SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social Mulheres e Ciência Silvia Yannoulas1 Apresentaçãooordenada regionalmente Abstract Resumo This study aims at analyzing women’s problematic relationship with scientific knowledge, academic institutions, and the legitimation of knowledge as scientific understanding. As such, the inclusion/exclusion of women in the universities it tackled; their differentiated trajectories as students, researchers, and teacher is explained; the feminization of scientific knowledge or the incorporation of women’s problems and perspectives in the elaboration and consolidation of scientific knowledge is presented; the notion of vocation in the choice of profession and university-level studies is put forth; and the power disputes between men and women in the academies is discussed, especially in consideration of the role of meritocracy in the academic environment. O presente estudo objetiva analisar a relação conflituosa das mulheres com os saberes científicos, as instituições acadêmicas e a legitimação dos saberes como conhecimento científico. Para tanto, aborda a história da exclusão/inclusão das mulheres das universidades; relata as trajetórias diferenciadas delas como estudantes, pesquisadoras e professoras; apresenta a feminização do conhecimento científico ou a incorporação dos problemas e perspectivas das mulheres na elaboração e consolidação dos conhecimentos científicos; problematiza a noção de vocação na escolha da profissão e dos estudos superiores; discorre sobre as disputas de poder entre hombres e mulheres nas academias – especialmente considerando o papel da meritocracia no âmbito acadêmico. Key words: androcentrism, gender studies, feminization, meritocracy, university Palavras-chave: androcentrismo, estudos de gênero, feminização, meritocracia, universidade Resumen El presente estudio pretende analizar la relación conflictiva de las mujeres con los saberes científicos, con las instituciones académicas y con la legitimación de los saberes como conocimiento científico. Para tanto, aborda la historia de la exclusión/inclusiõn de las mujeres en las universidades; relata las trayectorias diferenciadas de las mujeres como estudiantes, investigadoras y profesoras; presenta la feminización del conocimiento científico o la incorporación de los problemas y perspectivas de las mujeres en la elaboración y consolidación de los conocimientos científicos; problematiza la noción de vocación en la elección de la profesión y de los estudios superiores; y trata de las disputas de poder entre hombres y mujeres en las academias científicas - especialmente considerando el papel de la meritocracia en el ámbito académico. Palavras clave: androcentrismo, estudios de género, feminización,meritocracia, universidad SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 1 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social Apresentação As reflexões a seguir encontram sua origem em duas pesquisas realizadas pela equipe de Gênero da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (FLACSO/Brasil): a) uma pesquisa nacional sobre mulheres e políticas públicas de trabalho e geração de renda2; e b) uma pesquisa regional sobre eqüidade de gênero na ciência e na tecnologia, realizada no âmbito do Brasil pela FLACSO/Brasil, e coordenada regionalmente pela Cátedra Regional UNESCO Mulher, Ciência e Tecnologia.3ESCO Mulher, Esses resultados são hoje retomados neste artigo, visando alargar o olhar sobre as mulheres na ciência. Nossa intenção é refletir sobre as barreiras intangíveis ou tetos de cristal que as mulheres deverão aprender a ultrapassar, “quebrar”, neutralizar, no esforço por obter reconhecimento ao seu trabalho científico, sem perder qualidade de vida na tentativa. Introdução A presença das mulheres e das cientistas feministas nas Universidades, contribuiu para a percepção das mulheres como sujeito e objeto de pesquisa e, simultaneamente, para a transformação dos parâmetros androcéntricos da ciência moderna. A institucionalização de Núcleos de Estudos da Mulher, Estudos Feministas, Estudos de Gênero e Relações de Gênero nas universidades produziram o aporte de importantes categorias críticas de análise. O ponto de partida e a estratégia de análise propostas pelas feministas cientistas afirmam que gênero é um dado crucial da investigação científica em função de duas perspectivas: como forma de classificação social a ser resgatada ou procurada no “real”; e como dado constitutivo da identidade do sujeito que investiga e produz saberes. Os Estudos de Gênero redimensionaram e desconstruiram as concepções epistemológicas tradicionais da ciência moderna, enriquecendo-as ao adotar um ponto de vista não discriminatório. O objetivo fundamental das cientistas feministas tem sido o de propiciar um reacondicionamento do espaço científico e estimular a produção de