A aventura do Picapau Paulo por Vanessa Oliveira (texto) e Grão de Pó (ilustrações) PARTE 1 | Teresa, uma nova amiga Era uma vez uma menina, que vivia numa cidade com muitos prédios altos, cheia de carros, luzes e muito barulho. Apesar desta confusão agitada, perto de sua casa havia um jardim, onde gostava muito de ir brincar com os seus pais e a irmã mais nova, e onde costumava encontrar os seus amiguinhos. Certo dia, em setembro, os pais disseram que iam passar um fim de semana, com os tios e os primos ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, para conhecerem novas terras e passear pela Natureza. No primeiro dia, após uma caminhada cheia de cores e sons novos, a Teresa – era o nome da menina -, começou a ouvir um som estranho, como se alguém estivesse a martelar ao seu ouvido. Virou-se para um lado, e depois para o outro e não viu ninguém... Nisto, de repente ouve-se uma voz: − Sou eu, estou aqui na árvore, em cima! - intrigada, Teresa olhava e nada... e continuava a ouvir um “toc-toc-toc” repetido, como se fosse um martelo a bater na madeira... − Quem é que está aí? - perguntou a Teresa. − Sou eu, não me vês aqui no tronco da árvore? Vamos conversando e segue o som; vais ver que consegues chegar aqui! E assim foi. A Teresa conseguiu chegar até àquele som e ficou muito espantada com o que viu e ouviu: um pássaro a falar, a falar com ela, e ela percebia-o! O pássaro era lindo: preto e branco, com uma mancha vermelha na cabeça, e estava bem preso ao tronco com as suas garras; o seu bico era escuro, grosso e forte. − Olá, sempre conseguiste cá chegar! - disse o pássaro − Sim, mas... quem és tu? - disse a menina − Eu sou o Paulo, sou um picapau, e vivo aqui na floresta; e tu? − Eu sou a Teresa. Mas... vives aqui sozinho? Isto é um bocado longe da cidade, não tens medo? − Não, vivo aqui com a minha família e muitos outros animais e plantas da floresta. Se estiveres atenta, vais conseguir vê-los e ouvi-los. Mas, se quiseres posso fazer-te uma visita guiada. − Uma visita guiada, mas como? - perguntou a Teresa. − Muito fácil! Fechas os olhos e, num passo de mágica, eu levo-te! 1 Será que a Teresa vai aceitar o convite do picapau Paulo para visitar a floresta? Na próxima semana, vamos ficar a saber como continua a aventura... PARTE 2 | À descoberta da floresta A proposta do picapau Paulo era tentadora, mas aquela conversa, apesar de parecer tão real, ao mesmo tempo parecia-lhe um sonho... No alto dos seus 8 anos, estava confusa, mas decidiu aceitar; afinal, tinham acabado o pic-nic e os pais e os tios estavam entretidos a conversar e a mana estava a brincar com os primos. Se fechasse os olhos, pensariam que estaria a dormir e não dariam pela falta dela. E de repente, a Teresa sentiu-se muito leve, como que a flutuar, e quando olhou, as árvores estavam lá em baixo pequeninas, e a seu lado estava o picapau Paulo, o seu novo amigo. Para Teresa, tudo era novidade, a começar por voar, e ainda por cima de mãos dadas à asa de um pássaro! Já tinha andado de avião, mas aquilo era muito diferente! E nisto... − Ahhh!!! Nunca tinha visto tantas árvores juntas! São tão grandes e altas, e têm tantas cores diferentes! Verde-claras, verde-escuras, amareladas, castanhas... - exclamou a Teresa − A floresta é assim, no início do outono tem muitas cores; mas, a tua casa não é assim? perguntou o picapau 2 − − Não, eu vivo numa cidade, cheia de prédios e carros e fumo cinzento; e tenho um jardim ao pé de casa, que também tem árvores, mas não é como aqui. Pois, já ouvi falar desse lugar. Tenho uns primos que vivem no parque da cidade, mas eu cá gosto é disto, da floresta! Tenho muitos amigos diferentes aqui. Anda, vamos ver se a vizinha Coruja está em casa. A Coruja Carlota vivia numa casa velhinha, num buraco no tronco de uma grande árvore, e quem não soubesse não imaginaria