemos concluir. Sem imagem, ficamos apenas com
a voz. Apesar dos ruídos, que dificultaram um pouco a transcrição, foi uma
entrevista maravilhosa e cheia de emoção, de ambos os lados. Conheci uma
Neide Patarra guerreira, que põe o coração em tudo o que faz.
Se, na minha lista de entrevistados, houvesse um Secretário de Estado,
eu diria que, em tese, esta seria a entrevista mais difícil de ser marcada,
devido a problemas de agenda. Não se este entrevistado for o Paulo Paiva.
Apesar dele ocupar, atualmente, a Secretaria de Transportes e Obras Públicas
de Minas Gerais, esta entrevista foi a que consegui marcar com a menor
antecedência de todas. Tinha feito a entrevista com a Neide Patarra dois
dias antes e, atrasada (e culpada!) para a conclusão das minhas entrevistas,
resolvi ligar para a casa do Paulo. Era uma 6a feira, 7 de julho, pouco antes do
almoço. Quem atendeu o telefone foi seu genro Cássio Turra, meu colega no
Departamento de Demografia e no Cedeplar – obrigada, Cássio! Expliquei
ao Cássio o que eu queria, explicitei a minha urgência, e ele me prometeu
uma resposta cerca de uma hora depois, quando o Paulo estivesse em casa
para o almoço. Meu telefone no Cedeplar tocou de volta pontualmente na
hora marcada e, duas horas depois, eu estava sentada na sala do Paulo, na
Secretaria, pronta para a entrevista, usando a filmadora do Cássio.
Conheço Diana Sawyer há 15 anos, desde as aulas e as temidas entrevistas
de TAD (técnicas), rito de passagem obrigatório para todos aqueles que
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estudam no Cedeplar. Agora, era a minha vez de entrevistá-la. Minha
revanche secreta... Marcar a entrevista foi, por si só, uma tarefa complicada,
fruto de um invejável esquema de blindagem, através de sua secretária. Depois
de várias tentativas, finalmente consegui um espaço na sua agenda cheia: a
tarde do dia 14 de julho, uma 6a feira, na sala 918 do Cedeplar, com direito a
café e biscoitinhos, cuidadosamente preparados pela secretária. Dona de uma
personalidade forte, Diana nunca foi mulher de meias palavras. Assim ela foi,
na entrevista: franca e direta. Adorei e aprendi muito.
Nas minhas aulas de métodos qualitativos, quando discuto com os alunos
e alunas sobre a escolha do local para uma entrevista em profundidade, sempre
ressalto a vantagem de se fazer a entrevista no ambiente do entrevistado.
Assim, além da entrevista, é possível fazer, também, uma observação do local,
que sempre diz muito a respeito da pessoa a ser entrevistada. Assim foi com
George Martine, meu penúltimo entrevistado. No dia 17 de julho, um lindo
dia de sol, tive a oportunidade de ir à sua bela casa, em Brasília, o privilégio
de conhecer sua linda família – a mulher, duas das três filhas e três dos quatro
netos – e o prazer de sentar com eles à mesa para um delicioso almoço.
Sabe aquele ditado que diz que santo de casa não faz milagre? Ele
está absolutamente correto. Eduardo Rios-Neto, meu marido, foi meu
último entrevistado, na madrugada do dia 25 para 26 de julho. Estávamos
em Carandaí, MG, num hotel fazenda, supostamente de férias com nossos
filhos Hugo e Alice, que dormiam no quarto ao lado enquanto conversamos
por quase duas horas e meia, sentados na cama, único local disponível para
a entrevista, uma vez que o frio do inverno nos impedia de ficar na varanda.
Como eu não apareço nas filmagens, pude entrevistá-lo de pijama. Por estar
entrevistando o meu marido e por ter acompanhado, de perto, suas gestões
como presidente da ABEP, imaginei que esta seria uma entrevista com poucas
novidades. Ledo engano. Ouvi muita novidade não apenas nas suas reflexões
sobre questões relativas à associação, mas principalmente nas histórias do
passado, enquanto estudante, época da sua vida da qual não participei.
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Presidentes da Abep
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Imagem capa “Para minha mãe”. Óleo sobre tela de
Victor de Miranda Ribeiro, abril de
1949. Coleção particular de Alipio e
Daisy de Miranda Ribeiro.
Foto capa Adriana Miranda-Ribeiro
Preparação dos Eleonora Dantas
originais e revisão
Projeto gráfico, Traço Publicação e Design
capa e diagramação Flávia Fábio
Fabiana Grassano
Consultoria Códice Consultoria e História
Ficha catalográfica Adriana Fernandes
Impressão Mundo Digital
Financiamento Fundo de População das Nações
Unidas
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Os primeiros 30 anos da Associação Brasileira de - Abep