um conhecimento científico não sexista. Nossa intenção neste artigo é explorar quanto ainda resta por fazer neste sentido. A exclusão das mulheres na construção dos saberes legitimados tem sido criticada a partir das diferentes posturas do feminismo acadêmico. Ou, de outra maneira, o caráter androcêntrico do conhecimento científico pode ser analisado em duas vertentes: a excludente e a includente. SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 A primeira se estabelece historicamente ao se negar o acesso à produção, circulação e apropriação do conhecimento científico por parte da metade da humanidade: as mulheres. A segunda vertente, o androcentrismo inclusivo, se manifesta a partir da incorporação das mulheres nos espaços de produção, circulação e apropriação do conhecimento científico (principalmente na academia), permanecendo, no entanto, a omissão com respeito à condição sexuada do/a sujeito que constrói o conhecimento e das mulheres como objeto de estudo, ou seja, desconhecendo o enfoque de gênero no conteúdo e na metodologia da produção científica. Ambas vertentes do androcentrismo científico estão intrinsecamente articuladas, sendo que uma fica incompreensível sem a outra. Nos concentraremos na análise do androcentrismo excludente, ou seja, do acesso à produção, circulação e apropriação do conhecimento científico por parte das mulheres, sem entretanto desconhecer a existência da outra variante do androcentrismo4. Origens da Problemática Uma análise preliminar da relação histórica entre as mulheres e as instituições universitárias é necessária para a compreensão das origens da discriminação das mulheres na educação superior e conseqüentemente na ciência e na Academia. As primeiras universidades criadas na Europa, no transcurso do século XII, foram as de Bolonha e Paris, que permaneceram fechadas para as mulheres até o século XIX. A primeira universidade européia a admitir mulheres como estudantes foi a de Zurique, em 1865, e a última, a da Prússia, em 1908. O ingresso das mulheres nos estudos universitários e no exercício profissional se constituiu em duro combate para as mulheres européias, combate esse que não foi vitorioso até que se passassem oito séculos do surgimento da universidade. Os que se opunham à educação superior para as jovens utilizavam todos os argumentos tradicionais: esta educação as debilitaria como futuras mães; seus corpos frágeis se ‘degenerariam’ com o uso demasiado do cérebro; as mulheres haviam nascido para viver subordinadas (ver ANDERSON y ZINSSER, 1992). Nas academias científicas européias ocorreu algo parecido, já que seus integrantes eram escolhidos pelos catedráticos. Nem a astrônoma Maria Winkelman, nem a matemática Sophie Germain, nem mesmo a ganhadora por duas vezes do Prêmio Nobel de Química, Marie Curie, foram admitidas. Curie, depois de grandes discussões no Comitê Secreto da Academia de Ciências, foi recusada simplesmente pelo fato de ser mulher. Alguns membros da Academia consideravam que a 2 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social admissão de uma mulher era suficientemente importante para justificar uma sessão plenária das cinco Academias que constituíam o Instituto da França. A sessão não chegou a tratar o tema e Curie não foi admitida (ver PAIRO, 1997).5 A prolongada luta das mulheres pela educação superior e pela sua inserção nas academias européias teve como contexto inicial originário a denominada “Querelha das Mulheres”, que foi o primeiro debate documentado entre homens e mulheres sobre a natureza e o valor das mulheres na sociedade. Iniciada na França, esta "Querelha" logo se ampliou a toda Europa. No início, não se debatia a igualdade dos homens e das mulheres; mas as mulheres, sim, discutiam a visão masculina da identidade feminina, e reivindicavam o acesso ao saber legitimado: as posições mais essencialistas argumentavam que era necessário permitir o acesso das mulheres ao saber legitimado para que melhor cumprissem suas funções específicas; enquanto as posições mais racionalistas entendiam que as mulheres tinham capacidades semelhantes às dos homens e condições de acesso ao dito conhecimento. Participaram da Querelha homens e mulheres das cortes, universidades, salões e círculos científicos, durante quase 300 anos (séculos XIV a XVII). Destacaram-se neste debate as contribuições de sua iniciadora, Christine de Pisan (1364-1430) - primeira escritora profissional na França -, e do cartesiano Poullain de la Barre (1647-1723). A importância deste debate para a história da relação entre os gêneros é de tal magnitude que algumas historiadoras datam o início do feminismo por esta "Querelha" (ver KELLY, 1984). A "Querelha das Mulheres" foi um processo importante na história das relações entre os gêneros por três motivos: a) b) c) em primeiro lugar, porque pela primeira vez algumas mulheres instruídas puderam