mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 1 mut Notícias do Mutualismo União das Mutualidades Portuguesas Boletim 08 | DEZ 2009 (2.a Série) Três prémios e uma homenagem no Dia Nacional do Mutualismo A Liga das Associações de Socorros Mútuos de Vila Nova de Gaia e A Benéfica e Previdente, Associação Mutualista, foram distinguidas, «ex-aequo», pela União das Mutualidades Portuguesas, com o Prémio «Mutualismo e Solidariedade», respeitante ao ano de 2007, enquanto o Padre Vítor Melícias Lopes, 25 anos ao serviço da solidariedade organizada nas mutualidades, foi agraciado com idêntico galardão, referente a 2008. E, considerando a dimensão, a qualidade da obra e o impressionante desempenho do carismático exlíder da União das Mutualidades, ao qual se deve a refundação do nosso mutualismo livre, o clérigo franciscano, devoto da pobreza e da fraternidade, foi alvo de uma homenagem de profunda gratidão e estima. Homenagem que, promovida pelo órgão executivo da UMP, à qual aderiram mais de uma centena de cidadãos mutualistas, Mutualismo é defensor do Ambiente constituiu o momento mais alto da festa comemorativa do Dia Nacional do Mutualismo, realizada no auditório da Liga de Vila Nova de Gaia. E que contou, entre outros convidados, com a presença do presidente do Instituto da Segurança Social, do presidente do Instituto António Sérgio, além de autarcas do concelho vilanovense, irmãos de misericórdias e representantes da CNIS. 쐍 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 2 N OT Í C I A S União das Mutualidades Portuguesas apresentou cumprimentos à Ministra da Solidariedade Em visita de cortesia, para apresentação de cumprimentos à Ministra da Solidariedade Social do XVIII Governo Constitucional, empossado a 26 de Outubro, os presidentes da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho de Administração da União das Mutualidades Portuguesas, e o vice-presidente Norte, deslocaram-se ao gabinete de Maria Helena André, no dia 19 de Novembro. A titular da pasta do Trabalho e da Solidariedade Social que, acompanhada pelo Secretario de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, tutela directa do mutualismo, recebeu os representantes da União, ao agradecer a visita reafirmou a política de apoio ao Movimento Mutualista e as relações de cooperação do seu ministério com as organizações do sector social, que permitam garantir e desenvolver o exercício qualificado das actividades por parte das instituições. Em nome da União, Maria de Belém Roseira exprimiu à ministra os votos de um mandato coroado de sucesso, enquanto o presidente do órgão executivo procedeu à entrega de um portfólio relativo ao inventário de constrangimentos com que as mutualidades se debatem. Entretanto, em vésperas de Natal, o presidente do Conselho de Administração Alberto José Ramalheira e o vice-presidente Norte, Luís Alberto Silva, foram recebidos no mesmo ministério pelo Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional. Valter Lemos, a quem apresentaram cumprimentos. 쐍 Mutualidades francesas lançam seguros de saúde em Portugal Seguros de saúde sem exclusões ou discriminações dos aderentes pelo seu estado de saúde, idade ou sexo, permitindo a todos beneficiar de condições concorrenciais vantajosas, eis o que a seguradora mutualista francesa MGEN, que representa três milhões de funcionários públicos, se prepara, no âmbito da 2 Mutualismo é defensor do Ambiente internacionalização, para lançar no mercado português. E, com ela, a UME (380 mil filiados), que gere um fundo complementar. Também no campo da protecção à família, a seguradora INTÉGRALE, igualmente do sector mutualista, vem oferecer produtos de reforma mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 3 aos nossos concidadãos, disponibilizando soluções de capital e taxas garantidas, que permitem aos subscritores participarem nos resultados da gestão. A Europamut, que reúne as organizações referidas, para efeitos de desenvolver as suas actividades no nosso país, estabeleceu colaboração com a AdvanceCare, que será responsável pela gestão dos contratos, cuja comercialização deverá iniciar-se a partir de Janeiro de 2010. Era inevitável que, mais tarde ou mais cedo, os peso-pesados das mutualidades francesas alargassem as suas actividades aos países cujos parceiros do sector não fossem capazes de lhes fazer frente. E, de facto, as nossas associações mutualistas, por tradição muito conservadoras, embora repetidamente avisadas nos congressos, e não só, para os perigos que as espreitavam, não conseguiram, do ponto de vista da imagem institucional, desenvolvimento inovador credível. Pelo que, infelizmente, não estão em condições de enfrentar a concorrência francesa que, em termos de qualidade de oferta e de preços é imbatível. MB 쐍 Quotas das modalidades mutualistas voltam a ser dedutíveis em IRS Depois de sete longos anos de discriminação fiscal negativa, as quotas das modalidades pagas pelos associados das instituições mutualistas, voltam a ser dedutíveis à colecta para efeitos de IRS. 0 que acontece no imediato, isto é, já a partir de 2009, nas declarações a entregar em 2010. A medida, constante do decreto-lei n.º 292/2009, de 13 de Outubro (no uso da autorização legislativa concedida pela Assembleia da República ao Governo, através da Lei do OE para 2OO9), teve em vista, essencialmente, colocar em pé de igualdade fiscal os Regimes Complementares de Segurança Social (RCSS) oferecidos por instituições do sector social da economia face a idênticos RCSS oferecidos por entidades do sector privado (indústria de seguros). instituições e das respectivas modalidades de protecção social, em relação não só aos produtos financeiros de incidência previdencial das empresas que actuam no mercado como, também, no que concerne ás prestações de saúde. A Lei n.º 32-A/2002, de 30/12, introduziu, de facto, diversas alterações no regime fiscal aplicável às modalidades mutualistas. Só que a dedução à colecta abrangeu apenas as quotizações ou modalidades com garantia exclusiva do benefício da reforma, complemento de reforma, invalidez ou sobrevivência, e excluindo, portanto, as modalidades que possibilitavam o pagamento de capitais no termo de prazos determinados, sem ser por morte, invalidez ou reforma. Também as entregas feitas pelos associados às mutualidades que operavam (operam) nas áreas médico-sanitárias e de acção social deixaram de gozar de qualquer dedução. Facto que se traduziu numa significativa desigualdade com o regime fiscal aplicável aos prémios de seguro de vida e de acidenteis pessoais e aos prémios de seguros de saúde. Há uma vintena de anos que a União das Mutualidades Portuguesas vinha reclamando do Estado que desenvolvesse, de forma sistemática, estímulos à actividade mutualista, designadamente no domínio jurídico-fiscal, por forma a assegurar a indispensável equidade tributária e a igualdade de tratamento das Mutualismo é defensor do Ambiente 3 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 4 As situações de discriminação fiscal Segundo as propostas oportunamente apresentadas pelo Conselho de Administração da UMP (mandato de 2006/2008), eram cinco as seguintes situações onde ocorria discriminação fiscal negativa dos RCSS do sector social face aos RCSS do sector privado, das quais apenas uma ainda não foi resolvida a equiparação fiscal: 1. Profissões de desgaste rápido (desportistas, mineiros e pescadores) – Foi aditado um n.º 4 ao artigo 27.º do código do IRS (CIRS) referindo que o regime aplicável aos prémios de seguros se aplica «às contribuições pagas a associações mutualistas». 2. Pessoas portadoras de deficiência – Foi intercalada no n.º 2 do artigo 87.º do CIRS a seguinte expressão: «... ou contribuições pagas a associações mutualistas...». 3. «Seguros de Saúde» – Foi intercalada no n.º 3 do artigo 86.º do CIRS a expressão: «... ou contribuições pagas a associações mutualistas...». 4. «Seguros que garantem os riscos de morte, invalidez e reforma por velhice» – Não ficou resolvida a equiparação fiscal aos seguros, uma vez que não se alterou a redacção do n.º 1 do artigo 86.º do CIRS. A UMP vai promover diligências para a alteração da redacção desta disposição legal. 5. Não sujeição a tributação das Indemnizações devidas em consequência de lesão corporal, doença ou morte, pagas ou atribuídas ao abrigo de contratos de seguro – O legislador aditou uma alínea e) do n.