que era possível viver ali alguém; quem diria que aquela árvore era tão valiosa? É que viviam lá muitos outros animais também... Chamaram a coruja e ela respondeu: − «Uu uu uu», olá Paulo, que sono... vejo que trouxeste uma amiga, quem é ela? - disse a coruja, que não costumava estar acordada àquela hora. − Olá, sou a Teresa, sou uma menina da cidade e vim passear por aqui hoje − Então sê bem-vinda. Espero que o Paulo esteja a ser um bom anfitrião, e eu peço desculpa mas vou continuar a descansar, pois trabalho à noite. − Adeus, Carlota. Até depois. - disse o picapau, e prosseguiram viagem. − Olha, e que animal é aquele ali na árvore? Parece um gato... também há gatos na floresta? - perguntou a Teresa. − Sim, também há gatos, mas esse não é bem um gato da cidade, apesar de ser da família. É a geneta Gabriela e o melhor é deixá-la estar a descansar... Já sabes como é: gatos e pássaros nem sempre se conseguem dar bem, é a natureza e não vale a pena forçar... – disse o picapau A visita continuou com muitas descobertas mas, de repente, a Teresa começou a ouvir um zumbido e ao longe já só via tudo preto e não via verde... Será que aquela aventura ia acabar bem? Na próxima semana saberemos... PARTE 3 | A Natureza precisa de nós Depois da conversa com a Coruja Carlota, um zumbido não saía do ouvido da Teresa, mas este ela reconheceu: era uma abelha, daquelas que faziam o mel que ela tomava quando tinha tosse. E ainda se lembrava como era bom o mel que a avó tinha trazido lá da terra... − Isto é tão bonito, Paulo, e divertido! Mas... o que é aquilo? Está tudo preto e só se vê chão, quase não há árvores nem arbustos... − Pois é, Teresa... é o resultado de um grande incêndio e nem se sabe como surgiu... Tive muito medo do fogo... Chegou bem perto da minha casa, e os meus filhos ainda eram pequenos; e muitos amigos ficaram sem casa e sem comida... Agora, vivemos mais apertados... Além disso, depois do fogo há umas plantas estranhas que crescem muito rápido, invadem tudo e quase não deixam espaço para as outras árvores daqui crescerem. E são essas as que eu e os meus amigos gostamos mais; dessas plantas estranhas não gosto muito... Ouvi dizer que vieram de muito longe, e que alguém as plantou aqui na floresta, como se isto fosse um jardim fechado numa bola de cristal, só porque as achava bonitas... − Mas, e ninguém ajudou? − Felizmente que sim! Naquela noite do fogo, uns senhores muito corajosos trouxeram água nuns camiões vermelhos muito grandes; acho que eram os bombeiros. E vês aquelas 3 − − pessoas ali em baixo, com umas máscaras? Essas pessoas estão a ajudar a controlar essas plantas invasoras... e naquele sítio, depois vão plantar árvores novas daqui. Ou seja, estão a ajudar a recuperar a nossa casa, a floresta. Ainda bem que há quem esteja a ajudar. Olha, e onde estão os teus outros amigos? perguntou a Teresa ao picapau Paulo. Olha, alguns apesar de viverem cá todo o ano como eu, raramente se vêem; e outros foram para a África passar o inverno – lá têm comida e é mais quentinho -, e depois voltam na primavera. Como vês, a vida na floresta é sempre uma animação, infelizmente, nem sempre pelas melhores razões... Há algumas florestas, como a da Amazónia, que estão em grande perigo... Felizmente, há pessoas como tu, que nos ouvem... E nisto ouviu-se um «Teresa, acorda!» - era a mãe a chamá-la. Mesmo antes de continuarem o passeio, a Teresa viu um pássaro muito belo e chamou a família, que ficou maravilhada ao vê-lo. Era o seu amigo picapau, que a Teresa logo reconheceu e se despediu dela com um piscar de olhos! Afinal, o seu sonho tinha sido real... E a partir daquele dia, a Teresa nunca mais esqueceu o que tinha aprendido sobre a floresta, e como seria tão bom se todos conseguissem ouvir o picapau Paulo e os seus amigos: «a floresta e a Natureza precisam de nós»! FIM 4