documentar suas opiniões sobre o significado de ser mulher; em segundo lugar, porque para se referir à condição de ser mulher se apoiaram em sua própria existência e na consciência de si mesmas, denunciando o princípio de autoridade vigente na ciência, o qual não era reflexo do princípio de autoridade masculina; e em terceiro lugar, porque, por meio desse debate, as duas formas extremas de se conceber a relação entre homens e mulheres, o feminino e o masculino, puderam ser explicitadas: uma de caráter essencialista, que postula uma diferença sexual natural e imutável; e outra de caráter racionalista, que SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 postula uma diferença de gênero construída social e culturalmente. Trajetórias Diferenciadas Por intuição ou conhecimento de causa, as pioneiras universitárias fizeram incursões em novos âmbitos, transgredindo as fronteiras de territórios tradicionalmente masculinos. Começaram assim a quebrar um mito que tinha se mantido por séculos: o que argumentava que não cabia às mulheres ter acesso aos espaços públicos, aos saberes socialmente legitimados, nem às profissões de maior prestígio ou melhor remuneração, pelo simples fato de serem consideradas futuras esposas e mães. A falta de modelos de referência foi um verdadeiro obstáculo para as primeiras universitárias e profissionais. Um dos principais problemas foi a necessidade de romper com os valores e modelos femininos recebidos através de socialização prévia, reforçados durante a etapa universitária inclusive a partir do conhecimento científico androcentrado. Estes valores e modelos enfatizavam a dependência, a passividade, a emocionalidade feminina, constituindo-se em características totalmente opostas às requeridas no desempenho universitário e profissional, centrado na autonomia intelectual, na atividade constante, e na racionalidade - sendo também contrários aos imperativos de êxito no mundo público. Desta maneira, ao entrar no mundo público pelo caminho da inserção universitária (e também política e profissional), as mulheres tiveram que se fazer coexistir, tiveram que articular em sua vida cotidiana duas lógicas e espaços de poder contrapostos: mundo público e mundo privado (ver FERNANDEZ, 1994). Trata-se de dois tipos de espaços especialmente contrastantes, com lógicas, critérios de avaliação e prioridades completamente dessemelhantes, que exigem formas de pensar, sentir e atuar diferenciadas. Questões como: conhecimento das regras do jogo de apresentação em concurso para preenchimento de cargos, treinamento no exercício de funções de poder, de liderança, aprendizagem sobre administração de dinheiro, salários, honorários, etc., treinamento para atuação competente em espaços regidos por valores que não os do mundo afetivo-emocional, constituem conjunto de esforços que a maioria das mulheres faz quando decide sair de casa e ir trabalhar fora. Tudo isto independentemente do desempenho do trabalho em si, da preparação exigida, da energia e do esforço investidos na atividade laboral (ver KOHEN, 1994). Na verdade, acreditamos que esses valores e modelos da vida privada não foram eliminados, mas articulados de maneira sempre contraditória com os valores e 3 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social modelos da vida pública, delimitando os percursos pelos quais as mulheres poderiam transitar e os territórios que poderiam visitar e/ou habitar no interior do espaço público masculino. Preferimos utilizar o conceito de trajetórias educativas diferenciadas e não o de "circuitos educativos", conceito tradicionalmente utilizado nas Ciências da Educação, porque, em oposição ao que ocorre com a segmentação educativa baseada na condição sócio-econômica (enfoque pelo qual seria válido falar de circuitos diferenciados constituídos por instituições educativas com diferenças de qualidade e de prestígio), homens e mulheres de condições sócioeconômicas semelhantes se integram às mesmas instituições, mas de maneira heterogênea, demandando carreiras e especialidades diversas, espaços de produção e exercício de poder diferenciados, entre outros aspectos da diferenciação. Vejamos em detalhe essas trajetórias, verificando a incorporação das mulheres como estudantes, pesquisadoras e docentes universitárias. Mulheres nas Universidades – estudantes Os estudos recentes sobre a inserção das mulheres nas universidades indicam uma tendência constante ao predomínio das mulheres na matrícula e nos egressos da graduação universitária. Não obstante os avanços registrados no que se refere às oportunidades educacionais das mulheres, o ingresso feminino na universidade não foi homogêneo. Existiam poucas áreas ou disciplinas científicas com notável concentração de mulheres, e outras múltiplas com concentração de homens, refletindo forte associação com modelos culturais vigentes (ver MONTECINO y OBACH, 