º 1 do artigo 12.º do CIRS com a seguinte redacção «Pelas associações mutualistas», passando a verificar-se Igualdade fiscal. 쐍 José Alberto Pitacas leva Mutualismo à Universidade O mutualismo foi, recentemente, objecto de uma dissertação de mestrado em Economia e Política Social, no Instituto Superior de Economia e Gestão (Universidade Técnica de Lisboa). A dissertação tem como tema «Utilidade social e eficiência no mutualismo» e analisa a importância dos conceitos de utilidade social e de eficiência para a valorização social e o desenvolvimento do mutualismo em Portugal. Como foi sublinhado na apresentação, «estes dois conceitos interligam-se e condicionam a vida das mutualidades. A utilidade social fundamenta a sua existência; a eficiência viabiliza-a». A tese é da autoria do economista José Alberto Pitacas, director do Montepio Geral e colaborador da União das Mutualidades Portuguesas e foi aprovada por unanimidade pelo júri, presidido pelo Professor Doutor Carlos Pestana Barros. Durante o primeiro semestre de 2010 e com base nesta investigação académica, será publicado um artigo numa revista da especialidade e editado um livro. 쐍 4 Mutualismo é defensor do Ambiente mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 5 Montepio vai construir em Lisboa uma unidade de cuidados continuados Destinada à Unidade de Saúde de Cuidados Continuados da Quinta do Charquinho, a Câmara Municipal de Lisboa concedeu ao Montepio Geral Associação Mutualista o direito de superfície, pelo prazo de 50 anos, a título gratuito, de uma parcela de terreno, com a área de 2 000 m2, avaliada em 439 630,00 euros e sita na Avenida dos Condes de Carnide, na freguesia de Carnide. A obra de construção da unidade de saúde deverá ocorrer no prazo de 24 meses, a contar de 22 de Setembro de 2009, data em que, nos Paços do Concelho de Lisboa, perante a notária privativa do Município, se realizou a escritura do acto constitutivo do direito de superfície, tendo sido outorgantes o presidente da autarquia, António Santos da Costa, e em representação do Montepio o presidente do Conselho de Administração, António Tomás Correia e o administrador José de Almeida Serra. O acordo de cooperação celebrado em 04.11.2008 entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo faz parte integrante dessa mesma escritura. 쐍 Manuel de Lemos reconduzido na presidência das Misericórdias A União das Misericórdias Portuguesas reconduziu Manuel de Lemos na presidência do órgão executivo, para o triénio de 2010-2012. A Assembleia Geral, reunida em Fátima no dia 5 de Dezembro, passou a ser liderada por Maria de Belém Roseira, em substituição do Padre Vítor Melícias, enquanto o Conselho Fiscal e o Conselho Nacional passam a ser encabeçados, respectivamente, por José Manuel Correia, provedor da Misericórdia de Portimão, e Fernando Cardoso Ferreira, provedor da Misericórdia de Setúbal. Manuel de Lemos, que assumiu como prioridades no mandato as respostas sociais ao envelhecimento e à deficiência profunda, anunciou que a União prevê iniciar, no próximo ano, a construção, em Fátima, de uma unidade de cuidados continuados, especialmente vocacionada para a doença de Alzheimer, com capacidade para 45 utentes. Ainda no âmbito da deficiência profunda está previsto a construção, em Borba, um outro centro, obra que também deverá ter início em 2010. 쐍 Mutualismo é defensor do Ambiente 5 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 6 MUTUALMODAMAR promoveu curso de costura em Esmoriz Agosto de 2009 ficou marcado, na praia de Esmoriz, por mais uma edição do MUTUALMODAMAR, um evento onde moda, criatividade e mutualismo deram as mãos. Numa N OT Í C I A S acção que pretendeu envolver os 6 formandos dos vários cursos promovidos pela Mutualidade de Santa Maria e a população de Esmoriz, alegria e boa disposição foram a nota dominante de uma noite que se revelou de sucesso. Os formandos do curso de costura, que levaram para as luzes da ribalta o trabalho desenvolvido ao longo de dez meses, foram, aliás, as estrelas dessa noite de verão. Como verdadeiros manequins profissionais, pisaram com à-vontade a passarela montada na praia e receberam os aplausos dos circustantes, que também premiaram a acção desenvolvida. 쐍 Mutualismo é defensor do Ambiente mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 7 Dia Nacional do Mutualismo O Dia Nacional do Mutualismo, que se celebra a 25 de Outubro, foi assinalado na véspera, com uma sessão solene realizada no auditório da Liga das Associações de Socorros Mútuos de Vila Nova de Gaia. A evocação do 30.º aniversário da fundação da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos – FNASM e a do 25.º aniversário da constituição, por imperativo legal nominativo, da União das Mutualidades Portuguesas – UMP; a proclamação dos vencedores do Prémio «Mutualismo e Solidariedade», referente aos anos de 2007 e 2008, seguida da entrega dos galardões; a homenagem prestada pela UMP ao Padre Vítor Melícias, assinalando os seus 25 anos de militância mutualista activa; e, a encerrar o acto, o discurso solene pronunciado pela presidente da Mesa da Assembleia Geral da União, Maria de Belém Roseira, preencheram o programa festivo ao qual a Liga de Gaia deu prestimosa colaboração. Os primórdios do tempo novo A festa, cujo objectivo, como muito a propósito sublinhara a agente responsável pela sua condução, era «comemorar o mutualismo de ontem, lembrar o de hoje e preparar o de amanhã», foi aberta pelo presidente da UMP, Alberto Ramalheira. Começando por recordar ter existido, há quase 1oo anos, uma Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos, cuja constituição fora aprovada em 1911, no I Congresso Nacional de Mutualidade, o líder do órgão executivo disse que o espírito integrador não logrou alcançar os seus objectivos pois que, embora a FNASM houvesse sido extinta por decreto de 25.09.1941, a relevância do seu trabalho foi muito curta. Entretanto, contou que, no pós-Abril, a ideia de libertar o mutualismo do garrote a que o Estado Novo submetera as suas instituições, despontara em A Previdência Portuguesa, de Coimbra, em 1975, por ocasião de um encontro de sócios daquela Mutualismo é defensor do Ambiente D I A N AC I O N A L – Premiado o sucesso de duas instituições – Homenageada a figura de Vítor Melícias 7 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 8 mutualidade, pelo que resolvera promover um plenário das ASM de todo o país. Plenário que, efectuado a 25 e 26 de Outubro desse ano, decidiu criar um Secretariado Nacional, na mesma cidade, o qual passou a assegurar a representação das instituições junto das entidades oficiais. Secretariado que lançou as bases precursoras de uma instituição com denominação idêntica à que existira na I República: a FNASM. Que, fundada em Coimbra a 19 de Maio de 1979, viria a ser legalizada por escritura de 9 de Agosto de 1980. E que por força de requisitos da lei, por escritura de 20 de Outubro de 1984 alterou os estatutos, passando a denominar-se União das Mutualidades Portuguesas. E que mais tarde, em 1990, mudou a sede para Lisboa. Premiar: um acto pedagógico Contada a história do longo caminho percorrido, que é «uma lição de vida que ajuda a construir o futuro», Al- 8 berto Ramalheira referiu-se aos prémios que iam ser atribuídos, considerando-os «um acto pedagógico, uma chamada de atenção» para as instituições cujos projectos levados a cabo alcançaram sucesso. Por decisão unânime do Conselho de Administração da UMP foram, então, proclamados vencedores, «ex-aequo», do Prémio «Mutualismo e Solidariedade», referente ao ano de 2007, a Liga das Associações de Socorros Mútuos de Vila Nova de Gaia e A Benéfica e Previdente, cujos atributos, iniciativas ou serviços prestados foram lidos pela apresentadora. Que a seguir, e pela ordem acima indicada, pediu a presença, junto à mesa da sessão, dos presidentes Luís Amorim e Carlos Salgueiral, aos quais, respectivamente, Alberto Ramalheira e José Almeida, vogal do Conselho Fiscal da União, (em representação do presidente), procederam à entrega dos galardões e diplomas, tendo os distinguidos, com as palavras de Mutualismo é defensor do Ambiente agradecimento, contado a história das criação das respectivas instituições. Vítor Melícias refundou o Mutualismo e renovou as suas instituições Entretanto, a presidente da Mesa da Assembleia Geral da