1999). As mulheres reuniriam melhores condições que as dos homens quanto ao acesso e à permanência na universidade – especialmente na graduação. Porém, as trajetórias, os tempos e os percursos no interior da universidade são claramente diferenciados, o que provoca escolhas distintas quando consideramos as áreas disciplinares, conforme demonstrado pelos estudos de ROSEMBERG (2001) e TABAK (2002). O enorme salto educativo dado pelas mulheres em matéria de educação superior nas últimas décadas não modificou significativamente suas escolhas disciplinares. Observa-se a tendência de agrupamento das alunas universitárias em disciplinas vinculadas aos serviços, como são as profissões das áreas de Comunicação, Educação, Humanidades e Saúde. As carreiras mais fortemente vinculadas à produção, como as Ciências Agropecuárias e as Engenharias, permanecem com o corpo discente fundamentalmente masculino. Mulheres e homens frequentam o mesmo espaço universitário, porém realizam trajetórias educativas diferenciadas, com SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 saídas profissionais diversificadas e percursos ocupacionais heterogêneos. MOSCONI (1998) indaga de que maneira as relações de gênero se instituem na sociedade e como influenciam o vínculo com o saber. Saberes distintos são transmitidos a públicos distintos em correspondência com as divisões sociais e sexuais do trabalho. Há, portanto, divisões do saber quanto ao gênero. Nesse sentido, são as próprias relações de gênero que configuram os campos do saber. A pergunta sobre o que estudar supõe a escolha de um recorte de problemáticas, de determinados objetos teóricos e empíricos, de campos de saber ligados a distintas áreas disciplinares que são valorizadas como “femininas” ou “masculinas” e demarcadas de maneira desigual pela sociedade. As mulheres são maiorias naquelas carreiras e profissões com menor prestígio no mercado de trabalho e na própria academia. Portanto, cabe afirmar que a discriminação das mulheres no âmbito acadêmico e profissional mudou de direção: a discriminação não se efetua mais pela limitação no ingresso, mas pelas relações de transferência estabelecidas no meio acadêmico. E essa discriminação continua fundamentada naqueles valores e modelos femininos da vida e do mundo privado. A posição sexuada do/da sujeito/a que decide, os estereótipos sexuais socialmente atribuídos a mulheres e homens, a feminização de determinadas carreiras, as formas de discriminação explícitas ou sutis, a autodiscriminação no acesso, a permanência ou egresso da Universidade conforme o sexo, o androcentrismo no conhecimento científico, os códigos e lógicas das esferas pública, privada e social, não são questões alheias às políticas de orientação vocacional e de difusão dos estudos superiores. Tais questões precisam ser estudadas e mudadas. A educação é um processo generificado, quer dizer, uma prática social constituída por gênero e que por sua vez constitui gêneros. Através da educação, diversos tipos de identidades são produzidos (de gênero, mas também de nacionalidade, idade, condição sócio-econômica, raça, entre outras). As relações e práticas educativas estão na base da constituição dos diversos tipos de sujeitos/as, como também produzem as formas pelas quais as instituições sociais são organizadas e percebidas. Nesse sentido, é possível afirmar que a universidade, como instituição educativa, não só constitui um espaço social privilegiado para a formação/contenção da juventude, mas é também um espaço generificado e constitutivamente atravessado pelas relações de gênero (ver LOURO, 1997 e também YANNOULAS, 1996). 4 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social Mulheres nas Universidades– pesquisadoras Como instituição que faz parte do sistema educativo, a universidade é um espaço socialmente diferenciador. Tanto como um mecanismo de inclusão/exclusão (ter um título universitário não é o mesmo que não têlo), como também (e cada vez mais a partir da instauração dos atuais processos de avaliação universitária), por meio de mecanismos internos. Tais mecanismos classificam, ordenam e hierarquizam os corpos docente e discente, as disciplinas científicas, as instituições de nível superior, os grupos de pesquisadores, etc. Ao incorporar grupos sociais historicamente excluídos pelos processos articulados de massificação e feminilização dos estudos superiores, a universidade manteve e talvez aprofundou as desigualdades, através de sua organização, localização, currículos, regulamentos, sistemas de avaliação, categorizações, entre outros aspectos. Estas formas de expressão das desigualdades não afetam somente a relação entre homens e mulheres, mas também a relação entre as próprias pesquisadoras. Por exemplo, ao estabelecer juízos sobre o quê vale como conhecimento intelectual, os líderes acadêmicos se guiam mais provavelmente por conceitos de qualidade baseados em normas universais de competência. Assim, uma socióloga cujo trabalho é publicado em revistas científicas dominantes terá uma maior probabilidade de conseguir incentivos acadêmicos que aquela socióloga cujo trabalho é publicado principalmente em revistas feministas ou interdisciplinares. Com relação às áreas de conhecimento, e de maneira congruente com as afirmações realizadas sobre as opções disciplinares das estudantes, os dados sobre os e as pesquisadoras no Brasil indicariam que áreas como ciências exatas e da terra, ciências biológicas, engenharias, e ciências da computação incluem predominantemente homens, e ciências humanas, sociais, sociais aplicadas, da saúde, letras e artes aparecem com predomínio nítido de pesquisadoras (ver CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, 2002). Vejamos agora o que acontece com o período de estudos na universidade, e, mais especificamente, com a duração dos estudos. O predomínio masculino aparece e se acentua na pós-graduação e nos estudos de pósdoutorado, bem como na inserção no quadro funcional das universidades como docentes e lideranças universitárias. Segundo os dados do CNPq para o ano de 2000, do total de pesquisadores com mestrado concluído, 7.921 eram mulheres (51,57%). Porém, do total de pesquisadores doutores, as mulheres representavam somente 37,63% (11.826 pesquisadoras com doutorado). SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 As estatísticas indicam que quanto mais alto o nível de qualificação dos pesquisadores ativos e registrados pelo CNPq, maior o predomínio masculino. Também outros dados confirmam as consistentes vantagens masculinas no mundo científico, como, por exemplo, o local de realização dos estudos de doutorado e pós-doutorado ou as áreas de conhecimento escolhidas, entre outros dados. GUIMARÃES, LOURENÇO E COSAC (2001) explicam que no momento de maior expansão dos estudos de pós-graduação, as mulheres não postulavam candidaturas para doutorado no exterior principalmente por duas razões: a) existência de maiores dificuldades para afastamento de longo prazo em função das expectativas sociais hegemônicas sobre a maternidade, e b) os preconceitos nas bancas examinadoras com relação ao outorgamento de bolsas e subsídios para as mulheres. Assim, somente 25,8 % das pesquisadoras incluídas no censo de 2000 realizado pelo CNPq tiveram seus estudos de doutorado concluídos no exterior. Os entrevistados por ocasião da pesquisa regional da Cátedra UNESCO mencionaram freqüentemente a primeira das duas razões, mas a segunda – sobre os preconceitos existentes nas bancas examinadoras - foi amplamente desconhecida. Entretanto, mecanismos dessa natureza operam ainda hoje, o que indicaria a necessidade de realizar processos de sensibilização sobre questões de gênero em ampla escala. Mulheres nas Universidades – docentes Em relação à participação das mulheres na docência dos diferentes níveis educativos formais, o mesmo fenômeno se reproduz em todos os países: a participação feminina na docência é maior quanto menor for o nível educativo em questão (ver ACKER, 1994). Assim sendo, o nível superior do sistema educativo formal é o de menor presença feminina no corpo docente. Existiriam três tipos de discriminação nas instituições científicas: a discriminação manifesta referente a regras e códigos pensados para salvaguardar e proteger espaços de poder; a discriminação encoberta, que se refere às idéias assumidas informalmente sobre a constituição da atividade acadêmica e do comportamento válido em seu interior; e a autodiscriminação, que é uma espécie de vigilância interna aprendida para assegurar que nos comportemos dentro dos parâmetros delimitados pela discriminação manifesta e encoberta. Essas formas de controle nas instituições científicas se explicitam em momentos particularmente propícios, como são os conflitos cotidianos, as estruturas de poder masculinizadas, e a institucionalização 5 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social da experiência masculina como parâmetro normalidade (aspecto especialmente visível hora de substanciar concursos docentes ou medir a “produtividade” para a estipulação categorias do pesquisador/a). de na de de A discriminação manifesta, ou seja, a exclusão das mulheres das cátedras e das academias, não se explicitaria hoje como anteriormente, dado que nossas sociedades primam o valor da igualdade (ao menos no discurso jurídico-formal). Sem dúvida, as mudanças sociais são lentas e persistem formas encobertas e parciais de discriminação sexual. A discriminação encoberta se apresenta no âmbito científico de diversas maneiras. A principal toma a forma de postergação das candidatas à titularidade da cátedra ou aos cargos de coordenação de pesquisa, com base em fatores extraacadêmicos. Os homens, segundo LEON (1994), acumularam um excedente de