UMP, Maria de Belém Roseira, procedeu à leitura da valiosa folha de serviços prestados ao mutualismo pelo emérito cidadão Vítor Melícias, que constituiu a primeira das manifestações de homenagem em sua honra, documento que a seguir se reproduz na íntegra. «Numa época tão marcante da nossa vida política como foi a dos anos 8o (adesão de Portugal à CEE), o omnipresente franciscano ocupou, com o seu devotado trabalho, todo o palco mutualista. E, porque após meio século de mordaças, amarras e perseguições do Estado Novo às mutualidades, obrou o prodígio do mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:22 Page 9 ressurgimento, do reconhecimento público, da visibilidade e da renovação das instituições, e deixou nelas o sinal indelével da solidariedade na modernidade, pode afirmar-se, com plena propriedade, que Vítor Melícias foi o refundador do mutualismo português. Em 1984, ainda a União das Mutualidades Portuguesas, acabada de fundar em Coimbra, ensaiava os primeiros passos, já o presidente do Montepio preparava o futuro; quer organizando e animando o IV Congresso de Mutualismo (50 anos depois do de 1934), quer tomando a iniciativa da realização, em 1985, de uma série de eventos internacionais, que precederam a cooperação com instituições congéneres europeias: a Conferência Franco-Portuguesa de Mutualismo, as Jornadas Franco-Hispano-Portuguesas e Luso-Hispano-Belgas; em 1986, o Curso de Formação para Formadores Mutualistas e, em 1989, o Curso de Agentes de Desenvolvi- mento, ambos financiados pelo Fundo Social Europeu. Num encadeado de realizações e acontecimentos com que, envolvendo a Federação Nacional da Mutualidade Francesa e a Associação Internacional da Mutualidade, preparou esse grandioso V Congresso Nacional de Mutualismo e o I Seminário Europeu de Mutualismo e Economia Social. E depois, na sequência da publicação, em 1990, do Código consagrador do mutualismo, nesse ano lançou, no VI Congresso, o repto da inovação. O Padre Vítor Melícias, que se iniciara em 1983 nas lides mutualistas, quando assumiu a presidência do Montepio Geral, completou, em 2008, 25 anos de militância ética e solidária. Foram 25 anos intensamente vividos, em espirito de serviço, pondo as suas capacidades e o ideal da fraternidade franciscana ao serviço da sociedade civil organizada. Por tudo isso é credor da nossa profunda gratidão e toda a estima». Mutualismo é defensor do Ambiente Reconhecimento e admiração do Movimento Mutualista A deliberação da Administração da UMP de conceder, por unanimidade, ao Padre Dr. Vítor José Melícias Lopes o Prémio de Mutualismo e Solidariedade, referente ao ano de 2008, considerou «a dimensão, a qualidade da obra e o impressionante desempenho» da figura distinguida, manifestando-lhe «profundo reconhecimento pelo património legado». Porque o documento sobre o qual foi proferida a decisão do executivo da União constitui um testemunho de afecto, reconhecimento e admiração do Movimento Mutualista ao Padre Vítor Melícias, eis o respectivo teor: «No âmbito da festa celebrativa do Dia Nacional do Mutualismo, prestar uma singela mas muito sentida homenagem ao frade franciscano Dr. Vítor José Melícias Lopes, pelo seu inequívoco empenho no renascimento do mutualismo moderno, 9 mut 08:Layout 1 10 2010/02/08 18:23 Page 10 Mutualismo é defensor do Ambiente mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 11 é uma indiscutível exigência de justiça. Renascimento que, com dedicação de militância exemplar e plena doação da sua própria pessoa, o Padre Melícias encarnou com o mesmo espirito de missão dos grandes paladinos que deram vida ao glorioso Movimento do passado. Com o testemunho de profundo sentimento de afecto, reconhecimento e admiração do Movimento Mutualista, permita-nos com uma palavra de muito jubiloso contentamento, que lhe rendamos preito à sua personalidade fascinantemente admirável: ao seu humanismo integrai, em simultâneo de solidariedade, de partilha e de responsabilidade; à sua doutrinação pedagógica dos princípios e valores humanistas universais; à sua permanente preocupação com os outros, sobretudo os mais carenciados, sofrentes e humildes; ao seu compromisso cívico com a solidariedade organizada; à sua alegria, que irradia do ideal evangélico; ao preceito generoso da sua arte de viver – como amigo e irmão de todos os homens; enfim, à sua permanente disponibilidade para a intervenção pública, em nome da dignidade da pessoa humana e em prol da Justiça, da Solidariedade e da Paz. Mas, porque o Padre Melícias nos concedeu o privilégio de sermos seus amigos, também exultamos, exaltando, a par do seu inefável carinho, as suas qualidades intelectuais: o saber, a competência, o conhecimento profundo da história, da filosofia, do direito. Enfim, o saber de um grande homem de cultura, que convive com todos nós, com a simplicidade dos grandes homens». Todos somos responsáveis pelo todo da humanidade Depois de Maria de Belém Roseira, que presidia à sessão, ter procedido à entrega do prémio, acto sublinhado por uma prolongada salva de palmas, o homenageado proferiu uma lição filosófico-doutrinal sobre o franciscanismo como con- Mutualismo é defensor do Ambiente cepção universal e norma de vida. «Agradeço e aceito, porque dedico este prémio aos mutualistas, à nossa União, a esta Liga, às Associações e a todos aqueles homens e mulheres que, como eu, acreditam que o mutualismo teve e tem, hoje e para o futuro, um papel essencial, verdadeiramente humano» – assim começou por falar o Padre Vítor Melícias que, logo a seguir, invocou o espírito mutualista: «Como disse, há cerca de 25 anos, o grande mutualista francês Pierre Bereguevoy, «il nous faut revenir à l’esprit mutualiste». Conhecendo e analisando a sociedade humana como ela é hoje nas suas dimensões sociais, económicas, políticas e financeiras – acentuou então – é preciso reencontrar para a humanidade em globalização uma alma mutualista, uma alma de solidariedade, uma alma de corresponsabilidade, em que os seres humanos sintam e saibam, e pratiquem, que 11 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 12 não são só responsáveis por si próprios e pelos seus mais directos familiares ou membros de grupo, mas que todos somos responsáveis pelo todo da humanidade e pela grande causa ecológica que é a nossa casa comum. Essa alma de consciência de que tudo que somos, tudo que temos e recebemos, sendo de nós e para nós, é de todos e para os outros; é essa alma que traduz a própria etimologia da palavra mútuo, em latim «meumtuum» o meu é teu»! Seguir a doutrina do mais humano dos homens, seguir o francisca- 12 nismo pela sua interveniência solidarista e, portanto, repetir a lição do Mendigo de Assis, foi a mensagem que Vítor Melícias fez questão de deixar em Dia do Mutualismo. «Temos consciência de que tudo aquilo que somos e temos, sendo nosso é dos outros», sublinhou, para recordar a mística que levou à criação, em tempos medievos, dos compromissos mútuos, dos celeiros comuns, dos montes pios. «Foi o sentido da fraternidade e a urgência da fraternidade» – disse – que levou os frades franciscanos de boa posição social, in- Mutualismo é defensor do Ambiente telectual e cultural a renunciarem a tudo o que eram e a tudo o que tinham para, descalços e com uma corda à cinta, proclamarem que «nós somos todos irmãos de todos». O grande apóstolo da fraternidade terminou, incitando os mutualistas portugueses a prosseguirem a lógica da solidariedade, a lógica de Francisco de Assis, que dizia: «é no dar que se recebe, e no perdoar que se é perdoado» o meu é teu é, portanto, a mística do verdadeiro sentido do mutualismo; para que seja sempre, como sempre foi, uma força de esperança. 쐍 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 13 Mutualismo é defensor do Ambiente 13 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 14 Maria de Belém deu lição sobre os valores mutualistas A intervenção de fundo esteve a cargo da presidente da Mesa da Assembleia Geral que, em dia celeberativo do mutualismo, lembrou e sublinhou a importância das três faces que melhor caraterizam o Movimento: por um lado a Liberdade, por outro lado a Democracia e, ainda por outro, a Solidariedade, tudo isto vivido num espírito de modernidade. «Só faz sentido invocar os valores, sublinhou Maria de Belém, se esses valores forem postos sempre ao serviço da época, em que vivemos, e a época em que vivemos como pressuposto da construção de um futuro melhor». Ainda há pouco uma grande cientista norte-americana dizia que «a evolução da humanidade demorou 60 milhões de anos entre partir de uma célula marinha até a construção de um olho humano. Isto significa, continuou, que temos de ter, na nossa 14 vida, este sentido; que temos de acrescentar alguma coisa no sentido do desenvolvimento. É por isto que é importante invocar este valores no Dia do Mutualismo». Numa reflexão coerente e solidamente fundamentada, Maria de Belém Roseira sustentou a sua prelecção: «Liberdade, e por isso tão hostilizada no período da Ditadura. 