valoração que os dota de autoridade e que pode definir o resultado final de um concurso. Com este mecanismo, o androcentrismo científico se articula especialmente: uma hierarquia não explícita que sanciona os temas do conhecimento como dignos ou indignos, relevantes ou secundários, nobres ou não, e da mesma forma com as metodologias de pesquisa como apropriadas ou inapropriadas. Por esta via elimina-se uma grande parte da prática social como objeto de investigação. As tradicionais medidas de excelência favorecem indivíduos social, intelectual e ideologicamente semelhantes. Aqueles professores que em sua pesquisa e cátedra desafiam standards normativos podem ser vistos como pouco desejáveis por seu trabalho escassamente ortodoxo; mesmo quando populares, não contribuiriam substancialmente para os critérios de qualidade acadêmica (ver BENSIMON, 1995). O androcentrismo científico também se manifesta nos critérios de avaliação para acesso às categorias de pesquisador/a principal ou professor/a titular. Um dos critérios não discutidos é o da “produtividade”, baseado na quantidade de pesquisas e publicações realizadas pelo candidato. Esta produtividade geralmente não leva em consideração o ciclo vital da candidata, porque o costume é pensar em relação à carreira profissional ideal dos homens, sem interrupções que alterem seu padrão de produtividade a partir de mudanças produzidas pela reprodução biológica e cultural da família (ver CORTÁZAR y LEÓN, 1997). Outro âmbito de expressão da discriminação encoberta pode ser examinado no processo de ocupação de cargos na estrutura de governo das universidades. Segundo LOPEZ (1994), o Directorio de Rectoras, Vicerrectoras y Decanas da OEA para o ano de 1993 indicava a existência de 35 reitoras ou presidentas de universidades SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 (públicas e privadas), e 55 mulheres em outros postos (vice-reitoras e decanas), para toda América. No Brasil, por exemplo, havia 9 reitoras, representando 1% dos cargos; nos Estados Unidos havia 348, quer dizer, 12% dos cargos. Além disto, a autora destaca que em sua maioria, as reitoras ou presidentas representam freqüentemente instituições católicas as quais aceitam apenas alunas mulheres, e que é preciso levar em conta que as instituições de educação superior dirigidas por mulheres não são as universidades mais tradicionais, mas as de fundação mais recente. A situação na América não varia muito do resto do mundo. Explicando as Diferenças Segundo os e as entrevistadas por ocasião da mencionada pesquisa regional exploratória, a situação ainda desfavorável para as mulheres na ciência é explicável pelas seguintes razões: a) b) a permanência de pautas culturais que superestimam o papel da mulher na família e subestimam o papel das mulheres na ciência; e a persistência de estereótipos sobre as mulheres, que de maneira explícita ou implícita condicionam as eleições profissionais das mulheres, ou condicionam sua mobilidade ascendente dentro do âmbito acadêmico. Entretanto, os mesmos entrevistados não visualizam a necessidade de produzir propostas de política científica que interfiram nessa situação, visando eliminar o problema, pois: - - a situação atual se explicaria pelo ingresso tardio das mulheres no sistema universitário e científico, portanto a mudança generacional alterará naturalmente essa situação – o problema da universidade atual é conseqüência do passado; a situação atual se explicaria pelos condicionamentos culturais anteriores à eleição profissional das mulheres (escolha vocacional condicionada pela socialização), e, portanto, a própria universidade não teria o que fazer. Assim, o problema atual da universidade e da academia como instituições sociais altamente generificadas teria raízes no passado e seria naturalmente solucionado no futuro, sem necessidade ou opções de intervenção no presente. Isso explica a pouca quantidade de propostas concretas reveladas ou conhecidas pelos entrevistados e entrevistadas, ao mesmo tempo que explica a grande rejeição pelas medidas afirmativas. 6 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social O mérito acadêmico é o mecanismo sempre evocado como o único possível para fomentar de maneira igualitária a mobilidade ascendente no sistema, mesmo naqueles casos em que o entrevistado ou a entrevistada relata experiências de discriminação negativa sofridas diretamente, presenciadas ou conhecidas a partir do depoimento de outras pessoas. Com relação à capacidade intelectual das mulheres cientistas, os entrevistados e as entrevistadas destacaram a existência de algumas qualidades “essencialmente” femininas, por exemplo: as mulheres desenvolveriam uma lógica de pensamente diferente, elas utilizariam mais a intuição, seriam menos talentosas, porém mais dedicadas e organizadas. As mulheres seriam também melhores na gestão administrativa e na condução de equipes, pois saberiam apreciar melhor as qualidades dos membros, possuiriam grande sensibilidade para lidar com os problemas pessoais dos funcionários e apresentariam melhor desempenho no laboratório pela semelhança com os trabalhos domésticos, etc. Resulta interessante comentar aqui a persistência de estereótipos sobre as mulheres e os homens na hora de analisar o desempenho desigual da comunidade científica quando considerada desde o enfoque de gênero. Ainda nos casos em que as pessoas se definem como defensoras da igualdade entre os gêneros, são apreciadas de maneira diferente as qualidades dos gêneros para o desenvolvimento das tarefas propriamente científicas. Ainda que pouco representativas do conjunto de entrevistados e entrevistadas, foi notório descobrir que, após um século de inserção das mulheres nas universidades, continuam circulando estereótipos negativos quanto à capacidade limitada das mulheres para tarefas objetivas e abstratas, dificuldades para a realização de raciocínios científicos, falta de localização espaço-temporal, desvantagem para compreender a lógica científica, etc. Afirmando a Ciência em Feminino Não existiria consciência consolidada na comunidade acadêmico-científica sobre a necessidade de se propor medidas específicas que fomentem relações de gênero igualitárias entre os e as cientistas (ao contrário, haveria um alto grau de rejeição, principalmente às propostas de ações afirmativas), sustentada pelos seguintes pressupostos: 9 os preconceitos de gênero são gerados antes da entrada dos jovens na universidade e, portanto, caso alguma medida seja recomendada, deveria estar destinada aos primeiros momentos do sistema escolar ou ao momento SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 da eleição do tipo de curso superior; 9 os preconceitos de gênero que “houve” na academia já estariam ultrapassados, e suas conseqüências (especialização das mulheres em determinadas disciplinas, dificuldades para ocuparem altos cargos na hierarquia acadêmica, etc.) estariam começando a ser neutralizadas como um processo natural decorrente do ingresso maciço das mulheres nos estudos universitários e nos centros de pesquisa; 9 o campo da ciência e da tecnologia basearia suas premiações e recompensas materiais e simbólicas no mérito, e esse mérito seria independente do gênero, mas atrelado a uma competência e a uma produtividade assexuadas; 9 não existe indício de consideração dos cientistas sob a ótica de trabalhadores assalariados, e portanto é de difícil reconhecimento a necessidade de se implementar, minimamente, as mesmas políticas de proteção ao trabalho feminino que já vigoram no mercado de trabalho extra-científico (por exemplo, licença maternidade remunerada para as bolsistas, ou construção de creches nos centros de pesquisa). Apesar de “não-dito”, pareceria existir um mito de superioridade pela utilização da razão e da mente, que deixaria os cientistas por fora do mundo material das necessidades básicas humanas. A questão do mérito permea todas as imagens produzidas ou evocadas pelos/as entrevistados/as quando defrontados\as com as especificidades de trabalhar na ciência. Dificilmente cientistas se reconhecem como trabalhadores assalariados ou comentam seus problemas como parte dos problemas de uma categoria – os problemas seriam vivenciados como experiências privadas que não dizem respeito a um conjunto de pessoas em iguais condições de trabalho, sendo, portanto, impertinente propor políticas alternativas com base na experiência particular. Compatibilizar profissão e família seria um problema dos casais, das pessoas, da esfera privada, e não um problema das políticas científicas, e conseqüentemente da esfera pública. Enquanto as questões sobre a igualdade numérica e a qualidade da participação das mulheres nos sistemas políticos de governo já obtiveram relativo consenso cultural, perguntas semelhantes colocadas no âmbito acadêmico geralmente produzem uma profunda irritação ou são ridicularizadas. O resultado final é a falta de 7 SérieAnis ISSN 1518-1324 Bioética y Ética y Feminismo y Gênero y Direitos Humanos y Justiça y Desenvolvimento Social debate em torno da distribuição e tipo de poder acadêmico de mulheres e homens nas universidades, centros de pesquisa, órgãos científicos do Estado, entre outros espaços públicos de produção, circulação e apropriação de saberes. O desmonte deste tipo de resultado resulta muito difícil por diversas causas. Aqui faremos referência às duas mais relevantes. Em primeiro lugar, nos dizem que já somos muitas as alunas e docentes nas universidades do mundo inteiro, e se é assim, o que mais queremos reivindicar? Em segundo lugar, nos dizem que o setor acadêmico seria supostamente regido por uma meritocracia neutra quanto ao gênero, baseada nas realizações objetivas das pessoas sem se importar com o sexo (ver