0 nosso Movimento assenta na livre associação, que era algo absolutamente inaceitável para a ideologia dominante nos 48 anos que precederam a Revolução de Abril; Democraticidade, porque as instituições que o constituem são reguladas, na sua gestão, por princípios de participação democrática, com tudo que isto significa; e Solidariedade, porque a vocação das associações é correctora das desigualdades de origem. Desigualdades sejam elas quais forem; designa- Mutualismo é defensor do Ambiente damente, as desigualdades de condição, de acesso aos bens, que não apenas os bens económicos, mas, também, os de investimento em capital humano, que são aquilo que, porventura, mais nos empobrecem enquanto sociedade, se não forem disponibilizados através de uma adequada política de igualdade de oportunidades. E, portanto, estas instituições são, verdadeiramente, escolas de liberdade, escolas de democracia, escolas de solidariedade, e é assim que devem comportar-se». E, Maria de Belém acrescentou: «Não será, pois, desculpável, em qualquer momento, que estas instituições se esqueçam da sua vocação intersticial e se comportem de uma maneira que não seja no sentido do aprofundamento e da construção, permanentemente renovada, destes valores. E esta era a primeira mensagem que queria transmitir». mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 15 Queremos uma Europa de valores Mais adiante, Maria de Belém falou do momento que todos nós vivemos: em termos globais, europeus e nacionais. Em termos globais, a crise financeira transformou-se em orise económioa e crise social. Fez, então, a análise do que é que falhou: «falharam as elites de governo, no sector financeiro; o que se verificou foi como que uma preversão dos objectivos do sistema económico, que é suposto criar riqueza e que, controlado por políticas que permitam a sua correcta distribuição, se transformou na demonstração, nas suas piores manifestações, numa ausência de valores: ausência de regulação, ausência de instrumentos de percepção daquilo que deve ser a avaliação dos comportamentos humanos, pondo a ganância à frente dos valores». Depois de tecer várias considerações sobre a crise financeira que se aba- teu sobre todos os países da Europa e os inevitáveis efeitos sociais negativos na economia, cujas consequências são «terríveis e desastrosas», a oradora falou da «profunda lição que podemos tirar disto tudo e da enorme ligação que existe entre a economia, a solidariedade a a intervenção social». E daí o facto, acrescentou, da «União Europeia estar hoje a pensar adoptar uma nova filosofia de avaliação prévia do impacto social das decisões que toma em todos os seus campos de intervenção». A propósito da União Europeia, referiu-se ao Tratado de Lisboa e às alterações na forma como a União Europeia se governa, para, na sequência do novo redesenho de poderes, afirmar «aquilo que nós, mutualistas, verdadeiramente queremos: uma Europa de valores e não apenas uma Europa como União Económica. Queremos uma Europa de valores, queremos que a Europa, no desenvolvimento de uma economia de mercado, desenvolva uma verdadeira economia social de mer- Mutualismo é defensor do Ambiente cado, e considerarmos que esse economia social de mercado se constrói como modelo social forte». Obreiros de uma ética de responsabilidade Os esquemas de protecção social no âmbito da União Europeia, que a crise mundial veio demonstrar serem altamente proveitosos no sentido de induzirem o desenvolvimento humano, mereceram de Maria de Belém Roseira uma demorada reflexão, que o espaço de que dispomos não nos permite aoompanhar. Interesse público, entidades privadas, «não podemos confundir nenhum deles com o sector social não lucrativo (...) Neste contexto, sublinhou, «temos de estar extraordinariamente atentos porque, como é evidente, na nossa especificidade não queremos ser adulterados na personalidade e identidade, e queremos tratamento adequado àquilo que condiz com a nossa natureza». 15 2010/02/08 18:23 Page 16 D I A N AC I O N A L mut 08:Layout 1 16 «Conscientes de que as oportunidades não são iguais para todos, afirmou a presidente da Assembleia Geral da UMP a terminar a sua prelecção, conscientes de que os riscos sociais são sempre algo como que uma espada que temos sempre em cima das nossas cabeças, é bom que actuemos de acordo com o princípio da precaução que assenta e radica na expressão da solidariedade. É neste campo que afirma a solidariedade como uma forma de relação entre as pessoas, que afirma a necessidade de assumir a partilha dos problemas, para dar uma resposta com equidade a quem padece deles. É com o sentido da construção deste interesse comum, que é o interesse do desenvolvimento humano, que nós pretendemos afirmar-nos e constituir-nos como obreiros de uma ética de responsabilidade que merece um tratamento Mutualismo é defensor do Ambiente e uma abordagem própria». E concluiu: «Este é o nosso entendimento; esta deve ser a nossa acção; esta deve ser a noção de responsabilidade que nós temos enquanto invocadores do mutualismo na forma como nos posicionamos ao serviço das nossas comunidades. E é absorvendo esse conceito e num comportamento que invoca esta ética de responsabilidade, que nós nos queremos constituir como parceiros com identidade própria, ao serviço dos nossos concidadãos e que nos invocamos e nos consideramos como agentes absolutamente indispensáveis e parceiros das entidades de governo, no sentido de construir uma sociedade mais justa, mais solidária e, sobretudo, mais verdadeira, de acordo com a dimensão humana, que é aquela que devemos promover e aprofundar». 쐍 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 17 Os prémio de mérito mutualista 0 Prémio «Mutualismo e Solidariedade» foi criado em 2003, com o propósito de distinguir pessoa individual ou colectiva que, em razão do mérito do trabalho desenvolvido, haja assumidamente contribuído para o desenvolvimento do Mutualismo, essencialmente no auxilio à promoção das finalidades que à União estão cometidas, nomeadamente quanto às práticas da solidariedade mutualista. Assim, foram atribuídos os seguintes: 2003 – Legado do Caixeiro Alentejano – AM, Évora 2004 – Previdência Portuguesa – AM, Coimbra 2005 – Dr. Edmundo Martinho, Presidente do ISS 2006 – A Beneficência Familiar ASM, Porto 2007 – Liga das ASM de Vila Nova de Gaia, Gaia 2007 – Benéfica e Previdente – AM, Porto 2008 – Padre Vítor Melícias 25 Anos de Mutualismo Liga das ASM de Gaia: qualidade na modernidade Criada em 1905, entre louváveis atributos e iniciativas, a Liga de Gaia vem apostando na inovação, exemplificando a prática de um mutualismo de qualidade e modernidade. Nos últimos anos desenvolveu a farmácia e a clínica médica. A nova farmácia da Liga (Maio de 2007) permitiu aumentar e melhorar a qualidade dos serviços disponibilizados aos filiados das suas associadas (ASM Oliveirense, Vilanovense, AM e Costa Goodolfim). Além de grande espaço de atendimento, dispõe de gabinetes de dermocosmética, de enfermagem, laboratório de manipulados, armazém e escritórios. Com um horário alargado beneficia do maior e mais moderno sistema robotizado de apoio ao atendimento: o «farmadrive», que permite o acesso aos medicamentos sem o cliente sair do carro. Também a nova clínica permitiu aumentar o número de actos médicos e de especialidades disponibilizadas pela Liga. Recentemente, num colóquio entre farmácias sociais europeias, a farmácia da Liga foi classificada no bloco das dez primeiras farmácias sociais da Europa. A Benéfica e Previdente – polivalência de serviços Constituída em 2002, em consequência da fusão das associações Benéfica e Previdente, a instituição portuense, 4.603 associados, vem proporcionando uma polivalência de serviços que abrange um completo espectro de actividades: planos de poupança e protocolos de seguros serviços médicos próprios; turismo e lazer; serviços de saúde, higiene e segurança no trabalho; apoio à infância (creche, pré-escolar e ATL 2.º e 3.º ciclos); apoio ao mais velho (assistência domiciliária, residência de acolhimento temporário); banco de ajudas técnicas, formação, centro comunitário e centro de convívio. Acresce o acordo celebrado com o ISS,IP relativo ao rendimento social de inserção. O currículo mutualista de Vítor Melícias Natural do Ramalhal, no concelho de Torres Vedras, Vítor José Melícias Lopes, 71 anos de idade, professou na Ordem Franciscana dos Frades Menores, em 1959 e foi ordenado sacerdote em 1962, na Igreja Paroquial de Carnide, em Lisboa. Licenciado em Direito Canónico (Roma, 1965) e em Direito Civil (Lisboa, 1973)» desde então o Padre Vítor Melícias, além das funções inerentes ao múnus sacerdotal, tem ocupado inúmeros cargos no mundo secular, em especial na área da solidariedade social (trabalhadores migrantes, bombeiros, mutualidades, misericórdias, fundações, hos- Mutualismo é defensor do Ambiente pitais) e no ensino universitário, sendo ainda de relevar o seu papel na causa do povo maubere, na qualidade de Comissário para o Apoio à Transição de Timor-Leste (1999-02). Na área da Economia Social, eis os cargos desempenhados, no país e no estrangeiro: Presidente do Conselho de Administração (1983-88); Presidente do Conselho Geral (1987-91); Presidente do Conselho Fiscal (2004-06); Presidente da Mesa da Assembleia Geral (2007-09). Montepio Geral União das Mutualidades Portuguesas Presidente da Direcção (1986-91); Presidente da Mesa da Assembleia Geral (1992-02 e 2006-08). Membro do Conselho de Governadores da Association Internationale de Ia Mutualité (1985-88); Vogal do Comité Consultatif pour l’Economie Social (1994-2000). Estrangeiro São inúmeras as mercês honoríficas constantes da folha curricular do Padre Melícias, sendo de salientar, entre outras condecorações: Grande Oficial da Ordem da Benemerência, Grã-Cruz da Ordem de Mérito, Comenda de Mestre-Maior da Confederação Internacional das Misericórdias, Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Torres Vedras, Comenda com Placa de Mérito da Academia Mundial das Ciências, Tecnologia e Humanidades. Sócio honorário de várias misericórdias, federações e associações de bombeiros, o nosso homenageado é Prémio da Imprensa de Mutualismo (1985), Prémio Nacional de Solidariedade (1986), Prémio da Solidariedade CNAF (1989), Prémio Intervenção Social (1991), aos quais junta agora o Prémio de Mutualismo e Solidariedade (2008) atribuído pela UMP. 쐍 17 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 18 ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DA MUTUALIDADE – AIM UMP acolheu em Lisboa Grupo Técnico de Pensões AIM Tendo por anfitriã a União das Mutualidades Portuguesas, reuniu-se em Lisboa, nos dias 20 e 21 de Novembro, o Grupo de Trabalho dos Técnicos de Pensões da Associação Internacional da Mutualidade – AIM, que é presidido por Henrique Oliveira Pêgas. A actualidade da temática em discussão, bem como a representatividade que a AIM tem como membro do Fórum de Pensões da Comissão Europeia, através do presidente do Grupo de Trabalho, conferiu importância à reunião realizada em Portugal. Que, vindo na sequência das que foram efectuadas em Tunes, Berlim, Granada, Blackenberg, Marraquech e Bruxelas, também ficou marcada pela relevância que lhe foi conferida pela participação nos trabalhos de vários técnicos da Direcçao-Geral da Segurança Social, entidade de supervisão das instituições mutualistas. Após uma palavra de boas vindas proferida pelo Sr. Presidente da UMP, Alberto Ramalheira, os diversos trabalhos foram sendo sucessivamente apresentados por Rita Kessler (AIM), Mareei Smeets (AIM), João Ferreira (ISP), Frido Fraanen (PGGGM – NL), Dominique Bouché (EPSE), José Pitacas (MG), Pedro Bleck da Silva (UMP) e Henrique Oliveira Pegas (AIM – UMP). Os temas abordados e a transparência das intervenções transmiti- 18 Mutualismo é defensor do Ambiente ram a todos os participantes momentos de grande reflexão. Foram abordados os seguintes temas, que em breve irão estar disponíveis no site www.aim-mutual.org: Solidariedade entre gerações: Que realidade? Impacto da crise internacional no movimento mutualista. Factores diferenciadores dos efeitos da crise financeira. Directiva 2003/41/CE do Parlamento e do Conselho relativa às actividades de supervisão das instituições de gestão de planos complementares de reforma. Política de investimentos. Investimentos no seio de entidades moralmente responsáveis. Responsabilidade e representação de Activos, seja em Planos de beneficio definido (DB) seja em Planos de contribuição definida (CD). Directiva sobre a portabilidade de regimes complementares de pensões, Avanço e dificuldades na seu entrada em vigor. Contribuição do sector social na ajuda às comunidades locais em termos de saúde, emprego e ajuda solidária. Questões de solvabilidade e insolvabilidade ligados ao financiamento de regimes complementares profissionais. Aplicação da SOLVÊNCIA II às entidades de gestão de regimes profissionais complementares. Factores de diferenciação e de convergência. 쐍 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 19 Socorro Mútuo: Uma herança com 500 anos A tradição, feita de usanças e hábitos transmitidos de geração em geração, liga o passado ao presente. Tradição que no mutualismo estás deveras arraigada, pois que, embora o mundo seja feito de mudanças, a «associação de socorros mútuos» contínua a ser a designação de 39 das 72 mutualidades filiadas na União das Mutualidades Portuguesas. Quer isso dizer que do padrão arcaico apenas 33 dessas mutualidades (menos de metade) prescindiram, passando a aplicar o designativo de «associação mutualista» que, face à evolução dos novos conceitos de complementaridade de protecção social, o nosso Código, aprovado pelo Decreto-lei n.º 72/90, de 3 de Março, sistematizou. Nunca ao legislador terá passado pela cabeça que a manutenção, no preceito estatutário, de uma expressão oriunda dos tempos primórdios, continuasse a ser dominante neste 3.º milénio. De facto, as associações de socorros mútuos foram herdeiras do ideal socorrista das confrarias leigas portuguesas do século XV, que administravam hospitais e gafarias e detinham albergues e mercearias, às quais o rei D. Afonso V, após Alfar- robeira, retirou privilégios considerados abusivos. Ora, essa tónica socorrista da Idade Média, que no evoluir dos tempos se prolongou até ao século XIX, quando a designação «ASM» se vinculou à identidade das instituições em virtude da promulgação da já referida legislação de 1891, tinha razão de ser. É que nas grandes catástrofes a protecção aos desprotegidos povos contava, na primeira linha dos socorros, com a ajuda fraterna das associações. Como nas pandemias de febre amarela e cólera que assolaram Portugal nos anos 1856/57. No entanto, a partir de meados do século XX, mercê da disseminação pela Europa dos sistemas obrigatórios de protecção social e da criação (1947) no Reino Unido, do Serviço Nacional de Saúde, o problema assistencial começou a ser tratado como uma «responsabilidade pública». Então, como os cuidados de saúde se tornaram um «direito social e civilizacional» e como o nosso País também adoptou, há 30 anos, o S.N.S., deixou de fazer sentido continuarmos de olhos postos no passado, como se as pessoas ainda permanecessem dependentes do socorrismo das instituições. Mas, o que consideramos «inaceitável» em relação ao uso do designativo «ASM», também se aplica, mutatis mutandis, à denominação das associações, isto é, à sua identidade corporativa, visto que após o «25 de Abril» não se registou, salvo num número muito restrito de instituições, nenhum projecto renovador de imagem, nenhuma ambição de mudança, quer na forma visual, escrita ou oral. OPINIÃO A designação «Associação de Socorros Mútuos», antes ou depois da denominação, isto é, da identidade, passou a generalizar-se a partir de 1870, embora, como norma vinculativa, só haja sido consagrada com a promulgação do decreto de 28 de Fevereiro de 1891. No entanto, a Associação de Socorros Mútuos dos Artistas Bejenses, com estatuto aprovado em 29 de Março de 1858, foi a primeira mutualidade portuguesa a usar essa denominação completa. Já lá vão, portanto, quase 152 anos! Ora, como numa democracia participativa a acção mutualista exerce- Mutualismo é defensor do Ambiente 19 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 20 OPINIÃO se, em permanência, através da comunicação com a sociedade civil, a qual obriga, face às vertiginosas mudanças (economia do conhecimento), a novas formas de imagem, de discurso e de sociabilidade, toda essa simbologia visual e textual carece, do ponto de vista psicosociológico, tanto nos conceitos como nas formas, de uma profunda e urgente reformulação, modernização e reorganização gráfica. 