YANNOULAS, 1994). Se a meritocracia é necessária e foi fator fundamental para legitimar a incorporação das mulheres na universidade, ela é, contudo, insuficiente para garantir a eqüidade de gênero no mundo científico. Assim, coincidimos com TABAK (2002) quando destaca que ainda são escassos os esforços intencionais e sistemáticos para ampliar a presença feminina na massa crítica de pesquisadores que atuam em áreas decisivas para o avanço científico e tecnológico. A autora inclusive exemplifica mecanismos capazes de estimular uma participação mais significativa de mulheres em carreiras científicas mais valorizadas social e economicamente.6 Centro de Investigaciones Sociológicas, Madrid (1997). FERNANDEZ, A. La mujer de la ilusión, Paidós, Buenos Aires, 1994. GERGEN, M. 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A convidada de pedra, FLACSO/Abaré, Brasília, 2004. 1 Silvia Yannoulas é Licenciada em Ciências da Educação pela Universidade de Buenos Aires, Mestre em Ciências Sociais com menção em Educação pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais / Sede Acadêmica Argentina (FLACSO/Argentina), e Doutora em Estudos Comparados sobre América Latina e o Caribe pelo Programa Conjunto FLACSO/Brasil – Universidade de Brasília. Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília, e Pesquisadora Internacional da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais. Até 1995, das 25 cientistas eleitas apenas onze mulheres se enquadravam na categoria de titular (5,5% do total de 200 membros titulares), apesar de que o CNPq já registrava um número mais do que razoável de mulheres cientistas nas mais variadas áreas de conhecimento. Entretanto, nos últimos cinco anos do século passado registrou-se um avanço expressivo, pois a ABC elegeu um total de 22 mulheres cientistas para integrarem seus quadros (13 titulares e 9 associadas - ver TABAK, 2002). 6 É necessário ressaltar que nossos resultados de pesquisa bem como os de TABAK (2002) referem-se ao Governo FHC, e que no Governo Lula foram iniciadas algumas tentativas para incluir esse tipo de mecanismo afirmativo, com bolsas e premiações especialmente orientadas a estimular o desempenho das estudantes universitárias e cientistas (ver Portal da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres). 2 Projeto de Pesquisa desenvolvido no periodo 1998-2003, com apoio do CNPq e do MTE, sob coordenação de Silvia Yannoulas e com a participação de 12 colaboradores brasileiros e argentinas. Os principais resultados foram publicados (ver YANNOULAS, 2004, e também Coleção PPTR na Biblioteca Virtual da FLACSO/Brasil (www.flacso.org.br ). 3 O trabalho de campo foi realizado por Silvia Yannoulas e Patrícia Timo Britto (FLACSO/Sede Académica Brasil), entre junho e dezembro de 2002. Consistiu na realização de dez entrevistas junto à liderança em diversas áreas da Ciência e da Tecnologia (com ênfase no âmbito das ciências denominadas “duras”), e na coleta e compilação de documentos oficiais sobre políticas públicas de ciência e tecnologia conforme orientações gerais do projeto regional (ver www.catunesco.org.ar). Os objetivos da pesquisa regional eram analisar representações e propostas de política pública para estimular a eqüidade de gênero na ciência e na tecnologia em diversos países latino-americanos. O relatório final foi elaborado em 2003 e editado em 2004 por Lilia Farrell. Os resultados da pesquisa nacional podem ser consultados na seção Pesquisa da Biblioteca Virtual da FLACSO/Brasil (www.flacso.org.br ). 4 Para uma aproximação ao fenômeno do androcentrismo includente na ciência, ver, entre outros: GERGEN, 1993; HARAWAY, 1995; HARDING, 1996; e KELLER, 1991 5 A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi criada em 1916, mas somente em 1951 foi eleita uma mulher (35 anos após sua criação). Isto poderia ser parcialmente explicável pelo ingresso tardio das mulheres à universidade no Brasil (em 1929 as estudantes universitarias representantavam menos de 3% da matrícula total - ver YANNOULAS, 1996). SérieAnis 47, Brasília, LetrasLivres, 1-10, março, 2007 Bibliotecária Responsável: Kátia Soares Braga (CRB/DF 1522) Editora Científica: Debora Diniz Editores Executivos: Cristiano Guedes Fabiana Paranhos Conselho Editorial: Alessandra Barros Dirce Guilhem Marilena Corrêa Roger Raupp Rios Sérgio Ibiapina Costa Silvia Yannoulas Tatiana Lionço Qualis Filosofia/Teologia C Local/Capes A SérieAnis é uma publicação seriada da Anis para divulgação de resultados de pesquisa sobre ética, bioética, direitos humanos, direitos reprodutivos, sexualidade, gênero, feminismo, deficiência, desigualdade, raça e justiça social. São publicados trabalhos originais, cujo objetivo é promover a discussão acadêmica. Tiragem: 50 exemplares Endereço: Editora LetrasLivres Caixa Postal 8011 CEP 70.673-970 Brasília-DF Brasil +55 61 3343 1731 [email protected] 9