20 E, como a actividade mutualista compete no mercado global, em concorrência com os outros dois sectores dos meios de produção, e deve responder, de forma célere e eficiente, aos desafios da credibilidade, da transparência e da ética, e proporcionar a cada cidadão o acesso a uma cidadania activa e real, não pode prescindir de comunicar e de passar a sua mensagem a qual, como é óbvio, visa sempre influenciar ou modificar o comportamento das pessoas receptoras, quer ao nível dos sentimentos e Mutualismo é defensor do Ambiente das atitudes, quer ao nível da acção, pois que «não há mensagens inocentes». Através de «uma maior flexibilização da legislação estatutária e de uma certa ideia de desregulamentação», o Código, que no IV e V congressos reclamámos do poder político executivo, veio valorizar «a liberdade e autonomia da organização e do funcionamento das associações mutualistas, com a correlativa responsabilização acrescida dos seus órgãos associativos». Portanto, nenhuma instituição, nenhum dirigente mutualista pode desculpar-se com o Estado ou arranjar qualquer outro álibi impeditivo de mudança. Aliás, residindo o eixo de renovação de identidade corporativa no reconhecimento externo – também pela administração pública – esse desiderato constitui um imperativo para se ganhar o futuro na modernidade. 쐍 MÁRIO BRANCO mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 21 O Programa de Acção e o Orçamento de 2010, apresentados pelo Conselho de Administração e o respectivo Parecer do Conselho Fiscal, foram aprovados em Assembleia Geral, realizada em 19 deste mês de Dezembro, por 40 votos favoráveis e duas abstenções, Na reunião presidida por Maria de Belém Roseira realizada no auditório da ASM Nossa Senhora da Esperança de Sandim e Freguesias Circunvizinhas, em Sandim – Vila Nova de Gaia, foram ainda aprovadas, por identico número de votos, duas propostas submetidas ao plenário pela administração. Além dos dezasseis objectivos com concretização prevista para 2010, que destacamos em separado, são de evidenciar do Programa de Acção os seguintes desígnios constantes do Programa do XVIII Governo Constitucional, no capítulo «Reforçar a Parceria com o Sector Social»: Criação de linha de crédito bonificada especifica destinada a apoiar a tesouraria e financiamento da actividade das entidades do sector social; Programa específico de Apoio ao Desenvolvimento da Economia Social (PADES); Programa INOV Social destinado à inserção anual de 1000 jovens, quadros qualificados, para apoio e modernização das instalações de economia social e ao emprego Jovem; Alargamento e participação das instituições de economia social na para 2010 votos contra Rede de Equipamentos e Serviços Sociais com prioridade aos destinados a idosos e, em particular, na Rede de Cuidados Continuados; Consolidação dos programas de formação/acção para a economia social e preparação do novo ciclo de programas; Conclusão do processo relativo à implantação da Cooperativa António Sérgio; e Criação do Conselho Nacional para a Eoonomia Social – Órgão de Natureza Estratégica e Consultiva. Menos custos e proveitos Em relação à Conta de Exploração Previsional, o total de Custos e Perdas ascende a 269 500 euros, verba inferior, em 13 000 euros, à que fora orçamentada para 2009. Sublinhese a baixa de 1 000 euros nos Custos com o Pessoal, na comparação com o exercício antecedente. Na contrapartida de Proveitos e Ganhos, com 270 000 euros na expressão monetária, também a Comparticipação e Subsídios à Exploração regista uma descida de 5 500 euros, uma vez que o montante da rubrica é de 246 000 euros. Com os proveitos inerentes a Associados em permanente queda, é óbvio que a capacidade de acção administrativa em prol do desenvolvimento é limitada, pois que revela escassez de meios. 쐍 Mutualismo é defensor do Ambiente PROGRAMA DE ACÇÃO E ORÇAMENTO PARA 2010 Orçamento aprovado sem 21 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 22 Fortalecer a Economia Social e cooperar com a Lusofonia A Assembleia Geral aprovou duas propostas, apresentadas pelo Conselho de Administração, cada uma por 40 votos a favor e duas abstenções, relativas ao fortalecimento do sector da Economia Social e à cooperação com a comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Em concreto, numa dessas propostas, a criação da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social – Cooperativa de Interesse Público de Responsabilidade Limitada, levou o órgão executivo a aceitar o convite para a UMP vir a integrar o conjunto de participantes, subscrevendo e realizando partes de capital da mencionada entidade, até ao montante de 14 000 euros. Na outra, a administração considerou que pode ser relevante para as finalidades do Movimento Mutualista a UMP participar, a título de observador consultivo, na Comunidade de Países de Língua Portuguesa. 쐍 22 Os 16 objectivos do Programa de Acção O enunciado das dezasseis medidas constantes do Programa de Acção da UMP, com execução prevista para 2010, é o seguinte: Levar a efeito, de forma reiterada e intensiva, acções formativas visando a melhoria da capacitação dos quadros directivos, técnicos e demais agentes/colaboradores envolvidos no Movimento Mutualista; Providenciar a melhoria dos serviços da UMP, designadamente e mediante a disponibilização de especialistas e a implantação da tecnologias/equipamentos de mais capacidade, de forma a responder às solicitações que lhe são formuladas pelos associados; Prosseguir nos estudos/trabalhos que vem sendo desenvolvidos sobre «Normas Regulamentares», «Oferta Mutualista em Portugal – Carta Social Mutualista», Renovação da «Imagem/Marca Mutualista» a «Projectos/Eventos»; Prosseguir o acompanhamento das questões relacionadas com os instrumentos reguladores das condições laborais dos trabalhadores afectos às Associações Mutualistas, com vista a eventual constituição de instrumento Jurídico específico; Acompanhar a evolução do processo do sistema da normalização contabilística aplicável às mutualidades; Promover a realização de sessões técnicas para aferição e tentativa de harmonização dos critérios contabilísticos de imputação de custos e encargos às diversas modalidades e respostas sociais promovidas pelas Associações Mutualistas; Continuar a assegurar a representatividade da UMP junto das organizações de Economia Social, Comissões e Grupos de Trabalho, designadamente, perante a Tutela e demais entidades oficiais; Promover a realização de actos correlacionados com a celebração/ /divulgação do Movimento Mutualista; Desenvolver as acções necessárias com vista à participação da UMP na Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, perspectivando o seu reconhecimento como parceiro/actor privilegiado no seio da economia social; Definir o modelo e o modo de implantação do Centro de Estudos Dr. Silva Leal; Promover o desenvolvimento de uma resposta coordenada das diferentes mutualidades que operam na área da saúde, designadamente, no campo dos cuidados continuados e regimes convencionais, com vista ao reconhecimento do sector mutualista como parceiro de referência na complementaridade da oferta pública do serviço de saúde; Promover acções sensibilizadoras para a implementação dos manuais de qualidade das respostas sociais; Incentivar o aproveitamento de sinergias geradas no seio das instituições da Economia Social. 쐍 Promover estratégias conducentes à dinamização da imagem de marca do Movimento Mutualista; Desenvolver as acções propostas pela Comissão Nacional de Acompanhamento do Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social; Mutualismo é defensor do Ambiente Prosseguir as estratégias necessárias e adequadas e defesa da titularidade de Farmácias Sociais por parte de Entidades do Sector da Economia Social; mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 23 Parabéns ao Montepio Filarmónico por 175 anos de acção mutualista nanceiras. E desde então caminham juntas e partilham, discretamente, a mesma sede, na rua Serpa Pinto, 10 D, ao Chiado. Esta não é a comemoração de mais um aniversário do Montepio Filarmónico, ao qual dirigimos os mais efusivos parabéns. É a comemoração do sucesso de um compromisso solidário que vem de muito longe. E que, assente no diálogo, na tolerância, na fraternidade e na gestão democrática, soube assumir os valores humanos, éticos e culturais, e escrever História. Por certo, com a promessa de se afirmar na continuidade: para reinterpre- tar o tempo ido, para utilizá-lo em favor do presente e, enfim, para renovar a sua legitimidade histórica. do mesmo ano, tendo iniciado a actividade com 37 sócios e o capital de 187,300 réis. A data da constituição é autêntica pois que, embora não exista o instrumento jurídico fundador, o exemplar único dos estatutos que o tempo não destruiu dela dá testemunho. Trata-se do documento alusivo à reforma aprovada por decreto de 24/07/1860 e alvará de 14 de Agosto do mesmo ano. Para pertencerem ao Montepio era obrigatório os sócios estarem vinculados à irmandade Sócios e irmãos e vice-versa Fundado pelo professor de música e compositor da Orquestra da Capela Real, João Alberto Rodrigues Costa, o Montepio Filarmónico, que aprovara um projecto de estatutos a 21 de Abril de 1834, estabeleceu a data de instalação e fundação em 4 de Novembro Mutualismo é defensor do Ambiente ANIVERSÁRIO A Associação de Socorros Mútuos Montepio Filarmónico, a mais antiga mutualidade portuguesa em actividade, pois que foi fundada em Lisboa naquele ano de 1834 em que, acabada a guerra civil, foram extintas as corporações de artes e ofícios, comemorou 175 anos de vida no pretérito dia 4 de Novembro. Tendo nascido e crescido no seio da Irmandade de Santa Cecília, padroeira dos músicos, foi nesta associação fraternal, das mais antigas do país, que surgiu a ideia da criação de uma instituição que protegesse os músicos profissionais em dificuldades fi- 23 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 24 Um Centro de Férias e projectos de desenvolvimento Constituem fins fundamentais do Montepio Filarmónico, cujo número actual de associados é de 165, a concessão de benefícios de protecção social complementar nas áreas da saúde e da segurança social: pensões de reforma (em for- ceciliana e vice-versa. Mas, como este compromisso não estava preceituado oficialmente, foram os estatutos reformados em Maio de 1843 e deferidos por alvará régio de 31 de Agosto. Acrescente-se que a medida reformista também se justificou devido a um contencioso com a empresa do Teatro de São Carlos, que queria impor restrições aos artistas componentes da sua orquestra. A criação de uma comissão, para negociar com a referida empresa, conduziu a um acordo favorável aos cofres da A.S.M. Nessa altura a instituição contava já 161 sócios, sendo de 5.143$260 réis o dinheiro em cofre. mação e pagamento), assistência médica e comparticipação em medicamentos. Cumulativamente com as modalidades, a instituição prossegue objectivos de qualidade de vida, sendo de destacar o investimento patrimonial efectuado em 1991, na aquisição de três apartamentos para férias, na estância balnear de Vila Nova de Milfontes, situada na desembocadura do rio Mira. Proporcionar aos associados a permanência, a preços reduzidos, neste destino turístico situado no Baixo Alentejo, junto à costa vicentina, foi trabalho meritório da Direcção presidida por Carlos da Conceição Saraiva e que teve em Atílio Dias Pereira uma gestão a todos os títulos eficiente. Entretanto, para poder desenvolver-se e alargar a base de adesão a novos associados, o Montepio tem em curso o processo para proceder à alteração dos Estatutos e do Regulamento de Benefícios. 쐍 24 Apoio da maçonaria Após a reforma de 43, o fundador do Montepio empenhou-se na criação de uma outra associação, a qual «já existia secretamente sob a capa de loja moçónica» denominada S. João, que passou a designar-se Associação Musical 24 de Julho; e, mais tarde, em 1846, de uma outra «Academia Melpomenense», dependente da instituição mutualista, destinada a promover concertos e saraus para os artistas se exercitarem na execução e composição, e que deu óptimos resultados.. Mudou em 1855 para Academia Real dos Professores de Música, porque o Rei D. Fernando, então regente, tornou-se seu protector, contribuindo com a importante mensalidade de 22.5OO réis. No entanto, embora todo este incremento, uma dissidência no seio da Academia dos Professores levou à sua extinção, decidida por unanimidade em assembleia geral de 11.07.1861. As vicissitudes da vida pública, as crises políticas e as epidemias, também contribuíram para as inúmeras dificuldades criadas e, consequentemente, para a cisão associativa, que levou o fundador a abandonar os cargos directivos. Rodrigues Costa viria a falecer em 187O. «Cecilianos» e «isabelões» em guerra Esta divisão, que ficou conhecida como o «caso dos isabelões», e quase levava Mutualismo é defensor do Ambiente ao desaparecimento do Montepio, foi devida a uma directiva interna, que não protegia por igual todos os associados. A «lei dos vínculos», assim se chamava a directriz, permitia aos sócios que, após concurso e pagando uma determinada quantia para o cofre, ficassem detentores de um lugar e, assim, vinculados a um ou mais teatros, o que causava mal estar aos que não tinham essa prerrogativa. Dessa forma, quem detinha o vínculo podia sempre escolher onde trabalhar e só sobrava o que não queriam fazer para os não vinculados. O facto levou à demissão de alguns sócios e à constituição de uma outra associação: a Irmandade de Santa Isabel, Rainha de Portugal. Daí o nome de «isabelões» aos que saíram e o de «cecilianos» aos que permaneceram fiéis ao Montepio. Ora, como em todas as guerras há vencedores e vencidos, o Montepio tratou de encontrar forma de acabar com esse dilema e de não afrontar mais a classe dos músicos e a própria imagem da mutualidade. Assim, resolveu diligenciar a recuperação do Teatro D. Maria, que tinha passado para os «isabelões». O comissário régio do teatro propôs um concurso entre as duas associações para medir a qualidade de execução de uma obra para o efeito mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 25 encomendada. Aceite a proposta, a maior experiência e desenvolvimento dos «cecilianos», fiéis à instituição primaz, garantiu-lhes a vitória e com ela o fim do conflito. Como nos alcatruzes da nora, a vida solidária é feita de altos e baixos. Por isso, às renovadas dificuldades e ameaças, sucederam-se períodos de trabalho árduo e próspero. Se, por exemplo, os surtos da cólera e da febre amarela, em 1856/57 testaram a vitalidade social da mutualidade e a entrega permanente dos seus dirigentes aos doentes durante todo o tempo que a epidemia durou, estes acontecimentos afirmaram o sentido da responsabilidade e eficácia de dirigentes como o padre Joaquim da Cunha Sargedas e João Rio de Carvalho. No entanto, repetiramse as dissidências internas, cujas causas acabaram por dar origem a uma evolução artística em Lisboa, com a vinda de músicos estrangeiros de grande nível. Entretanto, a homenagem a Júlio da Cunha Taborda, em 1905, (a sua peritagem às contas descobriria uma Claro que à penumbra que, nos 48 anos de ditadura, ofuscou a vida do Montepio Filarmónica, sucedeu o sol refulgente de Abril que, determinante no regresso do social e da democracia, proporcionou a cada pessoa o acesso a uma cidadania activa e real. Portanto, estes 175 anos passados encerram era si todas as memórias dos homens que partilharam um sonho, um destino e uma obra. 쐍 Mutualismo é defensor do Ambiente ANIVERSÁRIO Os altos e baixos da solidariedade fraude), pelo impulso dado aos cofres; o reforço do património em 1908, com os bens da dissolvida Associação dos Professores de Música de Lisboa, que valiam 1.436$665 réis, assim como os da Associação de Socorros Mútuos Filial, anexa à mesma associação; além do importante legado deixado em testamento pelo sócio e grande benemérito Joaquim Maria de Sousa, constituir no início do séc. XX um valioso reforço do activo da mutualidade. Que sete anos passados, em Dezembro de 1915, recebeu nova doação: os bens da Caixa de Socorro a Músicos Pobres, fundada em 1906, por iniciativa de Michel Angelo Lambertini: um insigne benemérito e um brilhante pianista, que prestou relevantes serviços a toda a classe musical. 25 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 26 MEMÓRIA O ciclo dos Montepios e a implantação do Mutualismo 26 0 ciclo dos Montepios, coincidente com a implantação da actividade mutualista em Portugal, teve início no final do séc. XVIII e prolongou-se até aos anos 50 do séc. XIX. Figura central do associativismo e, porventura, o mais prestigiado dos autores dos tempos primórdios do mutualismo, Costa Goodolphim atribuiu o estatuto primaz ao Montepio do Senhor Jesus do Bonfim, fundado em Lisboa em 1807; e à Sociedade dos Artistas Lisbonenses, constituída em 1839, o de primeira Associação de Socorros Mútuos de carácter polivalente. Cuja acção, no âmbito da cultura e da instrução, manifestada através da organização de congressos e exposições, e do funcionamento de cursos destinados a trabalhadores, foi deveras notória pela influência exercida sobre as classes operárias. Há notícias, porém, de outros montepios criados antes, quer no domínio do Estado, quer no da iniciativa privada. Destes últimos, o mais antigo, com alvará assinado pelo rei D. José I, foi o Montepio do Ofício dos Ourives da Prata, ligado à antiquíssima Corporação dos Ourives da Prata a qual, por sua vez, estivera na origem da Associação de Socorros Mútuos dos Ourives da Prata Lisbonense, sob a invocação de Santo Eloy, reconhecida por alvará régio de 1865. Logo a seguir a esta instituição dos ourives, foram criados dois montepios cuja denominação nos é familiar: o Montepio dos Professores Régios ou Particulares, aprovado em 1815 e que, tendo ficado conhecido por «Montepio Lite- Mutualismo é defensor do Ambiente rário» veio a inspirar os fundadores do Montepio Geral, e o Montepio de Jesus Maria José, constituído em 1822 como réplica do acima referido Montepio do Senhor Jesus do Bonfim, pois que os associados de ambos eram operários do Arsenal do Exército. Os montepios militares Entretanto, no âmbito da instituição castrense, ao abrigo de uma disposição régia de 1790, portanto com o apoio do Estado, foram criados vários montepios militares: o Montepio Militar da Côrte e Província da Estremadura (mais tarde alargado a todas as províncias), o Montepio para as Viúvas e Filhos dos Oficiais do Exército, o Montepio dos Oficiais do Real Corpo da Marinha. Todavia, exército e marinha juntaram-se, em 1843, num único instituto: o Montepio do Exército e da Armada (ou Montepio Militar). Anos mais tarde, em 1872, foi criado o Montepio dos Oficiais Marinheiros ou de Nossa Senhora da Conceição da Escada que, por sua vez, deu lugar, em 1879, à Associação de Socorros Mútuos dos Oficiais Marinheiros. Montepios da área mutualista Ainda vinculados ao Estado mas com características diferentes, também surgiram na primeira metade do séc. XIX outros montepios: da Companhia da Porta do Terreiro da Cidade de Lisboa (l803), das Secretarias de Estado (1835), da Alfândega das Sete Cidades (1836), da mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 27 Associação de Socorros e Montepio da Marinha (1842), da Casa Real (1844), do Montepio e Caixa Económica da Imprensa Nacional (1846). Embora todos estes montepios tivessem protecção e apoio público, configuravam-se como associações de socorros mútuos. Aliás, alguns deles acabaram por ser absorvidos em 1867, pelo Montepio Oficial. Iniciativa do próprio Estado, a ideia da criação do Montepio Oficial foi a de evitar que as famílias dos seus servidores ficassem na miséria por morte dos titulares associados. Para efeito da constituição de fundos de pensões, os cofres do Estado contribuíram com uma verba de 102 milhões de réis. Extinção das Ordens Religiosas Quatro dias passados sobre a assinatura da Convenção de ÉvoraMonte, que pôs termo à guerra civil, com a vitória dos liberais sobre os absolutistas, o ministro da Justiça Joaquim António de Aguiar, decretou em 30 de Maio de 1834, a extinção de todas as casas de religiosos de quaisquer ordens regulares, tendo os seus bens sido incorporados nos da fazenda nacional. Extinção que, em relação às corporações de artes e ofícios havia sido decretada logo no dia 7 daquele mês. Nesse mesmo ano, a 4 de Novembro, por iniciativa do professor de música e compositor da Orquestra da Capela Real, João Alberto Rodrigues Costa, era constituído, como Associação de Socorros Mútuos, o Montepio Filarmónico, cujos 175 anos de actividade, que MUT reporta nesta mesma edição do boletim, sendo representativos, na solidariedade, de uma história exemplar, o apontam como a mais antiga mutualidade portuguesa a exercer a protecção social complementar. E, seis anos volvidos sobre a fundação daquele montepio, a 4 de Outubro de I84O, surgiu o Montepio Geral. Que tendo começado por ser uma associação destinada a apoiar os empregados públicos, se transformou depois na mais importante instituição mutualista português, com prestígio a nível nacional e europeu, e cuja actividade bancária é de grande relevância na área da economia social. Os 170 anos de história que a instituição do pelicano celebra em 2010 têm as suas raízes na capacidade de iniciativa de uma sociedade civil que em meados do séc. XIX despertou para os valores da solidariedade. Entretanto, o diploma legislativo de 1834, assinado pelo ministro que ficou conhecido pelo «matafrades», teve grande influência no incremento do mutualismo que a partir da segunda metade do século conheceu grande incremento, havendo sido criadas centenas de mutualidades. 쐍 A cultura teatral e musical no âmbito do socorro mútuo No século XIX foram pelo menos nove, só em Lisboa e no Porto, as instituições mutualistas constituídas por profissionais do teatro e pelos da chamada arte de combinar (em harmonia) os sons. Dos músicos, em Lisboa e no Porto; dos artistas do palco, que tomaram a iniciativa antes daqueles, somente na capital. Vejamos: A Associação de Teatro da Rua dos Condes, constituída em 1854, tinha dois objectivos: por um lado, a defesa dos interesses dos actores, a sua formação profissional e a garantia de trabalho; e, por outro, fins de previdência e auxílio mútuo. Por seu turno, a Associação do Teatro das Variedades, formada quatro anos mais tarde, além de instituição de classe também prosseguia fins de auxílio recíproco. Ainda em Lisboa, o Montepio dos Actores Portugueses, criado em 1860, sob a denominação de Caixa de Socorros Dramáticos, por decreto de 4.12.1861 passou a usar o referido nome, tendo por protector o rei D. Luís. Na área d a música, nos anos de 1867, 1869 e 1871 foram fundadas em Lisboa três instituições: a Associação União dos Músicos Cegos de Lisboa a Associação dos Cantores «10 de Julho» e a Associação dos Compositores de Música e Professores de Piano e Canto. Enquanto esta se constituiu, em simultâneo, como organização profissional e de socorros mútuos, a primeira era formada por ex-alunos cegos da Casa Pia e tinha por objecto, para além dos fins de previdência, conservar a banda dos músicos cegos daquela instituição lisboeta, estabelecer uma aula prática de música e fundar um asilo para cegos. Quanto à Associação dos Can- Mutualismo é defensor do Ambiente tores «10 de Julho», que se propunha ajudar o acesso dos estudantes do Conservatório à sua colocação nos teatros, e que abrangia os artistas «primeiros e segundos tenores, barítonos ou baixos», concedia pensões aos seus sócios, os quais para efeitos mutualistas, pois tratava-se de uma associação de classe, eram filiados no Montepio Filarmónico. Entretanto, na cidade do Porto existiram três mutualidades: o Montepio Musical Portuense, constituído em 1857, que abrangia professores de música, cantores e instrumentistas (também se denominou de Sociedade do Montepio Musical Portuense); a Associação União Musical Portuense, com estatutos aprovados em 1863; e a Associação Musical de Socorro Mútuo de Santa Cecília, fundada em 1892 e com estatutos aprovados em 1895. 쐍 27 mut 08:Layout 1 2010/02/08 18:23 Page 28 Edição e Propriedade UNIÃO DAS MUTUALIDADES PORTUGUESAS Coordenação MÁRIO BRANCO Design NIELS FISCHER Fotos MIGUEL ANGELO Fotocomposição HERAGRÁFICA Impressão GRIFOS www.mutualismo.com | e-mail: [email protected] Tiragem 1 300 Exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Mutualismo é defensor do Ambiente